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segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Lula, o amigo do Irã - Editorial (Gazeta do Povo)

Lula, o amigo do Irã Editorial Gazeta do Povo 06/10/2024 18:00 Na atual escala de valores do Itamaraty, comandado nominalmente por Mauro Vieira, mas que de fato segue as diretrizes de Celso Amorim, quando uma ação militar deve ser “deplorada” ou condenada “nos mais fortes termos”, e quando deve ser “acompanhada com preocupação”? Será pelo número de vítimas que deixa? Se mira apenas alvos militares, ou se pretende atingir deliberadamente a população civil? Se é um ataque gratuito, ou uma ação de defesa contra um agressor? A resposta, no governo Lula, é bem mais simples: o grau de veemência das notas do Itamaraty depende apenas de quem é o agressor: se um “dos nossos” ou um “dos deles”. Em 1.º de outubro, enquanto o mundo condenava inequivocamente o lançamento de quase 200 mísseis iranianos contra território israelense, a diplomacia brasileira se pronunciava “deplorando” os ataques aéreos de Israel contra alvos do Hezbollah no Líbano. Apenas no dia seguinte a ação do regime iraniano foi assunto de comunicado da chancelaria brasileira, que disse “acompanhar com preocupação” o episódio, limitando-se a “condenar a escalada do conflito”, sem nenhum palavreado mais duro sobre a ação iraniana em si. Em abril, quando do primeiro ataque direto ao Irã contra Israel, o texto do Itamaraty recorreu ao eufemismo, falando em “relatos de envio de drones e mísseis do Irã em direção a Israel”. Lula escolheu ficar ao lado de um regime assassino, que prega abertamente o fim de Israel, financia terroristas, e oprime mulheres, a população LGBT e outras minorias. O duplo padrão nos termos usados pelo Ministério das Relações Exteriores já se observa desde a barbárie terrorista do Hamas, que completa um ano nesta segunda-feira. A primeira nota do Itamaraty sobre o 7 de outubro nem sequer mencionava o Hamas (que já havia reivindicado a autoria do ato), nem usava a palavra “terrorismo”. Só após muita repercussão negativa é que ambos os termos entraram no vocabulário da chancelaria, e mesmo assim havia recaídas constantes, como nas notas publicadas por ocasião da confirmação de mortes de brasileiros, ocorridas ou durante o próprio ataque terrorista, ou posteriormente, no caso de reféns capturados pelo Hamas. Este é um caso em que nem se pode considerar propriamente que Lula esteja tentando exibir ao mundo uma postura de neutralidade enquanto, na prática, adota um lado. No Oriente Médio, o petista escolheu um lado e não faz a menor questão de disfarçar. Enquanto o Brasil está sem embaixador em Israel, o vice-presidente Geraldo Alckmin prestigiava a posse do novo presidente iraniano ao lado de chefões do terrorismo mundial. Contra a única democracia da região, que luta para se defender de ameaças à sua própria sobrevivência (embora não esteja livre de cometer excessos neste esforço de autodefesa), Lula escolheu ficar ao lado de um regime assassino, que prega abertamente o fim de Israel e financia os terroristas que levam o medo aos israelenses; e que, em seu território, oprime mulheres, a população LGBT e outras minorias, e reprime violentamente manifestações populares por liberdade. Esta aliança entre Lula e a teocracia islâmica iraniana vem de antes do 7 de outubro; no início do terceiro mandato do petista, em fevereiro de 2023, a permissão para navios de guerra iranianos atracarem no Rio de Janeiro causou mal-estar entre Brasil e Estados Unidos, cuja embaixadora em Brasília afirmara que “esses navios, no passado, facilitaram o comércio ilícito e atividades terroristas”. Lula também contribuiu para a adesão do Irã ao bloco dos Brics, durante reunião no ano passado. Mas a camaradagem é bem mais antiga, datando da primeira passagem do petista pelo Planalto, entre 2003 e 2010. O episódio mais notável foi o empenho de Lula em costurar um acordo que permitisse aos aiatolás seguir adiante com seu programa nuclear, que o mundo inteiro sabe ter como objetivo a obtenção de uma bomba atômica, o que por sua vez teria o potencial de lançar a região em uma espiral de instabilidade muito maior que a atual. Em nome de um antiamericanismo de DCE e da união de um suposto “Sul Global” – do qual o Brasil, a rigor, nem seria um dos líderes, bastando ver o papel de coadjuvante que o país assumiu na última cúpula dos Brics –, Lula afasta a diplomacia brasileira de todos os princípios da atuação internacional brasileira elencados no artigo 4.º da Constituição, especialmente a “prevalência dos direitos humanos”, a “defesa da paz” e o “repúdio ao terrorismo e ao racismo”. O Irã é um regime que nega explicitamente tais princípios. Um ano após a barbárie de 7 de outubro de 2023, perpetrada por um grupo apoiado por Teerã, e neste momento em que o regime islâmico assume diretamente o trabalho de fustigar Israel, dados os recentes sucessos israelenses na eliminação de líderes de Hamas e Hezbollah, este alinhamento promovido por Lula e Amorim apequena ainda mais o Brasil diante do mundo. Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/lula-amigo-ira/ Copyright © 2024, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Os planos de Napoleão que poderiam ter mudado a História do Brasil - Marco Morel (Gazeta do Povo)

Os planos de Napoleão que poderiam ter mudado a História do Brasil

Marco Morel

Gazeta do Povo, 21/09/2024

Entre 1796 e 1808, Napoleão Bonaparte "desenhou" 17 tentativas de invadir o Brasil. Os bastidores desses planos audaciosos de dominação são o mote do novo livro do historiador Marco Morel, autor de 'A Revolução do Haiti e o Brasil Escravista', 'Corrupção, Mostra Sua Cara' e 'O Poder da Maçonaria', entre outros.

Em 'O Dia em que Napoleão Quis Invadir o Brasil', Morel também reflete sobre como o Brasil poderia ter sido moldado sob o jugo francês, avaliando sobre as possíveis transformações culturais, sociais e políticas.

(…)

O título do livro parece ficção, mas não é. Napoleão Bonaparte voltou seu olhar de águia sobre o Brasil.

No período de 12 anos (1796-1808), entre a fase final da Revolução Francesa e o desembarque da Corte portuguesa no Rio de Janeiro, houve pelo menos 17 planos de ataque.

Miravam vários territórios no continente brasileiro, como então se dizia, da Amazônia ao Rio Grande do Sul, passando por Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso e Santa Catarina. Ou então queriam conquistar logo o Brasil inteiro! Nenhum deles vingou, está claro.

Tentativas oficiais que partiam do aparato militar, político e empresarial expansionista francês. Algumas acompanhadas e estimuladas diretamente pelo chefe da Grande Armada, por ministros e por dirigentes de seu Alto Comando.

As autoridades coloniais luso-brasileiras desconheciam as iniciativas e caçavam fantasmas, prendendo pessoas sem qualquer relação com estes casos. Conspirações impenetráveis.

A ligação conhecida entre Bonaparte e o Brasil é frágil, quando não forçada. Em geral, limita-se ao fato de que o imperador dos franceses fez com que a Corte portuguesa fugisse para cá, originando importantes transformações no país, que se tornaria independente. Uma relação indireta.

Pouco se conhece do apetite da conquista gaulesa sobre as terras brasílicas nos tempos de Napoleão I. Tais gestos, ganâncias e palavras, adormecidos há mais de dois séculos no Arquivo Nacional da França (Archives Nationales de France) e no Arquivo Histórico do Ministério da Defesa francês (Service Historique de la Défense, Ministère des Armées), na maioria inéditos, agora vêm à tona.

Com eles, surgem personagens curiosos e quase anônimos, pinçados no turbilhão da Era das Revoluções, com suas luzes e obscuridades. Como o capitão Antoine-René Larcher, que lutou pela Independência brasileira em 1797. Ou os capitalistas Cerf-Berr, que pretenderam formar um exército para conquistar o país inteiro, em 1801.

E o que dizer de um grupo de 800 jacobinos que pretendia tomar o Brasil de assalto e fazer degolas? E, ainda, o poderoso almirante e chefe de esquadra Willaumez, homem de confiança de Bonaparte, que insistiu para atacar Pernambuco.

E o general Combis, pronto para invadir o Rio de Janeiro. Sem falar no Rio Grande do Sul francês projetado pelo conde Liniers.

As tentativas frustradas fazem pensar num Brasil que poderia ter sido, mas nunca foi. Cópula interrompida. A batalha que não houve.

Projetos napoleônicos de “expedição”, na aveludada linguagem oficial, houve planos de invasão e ataques reais franceses desde o século XVI até meados do século XIX. Porém trata-se aqui de um período específico e de iniciativas estatais.

Bonaparte só assumiu formalmente o poder em 1799, mas, nos anos anteriores, sua influência era crescente. Todas essas experiências faziam parte do mesmo contexto de guerras que gerou (e foi gerado por) Napoleão.

Não tratarei de pirataria nem de franceses independentes que vinham ao Brasil, embora ambos tenham existido em profusão. Os planos aqui citados pretendiam fazer funcionar a máquina do Estado. Tênue limite entre corsários dos mares, tráfico atlântico de escravos e conflitos em terra firme com atuação de oficiais da Armada.

Espiões e negociatas. Contabilidade dos lucros. Lutas e sonhos revolucionários. A Revolução atravessada por contradições e, estas, por revoluções.

Entre as tentativas, projetou-se por três vezes a abolição da escravatura no Brasil em 1799, ou seja, 89 anos antes da Lei Áurea. Napoleão não estava sozinho. Universo e microuniversos. Sol, planetas e satélites. Bonaparte, aura de Libertador, e, do alto de seu cavalo branco, tornou-se escravocrata e colonialista – o que aguçava sua voracidade brasiliana.

Como teria sido o Brasil francês e napoleônico? Como os primeiros invasores enfrentariam a aridez do sertão? Ou o emaranhado verde e vibrante da Floresta Amazônica? Sobreviveriam aos cactos e à terra dura da caatinga? Espantariam-se com as imensas cataratas? Submergiriam às cheias do Pantanal?

Teriam sossego nos centros urbanos? Considerariam a Serra Gaúcha mais fácil de dominar do que os Pirineus? Saberiam interagir com os indígenas e sua imensa diversidade? As aristocracias se entenderiam? Os pobres livres se tornariam facilmente “afrancesados”? Os cativos se empolgariam com os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade?

E a “mestiçagem” culinária... Frango à marengo acompanharia frango com quiabo sobre a mesa? Galinha a cabidela e coq au vin dariam um prato casado? Surgiria mistura entre feijoada e cassoulet? Queijo canastra combina com brie? Entre cozido e pot-au-feu?

Costela de bode ou de carneiro? Combinação de crêpe e tapioca. Rubro vinho Bordeaux ao lado da cristalina aguardente de engenho na hora do brinde. Coquille de Saint-Jacques ou casquinha de caranguejo? Açúcar de beterraba ou da cana? Batata noisette com mandioca assada, cobertas com fines herbes e alfavaca? Bacalhau salgado substituído pela morue fresca. O churrasco na brasa cederia lugar à vitela à moda da Córsega?

Na cultura, entre imposições e apropriações... Tapeçarias de Gobelins tecidas pelas mulheres rendeiras. O acordeom tocaria chansons e forró. A ‘Eroica’ de Beethoven executada pelos violinos dos Guarani das Sete Missões?

Ou quem sabe surgiria uma língua creolle franco-brasílica, como a que foi esboçada pelo poeta Aldir Blanc na canção “Prêt-à-porter de tafetá”, em parceria com João Bosco: “Voalá e çavá, patati, patatá / Boulevar, saravá, sou da Praça Mauá...”

 Jangadas e chalupas ocupando as praias. A Catedral de Chartres implantada em Aparecida. Os Arcos da Lapa se ligariam ao Arco do Triunfo. O Monte Saint-Michel daria vista ao Pão de Açúcar. E de que essência viriam os perfumes exóticos? O Brasil seria a Argélia das Américas...

E as transferências da fauna e flora? Predadores como águia-imperial e carcará sertanejo saberiam partilhar o território? Javalis a caititus bateriam cabeça ou se cruzariam? Lobo cinza e lobo-guará se devorariam ou se misturariam? Faisão e arara dividiriam o bosque? Cereja e pitanga floresceriam no mesmo terreno? Pinheiros natalinos e coqueiros semeando juntos. Girassol e alamanda se entrelaçariam. Ou quem sabe o rio Sena desaguaria no São Francisco?

Talvez o maior país da América do Sul nem viesse a existir

É ingenuidade achar que o Brasil seria mais “civilizado” se colonizado pela França. As colônias francesas nas Américas, África e Ásia dão o exemplo do caráter da dominação. Não se imagina que haveria grandes novidades naquele contexto.

Num primeiro momento, a hipotética aquisição neocolonial brasileira continuaria escravista, exportadora e submetida a um regime liberal, modernizante e militarizado, possivelmente com Independência política e exclusivo comercial francês. Ou uma simples troca de metrópole? Embora a extinção do trabalho escravo tenha sido proposta.

As transformações que poderiam decorrer de tal situação são incontáveis e incontroláveis. Talvez o maior país da América do Sul nem viesse a existir.

A atração por Bonaparte (lendário e mítico) extrapola o círculo de especialistas. Sua marca alcança um público ampliado, gera fascínio, empatia, proximidade ou repulsa (a nível internacional e em grande escala) com o indivíduo que se transformou em “Grande Homem”.

Ao mesmo tempo vitorioso e derrotado, ambicioso e guerreiro, patético e grandioso. Dono de uma inteligência aguda ou uma teimosia empedernida. Violento ou humanitário. Mania de grandeza.

Sua presença povoa os repertórios culturais e psicológicos das sociedades atuais, um personagem da cultura de massas. Quem nunca ouviu uma piada sobre ele? Ou a narrativa de algum de seus feitos ou citação de frases que lhe são atribuídas? E aqueles que cismam ser Napoleão? Bonapartes dentro (e fora) do hospício nunca faltaram.

Mas aqui abordamos o personagem histórico e projetos governamentais. O imperador dos franceses chegou a dar sinal verde para o almirante Lacrosse invadir o Rio de Janeiro, em 1800. E desejou enviar uma parte das tropas para ocupar o Norte do Brasil, quando tentou reconquistar a ilha de São Domingos (Haiti), no Caribe, dois anos depois.

Em 1806, um ano antes de invadir Portugal, o “Ogro da Córsega” pensou novamente em atacar o Brasil, de surpresa, indo direto ao Rio de Janeiro. Sonhou mesmo em ser um novo Conquistador das Américas, à maneira dos antigos navegadores portugueses e espanhóis. Porém tempos e ventos não ajudaram.

O longínquo território brasileiro, de exuberantes riquezas naturais, era peça crucial no jogo de xadrez entre as potências europeias, Grã-Bretanha e França. O mar nem sempre estava para peixe – o que não impedia o contrabando de valiosos produtos brasileiros de chegar a Paris por caminhos sinuosos, espalhando, por exemplo, brilhantes topázios das Minas Gerais sobre a mesa dos revolucionários franceses.

Em revanche, o Brasil português invadiu a Guiana Francesa, em 1809. A França bonapartista foi se achegando: expulsou a Corte de Lisboa, guerreou na Guiana (fronteira amazônica) e nas colônias no Caribe, onde plantações ardiam, queimadas por escravizados em rebelião. A Revolução do Haiti. Queimadas.

A metrópole francesa possuía a Louisiana, nos Estados Unidos, e chegou perto do Canadá. Fez incursões em Buenos Aires. Os tentáculos de Bonaparte se avizinhavam da Terra Brasilis. Seus navios de guerra ziguezagueavam próximos ao litoral do gigante adormecido. Faltou dar o bote.

Se dominasse o Brasil, Napoleão estaria mais perto de controlar o mundo, ou, pelo menos, as Américas. Vontade não faltou. Mas a Royal Navy, Rainha britânica dos Mares, também andava por ali. Isso tornava as coisas um pouco mais complicadas. Entre o sonho e a realidade, havia o oceano (povoado de inimigos).

Trata-se de captar esse momento fugaz, mas intenso, do longo e incompleto dia em que Napoleão Bonaparte quis invadir o Brasil – onde a Independência não fora proclamada, nem a Corte portuguesa chegara.

No “sonho americano”, sempre acalentado e parcialmente realizado pelo “César Moderno”, haveria um grande império franco-americano do Rio da Prata (Argentina) ao Canadá, incluindo Caribe, Golfo do México e uma fatia dos Estados Unidos. E o Brasil no centro.

Os projetos não eram apenas europeus, embora estes tenham prevalecido, até pela localização geográfica. Havia uma dimensão planetária, irrealizada.

Alguns destes planos de invasão podem parecer extravagantes ou inviáveis para o leitor atual. Mas não se iludam, o mundo passava por mudanças até então impensáveis, e as possibilidades estavam em aberto.

Napoleão conquistou grande parte da Europa Ocidental e o Egito, foi até Moscou, e controlava territórios no Oceano Índico e parte das Antilhas. Quem sabe avançaria no Brasil? Esse era o motor da máquina napoleônica: alcançar o impossível chão.

Desde o século XVI, a França fez ocupações e ataques no território da América que se tornaria portuguesa, quando a gula europeia se deparou inicialmente com os índios canibais. “Aí vem nossa comida pulando!”, exclamavam os tupinambás, que foram, eles sim, devorados pela voracidade colonizadora.

E, ainda no século XVIII, corsários oficiosos, como Duguay-Trouin, deram bons sustos nos luso-brasileiros e se tornaram heróis na França por tais feitos. Logo depois desse período, surgiram outros projetos de invasão parcial pelos franceses.

Passado o fervor revolucionário e tendo falecido Buonaparte (como chamavam seus adversários, assinalando sua origem corsa e italiana) em 1821, alguns franceses continuaram de olho na Amazônia ou no Rio de Janeiro, tocados pela saga expansionista de conquistas e riquezas. E vieram outros projetos de invasão nos anos 1820-1830.

Se oceanos e terras não foram presa fácil, quem sabe florestas e rios? Não bastava à França ter alcançado a eficácia de Pátria das Luzes, vitoriosa referência cultural e civilizatória. Mas, no final das contas, teve que se contentar com esse papel.

Ou seja, conquistar corações e mentes, mas com poder econômico limitado. O que, convenhamos, não era pouca coisa. E se divertir com a peça teatral Jocko, le singe du Brésil (‘Jocko, o macaco do Brasil’), na qual o país era associado a um híbrido de símio e humano: sucesso da temporada parisiense em 1825, com salas lotadas e aplausos da crítica.

Ressonâncias coloniais e raciais. Talvez por coincidência, ano em que a França reconheceu oficialmente a Independência brasileira.

quarta-feira, 5 de junho de 2024

A História do Brasil segundo a Universidade Brasileira - Gabriel de Arruda Castro (Gazeta do Povo)

 Enviado gentilmente por Maurício David: 

A história sendo escrita agora: nas universidades, impeachment de Dilma vira “golpe de 2016”

Por Gabriel de Arruda Castro

Gazeta do Povo, 02/06/2024 

A história do futuro está sendo escrita agora nos bancos universitários. 

Mestres e doutores produzem as obras fundamentais que servem como base para livros didáticos. Também é nas universidades que saem muitas das ideias que hoje tomam conta do debate em Brasília.

Por isso, é provável que, num futuro próximo, os jovens brasileiros acreditem, como um fato da realidade, que o impeachment de Dilma Rousseff foi um golpe e que a população negra sofre um genocídio no Brasil.

A conclusão emerge de uma análise feita pela Gazeta do Povo sobre 7.000 dissertações de mestrado e teses de doutorado publicadas no Banco de Teses da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Destas, 5.000 foram apresentadas em 2023 e 2.000 no ano anterior. É uma amostra representativa porque os trabalhos foram selecionados de forma aleatória, incluindo 93 instituições de ensino e mais de 240 áreas do conhecimento diferentes. Ou seja: o levantamento não se restringe às Ciências Humanas e Sociais.

A análise dos dados utilizou a ferramenta Pinpoint, em uma parceria com o Google. O Pinpoint utiliza inteligência artificial para extrair padrões de arquivos de texto.

As figuras públicas mais citadas

Nas 7.000 teses e dissertações, nenhuma figura pública foi mais citada que Jair Bolsonaro. Ele aparece em 541 trabalhos. 

Em seguida, aparecem Getúlio Vargas, Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva e Michel Temer. Jesus Cristo ocupa o quinto lugar. Depois, aparecem mais políticos. O artista mais citado é Caetano Veloso, acompanhado por Gilberto Gil.

A lista exclui autores de obras acadêmicas (Como Karl Marx e Paulo Freire), que foram tema de outra reportagem.

A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal está entre os 30 mais citados, o que reflete o protagonismo assumido pela Corte nos últimos anos. Além disso, parte deles também escreveu obras acadêmicas, o que impulsiona o número de citações. Outro que é citado como autor e como figura pública é Fernando Henrique Cardoso, que antes de ser presidente foi um autor influente nas Ciências Sociais.

O golpe de Temer

Boa parte das menções ao impeachment que derrubou Dilma Rousseff trata o episódio como um golpe que abriu a porteira para o que existe de pior na política.

“Desde o Golpe 2016, muitas medidas antidemocráticas, fascistas e neoliberais se espraiaram, atacando o Sistema de Proteção Social brasileiro”, escreve Cristinno Farias Rodrigues, em sua tese de doutorado em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Maranhão. O “golpe”, aliás, é um tema centrado da tese, que recebeu o título de “Reconfigurações na implementação da política de assistência social no Maranhão: avaliação dos serviços da proteção social básica a partir do golpe 2016".

Rodrigues não explica porque o impeachment de Dilma Rousseff foi golpe. Simplesmente parte do pressuposto de que foi.

Ele não é o único. 

Em uma tese de doutorado em Saúde Pública na Fundação Oswaldo Cruz, Hugo Braz Marques diz que "Mediante a ascensão antidemocrática de Michel Temer, suas contrarreformas aprofundaram a demolição de direitos e políticas sociais, a criminalização dos movimentos campesinos e as desonerações tributárias aos grandes latifundiários".

Na Universidade Federal do Espírito Santo, a dissertação de mestrado em Educação de Verônica Santana Epifânia Bernardino afirma que "em 31 de agosto de 2018, após o golpe contra a presidente Dilma Roussef, Michel Temer (período do mandato) assumiu o poder." Neste caso, até a data está errada: Temer tomou posse em 2016.

 

O vilão preferido

O fato de Jair Bolsonaro aparecer em primeiro lugar na lista das figuras públicas mais citadas não significa, necessariamente, que essas menções são negativas.

Mas, na prática, é difícil encontrar alguma referência favorável ao ex-presidente. Para muitos dos novos mestres e doutores brasileiros, o “golpe" de 2016 deu início a uma sequência de acontecimentos cujo pior dos males foi a ascensão de Bolsonaro.

É como se a remoção de Dilma Rousseff tivesse aberto uma espécie de Caixa de Pandora — termo que, aliás, aparece com todas as letras. “Infelizmente, esses aspectos misógino e heteronormativo, assim como outros demônios que saíram da caixa de Pandora do golpe, conseguem representar a maioria da população brasileira, levando o candidato de extrema direita (...) Jair Bolsonaro, à presidência”, raciocina Francisco Djefrey Simplício Pereira, em uma dissertação de mestrado em Linguística na Universidade Federal do Ceará.

Barbara Alves Matias, que concluiu um mestrado em Literatura na Universidade Federal do Rio de Janeiro, também reservou espaço em sua tese para tratar do governo Bolsonaro: "A pesquisa foi pensada e desenvolvida durante o governo de Jair Bolsonaro, que institucionalizou e transformou em aparelho do Estado os discursos de ódio contra mulheres, dissidentes de gênero e outros grupos subalternizados, alicerçando uma espécie de nova inquisição entre aqueles que se propusessem a difundir discussões sobre corpo para além de uma perspectiva estritamente biológica e reprodutiva." O termo "saúde reprodutiva" costuma ser usado pelos defensores da legalização do aborto.

Em uma tese de mestrado em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia, Ludmila Pereira Alves fez uma associação entre Adolf Hitler, o fascismo, o agronegócio brasileiro e Jair Bolsonaro. Ao analisar o filme “Triunfo da vontade”, uma peça de propaganda nazista, ela estabeleceu um paralelo do líder alemão com os grandes produtores rurais brasileiros.

“Muito mais do que a idolatria ao próprio Hitler, o filme consegue projetar uma ideia que é também um espetáculo, tornando uma mentira algo absolutamente real para seus seguidores. Tão real que atravessou décadas e milênio e o feito hipnótico do Triunfo da vontade permanece vivo e atual nas propagandas que vinculam espaço e poder, como o próprio agronegócio no Brasil", Ludmila argumentou. “Hoje, no Brasil vivenciamos traços claros de um modo de ser fascista vinculado à personalidade do atual presidente da república: agressivo, autoritário, cínico, adepto de slogans rasos, porém letais", acrescentou, em referência a Bolsonaro.

Marielle à frente de Napoleão

Dentre as 30 figuras públicas mais citadas nas 7.000 teses, está Marielle Franco. A vereadora carioca assassinada em 2018 aparece em 79 teses e dissertações, à frente do ex-presidente João Batista Figueiredo e de Napoleão Bonaparte. 

Algumas delas insinuam uma ligação da família Bolsonaro com o caso. 

“Embora o assassinato de Marielle tenha ocorrido durante o governo golpista de Michel Temer, o meio militar já sabia das relações que a milícia ligada a família Bolsonaro tinha em relação ao caso do assassinato, mas mesmo assim não se importou em compor um governo cujas relações com organizações milicianas se expunham para qualquer um que quisesse”, escreve André Elias Barreto da Silva, em sua dissertação de mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense.

“Racismo estrutural” e outros temas da moda

Os novos mestres e doutores brasileiros têm predileção por certos temas. Um deles é o chamado "racismo estrutural". Das 7.000 teses, 359 mencionam a expressão. Para fins de comparação, “Descobrimento do Brasil” é citado apenas 49 vezes nos 7.000 trabalhos. “Proclamação da República” tem 314 citações. 

O doutorando Alexis Magnum Azevedo de Jesus, por exemplo, construiu sua tese em Educação pela Universidade Federal de Sergipe sobre a crença de que a população negra é vítima de um genocídio no Brasil. “O funcionamento da máquina jurídico-estatal, sobretudo o sistema penal, está organizado para o aprofundamento do genocídio da população negra”, ele diz. A palavra “genocídio” aparece 317 vezes no trabalho.

Nas teses compiladas pela Gazeta do Povo, outros tipos de racismo aparecem com frequência. "Racismo religioso" tem 61 menções; "racismo ambiental" tem 58; "racismo cultural", 14.

Revolução cubana continua popular

Enquanto parte da esquerda adere aos temas do momento, outra se apega a algumas causas mais tradicionais. A Revolução Cubana, por exemplo, continua a fascinar mestrandos e doutorandos Brasil afora.

Adriana Kerchner da Silva achou espaço para atacar o imperialismo americano em sua dissertação de mestrado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. "Acredito que a mídia a que temos acesso, que relata as situações vividas na ilha desde o triunfo da revolução, é, profundamente, maculada pelo imperialismo estadunidense, que está há 62 anos buscando difamar o regime local, colocando seu oposto, o capitalismo, como a solução para os problemas do país", teorizou. O trabalho tem como a obra dos escritores cubanos Juan Francisco Manzano e Esteban Montejo.

“Imperialismo americano” e suas variações, aliás, aparecem em 80 trabalhos acadêmicos catalogados pela Gazeta do Povo.

Um deles é o de Douglas da Silva Araújo, que juntou o tal imperialismo com o "golpe" contra Dilma Rousseff e o neoliberalismo: “Sob esteio do imperialismo estadunidense e do grande capital multinacional, as classes dominantes demandavam maior celeridade e ímpeto na implementação da agenda neoliberal, sendo eficazes na articulação de um golpe jurídico-parlamentar-midiático que colocou à frente do executivo nacional uma figura sem legitimidade representativa e extremamente impopular para aprofundar as contrarreformas e avançar na retirada de direito dos trabalhadores", escreve ele, em sua dissertação de mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense. O tema do trabalho é a produtora Brasil Paralelo e a atuação da "nova direita" na "guerra cultural".

Dados distorcidos

A equipe da Gazeta do Povo também encontrou dezenas de menções aos dados da ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) sobre a morte de transexuais no Brasil. Os levantamentos têm graves falhas metodológicas que os desqualificam para o uso em estudos acadêmicos.

A dissertação de mestrado em Filosofia de Cello Latini Pfeil na Universidade Federal do Rio de Janeiro, por exemplo, usa os números da ANTRA para argumentar que "os crimes de ódio cometidos contra pessoas trans demonstram, por seu modo de execução, como nossos corpos são cistematicamente rejeitados”.

“Cistematicamente” é um termo que junta “cisgênero” (pessoas que não se identificam como transexual) com “sistematicamente”. Neste caso, o uso neologismo é singular até para os padrões da academia brasileira. Nenhum outro trabalho analisado inclui o termo.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/historia-futuro-teses-academicas-dizem-bolsonaro-golpe/?utm_source=salesforce&utm_medium=emkt&utm_campaign=newsletter-bom-dia&utm_content=bom-dia 

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quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Amorim, o chanceler real de Lula 3 - Carinne Souza (Gazeta do Povo)

 Celso Amorim não é ministro, mas dá as cartas na polêmica política externa esquerdista de Lula

Carinne Souza

Gazeta do Povo, 3/01/2024

https://www.gazetadopovo.com.br/republica/a-influencia-ideologica-de-celso-amorim-sobre-a-politica-externa-de-lula/amp/


Ainda que Mauro Vieira seja o chanceler oficial deste terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), especialistas avaliam que o verdadeiro mentor da política externa é seu assessor de assuntos especiais, Celso Amorim. Diplomata de carreira, Amorim foi o ministro de Relações Exteriores dos dois primeiros mandatos de Lula e é apontado como a figura que moldou a estratégia internacional do mandatário brasileiro, que flerta com ditadores e não se envergonha de fazer vistas grossas a grupos terroristas.

De perfil progressista, Amorim é filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) e é um dos fundadores do Grupo de Puebla — organismo sucessor ao Foro de São Paulo e que reúne lideranças de esquerda da América Latina. Para especialistas e antigos membros do governo, é Amorim o responsável por dar o tem ideológico à política externa que Lula vem adotando.

“O grande conselheiro de política externa de Lula era Marco Aurélio Garcia [que foi seu assessor especial nos dois primeiros mandatos] e hoje esse posto é ocupado Celso Amorim”, avalia o doutor em Filosofia pela PUC-RS e mestre em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Cezar Roedel.

No período em que Amorim esteve no comando da chancelaria brasileira, o Brasil sempre tentou se envolver em discussões internacionais. Parte do potencial que Amorim via no Brasil (e em si mesmo) para participar de discussões de “gente grande”, se originou na participação em uma negociação diplomática do fim da década de 1990, que ficou conhecida como Painel do Iraque. Ela visava impedir que o ditador Sadan Hussein adquirisse armas nucleares.

À época, Amorim era chefe da Missão Permanente do Brasil nas Nações Unidas, em Nova Iorque, cargo que ocupava desde 1995 após indicação de Fernando Henrique Cardoso, de quem ele também foi embaixador. Durante a presidência do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, em janeiro de 1999, Amorim conduziu a missão que inspecionou o Iraque e concluiu que o país havia desativado seu programa nuclear para desenvolvimento de uma bomba. Mesmo assim, em 2003, os Estados Unidos iniciaram uma guerra com o Iraque sob a falsa alegação de que Hussein possuía armas de destruição em massa.

Ainda em 2003, quando Lula foi eleito presidente do Brasil pela primeira vez, Amorim foi o escolhido para ocupar o cargo de ministro das Relações Exteriores. Juntos, os dois buscaram espaço no cenário internacional e tentaram intermediar grandes conflitos ao redor do globo. A primeira iniciativa foi aceitar a proposta dos Estados Unidos para liderar a partir de 2004 uma missão de paz da ONU para a estabilização do Haiti, que durou 13 anos.

Mas isso não saciou o apetite de Lula e Amorim. Mensagens diplomáticas de 2008 vazadas pelo Wikileaks mostravam que Amorim estava "farto do comércio internacional", atividade principal da diplomacia brasileira nas décadas anteriores. Segundo os cabos diplomáticos americanos, Amorim decidiu então envolver o Brasil nas negociações de paz no Oriente Médio, em uma tentativa de assumir um papel de liderança global.

Os americanos, segundo os documentos do Wikileaks, criticaram o fato de que já naquela época Amorim tomava partido de ditadores, como Bashar al-Assad, da Síria, e do aiatolá Ali Khamenei, do Irã, com o aparente objetivo de se contrapor a Washington. Em 2005, Amorim já se posicionava contra Israel e dificultava negociações de paz promovidas pelos americanos na região.

O auge dessas iniciativas foi a tentativa do Brasil de liderar, em parceria com a Turquia, um acordo para interromper o programa nuclear militar do Irã em 2010. Apesar das negociações terem avançado, Washington usou sua força geopolítica para afastar brasileiros e turcos da mesa de negociação e fechar seu próprio acordo com os iranianos.

Em 2014, já sob o mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, do PT, o Brasil ganhou do governo israelense a alcunha de "anão diplomático". O Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) criticou ações militares de Israel destinadas a libertar soldados que haviam sido capturados por terroristas do Hamas. A crise foi depois amenizada, mas a alcunha "pegou".

Apesar de não responder pela chancelaria brasileira neste atual mandato de Lula, é Celso Amorim quem ainda atua nas questões mais polêmicas da política externa do governo. No primeiro ano de mandato da gestão Lula 3, ele foi enviado à Rússia para buscar informações sobre o conflito do país com a Ucrânia. Amorim também se envolveu pessoalmente nas discussões que buscavam uma solução para o conflito no Oriente Médio, entre Israel e Hamas.

Mais recentemente, o diplomata também esteve presente nas negociações entre Venezuela e Estados Unidos, a fim de colocar um fim nos embargos impostos por Washington a Caracas em troca de eleições justas e democráticas no país em 2024. Foi o brasileiro quem fez o lobby para o ditador Nicolas Maduro e negociou os termos do acordo assinado entre os dois países.

Roedel explica que a política externa de Lula e Amorim possuem grande influência do PT e por isso são caracterizadas por uma mentalidade “sul-globalista”. “O sul-globalista contesta a ordem vigente e até mesmo o direito internacional. Acredita que um novo mundo possa surgir sob a égide de potências autocráticas e contestadoras do Ocidente. Preferem o pragmatismo mercantil e ideológico com ditaduras do que o caminho complexo da defesa da democracia”, avalia.

O “match” ideológico de Lula e Amorim 

Antes de ser chanceler de Lula, Celso Amorim também foi ministro de Relações Exteriores do ex-presidente Itamar Franco, entre 1993 e 1995. Ainda que sua carreira no Itamaraty tenha se iniciado alguns anos antes, em 1977, os destaques na carreira diplomática tiveram início durante os governos de Itamar e Fernando Henrique Cardoso. Sob FHC, Amorim foi embaixador do Brasil em Londres e representou o país na Organização Mundial do Comércio (OMC) e na ONU, em Nova York.

Amorim sempre demonstrou maior apreço pela ideologia de esquerda e nesse período não ficava à vontade com políticas alinhadas aos Estados Unidos. Ele também não era maioria no Itamaraty durante a era FHC. Naquela época, a chancelaria brasileira era composta em sua maioria por diplomatas considerados “tucanos” — apelido dado aos filiados do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), partido fundado por FHC e que tinha um tucano como “mascote” da legenda. Os diplomatas se dividiam claramente na época entre petistas e tucanos. Partidários do grupo que estivesse mais em baixa eram mandados para representações diplomáticas em países mais pobres e isolados.

Em recente entrevista à Revista Piauí, ele afirmou que, apesar das diferenças ideológicas, nunca se sentiu prejudicado no Itamaraty. Amorim ainda disse que achava a pasta “acanhada” naquela época. As coisas mudaram nos anos seguintes, quando foi escolhido por Lula para assumir o Ministério das Relações Exteriores. Amorim então deu início ao que chama de política “ativa e altiva”. A tática tinha o objetivo de lançar o Brasil como um “dos grandes” e que pudesse estar envolvido em discussões que normalmente eram guiadas pela Casa Branca e países europeus.

Antes disso, o interesse do governo brasileiro ia além de ser uma liderança regional, um porta-voz para os países sul-americanos. Amorim e Lula diziam querer alçar voos maiores com o país. Através de organismos como a ONU, a Organização Mundial do Comércio (OMC), os Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a Cúpula América do Sul - Países Árabes (Aspa) e o Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul (Ibas) apostaram em um alegado "multilateralismo" que ia além das Américas.

O “match”, a ligação, entre Lula e Amorim também pode ser entendida a partir desse viés. Lula, um ex-líder sindical, conhecia os países e as organizações de esquerda da América Latina e Europa e queria uma integração desses países. Amorim queria aumentar a influência do Brasil no mundo. Aumentando os laços através dos diversos blocos em que o Brasil estava inserido, Amorim tentou cavar o espaço desejado para estar presente em grandes discussões. Assim, tentou vender a imagem de um país que teria influência não só na América Latina, mas também em relação a outros países.

Para Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente e diplomata de carreira, a política externa de Amorim e Lula tem pontos positivos no que diz respeito ao desejo de colocar o Brasil “entre os grandes”, mas erra ao se pautar pela ideologia. “O que eu acho que é negativo é essa obediência à visão de mundo do PT. Essa ideia de união entre Brasil, Rússia e China, contra o Ocidente e os Estados Unidos”, disse à Gazeta do Povo.

terça-feira, 17 de outubro de 2023

J. R. Guzzo esquece que sob o bolsolavismo o Itamaraty já tinha sido deformado (Gazeta do Povo)

 Esta “crônica” tem parcialmente razão, mas esquece de dizer que sob o bolsonarismo a deformação do Itamaraty, que começou com Lula 1, foi terrivelmente destruidora dos padrões civiluzados com os idiotas bolsonaristas.

Guzzo é um deformado ele mesmo.

Paulo Roberto de Almeida 

Itamaraty está subordinado aos interesses de tiranias e terroristas

J.R. Guzzo

Gazeta do Povo, 17/10/2023


O Ministério de Relações Exteriores do Brasil deixou de ser um órgão de Estado, encarregado legalmente de representar o país e defender os seus interesses fora das fronteiras nacionais. Deixou, também, de ser uma organização técnica, profissional e com uma longa reputação de competência diplomática. Hoje, no governo Lula, é uma facção política que promove os interesses ideológicos individuais dos grupos de esquerda mais radicais que controlam a máquina pública. Não é mais uma instituição nacional. Foi transformada em partido – deixou de servir o Brasil e passou a servir “causas”.


Essa degeneração, presente desde o último dia 1º de janeiro, chega agora a seu nível mais extremo: é o apoio virtual do governo Lula, disfarçado de “neutralidade”, aos ataques terroristas contra Israel por parte da organização criminosa que age como representante do “povo palestino”. Diante de crimes brutais contra a população civil israelense, condenados por todas as democracias do mundo, o Brasil pede que os “dois lados” cessem as “hostilidades” – como se tivessem os mesmos méritos e não houvesse um agredido e um agressor.


O verdadeiro ministro do Exterior, e responsável por todas as decisões relevantes que são tomadas lá, é um militante político de esquerda que serve como “assessor internacional” de Lula. O ministro oficial é uma espécie de Simone Tebet do Itamaraty; mal se sabe o seu nome. Quem aparece nas manchetes, nas fotos ao lado do presidente, nas viagens do primeiro casal ao redor do mundo, é sempre o outro – e esse outro é um esquerdista de butique que continua vivendo em 1960, fala em “anti-imperialismo” e festeja até hoje o lançamento do Sputnik.


Suas ideias em matéria de política externa são um concentrado do que se poderia ouvir numa assembleia de centro acadêmico estudantil. Ele acredita que a função estratégica número 1 da diplomacia brasileira é fazer oposição sistemática aos Estados Unidos, em primeiro lugar, e ao capitalismo em geral, logo em seguida. Sob o seu comando, o Itamaraty renunciou ao Brasil. As decisões diplomáticas, lá, têm se ser aprovadas pelo MST, pelos núcleos “anti-imperialistas” do PT, pela UNE e por coisas parecidas.


A “Palestina”, nesse ecossistema, tornou-se uma palavra-chave para a política externa brasileira de hoje. O chanceler efetivo é um antigo militante pró Hamas, e das organizações que vieram antes dele – grupos que exigem, oficialmente, a extinção física do Estado de Israel e dizem que todos os judeus que estão lá deveriam ser jogados “no mar”. O resto da atuação internacional do Brasil é o que se vê todos os dias: hostilidade automática aos Estados Unidos, à Europa e ao mundo democrático, e apoio automático a tudo e a todos que sejam de alguma forma contra eles.


O Brasil de Lula e do seu ministro-assessor não deve se aproximar dos “países capitalistas”, das economias livres e das esferas de prosperidade. Nossos amigos têm de ser a “Palestina”, com toda a selvageria do Hamas, ou o Irã, que lhe entrega armas e dólares e foi declarado como Estado terrorista por todas as nações democráticas. Nossos aliados têm de ser o ditador da Venezuela, que é procurado pela polícia internacional por tráfico de drogas, com um prêmio de 15 milhões de dólares por sua captura. Têm de ser Cuba e Nicarágua. Têm de ser as ditaduras da África. O Brasil não tem uma “política externa independente”. É um aliado que se subordina cada vez mais aos interesses de tiranias, organizações terroristas e criminosos de guerra.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/jr-guzzo/itamaraty-interesses-tiranias-terroristas-hamas-palestina/

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terça-feira, 5 de setembro de 2023

Os 5 maiores economistas do século XX e os 3 melhores brasileiros - Adolfo Sachsida (Gazeta do Povo)

Eu teria colocado Eugênio Gudin entre os três maiores brasileiros, e também Mário Henrique Simonsen, junto com Scheinkman.

História econômica

Os 5 maiores economistas do século XX e os 3 melhores brasileiros

Por Adolfo Sachsida

Gazeta do Povo, 01/09/2023

 

"Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.” (Isaac Newton)

 

Como qualquer ranking, este também tem o seu viés. No meu caso, escolhi os 5 maiores economistas que embutem um mix de contribuições teóricas e participação no debate público, seja deles mesmos ou de suas ideias. Assim, economistas de extrema sofisticação teórica, como Debreu ou Arrow, acabaram ficando de fora de minha lista. De maneira semelhante, economistas com amplo espaço no debate público, mas sem contribuições teóricas, tampouco aparecem em minha lista. Por óbvio, a lista expressa minha opinião e a influência que recebi desses economistas ou de suas ideias. Talvez no passado eu tivesse montado uma lista diferente, mas hoje, após minha passagem por dois cargos na alta esfera de administração pública federal (Ministro de Minas e Energia, e Secretário de Política Econômica), percebi com mais clareza a importância de narrativas, exposição pública e de ideias que despertem o debate junto ao grande público e possam ser implementadas de maneira mais concreta em políticas econômicas críveis e que levem ao crescimento e desenvolvimento econômico sustentável.

 

Os 5 grandes economistas do século XX:


5) Ronald Coase: Sua maior contribuição foi mostrar a importância do estabelecimento de direitos de propriedade para a resolução de problemas econômicos complexos. Esta é uma regra que todo formulador de políticas públicas deve ter em mente: estabelecer corretamente os direitos de propriedade é a solução para uma vasta gama de problemas relacionados a falhas de mercado. Favelas, invasão de terras, poluição, são alguns dos problemas que afligem a sociedade e que podem ser resolvidos via estabelecimento de direitos de propriedade. Coase neles!

 

 

4) Gary Becker: É o responsável pela aplicação do instrumental econômico a um amplo conjunto de problemas sociais. Becker expandiu a ciência econômica, seu instrumental analítico, forma de racionalizar os problemas e suas soluções, para todas as ciências sociais. A ideia de usar o instrumental econômico para resolver problemas relacionados a criminalidade, educação, interação social, entre outros, faz de Becker um dos grandes economistas do século passado.

 

3) Milton Friedman: Foi talvez o maior porta voz da importância de uma economia de livre mercado como o caminho para o crescimento e desenvolvimento econômico. Sempre presente no grande debate público, Friedman cobrava coerência de seus colegas que adoravam liberdade na academia, mas por vezes apoiavam medidas restritivas de liberdade na sociedade. Do ponto de vista teórico, entre outras contribuições, Friedman relacionava a inflação à expansão de moeda. Em outras palavras, para Friedman a expansão de moeda era a maior responsável pela inflação. Lição valiosa para o debate público atual. Friedman também é conhecido por seus alertas aos efeitos não-intencionais das intervenções governamentais na economia. Costumava dizer que as políticas públicas devem ser julgadas por seus efeitos, e não por suas intenções. Perfeito!

 

2) Robert Lucas Jr: É o grande nome da macroeconomia moderna. Seu empenho em elaborar os fundamentos microeconômicos da macroeconomia mudaram para sempre o estudo da macroeconomia. Lucas cobrava que os modelos macroeconômicos tivessem sólida base microeconômica. Além disso, Lucas popularizou o uso nos modelos econômicos da ideia de expectativas racionais (que já existia desde Muth, mas sem a devida atenção). Lucas também mostrou a importância de se ajustarem os modelos econométricos na presença de quebras estruturais, a famosa “Crítica de Lucas”. É difícil falar de macroeconomia moderna sem falar de Lucas. A rigor, é bem provável que Lucas seja um dos economistas mais citados em qualquer lista dos maiores economistas do século XX.

 

1) Friederich von Hayek: Gênio. Contribuições importantes nas áreas de direito, filosofia, história das ideias, além, é claro, de ter sido, em minha opinião, o maior economista do século XX. Seu artigo clássico “The Use of Knowledge in Society” (publicado na American Economic Review em 1945) é até hoje um dos estudos mais influentes no pensamento econômico. Hayek argumentava sobre a importância do mecanismo de preços para estabelecer a correta alocação dos recursos na economia. Além disso, políticas que mascarassem o mecanismo de preços – tal como o famoso congelamento de preços praticado amplamente no Brasil na segunda metade da década de 1980 – levariam inevitavelmente a um problema de escassez e terminariam reduzindo o bem-estar da sociedade. BINGO! Grande defensor do livre mercado, Hayek advogava também pelo uso de moedas privadas, tema em moda hoje em dia. Hayek também tem importantes contribuições sobre a teoria do ciclo econômico. Para ele o governo costumava ser o responsável por parte dos ciclos econômicos ao inflar artificialmente o canal de crédito na economia. Explicação essa que me parece ser um dos pilares da crise de 2015-16 (juntamente com o aumento expressivo do gasto público que antecedeu a crise). Hayek também escreveu o melhor livro de economia que já li: “O Caminho da Servidão” (livro de cabeceira de Margareth Thatcher).

 

Os economistas brasileiros

E os brasileiros? O artigo já está grande, mas achei importante ressaltar quem foram, em minha opinião, os três maiores economistas brasileiros do século XX:

 

Aloisio Pessoa de Araujo

José Scheinkman

Carlos Geraldo Langoni

Tive o prazer de trabalhar tanto com o professor Aloisio Araujo quanto com o professor Langoni. Fica aqui registrada minha admiração e agradecimento.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/adolfo-sachsida/os-5-maiores-economistas-do-seculo-xx-e-os-3-melhores-brasileiros/

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domingo, 19 de fevereiro de 2023

O que é o “novo pré-sal” e por que a Petrobras aposta tanto nele - Célio Yano (Gazeta do Povo)

O  que é o “novo pré-sal” e por que a Petrobras aposta tanto nele

Por Célio Yano

Gazeta do Povo, 19/02/2023 14:10

A Petrobras pretende iniciar em breve a exploração de petróleo em uma fronteira, a chamada Margem Equatorial. Apelidada de “novo pré-sal”, a região abrange uma extensa faixa da costa do Amapá até o Rio Grande do Norte, e deve receber 49% dos investimentos em exploração da companhia até 2027.

Embora a exploração não deva se dar necessariamente sob uma camada de sal, a região recebeu o apelido em razão do potencial de fornecimento de petróleo e gás natural, corroborado por reservas encontradas em territórios vizinhos, de mesmo contexto geológico, nos últimos anos.

Somente a ExxonMobil já soma, desde 2015, mais de 25 descobertas de hidrocarbonetos no mar territorial da Guiana, cinco apenas em 2022. Na área offshore do Suriname, a TotalEnergies e a Apache anunciaram a descoberta de seis reservas significativas no chamado bloco 58 desde janeiro de 2020.

Além disso, descobertas nas bacias da chamada Margem Conjugada Africana, que guarda similaridade geológica com a Margem Equatorial brasileira, aumentam as expectativas para a exploração e produção de óleo e gás na região, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

“A Margem Equatorial é considerada uma área estratégica para a Petrobras e uma fronteira exploratória promissora em águas ultraprofundas. As descobertas recentes feitas por outras empresas em regiões vizinhas a essa fronteira (offshore das Guianas e do Suriname) corroboram esse potencial”, diz a Petrobras, em nota.

Em seu primeira declaração após ser empossado, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates defendeu a ampliação das fronteiras exploratórias de óleo e gás pela companhia, incluindo “toda a costa da margem equatorial, essa nova e promissora fronteira exploratória e onde também há um forte potencial para energias renováveis”.

Para dar início aos trabalhos, a companhia aguarda a emissão de uma licença ambiental pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Como parte desse plano, a Petrobras já recebeu autorização ambiental do governo do Pará para um "simulado de vazamento" na bacia da foz do Amazonas.

Assim que obtida a licença do Ibama, a primeira perfuração será a 160 quilômetros da costa, em águas ultra profundas (2,8 mil metros de profundidade), em região pertencente ao estado do Amapá, na bacia da Foz do Amazonas.

Os blocos da bacia foram os mais disputados na 11.ª rodada de licitações de petróleo e gás da ANP, realizada em maio de 2013, e acabaram arrematados por um consórcio formado por TotalEnergies (40%), Petrobras (30%) e BP (30%).

A dificuldade na obtenção do licenciamento ambiental e a opção por investir em energias limpas fez com que as multinacionais desistissem da operação em 2020 e 2021, respectivamente. Ambientalistas criticam a exploração na região por considerarem que a atividade coloca em risco a biodiversidade local.

Em maio de 2022, a Petrobras recebeu uma autorização do Ibama para a avaliação pré-operacional como condição para a licença para exploração. “Estamos preparados para nossa jornada na Margem Equatorial empregando todo o conhecimento operacional da Petrobras e as tecnologias necessárias para a preservação e manutenção das características físicas e biológicas do ambiente. Em paralelo, desenvolveremos projetos socioeconômicos positivos para a região, com foco no cuidado ambiental”, informou a empresa à Gazeta do Povo.

Segundo a companhia, as atividades de perfuração serão monitoradas e acompanhadas 24 horas por dia por meio de equipamentos e equipes técnicas especializadas. “Como forma de garantir a segurança das atividades, serão realizadas inspeções planejadas de sistemas e equipamentos, programas de manutenção preventiva e corretiva, treinamentos, simulados de emergência, vistorias e auditorias”, afirma.

A Petrobras trata os projetos da Margem Equatorial como “a nova geração de projetos de óleo e gás”, porque buscariam sinergia com novas fontes renováveis e de baixo carbono nas áreas em que a empresa atua.

Até 2027, a estatal planeja investir ao menos US$ 2,94 bilhões em atividades de exploração da Margem Equatorial, com previsão de perfuração de 16 poços, de acordo com o plano estratégico da empresa para o próximo quadriênio. Segundo a companhia, a abertura de novas frentes exploratórias dependerá da obtenção das licenças ambientais correspondentes.

Hoje, a maior parte da produção da Petrobras advém da camada do pré-sal. No 3º trimestre de 2022, foram produzidos em média 2,64 milhões de barris de óleo equivalente por dia, dos quais 1,94 milhão – ou 73% – vieram da fronteira exploratória.

https://www.gazetadopovo.com.br/economia/o-que-e-novo-pre-sal-e-por-que-petrobras-aposta-tanto-nele/

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

A Gazeta do Povo pretende "provar" os efeitos benéficos da Cloroquina, em benefício do Capitão

Um dos editores da Gazeta do Povo, um jornal legitimamente de direita e desavergonhadamente defensora e promotora do psicopata no poder, tenta provar que ele tinha razão ao recomendar o uso da Cloroquina, como se ele fosse um cientista ou tivesse acesso a informações supostamente científicas aqui relatadas para recomendar o seu uso preventivo.

Como meu blog é de debate e informação, posto a nota do editor de Ideias da Gazeta do Povo.

Paulo Roberto de Almeida 


segunda-feira, 11 de julho de 2022

A Idiotice Galopante do TCU e do jornalistas não tem tamanho: teto imbecil para remuneração no exterior - Lúcio Vaz (GP)

 As cavalgaduras do teto limite de remuneração NO BRASIL, MOEDA BRASILEIRA, parecem não ter percebido, AINDA, que a remuneração dos diplomatas no EXTERIOR, ASSIM COMO SUAS DESPESAS, não sofrem NENHUMA MUDANÇA OU ALTERAÇÃO DE VALOR, apenas porque a moeda brasileira SE DESVALORIZOU. O TETO QUE VALE NO BRASIL não tem NENHUM SIGNIFICADO para quem vive no exterior. Ou seja, se cortarem a REMUNERAÇÃO EM DÓLARES dos diplomatas, apenas porque o Real se desvalorizou, o único resultado é a redução do salário, o que inconstitucional, mas basicamente ESTÚPIDO, porque impedindo-os de cumprirem com suas obrigações de aluguel, escola dos filhos, etc. 

Esse jornalista só pode ser um debiloide, incapaz de separar valores constantes em dólar e valores variáveis em real. Uma cavalgadura desse tipo, junto com o TCU, é de dar dó.

Paulo Roberto de Almeida 


Renda de embaixador chega a R$ 260 mil no mês do 13º salário

Por Lúcio Vaz
Gazeta do Povo, 10/07/2022 19:29

A renda mensal dos embaixadores brasileiros no exterior chega aos R$ 150 mil e alcança os R$ 260 mil no mês em que é pago o 13º salário. O embaixador brasileiro no Japão, Eduardo Paes Saboia, por exemplo, teve renda de R$ 145 mil em fevereiro. Em novembro de 2021, mês da gratificação natalina, a renda foi a R$ 262 mil. Mas os supersalários não são pagos apenas nos países do primeiro mundo.

O embaixador em Luanda (Angola), Rafael de Mello Vidal, por exemplo, teve renda mensal de R$ 152 mil em fevereiro (o registro mais recente). Ele recebeu R$ 261 mil em novembro, sendo a maior parte relativa a indenizações – R$ 144 mil. Ele recebeu mais R$ 135 mil de indenizações em dezembro, quando a renta total chegou a R$ 296 mil. No mês de novembro, há aplicação de abate-teto sobre a remuneração básica.

O embaixador em Togo, Nei Futuro Bitencourt, teve renda de R$ 137 mil em fevereiro. Em novembro, recebeu R$ 115 mil em indenizações, R$ 86 mil de gratificação natalina e R$ 89 mil de remuneração básica. Com um abate-teto de R$ 39 mil, a renda total chegou a R$ 241 mil.

Baku, Ierevan, Burkina Faso
Embaixador em Baku, no Azerbaijão, Adalberto Montenegro Lopes da Cruz teve renda de R$ 127 mil em fevereiro. Em novembro, com indenizações de R$ 103 mil e R$ 77 mil de 13º salário, chegou à renda de R$ 220 mil, já descontado o abate-teto de R$ 34 mil.

O embaixador em Ierevan (Armênia), Agemar de Mendonça Santos, teve renda de R$ 115 mil em fevereiro e chegou a R$ 204 mil em novembro, quando recebeu R$ 94 mil em indenizações. Em dezembro do ano passado, Santos teve o seu nome aprovado para a embaixada em Belmopan (Belize), país do Caribe conhecido pelas de praias paradisíacas.

A embaixadora de Burkina Faso, Ellen Osthoff Ferreira de Barros, tem renda mensal de R$ 125 mil e recebeu R$ 219 mil em novembro, principalmente pelos R$ 104 mil pagos em verbas indenizatórias. Rubem Corrêa Barbosa é embaixador em Astana, no Cazaquistão, com renda mensal de R$ 120 mil. Os R$ 102 mil pagos em indenizações em novembro elevaram a sua renda total para R$ 212 mil.

O embaixador do Brasil no Reino Unido, Fred Arruda, tem renda mensal de R$ 120 mil e recebeu R$ 223 mil em novembro, quando levou R$ 122 mil em indenizações. A renda mensal do embaixador na França, Luís Fernando de Andrade Serra, é de R$ 132 mil. Em novembro, chegou a R$ 244 mil, graças aos R$ 140 mil em indenizações.

O embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Forster, não tem renda tão elevada. Ele recebeu R$ 102 mil em fevereiro e R$ 194 mil em novembro do ano passado. O mesmo ocorre na embaixada nos Emirados Árabes, em Abu Dhabi. O embaixador brasileiro Fernando Lemos Igreja recebeu R$ 112 mil em fevereiro e R$ 201 mil em novembro. (Veja tabela abaixo com a renda por embaixada)

Os mesmos direitos dos militares
A mais significativa das verbas indenizatórias é a indenização de representação no exterior (Irex), calculada em razão da natureza da missão, da hierarquia funcional, do cargo exercido, do custo de vida local e das condições peculiares de vida da sede no exterior . Os direitos dos diplomatas em exercício no exterior são os mesmos assegurados aos militares que cumprem missão no exterior.

O auxílio-familiar é pago mensalmente para atender às despesas de educação e assistência, no exterior, a seus dependentes. São considerados dependentes a esposa, menor de 21 anos ou estudante menor de 24 anos, mãe viúva sem remuneração, enteados, adotivos, tutelados e curatelados.

A ajuda de custo é paga ao servidor para custeio das despesas de viagem, de mudança e da nova instalação. O transporte é assegurado com o pagamento de passagem aérea para o servidor e seus dependentes. O auxílio-moradia é devido ao servidor em missão permanente ou transitória no exterior, a título de indenização, para custeio de locação de residência, na forma de ressarcimento por despesa comprovada pelo servidor. Há ainda diárias, auxílio funeral, auxílio-moradia, 13º salário e 1/3 de férias.

A aplicação do teto
O Ministério das Relações Exteriores afirmou ao blog que passou a aplicar o limite remuneratório constitucional sobre os vencimentos dos funcionários a serviço no exterior a partir de agosto de 2013, cumprindo decisão do Tribunal de Contas da União (TCU). O Acórdão 2054/13 determinou que o ministério limitasse a remuneração ao teto constitucional, computando as parcelas referentes à retribuição básica, à gratificação no exterior por tempo de serviço e ao fator de correção cambial incidente sobre essas parcelas.

O Itamaraty acrescentou que, a fim de assegurar segurança jurídica e previsibilidade à retribuição paga aos servidores lotados no exterior, passou a adotar, a partir de dezembro de 2021, o índice de câmbio por paridade do poder de compra publicado pela OCDE como critério para cálculo do limite remuneratório.

https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/lucio-vaz/renda-de-embaixador-chega-a-r-260-mil-no-mes-do-13o-salario/