Olá! Aqui quem lhe escreve é Eli Vieira, editor de Ideias da Gazeta do Povo — e biólogo.
Como está seu segundo semestre de 2022? Uma loucura, aposto. Na ciência as coisas também estão assim. Em junho de 2021, publiquei um texto que viralizou por rebater os ataques aos principais medicamentos propostos como tratamento precoce para a Covid. Antes disso, eu próprio era cético quanto à hidroxicloroquina (HCQ), ivermectina e outros. Após conversar com matemáticos como Victor Tausk, pesquisador da USP, eu abri minha mente para as evidências e mudei de ideia.
Desde então, cobri outras drogas que ajudam a aliviar os sintomas da Covid, da fluvoxamina (também reaproveitada das farmácias) ao Paxlovid (desenvolvido pela Pfizer durante a pandemia). Neste mês, sou surpreendido novamente: reanalisando os melhores dados a respeito da hidroxicloroquina, pesquisadores afiliados a laboratórios em Harvard e na Espanha (incluindo o Ministério da Saúde do país) concluíram que a HCQ realmente reduziu em 20% ou mais o agravamento de sintomas, mas só quando tomada como uma precaução antes de o paciente ser exposto à Covid-19 (não após o quadro de sintomas estar estabelecido). Corri ao Tausk e os outros “universitários” para me ajudar a interpretar a reanálise, e eles confirmaram.
A cobertura dessa revisão na imprensa está sendo bem o que eu esperava. À parte a raridade das exceções que cobriram os resultados com precisão sem levantar poréns (mas com menos detalhe do que você encontra na Gazeta do Povo), as tais “agências de checagem”, cada vez mais desmoralizadas por fazerem lacração e errarem feio no cálculo da inflação, estão em polvorosa e foram escolher especialistas que falem mal da revisão. Até a editora da revista em que foi publicada, que é a oitava mais prestigiosa revista científica de epidemiologia, já está sendo pressionada a impugnar a publicação.
É normal procurar especialistas, mas os ouvidos pelas checagens disponíveis não respondem aos pontos levantados pela revisão e por matemáticos como Tausk. O fato é que biólogos (como eu), biomédicos e médicos têm um limite para a sua compreensão de estatística muito maior que matemáticos e estatísticos como Tausk. Além disso, as checagens fazem correções que são pura perda de tempo, como negar que Harvard esteja envolvida no estudo, quando é normal apontar as instituições às quais estão afiliados os autores de um artigo, e Harvard está entre elas neste caso.
Esta pandemia que está no fim foi, para bons observadores, uma grande lição sobre o estado da comunidade científica, o estado do jornalismo, das instituições de saúde, das ideologias políticas. Foi um grande vestibular no qual a maioria foi reprovada. Creio que bons historiadores um dia reconhecerão a busca do tratamento precoce em medicamentos já existentes nas prateleiras pelo que ela foi: um exemplo de improviso criativo diante de uma crise, de resiliência e coragem, de racionalidade e independência. Muitos resistirão a reconhecer os seus sucessos.
Sem mais delongas, fica meu convite para que você leia a minha cobertura completa. |