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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Milton Friedman meets Bob Fields: O reencontro de dois grandes economistas - Paulo Roberto de Almeida (2006)

Milton Friedman meets Bob Fields

O reencontro de dois grandes economistas

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 20 de novembro de 2006

 

Não se sabe, exatamente, para onde vão os economistas quando morrem. Existem muitas controvérsias a respeito, tantas quantas são as doutrinas e escolas de pensamento que os dividem. Muitos devem seguir direto para o limbo, antes de serem eventualmente recuperados por algum doutorando em busca de novas ideias. Vários outros padecem anos no purgatório das posições controversas, antes de ascender ou descer na escala de preferências dos contemporâneos, passando então a desfrutar da justa recompensa pelos bons serviços prestados à sociedade ou da inevitável punição pelos desastres incorridos em função da aplicação de recomendações incorretas. Se Marx e Keynes estavam certos, nossa sina incontornável é a de continuar, durante longos anos, prisioneiros das ideias de economistas defuntos. Alguns deles, aliás, são bons carcereiros, como veremos a seguir.

Com uma diferença de cinco anos e alguns dias, Milton Friedman foi ao encontro de Roberto Campos em algum lugar desse espaço indefinido. Trata-se de um amplo salão com paredes forradas de livros, vários sofás de couro, nos quais descansam, sem harpas nem camisolas, alguns desses economistas dignos do registro histórico; num canto, uma mesa com whiskey e gelo, sobre a qual repousa uma foto de Keynes, numa outra, um computador ligado nas principais bolsas mundiais, sobre um fundo de tela com a efígie de Adam Smith. Tudo muito sóbrio, comme il faut...

 

Welcome to a new world, Doctor Friedman”, acolheu-o Roberto Campos, “nós temos todo o tempo do mundo para repousar, discutir teorias econômicas, ou não fazer nada simplesmente, just sitting by with a glass of good scotch. Please, serve yourself”. 

Thank you Bob, but I don’t drink. Just call me Milton. Estou gostando do lugar: uma biblioteca aconchegante, um pouco de informação e companhia agradável. Vou me dar bem por aqui, mas a Rose vai fazer falta.”

Certainly, Milton”, retrucou Campos. “Mas você também estava muito bem de onde veio, com as suas ideias sendo finalmente acatadas por todos, programas de TV defendendo a liberdade dos mercados e a redução do papel do Estado, algo impensável em minha própria terra”. 

Oh, it’s a long battle, you know”, lamentou o americano. “A gente passa a maior parte da nossa vida pregando no deserto, tentando convencer os homens a defender a sua prosperidade através da liberdade de mercados e da competição. Seduzidos pelos falsos profetas, que são os políticos, eles têm essa tendência inexplicável a preferir mais e mais leis, regulação e despesas públicas, como se esperassem que o Estado lhes fosse trazer a felicidade eterna. Como você bem sabe, Bob, essas boas intenções sempre produzem resultados deploráveis. Só depois que a gente se vai é que eles começam a se convencer do acertado de algumas ideias simples”.

Do not blame yourself, Milton. Você foi tremendamente bem sucedido, muito mais do que eu, em todo caso. Veja o exemplo do Brasil: nós seguimos um dos seus conselhos, o da correção monetária das dívidas e da poupança, para preservar o valor dos ativos, e conseguimos criar um processo infernal que se arrastou durante décadas no limite da hiperinflação e que muito fez para agravar a já péssima distribuição de renda.”

“Eu sei disso, Bob, mas a minha recomendação era apenas voltada para preservar o sistema financeiro, protegendo poupadores contra os ganhos indevidos dos tomadores de crédito. Eu não esperava que no Brasil vocês fossem generalizar esse mecanismo em todas as vertentes do sistema. Vocês simplesmente criaram uma máquina realimentadora da inflação, o que nunca foi a minha intenção.”

“Bem, isso agora acabou, felizmente. Alguns poucos malucos ainda insistem em pedir um pouco mais de inflação, para garantir mais crescimento e emprego, mas eles não são tão ouvidos como antes. Em contrapartida, eles continuam se posicionando contra o liberalismo, sob o pretexto de que você o colocou a serviço de ditadores, como no Chile, onde as conquistas populares foram esmagadas em benefício do capital estrangeiro”. 

That’s untrue, Bob”, irritou-se Friedman. “Pinochet era um perfeito bárbaro, não apenas na repressão política. Ele pretendia dar ordens aos preços, da mesma forma como comandava seus soldados e nunca entendeu a economia. Eu apenas atendi a um chamado de ex-alunos que trabalhavam no ministério das Finanças, para dar conselhos sobre como domar a inflação, que teimava em persistir mesmo depois da abolição das medidas socialistas de Allende. Eu simplesmente fiz a recomendação óbvia para que deixassem os preços e os mercados livres e parassem de imprimir dinheiro, controlando na outra ponta as despesas públicas, inclusive as militares. Bastou isso para trazer a superinflação chilena a patamares razoáveis. Também insisti para que dessem autonomia às autoridades monetárias e liberdade aos empresários. Surpreende-me que in Latin America todos gritam contra o neoliberalismo, quando o Chile é o único país da região que cresce continuamente há quase duas décadas.”

“Isto é porque gostamos de encontrar bodes expiatórios para os nossos próprios problemas. Um dos maiores sucessos dos últimos tempos é o Fórum Social Mundial, criado no Brasil: milhares de jovens idealistas e alguns velhos esquerdistas que graças à globalização se mobilizam rapidamente para protestar contra a globalização. It’s insane Milton. Recentemente, ainda, eles voltaram a protestar contra as privatizações, usando o tempo todo moderníssimos celulares que eles nunca teriam se as velhas estatais do setor continuassem limitando a oferta de linhas e aparelhos. Just crazy...”

Yes, that’s amazing. But tell me Bob, como vai o seu leftist president?”

Oh, don’t worry Milton, ele é tão socialista quanto eu sou keynesiano, ou seja, quase nada, apenas uma tênue superfície para impressionar os últimos true believers, que infelizmente no Brasil ainda são em grande número.”

“Também pudera, Bob, você mesmo, com todo o seu credo liberal e privatista, fez mais para impulsionar o poder do Estado do que todos esses universitários marxistas que se reúnem regularmente para pedir mais controle de capitais e do câmbio, mais gastos públicos, menos abertura econômica, não aos acordos comerciais. Tell me frankly, Bob, você não se arrepende hoje desse stalinismo para os ricos que vocês criaram no Brasil?”

Yes, that sad, Milton, I confess my error. Eu estava apenas tentando impulsionar a economia, na ausência de capitalistas schumpeterianos e de um verdadeiro mercado financeiro, funcionando à base de poupança privada. Reconheço que fomos longe demais, mas isso também porque os nossos militares alimentavam sonhos grandiosos de dominar ciclos industriais inteiros, construir processos produtivos totalmente nacionalizados e enveredar pelo caminho da grande potência econômica cuidando mais da superestrutura de ciência e tecnologia do que do ensino básico. Na crise do petróleo, insistiram ainda nos grandes projetos, fazendo dívida em lugar de reajustar a economia. Quando eu quis protestar, me mandaram como embaixador para Saint James’ Court, junto da rainha.”

“Ultimamente, o seu leftist president andou prometendo crescimento econômico a 5% ao ano. Is that possible, Bob?”

Certainly not, Milton, as long as the State continuar como despoupador líquido dos recursos criados pelo setor privado. O Estado brasileiro arrecada mais de 38% do PIB em impostos e gasta 41%, considerando o pagamento da enorme dívida pública. Não há a menor hipótese de obtermos esse crescimento, pois investimos apenas 20% do PIB, sendo que o próprio Estado é responsável por menos de 2% do volume total. Sinto contradizer o meu presidente, mas ele divaga ou foi mal informado por assessores que não sabem do que estão falando.”

“E esse programa de ajuda aos pobres, Bob, o que você acha? Eles pretendem que eu recomendaria o mesmo, com o meu negative-income-tax. Is that correct?”

“Não é nada disso, Milton, o seu esquema se dirige aos working poors, ao passo que o nosso programa praticamente não tem contrapartidas e não constitui a remuneração por qualquer tipo de atividade. É muito diferente. Mas ele é obviamente muito apreciado pelos políticos, que constituem com isso um imenso curral eleitoral.”

It’s a pity, Bob. Mas eu também tenho um motivo de remorso, no meu próprio país, ao ter sugerido, durante a Segunda-Guerra, a retenção do imposto de renda na fonte, como forma de alimentar as caixas do Estado, então necessitado de recursos. Nunca mais foi possível reter a sanha arrecadadora desse monstro burocrático e meus conselhos para a diminuição do tamanho do Estado sempre caíram no vazio”. 

“Não lamente muito, pois suas recomendações eram justificadas em função do momento. A despeito disso, a carga fiscal no seu país tem se mantido rigorosamente em torno de 30% do PIB, com pequenas variações ao longo das últimas três décadas. No Brasil, saímos de menos de 20% nos anos 1970 para quase 40% hoje em dia, com tendência ao crescimento. Estamos no mato sem cachorro agora: o gênio saiu da garrafa e não conseguimos engarrafá-lo outra vez”. 

I recognize that you do have a great challenge on this: é praticamente impossível fazer o Estado retroceder uma vez que você alimentou o monstro. Mas, não percam as esperanças. Vejam o caso da Irlanda, certamente o melhor exemplo atual de mudanças estruturais, elevação dos padrões de vida e inserção internacional com base num modelo tributário de baixa imposição sobre os lucros e o trabalho e grande apoio à educação”. 

“Sim, eu conheço o sucesso irlandês: quando eu era embaixador em Londres, eles tinham justo entrado na então Comunidade Européia, com uma renda per capita que era menos da metade da renda comunitária e muitos analfabetos na população ativa. Hoje eles ultrapassaram a renda da UE e estão começando a sentir o ‘desconforto da riqueza’. É um exemplo ainda melhor do que a China, que só é mais conhecido porque ela é grande e incomoda muita gente. Mas a Irlanda é certamente o exemplo a ser seguido”. 

That’s it, Bob, nem tudo está perdido. Vocês só precisam convencer as pessoas, o common people, de que este é o caminho a ser seguido. Aliás, basta olhar ali ao lado, e ver o exemplo do Chile. Como é que você não percebem isso, no Brasil?”

“Well, Milton, os melhores economistas dizem que o Chile não é exemplo para o Brasil: uma economia muito pequena e pouco diversificada, com uma inserção limitada às suas vantagens ricardianas, que estão nos produtos primários e recursos naturais.” 

My God, Bob, quando é que os seus economistas vão se dar conta de que não é o tamanho da economia que conta e sim a qualidade das políticas macroeconômicas? Não posso acreditar que continuem repetindo bobagens como essa, inaceitáveis em qualquer primeiranista de economia! Não importa o tamanho do país ou suas vantagens relativas e sim a forma como ele organiza o seu sistema produtivo para tirar o melhor proveito possível das capacidades dadas e das adquiridas, com base em políticas corretas, que estimulem a competição e a inovação.”

“Eu sei disso, Milton, mas essas verdades simples não entram na cabeça dos meus conterrâneos, mesmo na de alguns economistas respeitados...”  

“Repita comigo, Bob, algumas verdades simples, que funcionam em qualquer tipo de economia. O segredo para o crescimento sustentado e o desenvolvimento social é uma boa combinação de quatro elementos essenciais: macroeconomia estável, microeconomia competitiva, alta qualidade dos recursos humanos e inserção nos fluxos dinâmicos de comércio e investimentos. Isso não tem nada a ver com economia keynesiana, austríaca, liberal ou neoliberal. É uma diferença entre boa e má economia. As simple as that!”

You are right, Milton. Só podemos esperar que nossos cidadãos se convençam dessas constatações tão óbvias. Let’s keep trying, now from above...”

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 20 de novembro de 2006

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Os 5 maiores economistas do século XX e os 3 melhores brasileiros - Adolfo Sachsida (Gazeta do Povo)

Eu teria colocado Eugênio Gudin entre os três maiores brasileiros, e também Mário Henrique Simonsen, junto com Scheinkman.

História econômica

Os 5 maiores economistas do século XX e os 3 melhores brasileiros

Por Adolfo Sachsida

Gazeta do Povo, 01/09/2023

 

"Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.” (Isaac Newton)

 

Como qualquer ranking, este também tem o seu viés. No meu caso, escolhi os 5 maiores economistas que embutem um mix de contribuições teóricas e participação no debate público, seja deles mesmos ou de suas ideias. Assim, economistas de extrema sofisticação teórica, como Debreu ou Arrow, acabaram ficando de fora de minha lista. De maneira semelhante, economistas com amplo espaço no debate público, mas sem contribuições teóricas, tampouco aparecem em minha lista. Por óbvio, a lista expressa minha opinião e a influência que recebi desses economistas ou de suas ideias. Talvez no passado eu tivesse montado uma lista diferente, mas hoje, após minha passagem por dois cargos na alta esfera de administração pública federal (Ministro de Minas e Energia, e Secretário de Política Econômica), percebi com mais clareza a importância de narrativas, exposição pública e de ideias que despertem o debate junto ao grande público e possam ser implementadas de maneira mais concreta em políticas econômicas críveis e que levem ao crescimento e desenvolvimento econômico sustentável.

 

Os 5 grandes economistas do século XX:


5) Ronald Coase: Sua maior contribuição foi mostrar a importância do estabelecimento de direitos de propriedade para a resolução de problemas econômicos complexos. Esta é uma regra que todo formulador de políticas públicas deve ter em mente: estabelecer corretamente os direitos de propriedade é a solução para uma vasta gama de problemas relacionados a falhas de mercado. Favelas, invasão de terras, poluição, são alguns dos problemas que afligem a sociedade e que podem ser resolvidos via estabelecimento de direitos de propriedade. Coase neles!

 

 

4) Gary Becker: É o responsável pela aplicação do instrumental econômico a um amplo conjunto de problemas sociais. Becker expandiu a ciência econômica, seu instrumental analítico, forma de racionalizar os problemas e suas soluções, para todas as ciências sociais. A ideia de usar o instrumental econômico para resolver problemas relacionados a criminalidade, educação, interação social, entre outros, faz de Becker um dos grandes economistas do século passado.

 

3) Milton Friedman: Foi talvez o maior porta voz da importância de uma economia de livre mercado como o caminho para o crescimento e desenvolvimento econômico. Sempre presente no grande debate público, Friedman cobrava coerência de seus colegas que adoravam liberdade na academia, mas por vezes apoiavam medidas restritivas de liberdade na sociedade. Do ponto de vista teórico, entre outras contribuições, Friedman relacionava a inflação à expansão de moeda. Em outras palavras, para Friedman a expansão de moeda era a maior responsável pela inflação. Lição valiosa para o debate público atual. Friedman também é conhecido por seus alertas aos efeitos não-intencionais das intervenções governamentais na economia. Costumava dizer que as políticas públicas devem ser julgadas por seus efeitos, e não por suas intenções. Perfeito!

 

2) Robert Lucas Jr: É o grande nome da macroeconomia moderna. Seu empenho em elaborar os fundamentos microeconômicos da macroeconomia mudaram para sempre o estudo da macroeconomia. Lucas cobrava que os modelos macroeconômicos tivessem sólida base microeconômica. Além disso, Lucas popularizou o uso nos modelos econômicos da ideia de expectativas racionais (que já existia desde Muth, mas sem a devida atenção). Lucas também mostrou a importância de se ajustarem os modelos econométricos na presença de quebras estruturais, a famosa “Crítica de Lucas”. É difícil falar de macroeconomia moderna sem falar de Lucas. A rigor, é bem provável que Lucas seja um dos economistas mais citados em qualquer lista dos maiores economistas do século XX.

 

1) Friederich von Hayek: Gênio. Contribuições importantes nas áreas de direito, filosofia, história das ideias, além, é claro, de ter sido, em minha opinião, o maior economista do século XX. Seu artigo clássico “The Use of Knowledge in Society” (publicado na American Economic Review em 1945) é até hoje um dos estudos mais influentes no pensamento econômico. Hayek argumentava sobre a importância do mecanismo de preços para estabelecer a correta alocação dos recursos na economia. Além disso, políticas que mascarassem o mecanismo de preços – tal como o famoso congelamento de preços praticado amplamente no Brasil na segunda metade da década de 1980 – levariam inevitavelmente a um problema de escassez e terminariam reduzindo o bem-estar da sociedade. BINGO! Grande defensor do livre mercado, Hayek advogava também pelo uso de moedas privadas, tema em moda hoje em dia. Hayek também tem importantes contribuições sobre a teoria do ciclo econômico. Para ele o governo costumava ser o responsável por parte dos ciclos econômicos ao inflar artificialmente o canal de crédito na economia. Explicação essa que me parece ser um dos pilares da crise de 2015-16 (juntamente com o aumento expressivo do gasto público que antecedeu a crise). Hayek também escreveu o melhor livro de economia que já li: “O Caminho da Servidão” (livro de cabeceira de Margareth Thatcher).

 

Os economistas brasileiros

E os brasileiros? O artigo já está grande, mas achei importante ressaltar quem foram, em minha opinião, os três maiores economistas brasileiros do século XX:

 

Aloisio Pessoa de Araujo

José Scheinkman

Carlos Geraldo Langoni

Tive o prazer de trabalhar tanto com o professor Aloisio Araujo quanto com o professor Langoni. Fica aqui registrada minha admiração e agradecimento.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/adolfo-sachsida/os-5-maiores-economistas-do-seculo-xx-e-os-3-melhores-brasileiros/

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domingo, 30 de abril de 2023

Capitalismo e democracia no Brasil: releitura de um clássico - Paulo Roberto de Almeida

 Capitalismo e democracia no Brasil: releitura de um clássico 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Esquema para possível livro dentro da série de “clássicos revisitados”.

  

 

No contexto da minha série dos “clássicos revisitados” – iniciada com o Manifesto Comunista, continuada por meio de um reaproveitamento das obras de Maquiavel, Tocqueville, Sun Tzu, Benjamim Constant e alguns outros –, pensei em retomar as lições básicas de Milton Friedman, em seu famoso livro de 1962 (reeditado em 1982, 2002 e 2020), e aplicar seus argumentos ao caso brasileiro, com as devidas adaptações e considerações específicas ao nosso itinerário histórico. O esquema, reproduzindo em grande medida o índice original, poderia ser este:

 

Prefácio 

1. A difícil conexão entre liberdade política e liberdade econômica no Brasil

2. O peso do Estado em uma sociedade parcialmente livre

3. Moeda e finanças num ambiente altamente volátil

4. Acordos financeiros e comerciais internacionais: a longa dependência

5. As contas públicas: raramente em equilíbrio

6. O papel insuficiente do Estado na educação

7. A persistência do escravismo e do corporativismo 

8. Monopólios, carteis e o sindicalismo tutelado pelo Estado

9. O cartorialismo regulatório ultra exacerbado 

10. A não distribuição de renda: uma tendência persistente ao longo da história

11. Políticas de bem-estar social: entre o foco e a abrangência

12. Redução da pobreza: uma tarefa nunca completada

13. Conclusão: o que nos separa de uma sociedade desenvolvida?

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4379: 30 abril 2023, 1 p.


terça-feira, 11 de junho de 2019

Paulo Guedes, Milton Friedman e a ditadura de Pinochet no Chile: a história deformada - Paulo Roberto de Almeida

Pela enésima vez, em conexão com os estudos de Paulo Guedes na Universidade de Chicago, e em função também de seu estágio no Chile de Pinochet, supostamente influenciado pelos "Chicago boys", que teriam "ajudado" a ditadura Pinochet a "esmagar os direitos dos trabalhadores", volto a ouvir a cantilena de esquerdistas idiotas – o que é normal, digamos assim –, mas também de jornalistas mal informados, de que Milton Friedman e a Escola Econômica de Chicago teriam colaborado ativamente com a ditadura chilena no esmagamento dos direitos sociais e na implantação da horrível economia neoliberal.
Como já escrevi sobre isso, corrigindo os erros mais perversos, volto a postar novamente um texto de 2010, quando a história circulava mais uma vez...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de junho de 2019


Shanghai, terça-feira, 21 de setembro de 2010

Pela enésima vez, alguém me traz a questão dos eventuais "vínculos" entre Friedman e Pinochet. Sempre leio escrito, em algum pasquim ordinário, que o mais famoso economista da Universidade de Chicago teria sido um apoiador intelectual, um dos suportes econômicos e políticos da ditadura de Pinochet, um dos mais bárbaros ditadores militares já conhecidos na história da América Latina, e certamente na história do Chile.
Pinochet foi, sim, o responsável por uma repressão sangrenta, e disso não deve caber a menor dúvida. Tudo isso num quadro de exacerbação das lutas políticas no Chile como raramente se viu na história daquele país. Já passou e a esquerda chilena também aprendeu, embora a um preço terrível.

Voltemos porém a Friedman: os boatos sobre suas ligações ou apoio à ditadura de Pinochet são a coisa mais sórdida que já vi na história das mistificações políticas fabricadas por certos comentaristas políticos sem nenhum caráter. 
Friedman não tem nada a ver com a ditadura, nunca endossou ditaduras, jamais seria a favor de um ditador assassino como Pinochet, ou seja, ele não tem nada a ver, absolutamente, com o processo político chileno. 
Todas essas alegações são divulgadas por pessoas de má fé, que não tem nada de mais inteligente a dizer sobre sua contribuição econômica -- que elas são incapazes de apreciar, e sequer de compreender -- e ficam se referindo, de modo fantástico, errado, mentiroso, a essa suposta ligação dele com a ditadura chilena.

A história é muito simples.
Depois de várias tentativas da equipe de Pinochet, a inflação não baixava, justamente, pois que ditadores trogloditas como Pinochet acreditavam que podiam comandar a economia como se comandam soldados, com ordens executivas e controles disciplinares.
Nada deu certo nos primeiros meses e anos da ditadura.
Alguns ex-alunos da universidade de Chicago chamaram Friedman para dar algumas palestras no Chile, na Universidade Católica, se bem me lembro, e ele foi. Deu suas palestras, como faria para qualquer auditório, em qualquer país, sempre recomendando suas receitas habituais: liberdade de preços, de iniciativa, afastamento da mão pesada do Estado dos negócios econômicos etc.
Não sei exatamente quem sugeriu ao general recebê-lo, dado o prestígio do monetarista (um título do qual ele não se envergonhava, certamente). O general o chamou, ele aceitou conversar, e esteve apenas uma única vez com Pinochet, recomendando exatamente as mesmas coisas que proferiu em suas palestras: liberdade econômica, abertura ao comércio e aos investimentos estrangeiros, enfim tudo muito simples e democrático, como ele sempre fez com qualquer auditório, para qualquer interlocutor, inclusive para o presidente Reagan (que seguiu seu conselho de desmantelar os controles ainda existentes na economia americana). Apenas isso, nada mais: uma conversa entre um economista sem qualquer poder, a não ser o das ideias, e um general, troglodita, que aparentemente não confiava nada em acadêmicos e professores em geral.
Friedman saiu do gabinete de Pinochet certo de que o general não tinha sido convencido por suas ideias, por suas palavras.
De fato demorou um bocado, até que o Chile conseguiu, finalmente, encontrar o caminho da estabilidade e do crescimento. Foi preciso uma crise séria no final dos anos 70 ou início dos 80, atingindo o sistema bancário, para que a economia chilena realmente enveredasse pelo caminho da liberalização mais completa.
Desde então ela se mantém, mais ou menos, segundo as linhas traçadas por Milton Friedman.
Enfim, espero ter ficado claro que Friedman não teve nada a ver com a ditadura chilena, nem com as barbaridades pinochetistas. Ele tampouco pode ser creditado pelo sucesso do "modelo" chileno. Ele se limitou a proferir palestras. 
Quem tomou as decisões, baseadas ou não em suas ideias -- e presumo que muitas o foram -- foram os próprios chilenos, administradores, políticos, economistas do governo, acadêmicos, em suma, grande parte dos chilenos achou que valia pena enveredar por outro caminho que não o do dirigismo econômico, o do protecionismo comercial, enfim, o cepalianismo e o prebischianismo tradicionais na América Latina.

Nenhum "denegridor" de Friedman, ou de Pinochet, poderá recusar o fato de que o Chile foi o país que mais cresceu na AL, desde o início dos anos 1990. 
Nenhum "economista" anti-monetarista, anti-Friedman poderá negar o fato de que o Chile é um país liberal, ou neoliberal, se quiserem, que ele é aberto, tem baixa proteção, tem mais acordos de livre-comércio do que qualquer outro país, de que eles recusam o dirigismo econômico e as soluções "socialistas".
Tudo isso não é matéria de opinião. São fatos.

Quem quiser contestar as ideias econômicas de Milton Friedman é livre para fazê-lo. Preferivelmente de modo inteligente.
Quem quiser apenas denegrir Friedman, com acusações mentirosas, é gentilmente "desconvidado" a se expressar neste blog.

Paulo Roberto de Almeida 
(Shanghai, 22.09.2010)

domingo, 21 de agosto de 2016

How economic ideas change the world: Keynes, Hayek, Friedman, and Reagan - Rutger Bregman (Evonomics)


As ideias sempre mudam o mundo, ainda que mais tarde do que se pensa, ou do que se gostaria. Mas, existem também aqueles que possuem ideias fixas, e são caraterizados por alguma forma de dissonância cognitiva -- como Madame Pasadena, por exemplo -- que não se apartam dessas ideias fixas mesmo que o mundo lhes caia sobre a cabeça. Como diz o autor deste interessante artigo:
"“A man with a conviction is a hard man to change.” So opens Leon Festinger’s account of these events in When Prophecy Fails, first published in 1956 and a seminal text in social psychology to this day. “Tell him you disagree and he turns away,” Festinger continues. “Show him facts or figures and he questions your sources. Appeal to logic and he fails to see your point.”
Pois é, alguns companheiros respondem inteiramente a esta definição.
Mas, o artigo trata basicamente de ideias econômicas, e por isso vale a pena ler.
Paulo Roberto de Almeida 


Capitalism

Ideas, However Outrageous, Have Changed the World, and They Will Again.

How economic ideas change the world: Keynes, Hayek, Friedman, and Reagan

By Rutger Bregman
Evonomics, August 20, 2016
In the late summer of 1954, a brilliant young psychologist was reading the newspaper when his eye fell on a strange headline on the back page:
PROPHESY FROM PLANET CLARION
CALL TO CITY: FLEE THAT FLOOD.
IT’LL SWAMP US ON DEC 21,
OUTER SPACE TELLS SUBURBANITE.
His interest piqued, the psychologist, whose name was Leon Festinger, read on. “Lake City will be destroyed by a flood from the great lake just before dawn, Dec. 21.” The message came from a homemaker in a Chicago suburb who had received it, she reported, from superior beings on another planet: “These beings have been visiting the earth, she says, in what we call flying saucers.”
It was precisely what Festinger had been waiting for. This was a chance to investigate a simple but thorny question that he had been puzzling over for years: What happens when people experience a severe crisis in their convictions? How would this homemaker respond when no flying saucers came to rescue her? What happens when the great flood doesn’t materialize?
With a little digging, Festinger discovered that the woman, one Dorothy Martin, wasn’t the only one convinced that the world was ending on December 21, 1954. Around a dozen of her followers — all intelligent, upstanding Americans — had quit their jobs, sold their possessions, or left their spouses on the strength of their conviction.
Festinger decided to infiltrate the Chicago sect. Right off, he noticed that its members made little effort to persuade other people that the end was near. Salvation was reserved for them, the chosen few. On the morning of December 20, 1954, Mrs. Martin was beamed a new message from above: “At the hour of midnight you shall be put into parked cars and taken to a place where ye shall be put aboard a porch [flying saucer].”
The excited group settled in to await their ascendency to the heavens.
The Evening of December 20, 1954
11:15 p.m.: Mrs. Martin receives a message telling the group to put on their coats and prepare.
12:00 a.m.: Nothing happens.
12:05 a.m.: One of the believers notices another clock in the room reads 11:55 p.m. The group agrees it is not yet midnight.
12:10 a.m.: Message from aliens: The flying saucers are delayed.
12:15 a.m.: The telephone rings several times: journalists calling to check if the world has ended yet.
2:00 a.m.: One of the younger followers, who expected to be a couple light years away by now, recalls that his mother was planning to call the police if he wasn’t home by 2 a.m. The others assure him that his departure is a worthy sacrifice to save the group, and he leaves.
4:00 a.m.: One of the believers says: “I’ve burned every bridge. I’ve turned my back on the world. I can’t afford to doubt. I have to believe.”
4:45 a.m.: Mrs. Martin gets another message: God has decided to spare the Earth. Together, the small group of believers has spread so much “light” on this night that the Earth is saved.
4:50 a.m.: One last message from above: The aliens want the good news “to be released immediately to the newspapers.” Armed with this new mission, the believers inform all the local papers and radio stations before daybreak.
When Prophecies Fail
“A man with a conviction is a hard man to change.” So opens Leon Festinger’s account of these events in When Prophecy Fails, first published in 1956 and a seminal text in social psychology to this day. “Tell him you disagree and he turns away,” Festinger continues. “Show him facts or figures and he questions your sources. Appeal to logic and he fails to see your point.”
It’s easy to scoff at the story of Mrs. Martin and her believers, but the phenomenon Festinger describes is one that none of us are immune to. “Cognitive dissonance,” he coined it. When reality clashes with our deepest convictions, we’d rather recalibrate reality than amend our worldview. Not only that, we become even more rigid in our beliefs than before.
Mind you, we tend to be quite flexible when it comes to practical matters. Most of us are willing to accept advice on how to remove a grease stain or chop a cucumber. No, it’s when our political, ideological, or religious ideas are at stake that we get the most stubborn. We tend to dig in our heels when someone challenges our opinions about criminal punishment, premarital sex, or global warming. These are ideas to which people tend to get attached, and that makes it difficult to let them go. Doing so affects our sense of identity and position in social groups — in our churches or families or circles of friends.
One factor that certainly is not involved is stupidity. Researchers at Yale University have shown that educated people are more unshakable in their convictions than anybody. After all, an education gives you tools to defend your opinions. Intelligent people are highly practiced in finding arguments, experts, and studies that underpin their preexisting beliefs, and the Internet has made it easier than ever to be consumers of our own opinions, with an- other piece of evidence always just a mouse-click away.
Smart people, concludes the American journalist Ezra Klein, don’t use their intellect to obtain the correct answer; they use it to obtain what they want to be the answer.
When My Clock Struck Midnight
I have something to confess. In the course of writing my defense of a 15-hour workweek, I stumbled across an article titled “Shorter Workweek May Not Increase Well- Being.” It was a piece in The New York Times about a South Korean study which claimed that a 10% shorter workweek had not made employees happier. Additional Googling led me to an article in The Telegraph which suggested that working less might be downright bad for our health.
Suddenly I was Dorothy Martin and my clock had struck midnight. Immediately, I mobilized my defense mechanisms. To begin with, I had my doubts about the source: The Telegraph is a somewhat populist newspaper, so how seriously should I take that article? Plus, there was that “may” in The New York Times headline. How conclusive were the study findings really? Even my stereotypes kicked in: Those South Koreans, they’re such workaholics — they probably kept working off the clock even when they reported fewer hours. Moreover, happiness? How exactly do you measure that?
Satisfied, I pushed the study aside. I’d convinced myself it couldn’t be relevant.
I’ll give you another example. I have elsewhere laid out the arguments in favor of universal basic income. This is a conviction in which I have invested a lot over the past few years. The first article I wrote on the topic garnered nearly a million views and was picked up by The Washington Post. I gave lectures about universal basic income and made a case for it on Dutch television. Enthusiastic emails poured in. Not long ago, I even heard someone refer to me as “Mr. Basic Income.” Slowly but surely, my opinion has come to define my personal and professional identity. I do earnestly believe that a universal basic income is an idea whose time has come. I’ve researched the issue extensively, and that’s the direction the evidence points.
But, if I’m being honest, I sometimes wonder if I’d even let myself notice if the evidence were pointing another way. Would I be observant enough — or brave enough — to have a change of heart?
The Power of an Idea
“Keep building your castles in the sky,” a friend quipped a while back after I sent him a couple of my articles. I could understand where he was coming from. After all, what’s the point of crazy new ideas when politicians can’t even manage to balance a budget?
That’s when I began to ask myself whether new ideas can genuinely change the world.
Now, your (very reasonable) gut response might be: They can’t – people will stubbornly stick to the old ideas that they’re comfortable with. The thing is, we know that ideas have changed over time. Yesterday’s avant-garde is today’s common sense. The question is not can new ideas defeat old ones; the question is how.
Research suggests that sudden shocks can work wonders. James Kuklinski, a political scientist at the University of Illinois, discovered that people are most likely to change their opinions if you confront them with new and disagreeable facts as directly as possible. Take the recent success of right-wing politicians who were already warning of “the Islamic threat” back in the 1990s, but didn’t get much attention until the shocking destruction of the Twin Towers on September 11, 2001. Viewpoints that had once been fringe suddenly became a collective obsession.
If it is true that that ideas don’t change things gradually but in fits and starts — in shocks — then the basic premise of our democracy, our journalism, and our education is all wrong. It would mean, in essence, that the Enlightenment model of how people change their opinions — through information-gathering and reasoned deliberation — is really a buttress for the status quo. It would mean that those who swear by rationality, nuance, and compromise fail to grasp how ideas govern the world. A worldview is not a Lego set where a block is added here, removed there. It’s a fortress that is defended tooth and nail, with all possible reinforcements, until the pressure becomes so overpowering that the walls cave in.
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Over the same months that Leon Festinger was infiltrating Mrs. Martin’s sect, the American psychologist Solomon Asch demonstrated that group pressure can even cause us to ignore what we can plainly see with our own eyes. In a now-famous experiment, he showed test subjects three lines on a card and asked them which one was longest. When the other people in the room (all Asch’s coworkers, unbeknownst to the subject) gave the same answer, the subject did, too — even when it was clearly erroneous.
It’s no different in politics. Political scientists have established that how people vote is determined less by their perceptions about their own lives than by their conceptions of society. We’re not particularly interested in what government can do for us personally; we want to know what it can do for us all. When we cast our vote, we do so not just for ourselves, but for the group we want to belong to.
But Solomon Asch made another discovery. A single opposing voice can make all the difference. When just one other person in the group stuck to the truth, the test subjects were more likely to trust the evidence of their own senses. Let this be an encouragement to all those who feel like a lone voice crying out in the wilderness: Keep on building those castles in the sky. Your time will come.
Long Was the Night
In 2008, it seemed as if that time had finally come when we were confronted with the biggest case of cognitive dissonance since the 1930s.
On September 15, the investment bank Lehman Brothers filed for bankruptcy. Suddenly, the whole global banking sector seemed poised to tumble like a row of dominoes. In the months that followed, one free market dogma after another crashed and burned.
Former Federal Reserve Chair Alan Greenspan, once dubbed the “Oracle” and the “Maestro,” was gobsmacked. “Not only have individual financial institutions become less vulnerable to shocks from underlying risk factors,”he had confidently asserted in 2004, “but also the financial system as a whole has become more resilient.” When Greenspan retired in 2006, everyone assumed he would be immortalized in history’s financial hall of fame.
In a House Committee hearing two years later, the broken banker admitted that he was “in a state of shocked disbelief.” Greenspan’s faith in capitalism had taken a severe beating. “I have found a flaw. I don’t know how significant or permanent it is. But I have been very distressed by that fact.” When a congressman asked him if he had been misled by his own ideas, Greenspan replied, “That’s precisely the reason I was shocked because I’d been going for 40 years or so with considerable evidence that it was working exceptionally well.”
The lesson of December 21, 1954, is that everything centers on that one moment of crisis. When the clock strikes midnight, what happens next? A crisis can provide an opening for new ideas, but it can also shore up old convictions.
So what happened after September 15, 2008? The Occupy movement briefly galvanized people, but quickly ebbed. Meanwhile, left-leaning political parties lost elections across most of Europe. Greece and Italy more or less canned democracy altogether and rolled out neoliberal-tinted reforms to please their creditors, trimming government and boosting labor market flexibility. In northern Europe, too, governments proclaimed a new age of austerity.
And Alan Greenspan? When, a few years later, a reporter asked him if there had been any error in his ideas, his reply was resolute: “Not at all. I think that there is no alternative.”
Fast forward to today: Fundamental reform of the banking sector has yet to happen. On Wall Street, bankers are seeing the highest bonus payments since the crash. And the banks’ capital buffers are as minuscule as ever. Joris Luyendijk, a journalist at The Guardian who spent two years looking under the hood of London’s financial sector, summed up the experience in 2013 as follows: “It’s like standing at Chernobyl and seeing they’ve restarted the reactor but still have the same old management.”
You have to wonder: Was the cognitive dissonance from 2008 even big enough? Or was it too big? Had we invested too much in our old convictions? Or were there simply no alternatives?
This last possibility is the most worrying of all.
The word “crisis” comes from ancient Greek and literally means to “separate” or “sieve.” A crisis, then, should be a moment of truth, the juncture at which a fundamental choice is made. But it almost seems that back in 2008 we were unable to make that choice. When we suddenly found ourselves facing the collapse of the entire banking sector, there were no real alternatives available; all we could do was keep plodding down the same path.
Perhaps, then, crisis isn’t really the right word for our current condition. It’s more like we’re in a coma. That’s ancient Greek, too. It means “deep, dreamless sleep.”
Capitalist Resistance Fighters
It’s all deeply ironic, if you think about it.
If there were ever two people who dedicated their lives to building castles in the sky with preternatural certainty that they would someday be proven right, it was the founders of neoliberal thought. I’m an admirer of them both: the slippery philosopher Friedrich Hayek and the public intellectual Milton Friedman.
Nowadays, “neoliberal” is a put-down leveled at anybody who doesn’t agree with the left. Hayek and Friedman, however, were proud neoliberals who saw it as their duty to reinvent liberalism. “We must make the building of a free society once more an intellectual adventure,” Hayek wrote. “What we lack is a liberal Utopia.”
Even if you believe them to be villains who made greed fashionable and are to blame for the financial crisis that left millions of people in dire straits — even then, there’s a lot you can learn from Friedrich Hayek and Milton Friedman.
One was born in Vienna, the other in New York. Both were firm believers in the power of ideas. For many years, both belonged to a small minority, a sect almost, that existed outside the cocoon of mainstream thought. Together, they tore apart that cocoon, upending the world in a way dictators and billionaires can only dream of. They set about shredding the life’s work of their archrival, the British economist John Maynard Keynes. Seemingly the only thing they had in common with Keynes was the belief that the ideas of economists and philosophers are stronger forces than the vested interests of business leaders and politicians.
This particular story begins on April 1, 1947, not quite a year after Keynes’ death, when 40 philosophers, historians, and economists converged in the small village of Mont Pèlerin in Switzerland. Some had traveled for weeks, crossing oceans to get there. In later years, they would be known as the Mont Pèlerin Society.
All 40 thinkers who came to this Swiss village were encouraged to speak their minds, and together they formed a corps of capitalist resistance fighters against socialist supremacy. “There are, of course, very few people left today who are not socialists,” Hayek, the event’s initiator, had once lamented. At a time when the provisions of the New Deal had pushed even the United States toward more socialistic policies, a defense of the free market was still seen as downright revolutionary, and Hayek felt “hopelessly out of tune with his time.”
Milton Friedman was also at the meeting of minds. “Here I was, a young, naive provincial American,” Friedman later recalled, “meeting people from all over the world, all dedicated to the same liberal principles as we were; all beleaguered in their own countries, yet among them scholars, some already internationally famous, others destined to be.” In fact, no fewer than eight members of the Mont Pèlerin Society would go on to win Nobel Prizes.
However, in 1947 no one could have predicted such a star-studded future. Large swaths of Europe lay in ruins. Reconstruction efforts were colored by Keynesian ideals: employment for all, curbing the free market, and regulation of banks. The war state became the welfare state. Yet it was during those same years that neoliberal thought began gaining traction thanks to the efforts of the Mont Pèlerin Society, a group that would go on to become one of the leading think tanks of the 20th century. “Together, they helped precipitate a global policy transformation with implications that will continue to reverberate for decades,” says the historian Angus Burgin.
In the 1970s, Hayek handed the presidency of the Society over to Friedman. Under the leadership of this diminutive, bespectacled American whose energy and enthusiasm surpassed even that of his Austrian predecessor, the society radicalized. Essentially, there wasn’t a problem around that Friedman didn’t blame on government. And the solution, in every case, was the free market. Unemployment? Get rid of the minimum wage. Natural disaster? Get corporations to organize a relief effort. Poor schools? Privatize education. Expensive healthcare? Privatize that, too, and ditch public oversight while we’re at it. Substance abuse? Legalize drugs and let the market work its magic.
Friedman deployed every means possible to spread his ideas, building a repertoire of lectures, op-eds, radio interviews, TV appearances, books, and even a documentary. In the preface to his bestselling Capitalism and Freedom, he wrote that it is the duty of thinkers to keep offering alternatives. Ideas that seem “politically impossible” today may one day become “politically inevitable.”
All that remained was to await the critical moment. “Only a crisis — actual or perceived — produces real change,” Friedman explained. “When that crisis occurs, the actions that are taken depend on the ideas that are lying around.” The crisis came in October 1973, when the Organization of Arab Petroleum Exporting Countries imposed an oil embargo. Inflation went through the roof and the economy spiraled into recession. “Stagflation,” as this effect was called, wasn’t even possible in Keynesian theory. Friedman, however, had predicted it.
For the rest of his life, Friedman never stopped emphasizing that his success would have been inconceivable without the groundwork laid since 1947. The rise of neoliberalism played out like a relay race, with think tanks passing the baton to journalists, who handed it off to politicians. Running the anchor leg were two of the most powerful leaders in the Western world, Ronald Reagan and Margaret Thatcher. When asked what she considered to be her greatest victory, Thatcher’s reply was “New Labour”: Under the leadership of neoliberal Tony Blair, even her social democratic rivals in the Labour Party had come around to her worldview.
In less than 50 years, an idea once dismissed as radical and marginal had come to rule the world.
The Lesson of Neoliberalism
Some argue that these days, it hardly matters anymore who you vote for. Though we still have a right and a left, neither side seems to have a very clear plan for the future. In an ironic twist of fate, the neoliberalist brainchild of two men who devoutly believed in the power of ideas has now put a lockdown on the development of new ones. It would seem that we have arrived at “the end of history,” with liberal democracy as the last stop and the “free consumer” as the terminus of our species.
By the time Friedman was named president of the Mont Pèlerin Society in 1970, most of its philosophers and historians had already decamped, the debates having become overly technical and economic. In hindsight, Friedman’s arrival marked the dawn of an era in which economists would become the leading thinkers of the Western world. We are still in that era today.
We inhabit a world of managers and technocrats. “Let’s just concentrate on solving the problems,” they say. “Let’s just focus on making ends meet.” Political decisions are continually presented as a matter of exigency — as neutral and objective events, as though there were no other choice. Keynes observed this tendency emerging even in his own day. “Practical men, who believe themselves to be quite exempt from any intellectual influences,” he wrote, “are usually the slaves of some defunct economist.”
When Lehman Brothers collapsed on September 15, 2008, and inaugurated the biggest crisis since the 1930s, there were no real alternatives to hand. No one had laid the groundwork. For years, intellectuals, journalists, and politicians had all firmly maintained that we’d reached the end of the age of “big narratives” and that it was time to trade in ideologies for pragmatism.
Naturally, we should still take pride in the liberty that generations before us fought for and won. But the question is, what is the value of free speech when we no longer have anything worthwhile to say? What’s the point of freedom of association when we no longer feel any sense of affiliation? What purpose does freedom of religion serve when we no longer believe in anything?
On the one hand, the world is still getting richer, safer, and healthier. That’s a huge triumph. On the other hand, it’s high time that we stake out a new utopia. Let’s rehoist the sails. “Progress is the realisation of Utopias,” Oscar Wilde wrote many years ago. A 15-hour workweek, universal basic income, and a world without borders… They’re all crazy dreams — but for how much longer?
People now doubt that “human ideas and beliefs are the main movers of history,” as Hayek argued back when neoliberalism was still in its infancy. “We all find it so difficult to imagine that our belief [sic] might be different from what they in fact are.” It could easily take a generation, he asserted, before new ideas prevail. For this very reason, we need thinkers who not only are patient, but also have “the courage to be ‘utopian.’”
Let this be the lesson of Mont Pèlerin. Let this be the mantra of everyone who dreams of a better world, so that we don’t once again hear the clock strike midnight and find ourselves just sitting around, empty-handed, waiting for an extraterrestrial salvation that will never come.
Ideas, however outrageous, have changed the world, and they will again. “Indeed,” wrote Keynes, “the world is ruled by little else.”
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2016 July 15