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sábado, 15 de julho de 2023

Book review: The Chile Project: The Story of the Chicago Boys and the Downfall of Neoliberalism, Sebastian Edwards - Richard Feinberg (Foreign Affairs)

Seria preciso especificar que o neoliberalismo da ditadura chilena só interveio depois de uma primeira fase de políticas autoritárias e dirigistas pelo próprio general Pinochet, um monstro humano e um ignorante em economia.


The Chile Project: The Story of the Chicago Boys and the Downfall of Neoliberalism

By Sebastian Edwards
Princeton University Press, 2023, 376 pp.
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At the height of the Cold War, the far-right economics department of the University of Chicago, with the support of the U.S. government, recruited students from then democratic Chile. When General Augusto Pinochet seized power in 1973, he hired these “Chicago boys” to apply their extreme free-market fundamentalism to the Chilean economy. Remarkably, the left-of-center democratic governments that succeeded Pinochet’s regime after 1990 maintained many of those market-friendly prescriptions. Edwards, a Chilean-born economist with a Ph.D. from the University of Chicago, narrates a fascinating insider intellectual history of the policies and personalities behind Chile’s economic development in recent decades. But he struggles to explain the unanticipated popular uprising in 2019 against this doctrinal “neoliberalism” with which he largely sympathizes. Although the economic model had generated strong growth, reduced extreme poverty, and expanded the middle class, Edwards now finds that many policymakers neglected stark, persistent inequalities; corporate collusion had eroded free-market competition; and public policy may have gone too far in interjecting market competition into education, health care, and retirement pensions. Looking forward, Edwards suggests that Chile may yet find a more sustainable middle road as a European-style social democracy, with less spectacular economic growth but greater social cohesion.

From Amazon.com: 

How Chile became home to the world’s most radical free-market experiment―and what its downfall suggests about the fate of neoliberalism around the globe

In 
The Chile Project, Sebastian Edwards tells the remarkable story of how the neoliberal economic model―installed in Chile during the Pinochet dictatorship and deepened during three decades of left-of-center governments―came to an end in 2021, when Gabriel Boric, a young former student activist, was elected president, vowing that “If Chile was the cradle of neoliberalism, it will also be its grave.” More than a story about one Latin American country, The Chile Project is a behind-the-scenes history of the spread and consequences of the free-market thinking that dominated economic policymaking around the world in the second half of the twentieth century―but is now on the retreat.

In 1955, the U.S. State Department launched the “Chile Project” to train Chilean economists at the University of Chicago, home of the libertarian Milton Friedman. After General Augusto Pinochet overthrew socialist president Salvador Allende in 1973, Chile’s “Chicago Boys” implemented the purest neoliberal model in the world for the next seventeen years, undertaking a sweeping package of privatization and deregulation, creating a modern capitalist economy, and sparking talk of a “Chilean miracle.” But under the veneer of success, a profound dissatisfaction with the vast inequalities caused by neoliberalism was growing. In 2019, protests erupted throughout the country, and in 2022 Boric began his presidency with a clear mandate: to end 
neoliberalismo.

In telling the fascinating story of the Chicago Boys and Chile’s free-market revolution, 
The Chile Project provides an important new perspective on the history of neoliberalism and its global decline today.

terça-feira, 11 de junho de 2019

Paulo Guedes, Milton Friedman e a ditadura de Pinochet no Chile: a história deformada - Paulo Roberto de Almeida

Pela enésima vez, em conexão com os estudos de Paulo Guedes na Universidade de Chicago, e em função também de seu estágio no Chile de Pinochet, supostamente influenciado pelos "Chicago boys", que teriam "ajudado" a ditadura Pinochet a "esmagar os direitos dos trabalhadores", volto a ouvir a cantilena de esquerdistas idiotas – o que é normal, digamos assim –, mas também de jornalistas mal informados, de que Milton Friedman e a Escola Econômica de Chicago teriam colaborado ativamente com a ditadura chilena no esmagamento dos direitos sociais e na implantação da horrível economia neoliberal.
Como já escrevi sobre isso, corrigindo os erros mais perversos, volto a postar novamente um texto de 2010, quando a história circulava mais uma vez...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de junho de 2019


Shanghai, terça-feira, 21 de setembro de 2010

Pela enésima vez, alguém me traz a questão dos eventuais "vínculos" entre Friedman e Pinochet. Sempre leio escrito, em algum pasquim ordinário, que o mais famoso economista da Universidade de Chicago teria sido um apoiador intelectual, um dos suportes econômicos e políticos da ditadura de Pinochet, um dos mais bárbaros ditadores militares já conhecidos na história da América Latina, e certamente na história do Chile.
Pinochet foi, sim, o responsável por uma repressão sangrenta, e disso não deve caber a menor dúvida. Tudo isso num quadro de exacerbação das lutas políticas no Chile como raramente se viu na história daquele país. Já passou e a esquerda chilena também aprendeu, embora a um preço terrível.

Voltemos porém a Friedman: os boatos sobre suas ligações ou apoio à ditadura de Pinochet são a coisa mais sórdida que já vi na história das mistificações políticas fabricadas por certos comentaristas políticos sem nenhum caráter. 
Friedman não tem nada a ver com a ditadura, nunca endossou ditaduras, jamais seria a favor de um ditador assassino como Pinochet, ou seja, ele não tem nada a ver, absolutamente, com o processo político chileno. 
Todas essas alegações são divulgadas por pessoas de má fé, que não tem nada de mais inteligente a dizer sobre sua contribuição econômica -- que elas são incapazes de apreciar, e sequer de compreender -- e ficam se referindo, de modo fantástico, errado, mentiroso, a essa suposta ligação dele com a ditadura chilena.

A história é muito simples.
Depois de várias tentativas da equipe de Pinochet, a inflação não baixava, justamente, pois que ditadores trogloditas como Pinochet acreditavam que podiam comandar a economia como se comandam soldados, com ordens executivas e controles disciplinares.
Nada deu certo nos primeiros meses e anos da ditadura.
Alguns ex-alunos da universidade de Chicago chamaram Friedman para dar algumas palestras no Chile, na Universidade Católica, se bem me lembro, e ele foi. Deu suas palestras, como faria para qualquer auditório, em qualquer país, sempre recomendando suas receitas habituais: liberdade de preços, de iniciativa, afastamento da mão pesada do Estado dos negócios econômicos etc.
Não sei exatamente quem sugeriu ao general recebê-lo, dado o prestígio do monetarista (um título do qual ele não se envergonhava, certamente). O general o chamou, ele aceitou conversar, e esteve apenas uma única vez com Pinochet, recomendando exatamente as mesmas coisas que proferiu em suas palestras: liberdade econômica, abertura ao comércio e aos investimentos estrangeiros, enfim tudo muito simples e democrático, como ele sempre fez com qualquer auditório, para qualquer interlocutor, inclusive para o presidente Reagan (que seguiu seu conselho de desmantelar os controles ainda existentes na economia americana). Apenas isso, nada mais: uma conversa entre um economista sem qualquer poder, a não ser o das ideias, e um general, troglodita, que aparentemente não confiava nada em acadêmicos e professores em geral.
Friedman saiu do gabinete de Pinochet certo de que o general não tinha sido convencido por suas ideias, por suas palavras.
De fato demorou um bocado, até que o Chile conseguiu, finalmente, encontrar o caminho da estabilidade e do crescimento. Foi preciso uma crise séria no final dos anos 70 ou início dos 80, atingindo o sistema bancário, para que a economia chilena realmente enveredasse pelo caminho da liberalização mais completa.
Desde então ela se mantém, mais ou menos, segundo as linhas traçadas por Milton Friedman.
Enfim, espero ter ficado claro que Friedman não teve nada a ver com a ditadura chilena, nem com as barbaridades pinochetistas. Ele tampouco pode ser creditado pelo sucesso do "modelo" chileno. Ele se limitou a proferir palestras. 
Quem tomou as decisões, baseadas ou não em suas ideias -- e presumo que muitas o foram -- foram os próprios chilenos, administradores, políticos, economistas do governo, acadêmicos, em suma, grande parte dos chilenos achou que valia pena enveredar por outro caminho que não o do dirigismo econômico, o do protecionismo comercial, enfim, o cepalianismo e o prebischianismo tradicionais na América Latina.

Nenhum "denegridor" de Friedman, ou de Pinochet, poderá recusar o fato de que o Chile foi o país que mais cresceu na AL, desde o início dos anos 1990. 
Nenhum "economista" anti-monetarista, anti-Friedman poderá negar o fato de que o Chile é um país liberal, ou neoliberal, se quiserem, que ele é aberto, tem baixa proteção, tem mais acordos de livre-comércio do que qualquer outro país, de que eles recusam o dirigismo econômico e as soluções "socialistas".
Tudo isso não é matéria de opinião. São fatos.

Quem quiser contestar as ideias econômicas de Milton Friedman é livre para fazê-lo. Preferivelmente de modo inteligente.
Quem quiser apenas denegrir Friedman, com acusações mentirosas, é gentilmente "desconvidado" a se expressar neste blog.

Paulo Roberto de Almeida 
(Shanghai, 22.09.2010)