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terça-feira, 3 de junho de 2014

Prata da Casa - Boletim ADB: 2ro. trimestre 2014 - livros de diplomatas

Acabo de completar a série para o segundo trimestre do ano:

Prata da Casa
Boletim ADB: 2ro. trimestre 2014

Hartford, 3 Junho 2014, 3 p. 
Notas sobre os seguintes livros:

Guilherme Frazão Conduru:
O Museu Histórico e Diplomático do Itamaraty: história e revitalização
(Brasília: FUNAG, 2013, 370 p.; ISBN 978-85-7631-433-2; Coleção CAE)

             O diplomata e historiador Guilherme Conduru já tinha assinado uma bela dissertação sobre o Pacto ABC (original), iniciado pelo Barão, terminado por seu sucessor. Prosseguindo nos estudos históricos, ele aproveitou uma estada no escritório do velho palácio Itamaraty, no Rio, para preparar esta tese de CAE sobre o Museu Histórico e Diplomático, criado por um estadista, duas vezes ministro das relações exteriores e historiador diplomático, José Carlos de Macedo Soares. Criado por ele, em 1955, em sua segunda gestão, o MHD seria reinaugurado outras vezes, como resultado de revitalizações materiais, que também representam revisões mentais na história diplomática do Brasil. O livro é inédito em sua categoria, e não apenas sobre o MHD, como também sobre os museus históricos do Brasil de forma geral.

Fernando Guimarães Reis:
Por uma academia renovada: formação do diplomata brasileiro
(Brasília: FUNAG, 2013, 398 p.; ISBN 978-85-7631-458-5)

            Dizem que o serviço exterior se caracteriza pela excelência. O que não se sabe é se essa qualidade se deve a seu concurso de ingresso, notoriamente rigoroso, ou à sua academia diplomática, o Instituto Rio Branco. Ou seja, o material já era bom antes do ingresso na carreira, ou se fez melhor ao passar pelos bancos escolares do Rio Branco? Este livro trata dessa dúvida existencial, já revelada na frase introdutória de Heidegger, segundo quem todo questionamento é uma busca. O autor tenta responder, em cinco partes, cobrindo as marcas de nascença, os contrastes de personalidades, uma volta ao barão, a dúvida entre academia e instituto e uma proposta para uma academia renovada.
Termina por uma nota altamente intelectual sobre a filosofia da educação, que talvez confirme que o Itamaraty é excelente a despeito, ou independentemente, do IRBr.

Fernando Cacciatore de Garcia:
Como Escrever a História do Brasil: Miséria e Grandeza
(Porto Alegre: Sulina, 2014, 659 p.; ISBN: 978-85-205-0704-2)

            O autor já tinha assinado uma bela pesquisa histórica sobre a formação das fronteiras sulinas, Fronteira Iluminada: História do Povoamento, Conquista e Limites do Rio Grande do Sul, a partir do Tratado de Tordesilhas (1420-1920), e estava, portanto, perfeitamente habilitado para retomar a pergunta que tinha sido colocada, no início do IHGB, aos candidatos a um concurso sobre essa dúvida metodológica, ganho pelo alemão Martius. O resultado é um monumental volume sobre o nosso iluminismo historiográfico, onde figuram não apenas os grandes nomes da inteligência nacional, mas muitos outros pensadores universais. A história oficial sempre precisa de revisões constantes, e Garcia confirma sua preparação para a missão ao corrigir deformações sempre visíveis. Grandeza e miséria não são apenas conceitos, mas realidades presentes.

Rafael Souza Campos de Moraes Leme:
Absurdos e milagres : um estudo sobre a política externa do Lusotropicalismo (1930-1960)
(Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2011, 164 p.; ISBN 978-85-7631-326-7)


            Um estudo de caráter histórico-antropológico-diplomático sobre como o lusotropicalismo, ideologia construída pelo sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, já famoso pelo seu clássico sobre a formação patrimonial do escravismo brasileiro, foi usado e instrumentalizado pelo Estado Novo português para defender seu colonialismo tardio, e sobre como o Brasil foi usado nessa estratégia para manter o império africano. Dos anos 1930, até os anos 1960, o Brasil se dobrou à política externa portuguesa nesse capítulo pouco glorioso de nossa diplomacia contemporânea. Ao mesmo tempo, não se pode negar que a teoria reacionária do genial pernambucano serviu para legitimar algumas das ações e iniciativas tomadas pela diplomacia brasileira na África, na fase recente. Mais um exemplo de como a história dá muitas voltas, em torno de si mesma.

João Augusto Costa Vargas
Um mundo que também é nosso: o pensamento e a trajetória diplomática de Araujo Castro
(Brasília : FUNAG, 2013, 265 p.; ISBN: 978-85-7631-470-7; Coleção política externa brasileira)

            O Itamaraty possui algumas dinastias persistentes ou descontinuadas, entre elas a do próprio barão, preservada na incorporação do título ao nome de família, e a de Araujo Castro, um dos mais distinguidos diplomatas da geração contemporânea. Um novo João Augusto refaz a trajetória intelectual e diplomática do anterior, que deixou sua marca na política externa brasileira e não apenas por ter sido o último chanceler do caótico governo Jango, derrubado em 1964, e pela “teoria” do “congelamento do poder mundial”, mas sobretudo por ter oficializado uma nova “teoria” sobre nossa suposta “condenação à grandeza”, nacional e internacional, talvez por já ser grande no mapa do mundo. Araujo Castro foi um grande diplomata porque estudava intensamente o Brasil, pensava de forma lógica e escrevia claramente. Boas sugestões aos jovens de hoje.

Marcelo P. S. Câmara
A política externa alemã na República de Berlim: de Gerhard Schröder a Angela Merkel
(Brasília : FUNAG, 2013, 326 p.; ISBN: 978-85-7631-447-9; Coleção CAE)

            São poucas as teses de CAE que examinam toda a política externa de um grande país, aliás, importante parceiro do Brasil no cenário diplomático e econômico mundial. A Alemanha de Berlim renovou as tradições criadas em Bonn e, tanto na administração socialdemocrata quanto na conservadora, passou a projetar de modo mais incisivo o país no cenário mundial. O capítulo sobre as relações bilaterais segue o padrão usual no Itamaraty para esse tipo de análise, mas o importante, para a historiografia diplomática brasileira, é o exame minucioso da política externa alemã no período pós-Guerra Fria, especialmente relevante, na fase atual, sobretudo em sua vertente econômica, como visto na crise do euro, que foi basicamente uma crise fiscal de vários membros da UE. A liderança de Angela Merkel restabeleceu padrões aceitáveis de política econômica.
  

Paulo Roberto de Almeida

[Hartford, 3/06/2014]

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Livros de diplomatas - notas e resenhas - Paulo Roberto de Almeida

Aparentemente, a "última" vez que publiquei uma informação de livros escritos por diplomatas foi aproximadamente um ano atrás, neste post: 

domingo, 6 de novembro de 2011

http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2011/11/livros-de-diplomatas-notas-e-resenhas.html

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Reproduzo, antes de atualizar a lista, a introdução ao post referido e linkado acima, pois ela situa o contexto e a finalidade com que são feitas as notas em questão:

Lista cronológica de resenhas feitas por Paulo Roberto de Almeida 
de livros de diplomatas brasileiros
(obras de todos os gêneros escritas por diplomatas profissionais do Brasil)
Paulo Roberto de Almeida
(atualizada em Novembro de 2011)
Nota preliminar:
Esta lista não constitui, obviamente, a série completa de todas as minhas resenhas e resenhas-artigos de livros, que seria muito mais longa. Tampouco constitui a série completa de todos os livros interessando às relações internacionais ou à política externa do Brasil, uma vez que teria de incluir todos os livros escritos por não diplomatas, o que não está aqui. Vou fazer um dia...
A partir de 2005 dediquei-me a fazer pequenas notas sobre os livros publicados por diplomatas para a seção “Prata da Casa” do Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros. Invariavelmente, a cada três meses, compareço com os livros do momento, o que não quer dizer, tampouco, todos os livros publicados por diplomatas e tampouco todos os livros que me chegam às mãos, apenas os que retenho como dignos de registro. Muitos outros “escapam” dessa seleção “fatal”, talvez os de poesia, e algumas teses do Curso de Altos Estudos, publicadas pela Funag, que não julguei relevantes, porém, ou que não tive tempo de ler. Em todo caso, é muita coisa, mesmo para um leitor compulsivo, como eu...
Finalmente, não fiz uma lista serial, apenas retive cada uma das entradas detectadas (as que não me escaparam), segundo a numeração da lista de trabalhos originais.===============

Eis a lista, do final de 2011 ao final de 2012:


2342. “Prata da Casa, Boletim ADB 4-2011”, Brasília, 21 Novembro 2011, 3 p. Notas sobre os seguintes livros: Rubens Barbosa: O Dissenso de Washington: Notas de um observador privilegiado sobre as relações Brasil-Estados Unidos (São Paulo: Agir, 2011, 384 p.; ISBN: 978-85-220-1296-1); Daniel Costa Fernandes: A Política Externa da Inglaterra: Análise Histórica e Orientações Perenes (Brasília: Funag, 2011, 136 p.; ISBN: 978-85-7631-290-1); Sidnei J. Munhoz e Francisco Carlos Teixeira da Silva (orgs.), Relações Brasil-Estados Unidos: séculos XX e XXI (Maringá: Editora da UEM, 2011, 576 p.; ISBN: 978-85-7628-372-0); Paulo Roberto de Almeida: Relações internacionais e política externa do Brasil: a diplomacia brasileira no contexto da globalização (Rio de Janeiro: LTC, 2012, 309 p.; ISBN 978-85-216-2001-3); Renato L. R. Marques: Duas Décadas de Mercosul (São Paulo: Aduaneiras, 2011, 368 p.; ISBN: 978-85-7129-581-0); Fernando Pimentel: Fim da era do petróleo e a mudança do paradigma energético mundial: Perspectivas e desafios para a atuação diplomática brasileira (Brasília: Funag, 2011, x p.; ISBN:978-85-7631-308-3). Boletim ADB (ano 17, n. 75, outubro-novembro-dezembro 2011, p. 31-32; ISSN: 0104-8503). Relação de Publicados n. 1061.
 
2354. “Prata da Casa, Boletim ADB 1-2012”, Brasília, 8-11 janeiro 2012; revisão: Paris, 19/03/2012, 3 p. Notas sobre os seguintes livros: Alberto da Costa e Silva (coordenação): História do Brasil Nação: 1808-2010; vol. 1: Crise Colonial e Independência: 1808-1830 (Rio de Janeiro: Objetiva, 2011, 280 p.; ISBN: 978-85-390-0275-7); Eugenio Vargas Garcia: O Sexto Membro Permanente: o Brasil e a criação da ONU (Rio de Janeiro: Contraponto, 2011, 458 p.; ISBN: 978-85-7866-044-4) Gelson Fonseca: Diplomacia e Academia: um estudo sobre as análises acadêmicas sobre a política externa brasileira na década de 70 e sobre as relações entre o Itamaraty e a comunidade acadêmica (Brasília: Funag, 2011, 248 p.; ISBN: 978-85-7631-349-6); Maria Theresa Diniz Forster: Oliveira Lima e as Relações Exteriores do Brasil: o legado de um pioneiro e sua relevância atual para a diplomacia brasileira (Brasília: Funag, 2011, 220 p.; ISBN: 978-85-7631-331-1); Sarquis José Buainain Sarquis: Comércio Internacional e Crescimento Econômico no Brasil (Brasília: Funag, 2011, 248 p.; ISBN: 978-85-7631-335-9); Ademar Seabra da Cruz Junior: Diplomacia, desenvolvimento e sistemas nacionais de inovação: estudo comparado entre Brasil, China e Reino Unido (Brasília: Funag, 2011, 292 p.; ISBN: 978-85-7631-327-4); Boletim ADB (ano 19, n. 76, janeiro-março 2012, p. 30-32; ISSN: 0104-8503). Relação de Publicados n. 1067.

2355. “Prata da Casa, Boletim ADB 2-2012”, Brasília, 14 janeiro 2012, 4 p. Notas sobre os seguintes livros: Miguel Gustavo de Paiva Torres: O Visconde do Uruguai e sua atuação diplomática para a consolidação da política externa do Império (Brasília: Funag, 2011, 212 p.; ISBN: 978-85-7631-329-8); José Estanislau do Amaral: Usos da história: a diplomacia contemporânea dos Estados Bálticos. Subsídios para a política externa do Brasil (Brasília: Funag, 2011, 216 p.; ISBN: 978-85-7631-309-0); Luiz Fernando Ligiéro: A Autonomia na Politica Externa Brasileira - a Política Externa Independente e o Pragmatismo Responsável: momentos diferentes, políticas semelhantes? (Brasília: Funag, 2011, 412 p.; ISBN: 978-85-7631-348-9); San Tiago Dantas: Política Externa Independente (edição atualizada: Brasília: Funag, 2011, 372 p.; ISBN: 978-85-7631-304-5); May Frances: Cartas de uma jovem inglesa na fronteira de Uruguaiana: 1887-1888 (Tradução, introdução e notas: Fernando Cacciatore de Garcia; Porto Alegre: Sulina, 2010, 168 p.; ISBN: 978-85-205-0582-3); Letícia Frazão Alexandre de Moraes Leme: O Tratamento Especial e Diferenciado dos Países em Desenvolvimento: do GATT à OMC (Brasília: Funag, 2011, 236 p.; ISBN: 978-85-7631-342-7); Boletim ADB (ano 19, n. 77, abril-junho 2012, p. 30-32; ISSN: 0104-8503). Relação de Publicados n. 1070.
 


2419. “Prata da Casa, Boletim ADB - 3ro. trimestre 2012”, Brasília, 20-25 agosto 2012, 5 p. Notas sobre os seguintes livros: 1) Fernando de Mello Barreto: A Politica Externa Após a Redemocratização; tomo 1: 1985-2002; tomo 2: 2003-2010 (Brasília: Funag, 2012, 746 e 670 p.; ISBN: 978-85-7631-363-2 e 978-85-7631-382-3); 2) Luís Cláudio Villafañe G. Santos: O evangelho do Barão: Rio Branco e a identidade brasileira (São Paulo: Unesp, 2012, 176 p.; ISBN: 978-85-393-0244-4); 3) Antonio Augusto Cançado Trindade: Repertório da Prática Brasileira do Direito Internacional Público; vol. I: período 1889-1898; vol. II: período 1899-1918; vol. III: período 1919-1940; vol. IV: período 1941-1960; vol. V: período 1961-1981 (2a. ed.: Brasília: Funag, 2012, 304, 588, 392, 448 e 428 p.; ISBN: 978-85-7631-367-0; 978-85-7631-368-7; 978-85-7631-369-4; 978-85-7631-370-0; 978-85-7631-371-7); 4) Felipe Hees e Marília Castañon Penha Valle (orgs.): Dumping, Subsídios e Salvaguardas: Revisitando aspectos técnicos dos instrumentos de defesa comercial (São Paulo: Singular, 2012, 486 p.; ISBN: 978-85-86626-62-3); 5) André Heráclio do Rêgo: Os Sertões e os Desertos: o combate à desertificação e a política externa brasileira (Brasília: Funag, 2012, 204 p.; ISBN: 978-85-7631-380-9); 6) Maria Feliciana Nunes Ortigão de Sampaio: O Tratado de Proibição Completa dos Testes Nucleares (CTBT): Perspectivas para sua Entrada em Vigor e para a Atuação Diplomática Brasileira (Brasília: Funag, 2012, 462 p.; ISBN: 978-85-7631-379-3). Boletim ADB (vol. 19, n. 78, julho-agosto-setembro 2012, p. 34-36). Relação de Publicados n. 1074.


2441. “Prata da Casa, Boletim ADB – 4to. trimestre 2012”, Brasília, 2 novembro 2012, 3 p. Notas sobre os seguintes livros: 1) Renato Mendonça: A Influência Africana no Português do Brasil (Brasília: Funag, 2012, 195 p.; ISBN: 978-85-7631-399-1); ( 2) Renato L. R. Marques: Duas Décadas de Mercosul (São Paulo: Aduaneiras, 2011, 371 p.; ISBN: 978-85-7129-581-0); 3) Adolpho Justo Bezerra de Menezes: O Brasil e o mundo ásio-africano (Brasília: Funag, 2012, 372 p.; ISBN: 978-85-7631-387-8); 4) Ricardo Luís Pires Ribeiro da Silva: A Nova Rota da Seda: caminhos para a presença brasileira na Ásia central (Brasília: Funag, 2011, 320 p.; ISBN: 978-85-7631-346-5); 5) Vasco Mariz: Depois da Glória: ensaios históricos sobre personalidades e episódios controvertidos da história do Brasil e de Portugal (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012, 376 p.; ISBN: 978-85-200-1058-7); 6) Gustavo Henrique Marques Bezerra: Da Revolução ao Reatamento: A Política Externa Brasileira e a Questão Cubana (1959-1986) (Brasília: Funag, 2012, 376 p.; ISBN: 978-85-7631-381-6); 10); Boletim ADB (vol. 19, n. 79, outubro-novembro-dezembro 2012, p. 34-36). Relação de Publicados n. 17xx.

 Registro que, no caos que virou atualmente minhas duas bibliotecas (nas quais já não consigo encontrar mais nada e frequentemente retiro da biblioteca livros que sei que tenho, mas que não acho; não sendo incomum ter comprado duas vezes o mesmo livro) e em virtude do volume considerável de obras recebidas para resenha, acabo resenhando duas vezes, no intervalo de um ano, o mesmo livro. Vejamos, por exemplo, as duas notas que fiz sobre o mesmo livro: 


Renato L. R. Marques:
Duas Décadas de Mercosul
(São Paulo: Aduaneiras, 2011, 368 p.; ISBN: 978-85-7129-581-0).

Negociador que presidiu, por assim dizer, ao nascimento do Mercosul, o autor está capacitado para contribuir com seu depoimento de testemunha de primeira mão ao esclarecimento das principais dificuldades que rondavam – ainda rondam – a consolidação desse bloco sui generis de integração econômica com pretensões a ser mais do que um simples agrupamento de liberalização comercial. A maior parte dos textos, fotografias de ocasião ou reflexões a quente enquanto o bloco era construído, é dos anos 1990, anteriores, portanto, às crises políticas e econômicas do final da década, que não parecem terem sido inteiramente superadas. A “nota introdutória” do ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia acha que o livro poderia ser chamado “Presente na Criação”, numa evocação das famosas memórias de Dean Acheson. Exagerado?
[ Brasília, 21 Novembro 2011 ]


Renato L. R. Marques: Duas Décadas de Mercosul (São Paulo: Aduaneiras, 2011, 371 p.; ISBN: 978-85-7129-581-0).

Segunda edição de obra publicada pessoalmente pelo autor, em 2010, cobrindo os anos 1989-1999, e que agora vem ampliada com capítulo inicial, elaborado em 2011, fazendo uma síntese da trajetória do Mercosul, nos seus primeiros vinte anos. Mais do que uma reconstituição histórica, se trata do depoimento de um negociador que teve papel destacado na conformação do que foi o Mercosul comercial, até o bloco ser desviado para objetivos mais políticos a partir de 2003. O texto de síntese introdutória oferece, em suas 90 páginas, um relato das diversas etapas vencidas, das dificuldades enfrentadas e das razões pelas quais o Mercosul adotou o seu formato de união aduaneira incompleta, de natureza intergovernamental. Obra essencial para todo historiador que pretenda escrever a história real, não alguma fábula ideal, sobre o Mercosul em sua verdadeira essência.
[ Brasília, 2 novembro 2012 ]

Bem, o autor fica me devendo duas cervejas, pelas duas notas...

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Reproduzo agora, a nota em preparação:


Prata da Casa - Boletim ADB: 1ro. trimestre 2013

Paulo Roberto de Almeida
Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros
(ano 20, n. 80, janeiro-fevereiro-março 2013, p. xx-xx; ISSN: 0104-8503)

1) Rubens Antonio Barbosa: Interesse Nacional & Visão de Futuro (São Paulo: Sesi-SP Editora, 2012, 328 p.; ISBN: 978-85-8205-059-0)

Nada do que é nacional, e do que é internacional, lhe é indiferente, ou seja, quase tudo. Consistente com o suposto de que, em face de tendências nefastas ao pensamento único, vindas de certas áreas, quem tem algo a dizer deve justamente se manifestar, o ex-embaixador na Aladi, em Londres e em Washington vem se expressando continuamente nas páginas do Estadão e do Globo desde que deixou a diplomacia ativa. São 76 artigos de jornal, mais quatro entrevistas e dois depoimentos no Senado, sobre a (des)ordem econômica global, o comércio exterior brasileiro, a política externa, a integração e o Mercosul, bem como sobre assuntos de defesa nacional. Um panorama importante do que vem ocorrendo nos governos Lula e Dilma, sempre sob a perspectiva do “Interesse Nacional”, que é, aliás, o nome da revista que ele edita desde 2008. Que fôlego!

2) Luiz Felipe de Seixas Corrêa (org.): O Brasil nas Nações Unidas, 1946-2011 (3a. ed.; revista e ampliada; Brasília: Funag, 2012, 986 p.; ISBN: 978-85-7631-390-8)

A obra retoma o trabalho já conduzido nas duas precedentes edições, compilando, neste novo e alentado volume, os discursos da fase final do governo Lula e o primeiro da atual administração. Ademais de permitir ao pesquisador o contato com esse conjunto de posicionamentos gerais da diplomacia brasileira no plano multilateral, a obra situa e analisa cada um dos pronunciamentos no contexto do sistema internacional e dos desafios colocados ao Brasil, em cada uma das 66 assembleias gerais. Os chanceleres apresentam a obra em suas respectivas edições (Lampreia, Amorim e Patriota); mais interessantes, porém, são as introduções gerais do organizador, em cada uma delas, e, sobretudo, seus comentários iniciais, para cada ano, aos temas principais da atualidade internacional, regional e nacional. Trabalho precioso de documentação e de avaliação da nossa presença diplomática e do nosso mais acalentado desejo: a cadeira permanente no CSNU.
.

3) Francisco Doratioto: Relações Brasil-Paraguai: afastamento, tensões e reaproximação (1889-1954) (Brasília: Funag, 2012, 552 p.; ISBN: 978-85-7631-384-7)

O autor é “quase-diplomata”, por virtudes de matrimônio e pela longa colaboração intelectual com o MRE, de cuja academia diplomática é professor, e por sua presença em bancas do CAE. Já renomado por outros trabalhos acadêmicos sobre o país vizinho, além da monumental revisão historiográfica sobre a “maldita guerra” da Tríplice Aliança, o historiador retraça, nesta obra que é sua tese de doutorado na UnB, o turbulento itinerário político do Paraguai, em especial no que concerne as relações, sempre ambivalentes, com Argentina e Brasil. Publicada primeiramente em espanhol, sob o título de Una Relación Compleja, o trabalho segue a influência política brasileira na política interna guarani, desde o início da República até a ascensão de Stroessner, passando pelo relativo afastamento, na era do Barão, até o adensamento das relações a partir da Segunda Guerra.

4) Ricardo Luís Pires Ribeiro da Silva: A Nova Rota da Seda: caminhos para a presença brasileira na Ásia central (Brasília: Funag, 2011, 320 p.; ISBN: 978-85-7631-346-5);

A rota da sede, obviamente, é muito mais longa, mais velha, mais interessante do que seu trecho que percorre as antigas satrapias soviéticas da Ásia central: mas, talvez, seus trechos mais misteriosos, e ignotos, se situassem mesmo nos territórios que hoje correspondem a essas repúblicas supostamente pós-soviéticas: Cazaquistão, República Quirguiz, Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão. Esta tese de CAE percorre terras incógnitas para a diplomacia brasileira, até uma data ainda recente. Seu autor leu uma bibliografia basicamente ocidental para abordar a trajetória recente dessas cinco satrapias convertidas de forma muito desigual à economia de mercado, mais aqui, em todo caso, do que a regimes democráticos. São onze capítulos substantivos e doze anexos para colocar o Brasil, finalmente, na moderna rota da seda, feita de combustíveis fósseis e mercados ainda pouco explorados.

5) Autor: Título (Cidade: Editora, 2012, xxx p.; ISBN: 978-85-xxxx-xxx-x)
10 linhas

6) Autor: Título (Cidade: Editora, 2012, xxx p.; ISBN: 978-85-xxxx-xxx-x)
10 linhas

 [Hartford, xx fevereiro 2013]

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Diplomatas escrevem (ao que parece...) - Prata da Casa

Enfim, alguns obrigados por esse rito de passagem obrigatório para promoção que é o Curso de Altos Estudos, supostamente um doutorado, na verdade apenas um exercício de redação de algum tema diplomático que, em alguns casos, é um longo memorando de posições, ou seja, uma coleção de telegramas que o próprio diplomata preparou, como dever de ofício, nos meses ou anos anteriores.
Em outros casos, felizmente a maioria, se trata de um trabalho real de pesquisa, valendo todos os méritos de um trabalho acadêmico en bonne et due forme, ou seja, um scholarly work.
Tenho resenhado todos esses trabalhos, o que me dá por vezes certo trabalho, mas por outras imenso prazer.
Aqui vão -- e acho que não postei nada este ano das resenhas feitas -- os mais recentes livros de diplomatas, prata da casa no bom e no mau sentido, pois que publicados d'office, sem alguma revisão editorial mais cuidadosa, que poderia melhorar forma e conteúdo.
Em todo caso, no panorama desolado dos estudos de RI no Brasil, são um bom aporte ao estudo de problemas da área.
Seguem, transcritas abaixo, as notas relativas aos livros resenhados para os boletins da ADB publicados em 2012. Em principio, todos os livros editados pela Funag estao disponiveis no site da Fundacao: www.funag.gov.br
Paulo Roberto de Almeida


Prata da Casa – Boletim ADB 1o. trimestre 2012

Paulo Roberto de Almeida
Boletim ADB (ano 19, n. 76, janeiro-março 2012, p. 30-32; ISSN: 0104-8503).

Alberto da Costa e Silva (coord.); Rubens Ricupero (colab.):
História do Brasil Nação: 1808-2010; vol. 1: Crise Colonial e Independência: 1808-1830
(Rio de Janeiro: Objetiva, 2011, 280 p.; ISBN: 978-85-390-0275-7)

Dois diplomatas neste primeiro volume de uma coleção que está sendo preparada em coordenação com uma equipe espanhola, focando os 200 anos das autonomias latino-americanas: o próprio coordenador do volume, acadêmico Costa e Silva, que, ademais de assinar uma introdução sobre as “marcas do período”, responde também por um primeiro capítulo sobre população e sociedade; Rubens Ricupero traça o panorama do “Brasil no mundo” nesse período, desde os fatores externos da independência até o fracasso da guerra na Cisplatina e o envolvimento de D. Pedro I com os problemas da ex-metrópole. Ambas as bibliografias são literatura secundária, mas dentre autores consagrados. Existem ainda capítulos sobre a vida política, o processo econômico e a cultura. Uma obra doravante indispensável.

Eugenio Vargas Garcia:
O Sexto Membro Permanente: o Brasil e a criação da ONU
(Rio de Janeiro: Contraponto, 2011, 458 p.; ISBN: 978-85-7866-044-4)

O autor vem construindo uma obra consistente de história diplomática brasileira: primeiro, pelo exame da participação – e espetacular saída – do Brasil na Liga das Nações; depois, pelo exame da política externa na década de vinte, passando também por compêndios cronológicos e de documentos históricos; agora, por esse muito bem construído relato histórico sobre nossa quase aceitação como membro do CSNU, em 1945. Como para as obras anteriores, a leitura cuidadosa dos arquivos brasileiros, a consulta a fontes externas indispensáveis, o encadeamento dos documentos e dos depoimentos, tudo isso numa linguagem fluída, como convém aos historiadores que escrevem para o grande público. O poder de veto foi usado de forma preventiva, contra o Brasil; sobrou um gosto amargo que alguns buscam hoje superar.

Gelson Fonseca:
Diplomacia e Academia: um estudo sobre as análises acadêmicas sobre a política externa brasileira na década de 70 e sobre as relações entre o Itamaraty e a comunidade acadêmica
(Brasília: Funag, 2011, 248 p.; ISBN: 978-85-7631-349-6)

Trata-se de tese de CAE, defendida em 1981, e publicada pela primeira vez com pequenas alterações cosméticas: a temática está explícita no longo subtítulo e pode-se dizer que a tese inaugurou a abertura do Itamaraty à academia, com a criação do IPRI, em 1985 (como sublinham os apresentadores institucionais). O próprio autor faz um posfácio de esclarecimentos sobre como o trabalho foi construído, ainda no regime militar, mas já num momento de abertura gradual. Num prólogo, um dos membros da banca, o embaixador Rubens Ricupero destaca justamente o princípio democrático como o eixo central do trabalho, mas traça também o percurso de predecessores a esse tipo de trabalho. Os capítulos 2 e 3 da tese fazem um exame de toda a bibliografia relevante sobre a diplomacia brasileira publicada até final dos 70.

Maria Theresa Diniz Forster:
Oliveira Lima e as Relações Exteriores do Brasil: o legado de um pioneiro e sua relevância atual para a diplomacia brasileira
(Brasília: Funag, 2011, 220 p.; ISBN: 978-85-7631-331-1)

Um dos mais importantes historiadores diplomatas, senão o maior, Oliveira Lima andava um tanto esquecido, a despeito mesmo da republicação de alguns dos seus livros nos últimos anos. Este “embaixador intelectual do Brasil” mereceu uma bem pesquisada tese de CAE, que, depois de traçado seu perfil biográfico, coloca em perspectiva suas contribuições à diplomacia brasileira, tanto a de cem anos atrás, quanto a atual. A autora compulsou todas as obras do “Dom Quixote Gordo”, leu tudo o que se escreveu sobre ele e oferece suas próprias reflexões e ponderações sobre esse bibliófilo que morreu num exílio auto-imposto e que legou sua preciosa biblioteca à Catholic University of America. Desavenças com figuras importantes da República estão na raiz desse limbo: uma grande perda, para a diplomacia e para o Brasil.

Sarquis José Buainain Sarquis:
Comércio Internacional e Crescimento Econômico no Brasil
(Brasília: Funag, 2011, 248 p.; ISBN: 978-85-7631-335-9)

Poucos diplomatas são doutores em economia; pouquíssimos, se algum, dispõem de sólido conhecimento em econometria como o autor; e provavelmente só existirá um, o próprio Sarquis, contemplado com um prêmio pela London School of Economics pela excelência de sua tese em macroeconomia e finanças internacionais. Estes méritos já revelam um pouco da qualidade desta tese de CAE que, não apenas estuda as relações que existem entre os dois conceitos do título, nos planos teórico e empírico, como também reconstitui a experiência brasileira – comparativamente a exemplos latino-americanos e asiáticos – nessas áreas e, mais importante, formula recomendações de política econômica externa, extremamente bem fundamentadas em setores como comércio, finanças e câmbio. Vale a recomendação de Adam Smith: o segredo está em educar sua população.

Ademar Seabra da Cruz Junior:
Diplomacia, desenvolvimento e sistemas nacionais de inovação: estudo comparado entre Brasil, China e Reino Unido
(Brasília: Funag, 2011, 292 p.; ISBN: 978-85-7631-327-4)

Poucos países poderiam ser tão diferentes entre si quanto os três escolhidos por este doutor em Sociologia pela USP, mestre em Filosofia das Ciências Sociais pela London School of Economics, para propor uma espécie de “diplomacia da inovação” no esforço brasileiro pelo desenvolvimento. Os exemplos selecionados são, de fato pertinentes, numa perspectiva “schumpeteriana-marxista”, ainda que isso seja surpreendente, já que eles são “atores desiguais e assimétricos da globalização”. No entanto, as políticas de China e Reino Unidos são ilustrativas de estratégias coerentes de inovação; o Brasil faria bem em estudar e adaptar certas características. Ambos, em suas dimensões próprias, têm muito a ensinar ao Brasil. O Itamaraty tem funções a cumprir nesse processo; o autor mostra quais são: montar redes de informação, conectar os diversos agentes nacionais e capturar parte de nossa diáspora científica.

 [Brasília, 2354, 08.01.2012; rev.: 11/01/2012]
[Revisão: Paris: 19.03/2012]



Prata da Casa – Boletim ADB 2o. trimestre 2012

Paulo Roberto de Almeida
Boletim ADB (ano 19, n. 77, abril-junho 2012, p. 30-32; ISSN: 0104-8503).

Miguel Gustavo de Paiva Torres:
O Visconde do Uruguai e sua atuação diplomática para a consolidação da política externa do Império
(Brasília: Funag, 2011, 212 p.; ISBN: 978-85-7631-329-8)

Paulino José Soares de Sousa teve atuação destacada nos dois momentos em que chefiou o ministério dos negócios estrangeiros, no final dos anos 1840 e no início da década seguinte, confrontando a diplomacia arrogante das grandes potências e o arbítrio do caudilho Rosas, da vizinha Argentina, a quem venceu pelas tratativas diplomáticas (mentor que foi da missão do Visconde de Rio Branco) e também com o auxílio das armas. O autor realizou extensa pesquisa nas fontes primárias para reconstituir os principais episódios em que Uruguai se destacou: “foi uma pedra no caminho”, escreve ele, de vários representantes estrangeiros, tal o seu empenho na defesa dos interesses brasileiros. Uma futura edição precisa corrigir os erros de atribuição de trabalhos a Leslie Bethell, quando este foi de fato o coordenador da série de história da América Latina.

José Estanislau do Amaral:
Usos da história: a diplomacia contemporânea dos Estados Bálticos. Subsídios para a política externa do Brasil
(Brasília: Funag, 2011, 216 p.; ISBN: 978-85-7631-309-0)

Os três países bálticos tiveram, como vários outros infelizes vizinhos da Rússia czarista, da União Soviética comunista e da Alemanha expansionista e militarista, uma história movimentada, feita de guerras, ocupação e de “inundação” étnica; obtida a independência ao final da Primeira Guerra Mundial, ela foi varrida na Segunda; novamente autônomos ao final da Guerra Fria, desta vez com a dupla garantia da OTAN e da UE, eles confirmam a resiliência dos povos resistentes às tentativas de submissão. Esta tese de CAE examina sua política externa e as implicações diplomáticas para o Brasil: reconhecemos a independência de 1921 e novamente a de 1991, sem jamais legitimar a anexação soviética de 1940. São Paulo tem, depois de Chicago, a segunda colônia de lituanos no mundo. Bom começo para intensificar as relações.

Luiz Fernando Ligiéro:
A Autonomia na Politica Externa Brasileira - a Política Externa Independente e o Pragmatismo Responsável: momentos diferentes, políticas semelhantes?
 (Brasília: Funag, 2011, 412 p.; ISBN: 978-85-7631-348-9).

Tese de doutoramento defendida na UnB, constitui uma demonstração cabal da famosa mudança na continuidade, que caracterizaria, segundo a quase totalidade dos diplomatas, a diplomacia brasileira (ou, pelo menos, a do Itamaraty). Mas ocorrem mudanças surpreendentes, como justamente os dois exemplos aqui enfocados: a PEI, do início dos anos 1960, e a política de Geisel e de Azeredo da Silveira, mais de uma década depois. A comparação se dá tanto pelo lado dos discursos, quanto pelo da implementação das políticas, nas diversas áreas. O exame é exaustivo e o leque de autores consultados é impressionante, sem esquecer os depoimentos dos principais atores, direta (testemunho gravado) ou indiretamente (arquivos do Cpdoc, por exemplo). Falta uma bibliografia consolidada nesta edição.

San Tiago Dantas:
Política Externa Independente – Edição Atualizada
(Brasília: Funag, 2011, 372 p.; ISBN: 978-85-7631-304-5)

San Tiago Dantas é, por assim dizer, um diplomata honorário, tendo sido chanceler no parlamentarismo e, antes disso, delegado brasileiro em diversas reuniões internacionais. A utilidade desta reedição é a de não apenas compilar novamente os textos (discursos e palestras) já editados pela Civilização Brasileira em 1962, acrescida de cinco novos originais, dois deles de diplomatas: um do embaixador Afonso Arinos, publicado originalmente em seu livro Atualidade de San Tiago Dantas (Lettera, 2005), e outro, precioso, do embaixador Gelson Fonseca que introduz os “colóquios da Casa das Pedras”, reuniões de planejamento político que San Tiago conduzia com diplomatas, em 1961, sobre temas relevantes da agenda diplomática brasileira. Celso Amorim e Marcílio Marques Moreira também comparecem com relatos pessoais e reflexões esclarecedoras.

May Frances:
Cartas de uma jovem inglesa na fronteira de Uruguaiana: 1887-1888
(Tradução, introdução e notas: Fernando Cacciatore de Garcia; Porto Alegre: Sulina, 2010, 168 p.; ISBN: 978-85-205-0582-3)

São apenas 24 cartas, que compõem cada um dos capítulos destas missivas de uma jovem de 25 anos, que acompanhava o irmão, na construção de mais uma ferrovia inglesa, em local totalmente isolado do “mundo normal”. Uma puritana inglesa, eivada de todos os preconceitos de um povo conquistador, como sublinha o editor, gaúcho da mesma região, que se inseriu no grand monde da diplomacia. Miss Frances ainda fala dos brasileiros da fronteira como “colonizadores portugueses”, mas faz observações pertinentes sobre o atraso relativo da sociedade patriarcal local. Ela achava o Português “uma língua tão hedionda que é sem prazer que a estou aprendendo”, uma amostra típica de suas opiniões depreciativas. Um depoimento de primeira mão, muito bem traduzido e introduzido pelo colega de carreira.

Letícia Frazão Alexandre de Moraes Leme:
O Tratamento Especial e Diferenciado dos Países em Desenvolvimento: do GATT à OMC
(Brasília: Funag, 2011, 236 p.; ISBN: 978-85-7631-342-7)

O Brasil se orgulha de ser um país em desenvolvimento: tem direito a SGP e menores obrigações sob o sistema multilateral de comércio. Esta dissertação de mestrado do Rio Branco refaz toda a história da construção conceitual do tratamento especial, desde o primeiro GATT até sua transformação na atual OMC, examinando todos os instrumentos e normas e discutindo a questão do ponto de vista das teorias que fundamentam essa caracterização, como por exemplo o “embedded liberalism”; também examina, do ponto de vista ética, os argumentos filosóficos que sustentam essa posição, como por exemplo em Aristóteles, John Rawls e Amartya Sen. Os anexos são preciosos, pois além da cronologia detalhada, traz o sumário dos dispositivos relativos a esse mecanismo em todos os instrumentos do sistema multilateral de comércio e finaliza com entrevistas com três especialistas na questão.

Brasília, 14 janeiro 2012;
Revisão: Paris, 19/03/2012

Prata da Casa - Boletim ADB: 3ro. trimestre 2012

Paulo Roberto de Almeida
Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros
(ano 19, n. 78, julho-agosto-setembro 2012, p. 30-36; ISSN: 0104-8503

1) Fernando de Mello Barreto: A Politica Externa Após a Redemocratização; tomo 1: 1985-2002; ; tomo 2: 2003-2010 (Brasília: Funag, 2012, 746 e 670 p.; ISBN: 978-85-7631-363-2 e 978-85-7631-382-3);

Continuidade formal e substantiva das duas obras anteriores, Os Sucessores do Barão (para os períodos 1912-1964, e 1964-1985, respectivamente), os dois volumes, agora enfeixados sob o signo da redemocratização, cobrem minuciosamente, gestão por gestão, todos os atos e fatos da diplomacia brasileira, segundo uma divisão temática predominantemente geográfica (por regiões e países relevantes), mas também quanto às áreas de política multilateral e de economia externa, terminando pelo próprio serviço exterior brasileiro. São manuais indispensáveis para seguir o itinerário da diplomacia conduzida pelo Itamaraty (no primeiro período: 1985-2002) e, adicionalmente (no segundo período: 2003-2010), sob influência partidária; mais racionais do que os repertórios do MRE (uma simples compilação de pronunciamentos oficiais), os relatos de cada gestão seguem, no entanto, o discurso oficial, em todos os seus matizes.


2) Luís Cláudio Villafañe G. Santos: O evangelho do Barão: Rio Branco e a identidade brasileira (São Paulo: Unesp, 2012, 176 p.; ISBN: 978-85-393-0244-4)

Na sequência do anterior, O Dia em que Adiaram o Carnaval (2010), que também se interrogava sobre as peculiaridades da identidade brasileira, esta obra analisa as ideias e as obras do Barão no que elas têm de relevante para a criação de uma nacionalidade brasileira, naquilo que ela tem de mais significativo, que são os símbolos identitários da nação. Ele recua até a própria formação da diplomacia imperial (saquarema) e analisa de modo competente como, e com quais símbolos, o Barão veio a ser identificado com uma nova política externa, completando, no plano conceitual e na prática, a transição da velha ordem monarquista para o novo regime republicano. Pelo fato de ter completado o mapa do país, e de ser, também, um historiador, o Barão moldou, até hoje, a interpretação que se há de ter sobre a política externa do Brasil. Somos todos prisioneiros do Barão, ainda.

3) Antonio Augusto Cançado Trindade: Repertório da Prática Brasileira do Direito Internacional Público; vol. I: período 1889-1898; vol. II: período 1899-1918; vol. III: período 1919-1940; vol. IV: período 1941-1960; vol. V: período 1961-1981; vol. VI: Índice Geral Analítico (2a. ed.: Brasília: Funag, 2012, 304, 588, 392, 448, 428 e 288 p.; ISBN: 978-85-7631-367-0; 978-85-7631-368-7; 978-85-7631-369-4; 978-85-7631-370-0; 978-85-7631-371-7; 978-85-7631-372-4).

Obra única no gênero, e até agora não imitada (para os períodos anterior e posterior aos cinco cobertos no plano da cronologia, e mais um volume de índice analítico), o excepcional trabalho do ex-consultor jurídico do MRE, e atual juiz da corte da Haia, constitui um instrumento extremamente útil a todos os pesquisadores que pretendam identificar e reproduzir os fundamentos da prática brasileira do direito internacional público, ou seja, das próprias bases da política externa, tendo em vista a forte adesão da diplomacia brasileira aos princípios e normas do direito. Retirados da “poeira” dos arquivos do Itamaraty e dos outros poderes, foram compilados os documentos mais representativos dos atos internacionais, da condição dos Estados, da regulamentação dos espaços, da condição das organizações internacionais e dos indivíduos, solução de controvérsias, conflitos armados e direito humanitário. Magnífico empreendimento!

4) Felipe Hees e Marília Castañon Penha Valle (orgs.): Dumping, Subsídios e Salvaguardas: Revisitando aspectos técnicos dos instrumentos de defesa comercial (São Paulo: Singular, 2012, 486 p.; ISBN: 978-85-86626-62-3)

Dois diplomatas comparecem neste importante livro sobre a defesa comercial no Brasil: o organizador, que assina três densos capítulos – sobre o itinerário histórico do dumping e seus efeitos no comércio, sobre as negociações antidumping na rodada Doha, e sobre os aspectos técnicos na definição dos níveis de antidumping –, e que é também chefe da Defesa Comercial no MDCI; seu colega Eduardo Chikusa, responsável pela mesma área no Itamaraty, que fecha o volume com um estudo sobre a legislação sobre circunvenção no Brasil. Os outros quinze capítulos, sobre os demais temas do título, são em geral assinados por funcionários do Decom-MDIC ou no setor privado. O livro é relevante para os interessados nessa problemática, mesmo se, na apresentação, o ministro setorial se orgulha de que o Brasil tenha sido o país que mais iniciou investigações antidumping desde 2010. Seria essa uma marca de distinção?

5) Adolpho Justo Bezerra de Menezes: O Brasil e o mundo ásio-africano (Brasília: Funag, 2012, 372 p.; ISBN: 978-85-7631-387-8);

Publicado originalmente em 1956 e legítimo predecessor da atual política Sul-Sul, o livro em questão foi a primeira, e durante muitos anos a única, análise das duas regiões do ponto de vista da diplomacia brasileira, não apenas circunscrita às realidades coloniais então predominantes nos continentes africano e asiático, uma vez que também trata das primeiras conferências (Colombo, Bogor, Bandung) que marcariam a era pós-colonial. Reconhece a liderança americana, mas fala de uma futura liderança a brasileira, propondo medidas para a atuação diplomática brasileira nas duas regiões, inclusive no que se refere a uma comunidade luso-brasileira, antecipando também, portanto, os esforços atuais em torno da CPLP. São transcritos trechos de documentos oficiais, mas também testemunhos recolhidos pessoalmente pelo autor, o que converte o livro, na prática, em fonte primária.

6) André Heráclio do Rêgo: Os Sertões e os Desertos: o combate à desertificação e a política externa brasileira (Brasília: Funag, 2012, 204 p.; ISBN: 978-85-7631-380-9);

Autor de várias obras sobre a dimensão da política tradicional no Nordeste, com pleno conhecimento de causa – já que herdeiro de uma das oligarquias regionais –, André Heráclio examina agora, nesta tese de CAE, a dimensão ecológica e política do processo de desertificação, examinando não só toda a bibliografia relevante (30 páginas de obras) que trata do fenômeno no Brasil e no mundo, mas também o tratamento diplomático dado ao problema nos foros regionais e multilaterais. A atuação diplomática do Brasil e o papel das grandes convenções multilaterais da área climática e ambiental são examinados com extrema precisão; a temática oferece, justamente, grandes possibilidades de cooperação bilateral, regional e multilateral, não apenas quanto aos meios de se combater o fenômeno, mas igualmente nas tarefas de gestão dos recursos naturais, especialmente os hídricos. A obra permanecerá como de referência nessa área, hoje um pouco “deserta”.

7) Maria Feliciana Nunes Ortigão de Sampaio: O Tratado de Proibição Completa dos Testes Nucleares (CTBT): Perspectivas para sua Entrada em Vigor e para a Atuação Diplomática Brasileira (Brasília: Funag, 2012, 462 p.; ISBN: 978-85-7631-379-3);

Metade, desta maciça tese de CAE, constitui uma história exemplar da questão do armamento e desarmamento nucleares, desde as origens, em 1945, até a fase atual, de preparação para a entrada em vigor do CTBT (o que não irá ocorrer, por falta de apoio dos EUA), com uma análise paralela dos mecanismos e instrumentos que compõem esse instrumento (talvez) relevante da não proliferação. A outra metade são documentos técnicos, cuja coleta foi facilitada pelo trabalho da autora na comissão de implementação do tratado. A análise das políticas dos países mais sensíveis (ou mais complicados) é exaustiva, concluindo a tese pelo exame da atitude brasileira: obviamente, o Brasil apoia o esforço do CTBT, mas também acredita na eliminação completa das armas nucleares. Pena que nem um, nem outro, vão se realizar, mas isso a autora não diz...


8) Ricardo Luís Pires Ribeiro da Silva: A Nova Rota da Seda: caminhos para a presença brasileira na Ásia central (Brasília: Funag, 2011, 320 p.; ISBN: 978-85-7631-346-5);

A rota da sede, obviamente, é muito mais longa, mais velha, mais interessante do que seu trecho que percorre as antigas satrapias soviéticas da Ásia central: mas, talvez, seus trechos mais misteriosos, e ignotos, se situassem mesmo nos territórios que hoje correspondem a essas repúblicas supostamente pós-soviéticas: Cazaquistão, República Quirguiz, Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão. Esta tese de CAE percorre terras incógnitas para a diplomacia brasileira, até uma data ainda recente. Seu autor leu uma bibliografia basicamente ocidental para abordar a trajetória recente dessas cinco satrapias convertidas de forma muito desigual à economia de mercado, mais aqui, em todo caso, do que a regimes democráticos. São onze capítulos substantivos e doze anexos para colocar o Brasil, finalmente, na moderna rota da seda, feita de combustíveis fósseis e mercados ainda pouco explorados.


9) Silvio José Albuquerque e Silva: As Nações Unidas e a luta internacional contra o racismo (2a ed.; Brasília: Funag, 2011, 292 p.; ISBN: 978-85-7631-338-0).

O multilateralismo contemporâneo foi transitando gradualmente dos grandes temas interestatais para assuntos humanitários, entre eles o do racismo. Esta tese de CAE analisa os resultados da conferência de Durban (2001) sobre o racismo e a xenofobia, com ênfase na atuação diplomática brasileira, antes, durante e depois, até a conferência de revisão, quase uma década após. Esse período correspondeu à aceleração das próprias políticas nacionais de caráter afirmativo, com intensa mobilização dos militantes negros, num ativismo que emula a atuação do grupo africano no plano multilateral, ambos pretendendo algum resgate de “dívidas históricas”. O maior especialista brasileiro na questão, José Augusto Lindgren Alves, acredita que essas demandas fundamentalistas podem causar uma sucessão interminável de cobranças de uns povos contra outros, para a maior infelicidade de todos. O racismo tem muitas faces, sem dúvida.

10) Gustavo Henrique Marques Bezerra: Da Revolução ao Reatamento: A Política Externa Brasileira e a Questão Cubana (1959-1986) (Brasília: Funag, 2012, 376 p.; ISBN: 978-85-7631-381-6)

Poucos temas diplomáticos, ou políticos, foram, e são, tão passionais, no espectro ideológico, interno e externo, quanto a revolução cubana e as reações do Brasil em relação aos rumos do único regime marxista do hemisfério. Cuba é, ao mesmo tempo, um assunto diplomático e de política interna, com todas as paixões associadas a esse dossiê, que começa em 1959 e vem aos nossos dias. Esta tese de CAE, revista e ampliada, segue o relacionamento bilateral, e as implicações da revolução cubana durante a Guerra Fria, desde o ano inaugural da revolução até o reatamento e 1986, passando pelas crises de 1962 (suspensão de Cuba da OEA e crise dos mísseis soviéticos) e pelo rompimento, em 1964. Modelo de pesquisa histórica, e de apresentação de documentos diplomáticos, a nova obra é metodologicamente impecável, perfeita no plano redacional e excepcional no desenvolvimento do argumento.
  
[Brasília, 20-25 agosto 2012]