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sexta-feira, 17 de junho de 2011

Tragedia educacional brasileira: continuidade garantida

Alguém acredita que o Plano Nacional de Educação vai conseguir reduzir os índices alarmantes de mediocridade da educação brasileira, ou que 7% ou 10% do PIB investidos no setor vão mesmo contribuir para melhorar, pelo menos 1%, a má qualidade atual do ensino brasileiro?
Acho que os planos do governo ficam aquém das necessidades do setor.
Paulo Roberto de Almeida

Ministro defende investimento de 7% do PIB em educação; entidades pedem 10%
Agência Câmara, 16/06/2011

Fernando Haddad disse que o governo está "aberto ao diálogo".
O ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou nesta quarta-feira (15) que a meta de ampliação do investimento público em educação de 5% para 7% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2020 é "lógica". A declaração foi dada em um auditório lotado de professores e representantes de entidades civis que pedem a aplicação no setor de pelo menos 10% do PIB em dez anos.

A meta está prevista na proposta do governo, em tramitação na Câmara, que estabelece o Plano Nacional de Educação (PNE - PL 8035/10). O projeto já recebeu quase 3 mil emendas de deputados - muitas delas preveem o aumento das verbas para a área.

De acordo com Haddad, o valor levou em consideração as promessas de campanha da presidente Dilma Rousseff e os recursos necessários para que as metas previstas no projeto sejam atendidas. Segundo ele, a mudança representaria anualmente R$ 80 bilhões a mais para o setor.

O ministro também argumentou que o aumento de 2% em dez anos corresponde à ampliação do investimento público feito na área nos últimos anos. Segundo ele, foram destinados à educação, em média, 0,2% do PIB a mais por ano nos últimos cinco anos.

Haddad disse, porém, que o governo está disposto a negociar novos valores. A proposta que estabelece o PNE prevê 20 metas com temas diversos, além do financiamento do setor, como educação básica e superior, ensino especial, índices de qualidade e remuneração dos professores. "Agora é fazer conta. Temos verificar se as metas serão modificadas para mais e qual o impacto financeiro disso. Estamos à disposição para dialogar sobre um plano exequível", disse Haddad.

O debate com o ministro da Educação foi organizado pela comissão especial destinada a analisar a proposta do PNE. O prazo para emendas à proposta do governo já foi encerrado. Contudo, caso o relator, deputado Angelo Vanhoni (PT-PR), apresente um substitutivo a texto, o prazo será reaberto. A expectativa é que Vanhoni apresente seu parecer até o próximo mês de agosto.

Metas tímidas - Deputados presentes à reunião classificaram de tímidas as metas previstas na proposta do PNE. Além da meta de investimentos públicos, criticada por Ivan Valente (Psol-SP) e Fátima Bezerra (PT-RN), os deputados destacaram outros pontos que, segundo eles, ainda podem ser "mais ousados". Fátima Bezerra, presidente da Comissão de Educação e Cultura, defendeu a ampliação de 33% para 40% da meta de atendimento dos jovens de 18 a 24 anos no ensino superior.

A deputada, que apresentou cerca de 400 das quase 3 mil emendas à proposta, também sugeriu a equivalência entre os salários dos professores e aqueles dos outros profissionais de nível de escolaridade equivalente. O projeto do governo prevê apenas a "aproximação" dessas remunerações.

Ensino profissional - Uma das metas consideradas "pouco ousadas" na reunião foi a previsão de duplicação das matrículas da educação profissional técnica de nível médio até 2020. Fernando Haddad, porém, admitiu que esse número foi subestimado e pode ser revisto.

Para o deputado Artur Bruno (PT-CE), o ensino profissional foi desvalorizado durante anos e precisa de um investimento maior que aquele recebido pelos outros níveis de ensino. "O resultado das políticas equivocadas dos governos anteriores é que hoje vemos um apagão de mão de obra qualificada no País", disse.

Segundo Haddad, a meta de duplicação das matrículas do ensino profissional médio deve já em 2014. A aceleração, de acordo com o ministro, deve-se ao Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), instituído por um projeto de lei em tramitação na Câmara (PL 1209/11). O programa estabelece oferta de bolsas para estudantes, garantia de financiamento na rede privada de ensino e expansão das vagas em escolas públicas.

Reforma da educacao no Brasil: propostas consistentes (Castro, Oliveira, Schwartsman)

O Plano Nacional de Educação, que está sendo debatido pelo Congresso, deve ser muito pior do que uma lista de Papai Noel: ele deve ser o sonho de todo sindicalista da educação, prometendo melhorias salariais imediatas e aperfeiçoamento gradual dos professores apenas (quando der, claro).
Eu teria sido muito mais radical do que o que propõem os autores abaixo, todos respeitáveis especialistas e que sugerem apenas medidas factíveis, que poderiam ser aplicadas se tivéssemos outro governo e outro congresso. Acho que nem isso será considerado ou tem mínimas chances de ser sequer discutido.
Eu adotaria, por exemplo, novas regras para contratação de professores, criando uma categoria (não uma carreira) à parte da atual carreira, sem estabilidade, mas com bons salários e vinculados ao desempenho dos alunos. Os "velhos" poderiam aderir à nova, mas mesmo na velha passariam a receber por desempenho, acabando com a maldita isonomia.
Enquanto isso não acontecer, a educação não vai melhorar.
Paulo ROberto de Almeida

PNE É LISTA DE PAPAI NOEL
CLAUDIO DE MOURA CASTRO, J. B. ARAUJO E OLIVEIRA e SIMON SCHWARTZMAN
Folha de São Paulo, 16 de junho de 2011

O Congresso deverá aprovar o terceiro Plano Nacional de Educação (PNE) até novembro. A proposta do Executivo poderá sofrer emendas, mas dificilmente será alterada sua essência. Os dois planos anteriores oscilaram entre utopias e inconsequências. Não se espera nada diferente agora. O plano atual é uma versão mitigada do mesmo.

O PNE foi elaborado em processo participativo, que culminou em um grande Encontro Nacional de Educação. Sindicatos, associações e ONGs foram chamadas a se pronunciar. Resultou numa enorme lista de Papai Noel, posteriormente resumida na proposta elaborada pelo Ministério da Educação.

Mas o Ministério não tem escolas de nível básico, tampouco instrumentos para convencer prefeitos a gastar o prescrito ou operar de modo diferente. O mesmo acontece com os Estados. No caso de universidades federais, elas são autônomas. A realidade é que não se muda a sociedade, ou a educação, com planos grandiosos e metas genéricas. Mais dinheiro não implica melhores resultados. São necessárias políticas consistentes e persistência na implementação.

Nos anos 90, o Brasil universalizou o ensino fundamental; desde então, continua a expandir a educação na pré-escola e no ensino médio. Mas ainda persiste em grande escala o analfabetismo escolar e funcional, e o abandono escolar entre adolescentes não se reduz.

A melhoria dos resultados do Pisa, em 2009, é boa notícia, porque nossa qualidade estava estacionada há décadas. Mas é pouco, pois 55% dos jovens de 15 anos nas séries apropriadas ainda não sabem o mínimo requerido de linguagem, e 73% desconhecem o patamar básico em matemática. Formamos muito poucos com alto nível de desempenho; com isso, comprometemos a competitividade do país.

Não é fácil sair dessa situação. A experiência internacional indica caminhos que precisam ser trilhados. Alguns deles são:

1 – Mudar o sistema de gestão das escolas públicas: mais autonomia e responsabilidade pelos resultados; novas formas de parceria público-privada e veto à influência político-partidária na designação de gestores e professores nas secretarias de Educação;

2 – Definir com clareza conteúdos dos currículos nos diversos níveis de ensino e alinhar os materiais pedagógicos e sistemas de avaliação;

3 – Exigir que todas as crianças sejam alfabetizadas no primeiro ano do ensino fundamental, valendo-se de metodologias e materiais pedagógicos testados;

4 – Rever o sistema de formação e carreira de professores, que devem dominar os conteúdos como condição de ingresso, passar por período probatório de prática supervisionada e por processo de certificação;

5 – Facilitar e estimular o acesso de profissionais de nível superior e de estudantes de pós-graduação ao magistério;

6 – Permitir que o ensino médio se diferencie na pluralidade de opções acadêmicas e profissionais e que o Enem se transforme em um conjunto de certificações correspondentes ao leque de opções;

7 – Eliminar o ensino médio no período noturno;

8 – Mudar o atual sistema de educação de jovens e adultos para um leque de certificações distintas, sobretudo de natureza profissional.

Sabe-se que a execução de medidas como essas irá depender da clara definição das responsabilidades dos três níveis de governo. Isso, mais a revisão de vários aspectos da Lei de Diretrizes e Bases, pode ser objeto de lei. Ainda caberia à esfera federal estimular iniciativas de reforma bem conduzidas. Dessa forma, sim, teremos uma perspectiva para melhorar a educação.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A educacao no Brasil nao corre nenhum risco de melhorar... ao contrario, so pode piorar, e da pior forma possivel...

A educação no Brasil é a própria lei de Murphy: o que tiver de dar errado, vai dar, e da pior forma possível.
Por isso, eu sempre digo: sou moderadamente pessimista quanto ao itinerário da economia no Brasil. Acho que vamos continuar crescendo pouco e de forma medíocre, ou seja, sem muita inovação e com distorções se acumulando progressivamente, à medida que o Estado pretende fazer bondades para industriais amigos do rei (com o nosso dinheiro, claro).
Mas eu sou ABSOLUTAMENTE pessimista quanto aos caminhos da educação, já que acho que o que é ruim vai continuar piorando, da pior forma possível.
Para melhorar os péssimos indicadores de educação que exibimos hoje, seria preciso que as pessoas -- sobretudo as novas saúvas do MEC, as pedagogas freireanas -- tivessem consciência do que está errado e começassem a reformar essas coisas agora haver alguma chance de melhora dentro de 10 ou 15 anos. Como isso não ocorre, eu continuo a dizer: não há nenhuma chance de melhorar; ao contrário, só pode continuar piorando, para maior desgraça das crianças pobres e remediadas (aliás até dos ricos, já que os professores de escolas privadas e públicas não são muito diferentes, e foram formados pelas mesmas saúvas malucas que pululam por aí nos últimos 40 anos).
Desculpem, mas isso não é um ataque de pessimismo repentino. Isto é uma manifestação absolutamente realista sobre a ruindade da nossa educação, que se estende do pré-primário à pós-graduação.
O Brasil está se atrasando mentalmente, e a mediocrização do ensino é uma realidade palpável, em todos os níveis, em todos os lugares...
Paulo Roberto de Almeida

Outra disciplina no ensino básico
Editorial - O Estado de S.Paulo
16 de junho de 2011

Em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado, o representante do Conselho Nacional de Educação (CNE), Raimundo Feitosa, anunciou que o órgão está estudando a inclusão no currículo do ensino básico, a partir de 2012, de uma disciplina sobre direitos humanos. A proposta é prevista pelo polêmico Programa Nacional de Direitos Humanos, lançado em 2009 pelo governo Lula, e tem por objetivo disseminar valores escolares "livres de preconceitos sociais e raciais, violência, abuso sexual e intimidação".

Para facilitar a elaboração e a implementação dos contornos da nova disciplina, a Secretaria Nacional de Direitos Humanos encomendou a uma organização não governamental pernambucana - o Gabinete Jurídico de Apoio às Organizações Populares - um panorama do ensino de direitos humanos no País feito a partir de levantamentos nas 5.565 Secretarias Municipais da Educação. Iniciado em fevereiro, o trabalho deverá estar concluído em setembro e, segundo as estimativas de seus coordenadores, os princípios básicos de direitos humanos já estariam sendo ensinados em 40% dos municípios.

Se for aprovada pelo Congresso, essa será a quinta disciplina incluída no currículo do ensino médio nos últimos anos. As demais são filosofia, sociologia, música e espanhol. Quase todas foram introduzidas com apoio de movimentos sociais, ONGs e entidades corporativas, sob a justificativa de que tornam as aulas mais atrativas e ajudam na formação intelectual e cívica das crianças e adolescentes.

Para a maioria dos pedagogos, no entanto, a introdução dessas disciplinas não passa de modismo político e pedagógico. Segundo eles, quanto mais "inchado" for o currículo do ensino básico, mais o ensino das matérias consideradas fundamentais - português, matemática, ciências, história e geografia - é prejudicado. Como a carga horária não é elástica, para que novas disciplinas sejam oferecidas é preciso diminuir o número de aulas das matérias já existentes. Além disso, o número excessivo de disciplinas de desigual importância tende a tornar dispersivas as atividades em sala de aula e a sobrecarregar os professores - o que piora a já baixa qualidade da rede escolar pública.

Determinada mais por iniciativas políticas do que por critérios pedagógicos, a ampliação do número de disciplinas do ensino básico também dificulta a gestão escolar e compromete o planejamento educacional. Como não há professores especializados em número suficiente para lecionar as novas disciplinas, as escolas - principalmente as da rede pública - precisam improvisar, recorrendo a docentes de outras áreas do conhecimento, que vão lecionar matérias que não dominam.

Esse expediente está agravando o problema do déficit de professores das disciplinas tradicionais, especialmente de física, química, biologia e matemática, nas quais a situação é crítica. Há cerca de dois anos, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), vinculado ao Ministério da Educação, divulgou um levantamento que mostrava a necessidade de contratação de mais de 23,5 mil docentes de física e de química somente para as três séries do ensino médio. O quadro era tão grave que os conselheiros da Câmara de Ensino Básico do Conselho Nacional de Educação pediram medidas emergenciais - como o aproveitamento de estudantes universitários para suprir a carência nas áreas onde o déficit de professores é maior e concessão de incentivos para que os professores aposentados voltassem a lecionar. Em 2007, os conselheiros do CNE já haviam advertido para o risco de um "apagão escolar", caso o governo federal não investisse na expansão dos cursos de licenciatura dessas disciplinas e adotasse uma política de valorização docente, para estimular os formandos a ingressar no magistério público.

Se a qualidade do ensino fundamental e do ensino médio já é ruim, a introdução atabalhoada de novas disciplinas pode piorá-la ainda mais.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

"Progressos" da educacao brasileira: continuando um velho debate

Tem gente que não gosta de contemplar a realidade. Eu prefiro ver o mundo como ele é.
Por isso, de vez em quando, sem tempo para elaborar a respeito, permito-me postar aqui comentários de um jornalista conhecido que tem o dom de atrair almas ingênuas, que se sentem violentadas em seu desejo de ver em Paulo Freire e outros epígonos da idiotice nacional sumidades extraordinárias, quando eles só serviram para atrasar nossa educação.
Enfim, segue a provocação...
Paulo Roberto de Almeida

CAI DE NOVO A MÁSCARA DOS PETISTAS: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO QUER PROGRESSÃO CONTINUADA NO BRASIL INTEIRO; NA CAMPANHA, PARA ATINGIR SP, DILMA E MERCADANTE ATACARAM MODELO
Reinaldo Azevedo, 20/02/2011

Alguns leitores até de boa-fé me indagam de vez em quando se não exagero nas críticas ao PT. Bem, a resposta vai nos meus textos. Se eu achasse que sim, certamente mudaria de rumo. A exemplo da maioria dos que me lêem, também me quero um homem justo. O que posso fazer se a amoralidade dessa gente me enoja? Se vocês quiserem saber, incomoda-me menos o que pensam os petistas — embora absolutamente não me agrade — do que o que eles não pensam. “O que eles NÃO PENSAM o incomoda, Reinaldo? O que isso quer dizer?” Que seu escandaloso oportunismo corrói as noções elementares da civilidade política e impede o confronto honesto de idéias. São, antes de mais nada, agentes da vulgarização da mentira e da trapaça política. Seu único princípio — único — é conquistar o poder e nele permanecer. Os adversários de véspera podem se tornar aliados fraternos desde que aceitem se submeter às diretrizes do partido — e, nesse caso, o PT também sabe ser generoso. Lula, por palavras oblíquas, já chamou José Sarney de bandido em palanque. Hoje, o amor entre ambos é inquebrável e inquebrantável. Quem mudou? Nenhum dos dois! Feita essa consideração inicial, peço que vocês leiam um trecho de reportagem da VEJA desta semana.

Uma nova diretriz do Ministério da Educação (MEC) pode levar a uma transformação radical nas escolas brasileiras - públicas e particulares. Trata-se de abolir a repetência até o 3° ano do ensino fundamental, fase crucial da vida escolar, em que as crianças são alfabetizadas e começam a cultivar curiosidade pelos estudos. Caberá às escolas e às redes de ensino decidir se adotarão o sistema, mas, à luz da experiência com esse tipo de sinalização oficial, pode-se esperar que a maioria siga o ministério. É notícia que, à primeira vista, causa apreensão quanto à preservação da cobrança e do mérito, ingredientes essenciais para o progresso acadêmico. O bem-sucedido exemplo internacional pode ser útil ao Brasil. Países que aplicam modelo semelhante, como França e Japão, têm alcançado ótimos resultados, renovando o interesse pela sala de aula entre os alunos com mais dificuldade e reduzindo a evasão escolar”.

Voltei [RA]
Vocês leram direito. O ministro Fernando Haddad, da Educação, recomenda que se estenda ao Brasil inteiro a progressão continuada. Os leitores — e eleitores — de São Paulo, onde vigora o modelo, devem estar escandalizados. Aloizio Mercadante, hoje ministro da Ciência e Tecnologia (Jesus!), candidato ao governo de São Paulo, atacava a progressão com unhas, dentes e bigode — idéias, não, que seria pedir demais! Ela seria fonte de todos os males da educação no estado.

Em seu primeiro pronunciamento oficial, Dona Dilma Primeira, a Muda, falou sobre educação. E lá está uma menção oblíqua — e crítica — ao modelo vigente em São Paulo. Nos debates eleitorais, a então candidata do PT fustigou o sistema. No governo há menos de dois meses, ficamos sabendo que a prática deve ser estendida a todo país. E essa gente se olha no espelho e deve gostar do que vê! É um misto de psicopatia com sociopatia.

Atenção, leitores! Eu, pessoalmente, não gosto da dita progressão. Gente que entende da área me diz, no entanto, que, bem-aplicados um modelo ou outro (este ou o seriado), os resultados são mais ou menos equivalentes. A vantagem da progressão está em evitar a repetência numa fase em que o correto é aproximar o aluno da escola. Pois é… Por razões puramente políticas, por vigarice partidária, o modelo foi impiedosamente espancado na campanha eleitoral. Aderindo ao discurso mais bucéfalo, mas atrasado, mais canalha, os petistas passaram a chamá-lo de “aprovação automática”. Boa parte da imprensa, sempre tão apegada ao “progressismo”, assistiu calada à depredação dos fatos e da verdade.

O mais impressionante é que foi o PT que introduziu o modelo no país: Paulo Freire, então secretário da educação de Luíza Erundina na Prefeitura de São Paulo, implementou a progressão nas escolas municipais. Outras cidades aderiram. E então se expõe, mais uma vez, a natureza desse partido: o modelo que ele mesmo abraçou pode ser alvo do ataque mais feroz se for para atingir um adversário. A lista das “coisas que o PT não pensa” é gigantesca. O partido vai fazendo escolhas segundo as necessidades da hora.

Haddad vai tentar escapar: a resolução em favor da progressão continuada é do Conselho Nacional de Educação, não dele. Não tem força de lei. Trata-se de uma recomendação — RECOMENDAÇÃO ESTA QUE, ATENÇÃO, FOI HOMOLOGADA PELO MINISTRO AINDA NO FIM DO GOVERNO LULA. Vale dizer: enquanto Mercadante descia o sarrafo na progressão em São Paulo e Dilma fazia o mesmo em rede nacional, o ministro da Educação do PT, referendado no governo Dilma, abraçava a… progressão continuada!

Onde estava essa gente?
Informa o Estadão:
“O ensino fundamental tem 31 milhões de alunos estudando em 152 mil escolas, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Desse total, aproximadamente dez milhões estão matriculados nos três primeiros anos desse ciclo. Em 2009, a taxa de reprovação desses dez milhões de alunos foi de 5,1%. O índice é considerado alto pelos especialistas em pedagogia. ‘Isso mostra que, de cada cem crianças, cinco ainda são reprovadas logo que ingressam na escola. As pesquisas apontam que, se o aluno é reprovado nessa fase, dificilmente terá sucesso. A recomendação do CNE é para garantir que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos’, diz a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda.”

Onde estava Maria do Pilar durante a campanha eleitoral? Assistiu, então, calada à depredação da verdade? “Ah, mas progressão precisa de programas que estimulem os alunos e professores…” Pois é! Justamente o que havia e há ainda em São Paulo: dois professores no primeiro ano da alfabetização, programa de reciclagem de professores, promoção por mérito, premiação para as escolas que atinjam metas… Fez-se tábula rasa de tudo isso: permitiram que os hunos, especialmente o de bigode, atacassem o modelo da maneira mais primitiva, ignorando-se, inclusive, os números positivos que a reestruturação da educação em São Paulo passou a exibir.

Vejam este vídeo com Mercadante na sabatina da Folha. Ele promete acabar com a “progressão continuada” que, àquela altura, já havia sido homologada pelo também petista Fernando Haddad. Assistam. Volto em seguida:
(ver neste link)

Mercadante prometia dar o que já existe aula de reforço. É claríssimo: poria fim à progressão continuada, mas “sem reprovação, gente!”. Ah, entendi! E, como se nota, o Rio, que Dilma tomou como modelo de segurança pública, era o modelo de educação do petista… Todo esse talento está agora a serviço da “ciência e tecnologia”… Ao fim de quatro anos, talvez os brasileiros já tenham aprendido a subir em árvores. Andar de cipó, só no estágio seguinte!

“Ah, mas por que você pega no pé dos petistas?” Acho que esse texto responde. E corrijo: pego “nos pés” — em todos os que eles têm!

sábado, 19 de fevereiro de 2011

"Progressos" da educacao brasileira (e como...)

Sem comentários (e precisa?)...

O professor que levou o narcotráfico, a cocaína e o tráfico de armas para dentro da escola!
Reinaldo Azevedo, 19/02/11

Um professor de matemática da escola João Octávio dos Santos, que fica no Morro do São Bento, em Santos, resolveu aplicar uma estranha prova, conforme vocês verão abaixo. Leiam com atenção. Volto em seguida:

Por Talita Bedinelli, na Folha:
“Zaroio tem um fuzil AK-47 com um carregador de 80 balas. Em cada rajada ele gasta 13 balas. Quantas rajadas ele poderá disparar?”

A questão acima fazia parte de uma avaliação diagnóstica voltada para alunos de 14 anos de uma escola estadual de Santos (litoral de São Paulo), segundo pais e estudantes ouvidos pela Folha. O professor queria testar os conhecimentos em matemática dos alunos do ensino médio no primeiro dia de aula, na última segunda-feira.

Além da questão, eles deveriam responder a outros cinco problemas que versavam sobre a fabricação de cocaína e o lucro com a sua venda, o consumo de crack, a venda de heroína “batizada” e o dinheiro recebido por um assassinato encomendado. A prova, que teria conteúdo quase idêntico ao de mensagem que circula pela internet satirizando o crime organizado no Rio, teria sido aplicada em ao menos duas salas (uma de 3º ano e outra de 1º), com cerca de 80 alunos.

A Secretaria Estadual de Educação diz que o professor de matemática foi afastado e o caso será investigado. A prova deveria ser respondida e entregue ao professor, mas uma das alunas, de 14 anos, sem entender os enunciados, levou para a casa e pediu ajuda aos pais. “Fiquei chocada. Nas questões o crime só dá lucro”, diz a mãe da menina que procurou a direção da escola e registrou um boletim de ocorrência na polícia.

Segundo os estudantes, o professor dá aulas na escola há pelo menos cinco anos e já foi vice-diretor. Os estudantes dizem considerá-lo bom. “A gente viu as questões e deu risada. Se fosse algo mais suave ninguém teria prestado atenção”, diz Renato dos Santos Menezes, 18, estudante da sala do 3º ano que também fez a prova.

Uma aluna diz que em 2010 ele aplicou um exercício com conteúdo parecido. A questão, vista pela Folha, pedia para os estudantes calcularem quantas rotas de fuga teria uma quadrilha que vai assaltar uma joalheria em um shopping center.

A escola João Octávio dos Santos fica no Morro do São Bento, região com problemas de criminalidade. A Folha não localizou o professor, que pode ser indiciado por apologia ao crime.

Voltei [Reinaldo Azevedo]
E aí? Uma das cascatas mais vigaristas e influentes da educação reza que o “educador” deve respeitar o “universo do educando”, usando elementos do seu cotidiano para, a partir daí, fazer uma reflexão política. É coisa de esquerdopata, é óbvio. Seu maior teórico foi Paulo Freire, secretário da educação de Luíza Erundina na prefeitura de São Paulo e homem que introduziu em São Paulo o que ficou conhecido como “progressão continuada” — sim, é obra do PT!

Eis aí… Se o professor não é só um vapor barato do narcotráfico ou maluco, então tem na cabeça um monte dessas titicas paulo-freirianas. Ainda voltarei a esse assunto em outros posts: o dito-cujo é apenas a expressão mais pontualmente escandalosa de mal mais geral.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A tragedia da educacao brasileira - Percival Puggina

Apenas transcrevendo, com alguns comentários, e julgo ser suficientemente eloquente...

A crise dos trabalhadores em educação
por Percival Puggina
Mídia Sem Máscara, 17 de janeiro de 2011

Houve um tempo, longo tempo, tempo que cruza os séculos, em que o professor era símbolo de autoridade no pequeno e gigantesco espaço da sala de aula. Note-se que autoridade é um atributo moralmente superior ao poder, mas, quando fosse necessário, a valiosa autoridade do professor, fundada no saber e na conduta, vinha respaldada por poder. Nas últimas quatro décadas, infelizmente, a educação brasileira foi atacada em dois flancos pela esquerda delirante. E tanto a autoridade quanto o valor econômico e social do trabalho dos professores, reconhecidos há milênios em todas as civilizações, desabaram fragorosamente em nosso país.

Por um dos flancos, fustigou-a aquilo que Nelson Rodrigues chamava de Poder Jovem, acolhido entre aplausos por pedagogos de meia tigela como expressão de libertação para a criatividade. Todo poder ao jovem! A maturidade tornou-se um mal e a imaturidade, um bem a ser preservado. Era imprescindível erradicar as formas negativas da pedagogia. Coisas como certo e errado, sim e não, correção com caneta vermelha, entre outras práticas, precisavam ser substituídas por vaporosas sutilezas que não contrariassem os pupilos. Afinal, eles podem ser portadores natos de uma nova e superior forma de saber. Guardo como pérola desse disparate a frase do vate sergipano que adoça com sua voz aveludada os julgamentos do Supremo Tribunal Federal. No caso da reserva Raposa Serra do Sol, ele, o ministro Ayres Britto, em reverência à sabedoria indígena, lascou, citando Paulo Freire: “Não existe saber maior ou menor; existem apenas saberes diferentes”. De fato, o veterano Marco Aurélio Mello e o garoto Dias Toffoli exemplificam saberes diferentes, quantitativamente iguais, não é ministro? E viva Paulo Freire.

Pessoalmente ainda estou à espera de que algum desses guris maleducados das universidades brasileiras, depois de tantos anos de sua completa libertação, apresentem alguma contribuição à ciência, à técnica e à cultura nacional. Ao contrário, o que se vê é o país ocupando o 93º lugar no componente educação, entre 169 pesquisados. E não me surpreenderei se encontrar por aí doutos pedagogos convencidos de que o mundo, por pura inveja, se recusa a cair de joelhos diante da qualidade muito peculiar e superior do saber construído por nossos jovens. De minha parte, vejo o sucesso sempre ao alcance dos que queimaram pestana sobre os livros, levaram a sério seus estudos ou cavoucaram com responsabilidade seus espaços na vida pública ou na iniciativa privada, mediante capacidade de renúncia ao bem atual com vistas ao investimento no bem futuro maior. Esses jovens agem no contrafluxo do deslizamento que descrevi, arquitetado por uma escola de viés marxista, que está levando três anos inteiros para alfabetizar uma criança, quando nos meus anos de curso primário se aprendia isso em seis meses de aula. A educação, caro leitor, conceitual e deliberadamente, deixou de lado seus objetivos essenciais e se voltou para formar cidadãos conscientes, politicamente engajados. Enquanto não chegam lá, os cidadãozinhos treinam sua cidadaniazinha desrespeitando e espancando os professores.

Pelo outro flanco, e no mesmo tom, os professores politicamente engajados, abdicantes de sua autoridade, assumiram-se como "trabalhadores em educação". O conselheiro tutelar, escolhido em pleito de baixíssimo comparecimento, por força de preceito contra o qual nenhuma voz se ergue com suficiência, exerce mais autoridade nas escolas do que os professores ou os diretores. Estes, a seu turno, são, também eles, eleitos num concurso de promessas e de simpatia, com participação e engajamento dos alunos. No Brasil, amigo leitor, aluno vota para diretor! Vota para reitor de universidade! E ninguém se escandaliza! Por que será que os praças não elegem os comandantes e os pacientes não escolhem os diretores dos hospitais e centros de saúde? Quando o poste passa a desaguar no cachorro e o aluno a meter o dedo na cara do professor, ainda há quem se surpreenda.

O Ministério da Educação está veiculando nestes dias um comercial com o objetivo de ampliar o interesse pela carreira do magistério. Mostra uma obviedade: os povos que melhor se desenvolvem atribuem a seus professores o principal mérito por esses bons resultados. É claro que nossos professores ganham muito pouco, mas os maiores problemas, nesse particular, estão na péssima preparação dos graduados para o magistério e na falta de recursos didáticos nas escolas. De outra parte, veja quais os países bem sucedidos em seus objetivos sociais, com mais elevado Índice de Desenvolvimento Humano, que se reportam prioritariamente a fundamentos marxistas nas salas de aula e na formação de seus educadores. Duvido que encontre algum. A crise dos trabalhadores em educação é uma responsabilidade deles mesmos e das ideias que abraçam. É responsabilidade deles mesmos, como professores dos professores nos cursos de Educação, como alunos desses cursos na recepção passiva de ferramentas de trabalho comprovadamente erradas e ineficientes, como reprodutores acríticos do mau conhecimento adquirido. É, também, uma decorrência de suas reivindicações equivocadas, da busca de uma autonomia para fazer o que bem entendem que só é menor do que o desejo dos alunos de se comportarem do mesmo modo. É uma consequência de seus engajamentos, do desmonte que produziram na própria autoridade e dos líderes que vêm escolhendo para os representar.

Mas só aos professores, o senhor diz isso? Não, digo-o com muito maior ênfase a eles porque são, de fato, como informa a propaganda do MEC, os principais responsáveis pelo desenvolvimento social de qualquer nação. Enquanto os professores se submeterem às diretrizes de quem, com um tranco ideológico e partidário, os derruba à condição de meros trabalhadores em educação; enquanto se deixarem levar pelas cartilhas da pedagogia dominante; enquanto conviverem passivamente com a destruição de sua autoridade; enquanto tomarem como inegociável planos de carreira que nivelam competentes e incompetentes; e enquanto não refugarem uma organização que transforma o acesso ao comando da Escola em concurso de coleguismo e simpatia, viverão uma crise sem fim.

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Comentários (3)
3 Ter, 18 de janeiro de 2011 18:10 Paulo Barreto
Sou professsor do Ensino Fundamental II. Quero dizer que concordo plenamente com o artido de Percival Puggina. Passei recentemente num concurso para a Secretaria Municipal de Educação e Cultura e já estou com vontade de me demitir. Após assumir, embora já desconfiasse do que me esperava, constatei o que todos já sabem: que a educação pública é uma grande farsa. As escolas não passam de sucursal do inferno, os alunos, em sua maioria, são subalfabetizados, e os professores, ao mesmo tempo são vítimas e agentes do modelo descrito do artigo. Mas, ninguem fala em lutar por mudanças no modelo vigente, prefere-se viver de questiúnculas de repartição a encarar realisticamente a situação.

2 Seg, 17 de janeiro de 2011 21:31 Agapito Costa
Mais um brilhante comentário, que infelizmente poucos irão tomar conhecimento. Porém nos leva a muitas perguntas: a quem interessa tudo isso?
Vejamos: política e religião quando exercidas por pessoas desonestas formam simetrias perfeitas. Proliferam onde há miséria e ignorância:
Dentro desta linha de raciocínio pergunta-se.
Na atual conjuntura em que se encontra o “Brasil”, qual o político que gostaria de governar o pais tendo uma população de um bom nível de cultural ?
Por que tanto interesse em desarmar a população ?
E o sinistro “PNDH-3”, por que foi articulado nas caladas da noite ?

1 Seg, 17 de janeiro de 2011 15:43 Eduardo
Eu acho que a queda do respeito e e do nivel de educação coincidiu com a invasão do magisterio por professores militantes esquerdistas que privilegiam a doutrinação politica em prejuizo a educação verdadeira.

Nesse caso acho que o mercado regiu de forma coerente, já que tais individuos não merecem nem respeito e nem remureação digna, e é exatamente isso que eles recebem, ou pelo menos a maioria deles, visto que existem muitos mega-salarios nesse meio.

domingo, 17 de outubro de 2010

Interrupcao eleitoral (7): partidarização academica, Parte A: reitores servis...

Já vimos pior, por certo. Parafraseando Roberto Campos, que disse uma vez que "o Brasil é um país que não perde uma oportunidade de perder oportunidades", eu poderia dizer que a universidade pública brasileira não perde nenhuma oportunidade de afundar cada vez mais na mediocridade, na irrelevância, na partidarização vulgar e na instrumentalização sectária, por parte do baixo clero, obviamente, que neste governo virou alto clero.
Uma outra personalidade política disse algo em torno dos acadêmicos: os competentes se voltariam para o mercado de trabalho, e os incompetentes iam dar aulas. Talvez não seja o caso das ciências duras, mas nas ciências ditas humanas é certamente cada vez mais o caso. Elas são dominadas por aqueles militantes do baixo clero, que arrotam um pouco de gramscismo de ouvido por aqui (já que poucos leram Gramsci, de verdade), mais outro tanto de marxismo vulgar por ali (e bota vulgar nisso: antes era o próprio Marx, depois substituído por Althusser e finalmente por esse estupor da Marta Harnecker), e que não fazem nada a ser arrotar slogans em sala de aula.
Todo esse pessoal está seriamente engajado na campanha presidencial, a começar pelos reitores adesistas que fizeram um manifesto em favor da candidata oficial.
Já tive oportunidade de criticar esses reitores, assim que saiu o malfadado manifesto, reproduzido nas paginas da SBPC, hoje uma associação também tomada pelo partidarismo e pelo servilismo em relação ao poder.
Mandei uma carta para o Jornal da Ciência, mas ela não foi publicada.
Permito-me, portanto, primeiro remeter -- sem pretender fazer propaganda -- ao horroroso manifesto partidários dos reitores, transcrevendo o link onde ele pode ser encontrado, e depois o meu comentário em torno dele.

Manifesto de Reitores das Univ. Federais
EDUCAÇÃO – O BRASIL NO RUMO CERTO

(Manifesto de Reitores das Universidades Federais à Nação Brasileira)

(ler neste link)


Agora, a minha “Carta ao Jornal da Ciência sobre o Manifesto dos Reitores":

 
Sobre o item: “Reitores de Ifes divulgam manifesto em favor das ações em educação”, acredito que tanto o título quanto o conteúdo desse manifesto estejam essencialmente equivocados, talvez deliberadamente equivocados.
Não se trata de um manifesto em favor de ações, quaisquer que sejam elas, relativas à educação brasileira, mas de uma tomada de posição claramente partidária em favor de uma das candidaturas à cadeira presidencial.
Dispenso-me de comentar o conteúdo, os termos e os posicionamentos desse “manifesto”, diretamente vinculados a uma dessas candidaturas, que revelam, todos eles, a adoção de uma postura maniqueísta, divisionista e, no limite, sectária, de autoridades universitárias que deveriam manter-se independentes, embora não alheias, às escolhas político-eleitorais a que toda a comunidade acadêmica e o povo brasileiros são chamados a fazer neste mês de outubro.
Os reitores sabem muito bem que os universitários, em geral, e os professores em particular, possuem discernimento suficiente para fazer suas próprias opções eleitorais, com base num julgamento autônomo das posturas e propostas eleitorais de cada candidato, e não precisam ser induzidos, em nome de suas instituições, a tomar esta ou aquela atitude. Que esses reitores -- e não todos -- o tenham feito é revelador do ambiente de divisionismo político, e de arregimentação partidária, que tende a fraturar instituições que deveriam estar abertas a todas as propostas políticas de modo tolerante e democrático.
Mais ainda: como autoridades de instituições públicas, estatais em sua maior parte, os reitores deveriam dar o exemplo e se manterem neutros, ou apartidários, nesta conjuntura eleitoral. O fato de que tenham feito uma opção deliberada -- o que é o seu pleno direito no plano cidadão e individual, mas não como reitores -- por uma dessas candidaturas, de modo tão servil quanto ridiculamente publicitário, em favor da candidata oficial do governo Lula, é não apenas lamentável no plano da ética pública, como deplorável no plano da simples relação republicana -- para usar um termo da moda -- que deveria comandar pelo menos isenção quanto às escolhas que a comunidade acadêmica deverá novamente fazer em 31 de outubro.
Trata-se de mais um péssimo exemplo de mobilização de instituições públicas em favor de uma postura político-partidária. Meus cumprimentos aos reitores que não aderiram a esse panfleto eleitoral e meus pêsames, acadêmicos, aos que servilmente o fizeram.
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Paulo Roberto Almeida

sábado, 16 de outubro de 2010

Um retrato da nossa miseria academica: infelizmente, sobrou isso...

Apenas um pequeno trecho de uma mensagem recebida de um dos nossos academicos a propósito da situação atual da universidade brasileira e das políticas supostamente propostas e apoiadas pelos candidatos das duas coalizões em luta pela presidência atualmente.
Destaque-se apenas o maniqueísmo artificial, o divisionismo reducionista, o simplismo analítico e a má-fé dos argumentos que defendem uma posição e atacam a outra. Nunca antes neste país, a ignorância dominou tanto e tão amplamente as consciências daqueles que hipoteticamente deveriam ser melhores do que a média. Nuca antes neste país, a mediocridade avançou tanto e tão rapidamente, a galope, praticamente, para tornar a universidade pública ainda mais distante da realidade do que ela já era.
Enfim, não tenho nenhuma ilusão de que a média dos leitores deste blog concorde comigo, mas não vou deixar, por causa disso, de expressar o que penso a respeito de uma situação que considero lamentável, um perfeito retrato de nosso subdesenvolvimento mental, uma receita acabada para prolongar o surrealismo acadêmico e a irrelevância universitária para resolver os problemas do Brasil.
Isso ocorre no chamado "andar de cima", para usar as palavras de um famoso jornalista, que na verdade só tem palavras, muita forma, muito estilo, para pouco conteúdo, para nenhuma realidade.
No "andar de baixo", infelizmente, grassa o mais elementar e idiota repasto bovino das pedagogas freireanas, o mais acabado conjunto de sandices pedagógicas que nos foi dado completar. Esse pessoal não é ao menos criativo: fica repetindo o que disse um alucionado no início dos anos 1960, sem ter conseguido, até agora, formular nada de minimamente inteligente.
A miséria pedagógica e a tragédia educacional vão continuar por muito tempo no Brasil.
Deixo vocês com esse trecho magnifico da nossa idiossincrasia acadêmica.
Paulo Roberto de Almeida

Recebido de um correspondente, em debate sobre a universidade e as eleições:

Se Gramsci dizia que devemos transcender as demandas corporativas, isso não significa que elas não possuem relevância, mas sim que elas devem ser articuladas em um projeto maior de hegemonia. A questão é: quais demandas atender e como?

Ao meu ver, o governo FHC, em vista de sua opção por uma inserção subordinada no sistema internacional, e de desmontar o Estado desenvolvimentista, optou, na área da educação superior por dar total apoio ao ensino privado e esmagar o conjunto do sistema federal.

Há relatórios do MEC deste período que expressamente afirmam que as universidades federais são apenas fontes de custo. Já o governo Lula, embora não tenha contrariado frontalmente os interesses do ensino privado, conseguiu re-equipar e fortalecer as universidades federais, o que se insere em seu programa desenvolvimentistas, mesmo com todas as suas ambigüidades.


Chega, isso já dá uma ideia do conjunto.
Não tenho nenhuma ilusão, ou esperança de que a situação reverta, ou melhore, any time soon. Temos isso, e teremos isso, pelo futuro indefinido...
Paulo Roberto de Almeida

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Tragedia educacional brasileira (2) - os problemas brasileiros

Na verdade, os problemas da educação no Brasil são muito mais graves do que indica esta matéria. Em todo caso, cabe falar, sempre, da gravidade do problema.
Paulo Roberto de Almeida

Os nós que terão de ser desatados para o país se desenvolver de fato
Paulo de Camargo
O Estado de S.Paulo, 3/10/2010

Pelo menos 75% dos brasileiros não dominam a leitura, a escrita e a matemática; e Brasil sofre com falta de mão de obra qualificada
Para pôr o Brasil num novo patamar de desenvolvimento econômico e social, o presidente eleito terá que desatar os nós que ainda emperram o crescimento sustentado do país. Investir fortemente em educação, saúde e segurança, aprovar reformas essenciais no Congresso e resolver os gargalos na infraestrutura. Os problemas na área social, na economia e na política aparecem em estatísticas e análises de especialistas.

Alguns foram abordados na campanha eleitoral, mas de forma superficial. No governo, o próximo presidente terá que arregaçar as mangas e usar o capital político tirado das urnas, se quiser, de fato, colocar o país definitivamente nos trilhos do desenvolvimento.

Em 2009, segundo o IBGE, 29,3 milhões de brasileiros, ou 20,3% da população, eram analfabetos funcionais. Essas pessoas sabem escrever o próprio nome, mas não conseguem compreender o que leem.

Só 25% dos brasileiros dominam a escrita, a leitura e a matemática para se expressar e entender o que está à sua volta no contexto econômico e tecnológico atual. O dado, do Indicador de Analfabetismo Funcional 2009, produzido pelo Instituto Paulo Montenegro, é esclarecedor para entender os graves problemas de falta de mão de obra qualificada que o país terá de superar na busca pelo crescimento sustentado.

No topo da lista de reclamações da indústria brasileira, a falta de mão de obra qualificada é apontada pelo governo como o principal desafio a ser enfrentado para atender às demandas crescentes da economia.

Ainda de acordo com o IBGE, apenas 37,9% dos jovens, com idade entre 18 e 24 anos, tinham 11 de estudo, em 2009, o que torna difícil o cumprimento da exigência constitucional de ampliação do ensino obrigatório, de nove para 14 anos, a partir de 2016.

- Está claro que o problema da educação no Brasil, principalmente o analfabetismo, tem endereço e confirma a exclusão histórica brasileira. Para levar o país ao mesmo nível de países como Chile e Argentina, é preciso resolver o gargalo do analfabetismo e ampliar o ensino superior.

Na velocidade em que vamos, vai levar muito tempo - afirma o diretor de estudos sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Jorge Abrahão.

Analfabetismo é face da exclusão

Ele lembra que existem 50 milhões de vagas no ensino médio, o que não é trivial, mas considera ser preciso ampliar a educação básica e melhorar sua qualidade.

O problema mais grave, na visão de Abraão, é o analfabetismo entre adultos: - Significa que determinada faixa etária não teve acesso aos bancos escolares no momento adequado. Isso deveria ser tratado como uma preocupação nacional pelos três níveis de governo.

Outro desafio a ser enfrentado de imediato, na visão do cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília, é uma reforma administrativa para melhorar os sistemas de governança na educação e em outras áreas básicas, como a saúde.

- Há graves problemas de governança na educação, com uma prestação de serviços muito assimétrica por parte da União, estados e municípios - destaca Barreto.
(Regina Alvarez e Vivian Oswald)

Educação para desenvolver o país

Transformar a profissão de professor em "objeto de desejo" e criar um indicador nacional capaz de medir o número de crianças alfabetizadas até 8 anos são, para Mozart Neves Ramos, conselheiro do Todos Pela Educação, os principais desafios que o próximo presidente terá de enfrentar. Leia entrevista:

- Quais os principais desafios para o próximo presidente?

Temos um déficit de 250 mil professores no ensino médio, área em que o Brasil estagnou nos últimos oito anos. Para mudar, o maior desafio é a valorização do professor. Em países como Coreia e Finlândia, os melhores querem ser professores, porque a carreira é pautada no mérito, a formação é excelente e as condições de trabalho são muito boas. Então, passa a ser objeto de desejo ser professor. É o que precisa acontecer por aqui. Além disso, o governo devia criar um exame que nos dê um indicador nacional do número de crianças alfabetizadas até os 8 anos. O Ideb e a Prova Brasil foram um avanço, mas é preciso mais.

- Como diminuir o analfabetismo funcional?

É preciso que sejam implantadas políticas públicas que possam ir além da educação formal em sala de aula. Bibliotecas promovem conhecimento, mas lan houses também podem ser importantes. Jovens com baixo nível de escolaridade costumam frequentar, o que mostra que a tecnologia chega antes da escolaridade. É preciso alinhar a escola com programas culturais, como cinema, música e teatro. Hoje, 40% dos alunos que deixam a escola, desistem porque estão desmotivados.

- O que é preciso para que mais pessoas tenham acesso à educação?

Entender que a melhor forma de desenvolver o país é a partir da educação, que pode consolidar o desenvolvimento econômico e o social. Um ano a mais de escolaridade impacta em 15% mais de renda. É essa riqueza que tem que ser distribuída.
(O Globo, 3/10)

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3. América Latina define plano para melhorar a educação

Acordo assinado por 22 países do continente prevê nove metas gerais e 27 específicas para 2021, além da criação de um fundo de US$ 5 bilhões
Pela primeira vez na história, 22 países latino-americanos assinaram um pacto em favor da qualidade na educação. O documento Metas 2021 foi firmado no mês passado, em Buenos Aires, por ministros e representantes de ministérios da Educação e será ratificado na cúpula de chefes de Estado em dezembro, na Argentina.

O documento foi costurado durante dois anos pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) e prevê 9 metas gerais e 27 específicas, além da dotação de recursos e de um processo permanente de avaliação, que será coordenado pelo México.

Segundo o presidente da OEI, Alvaro Marchesi, os ministros se comprometeram a investir cerca de 10% do total de seu orçamento anual para alcançar as metas conjuntas, o que totalizará US$ 104 bilhões.

O acordo definiu a criação do Fundo Solidário de Coesão, que deve chegar US$ 5 bilhões, destinado a apoiar os países mais carentes. Alimentado por doações voluntárias de governos, empresas e ONGs, o fundo nasce com duas contribuições importantes. O presidente do BBVA, Henrique Iglesias, anunciou US$ 520 milhões - quantia semelhante será doada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

As metas definidas atendem a demandas comuns que afligem os países em diversos níveis: da educação infantil ao ensino superior, passando pela educação profissionalizante e o atendimento a portadores de necessidades especiais. Cada país definirá as estratégias para alcançar as metas, assim como as prioridades de investimento.

Para o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Brasil, André Lázaro, o plano tem um desenho inteligente e acerta ao respeitar a livre iniciativa dos países, pois está focado em resultados, não em processos. Cada meta possui um indicador almejado. Assim, por exemplo, a terceira meta corresponde ao aumento da oferta de educação infantil.

Os países da região devem elevar até 100% o atendimento educacional de crianças de 3 a 6 anos até 2021. Espera-se também que o porcentual de formandos no ensino médio esteja entre 60% e 90% do total de alunos. Hoje, no Brasil, o índice está em torno de 50%.

Os governos aceitaram ainda elevar o rendimento dos alunos nos exames internacionais, diminuindo em pelo menos 20% a proporção de estudantes situados nos níveis mais baixos de provas como a do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, em inglês).

Tragedia educacional brasileira - programa para a America Latina

Nao tenho certeza de que a solução para nossas carências educacionais passe por qualquer programa de âmbito continental, ou até pela constituição de um Fundo. Dinheiro vindo de fontes distantes sempre é usado de forma irresponsável, se vocês percebem o que eu quero dizer...
Entendo que o Brasil tenha capacidade de fazer um diagnóstico correto de seus problemas educacionais e empenhar seus próprios recursos na solução desses problemas.
Entendo também que nossos problemas começam com a tragédia da tal de pedagogia "freireana", de Paulo Freire, uma fraude educacional completa, uma demagogia política ultrapassada, que vem arrastando a educação brasileira para o pântano em que se encontra atualmente. Parece que não estamos prontos, ainda, para superar nossos problemas, pois nem um diagnóstico correto sabemos fazer.
Ou seja, a tragédia vai continuar durante muito tempo.
Paulo Roberto de Almeida

América Latina define plano para melhorar a educação
Paulo de Camargo
O Estado de S.Paulo, 3/10/2010


Acordo assinado por 22 países do continente prevê nove metas gerais e 27 específicas para 2021, além da criação de um fundo de US$ 5 bilhões
Pela primeira vez na história, 22 países latino-americanos assinaram um pacto em favor da qualidade na educação. O documento Metas 2021 foi firmado no mês passado, em Buenos Aires, por ministros e representantes de ministérios da Educação e será ratificado na cúpula de chefes de Estado em dezembro, na Argentina.

O documento foi costurado durante dois anos pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) e prevê 9 metas gerais e 27 específicas, além da dotação de recursos e de um processo permanente de avaliação, que será coordenado pelo México.

Segundo o presidente da OEI, Alvaro Marchesi, os ministros se comprometeram a investir cerca de 10% do total de seu orçamento anual para alcançar as metas conjuntas, o que totalizará US$ 104 bilhões.

O acordo definiu a criação do Fundo Solidário de Coesão, que deve chegar US$ 5 bilhões, destinado a apoiar os países mais carentes. Alimentado por doações voluntárias de governos, empresas e ONGs, o fundo nasce com duas contribuições importantes. O presidente do BBVA, Henrique Iglesias, anunciou US$ 520 milhões - quantia semelhante será doada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

As metas definidas atendem a demandas comuns que afligem os países em diversos níveis: da educação infantil ao ensino superior, passando pela educação profissionalizante e o atendimento a portadores de necessidades especiais. Cada país definirá as estratégias para alcançar as metas, assim como as prioridades de investimento.

Para o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Brasil, André Lázaro, o plano tem um desenho inteligente e acerta ao respeitar a livre iniciativa dos países, pois está focado em resultados, não em processos. Cada meta possui um indicador almejado. Assim, por exemplo, a terceira meta corresponde ao aumento da oferta de educação infantil.

Os países da região devem elevar até 100% o atendimento educacional de crianças de 3 a 6 anos até 2021. Espera-se também que o porcentual de formandos no ensino médio esteja entre 60% e 90% do total de alunos. Hoje, no Brasil, o índice está em torno de 50%.

Os governos aceitaram ainda elevar o rendimento dos alunos nos exames internacionais, diminuindo em pelo menos 20% a proporção de estudantes situados nos níveis mais baixos de provas como a do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, em inglês).

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Tragedia educacional latino-americana: nem perto de solucao

Para solucionar um problema, primeiro é preciso reconhecer que ele existe, segundo se colocar de acordo sobre soluções possíveis.
Bem, se partimos da premissa que está tudo bem, que não existe problema, aí já podemos desistir de qualquer solução: ela não virá, pelos próximos anos.
Essa é a situação da educação na América Latina.
A tragédia vai nos acompanhar por muito tempo mais...
Paulo Roberto de Almeida

El rezago educativo latinoamericano
Andrés Oppenheimer
El Nuevo Herald, domingo, 09.26.2010

Cuando le pregunté a Bill Gates en una entrevista sobre la convicción muy difundida en Latinoamérica de que la región tiene algunas de las mejores universidades y centros de investigación científica del mundo, el fundador de Microsoft me miró con cara de asombro. ¿De veras creen eso?, me preguntó.

Si los latinoamericanos están satisfechos con sus sistemas de educación pública --tal como lo revelan las encuestas-- la región está en problemas, señaló. El secreto del éxito educativo y tecnológico de países como China e India es la humildad, y cierta dosis de paranoia, me dijo Gates.

En efecto, Latinoamérica podría beneficiarse de una pequeña dosis de paranoia constructiva respecto a la educación, ciencia, tecnología e innovación.

Según una encuesta de Gallup realizada y el Banco Inter-Americano de Desarrollo, los latinoamericanos están mucho más satisfechos con sus sistemas educativos que los estadounidenses, los alemanes o los japoneses, a pesar de que los países latinoamericanos figuran entre los últimos puestos en las pruebas estudiantiles y en los rankings internacionales de educación.

Mientras el 85 por ciento de los costarricenses y el 84 por ciento de los venezolanos están satisfechos con sus sistemas de educación pública, sólo el 66 por ciento de los alemanes y el 67 por ciento de los estadounidenses están conformes con los suyos, dice la encuesta.
Simultáneamente, cuando uno mira los resultados del test PISA de jóvenes de 15 años en todo el mundo, se encuentra con que mientras los estudiantes de Hong Kong, China, sacan un promedio de 550 puntos en matemáticas, los de Corea del Sur 542 puntos y los de Estados Unidos 483 puntos, los estudiantes de Brasil, México, Argentina, Chile y Perú sacan un promedio de 400 puntos, y en otros países de la región mucho menos.

En la educación superior y la investigación, las estadísticas son tanto o más preocupantes.
• No hay una sola universidad latinoamericana entre las 100 primeras instituciones de educación superior del mundo, según el ``Ranking del Suplemento de Educación Superior del Times 2009-2010''. Un ranking similar de la Universidad Shanghai Jiao Tong, de China, tampoco incluye a ninguna universidad latinoamericana entre las mejores 100, a pesar de que Brasil y México figuran entre las 13 economías más grandes del mundo.
• De todas las inversiones en investigación y desarrollo en todo el mundo, menos del 2 por ciento se realizan en Latinoamérica, según el Observatorio Iberoamericano de Ciencia y Tecnología (RICYT). Comparativamente, casi el 30 por ciento de las inversiones mundiales para investigación y desarrollo se realizan en países asiáticos, añade el informe.
• Mientras China invierte el 1.4 por ciento de su PBI en investigación y desarrollo --la mayor parte proveniente del sector privado-- Brasil invierte tan sólo el 0.9 por ciento, Argentina el 0.6 por ciento, México el 0.4 por ciento y Colombia y Perú el 0.1 por ciento, respectivamente.
• En materia de investigación, mientras un país asiático relativamente pequeño como Corea del Sur, que hace apenas cincuenta años era mucho más pobre que la mayoría de los países latinoamericanos, registra 80,000 patentes anuales en todo el mundo, Brasil sólo logra registrar 600 patentes por año, México unas 300, y Argentina 80, según la Organización Mundial de la Propiedad Intelectual.
• Sólo el 27 por ciento de los jóvenes latinoamericanos en edad universitaria están inscriptos en instituciones de educación superior, comparado con el 69 por ciento de sus pares de los países industrializados, según la Organización para la Cooperación Económica y el Desarrollo (OECD).

¿Puede América Latina remontar este rezago? Por supuesto que sí.
Durante la investigación que realicé en los últimos cinco años sobre la educación en el mundo, encontré ejemplos muy concretos que podrían mejorar rápidamente la calidad educativa en toda Latinoamérica, y también en Estados Unidos.

Chile creó un fondo de 6,000 millones de dólares para otorgar 6,500 becas anuales a graduados universitarios para que hagan doctorados --casi todos en ciencias e ingeniería-- en las mejores universidades de Estados Unidos y Europa.

Uruguay se ha convertido en el primer país del mundo en darle una computadora laptop a cada niño en las escuelas públicas. En Brasil se ha generado un exitoso movimiento ciudadano que está impulsando mejoras en la calidad educativa. Los ejemplos esperanzadores abundan.
Pero el primer paso debe ser acabar con el triunfalismo --como el reflejado en la reciente declaración del presidente mexicano Felipe Calderón de que México es una ``fortaleza'' educativa --y, como decía Gates, ser más humildes. Sólo así, con una sana dosis de paranoia constructiva, como la de los asiáticos, podremos vencer la complacencia, crecer más y reducir más rápidamente la pobreza.
........
Nota de la Redacción: Esta columna esta basada en el nuevo libro de Andrés Oppenheimer: !BASTA DE HISTORIAS!: La obsesión latinoamericana con el pasado, y las 12 claves del futuro (Random House-Debate, 2010).

sábado, 25 de setembro de 2010

Doacoes educacionais nos EUA e a tragedia educacional brasileira

(com desculpas pela falta de acento, mas e' defeito do sistema, nao meu).

Os frequentadores bem informados deste blog ja leram, ou pelo menos ja ouviram falar, que o jovem milionario criador do Facebook -- programa inovador que muitos aqui devem usar -- resolveu doar milhoes de sua fortuna legitimamente adquirida para as escolas publicas de sua regiao de origem, nos EUA. Trata-se de dinheiro consideravel, para qualquer padrao de riqueza que se considere, mesmo nos EUA.
Mas, atencao: ele nao esta' dando o dinheiro asi no mas... Nao se trata de doaçao unilateral e nao controlada. As condicoes para o beneficiario estao sendo estabelecidas, e elas compreendem, como geralmente ocorre nesse tipo de açao, um compromisso to match, ou seja, alcançar os mesmos valores sendo ofertados de outras fontes, o que na verdade representa um estimulo para as autoridades e para toda a comunidade no sentido de se mobilizar para melhorar os padroes, reconhecidamente muito fracos, do ensino publico americano (ainda assim muito melhores do que os da escola publica brasileira).
Atente-se tambem para o fato de que o uso do dinheiro para contratar mais professores esta' vinculado 'a exigencia de que estes tenham sua remuneracao vinculada ao desempenho dos estudantes, o que e' o minimo que se possa exigir de empregados em qualquer setor da economia: so se mantem o emprego e os salarios de quem "deliver", ou seja, quem cumpre com suas obrigacoes, o que no caso dos professores compreende fazer com que seus alunos tenham um bom desempenho em termos de resultados pedagogicos.
De fato, a tragedia educacional, nos EUA ou no Brasil (infinitamente muito pior) nao se resolve apenas com mais injecao de recursos nos mesmos canais viciados e esclerosados de um sistema publico ineficiente e incapaz de mudar por vontade propria. Mafias sindicais comprometidos com um "isonomismo" mediocrizante impedem a melhoria dos padroes, ao exigir sempre mais vantagens sem dar nada em troca.
Isso precisa acabar, mas sou extremamente pessimista quanto suas possibilidades no Brasil. Na verdade, se teria de comecar uma carreira paralela de professores, sem estabilidade, cujos salarios dependesse basicamente do desempenho dos seus alunos.
Impossivel de fazer? Entao vamos continuar na tragedia por muuuuuuito tempo mais...
Paulo Roberto de Almeida

Editorial
Facebook and Newark
The New York Times, September 24, 2010, p. A28

It is good news that Mark Zuckerberg, chief executive of Facebook, is donating $100 million to remake the failing public schools in Newark. But it will take a lot more than money to improve student performance in that city’s troubled system, which has continued to perform dismally since being taken over by the state 15 years ago. Mayor Cory Booker, who will get substantial control of the system as a condition of the donation, must now rally his city and its unions behind an ambitious reform plan that raises standards and holds teachers and principals accountable for student performance.

The $100 million gift requires the city to raise matching grants over the next five years. Details of how the money will be spent have yet to be released. But Mr. Booker is likely to expand Newark’s high-performing charter schools. By giving charter operators space — always the most expensive part of opening a school — Mr. Booker could easily chose from among the most successful charter school operators.

The money also could be used to pay for a new, performance-based teachers’ contract like the one ratified earlier this year in Washington. The teachers there got a 20 percent raise that was underwritten by private foundations. The city got greater leeway to promote and fire teachers based on performance. This is a pivotal moment for Newark. It will soon be searching for a new superintendent and needs to negotiate contracts with teachers and principals.

Gov. Chris Christie is getting credit for allowing the deal to go forward. But bear in mind that he attacked the public school budget with a meat ax soon after coming into office, turning back the clock on hard-won financing reforms that were intended to give poor cities like Newark a fairer shake. Beyond that, states and municipalities need to be wary of shifting public responsibilities onto the shoulders of philanthropies that can easily change their minds by the next cause.

Still, the reform effort shaping up in Newark gives us reason to be hopeful about a problem that has afflicted the city and its most vulnerable families for too long.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A tragedia educacional brasileira: um projeto para afundar o pais

Parece que é isso: políticos, militantes sindicais e políticos, responsáveis governamentais, agitadores de ONGs racialistas fizeram um complô para afundar a educação brasileira e imbecilizar o país.
Bem, não acredito em teorias conspiratórias, mas se acreditasse, eu teria todas as confirmações de que todos esses militantes de causas perdidas se organizaram para impedir o Brasil de se desenvolver.
Paulo Roberto de Almeida

Prometem cidadãos, entregam maus alunos
CARLOS ALBERTO SARDENBERG *
O GLOBO - 19/08/10

Há algum tempo, em visita ao Brasil, um diretor do Ministério da Educação da China alinhava as razões pelas quais seu país logo seria a segunda potência econômica do mundo. Além dos motivos clássicos - rápido crescimento, elevado nível de poupança e investimento, muita pesquisa em novas tecnologias, escola de qualidade - acrescentou um que chamou a atenção: na China, dizia, com orgulho, há 300 milhões de jovens estudando inglês, bom inglês. E isso é igual à população dos Estados Unidos, onde nem todo mundo fala inglês, acrescentava, com satisfeita ironia.
Quantos jovens estudam inglês a sério no Brasil? E quantos nas escolas públicas? Em compensação, nos últimos três anos, conforme leis aprovadas no Congresso, os alunos do ensino básico brasileiro passaram a ter aulas de filosofia, sociologia, artes, música, cultura afro-brasileira e indígena, direitos das crianças, adolescentes e idosos, educação para o trânsito e meio ambiente.
Como não aumentaram o número de horas/aula nem o número de dias letivos, é óbvio que o novo currículo reduz as horas dedicadas a essas coisas banais como português, matemática e ciências.
Vamos falar francamente: isto não tem o menor sentido. É um sinal eloquente de como estão erradas as agendas brasileiras.
Dirão: mas nossas escolas precisam formar cidadãos conscientes, não apenas bons alunos.
Está bem. Então vai aqui a sugestão: dedicar os sábados e talvez algumas manhãs de domingo para essa formação. Não há melhor maneira de conhecer a cultura indígena do que visitar aldeias, aos sábados, um passeio educativo. Artes plásticas? Nos museus e nas oficinas. Música? Que tal orquestras e bandas que ensaiariam aos sábados ou durante a semana depois das aulas? Meio ambiente? Visitas às florestas e parques. Consciência de trânsito? Um sábado acompanhando os funcionários pelas cidades.
E assim por diante. Como aliás se faz nos países asiáticos, conhecidos pela qualidade de seu ensino. Mas é mais complicado, exige organização, um pouco mais de dinheiro, mais trabalho, especialmente nos fins de semana, e professores e instrutores mais qualificados e entusiasmados com as funções, obviamente com boa remuneração.
Em vez disso, determina-se a inclusão de algumas aulas no currículo e está completa a enganação: ninguém vai aprender a sério nenhuma dessas "disciplinas do cidadão", assim como a maioria não aprende a contento português, matemática e ciências.
Inglês então, nem se fala, porque aí tem um componente ideológico. É a língua do imperialismo. (Embora seja provável que dentro em pouco seja a língua do imperialismo chinês).
Mas reparem que, quando se trata de estudar mesmo, nem essa ideologia esquerdo-latina ajuda. Diz o pessoal: como estudar inglês se somos todos latino-americanos, bolivarianos e amamos Chávez? Vai daí que vamos ensinar o espanhol a sério? Já seria uma grande ajuda, mas esquece.
Até já se disse que o espanhol seria obrigatório, mas não vingou. Talvez porque o espanhol seja a língua dos colonizadores? Não se espantem se alguma emenda mandar que todos aqui estudem as línguas dos índios.
A sério: todos os testes, nacionais e internacionais, mostram que nossos alunos vão mal em português, matemática e ciências. Todos os estudos mostram que isso cria um enorme problema para as pessoas e para o país. Para as pessoas, porque não conseguem emprego numa economia da era do conhecimento. E para o país, porque, com uma mão de obra não qualificada, perde a batalha crucial dos nossos dias, a da produtividade tecnológica.
Reparem: isso é sabido, provado e demonstrado. E fica por isso mesmo.
Por isso mesmo, não. Tiram tempo de português para incluir uma rápida enganação de cultura afro.
A agenda equivocada atravessa todo o ensino brasileiro. Nada contra as ciências sociais e as artes, mas, responda sinceramente, caro leitor, cara leitora, é normal, é razoável que a PUC-Rio tenha formado, no ano passado, 27 bacharéis em cinema, três físicos e dois matemáticos? É normal que, em 2008, as faculdades de todo o Brasil tenham formado 1.114 físicos, 1.972 matemáticos e 2.066 modistas? Como comentou o cineasta e humanista João Moreira Salles, em evento recente da Rádio CBN, nem Hollywood tem emprego para tantos cineastas quanto os que são formados por aqui. E sobre 128 cursos superiores de moda no Brasil: "Alimento o pesadelo de que, em alguns anos, os aviões não decolarão, mas todos nós seremos muito elegantes." Duvido. As escolas de moda precisariam ser eficientes, o que está longe da realidade.
Na verdade, há aqui uma perversidade sem tamanho. As pessoas das classes mais pobres e os pais que não estudaram já estão convencidos que seus filhos não vão longe sem estudo.
Tiram isso, com sabedoria, de sua própria experiência. E fazem um sacrifício danado para colocar os filhos nas escolas e levá-los até a faculdade, particular, paga, na maior parte dos casos.
Quando conseguem, topam com a perversidade: os rapazes e as moças pegam o diploma superior, mas não estão prontos para o trabalho qualificado.
Com o diploma, caro, guardado em casa, fazem concurso para gari, por exemplo.
Uma injustiça com as famílias pobres, um custo enorme para o país e a desmoralização do estudo.
Se tivessem planejado algo para atrasar o país, não teriam conseguido tanto êxito.

*Carlos Alberto Sardenberg é jornalista.

http://aspirantesdiplomaticos.politicaexterna.com/2010/08/24/questionario-respondido-por-paulo-roberto-de-almeida/

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A tragedia educacional brasileira (with a little help from someone you know...)

Este post necessita ser lido em conexão com este aqui:

O custo da ignorância: nunca antes em qualquer país...

ao qual ele sucede e complementa. O debate continua, seremos vencidos pelos ignorantes na prática, mas não pelos fatos e pela razão...
Paulo Roberto de Almeida

Mais um pouco do desastre da Educação no governo do PT: universidades precárias, a farsa do Fundeb e o aumento do analfabetismo
Reinaldo Azevedo, 25.08.2010

Lula exaltou ontem a sua condição de não-universitário que mais criou universidades. Provei com números que o que ele fez mesmo foi aumentar o cabide de empregos nas universidades federais, aumentar a evasão e o número de vagas ociosas. Suas supostas 14 novas universidades não passam, de fato, de quatro — seis com alguma boa vontade —, todas elas construídas à matroca. Leiam o texto de ontem. Quero tratar um tantinho mais da educação em mais este texto. E não será o último.

Sugestão de pauta
As fantásticas universidades de Lula, feitas às pressas para que ele possa exaltar o seu desprezo generoso com o ensino universitário, são, na média, um exemplo de precariedade. Em vez de boa parte da imprensa ficar refém do aspismo, deveria apurar como funciona, por exemplo, a Unipampa (Universidade Federal do Pampa), no Rio Grande do Sul. Há quatro anos, divide-se em em instalações provisórias, espalhadas em 10 cidades. Alunos e professores ficam zanzando entre os campi, onde faltam salas e laboratórios.

Funcionam em prédios improvisados a Universidade Federal do Oeste do Paraná (Ufopa), a Federal de Alfenas (MG) e a Universidade federal Tecnológica do Paraná. O mesmo vai acontecer com a Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana), que terá campus em Foz do Iguaçu (PR), com projeto de Oscar Niemeyer. Temporariamente, vai operar no Parque Tecnológico de Itaipu.

Outra boa pauta é a Ufersa (Universidade Federal Rural do Seminário), no Rio Grande do Norte. Eis aí: é só o rebatismo da Escola Superior de Agricultura de Mossoró, criada em 1967. O governo quadruplicou as vagas — as vagas! — em quatro anos e prometeu dois novos campi, que só existem no papel. Alunos reclamam que laboratórios projetos para 20 alunos estão abrigando 50.

Basta ir lá e ver. Como basta pedir ao Ministério da Educação que forneça aqueles números que publiquei aqui ontem. Alguns petralhas se fingindo de educadinhos espernearam: “Cadê a fonte?” Ora, perguntem ao ministro cut-cut da Educação, Fernando Haddad.

Fundeb
Ontem, no horário eleitoral de Dilma, apareceu lá: “O governo Lula criou o Fundeb”. Uma ova! Mentira! O governo lula mudou em 2007 o nome do Fundef — como mudou o nome do Bolsa Família, que já existia; como mudou o nome do Luz para Todos, que já existia; como, se me permitem a graça, mudou até o nome da política econômica, que já existia…. Além de atender ao ensino fundamental (como fazia o Fundef), o Fundeb se propôs também a auxiliar o ensino médio e o ensino infantil. Pois bem.

No ensino médio — área afeita aos governos de Estado, mas sob monitoramento do Ministério da Educação, que pode atuar —, o desastre é assombroso. Nos oito anos de governo FHC, houve uma expansão de 80%; nos seis primeiros anos de governo Lula, apenas 16%. Em 1995, 33% dos jovens brasileiros entre 15 e 17 anos estavam fora da escola. Em 2002, esse número havia caído para 18% — uma redução de 15 pontos percentuais. Em 2008, eram ainda 16% — redução de ridículos dois pontos.

Mais analfabetos
Cresceu o número de analfabetos no país sob o governo Lula — e eu não estou fazendo graça ou uma variante do trocadilho. Os números estão estampados no PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios), do IBGE. No governo FHC, a redução do número de analfabetos avançou num ritmo de 0,5% ao ano; na primeira metade do governo Lula, já caiu a 0,35% - E FOI DE APENAS 0,1% ENTRE 2007 E 2008. Sabem o que isso significa? Crescimento do número absoluto de analfabetos no país. Fernando Haddad sabe que isso é verdade, não sabe?

O combate ao analfabetismo é uma responsabilidade federal. Em 2003, o próprio governo lançou o programa “Brasil Alfabetizado” como estandarte de sua política educacional. Uma dinheirama foi transferida para as ONGs sem resultado — isso a imprensa noticiou. O MEC foi deixando a coisa de lado e acabou passado a tarefa aos municípios, com os resultados pífios que se vêem.

A coisa acabou por aqui? Ah, não! Eu ainda tenho alguns posts para escrever sobre o trabalho de Lula e Fernando Haddad, estes notáveis patriotas do ensino. Falta falar do desastre do Enem, das mentiras sobre o ensino técnico, do relaxamento da aferição da qualidade do ensino superior privado, da porcentagem do PIB investido em educação…

Não adianta me xingar
É bobagem me xingar ou me acusar de “tucano” — como se fosse crime, mas não sou. Ou dizer que esses são números do PSDB ou que interessam ao partido. Ainda que tudo isso fosse verdade, seria o caso de se perguntar: são números falsos? Não são! Como sabe o ministro Fernando Haddad, como sabe o IBGE.

O governo Lula mente sobre a educação como mente sobre quase tudo. Duas coisas faltaram para que ele tivesse uma avaliação compatível com seus feitos — e não quero dizer, com isso, que estaria na lona: a) uma oposição sem medo de ser feliz, que não temesse os seus galopantes índices de popularidade, aceitando travar o bom combate, e b) uma imprensa — as exceções existem; não vou citá-las para não parecer cabotino ou corporativista — que tivesse se interessado em averiguar a verdade do discurso oficial, que fosse além do aspismo, que não considerasse que tudo não passa de uma questão de “lado” e “outro lado”.

O silêncio de uns e a omissão de outros transformaram o governo numa fantástica máquina de mentir, sob a liderança de uma figura de forte apelo publicitário e carisma inegável: Lula. “Ah, a vida melhorou!”, diria aquele subintelectual integrado, buscando ganhar uma boquinha num eventual governo Dilma. Melhorou, sim!, nas condições com as quais Lula contou, como melhorou nas condições com as quais FHC contou. O resto é conversa mole.

Encerrando por enquanto
Com mais este texto, deixo um aviso aos navegantes — inclusive àqueles que vêm por essas águas sem que eu os queira: aqui, a mentira não vai prosperar. Vamos lá, ministro Haddad:
- negue a precariedade daquelas universidades federais que citei;
- negue que o Fundeb é sucessor do Fundef;
negue a brutal desaceleração do ritmo da expansão do ensino médio;
- negue o desastre no combate ao analfabetismo.

Ele não vai negar nada disso porque não é bobo. Resposta política ou desaforada não serve. Tem de provar que os números estão errados.

E por último: no post de ontem, em que demonstro as mistificações de Lula no ensino superior, alguns petralhas reagiram mais ou menos assim: “E daí? Dilma vai ganhar mesmo assim!” Pode até ser - embora seja prudente que a vitória venha antes do festejo… E eu com isso? Não estou disputando um lugar à grama num eventual futuro governo. Prefiro o meu lugar ao sol dos fatos. Como se nota, caso a petista vença, ela pode contar comigo, se é que me entendem.

domingo, 22 de agosto de 2010

A tragedia educacional brasileira: os mitos africanos e indigenas

Todo mundo sabe que o Brasil possui um ensino público manifestamente ruim. Ruim é pouco. Eu diria pavoroso, em todo caso muito pior do que possamos imaginar.
Pois o governo se empenha em deixá-lo ainda pior, introduzindo suas fraudes históricas que correspondem a ideologia esclerosada dos povos africanos e indígenas como formadores do povo brasileiro. Eu diria que sim, por uma proporção mínima, marginal, insignificante, em relação a nossas origens europeias e toda a cultura europeia que nos permitiu construir um país relativamente moderno, em todo caso bem mais moderno que certos vizinhoso que tiveram, eles sim, uma carga indígena bem maior e mais forte, etnicamente, demograficamente, socialmente. No caso deles, a situação pode ser agravada com a promoção de uma falsa cultura "indigenista", que nada mais é do que uma mitologia dos povos originários que não tem mais nenhuma função na sociedade moderna, a não ser para estudos antropológicos.
Pois no caso brasileiro, o governo promove a falsidade da tradição africana (ninguém sabe o que é isso) e indígena (onde?, além dos nomes de lugares?) em lugar de cuidar do que é relevante: língua pátria, ciências e matemáticas elementares.
Vamos continuar caminhando para o brejo, seco e pantanoso, pestilento e idiota...
Paulo Roberto de Almeida

O inchaço do currículo escolar
Editorial - O Estado de S.Paulo
20 de agosto de 2010

Introduzidas no currículo do ensino médio para afirmar teses "politicamente corretas" ou em resposta a pressões ideológicas e corporativas, disciplinas como cultura indígena e cultura afro-brasileira estão agravando as distorções do sistema educacional brasileiro.

Não bastasse a dificuldade que já enfrentam para ensinar aos alunos as disciplinas básicas, como português, matemática e ciências, ao serem obrigados a lecionar disciplinas criadas com o objetivo de resgatar a "dívida histórica com a escravidão" e a "dívida social com os povos da floresta", muitos professores acabam perdendo o controle dos seus cursos, transformando-os em verdadeiros pastiches de informações ideologicamente enviesadas.

Só nos últimos três anos, emendas aprovadas pelo Congresso incluíram seis novas disciplinas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Além de cultura afro-brasileira e cultura indígena, a rede escolar de ensino básico também tem de oferecer as disciplinas filosofia, sociologia, meio ambiente, regras de trânsito e direitos das crianças e dos idosos.

Tramitam ainda no Congresso centenas de projetos propondo a criação de mais "conteúdos" como esses. No levantamento que fez para sua tese de doutorado, a professora Fátima Oliveira, da Universidade Federal de Minas Gerais, constatou que só a Câmara dos Deputados recebeu 545 propostas desse tipo, entre 1995 e 2003.

O inchaço do currículo acarreta graves problemas. Compromete a adoção de novos projetos pedagógicos, obriga os professores a reduzir a carga horária das disciplinas básicas, para lecionar as novas matérias, e acarreta desperdício de recursos, pois as escolas têm de produzir material didático. Esses problemas tendem a perpetuar a má qualidade da educação básica, como deixa claro o desempenho dos estudantes brasileiros nas provas e testes internacionais de avaliação de conhecimento. Com uma alfabetização e uma formação deficientes, eles estão sempre nas últimas colocações.

Políticos, movimentos sociais e entidades engajadas defendem a introdução das novas disciplinas alegando que elas promovem a inclusão social. Segundo eles, a "escolarização" de temas sociais abriria caminho para a justiça social. Os especialistas discordam. "A escola tem de dar os fundamentos para que o aluno faça sua leitura do mundo. Não é a oferta de disciplina sobre drogas que vai garantir que o jovem se afaste do vício", diz a presidente do Conselho Nacional de Secretários da Educação, Yvelise Arcoverde.

No mesmo sentido, não são disciplinas como cultura afro-brasileira e cultura indígena que vão reduzir as disparidades de renda. Como tem sido evidenciado pelas recentes e bem-sucedidas experiências de países como a Coreia do Sul e a Índia, só a formação básica de qualidade garante a redução da pobreza e assegura o capital humano necessário a uma economia capaz de ocupar espaços cada vez maiores no mercado mundial. "Cada vez mais se está entulhando coisas nos currículos, por meio de emendas na LDB", afirma a pesquisadora Paula Lozano, da Fundação Lemann. "São tantas emendas que se torna impossível montar um currículo", argumenta Mauro Aguiar, do Colégio Bandeirantes.

Em vez de ser objeto de decisão legislativa, a organização do currículo escolar deveria ficar a cargo de órgãos técnicos e as redes escolares deveriam ter autonomia para definir os conteúdos pedagógicos que consideram necessários à formação de seus alunos. Defendendo essa tese e se empenhando para evitar o desfiguramento do ensino básico, alguns colégios particulares decidiram fazer lobby para desbastar os currículos. A ideia é que as novas disciplinas sejam lecionadas como parte das disciplinas básicas, sem necessidade de aulas exclusivas para os chamados temas sociais.

A iniciativa parece estar dando certo. Em São Paulo, por exemplo, o Conselho Estadual de Educação acaba de emitir um parecer permitindo que os conteúdos de filosofia e sociologia sejam dados dentro de outras disciplinas - como história. É um exemplo a ser seguido pelos outros Estados.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A tragedia educacional brasileira: a empulhacao academica

É inacreditável: a educação brasileira é a tragédia que é por causa, justamente, do besteirol freireano, ou seja, o primarismo boçal dos ensinamentos de Paulo Freire, que continua influenciando essa pedagogia de botequim que "orienta" nossos educadores, mestres, professores e até alguns "doutores", como esse que aí pontifica.
A matéria abaixo resume e codensa tudo o que há de errado e de idiota na educação brasileira hoje, e que esse pessoal nefasto quer continuar e expandir.
Ou seja, não existe nenhuma chance de que a educação melhores nas próximas duas décadas. O Brasil vai continuar essa miséria educacional que ele é hoje em função da influência deletéria de pessoas como essas.
Paulo Roberto de Almeida

Trilhas abertas para um projeto popular de educação
InfoUnB, 13.08.2010

Desvendar toda a complexidade da educação atual no Brasil não é tarefa das mais fáceis. Porém, não menos estimulante para o educador Miguel González Arroyo, professor titular emérito da Faculdade de Educação da UFMG. Para ele, as indagações sobre o sistema educacional não podem perder como referência a trilha aberta pelo mestre Paulo Freire e deveriam estar nas universidades e nas escolas.

A importância de se pensar certezas e paradigmas da educação exige que não fiquemos na superficialidade dos debates, mas que busquemos justificativas e razões plausíveis para ponderar sobre os aspectos positivos e negativos para dar conta de toda essa complexidade. O que então considerar? Com essas preocupações é que o professor Arroyo acompanhou atentamente todos os debates e reuniões do III Encontro Nacional de Pesquisa do Campo / III Seminário sobre Educação Superior as Políticas para o Desenvolvimento do Campo Brasileiro / I Encontro Internacional de Educação do Campo, que aconteceram simultaneamente no Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília, de 4 a 6 de agosto de 2010.

Doutor em Educação, Miguel Arroyo, com o rigor acadêmico com que costuma falar para platéias atentas, não economizou nas advertências sobre tudo que ouviu durante os debates. Sua preocupação sobre as diferentes perspectivas das análises debatidas levou-o a esmiuçar detalhes repletos de reflexões. Segundo ele, não devem faltar pesquisas para dar conta da amplitude do processo educacional, principalmente aquela dedicada à Educação do Campo. “Estamos em tempo de reflexão, quase que de aniquilamento da Educação do Campo”, disse ele, para sugerir urgência em pesquisas que demonstrem o que está acontecendo na área.

Em referência ao que ouviu dos conferencistas estrangeiros e que lhe serviu como exemplo, Arroyo declara que não é preciso nada temer, pois o campo continua sendo uma das principais questões para o conhecimento e é preciso saber os processos históricos “para se contrapor ao processo hegemônico” existente hoje no campo brasileiro. Para ele, essa é uma das grandes tensões políticas e “devemos assumir que estamos nesse jogo”.

Para tanto, ele alerta sobre a forma de como é visto o papel do Estado e das instituições nesse processo, e pede cautela. “Não é o Estado que é o modo de produção, não podemos destacar tanto o Estado e inocentar os processos mais radicais de modo de produção capitalista, não se pode colocar no Estado e nas universidades toda a responsabilidade sobre o que ocorre na Educação do Campo”, ressaltou.

Não que ele estivesse inocentando o Estado. O problema, para Arroyo é de ocupação dos espaços, é preciso lutar e ocupá-los e ver até que ponto o Estado faz o papel de controlador do capital, disse. Nesse percurso, é que se destacam os movimentos sociais para revelar o Estado real e os limites do Estado. Em sua concepção, “é necessário pesquisar o quanto avançamos para que o Estado seja também controlado por nós. Os movimentos sociais têm uma visão de que o Estado é um campo de disputa – essa é uma visão ingênua do Estado”. Para ele, o que se deve fazer é ocupar as universidades, “ocupar o latifúndio do saber”.

Projeto contra-hegemônico - Para fortalecer a educação do campo, Arroyo aponta como protagonista a vinculação da Educação a um projeto contra-hegemônico. “Temos que pesquisar melhor qualquer pedagogia do projeto hegemônico que conforme os povos do campo, que vê os outros como os outros, não como nós – aqueles que estão lá. Esse projeto hegemônico é que destrói os territórios índios, quilombolas, favelados”, denuncia.

São tarefas dos movimentos sociais repensar e pesquisar como os projetos pedagógicos hegemônicos, desde a colonização, têm como objeto a conformação dos povos do campo e também o fato de que não têm território. “O modo de produção de construção desses outros tem as suas especificidades e quem tem de revelar isso são os povos do campo para tirarem consequências pedagógicas disso, e se fazerem presentes e se afirmarem”.

Arroyo recomenda questionar com que pedagogia os trabalhadores do campo foram segregados. Para ele, é a mesma com que o sistema hegemônico tenta expropriar os trabalhadores nas cidades, nas fábricas. Por isso, o trabalho deve ser a grande matriz pedagógica, em que o movimento operário não só aprende o trabalho, mas os direitos da cidadania.

Para o professor da UFMG, é preciso privilegiar um projeto de Educação do Campo para dar conta da desconstrução e avançar num projeto popular, com a perspectiva da importância da escola para os povos do campo, “que vai além do nosso imaginário iluminado. Temos que pensar na vida, pois a escola trata com vidas precarizadas”.

A urgência de se pensar um projeto contra-hegemônico, mais radical que a sala de aula para não conformar os sujeitos leva à questão: “Formar o quê no campo?”. Arroyo insiste na autonomia das comunidades, não só escolares, para formar para o trabalho coletivo; formar para a ocupação territorial, aprender para se defender, para ter autonomia política, não só de pensamento; para intervenção nas bases materiais e simbólicas; para sustentabilidade da produção.

O professor Miguel Arroyo deixou registrado seu compromisso com uma Educação formadora de sujeitos com direitos e dignidades. Uma lição de princípios da Educação como direito social. Uma lição para o exercício da cidadania.

sábado, 7 de agosto de 2010

Incompetencia do governo agrava a tragedia educacional brasileira

Este governicho vai ficar na história como um dos mais incompetentes, relapsos, e eu até diria criminoso no que se refere à educação em geral, ao ensino público em particular, e em especial no tocante aos dois primeiros ciclos da escola pública. Nunca antes neste país, tanto incompetência se juntou a tantos equívocos na condução de um dos temas mais relevantes da nacionalidade.
Também pudera: à ideologia anacrônica dos dirigentes se agrega o sindicalismo mafioso dos supostos educadores, pedagogos freireanos que sequer mereceriam o nome de educadores, sequer de mestres.
Nunca antes, desde Cabral, a educação recuou tanto neste país infeliz...

A desmoralização do Enem
Editorial de O Estado de São Paulo,
7 de agosto de 2010

Os fatos não confirmam as repetidas declarações do presidente Lula de que o ministro da Educação, Fernando Haddad, é um dos mais competentes membros de sua equipe. O vazamento dos dados pessoais de 12 milhões de alunos que se submeteram às três últimas edições do Enem é mais uma confirmação de que pouca coisa funciona bem na área de educação. Informações que deveriam ser mantidas em sigilo foram expostas no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) com acesso livre.

Trata-se de falha grave. Em primeiro lugar, porque resultou no desrespeito ao direito à inviolabilidade de informações pessoais previsto pela Constituição, no capítulo das garantias fundamentais, e em uma violação das leis que disciplinam a segurança no processamento de dados pessoais em órgãos públicos. E, em segundo lugar, porque o episódio expõe os alunos a investidas de criminosos, uma vez que os dados vazados constituem um verdadeiro maná de informações para estelionatários e até sequestradores. Com o CPF, o RG e os nomes dos pais de uma pessoa é possível a prática de uma série de delitos - da confecção de documentos falsos à abertura de empresas fictícias e contas bancárias. “O criminoso comete os crimes, mas consegue ficar com o nome limpo, enquanto o estudante que prestou o Enem pode ficar com o nome sujo”, diz o delegado Eduardo Gobetti, do Deic.

Como o regulamento do Enem é taxativo, comprometendo-se a resguardar o sigilo das informações sobre os candidatos, o vazamento é a pá de cal na desmoralização daquele que já foi um dos mais respeitados mecanismos de avaliação escolar do País. Decorrentes da inépcia do MEC, os primeiros problemas do Enem começaram em 2009, com as dificuldades enfrentadas pelos candidatos para se inscrever pela internet no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que permite usar as notas do exame no vestibular das universidades federais.

Em seguida, houve o vazamento da prova dois dias antes de sua realização, que obrigou o MEC a elaborar um novo teste, a um custo de R$ 30 milhões, e desorganizou o calendário das universidades. Quando o teste foi finalmente realizado, o MEC divulgou o gabarito errado. Na fase de matrículas, o Sisu falhou mais uma vez e o MEC não conseguiu distribuir as vagas das universidades federais com transparência, a ponto de ter matriculado quem não tinha média. O Sisu também não publicou a nota de vários alunos que fizeram o teste. Para usá-la no vestibular, eles tiveram de recorrer à Justiça. Por fim, foram identificadas falhas na correção das provas, a ponto de um estudante que fez uma redação de somente quatro linhas ter tirado uma nota boa.

Por causa da série de confusões provocadas pela incompetência do MEC, o Enem de 2009 teve uma abstenção de 40% dos inscritos - a maior já registrada desde sua criação, em 1998. Com o vazamento dos dados pessoais dos candidatos dos três últimos exames, o Enem perdeu a pouca credibilidade que ainda lhe restava. Acuado, Haddad, que já devia ter investido há muito tempo na modernização do sistema de informática do MEC, anunciou uma auditoria no Inep. A atual diretoria do órgão está no cargo há alguns meses, pois a anterior foi demitida depois do fiasco do Enem de 2009.

A desorganização do Enem é apenas um dos aspectos do fracasso do governo Lula no campo da educação. Esse governo teve oito anos para tentar melhorar a qualidade do ensino fundamental e médio e fracassou. O MEC também perdeu tempo com a demagogia da democratização do ensino superior e expandiu as universidade federais com base em critérios mais políticos do que técnicos.

Recentemente, sob a justificativa de estimular os programas de serviços à comunidade e evitar que o próximo governo “acabe” (sic) com o Programa de Educação Tutorial (PET), que tem por objetivo qualificar os melhores alunos da graduação, o MEC baixou duas portarias que o desfiguram inteiramente. Interpelado duramente por professores e alunos durante a reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em Natal, Haddad prometeu rediscutir as mudanças e revogar as portarias.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A tragedia educacional brasileira: finalmente comecam a se dar conta

Demorou, mas finalmente chegou. Universitários se debruçam sobre a verdadeira tragédia que é a educação pública brasileira. Ainda não reconheceram a culpa das instituições universitárias, mas já é um começo.
Se caminharem rápido, em 15 anos vai dar para começar a corrigir os problemas, mas tenho dúvidas. Em todo caso, se trata de uma primeira tomada de consciência...

Especialistas defendem "tratamento de choque" para a educação
Daniela Oliveira
Jornal da Ciência, 28/07/2010

Ensino básico no país é considerado como uma tragédia pelos participantes de mesa-redonda na 62ª Reunião Anual da SBPC. Eles apresentam sugestões para dar o salto necessário, mas ressaltam que não há solução de curto prazo
Dos 135 milhões de brasileiros que deverão votar nas eleições gerais de outubro, cerca de 20% - ou 27 milhões - são analfabetos ou não têm escolaridade. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que retratam a situação da crítica da educação no país, foram apresentados pelo professor Nilson Machado, da Faculdade de Educação da USP, durante mesa-redonda na tarde desta terça-feira (27/7), na 62ª Reunião Anual da SBPC.

"Em 2002, 26% dos eleitores eram analfabetos ou não tinham escolaridade. Em 2006, eram 23%. Agora, são 20%. Está melhorando, mas não dá para a gente se conformar com esse ritmo de mudança. Se continuarmos, acabaremos com os eleitores analfabetos apenas daqui a sete eleições", alerta Machado.

O evento na Reunião Anual reuniu especialistas na área da educação com objetivo de refletir sobre a necessidade de uma inflexão do setor. Para isso, concordaram os participantes da discussão, são necessárias mudanças amplas e urgentes. O coordenador do GT-Educação da SBPC, Isaac Roitman, considera que todo o sistema precisa ser revisto, desde a primeira infância até a pós-graduação.

Roitman mostrou dados referentes ao que chama de "tragédia" - que mostram, entre outros aspectos, o baixo índice de alunos que chegam ao ensino médio e a alta taxa de abandono da escola, especialmente nas regiões Nordeste e Norte; as péssimas colocações do Brasil em exames como o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) e em avaliações da Unesco sobre repetência; a diminuição do número de formandos em carreiras do magistério; e as precárias condições de infraestrutura das escolas e de trabalho dos docentes.

Para Nilson Machado, da USP, o país necessita de um projeto nacional que tenha como objetivo imediato a universalização da educação básica - que inclui do ensino infantil ao médio. Para isso, propõe Machado, é necessário um mutirão que reúna todos os atores envolvidos com a educação, durante um período de três a cinco anos para produzir uma inflexão e outro intervalo temporal igual para consolidar as metas.

"A educação precisa de um tratamento de choque. É incompreensível termos uma pós-graduação e pesquisa com reconhecimento até internacional em algumas áreas, e termos um ensino básico com a que existe atualmente", lamenta.

Seguindo esse propósito de fazer um mutirão pela educação, a SBPC criou, em 2008, o grupo de trabalho (GT-Educação) para pensar soluções de médio e longo prazo para o setor. No ano passado, a entidade lançou o movimento "Pacto pela Educação", ampliando as ações do GT, que tem representantes da academia, do setor empresarial, de entidades estudantis e da sociedade civil. (leia mais abaixo)

Outro ponto ressaltado na mesa-redonda foi a questão dos modelos pedagógicos utilizados pelas escolas brasileiras. Fernando Becker, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), defende uma reformulação profunda na formação dos professores, já que, a seu ver, o modelo atual é o de apresentar o conteúdo e mandar o aluno repetir. "A escola tem que se transformar cada vez mais em laboratório e cada vez menos em auditório", provoca Becker.

Com relação aos investimentos no setor, os especialistas concordam que os recursos existentes são, mais que insuficientes, mal aplicados. Para eles, seria possível até mesmo quadruplicar o salário dos professores da educação básica, cujo piso atual está próximo de R$ 1.000. Uma proposta seria a adoção de remuneração diferenciada para docentes com mestrado e doutorado - o que propiciaria uma transição gradual para atingir um padrão salarial e incentivaria o aperfeiçoamento dos professores.

O debate sobre educação foi mediado pela professora Araci Assinelli da Luz, do Departamento de Teoria e Prática de Ensino da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que alertou sobre a importância de a sociedade como um todo se mobilizar em favor das mudanças necessárias à educação no país.

GT-Educação da SBPC quer apresentar propostas ao próximo governo
O grupo de trabalho (GT-Educação) criado pela SBPC para discutir e propor ações para a educação no país pretende consolidar propostas, principalmente voltadas ao ensino básico, que serão entregues ao próximo presidente da República.

A intenção é reunir uma série de ações práticas e estratégias de desenvolvimento dessas ações nas seguintes dimensões: o professor; conteúdos e processos pedagógicos; infraestrutura; gestão; avaliação; e integração com a sociedade.

O coordenador do GT, Isaac Roitman, informou que o objetivo é consolidar as propostas até fevereiro de 2011. O próximo passo será a elaboração de indicadores para avaliar se as medidas sugeridas estão sendo postas em prática e quais são seus resultados.