Segue abaixo minha carta ao Jornal da Ciência (SBPC), a propósito do chamado "manifesto dos reitores em favor da edução", na verdade um péssimo panfleto político-partidário, de caráter sectário e divisionista. Esclareço que o Jornal da Ciência, "comprado", ao que parece, pelo poder atual, se eximiu de publicar minha carta, motivo pelo qual eu a divulgo aqui.
Sobre o item:
"
Reitores de Ifes divulgam manifesto em favor das ações em educação"
acredito que tanto o título quanto o conteúdo desse manifesto estejam essencialmente equivocados, talvez deliberadamente equivocados.
Não se trata de um manifesto em favor de ações, quaisquer que sejam elas, relativas à educação brasileira, mas de uma tomada de posição claramente partidária em favor de uma das candidaturas à cadeira presidencial.
Dispenso-me de comentar o conteúdo, os termos e os posicionamentos desse "manifesto", diretamente vinculados a uma dessas candidaturas, que revelam, todos eles, a adoção de uma postura maniqueista, divisionista e, no limite, sectária, de autoridades universitárias que deveriam manter-se independentes, embora não alheias, às escolhas político-eleitorais a que toda a comunidade acadêmica e o povo brasileiros são chamados a fazer neste mês de outubro.
Os reitores sabem muito bem que os universitários, em geral, e os professores em particular, possuem discernimento suficiente para fazer suas próprias opções eleitorais, com base num julgamento autônomo das posturas e propostas eleitorais de cada candidato, e não precisam ser induzidos, em nome de suas instituições, a tomar esta ou aquela atitude. Que esses reitores -- e não todos -- o tenham feito é revelador do ambiente de divisionismo político, e de arregimentação partidária, que tende a fraturar instituições que deveriam estar abertas a todas as propostas políticas de modo tolerante e democrático.
Mais ainda: como autoridades de instituições públicas, estatais em sua maior parte, os reitores deveriam dar o exemplo e se manterem neutros, ou apartidários, nesta conjuntura eleitoral. O fato de que tenham feito uma opção deliberada -- o que é o seu pleno direito no plano cidadão e individual, mas não como reitores -- por uma dessas candidaturas, de modo tão servil quanto ridiculamente publicitário, em favor da candidata oficial do governo Lula, é não apenas lamentável no plano da ética pública, como deplorável no plano da simples relação republicana -- para usar um termo da moda -- que deveria comandar pelo menos isenção quanto às escolhas que a comunidade acadêmica deverá novamente fazer em 31 de outubro.
Trata-se de mais um péssimo exemplo de mobilização de instituições públicas em favor de uma postura político-partidária. Meus cumprimentos aos reitores que não aderiram a esse panfleto eleitoral e meus pêsames, acadêmicos, aos que servilmente o fizeram.
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Paulo Roberto Almeida (7 de outubro de 2010)
www.pralmeida.org
On Oct 7, 2010, at 6:29 AM, Jornal da Ciência wrote:
Jornal da Ciência (JC E-Mail)
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Edição 4111 - Notícias de C&T - Serviço da SBPC
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5. Reitores de Ifes divulgam manifesto em favor das ações em educação
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5. Reitores de Ifes divulgam manifesto em favor das ações em educação
Intitulado "Educação - O Brasil no rumo certo", manifesto ressalta que educação seja prioridade central dos governos estaduais e municipais
O texto reconhece os principais feitos do governo na área de educação, como a criação de consolidação de 14 novas universidades federais; a instituição da Universidade Aberta do Brasil; a construção de mais de 100 campi universitários pelo interior do país; e a criação e ampliação, sem precedentes históricos, de escolas técnicas e institutos federais.
Os reitores destacam ainda os programas Prouni, que possibilitou acesso ao ensino superior a mais de 700 mil jovens, e Reuni, que recuperou as universidades e propiciou a criação de novos cursos.
"Essas políticas devem continuar para consolidar os programas atuais e, inclusive, serem ampliadas no plano federal, exigindo-se que os estados e municípios também cumpram com as suas responsabilidades sociais e constitucionais, colocando a educação como uma prioridade central de seus governos", destaca o documento.
Os reitores completam: "Devemos continuar lutando e exigindo dos próximos governantes a continuidade das políticas e investimentos na educação em todos os níveis, assim como na ciência, na tecnologia e na inovação, de que o Brasil tanto precisa para se inserir, de uma forma ainda mais decisiva, neste mundo contemporâneo em constantes transformações."
A íntegra do manifesto está disponível no seguinte link:
http://www.andifes.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4221:grupo-de-reitores-de-universidades-federais-fazem-manifesto&catid=58&Itemid=100012
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