Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
domingo, 27 de dezembro de 2009
1623) Bahia de Sao Salvador de Todos os Santos: um convite a belas imagens e à boa musica
Eis a mensagem que ele mandou neste sábado 26 de dezembro de 2009.
Permitam-me a indulgencia de enviar-lhes umas poucas fotos que tirei da bela Baia de Todos os Santos. Sigo trabalhando em mais umas que, assim que estiverem como quero, tratarei de acrescentar ao ja interessante portfolio...
Fotos da Salvador atual, colonial e historica. Vista desde o Forte e Sao Marcelo e Solar do Unhao. Boas recomendacoes minhas para quem vier de visita à capital baiana.
Espero que estejam dos seus gostos.
http://leoteles.000page.com/#/content/Cities/Salvador%20of%20Bahia/
Abcs,
--
LEO TELES
msn: teles_leonardo@hotmail.com
http://leoteles.000page.com
http://www.flickr.com/lteles
http://twitter.com/lteles
Sent from Salvador, Bahia, Brazil
Estou neste mesmo momento ouvindo um trecho da Aida (depois de várias outras músicas) e contemplando suas muitas outras fotos, de gente, de lugares, de animais e situações inusitadas. Poesia em imagens e em sons...
Paulo Roberto de Almeida
(27.12.2009)
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
1622) Bolsas de Acao Afirmativa: um dialogo importante
ver este post: quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
979) Bolsas de Acao Afirmativa: preparacao de plano de estudos
vários comentários, que postei no mesmo local.
Como acabo de receber de um correspondente não totalmente identificado, mas se fazendo chamar Danielly, um longo comentário dividido em três partes (por limitações do software de comentários do Blogspot), resolvi dar o devido destaque a todo o material, reproduzindo linearmente e sequencialmente todo esse material, começando pelo meu post original, seguido dos comentários postados na sequência, e agora pelo do comentarista mais recente.
Creio que todos esses materiais devem receber o devido destaque, pois trata-se de assunto importante.
Meus novos comentários serão feitos ulteriormente.
Paulo Roberto de Almeida (25.12.2009)
1) Post Original:
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
979) Bolsas de Acao Afirmativa: preparacao de plano de estudos
Recebi, de um candidato à carreira diplomática, presumivelmente negro, um pedido de ajuda na preparação de um plano de estudos para poder candidatar-se à Bolsa do Programa de Ação Afirmativa do Instituto Rio Branco, que contempla aspirantes afrodescentes com apoio financeiro durante um ano, para a contratação de professores particulares, compra de livros e outros materiais de estudo, pagamento de cursinho, etc.
Devo dizer que sou filosoficamente contrário a esse programa, que me parece inscrever-se num esforço de militantes negros, apoiado pelo próprio governo, para desenvolver uma série de iniciativas de conteúdo racialista, que reputo como especialmente nefasto para o futuro da sociedade brasileira, a introduzir um elemento de apartheid nas relações entre grupos étinicos formadores do povo brasileiro.
Sou a favor de bolsas para aqueles desprovidos de meios, sem qualquer critério racial.
Isso não me impede, contudo, de responder à consulta do candidato, como fiz abaixo, logo em seguida à transcrição da mensagem recebida (devidamente descaracterizada).
PROGRAMA DE AÇÃO AFIRMATIVA DO INSTITUTO RIO BRANCO QUANTO A BOLSAS-PRÊMIO DE VOCAÇÃO PARA A DIPLOMACIA
On 24/12/2008, at 13:14, (XXX) wrote:
Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.
Nome: (XXX)
Cidade: São Paulo
Boa Tarde Professor!
Estou escrevendo para pedir um auxilio do senhor quanto ao processo do PROGRAMA DE AÇÃO AFIRMATIVA DO INSTITUTO RIO BRANCO QUANTO A BOLSAS-PRÊMIO DE VOCAÇÃO PARA A DIPLOMACIA.
Defendi meu doutorado em 2007 e desde então venho tentando ingressar nessa honrosa carreira. Desde minha graduação já tinha interesse, mas devido ao meu anseio em terminar meus estudos academicos fui deixando a oportunidade para adiante. Vou fazer o processo agora em 2009 pra tentar uma bolsa, haja visto que infelizmente me encontro desempregado e creio ser uma otima oportunidade para suprir minhas deficiencias (caso consiga). Nesse caso, peço desculpas ao senhor, mas queria saber quanto ao fato de que tenho que montar umn plano de estudos pra enviar ao Instituto Rio Branco, mas não tenho muita segurança de como deve ser esse plano. Se é algo parecido como um plano de pesquisas. Desde já peço desculpas pelo incomodo e agradeço pela atenção dispensada a minha pessoa.
Boas Festas
(XXX)
Minha resposta foi a seguinte:
(XXX),
Eu não tenho muita experiência com esse programa e não sei como e quais são os critérios de selecao, mas suponho, justamente, que muito depende de seu plano de estudos, que deve ser claro, objetivo e conciso.
Creio que uma estrutura ideal seria esta:
A. Informações pessoais
B. Formação academica
C. Avaliação da preparação pessoal ao concurso do IRBr
(pequena avaliacao qualitativa das suas "fortalezas" e "debilidades" em função da formação e das leituras)
D. Plano de Estudos
Dirigidos: curso em SP (custos, tempo, etc)
Pessoais: dedicacação especifica e reforçada em determinadas leituras, em função de C.
Listagem das materias que necessitam preparação reforçada: 1. Portugues; 2. Ingles...etc
E. Custos estimados
(avaliação geral das despesas a serem incorridas com os cursos, compra de livros, professor particular em certas matárias, assinatura de revistas e jornais, internet a cabo, etc)
F. Cronograma tentativo
(distribuição de todas essas atividades ao longo de um ano de bolsa)
G. Declaração final sobre o Programa
(especificar porque e quanto a bolsa seria importante para voce, renda pessoal, situacao familiar, profissional, etc...)
-------------
Paulo Roberto de Almeida
Postado por Paulo R. de Almeida às 4:43 PM
2) Comentários originais a este post:
7 comentários:
Caio Bertoni Viana Rocha disse...
Professor,
Concordo plenamente com sua posição acerca do assunto.
É louvável que o governo tenha a intenção de democratizar o ingresso ao Instituo Rio Branco, visando a diversificação e uma melhor representação da população brasileira nos quadros do MRE.Porém, assim como o senhor já disse, os critérios para a habilitação à concorrência de tais bolsas deveriam ser meramente econômicos e de maneira alguma raciais.
Parabéns pelo blog!
Abraços,
Caio B. V. Rocha
Quinta-feira, Dezembro 25, 2008 2:17:00 PM
Glauciane Carvalho disse...
As ações afirmativas são, extremamente, necessárias no Brasil, tendo em vista o débito histórico do governo brasileiro com a comunidade negra.Contudo, a política de cotas adotada, hodiernamente, se apresenta com uma base estrutural deficitária. Pois como o ilustre professor abordou há características de segregação, o que realmente, é maléfico para a sociedade brasileira. Mas nós temos que observar que o problema não se limita às cotas, ele é muito mais complexo, pois também se refere à falta de investimentos na área de Educação, algo que infelizmente o governo não vai resolver da noite do para o dia, por falta de disposição e de comprometimento com suas promessas de campanha frente à população brasileira.
Eu particularmente, acho benéfica esta política de bolsas, mas concordando com o renomado professor, deveria ser adotada para pessoas desprovidas de recursos. Desta forma, teríamos mais igualitarismo nas relações humanas, no contexto histórico brasileiro. Todavia, ainda que eu também seja contra a política de cotas, e deixo claro que sou da raça negra, acho que são necessárias, momentaneamente, para que se possa tentar amenizar os erros do passado.
A política de bolsas para afrodescedentes deveria ser adotada em todas as esferas. Pois existem brancos pobres que não tem condições de se preparem também para a prova do Itamaraty. E esses brasileiros, onde ficam nas políticas de inserção? Quem vai tutelar os seus direitos? Imagine só a situação de política de cotas para brancos ? Com certeza, nós chamaríamos de racismo, então, por que utilizar o nome política de cotas para afro descendentes? Neste sentido, concordo com o prof. Paulo e acho que a solução para as várias mazelas educacionais no Brasil seria investimento acirrado no ensino fundamental e médio,independente da raça, para que se possa, gradativamente, acabar com as prerrogativas, e não privilégios, pois são respaldadas em nossa ordem jurídica e dar mais isonomia e chances a todos os brasileiros. Deixo claro que sou negra e contra a política de cotas, mas neste momento, histórico brasileiro, elas são necessárias.
Quinta-feira, Dezembro 25, 2008 6:45:00 PM
Mila Donasc disse...
Concordo em Absoluto com o Dr. Paulo Roberto,é verdade que históricamente o Brasil é um país desigual, nada mais comum para um país jovem e que já passou por tantos momentos de instabilidade política. Políticas compensatórias não são definitivamente solução para o problema da desigualdade do Brasil, muito menos num nível como diplomacia, a revolução educacional deve ser feita a partir da base e assim todos terão condições equiparadas para disputar altos cargos como este. Sem citar o fato de que o Brasil não é um país racista e nem precisa desse tipo de estimulo para começar a ser. Quem acha que somos um país racista, nunca viajou nem sequer estudou esse problema em outros países do mundo. É preciso acabar com essa história de que o Brasil é um país muito rico, e entender que os recursos são limitados, quanto mais dinheiro se gasta em politicas "afirmativas" menos dinheiro sobra para se investir em educação de base com qualidade.
Sábado, Dezembro 27, 2008 12:31:00 AM
Glauciane Carvalho disse...
Desculpa senhora Mila, mas os investimentos nas ações afirmativas não atingem de forma a prejudicar os investimentos em Educação neste país. Existem muitos outros fatores que comprometem a Educação no nosso país e acho uma grande injustiça afirmar que ações afirmativas comprometem investimentos em Educação.O que para mim acaba em "sofisma hermenêutico" da problemática real enfrentada pelo Brasil. Acabar com o desvio de finalidade pública pode ser uma das grandes soluções para Educação em nosso país. Acabar com ações afirmativas seria no mínimo de absoluta irresponsabilidade de um governo, seja qual for a sua posição no globo. Devemos lutar pela "Revolução Educacional", mas simplesmente ignorar a hecatombe proferida com a escravidão e suas conseqüências nefastas para a formação da sociedade brasileira é no mínimo preocupante, para não dizer temerário.
Domingo, Dezembro 28, 2008 1:02:00 AM
Gláucia disse...
O proprietário do blog poderia, sendo um membro da corporação, solicitar o dado empírico: quantos diplomatas negros há hoje no Itamaraty? Melhor: quantos no curso do Instituto? Duvido que passe de 3%. O que acharíamos se todos os diplomatas indianos que encontrássemos fossem brancos, metade deles de olhos claros?
O Itamaraty representa o Brasil, e deve - num país que, evidentemente, ainda não somos - refletir minimamente a composição étnica da população. O governo faz isso, nesse caso, do melhor jeito: não oferecendo vagas automáticas, mas evitando que o poder econômico, como sempre faz, se imponha e impeça os negros de competir em condições de igualdade com os brancos.
O problema a resolver não é o da falta de pobres no Itamaraty, e sim o da falta de negros. Por isso, a ação afirmativa baseada em critérios raciais é a solução correta.
Domingo, Janeiro 18, 2009 4:57:00 PM
Paulo R. de Almeida disse...
Discordo ABSOLUTAMENTE (com perdão pela veemência das maiúsculas) da leitora Glaucia.
Pedir ao Estado brasileiro que verifique, estatisticamente, quantos "negros" são atualmente diplomatas e que, a partir daí, determine uma cota para o ingresso de "negros" na carreira diplomática, é uma tese absolutamente racista, e pretende que o Estado brasileiro seja um ativo promotor do APARTHEID (desculpas, mais uma vez).
A leitora Glaucia está absolutamente enganada, sob todo e qualquer critério que se possa conceber, a começar pelo antropológico, pois seria para ela, e para qualquer pessoa, determinar quem, da MAIORIA de mulatos que compoe a população brasileira, responde, no limite, à condição de "negro", como ela pretende, o que, repito, é uma tese racista e absolutamente inaceitável para qualquer padrão moral que se conceba quanto à unidade fundamental do ser humano.
Certo, ela parte de uma realidade sociológica -- que comprova que os negros e mulatos são a maioria de pobres neste país, e portanto, desfavorecidos no emprego, na educação, na vida profissional em geral -- para tentar fazer justiça social em detrimento de todos os pobres, mulatos ou não, que não poderiam ostentar essa condição racista de "negros" -- que seria obviamente reservada a menos de dez por cento da população brasileira -- para se beneficiarem de um regime de cotas que introduziria oficialmente o Apartheid em nosso país.
Sou FUNDAMENTALMENTE contra qualquer racismo em benefício de quem seja, admitindo, tão somente, que pobres em geral recebam o benefício de bolsas de estudo para tentarem equalizar suas chances de disputa com privilegiados em geral (de qualquer cor) em concursos públicos.
O mundo é injusto -- todos sabemos disso -- mas tal realidade não nos autoriza a criar mais injustiças e imoralidades apenas para corrigir males que convivem conosco por razões históricas e estruturais. Devemos, sim, esforçar-nos para corrigir essas iniquidades da melhor forma possível, atuando sobre os fatores REAIS de iniquidade, que são basicamente os de natureza econômica e social.
Estou plenamente consciente de que fatores racialistas -- ou seja, emergindo do preconceito, mas não fatores raciais, em nosso país -- estão na origem de muito sofrimento e discriminação exercidos contra pessoas negras e mulatas escuras em geral no Brasil, e isso é um resíduo dessa estupidez humana ainda persistente que se chama racismo (que ainda existe, obviamente, como componente inevitável dos comportamentos humanos ao longo do tempo). Apenas tenho a consciência ainda mais acurada de que o Estado não pode se erigir em agente de um outro tipo de racismo, institucionalizado, para corrigir os racismos individuais que existem na sociedade.
Seria a falência moral de uma sociedade construpida sobre a igualdade fundamental do ser humano.
PRA, 18.01.2009
Domingo, Janeiro 18, 2009 5:21:00 PM
3) Novos comentários por Danielly (agrupados, desta vez):
Danielly deixou um novo comentário sobre a sua postagem "979) Bolsas de Acao Afirmativa: preparacao de plan...":
(a)
Li os posts sobre o tema das bolsas de "Ação Afirmativa" direcionadas a brasileiros negros para custeio de gastos com a finalidade de os msmos se prepararem para o ingresso no IRBr. Tendo lido também os posts no blog da leitora Glaucia ( Quero Ser Diplomata), o qual gostei muito e fazendo minhas as palavras de uma determinada rsposta que, lá, a mssma postou, não vi problemas em copiá-la e aqui colar, pois essa resposta cabe na discussão que aqui se desenvolveu. O que vc (Glaucia) escreveu, resume exatamnte o que venho refletindo sobre a qUestão das "Äçõs Afirmatias", mais espcificamente, as cotas, no Brasil. Entretanto, antes de postar essa resposta, deixo aqui a forma como aparecem as Ações Afirmaivas no atual panorama jurídico segundo André Luiz Pereira de Oliveira, da Universidade Federal de Uberlândia, em seu trabalho de iniciação cientíca. Segundo o autor, "também chamadas de "medidas de discriminação positiva", (as ações afirmativas) aparecem no atual panorama jurídico como uma forma de integração dos historicamente discriminados, mediante a facilitação do acesso e da expansão de oportunidades. No Brasil, tardiamente, estas ações vêm sendo gradativamente inseridas na política social por meio da legislação e de práticas governamentais, baseando-se em preceitos constitucionais de "indícios afirmativos", dentre os quais, o de maior relevância, o próprio princípio constitucional da Igualdade (...). O interesse pela pesquisa foi despertado não só pelo fato de que a inclusão de minorias discriminadas na dinâmica da sociedade é uma necessidade contemporânea da qual o Direito não pode se abster, mas também pelo fato de que a implementação das chamadas "ações afirmativas" tem sido um tema polêmico para a comunidade da ciência jurídica, despertando opiniões divergentes.
De acordo com os resultados de Oliveira, ""Agir afirmativamente" significa ter consciência da dinâmica excludente que rege a nossa sociedade. No plano estritamente jurídico, o princípio da ação afirmativa é perfeitamente compatível com o conteúdo do Princípio da Igualdade constitucionalmente previsto. Vê-se, portanto, que a Constituição Brasileira de 1988 não se limita a proibir a discriminação, afirmando a igualdade, mas permite, também, a utilização de medidas que a efetiva, como é o caso dos citados dispositivos, inclusive materialmente". Sendo assim, o autor conclui: "As ações afirmativas, entendidas então como normas propiciadoras da implementação do Princípio da Igualdade, são implicitamente instrumentos para aferir eficácia ao objetivo fundamental da República Federativa do Brasil de promover a construção de uma sociedade livre, justa e solidária (Art. 3°, I, CF/88). Assim, concluímos que se a igualdade jurídica fosse apenas a vedação de tratamentos discriminatórios, o princípio seria absolutamente insuficiente para possibilitar a realização dos objetivos fundamentais da República constitucionalmente definidos, sendo pois as ações afirmativas o meio mais eficaz para a consecução de tais objetivos. E, neste contexto, respondemos a indagação inicial da relação entre o referido princípio fundamental e os dispositivos afirmativos, pois somente a ação afirmativa, vale dizer, a atuação transformadora, igualadora pelo e segundo o Direito, possibilita a verdade do princípio da igualdade, para se chegar à igualdade que a Constituição Brasileira garante como direito fundamental de todos. (André Luiz Pereira de Oliveira/ UFU. Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006).
(b)
Continuação...
As cotas são um tipo necessário de ação afirmativa visto que em TODOS os patamares da sociedade brasilira (que é composta, segundo dados o IBGE por 50,6% de indivíduos que se autodeclararam de cor negra/parda e por 48,4% de indivíduos que se autodeclararam de cor branca) não há uma representividade negra, como bem lembrou Glaucia.
Voltemos ao texto com a resposta da leitora citada (peço licensa pelo uso d suas palavras as quais, devo rlembrar, faço minhas por concorar em todas as linhas.
"A discussão sobre ações afirmativas é realmente polêmica e suscita opiniões diversas na sociedade brasileira, não havendo consenso sobre o tema. Dependendo do ponto de vista em que se observa a questão, as ações afirmativas podem ser consideradas injustas ou não.
Do seu ponto de vista pessoal, que não é negro e também não tem condições financeiras de se preparar adequadamente para o concurso de Diplomacia, não ser contemplado por programas desse tipo parece realmente injusto.
Agora, do ponto de vista histórico, cultural e social, que eu acredito ser o ponto de vista dessas ações, esses programas tentam “corrigir” injustiças cometidas pelo país durante sua formação política, social e econômica.
Acho que para discutir o assunto é necessário ter um profundo conhecimento sobre a história do nosso país e, mais ainda, é necessário compreender que as ações do passado influenciaram negativamente na situação atual do negro. Algumas medidas tomadas pelo Governo no passado e alguns pensamentos da época, impediram deliberadamente o acesso do negro à economia, à educação e à cultura.
De acordo com historiadores, sociólogos, antropólogos e outros estudiosos, após a abolição da escravatura no Brasil, não houve uma política pública de inserção do negro na sociedade brasileira.
A falta de criação de um mercado de trabalho que absorvesse a mão-de-obra negra, a concentração fundiária na mão de ricos produtores agrícolas que privaram a população negra de acesso a "mecanismos democráticos de ascensão social, econômica e cultural" e o preconceito racial alimentado após quatro séculos de escravidão, gerou uma estrutura de segregação absoluta. Os negros continuaram desempenhando as mesmas funções de antes ou vivendo em subempregos, e muitos passaram a viver uma vida miserável.
"Alguns empregavam-se em outras fazendas e passaram a constituir uma população móvel, flutuante, caracterizada pela instabilidade. Outros aglomeraram-se nos núcleos urbanos, vivendo de expedientes, morando em choças e casebres nos arredores das cidades, dando origem a uma população de "favelados", sem ocupação definitiva." Como afirma a historiadora Emília Viotti da Costa em "Da Senzala à Colônia",
Algumas medidas tomadas no passado e alguns pensamentos preconceituosos da época impediram o acesso do negro à educação e à cultura.
No século XIX, vários decretos impediram ou limitaram o acesso dos negros aos bancos escolares. No pós-Abolição, o Estado empreendeu uma política deliberada de branqueamento, tomando uma série de medidas de favorecimento aos imigrantes europeus, na busca de substituir a mão de obra negra do país - uma vez que o negro era visto como inculto e elemento de atraso cultural e econômico. Essa política fazia com que o negro ficasse cada vez mais à margem da sociedade, sem emprego e sem posição social digna. Expoentes do pensamento brasileiro daquela época, inclusive abolicionistas, consideravam que existia uma escala de evolução das raças na qual os negros, pelas suas características biológicas, ocupavam a última posição. Até mesmo a igreja católica acreditava que os negros não possuíam alma.
Além disso, há dados estatísticos que comprovam que o negro, após a segregação de séculos, não teve acesso real à dinâmica social e econômica do país.
Continua...
(c) [final]
Continuação...
Segundo o IBGE, 47% da população do país é negra (preta ou parda), mas 84% dos alunos universitários são brancos. Em 2005, dos 620 Procuradores da República, apenas 7 eram negros. Dos 77 ministros dos quatro tribunais superiores, havia apenas 2 negros. Dos 513 deputados da Câmara Federal, apenas 20 eram negros. Do corpo de 1000 diplomatas do Itamaraty, apenas 10 eram negros.
Acredito que se a população negra não tivesse sido preterida ao longo dos séculos, as estatísticas apresentadas, devido a quantidade de negros e brancos existentes no país, não seriam tão desproporcionais.
Vale ressaltar ainda que existem ações afirmativas para corrigir distorções entre homens e mulheres e para garantir cotas femininas de 30% nas candidaturas partidárias e que mais de 35 universidades entre federais e estaduais já implementaram cotas para estudantes indígenas.
Não podemos fingir que essas afirmações não são verdadeiras e nem fazem parte da realidade do nosso país. Mulheres, negros e índios, foram preteridos durante séculos por pensamentos preconceituosos e por ganância.
Acredito, Dantas, que precisamos nos aprofundar na história do país para entender ações afirmativas como essa do IRBr. Hoje em dia, a discussão não acontece só no Brasil, mas no mundo todo. O avanço da ciência e da filosofia vem derrubando questões preconceituosas que fizeram parte do nosso ideário por muito tempo. Hoje já se percebe a igualdade intelectual entre sexo e raça, mas antigamente não e, portanto, é necessário que algumas medidas sejam tomadas para corrigir essas distorções. As mulheres só passaram a ter direito a voto pela constituição de 1934 e ainda precisam de cotas para que os partidos acostumem com as candidaturas femininas, os índios são obrigados a esperar a doação de terras do governo - criação de reservas – para viverem em suas próprias terras e os negros ainda lutam para terem o direito de competir em iguais condições.
Concordo também que hoje em dia é difícil saber quem é negro e quem é branco, quem descende de africanos e quem descende exclusivamente de brancos. Concordo ainda que haja exceções: existem brancos vivendo em favelas como há negros de vivendo em bairros de classe média. A questão é a proporção - a maioria de pobres e “favelados” são negros enquanto a maioria da classe média é branca, isso é um fato!
Mas não tenho intenção nenhuma de mudar a sua opinião sobre o assunto. Assim como entendo a sua indignação e a sua frustração pessoal, também entendo as bases das ações afirmativas (...).
Postado por Danielly no blog Diplomatizzando... em Sexta-feira, Dezembro 25, 2009 5:33:00 PM
Assim que tiver condições, vou comentar estes novos comentários.
Paulo Roberto de Almeida (25.12.2009, 18h49)
1621) Amorim: O Brasil tem um bom diálogo com os Estados Unidos e o Irã.
'Incomoda o Brasil agir sem pedir licença'
Entrevista Celso Amorim
Eliane Oliveira
O Globo, 25/12/2009
Ministro do Exterior brasileiro critica Washington sobre Honduras e Colômbia, e defende diálogo com Irã
Ainda festejando a repercussão da participação do Brasil na conferência de Copenhague, o ministro do Exterior, Celso Amorim, diz faltar franqueza na relação entre EUA e América Latina, e declara não se dar por satisfeito com as garantias de Washington de que o uso de bases na Colômbia, por tropas americanas, será restrito a este país. Queixa-se da demora dos EUA em pressionar Honduras. Sobre a relação com o Irã, afirma não crer em problemas com os EUA, dizendo que incomoda a certos setores o Brasil agir sem pedir licença. A reunião sobre o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares no ano que vem, frisa, será um teste para saber se as potências atômicas terão moral para cobrar dos outros.
O GLOBO: Afinal, incomodou ou não os EUA a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil?
Celso Amorim: Não creio. O próprio presidente Barack Obama enviou uma carta pedindo para intercedermos.
Mas como intercedermos sem o diálogo? Pode ser que algum setor nos Estados Unidos, ou algum setor daqui, tenha ficado incomodado.
Conversei com a secretária de Estado, Hillary Clinton, e não senti de sua parte qualquer malestar.É muito incômodo que o Brasil faça as coisas sem pedir licença.Foi assim com a Síria e com a Líbia.Se o Brasil age por sua própria iniciativa, incomoda os intermediários da dependência.
O presidente Lula diz acreditar que o programa nuclear do Irã terá uso pacífico, mas também argumenta que EUA e Rússia não têm autoridade moral para criticar o Irã, porque possuem arsenal nuclear. Isso é uma defesa implícita do direito dos iranianos a armas nucleares?
Amorim: O Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) é muito claro em seu artigo 6o: estabelece que um dos objetivos é o desarmamento das potências nucleares. Os países não nucleares se comprometem a não ter armamento nuclear e os nucleares se comprometem a se desarmar. Durante anos e anos só assistimos ênfase no aspecto da não-proliferação e pouquíssimo desarmamento. Agora, o presidente Obama, pela primeira vez em muitos anos, tem voltado a falar, até de maneira retoricamente mais forte, na eliminação total das armas nucleares, ou num mundo livre de armas nucleares, embora o horizonte seja longínquo. É preciso que ocorram passos concretos. A próxima conferência no TNP, em abril ou maio, em Nova York, será um teste para sabermos se as potências nucleares estão também dispostas a se desarmar. Se não se desarmam, não têm moral para cobrar dos outros. O Brasil adotou sua posição de não ter armas nucleares.
E especificamente no caso do Irã?
Amorim: Na medida em que temos alguma chance, procuramos ajudar a encontrar um caminho que favoreça o diálogo. O Brasil tem um bom diálogo com os Estados Unidos e o Irã.
O assessor para assuntos internacionais do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, disse que há" uma certa decepção" e um sabor de "frustração" com o governo Obama na América Latina.Qual a sua avaliação deste primeiro ano de Obama?
Amorim: Ainda está um pouco cedo para avaliar o primeiro ano. Falta um mês. De repente, há alguma evolução.
Muitas coisas sequer chegam ao presidente Obama. Em alguns casos, deveria haver mais transparência.
São exemplos as bases militares na Colômbia e Honduras, quando houve demora em se fazer pressão sobre os golpistas. Mas, de forma geral, não vejo interposição entre as posições americana e brasileira.
No caso de Honduras, por que não há a mesma intransigência na defesa da democracia como um valor essencial em Cuba e no Irã?
Amorim: O Irã é um caso totalmente à parte. Bem ou mal tem eleições, ações distintas, posições distintas e várias forças sociais. Se você pega a lista de aliados dos EUA, há países questionáveis onde são usadas até bases militares. Veja se há eleições, veja os direitos da mulher. Nas relações internacionais você não pode ficar escolhendo. No caso de Honduras, houve um golpe de Estado, com militares tirando o presidente com o cano de espingarda na cabeça.
Nós, da América Latina, somos corretamente traumatizados com esse tipo de situação. Honduras assinou a carta da OEA (Organização dos Estados Americanos), tem obrigações que o Irã não tem conosco.Houve uma posição unânime da OEA condenando o golpe.
Houve críticas ao Brasil por ter abrigado o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, na embaixada brasileira em Tegucigalpa.
Amorim: Ao Brasil, que está dando proteção a Zelaya, não cabia qualquer tentativa de negociação. Zelaya chegou a nossa embaixada sem ter sido previamente convidado, mas chegou lá como presidente legítimo.
A proteção foi reconhecida por todos. Sua chegada à embaixada acabou criando as condições para o diálogo, embora não tenha saído o resultado que esperávamos.
O acordo militar entre EUA e Colômbia gerou uma forte crise entre colombianos e venezuelanos. O Brasil intermediaria um entendimento?
Amorim: Para intermediar, é preciso que haja desejo dos dois lados.
Infelizmente, não estou percebendo esse desejo. Cada um tem lá suas razões e aponta lá seus motivos. No momento em que houver disposição, o Brasil está pronto a ajudar.
A carta enviada pelo governo dos EUA aos ministros da Defesa da América do Sul dando garantias de que o acordo se limitaria ao território colombiano satisfez o Brasil?
Amorim: Na verdade, Hillary Clinton enviou duas cartas. Isso significa que está errada a interpretação de que os EUA não deram importância às reclamações dos vizinhos. Porém, é claro que, mesmo que se dê todas as garantias, sempre há algum incômodo.A própria Colômbia também deu garantias formais. Mas não posso dizer que estou satisfeito. Se seu vizinho chegar amanhã e acumular um arsenal, você continuará preocupado.Este é um assunto que não morreu, as conversas terão que continuar.
Esse episódio contribuiu para arranhar as relações com os americanos?
Amorim: É preciso mais franqueza na relação entre EUA e América Latina e Caribe. Devo dizer que, às vezes, os altos escalões do governo americano não tomam conhecimento de certos fatos, como as bases na Colômbia e a Quarta Frota. É como se tivessem seguido processos mais ou menos automáticos.
O Brasil é visto como aliado dos EUA no Oriente Médio?
Amorim: Somos aliados no sentido de querermos a paz. E somos aliados no sentido que somos interlocutores com vários dos principais atores da região.
Como o senhor avalia a falta de acordo na conferência da ONU sobre o clima, em Copenhague?
Amorim: Demos um passo importante.Foi criado um novo grupo, o Basic (Brasil, África do Sul, Índia e China), que protagonizou uma negociação decisiva com os Estados Unidos.É uma mudança de poder.
O papel de mediador-chave nas negociações do clima pode ajudar o Brasil a conquistar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU?
Amorim: Isso será uma consequência.Se a carta da ONU estivesse sendo escrita hoje, o Brasil seria membro e talvez outros países não fossem. Estou tranquilo a esse respeito.
Existe perspectiva de um acordo na próxima reunião sobre o clima, no México?
Amorim: Confio muito na opinião pública e na consciência mundial. O esforço que foi feito na conferência fará com que, daqui para a frente, não possa haver mais recuos, apenas avanços. O Brasil, por exemplo, não só colocou metas ambiciosas, como disse que vai poder contribuir para ajudar os outros. China e Índia também avançaram, não como queríamos, mas avançaram.
E quanto aos EUA?
Amorim: Acho que os EUA terão que avançar mais no futuro. O passo que eles deram foi modesto, mas se você comparar com o governo anterior, que não queria fazer nada, melhorou.A pressão vai aumentar.
Qual a importância do Brasil nesse processo de negociação?
Amorim: O Brasil serviu como balizador, para mostrar que uma posição muito rígida por parte dos países emergentes não teria legitimidade.
Ao mesmo tempo, colocou-se do lado deles para negociar adequadamente com os ricos e os EUA.
A América Latina se dividiu radicalmente nas negociações de Copenhague.Como o senhor vê a posição de Bolívia e Venezuela que, embora alegassem divergências políticas, estariam apenas defendendo seus interesses como produtores de combustíveis fósseis?
Amorim: É um dilema que os organismos multilaterais têm de enfrentar, pois negociar o tempo todo entre mais de 190 países não dá. Por outro lado, quando se faz um grupo negociador, alguns sempre ficam de fora e isso gera ressentimento.Esse é um aspecto que cada vez mais a ONU terá que levar em conta. A era dessas resoluções todas por consenso já está meio superada.
Quais os próximos passos?
Amorim: Até 31 de janeiro, os países têm que listar suas metas e as nações em desenvolvimento, suas ações que terão como resultado a redução das emissões.
1620) EUA: sua forca está na imigracao (e na liberdade...)
Por que os imigrantes preferem os EUA?
The Economist, 25/12/2009
Quando o sul-coreano Joshua Lee chegou aos Estados Unidos, sua primeira impressão foi o excesso de riqueza. A comida era abundante, a energia barata e as casas enormes. No entanto, este não é o motivo que o fez adotar o país como seu novo lar. Para Lee e outros milhões de imigrantes, os Estados Unidos são uma nação que permite que se viva de acordo com sua própria cultura enquanto se adota aspectos interessantes da cultura nativa.
Nos Estados Unidos é possível para os seus 38 milhões de imigrantes, bem acima da média para países desenvolvidos, arranjarem seu nicho sem dificuldades. Enquanto em outros países as leis costumam ser as mesmas independente do estado, nos Estados Unidos, os 50 estados que formam o país tem legislações que podem ser radicalmente diferentes. Assim, um imigrante britânico entusiasta de caça à raposas, prática banida em toda Grã-Bretanha, pode praticar seu esporte à vontade em diversos estados norte-americanos.
Ou seja, os cidadãos norte-americanos podem escolher sob quais leis desejam viver. O imigrante que não quiser pagar altos impostos pode viver no Texas. Quem desejar boas escolas pode ir para Portland. Os mais conservadores, que não desejam álcool ou sexo em excesso, podem viver no estado de Utah.
Liberdade intelectual também é incentivada, com milhares de institutos organizados para defender os mais diferentes pontos de vista. Apesar do senso comum, o país não é intolerante com pessoas de outras religiões. Cristão e judeus muitas vezes decidem migrar para os Estados Unidos porque sabem que não vão sofrer preconceito ou perseguição como acontece no Oriente Médio, por exemplo.
O resultado é que o país atrai talentos de outras nações. Políticos norte-americanos, no entanto, não parecem ver o lado bom da imigração. Eles acreditam que o país está perdendo sua capacidade de absorver pessoas de outros países, o que provavelmente não é verdade. As reclamações são antigas. Benjamin Franklin já dizia que o país nunca conseguiria assimilar os imigrantes alemães. Hoje, os Estados Unidos contam com 50 milhões de descendentes de alemães, sendo que quase nenhum fala a língua da velha pátria.
Em nossa opinão (The Economist)
A resposta a essa indagação poderia ser dada com uma palavra: liberdade. O imigrante tem a liberdade de continuar usando sua própria língua, de praticar a religião que quiser e de trabalhar e empreender. É em busca disso que vêm os imigrantes.
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Going to America
A Ponzi scheme that works
The Economist, Dec 17th 2009
ANNANDALE, VIRGINIA AND DALLAS, TEXAS
The greatest strength of America is that people want to live there
AT ONE of the many Korean restaurants in Annandale, Virginia, a waitress cracks a raw egg into a sizzling tofu-and-oyster stew. Tables buckle under heaps of chili-, garlic- and cabbage-themed side dishes. Every customer is of Korean origin. Is this a sign that Korean immigrants are failing to assimilate in America?
Far from it. A mother addresses her college-age daughter in Korean; the daughter replies in English. A muscular man with a buzz cut reads a Korean newspaper; his T-shirt proclaims, in English: “Support our Troops”.
Across the highway, in a building that houses several Korean businesses, Joshua Lee sits on a sofa and explains why he likes living in America. He grew up poor: his father was a day labourer. He did his military service on an American base in Seoul, where he polished his English and learned to like hot dogs. He moved to America in 1990, when he was 27, to study theology in Kentucky. He painted houses to support himself.
He met his wife, a Korean-American, and moved to northern Virginia, home to a hefty cluster of Korean-Americans. Eventually, he found a job writing for a Korean-language newspaper about Korean-American issues.
When he arrived, Mr Lee was astonished by how rich nearly everyone was. He recalls his first dinner with Americans: the huge bowls and immense portions. He was startled to see lights left on in empty rooms. He is still impressed: “The roads are so wide, the cars so big, the houses so large—everything is abundant,” he says.
Yet this is not why he came, and it is not why he stayed and became a citizen. For Mr Lee, America is a land that offers “the chance to be whatever you want to be”. More prosaically, it is a place where nearly any immigrant can find a niche.
Mr Lee’s niche is an agreeable one. His suburb has safe streets, spacious backyards and good schools. He eats Korean food every day, but not for every meal. He attends a Baptist church where services are in Korean, but the Sunday-school classes are in English. He retains what he loves about his native culture—the work ethic, language, spicy cabbage—while shrugging off the rest.
For example, he never liked the way his neighbours in Korea stuck their noses into each other’s business. Everyone knew how you were doing in school. You could not get a good job without connections. There was constant social pressure not to lose face. When Mr Lee went back to visit, he remembers slipping into the old straitjacket. He wanted to pop out to the corner shop, but realised he would have to put on a smart shirt and trousers, despite the intense humidity. What would the neighbours think if they saw him in shorts and flip-flops? In America, no one cares.
In Korea, he says, to express an unusual opinion is to court isolation. In America, you can say what you think. To relax, Mr Lee listens to Rush Limbaugh and Sean Hannity, two combative right-wing pundits. “Maybe you don’t like these people, but I really [do],” he says.
Three hundred million niches
Because America is so big and diverse, immigrants have an incredible array of choices. The proportion of Americans who are foreign-born, at 13%, is higher than the rich-country average of 8.4%. In absolute terms, the gulf is much wider. America’s foreign-born population of 38m is nearly four times larger than those of Russia or Germany, the nearest contenders. It dwarfs the number of migrants in Japan (below 2m) or China (under 1m). The recession has dramatically slowed the influx of immigrants and prompted quite a few to move back to Mexico. But the economy will eventually recover and the influx will resume.
No matter where an immigrant hails from, he can find a cluster of his ethnic kin in America
Nearly all Americans are descended from people who came from somewhere else in the past couple of centuries. And the variety of countries from which immigrants come—roughly all of them, and usually in significant numbers—is unmatched. No matter where an immigrant hails from, he can find a cluster of his ethnic kin somewhere in America. In fact, he is probably spoilt for choice. If he wants to live in a suburb, eat Korean food and listen to fire-and-brimstone sermons in Korean, he can do so in northern Virginia. If he prefers an urban and secular Korean lifestyle, he can try Boston or San Francisco. If he craves Ethiopian food, Amharic radio and lots of gay clubs, Washington, DC, may suit him. And so on.
You can find welcoming clusters of ethnic minorities in other rich countries, but not nearly as many. In a European country, if you want Korean food and a particular denomination of Korean church, you might find it in the capital but you will struggle in the suburbs. In America, it is easier to find just the niche you want: Polish or Vietnamese, metropolitan or exurban, gay or straight, Episcopalian or Muslim, or any combination of the above.
You have a choice of weather and landscape, from snowy Alaska to baking Texas, from the mountains of Colorado to the forests of Maine. Northern Virginia, where Mr Lee lives, has the same climate as his homeland: winter is freezing, summer is muggy, autumn is delightful and spring brings cascades of cherry blossoms.
A place where hunters are not hounded
Consider another example. Dennis Downing, an Englishman, moved to America for the fox-hunting. A professional huntsman, he cares for the hounds that hunt the fox during a traditional hunt. (Everyone else is merely there for the ride.) He has done this all his working life.
In 1997 Britain elected a government that promised a vote on banning the sport and Mr Downing, seeing the writing on the wall, left the next year. (Fox-hunting was eventually banned in 2004.) After three years with a hunt in Alabama, he moved to Virginia, where English-style fox-hunting has been popular since George Washington’s day. He now works with the Blue Ridge Hunt and lives in the beautiful Shenandoah valley. He likes the weather, the space and the freedom to hunt.
That freedom is secure. America has 50 states with 50 sets of laws. Virginia will never ban hunting, but even if it did, there are 49 other states that won’t. In America, people with unusual hobbies are generally left alone. And power is so devolved that you can more or less choose which rules you want to live under.
If you like low taxes and the death penalty, try Texas. For good public schools and subsidised cycle paths, try Portland, Oregon. Even within states, the rules vary widely. Bath County, Kentucky is dry. Next-door Bourbon County, as the name implies, is not. Nearby Montgomery County is in between: a “moist” county where the sale of alcohol is banned except in one city. Liberal foreign students let it all hang out at Berkeley; those from traditional backgrounds may prefer a campus where there is no peer pressure to drink or fornicate, such as Brigham Young in Utah.
People move for a variety of reasons. Alejandro Mayorkas, the head of the United States Citizenship and Immigration Services, cites two. People come to America, he says, either because they yearn for freedom or because they are fleeing something. That something could be a civil war, or it could be a culture that irks them. In Ayaan Hirsi Ali’s case, it was both.
She was born in Somalia. As a young girl she was circumcised. “I heard it, like a butcher snipping the fat off a piece of meat,” she recalls. Her grandmother taught her to expect men to be violent. If attacked, she told her to duck behind the man, reach up inside his sarong, grab his testicles and crush them.
Ms Hirsi Ali grew up strong-willed. She fled from Somalia’s civil war, and then from an arranged marriage. She sought asylum in the Netherlands, a country that she found shockingly nice. The policemen were polite and helpful, instead of demanding bribes with menaces. The government gave refugees room and board. “Where did they get the money from?” she wondered, “Why didn’t it run out?”
She quickly learned Dutch and found work as an interpreter. In this job, she visited shelters for battered women, where she noticed that nearly all the victims were Muslims. These women seldom pressed charges against their violent husbands. The social workers would ask: “Do you have family here? Can they help you?” The women would reply: “But they support my husband, of course!” This infuriated Ms Hirsi Ali: “I knew that many Dutch women were abused, too. But their community and their family didn’t approve of it.”
She began to campaign against domestic violence. She became a member of parliament, and won a dangerous kind of fame as an ex-Muslim apostate. With a Dutch filmmaker, Theo van Gogh, she made a short film about what she saw as the oppression of women under Islam. An outraged fanatic murdered van Gogh and stabbed into his chest a letter to Ms Hirsi Ali, promising to kill her, too. So she moved to America, where she is not famous. She keeps sensibly quiet about where she lives, but she can travel and shop without the constant fear of death.
Speaking in Dallas, she praises the intellectual freedom in America. In the Netherlands, she says, think-tanks are typically subsidised by the government and tied to a political party. This makes them timid, she believes. If an idea sounds too controversial, they shy away from it. For example, she had a theory that government-funded Muslim schools in the Netherlands were fostering self-segregation, and asked if they should be closed. No one wanted to listen, she says; her colleagues feared appearing racist.
In America swarms of privately funded think-tanks represent almost any view you can imagine. Their response to hard questions is more serious, she says. People ask if your hypothesis is true, and then suggest ways to raise the money to find out. In America, Ms Hirsi Ali found the funds to set up a foundation to study violence against Muslim women. No one has a clue how common this is in America. She means to find out.
She admits that before visiting America she had a negative view of the country. Listening to her Dutch friends, she assumed that Americans were fat, loutish, naive and sexually repressed. “But then I came here and found it was all false,” she smiles.
Outsiders sometimes assume that it is hard to be an outspoken atheist in a devout country such as America. Ms Hirsi Ali thinks it is easy. Many Christians ask if she is a believer. When she replies no, she says “they don’t try to kill me. They say they’ll pray for me”.
Besides Somalia and the Netherlands, Ms Hirsi Ali has lived in Ethiopia, Kenya and Saudi Arabia. Of all these places, she considers America to be the easiest place to assimilate. She has her niche, hanging out with “nerdy academics” and eating Japanese food. Unlike Mr Lee, she is more or less divorced from her native culture. But that works just fine in America. “I’m surprised how fast complete strangers will invite you into their houses,” she says. Asked what she dislikes about her new home, she mentions that the air-conditioning is too cold.
A magnet for talent
Migration matters. Economic growth depends on productivity, and the most productive people are often the most mobile. A quarter of America’s engineering and technology firms founded between 1995 and 2005 had an immigrant founder, according to Vivek Wadhwa of Harvard Law School. A quarter of international patent applications filed from America were the work of foreign nationals. And such measures ignore the children of immigrants. Jeff Bezos, the founder of Amazon, is the stepson of a man who fled Cuba at the age of 15 and arrived without even a high-school diploma.
Richard Florida, the author of such books as “The Flight of the Creative Class” and “Who’s Your City?”, argues that countries and regions and cities are engaged in a global battle for talent. The most creative people can live more or less where they want. They tend to pick places that offer not only material comfort but also the stimulation of being surrounded by other creative types.
This makes life more fun. It also fosters technological progress. When clever people cluster, they can bounce ideas off each other. This is why rents are so high in Manhattan. Robert Lucas, a Nobel economics laureate, argues that the clustering of talent is the primary driver of economic growth.
So a country’s economic prospects depend in large measure on whether it is a place where people want to be. Desirable destinations draw talented and industrious migrants. Less desirable ones suffer a brain drain. Desirability is tricky to measure, however.
People cannot vote freely with their feet. No rich country allows unlimited immigration, and the rules vary a lot, so it is impossible to know which country is the most attractive to the largest number of people. But there are reasons to believe that America ranks at or near the top.
Mr Florida and Irene Tinagli of Carnegie Mellon University compiled a “Global Creativity Index”, which tries to capture countries’ ability to harness talent for “innovation...and long-run prosperity”. The index combines measures of talent, technology and tolerance. America comes fourth, behind Sweden, Japan and Finland. You could quarrel with the methodology. America comes top on certain measures, such as patents per head and college degrees, but it is deemed less tolerant than other countries in the top ten. This is because the index rewards “modern, secular” values and penalises Americans for being religious and nationalistic.
This is a mistake. Some religious countries are indeed intolerant, but America is not one of them, as Ms Hirsi Ali attests. And for many talented people, such as Mr Lee, America’s vibrant and varied religious scene makes the country more attractive, not less.
Michael Fix of the Migration Policy Institute, a think-tank, observes that religion has a strong effect on who comes to America. For example, although Muslims slightly outnumber Christians in Nigeria, Nigerian immigrants to America are 92% Christian and only 5% Muslim. Christians are about a quarter of the South Korean population, but four-fifths of Korean immigrants in America are Christian. Migrants from the Middle East and North Africa are mostly Muslim, but a hefty 28% are Christian and 10% are Jewish.
Christians and Jews are drawn to America in part because they know it is an easy place to be Christian or Jewish. They don’t face persecution, as they might in the Middle East. Nor do they face derision, as they might in more aggressively secular parts of Europe. Also, churches create networks. Migrants typically go where they already know people, and often make contact through a church.
It is also a mistake to rate Americans as less tolerant because they are nationalistic. Americans may have an annoyingly high opinion of their country, but theirs is an inclusive nationalism. Most believe that anyone can become American. Almost nobody in Japan thinks that anyone can become Japanese, yet Japan is rated more “tolerant” than America. This is absurd.
Fear of foreigners
Not everyone thinks that immigration makes America stronger. Most of the Republicans who ran for president in 2008 promised a tough line on the illegal sort. Tom Tancredo, the angriest of them, describes America’s porous borders as a “mortal danger”, though he is the grandson of immigrants from Italy. Pat Buchanan, another former presidential candidate, wrote a book subtitled: “The Third World Invasion and Conquest of America”.
Some worry about illegal immigration because they favour the rule of law. “When there are people in Mexico City waiting in line and paying their fees and doing everything right, and they are having to wait for years, and then other folks are coming in without waiting in line—that’s not fair,” said Barack Obama in October. But many Americans also think that too many legal immigrants are admitted.
Some fear that open borders make it easier for terrorists to sneak in. Others worry that immigrants overload schools and hospitals, or drag down the wages of the native-born. Environmentalists fret that immigration drives population growth, which aggravates urban sprawl, pollution and global warming.
The argument that stirs the hottest passions, however, is cultural. The late Samuel Huntington, a Harvard academic, argued that Hispanic immigrants, because they are so numerous, will not assimilate. Rather, they threaten to “divide the United States into two peoples, two cultures and two languages” and “[reject] the Anglo-Protestant values that built the American dream”.
Some look at the great multi-ethnic experiment and see a society on the brink of breakdown
Mark Krikorian, the author of “The New Case Against Immigration: Both Legal and Illegal”, points out that modern immigrants can call home every day. This, he says, means they are less likely to give up their old ties and become American. He complains that the American elite no longer thinks American culture is worth preserving, and therefore no longer insists that immigrants imbibe it. He also predicts that mass immigration from poor countries is incompatible with the welfare state—too many newcomers will bankrupt it.
Some outsiders look at America’s great multi-ethnic experiment and see a society teetering on the brink of violent breakdown. “White America is in decline,” writes Gary Younge, a left-wing British journalist. He adds: “Never having considered the unearned privilege of being white and American, all they can see are things being taken away from them. Never having considered solidarity with blacks and Latinos, they see them not as potential allies but as perpetual enemies.”
Nearly all this gloom is misplaced. It is possible that unskilled immigrants hurt the wages of unskilled locals. George Borjas, a Harvard economist, estimates that native workers’ wages decline by 3% or 4% for every 10% increase in immigrants with similar skills. But others, such as David Card of the University of California, Berkeley, have found little or no impact. Gianmarco Ottaviano of the University of Bologna and Giovanni Peri of the University of California, Davis, find that nearly 90% of native-born American workers actually enjoy higher wages because of immigration. Many immigrants bring new skills and ideas, spend money, pay taxes and employ natives.
Mass immigration may be hard to combine with a generous welfare state, but this argument applies more to Europe than to America. In America it is hard for an able-bodied adult male to do anything more than subsist on welfare. So immigrants work, which means they are seldom much of a drain on the public purse, and they have no choice but to assimilate. People who work together need to get on with each other, so they generally do.
Because immigrants have to work, America does not have ghettos full of permanently jobless and alienated young immigrants, as in France, for example. This is perhaps why, although America has a high murder rate—three times that of Britain—its immigrants rarely riot. They are too busy earning a living. America has not in recent years seen anything like the immigrant riots that torched the Paris suburbs in 2005. The closest parallel, the Los Angeles riots of 1992, sprang from the unique grievances of the one large ethnic group whose ancestors did not voluntarily migrate to America: African-Americans.
Some of America’s talk-show hosts are quite vicious, but no openly xenophobic politician can attract the kind of support that France’s Jean-Marie Le Pen did in 2002, or that Austria’s Jörg Haider did before he got drunk and killed himself in a car crash. Political rhetoric in America is often heated but almost never leads to violence. Ms Hirsi Ali recalls watching the vice-presidential debate on the television last year with friends in New York. Her Democratic friends thought Sarah Palin was ghastly. Her Republican friends were equally appalled by Joe Biden. Tempers rose so high during the election campaign that Ms Hirsi Ali thought the country might come to blows. But then polling day passed, and the tension was gone. She saw her Republican and Democrat friends eating cupcakes together. Americans get passionate about politics, she observes, but the next day they get on with their lives.
As Mr Krikorian concedes, the fear that new immigrants are disagreeably different is not new. In 17th-century Massachusetts, one group of English Protestants (the Puritans) banished another group of English Protestants (the Quakers) and even hanged some of those who returned. Benjamin Franklin doubted that German immigrants would ever assimilate. “Why should the Palatine Boors be suffered to swarm into our settlements?” he asked, adding that they “will never adopt our Language or Customs”. Today, there are 50m German-Americans, hardly any of whom speak German. Indeed, they have intermingled and intermarried so much that they are barely noticeable as a separate group.
The doomsayers about immigration have always been wrong before. It is a fair bet that they are wrong now. America has lost none of its capacity to absorb newcomers. A recent survey by Public Agenda, a polling group, asked immigrants in America how long it took them to feel comfortable and “part of the community”. Some 77% said it took less than five years. Only 5% said they had never felt that they fitted in. In contrast 58% of people of Turkish descent in Germany say that they feel unwelcome, and 78% do not feel that Angela Merkel is their chancellor.
America is a uniquely attractive place to live: a lifestyle superpower. But it cannot afford to be complacent, for three reasons. First, other places, such as Australia, Canada and parts of Western Europe, have started to compete for footloose talent. Second, rising powers such as India and China are hanging on to more of their home-grown brains. There is even a sizeable reverse brain drain, as people of Indian or Chinese origin return to their homes. But neither India nor China attracts many completely foreign migrants who wish to “become” Indian or Chinese.
Third, since September 11th 2001 the American immigration process has become more security-conscious, which is to say, slower and more humiliating. Even applicants with jobs lined up can wait years for their papers. Many grow discouraged and either stay at home or try their luck somewhere less fortress-like.
A bigger welcome mat needed
President Obama promises immigration reform: stricter border controls but also a path to citizenship for those in the country illegally. George Bush promised the same thing, but Congress blocked him. Mr Obama has his work cut out to avoid that fate; and although he is the son of a Kenyan Harvard student, he has done little to make the system less cumbersome for skilled migrants.
“The United States alone among great powers will be increasing its share of world population over time”
The stakes are high. Immigration keeps America young, strong and growing. “The populations of Europe, Russia and Japan are declining, and those of China and India are levelling off. The United States alone among great powers will be increasing its share of world population over time,” predicts Michael Lind of the New America Foundation, a think-tank. By 2050, there could be 500m Americans; by 2100, a billion. That means America could remain the pre-eminent nation for longer than many people expect. “Relying on the import of money, workers, and brains,” writes Mr Lind, America is “a Ponzi scheme that works.”
1619) O brasileiro é obcecado por concursos públicos?
Infelizmente sim, obsessivamente sim. Isso ainda vai afundar o Brasil. Querem apostar?
Esperem mais dez anos: o funcionalismo vai consumir 15% (ou mais) dos orçamentos públicos, condenando a taxa de investímentos públicos (já pífia, atualmente) a permanecer em níveis irrisórios pelo futuro previsível...
O Estado é um ogro insaciável, que consome todos os recursos da Nação, um vampiro sedento que suga toda a seiva do setor produtivo.
Infelizmente, essa tendência não vai ser revertida any time soon...
Paulo Roberto de Almeida
O brasileiro é obcecado por concursos públicos?
Fábio Terra Teixeira
Site Opinião e Notícia, 25/12/2009
A foto acima mostra a multidão de cariocas que se mobilizou para participar de um concurso para gari da Comlurb, no dia sete de outubro de 2009. A empresa estatal contabilizou 104,4 mil inscrições. Quem passar terá direito a um emprego de R$ 900 mensais. Os números apresentados levam a crer que se tratam de pessoas sem perspectiva profissional, ou que precisam de dinheiro. Mas em levantamento feito pela Comlurb, 1.026 candidatos tinham nível superior e 45 eram doutorandos. Por que tanta vontade de se ter um emprego público?
De acordo com o professor de economia da Universidade Federal Fluminense Fernando Mattos a resposta passa por dois pontos antigos: a estabilidade no emprego e a perspectiva de crescimento profissional. “O que se tem de novo é que o Estado brasileiro está se aparelhando melhor, o que é positivo. O objetivo é dar um atendimento melhor para a população”, afirma Mattos, responsável por uma pesquisa sobre o aumento no número de concursados.
O aumento é inegável. De acordo com o vice-presidente do Instituto Liberal, Roberto Fendt, o governo Lula, entre dezembro de 2002 e setembro de 2009, aumentou o efetivo de funcionários públicos (excluindo Forças Armadas) em 177 mil. O número pode parecer pequeno, mas vale lembrar que ele se refere apenas aos funcionários federais. O concurso da Comlurb, que é estadual, oferecia 1,4 mil vagas. “Só no Executivo são 104 mil. A minha opinião é que caberia explicar o porquê de tantas pessoas. Com o emprego de tecnologia nós deveríamos diminuir e não aumentar o número de funcionários.”
Fendt acredita que a contratação em massa está atraindo os melhores cérebros para o serviço público, enquanto eles poderiam estar empreendendo no setor privado — que é mais eficiente para produzir riqueza. O problema passa pelo alto salário oferecido pelo governo. De acordo com Fendt, a diferença entre setor privado e público é gritante. A União paga um salário médio de R$ 6,8 mil para seus funcionários, enquanto o salário médio do setor privado é de R$ 1,3 mil.
Mais que atrair os melhores cérebros, os concursos muitas vezes os colocam em cargos abaixo de seu nível profissional. Segundo Mattos, esse comportamento pode acontecer, mas tem diminuído. “No setor privado os empregos aumentaram bastante durante o governo Lula, mas ainda existe uma demanda que não é atendida”. Fendt, no entanto, acredita que existe um cálculo por parte dos concursados. “Do ponto de vista da pessoa, é um bom negócio. Assim que ela coloca o pé dentro do setor público ela pode fazer um concurso interno, entrar é que é importante.”
O peso do setor público no Brasil é grande. Um em cada cinco cidadãos com carteira assinada trabalha para o estado. O custo para manter estes funcionários responde por boa parte da alta carga de impostos que os brasileiros precisam pagar. Fica a pergunta: é saudável uma economia de funcionários públicos?
Caro leitor,
O setor público deve ter salários mais altos que o privado?
A estabilidade no emprego é boa para a economia?
Em sua opinião, o crescimento no número de empregos públicos é sustentável?
1618) O novo Mister Doom: prometendo calotes "soberanos"...
Ou seja, vem calote por aí, e de governos (federais, estaduais, municipais, whoever...).
Nada como antecipar desenvolvimentos desagradáveis: assim, ninguém vai poder alegar que não foi avisado...
Vamos esperar a publicação do novo livro de Ken Rogoff: "This Time Is Different: Eight Centuries of Financial Folly."
Sovereign Debt Defaults Likely Over Next Several Years, Says Rogoff
Heesun Wee - Investing, Recession, Banking
Posted Dec 09, 2009
Global markets tumbled overnight amid fresh concerns about the global economy, and more specifically, the prospect of sovereign debt defaults.
Standard & Poor’s lowered its outlook for Spain's debt grade as the country's finances worsened. A day earlier, Fitch cut Greece's long-term debt to BBB+ from A minus, marking the first time in a decade the country has seen its rating pushed below an A grade. (Click here for the full story.)
The news doesn't come as a surprise to our guest Ken Rogoff, professor of economics and public policy at Harvard University. As Dubai's recent debt crisis shows, more sovereign debt defaults will be likely over the next several years, he says.
The International Monetary Fund will try to prevent any global economic crisis in the near term says Rogoff, a former IMF chief economist. But, longer-term, difficult decisions remain about how to tackle mounting debt among G8 nations. "We can barely have the political will to raise taxes to pay our own debts," which means less money to pay for bailouts of other creditors, he predicts.
"In a couple of years as U.S. debt explodes, as German debt explodes, and they're all going to be pushing difficult levels, they're really going to start thinking. 'Hmm. Do we really want to cast this safety net?' We've got to scale back," says Rogoff, also co-author of a new book, "This Time Is Different: Eight Centuries of Financial Folly." The book outlines how periods of boom and bust are marked by bouts of overspending and mounting debt, whether by consumers, banks or governments -- just like the current crisis.
Should American taxpayers be worried? Financial crises in Asia during the late 1990s and in Latin America during the '80s largely were regional affairs but higher U.S. inflation is almost a certainty.
Rogoff, however, is more certain about the future of California, a state strapped by rising expenses and falling tax revenues. They'll be on the brink of default repeatedly, Rogoff says.
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OK, estão todos avisados (quem tiver bônus espanhol, ou da California, melhor se desfazer agora, antes que vire poeira...)
1616) Investindo em vento
1615) EUA - como criar uma nova bolha imobiliária...
E depois dizem que foram as "forças cegas do mercado" que criam as bolhas financeiras.
Não, quem cria as bolhas são os governos, ao atuarem de modo absolutamente irresponsável, impedindo os mercados de precificar corretamente os ativos de risco.
Capitalismo protegido pelo Estado não é capitalismo, é um negócio de família, como a Cosa Nostra...
U.S. promises unlimited financial assistance to Fannie Mae, Freddie Mac
By Zachary A. Goldfarb
Washington Post Staff Writer
Friday, December 25, 2009; A01
The Obama administration pledged Thursday to provide unlimited financial assistance to mortgage giants Fannie Mae and Freddie Mac, an eleventh-hour move that allows the government to exceed the current $400 billion cap on emergency aid without seeking permission from a bailout-weary Congress.
The Christmas Eve announcement by the Treasury Department means that it can continue to run the companies, which were seized last year, as arms of the government for the rest of President Obama's current term.
But even as the administration was making this open-ended financial commitment, Fannie Mae and Freddie Mac disclosed that they had received approval from their federal regulator to pay $42 million in Wall Street-style compensation packages to 12 top executives for 2009.
The compensation packages, including up to $6 million each to Fannie Mae and Freddie Mac's chief executives, come amid an ongoing public debate about lavish payments to executives at banks and other financial firms that have received taxpayer aid. But while many firms on Wall Street have repaid the assistance, there is no prospect that Fannie Mae and Freddie Mac will do so.
The administration faced a congressionally mandated deadline of Dec. 31 to increase the amount of aid it could provide to Fannie Mae and Freddie Mac, which together have already received $111 billion in assistance.
Treasury said Thursday that its decision did not mean the firms would need $200 billion or more apiece, but that it instead was seeking to assure markets that the government would stand behind the companies. In a statement, Treasury said the move "should leave no uncertainty about the Treasury's commitment to support these firms as they continue to play a vital role in the housing market during this current crisis."
By promising to keep the companies solvent, the government can maintain its sweeping power over the housing market. Fannie Mae and Freddie Mac have played a central role in Obama administration policies to keep mortgage interest rates low, restructure unaffordable mortgages, stop foreclosures and funnel money to housing programs around the country.
The Bush administration took over the firms in September 2008 as the financial crisis entered its most severe phase and promised $200 billion to keep the companies solvent. The Obama administration later doubled that figure.
While the ultimate cost of the bailouts is unknown, the administration estimated earlier this year it would cost $171 billion, and some officials said they expect it could rise further. Analysts have said it could be much higher. The cost will depend in part on how aggressively the administration continues to use the firms to stimulate the housing market because these steps could curtail profitability.
Under the terms of the latest decision, the administration's open-ended commitment will expire in 2012. Then, the firms will only be allowed to receive the balance of the $400 billion remaining today -- about $290 billion.
The administration is set to release broad principles in February for reforming the companies. Many experts predict that the government will have no choice but to hold on indefinitely to many of the companies' most troubled assets -- mortgage investments made during the housing bubble to less-than-worthy borrowers.
But an administration official said it could take several years to resolve the future of the companies, especially if Congress isn't keen to take up the politically charged issue during the 2010 midterm election year, and if the government wants to preserve the ability to influence the housing market. The companies together own or insure the majority of home loans, and no viable private system exists that could replace them.
Even as the administration has broadened its commitment to Fannie Mae and Freddie Mac, it said it would wind down mortgage-assistance programs, including one that bought Fannie Mae and Freddie Mac's mortgage investments.
Fannie Mae and Freddie Mac have long been targets for Republicans, who say they are evidence of how government support for the housing market contributed to the financial crisis.
"The Obama administration's decision to write a blank check with taxpayer dollars for the continued bailout of Fannie Mae and Freddie Mac is appalling," said Rep. Scott Garrett (R-N.J.), a member of the House Financial Services subcommittee that oversees Fannie Mae and Freddie Mac. "Not only is this a continued bailout of failed entities that need to be privatized to protect the taxpayer, the timing of the announcement is clearly designed to try and sneak the bailout by the taxpayers."
On Thursday, federal officials defended the administration's new bailout authority and the compensation packages. They said the pay was necessary to retain talented executives who can oversee the companies' vast mortgage holdings.
Fannie Mae chief executive Michael J. Williams and Freddie Mac chief executive Charles E. Haldeman each will receive a $900,000 base salary. The rest of their compensation will be in incentive payments and bonuses dependent on whether they stay with the companies and achieve business targets. The compensation of other top executives will follow a similar formula.
While the pay is significantly more than what Fannie and Freddie executives received a year ago, the packages are less than what top company officials got before the government takeover. Only five executives at each firm will be eligible to receive more than $500,000 in salary.
"The management of these companies involves responsibility for $2 to $3 trillion of mortgage assets," said Edward DeMarco, acting director of the Federal Housing Finance Agency, the chief regulator of Fannie Mae and Freddie Mac. "It is critical to the taxpayers' financial interests that these assets be carefully managed in a difficult environment to minimize taxpayer losses."
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
1614) O profeta Samuel (nao fui eu quem disse...)
Sérgio Leo, de Brasília
Valor Econômico, 23.12.2009
O que eu disse é que nem Jesus Cristo teve reconhecimento em sua própria terra, e olha que ele fazia milagres!
A leitura da Bíblia é fundamental para entender o pensamento dos neoconservadores nos Estados Unidos
Se nós tínhamos dificuldades em fazer planos para o Brasil, quanto mais pessoas que nunca moraram no país, sem experiência
"Jesus Cristo, segundo o evangelho de São Marcos, vai a Nazaré, sua cidade natal; as pessoas não acreditam nele, e diz: 'Ninguém é profeta em sua própria terra'." Esse é o ministro de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, ex-secretário-geral do Itamaraty, sacando uma frase bíblica que hoje é lugar comum, ao responder por que é tão criticada, no país, a política externa da qual foi, até outubro, um dos formuladores e operadores.
A diplomacia da era Lula se compara a Jesus Cristo? "Não, não é isso", responde, enfaticamente, com expressão preocupada. E sorri. "O que eu disse é que nem Jesus Cristo teve reconhecimento em sua própria terra; e olha que ele fazia milagres!"
Milagres parecem mesmo estar em falta em algumas áreas da política externa brasileira. Por exemplo, para fazer levantar e andar o Mercosul, abalado economicamente pelo agravamento do protecionismo, com a crise financeira internacional, e, politicamente, por divergências internas e regionais. Com a entrada da Venezuela no bloco, então...
Mas o ministro, acostumado à polêmica despertada por suas opiniões incisivas sobre política externa, pede que o tema não seja servido neste "À Mesa com Valor". É pedido que faz, nas entrevistas e conversas, desde que, prestes a alcançar 70 anos de idade e deixar automaticamente o quadro do Itamaraty, trocou o segundo posto na hierarquia do Ministério das Relações Exteriores pelo comando do Ministério de Assuntos Estratégicos, sucedendo a Roberto Mangabeira Unger.
O veto aos temas internacionais não tem adiantado, até porque Pinheiro Guimarães adora falar do assunto. Há alguns meses, só aceitava dar entrevista se reproduzida na íntegra, no modelo pergunta e resposta; e pedia para ler o texto antes da publicação. Como ministro, está bem mais à vontade; chega descontraído e falante ao restaurante Villa Tevere, na Asa Sul de Brasília, local habitualmente escolhido por políticos e outros frequentadores que preferem o ambiente mais discreto e o cardápio bem mais sensato que o de outros restaurantes famosos da cidade.
Nos últimos dias, foi possível ler opiniões de Pinheiro Guimarães sobre Honduras ("O Brasil agiu certo abrigando o presidente deposto, Manuel Zelaya; errado seria aceitar tratos com os golpistas"), Venezuela ("Há liberdade de imprensa na Venezuela, basta ver as bancas de jornais e livrarias"), Irã ("Outros países não pautam o Brasil na escolha dos interlocutores na esfera internacional"), globalização ("A globalização é um fato; a adesão ao credo neoliberal não, tanto que está em dificuldades quem mergulhou no neoliberalismo"). A lista de assuntos polêmicos abordados pelo diplomata é inesgotável - assim como são antigas suas convicções e a disposição para defendê-las.
Em matéria de nacionalismo e ação política, Pinheiro Guimarães comprou a primeira briga no governo aos 25 anos, na década de 1960. E antes ainda botou banca.
Diplomata em início de carreira, foi indicado por um superior para dirigir a área internacional da então poderosa Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste. Foi convidado por um ex-assessor da Organização dos Estados Americanos, João Gonçalves de Souza, nomeado para a superintendência da Sudene e cearense como o presidente da época, marechal Humberto de Alencar Castelo Branco - o primeiro mandatário do que seria uma longa ditadura militar. "Eu disse: Aceito, se tiver carta branca", lembra Pinheiro Guimarães.
Com a carta que recebeu, o jovem Samuel infernizou assessores estrangeiros que queriam influir em programas do governo brasileiro. Eram os técnicos americanos, da Usaid, a agência de cooperação dos Estados Unidos.
Mas, antes, o jantar.
Pinheiro Guimarães diz que não quer vinho. "Não tenho tomado; acordo muito cedo; mas gosto de vinho argentino, Malbec", esclarece, e pede água, sem gás. O assessor do ministro, Walter Sottomayor, escolhe um modestíssimo Malbec argentino, da casa Tamari, safra 2008, a ser dividido solidariamente com o repórter, já que o fotógrafo também prefere água.
Depois de recusar o lombinho de cordeiro com crosta de ervas, sugerido pelo repórter, e cogitar um medalhão à Gianetti, ao vinho marsala e cogumelos shitake, acompanhado de risoto de açafrão com lascas de queijo tipo Grana, o embaixador, provocado por outro comentário do jornalista, escolhe o filetto della Mafia, com molho ao queijo brie, vinho tinto e bacon, acompanhado de fetucine - que ele picará sem piedade com a faca, antes de comer. Servida por engano pelo garçom, uma taça de vinho permanecerá invicta até o final da refeição, ao lado do prato.
"Para ter uma ideia do número de funcionários da Usaid, o tamanho do prédio deles era o mesmo do da Sudene", lembra o embaixador. Quando era diretor da Sudene, recusou-se a demitir pessoas de uma lista encaminhada pelo governo, e rechaçou as tentativas dos assessores americanos de participar da redação do plano de desenvolvimento do Nordeste. "Se nós tínhamos dificuldade em fazer planos para o Brasil, quanto mais pessoas que nunca moraram no país, sem experiência." Não convenceu os chefes, que o demitiram. Voltou ao Itamaraty, para cuidar de política comercial, menos de um ano depois de ter se mudado para Recife.
A carreira diplomática foi praticamente um desdobramento da atividade política, que começou na faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O nacionalismo é herança de família: também era nacionalista o pai, Samuel Pinheiro Guimarães Filho (o diplomata é Pinheiro Guimarães Neto, e o avô que lhe deu o nome surgirá logo adiante, na conversa com o Valor, entre um prato de buschettas, das quais ele come apenas metade, e a chegada do prato principal). Um tio, cunhado do pai, Aguinaldo de Freitas, era advogado e jornalista. Com coluna na "Última Hora" ("Coluna política importante, como as de hoje, como a da Dora Kramer"). Era quem o levava para assistir às sessões de comissões de inquérito, como o que resultou na encampação da Bond & Share britânica pelo governo Leonel Brizola, no Rio Grande do Sul.
Pinheiro Guimarães Filho, carioca, foi despachante municipal, corretor de imóveis e dono de empresa de construção, na qual empregou o herdeiro como contínuo. Foi o primeiro emprego, aos 18 anos, do hoje ministro. Também marcante foi a influência política da avó de Samuel Pinheiro Guimarães Neto, dona Gabriela, sobrinha de um dos "pais" da República, Aristides Lobo, abolicionista e autor de famosa carta em que, ao contar a derrubada, por militares, do monarca Pedro II, descreve como o povo assistiu, "bestializado, atônito, surpreso", ao nascimento do novo regime político.
"Minha avó era uma pessoa interessante, muito politizada", recorda. A palavra "interessante" costuma ser convocada, com toda sua ambiguidade diplomática, para adjetivar a conversa de Pinheiro Guimarães Neto. Além da avó, são "interessantes" a teoria da modernização autoritária de Samuel Huntington, os amigos que conheceu na Cepal, como Maria da Conceição Tavares; a dimensão que a política externa ganhou no debate político interno; o salário que recebeu ao ser contratado como economista sênior de uma grande construtora, em uma passagem pelo setor privado; e até o filme "Eu Te Amo", de Arnaldo Jabor. Mas o cineasta e cronista, que o diplomata computa entre os amigos, entrará na conversa mais à frente, já quase na sobremesa.
O bisavô Francisco Pinheiro Guimarães foi deputado, alto oficial na Guerra do Paraguai, deputado e autor de teatro. Aristides Lobo foi tradutor de Rabelais. Não teriam os cromossomas marcado no diplomata alguma ambição literária? "Não penso em escrever ficção, exige talento", diz o autor dos livros de ensaio "Quinhentos Anos de Periferia" e "Desafios Brasileiros na Era dos Gigantes" - que, em 2006, lhe valeu o prêmio Juca Pato, de Intelectual do Ano, pela União Brasileira de Escritores.
Solicitado a dizer quais os livros de sua preferência, Pinheiro Guimarães Neto sai-se com uma resposta vaga: os "clássicos". Repete "os clássicos" quando ouve a pergunta pela segunda vez, e, na terceira, cita "A Origem das Espécies", de Charles Darwin. Leu há oito anos a Bíblia, e, à parte as lições óbvias, diz que a leitura é útil até na política contemporânea. "Fundamental para entender o pensamento dos neoconservadores nos Estados Unidos", garante.
Entre os últimos livros que leu também não há romances. ("Leio menos do que gostaria, a maior parte ciências sociais, política internacional, para as aulas", diz. Ele leciona no Instituto Rio Branco, de formação de diplomatas). "O último que li, muito interessante, sobre a crise, chama-se 'One Trillion Dollar Crisis', que, na segunda edição, em poucos meses, tornou-se 'Two Trillion Dollar Crisis'".
"É de um ex-banqueiro, que conhece bem o mercado financeiro, e escreve para não especialistas." Está falando do elogiado livro "The Trillion Dollar Meltdown: Easy Money, High Rollers and the Great Credit Crash", do advogado, analista e historiador Charles R. Morris, publicado no Brasil como "O Crash de 2008 - Dinheiro Fácil, Apostas Arriscadas e o Colapso Global do Crédito". Morris, presidente de uma companhia de softwares para instituições financeiras, alertava, em 2007, quando escreveu a primeira versão do livro, para o rumo insustentável dos mercados financeiros mundiais.
Pinheiro Guimarães também leu recentemente "A Crise de 2008 e a Economia da Depressão", de Paul Krugman, e "The Rise of China and the Demise of the Capitalist World Economy", de Minqi Li, ex-preso político na China, hoje professor assistente de economia da Universidade de Utah. O livro, publicado por uma editora de esquerda americana, a Monthly Review Press, defende a tese de que, em lugar de abrir-se gradativamente à economia capitalista, a China vai levar o capitalismo ao colapso ao elevar os custos ambientais, do trabalho, do capital, na produção mundial. "É um livro interessante", resume Pinheiro Guimarães.
Foram dois livros de economia os responsáveis pela convicção desenvolvimentista do embaixador. Estava no primeiro ano da faculdade, nos anos 1960, quando ganhou de um amigo um exemplar de "Terceira Força", do escritor português Paulo de Castro, militante antifranquista, combatente contra o governo colaboracionista na França. Era um livro "extremamente interessante", que falava da Iugoslávia, da Argélia, de Israel dos kibutz e dos trabalhistas, e abriu os interesses do jovem estudante para o chamado Terceiro Mundo.
Nessa época, Pinheiro Guimarães passou a frequentar o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), criado nos anos 1950 por intelectuais de esquerda, que, até ser abatido pelo golpe de 64, reuniu algumas das cabeças mais brilhantes do pensamento nacionalista e desenvolvimentista. "Conheci muitas pessoas, o Cândido Mendes, o Roland Corbusier, grande Roland Corbusier", lembra, citando o intelectual e político (do PTB) que, como outros da época, começou carreira no integralismo.
O Iseb publicou outro livro considerado fundamental pelo diplomata: "Teoria Econômica e Regiões Subdesenvolvidas", de Gunnar Myrdal, economista, intelectual e político sueco. Pinheiro Guimarães recorda e descreve outro livro famoso de Myrdall, "Dilema Americano: O Problema do Negro e a Democracia Moderna". "Em qualquer sociedade, tem situações, comunidades que se desenvolvem e outras ficam no círculo vicioso da pobreza", resenha.
"Não há serviços públicos, as pessoas se alimentam mal, ficam doentes, têm dificuldade em sair da situação de subdesenvolvimento, de onde fogem os mais dinâmicos." O interesse em estudar economia o levou a ler David Ricardo, que mencionava Adam Smith, o qual, por sua vez, citava vários pensadores antigos. "A maior parte da tradição ocidental é de pensadores refutando anteriores; Aristóteles é refutação de Platão." Decidiu, por isso, "começar do começo". E passou a estudar Platão. "A leitura dos clássicos fora de ordem não é proveitosa, o melhor é que seja sistemática."
Sistemático, decidiu estudar economia, e, a conselho de um amigo, Márcio Rego Monteiro, pleiteou matrícula no mestrado da Universidade de Boston, cidade onde foi cônsul. Somada a temporada que passou depois na representação brasileira nas Nações Unidas, em Nova York, onde morou em um subúrbio com mulher e quatro filhos, Pinheiro Guimarães morou cinco anos e meio nos Estados Unidos.
Obteve o diploma de mestrado, fez as disciplinas do doutorado, mas não elaborou tese e, por isso, só inclui no currículo o mestrado por Boston. A partir dessa experiência, desenvolveu algumas teses antropológicas e sociológicas sobre a sociedade americana. "Coisa muito interessante, o sistema americano." As pessoas terminam o secundário e vão para a universidade, longe da cidade onde moram os pais, explica. O sistema de créditos, "implantado no Brasil depois de 64, para fraturar o movimento estudantil", dificulta a formação de turmas. "Quando termina a graduação, o sujeito, que se separa da família e só vê os país no Dia de Ação de Graças, se candidata a outra faculdade, em outro Estado. Há um estranhamento, ninguém sabe direito quem é quem. Você se torna um átomo, uma unidade do fator trabalho, o que garante mobilidade e, portanto, maior produtividade, maior eficiência."
A falta de uma rede de proteção familiar e de referências estáveis facilita a alocação de fatores de produção, mas fragiliza as pessoas e estimula o consumo de drogas e álcool, teoriza o diplomata, que teve poucos postos no exterior porque queria que o Brasil fosse uma referência forte para os quatro filhos - numerosos, porque via na família a importância de muitos parentes. "Na elite do poder isso ocorre, as famílias são maiores, frequentam os mesmos clubes, vão às mesmas universidades", diz, com um acento irônico na voz.
Livros puxam livros, e Pinheiro Guimarães resolve exigir dos subordinados, quando secretário-geral de Relações Exteriores, a leitura de três deles. Nega ter havido triagem ideológica. "Um era a vida do barão do Rio Branco; outro, do Moniz Bandeira, com prefácio elogioso de Rubens Ricupero; e o terceiro, de história do pensamento econômico, do Ricardo Bielschowsky, com prefácios do Roberto Campos e do Celso Furtado elogiando a imparcialidade." Ainda assim, as reclamações levaram o ministro Celso Amorim a determinar o fim da exigência de leitura. "Não me senti atingido, não; havia uma circunstância política que levou a isso, né?"
Mais de uma hora de conversa, sempre bebericando água, Pinheiro Guimarães resolve pedir algo mais forte. "Um suco de laranja, por favor." Beberá dois, até o cafezinho, que deixa de lado.
Circunstâncias. Outra palavra apreciada por Pinheiro Guimarães, que, no entanto, não cita o filosofo espanhol Ortega y Gasset, aquele para quem "o homem é ele e suas circunstâncias". Circunstancialmente, ao voltar ao Brasil, no governo Médici, foi recomendado por um amigo, Armando, irmão do economista Antônio Barros de Castro, à construtora Serete, para fazer estudos econômicos sobre os mercados de metais e o potencial da exploração madeireira na Amazônia. Circunstancialmente economista, escreveu artigos na revista "Visão", de Said Farhat. Também uma circunstância o levou, já separado, a conhecer a terceira mulher.
Militante do PT, documentarista da TV Senado, a socióloga e antropóloga Maria Maia sentou-se ao lado de Pinheiro Guimarães, ao voltar a Brasília, onde assistiram ao Festival de Cinema. Estão juntos há 12 anos. "Sempre tive enorme interesse em cinema, no Rio." Já quando militante estudantil, tornou-se amigo de cineastas também militantes, Leon Hirzmann e Cacá Diegues, que quase passou a ele a direção de um jornal secundarista. No Instituto Rio Branco conheceu Celso Amorim, uma turma adiante, e com ele conversava sobre cinema.
Quando Amorim dirigiu a Embrafilme, o hoje ministro foi seu segundo. Frequentador de cinema duas ou três vezes por semana, gosta de Fellini, anda apaixonado pelos cineastas argentinos e adorou "O Banheiro do Papa", do uruguaio Enrique Fernandez. Gosta do interessante "Eu Te Amo", do amigo Arnaldo Jabor.
Amigo? O Jabor desanca a política externa em suas colunas na imprensa e no rádio, lembra o repórter. "Encontrei-o recentemente, foi muito gentil." Ultimamente, Jabor "anda zangado", admite. Mas pode ser fita, puro personagem, concede.
Pinheiro Guimarães diz que não polemiza, que as críticas são bem-vindas, porque podem dar lugar a mudanças. Provocado, reluta em comentar recente nota de Élio Gaspari, que, escandalizado, reproduziu trecho de uma palestra na qual o ministro citou Alemanha e Japão como exemplos do alto preço pago por contestar a "hegemonia anglo-saxã".
"O nazismo não tem paralelo, um regime com perversão de valores, agressividade, absolutamente condenável", comenta, lembrando artigo de 2002, para a revista "Estudos Avançados", da USP, em que fala de nacionalismos, e cita a Alemanha de Hitler como exemplo negativo. "Porém, uma coisa é clara: a composição do Conselho de Segurança das Nações Unidas foi decidida antes de se descobrirem as atrocidades dos campos de extermínio, o horror das experiências com humanos. A guerra não foi montada em torno dessa questão, mas de uma disputa de poder."
Depois de esquivar-se de algumas perguntas sobre política externa, Pinheiro Guimarães acaba fazendo defesa enfática da importância de um assento permanente para o Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas ("Eles têm o monopólio da força, e têm expandido a competência para vários temas, e, se estamos ali, podemos defender melhor nossos interesses, que têm se diversificado"). Fica animado quando, finalmente, o repórter lhe pergunta sobre o ministério.
Está empenhado na tarefa de elaborar um plano para 2022, requisitado pelo presidente Lula. Conversou com quase todos os ministros. Não com Dilma Rousseff, da Casa Civil, que estava em viagem. "Falei com a Erenice Guerra." Será um plano com metas previstas, e "para cada meta vão se estabelecer instrumentos quantificáveis".
Que tema o apaixona mais? "Um país se desenvolve quando aumenta o número e a variedade dos bens que produz, como nos Estados Unidos", responde. São necessários conhecimento tecnológico, e muitos recursos, inclusive humanos, complementa. "Daí a necessidade muito importante de formar quadros, engenheiros das mais diversas áreas." Para formar engenheiros, são necessários bons cursos, e, para isso, bons professores de matemática. "Os chineses fazem isso, temos de começar agora", diz ele, que ainda ficará, por alguns minutos, à porta do restaurante, sem pressa de ir embora, lembrando histórias de sua formação política. Telefonará, depois, ao repórter, para aclarar dúvidas e contar os nomes dos filhos e enteados. Perdão, embaixador, o espaço acabou.
1613) Planos com a mudanca de ano
TEMPO DE TRAVESSIA
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia…
E se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.
Fernando Pessoa
Agora uma confissão pessoal:
Se o poeta fingidor conhecesse as minhas roupas usadas, não faria um poema, e sim um decreto-lei...
Bons planos a todos...
Paulo Roberto de Almeida