O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

A decada dos companheiros, perdida para Brasil - Marco Antonio Villa

Instituicoes em frangalhos, ausencia de reformas estruturais, corrupcao nova e velha crescendo, companheiros da nomenklatura engordando contas e perfis... Este e' o Brasil da ultima decada...

A década perdida
MARCO ANTONIO VILLA
O Estado de S.Paulo, 31/12/2012

A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 foi recebida como um conto de fadas. O País estaria pagando uma dívida social. E o recebedor era um operário.

Operário que tinha somente uma década de trabalho fabril, pois aos 28 anos de idade deu adeus, para sempre, à fábrica. Virou um burocrata sindical. Mesmo assim, de 1972 a 2002 - entre a entrada na diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e a eleição presidencial -, portanto, durante 30 anos, usou e abusou do figurino do operário, trabalhador, sofrido. E pior, encontrou respaldo e legitimação por parte da intelectualidade tupiniquim, sempre com um sentimento de culpa não resolvido.

A posse - parte dos gastos paga pelo esquema do pré-mensalão, de acordo com depoimento de Marcos Valério ao Ministério Público - foi uma consagração. Logo a fantasia cedeu lugar à realidade. A mediocridade da gestão era visível. Como a proposta de governo - chamar de projeto seria um exagero - era inexequível, resolveram manter a economia no mesmo rumo, o que foi reforçado no momento da alta internacional no preço das commodities.

Quando veio a crise internacional, no final de 2008, sem capacidade gerencial e criatividade econômica, abriram o baú da História, procurando encontrar soluções do século 20 para questões do século 21. O velho Estado reapareceu e distribuiu prebendas aos seus favoritos, a sempre voraz burguesia de rapina, tão brasileira como a jabuticaba. Evidentemente que só poderia dar errado. Errado se pensarmos no futuro do País. Quando se esgotou o ciclo de crescimento mundial - como em tantas outras vezes nos últimos três séculos -, o governo ficou, como está até hoje, buscando desesperadamente algum caminho. Sem perder de vista, claro, a eleição de 2014, pois tudo gira em torno da permanência no poder por mais um longo tempo, como profetizou recentemente o sentenciado José Dirceu.

Os bancos e as empresas estatais foram usados como instrumentos de política partidária, em correias de transmissão, para o que chamou o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, de "projeto criminoso de poder", quando do julgamento do mensalão. Os cargos de direção foram loteados entre as diferentes tendências do Partido dos Trabalhadores (PT) e o restante foi entregue à saciedade dos partidos da base aliada no Congresso Nacional. O PT transformou o patrimônio nacional, construído durante décadas, em moeda para obter recursos partidários e pessoais, como ficou demonstrado em vários escândalos durante a década.

O PT era considerado uma novidade na política brasileira. A "novidade" deu vida nova às oligarquias. É muito difícil encontrar nos últimos 50 anos um período tão longo de poder em que os velhos oligarcas tiveram tanto poder como agora. Usaram e abusaram dos recursos públicos e transformaram seus Estados em domínios familiares perpétuos. Esse congelamento da política é o maior obstáculo ao crescimento econômico e ao enfrentamento dos problemas sociais tão conhecidos de todos.

Não será tarefa fácil retirar o PT do poder. Foi criado um sólido bloco de sustentação que - enquanto a economia permitir - satisfaz o topo e a base da pirâmide. Na base, com os programas assistenciais que petrificam a miséria, mas garantem apoio político e algum tipo de satisfação econômica aos que vivem na pobreza absoluta. No topo, atendendo ao grande capital com uma política de cofres abertos, em que tudo pode, basta ser amigo do rei - a rainha é secundária.

A incapacidade da oposição de cumprir o seu papel facilitou em muito o domínio petista. Deu até um grau de eficiência política que o PT nunca teve. E o ano de 2005 foi o ponto de inflexão, quando a oposição, em meio ao escândalo do mensalão, e com a popularidade de Lula atingindo seu nível mais baixo, se omitiu, temendo perturbar a "paz social". Seu principal líder, Fernando Henrique Cardoso, disse que Lula já estava derrotado e bastaria levá-lo nas cordas até o ano seguinte para vencê-lo facilmente nas urnas. Como de hábito, a análise estava absolutamente equivocada. E a tragédia que vivemos é, em grande parte, devida a esse grave erro de 2005. Mas, apesar da oposição digna de uma ópera-bufa, os eleitores nunca deram ao PT, nas eleições presidenciais, uma vitória no primeiro turno.

O PT não esconde o que deseja. Sua direção partidária já ordenou aos milicianos que devem concentrar os seus ataques na imprensa e no Poder Judiciário. São os únicos obstáculos que ainda encontram pelo caminho. E até com ameaças diretas, como a feita na mensagem natalina - natalina, leitores! - de Gilberto Carvalho - ex-seminarista, registre-se - de que "o bicho vai pegar". A tarefa para 2013 é impor na agenda política o controle social da mídia e do Judiciário. Sabem que não será tarefa fácil, porém a simples ameaça pode-se transformar em instrumento de coação. O PT tem ódio das liberdades democráticas. Sabe que elas são o único obstáculo para o seu "projeto histórico". E eles não vão perdoar jamais que a direção petista de 2002 esteja hoje condenada à cadeia.

A década petista terminou. E nada melhor para ilustrar o fracasso do que o crescimento do produto interno bruto (PIB) de 1%. Foi uma década perdida. Não para os petistas e seus acólitos, claro. Estes enriqueceram, buscaram algum refinamento material e até ficaram "chiques", como a Rosemary Nóvoa de Noronha, sua melhor tradução. Mas o Brasil perdeu.

Poderíamos ter avançado melhorando a gestão pública e enfrentado com eficiência os nossos velhos problemas sociais, aqueles que os marqueteiros exploram a cada dois anos nos períodos eleitorais. Quase nada foi feito - basta citar a tragédia do saneamento básico ou os milhões de analfabetos.

Mas se estagnamos, outros países avançaram. E o Brasil continua a ser, como dizia Monteiro Lobato, "essa coisa inerme e enorme".
MARCO ANTONIO VILLA É HISTORIADOR E PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFCAR)

Bolivia: coca si; cocaina no! - Vai dar certo? (NYTimes)

Coca Licensing Is a Weapon in Bolivia’s Drug War

Meridith Kohut for The New York Times
Augustine Calicho, 45, separating the seeds from dried coca leaves in Villa Tunari in the Chapare region of Bolivia. More Photos »
TODOS SANTOS, Bolivia — There is nothing clandestine about Julián Rojas’s coca plot, which is tucked deep within acres of banana groves. It has been mapped with satellite imagery, cataloged in a government database, cross-referenced with his personal information and checked and rechecked by the local coca growers’ union. The same goes for the plots worked by Mr. Rojas’s neighbors and thousands of other farmers in this torrid region east of the Andes who are licensed by the Bolivian government to grow coca, the plant used to make cocaine.
Multimedia
World Twitter Logo.

Connect With Us on Twitter

Follow @nytimesworld for international breaking news and headlines.
Meridith Kohut for The New York Times
Meri Pintas, 30, center, harvesting coca leaves with her children in the Yungas region of Bolivia. Thousands of legal coca patches are intended to produce coca leaf for traditional uses. More Photos »
Meridith Kohut for The New York Times
A counternarcotics agent explained the eradication process to coca growers whose patch was two rows over the legal limit. More Photos »
President Evo Morales, who first came to prominence as a leader of coca growers, kicked out the Drug Enforcement Administration in 2009. That ouster, together with events like the arrest last year of the former head of the Bolivian anti-narcotics police on trafficking charges, led Washington to conclude that Bolivia was not meeting its global obligations to fight narcotics.
But despite the rift with the United States, Bolivia, the world’s third-largest cocaine producer, has advanced its own unorthodox approach toward controlling the growing of coca, which veers markedly from the wider war on drugs and includes high-tech monitoring of thousands of legal coca patches intended to produce coca leaf for traditional uses.
To the surprise of many, this experiment has now led to a significant drop in coca plantings in Mr. Morales’s Bolivia, an accomplishment that has largely occurred without the murders and other violence that have become the bloody byproduct of American-led measures to control trafficking in Colombia, Mexico and other parts of the region.
Yet there are also worrisome signs that such gains are being undercut as traffickers use more efficient methods to produce cocaine and outmaneuver Bolivian law enforcement to keep drugs flowing out of the country.
In one key sign of progress in Bolivia’s approach toward coca, the total acres planted with coca dropped 12 to 13 percent last year, according to separate reports by the United Nations Office on Drugs and Crime and the White House Office of National Drug Control Policy. At the same time, the Bolivian government stepped up efforts to rip out unauthorized coca plantings and reported an increase in seizures of cocaine and cocaine base.
“It’s fascinating to look at a country that kicked out the United States ambassador and the D.E.A., and the expectation on the part of the United States is that drug war efforts would fall apart,” said Kathryn Ledebur, director of the Andean Information Network, a Bolivian research group. Instead, she said, Bolivia’s approach is “showing results.”
Still, there is skepticism. “Our perspective is they’ve made real advances, and they’re a long way from where we’d like to see them,” said Larry Memmott, chargé d’affaires of the American Embassy in La Paz. “In terms of law enforcement, a lot remains to be done.”
Although Bolivia outlaws cocaine, it permits the growing of coca for traditional uses. Bolivians chew coca leaf as a mild stimulant and use it as a medicine, as a tea and, particularly among the majority indigenous population, in religious rituals.
On a recent afternoon, Mr. Rojas placed a few dried leaves into his mouth and watched the sun set over his coca field, slightly less than two-fifths of an acre, the maximum allowed per farmer here in this region, known as the Chapare.
“This is a way to keep it under control,” he said, spitting a stream of green juice. “Everyone should have the same amount.”
Mr. Rojas is a face of a changing region. He makes far more money growing bananas for export on about 74 acres than he does growing coca. But he has no intention of giving up his tiny coca plot. “What happens if a disease attacks the bananas?” he asked. “Then we still have the coca to save us.”
The Bolivian government has persuaded growers that by limiting the amount of plantings, coca prices will remain high. And it has largely focused eradication efforts, of the kind that once spurred strong popular resistance, outside the areas controlled by growers’ unions, like in national parks.
The registration of thousands of Chapare growers, completed this year, is part of an enforcement system that relies on growers to police one another. If registered growers are found to have plantings above the maximum allowed, soldiers are called in to remove the excess. If growers violate the limit a second time, their entire crop is cut down and they lose the right to grow coca.
Growers’ unions can also be punished if there are multiple violations among their members.
“We have to be constantly vigilant,” said Nelson Sejas, a Chapare grower who was part of a team that checked coca plots to make sure they did not exceed the limit.
But there is still plenty of cheating. Officials say they are going over the registry of about 43,000 Chapare growers to find those who may have multiple plots or who may violate other rules.
“The results speak for themselves,” said Carlos Romero, the minister of government. “We have demonstrated that you can objectively do eradication work without violating human rights, without polemicizing the topic and with clear results.”
He said that the government was on pace to eradicate more acres of coca this year than it did last year, without the violence of years past. A government report said 60 people were killed and more than 700 were wounded in the Chapare from 1998 to 2002 in violence related to eradication.
But even as Bolivia shows progress, grave concerns remain.
The White House drug office estimated that despite the decrease in total coca acreage last year, the amount of cocaine that could potentially be produced from the coca grown in Bolivia jumped by more than a quarter. That is because a large amount of recent plantings began to mature and reach higher yields; new plantings with higher yields replaced older, less productive fields; and traffickers switched to more efficient processing methods.
Yet the glaring paradox of Bolivia’s monitoring program is that vast amounts of the legally grown coca ultimately wind up in the hands of drug traffickers and are converted into cocaine and other drugs. Most of those drugs go to Brazil, considered the world’s second-largest cocaine market. Virtually no Bolivian cocaine ends up in the United States.
César Guedes, the representative in Bolivia of the United Nations drugs office, said that roughly half of the country’s coca acreage produces coca that goes to the drug trade. By some estimates, more than 90 percent of the coca in Chapare, one of two main producing regions, goes to drugs.
Two Chapare farmers explained that they generally sell one 50-pound bag of coca leaf from each harvest to the government-regulated market. The rest, often 200 pounds or more, is sold to buyers who work with traffickers and pay a premium over the government-authorized price. One of the growers said he recently delivered coca leaf directly to a lab where it would be turned into drugs.
The central question is how much coca is needed to supply traditional needs. Current government policy permits about 50,000 acres of legal coca plantings, although the actual area in cultivation is much higher. The United Nations estimated there were 67,000 acres of coca last year.
Whatever the exact figure, most analysts agree that far more is produced than is needed to supply the traditional market.
The European Union financed a study several years ago to estimate how much coca was needed for traditional uses, but the Bolivian government has refused to release it, saying that more research is needed.
The push to reduce coca acreage comes as the Morales government is lobbying other countries to amend a United Nations convention on narcotics to recognize the legality of traditional uses of coca leaf in Bolivia. A decision is expected in January.
On a recent morning just after dawn, a squad of uniformed soldiers used machetes to cut down a plot of coca plants near the town of Ivirgarzama.
They had come to chop down an old coca patch that had passed its prime and measure a replacement plot planted by the farmer. The soldiers determined that the new plot was slightly over the limit and removed about two rows of plants before going on their way.
“Before, there was more tension, more conflict, more people injured,” Lt. Col. Willy Pozo said. “This is no longer a war.”

Jean Friedman-Rudovsky contributed reporting from Ivirgarzama, Bolivia.

Estados falidos: o Ocidente e' sempre o culpado...

Parece que as elites dos Estados falidos não têm nada a ver com o fato de seus países serem um fracasso completo. O que quer que o Ocidente faça, ele sempre é culpado de alguma coisa.
Se o Ocidente deixasse os Estados falidos à sua mercê, eles se converteriam rapidamente em centros de corrupção, de tráfico de drogas e de todos os tipos de criminalidade transnacional, de piratas, fontes de miséria e desespero para suas próprias populações. Então a "opinião pública" internacional -- isto é ocidental, exclusivamente -- pressiona seus governos para intervir e colocar ordem na casa. Raramente dá certo, pois construir Estados, reconstruir sociedades é uma tarefa hercúlea, que nunca pode ser feita a partir de fora, mas dependeria do engajamento de suas próprias elites. Se estas são incompetentes ou incapazes, nada de bom pode resultar dessa intervenção.
Por que culpar o Ocidente, então?
Paulo Roberto de Almeida 

Interview with Ahmed Rashid The West Should 'Change Its Approach to Failing States'

Der Spiegel, 31/12/2012

Photo Gallery: The Failures of Western Intervention
Photos
REUTERS
Ahmed Rashid, one of the world's foremost experts on Afghanistan, once welcomed US intervention in the failed state. But in a SPIEGEL interview, the Pakistani journalist says the West's model for development is fundamentally flawed and must be changed.
SPIEGEL: Mr. Rashid, in 2014 the West will withdraw from Afghanistan. To what extent have they failed?
ANZEIGE
Rashid: In my view, the Western model of influencing the development of third world countries is doomed to failure. The West does not understand how to deal with states that no longer have any authority and are threatened by dissolution. Their efforts failed in Iraq as well as Afghanistan. They are simply not capable of promoting the indigenous economy. Neither USAID nor Germany's international technical cooperation agency, the GIZ, are able to get a grip on it. They provide temporary assistance, no more than that. Many billions of dollars flooded into Afghanistan, but without any significant effect. SPIEGEL: There is rarely a lack of monetary aid in such countries. So why does the Western model fail in building up a country such as Afghanistan?
Rashid: It would be better if the private sector would participate to a larger extent. Dysfunctional states like Afghanistan need business people who are deeply rooted in their country and invest in it. They can add stability. But all development programs of the United States and the European countries unfortunately exclude the private sector, which could make investments based on profitability.
SPIEGEL: Presumably it would also be quite difficult to persuade companies to invest in countries like Afghanistan or Somalia.
Rashid: Yes, I am aware of the challenges. But I am confident that there are hedge funds, banks or investment companies that could allocate five percent of their portfolios for risky investments. In any event, for countries like Afghanistan the formation of an entrepreneurial class is of vital importance.
SPIEGEL: The United States is trying to establish a more peaceful environment prior to the withdrawal of their troops and to initiate talks with the Taliban -- also with limited success.
Rashid: Evidently, the US also isn't capable of mediation. This lesson can be drawn from the failure of the talks with the Taliban in Qatar. Here too it would be better to involve the private sector, such as with respectable organizations that are preferably trusted by both sides. States should limit themselves to facilitating mediation. For example, the International Red Cross has the best contact to the Taliban. The Swedish Committee for Afghanistan has for the past fifteen years managed three hundred schools in an area of Afghanistan that is under Taliban control. The Swedes have to deal with the Taliban on an almost daily basis so the schools can be kept open for boys and girls. This remarkable local initiative could be transformed into a nationwide initiative for dialogue and mediation.
SPIEGEL: What you are proposing is a paradigm shift.
Rashid: Exactly, the West would be well advised to change its approach towards failing states. At present, no major power can find the correct ways and means --and the numbers of failing states are increasing, almost as if there were a race going on. This year we watched the collapse of Mali, a consequence of the Libyan civil war. The south of Libya and Mali, and Niger too, are well on the way to becoming a no-man's land. After 9/11, George W. Bush and Tony Blair made the promise that they would not tolerate failed states because they could become a haven for terrorists. And today? The number increases. Last year it was Yemen, this year it is the southern Sahara.
SPIEGEL: What do you suggest? A military intervention surely can no longer be an alternative.
Rashid: It would have been better if the United Nations had sent a team to Mali right away to mediate between the government and the rebels. But where is the political initiative? The Americans make their usual recommendations. They want to train the army for the fight with the rebels. US special forces are already in Mali.
SPIEGEL: The promise that Bush and Blair made can hardly be kept after the experiences in Iraq and Afghanistan. In the near future, the United States can probably not be persuaded to launch military interventions.
Rashid: The United States only knows one form of intervention and that is the military one. Everything depends on drawn weapons. We should, however, develop a wider scope of action. And we should learn to be patient.
SPIEGEL: But did you not welcome the military intervention in Afghanistan in 2001?
Rashid: At that time, I assumed that the Afghans were incapable of dealing with the Taliban. They were exhausted from the civil war, they had suffered defeats, they were economically destitute, the unrest in the country was enormous. They had a famine. India, Pakistan and Iran waged a proxy war in Afghanistan. Al-Qaida supported the Taliban financially, which provided a basis for them. There was no alternative to America's military intervention. Therefore I welcomed it, yes.
SPIEGEL: You have always complained that the United States neglected Afghanistan because of the war in Iraq. What should have been the second step after the occupation?
Rashid: Very simple, economic development. The civil war was over and the Taliban was no longer there. Troops were necessary to guarantee security. To that end, back then the United States stationed 20,000 soldiers in Afghanistan, but that was not enough. And so they left the security to the Afghan warlords. The CIA consulted with them and by doing so destroyed the morale of the Afghans. They hated the warlords.
SPIEGEL: But quite a few billion dollars also went into building up the country. What happened with that money?
Rashid: In 2001 USAID, the American governmental organization for international development that was founded during the Cold War, invited me and several others to give them suggestions on how development should be carried out after 9/11. We told them that in the next 10 years the United States should make $5 billion available for Afghanistan every year -- enough to revitalize the economy, invest in infrastructure and rebuild education and health. A third-world country like Afghanistan could not possibly absorb more than these five billion. Five billion was peanuts back then. Much money came in but it went to the wrong things, such as making payoffs to the warlords. There was insufficient investment in infrastructure until much later, and the same went for building a self-sustaining economy and agriculture. We suggested major investments in agriculture, as Afghanistan happens to be a land of farmers. Until 2010 nothing was allocated. Richard Holbrooke, whom Obama appointed special envoy of the region, was the first who saw the necessity of investing in agriculture.
SPIEGEL: Obama changed quite a few things in his Afghanistan policy. He increased the number of troops and at the same time set the US withdrawal date to 2014. That was America's next mistake.
Rashid: That was the biggest mistake Obama could have made. Now the United States has to ensure that Afghanistan does not immediately collapse after being left to itself in 2014.
SPIEGEL: In your lifetime, you have witnessed the interventions of two super powers. What did the Soviet Union leave behind?
Rashid: The Soviets held to the tradition of colonialism. They raped the country and killed many people. But they also built dams, electrical power plants, streets, and technical schools. They were communists and had the same vision for Afghanistan that Stalin and Lenin had for the Soviet Union: Progress is communism plus electrification. And today? Today Kabul gets its electrical power from Uzbekistan, Herat from Iran and Jalalabad from Pakistan.
SPIEGEL: And what is the West's legacy in Afghanistan?
Rashid: America does not hold to the colonial tradition. America came, liberated Afghanistan from the Taliban and al-Qaida, came to an arrangement with Hamid Karzai, wanted to organize elections as soon as possible and then withdraw. The Bush administration had an obsession with democracy building. They thought that once there is a democracy, everything else will fall into place. If today you speak to the architects of the 2001 Afghanistan Conference in Bonn, they will tell you that instead of being fixated on elections, we should have built a state with an army and a police force first.
SPIEGEL: Even after the withdrawal, some US troops will remain in Afghanistan. How many should stay?
Rashid: The Americans estimate that 15,000 to 20,000 soldiers will fight terrorists from their various bases. That makes me think of Iraq, where the US also wanted to station 20,000 soldiers. The Iraqis encouraged them to leave.
SPIEGEL: Do you think that something similar will happen in Afghanistan?
Rashid: If Afghan soldiers continue to kill American soldiers as is happening these days, it can hardly be assumed that they will stay in Afghanistan in the long term. And what role are they to play? There will not be enough soldiers to ensure the security of the country. But will the US still be permitted to kill terrorists in Afghanistan and Pakistan with un-manned drones? That could worsen the situation in the neighboring states and they could view Afghanistan as a threat.
SPIEGEL: After 2014, will the Taliban again play a role in Afghanistan, whether the West likes it or not? Is Mullah Omar still the same stone-age Islamist he was 11 years ago?
Rashid: I believe that the Taliban are just as worn out from war as all of the other parties are. Perhaps they realize that they cannot win another civil war, particularly since Iran and India are boosting and protecting their own allies against the Taliban. Therefore, the Taliban cannot defeat the North. Should they aim to conquer the whole country, the world would turn its back on Afghanistan, including the United Nations. Then there would be no more money for Afghanistan, and that also goes for the $4 billion the West promised in Tokyo for the economic build-up. The Taliban would be well advised to come to an agreement with the government in Kabul, because they have the access to the money from the West.
SPIEGEL: But then the Taliban of today would no longer be the Taliban of yesterday.
Rashid: I think they are ready to compromise.
SPIEGEL: You have known Hamid Karzai for decades. What do you think of him today?
Rashid: He is a survivalist. But he has also deepened the ethnic divide in the country. He has neither fought against corruption nor against crime. He has not reformed the justice system. He has personalized his leadership, and in that respect he is similar to his father. During his father's lifetime there was the king, and he negotiated matters with the tribal leaders. Fifty years ago this form of rule was pretty normal, but today that is no longer the case.
SPIEGEL: In 2014 the new president of Afghanistan will be elected. Karzai cannot run again after two terms. Who will be his successor?
Rashid: Someone from his cabinet, someone whom he trusts. In any event it will be a Pashtun. If, however, the fighting in the country still continues in 2014, matters will be difficult. In 2008, Karzai rigged the election in part because a large number of Pashtuns in areas with a lot of fighting going on could not cast their vote. If that dilemma is repeated in 2014, a candidate from the North could win the majority. But Afghanistan is not yet ready for a president who is not a Pashtun. For that reason too, an armed truce in 2014 is important.
SPIEGEL: The emerging world powers India and China border on Afghanistan and Pakistan. What are the opportunities this neighborhood offers to the smaller countries?
Rashid: The neighbors have for many decades been accustomed to exerting control in Afghanistan. But Pakistan, with its fundamentalism, with its multitude of terrorist groups, with its declining economy can hardly be curtailed. The key for any change to this permanent and ever-increasing calamity is the relationship to India. India will not trust Pakistan as long as its secret service and army allow tens of thousands of militants to fight in Kashmir, and as long as it has to anticipate another assassination plot like that in Mumbai in 2008.
SPIEGEL: The next intervention will likely not be military, but economic, and one initiated by China and India. Why not to the advantage of Pakistan? Rashid: Our elites are spoiled by permanent foreign aid and therefore find it difficult to change course. Pakistan needs someone who stands up and says: Fundamentalism is bad, capitalism is good. This region harbors enormous potential. Pakistan could become the hub for the energy that is transported from Central Asia to South Asia. That could change the whole region. Or, India could invest in Pakistan, build factories and pipelines. Pakistan could provide engineers, drivers, workers, and forge alliances with the neighboring states. Twice the world powers have intervened and Pakistan has tried to play games with them. The third intervention will be economic, and we should participate.
SPIEGEL: Mr. Rashid, thank you for this conversation.
Interview by Gerhard Spörl

China: os companheiros progressistas contra a midia conservadora...

Um exemplo do que os companheiros chamam de "controle social da mídia":
Paulo Roberto de Almeida 

Visa Issue in China Forces Out Times Reporter

BEIJING — A correspondent for The New York Times was forced to leave mainland China on Monday after the authorities declined to issue him a visa for 2013 by year’s end.
Chris Buckley, a 45-year-old Australian who has worked as a correspondent in China since 2000, rejoined The Times in September after working for Reuters. The Times applied for Mr. Buckley to be accredited to replace a correspondent who was reassigned, but the authorities did not act before Dec. 31, despite numerous requests. That forced Mr. Buckley, his partner and their daughter to fly to Hong Kong on Monday.
Normally, requests to transfer visas are processed in a matter of weeks or a couple of months.
The Times is also waiting for its new Beijing bureau chief, Philip P. Pan, to be accredited. Mr. Pan applied in March, but his visa has not been processed.
The visa troubles come amid government pressure on the foreign news media over investigations into the finances of senior Chinese leaders, a delicate subject. Corruption is widely reported in China, but top leaders are considered off limits.
On the day that The Times published a long investigation into the riches of the family of Prime Minister Wen Jiabao, both its English-language Web site and its new Chinese-language site were blocked within China, and they remain so.
In June, the authorities blocked the English-language site of Bloomberg News after it published a detailed investigation into the family riches of China’s new top leader, Xi Jinping. Chinese financial institutions say they have been instructed by officials not to buy Bloomberg’s computer terminals, a lucrative source of income for the company.
The Ministry of Foreign Affairs declined to comment on Mr. Buckley’s forced departure. Ministry officials have not said if they are linking Mr. Buckley’s visa renewal or Mr. Pan’s press accreditation to the newspaper’s coverage of China. In a statement, The Times urged the authorities to process Mr. Buckley’s visa as quickly as possible so that he and his family could return to Beijing.
“I hope the Chinese authorities will issue him a new visa as soon as possible and allow Chris and his family to return to Beijing,” Jill Abramson, the executive editor of The Times, said in the statement. “I also hope that Phil Pan, whose application for journalist credentials has been pending for months, will also be issued a visa to serve as our bureau chief in Beijing.”
The Times has six other accredited correspondents in China, and their visas were renewed for 2013 in a timely manner. David Barboza, the Shanghai bureau chief, who wrote the articles about Mr. Wen’s family, was among those whose visas were renewed.

Diagnostico europeu sobre a Europa e o mundo - ECFR

European Council on Foreign Relations
TEN TRENDS FOR 2013
Dear friends of ECFR,

Happy New Year! 2012 saw continuing crisis in the eurozone, growing Euroscepticism and populism in some corners of Europe, faltering transitions in Egypt and elsewhere, more violence in Syria, a new leadership in China, and both Putin II and Obama II. So what will 2013 hold? Gazing into our crystal ball, we came up with the following ideas (although it's fair to say that we were divided on many of them). Whatever happens, we wish you a good 2013!

1. The single market unravels.

As ECFR’s recent paper - “Why the euro crisis threatens the EU’s single market” - shows, however the EU and eurozone deal with the crisis this main achievement of European integration will be damaged. A full eurozone break up would shatter the single market (and Schengen) while a great leap towards integration would see shrinkage as others (like the UK) withdraw. But even “muddling through” will diminish its depth.  In the past months banks in the eurozone have withdrawn from cross-border business. Because of the spreads, even poorly-managed German companies are paying significantly less interest than well-managed Spanish companies. All of these developments create new barriers and will lead to a renewed focus on domestic markets. For Europe, this means less competition, less growth, and higher prices for consumers. Our forthcoming paper on Europe’s “New Political Geography” (based upon ECFR’s 2012 series of 14 National Papers) shows how many EU member states are deeply concerned that differentiated integration is forcing them to the periphery of the European project.

2. “Small” states lead the EU’s foreign policy.

While the biggest countries of the eurozone are focused on the crisis and the UK is increasingly disengaged from Europe, new coalitions of willing members have been leading on the EU’s foreign policy. ECFR’s “Foreign Policy Scorecard 2012” showed that Poland and Sweden were the ones taking the initiative and leading Europe on the world stage. This year’s Scorecard, due to be published later this month, shows that Sweden is taking the initiative roughly as much as traditional large powers like France and the UK, with the Netherlands and Finland also demonstrating that in EU foreign policy size isn’t the only thing that matters.

3. The end of technocracy.

After a year where technocrats took over the countries of the periphery and other leaders, electoral politics will return to European integration. In Italy the vote could turn into a referendum on Monti’s reforms, with or without the current prime minister’s participation, with substantial implications for the rest of Europe.  And the German elections could also see a new government elected that has less constraints on what it is able to do – although the danger is that Europe will be largely absent from the campaign.

4. The British debate over Europe becomes less toxic.

Although the UK Independence Party will continue to make gains and force many Conservative MPs towards more Eurosceptic positions, 2013 will see a growing realisation that the UK is sleepwalking towards a disastrous EU exit. Business leaders will lead the backlash, followed by politicians – including many Conservatives who decide that Euroscepticism divides their own party, helps UKIP, and distracts from their own challenges with economic dysfunction and a fractious coalition. The arguments over Scottish EU membership also serve to highlight the tangible benefits of membership (see Peter Kellner’s ECFR paper on how the result of a British referendum on the EU may turn on how many judge the EU in pragmatic rather than ideological terms).

5. Syria as the playground for proxy conflicts.

The ongoing civil war in Syria is the epicentre of a wider regional battle, complicating hopes of resolution and bringing in the threat of wider destabilisation. It is sharpening sectarian tensions, reinvigorating dormant Sunni jihadi forces, pushing Iran and its allies on the defensive, and providing new room for Kurdish ambitions. The febrile atmosphere in Kurdistan is opening cracks between Ankara and its de facto allies Saudi Arabia and Qatar, and reverberations are spreading into northern Iraq.

6. Political versus religious Islam.

With a backlash against political Islam evident in Egypt and Tunisia, it’s apparent that the Muslim Brotherhood and other Islamists are finding it hard to deal with voters’ everyday practical problems and aspirations. Islamist parties have been forced to develop a more mature political style and formulate policies on socio-economic challenges to retain the support of essentially traditional and pragmatic voters.  However this is creating a gap between political Islamists and their religious such as the Salafists who are seeking to take advantage of greater religiosity in civil society. This tension will become a defining issue for countries such as Egypt and Tunisia as they continue their political transitions.

7. Putin’s increasingly ungovernable Russia.

A sick and politically enfeebled Putin is no longer able to play different power clans off against each other, making the country increasingly ungovernable while the petro-economy slows down. This may prompt a return to defensive/aggressive posturing to its south and west (it will keep quiet over China), for instance through greater involvement in the Former Soviet Union (meddling in Ukraine and Georgia), and diplomatic muscle flexing in Syria and with the US and NATO over missile defence and the Magnitski list. However, underlying this is the realisation that Russia desperately needs the West and can’t afford to push too hard in difficult times.

8. Security in the Maghreb becomes a real issue.

While UN and African peacekeepers struggle with the crisis in Mali, Al Qaeda in the Islamic Maghreb (AQIM) will attempt to extend its ambitions to terrorist attacks in Europe, prompting an increase in French military strikes against AQIM.

9. China 3.0 meets Chinese leadership 1.5.

Chinese intellectuals and thinkers, think their country needs to enter a new era. After Mao’s political revolution (‘China 1.0’) and Deng Xiaoping’s economic revolution (‘China 2.0’), they are expecting a ‘China 3.0’. Now that China is becoming more affluent, how does China deal with growing inequalities, rebalance its economy and increase its exposure to the global economy? How does the Communist Party retain stability, with increasing friction within Chinese society and half a billion ‘netizens’ active on the web? But the 18th Party congress has anointed leaders who have more in common with the past than the future.  As the political system becomes more rigid, and its foreign policy more aggressive, there is a growing tension between China’s strong society and its weak political system.

And finally, the big question in European foreign policy is…

10. Will post-American Europe fail to grow up or discover strategy?

For European foreign policy the elections didn’t really matter, and now President Obama is proving it by showing that a “pivot” to Asia is a fundamental “shift” away from the North Atlantic. As the 2013 Scorecard suggests, Europe continues to find ways to fail to come to terms with foreign policy… but if Europe’s leaders finally look up from the euro crisis, notice how much the continent has lost power, prestige and influence, and accept the need to formulate a European Global Strategy it could all be so different (perhaps in 2014).

And a word about how well we did with our predictions last year:

1. A “European Clash of Civilisations” – True (and predictable) enough, in as much as the EU has been torn (between core and periphery, eurozone and non-eurozone, “virtuous” North and “profligate” South) for much of 2013. The picture is of course far more complicated, as our National Paper series shows, but we called this one right.

2. Germany discovers that it’s a European country – There are signs that the debate in Europe is now shifting, with questions of political integration now being discussed (not quite extending to eurobonds). Maybe we had better judge this one after the 2013 German elections are out of the way…

3. A British Europe without Britain – British Eurosceptics have certainly had a good year (although next year may not be so promising), and there are definite signs that aspects of the EU (for instance a greater role for national governments, liberal reforms for the periphery, loss of central institutional power) are becoming more “British.”

4. China is forced into a financial G3 to safeguard the value of its reserves – this has not held up quite so well, although as we noted, the power shift to the East needs to take into account China’s economic interdependence with the West and its need to rebalance its economy.

5. The Russian Scramble for Europe (and banks) – So far this has not happened, although the situation in Cyprus, where Russia has played an important role in helping the country deal with the financial crisis, shows that Russian investment is something that the EU should not ignore.

6. The remilitarisation of Europe – Although the crisis and international impotence over Syria has crowded out real discussion of European strategy, there is a feeling in some corners of ECFR that 2013 could be the real year where an EU-wide sharing of security concerns and capacity could be on the cards…

7. China discovers competitive politics while reinforcing authoritarianism – The Bo Xilai affair and the autumn leadership “selection” showed that authoritarianism was reinforced without much in the way of competitive politics – although (as discussed in ECFR’s “China 3.0”) there is a vibrant internal Chinese debate over other mechanisms for political representation and competition.

8. The Domesticated Brotherhood – As noted in this year’s set of “Ten Trends”, political Islam has found its first steps in government to be difficult ones, leading to something of a recent anti-Islamist backlash. This has led to a tension between political Islam and religious Islam that we think could be a big story in 2013.

9. A perfect Iranian storm – At the time of writing this has not happened, although Iran and its nuclear programme remains a toxic issue in the Middle East and beyond.

10. The Youthquake doesn’t happen – Despite the Occupy Movement, the Pirate Party and so much else, we were right: organised older folk and the impotence of treating Facebook “likes” as a real proxy for voting and participation means the “Youthquake” is yet to happen.

ECFR's London office:

35 Old Queen Street
London, Greater London SW1H 9JA
United Kingdom
Find us: ecfr.eu  

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

A politica externa de Dilma - Joao Bosco Monte

ANÁLISE INTERNACIONAL
Que esperar da politica externa brasileira em 2013
Joao Bosco monte
O Povo online (Fortaleza), 30/12/2012

Antes de tentar fazer uma análise do que pode acontecer em 2013 com relação à politica externa brasileira é importante destacar que nos primeiros dois anos de governo de Dilma Rousseff, as atenções do Palácio do Planalto estiveram mais direcionadas para assuntos domésticos, redundando em uma agenda internacional sensivelmente tímida.

Rousseff como a primeira mulher a ocupar a presidência do Brasil, fez o improvável e apostou, de forma pragmática, que o foco de suas ações deveria ser o cenário interno em seus dois primeiros anos de mandato. O resultado, talvez surpreendentemente até para o próprio governo, se traduz nos altos índices de popularidade de Dilma, considerada uma neófita na política e vista por muitos como uma mera extensão de seu predecessor e mentor,Luiz Inácio Lula da Silva.

De fato, embora Dilma Rousseff não tenha definido ainda qual é o foco da política externa de seu governo, o que se percebe, principalmente por diversas ações orquestradas pelo Itamaraty, é um direcionamento para as relações com a América do Sul e a África e no mundo em desenvolvimento, em geral. Por outro lado, também é interessante notar que isso não favoreceu para o prejuízo das tradicionais relações como Estados Unidos e a União Europeia, nosso principal parceiro comercial.

Mas o que parece importar neste momento é que a luz vermelha da economia nacional já está acesa há muito tempo e dados econômicos demonstram que o Brasil, cujo PIB (ou pibinho) em 2012 com muita dificuldade alcançará 1%, já não é a máquina de crescimento de apenas três anos atrás. Na verdade, o país que sobreviveu à maior crise de crédito mundial nos tempos modernos está crescendo menos do que os Estados Unidos, África ou os países dos BRICS.

Dilma Rousseff entende, portanto que o Brasil precisa dialogar de forma mais direta e contundente com os parceiros internacionais, abrindo dessa forma as portas para marcas e produtos brasileiros no exterior. Como sinal desta nova percepção, a agenda internacional da presidente brasileira em 2013 deve ser foi mais incisiva que nos anos anteriores de seu governo, quando visitou 17 países, num total de 15 viagens.

E parece que este novo momento já se pode notar com as últimas viagens ao exterior de Dilma. Em novembro deste ano ela esteve em Madri, e reafirmou seu desejo e o compromisso do governo brasileiro de dar um novo ânimo à parceria bilateral com o país ibérico.

Também foi notória a importância conferida às visitas oficiais realizadas recentemente à França e Rússia. Na capital francesa, o presidente François Hollande reiterou a intenção de aumentar a cooperação franco-brasileira e em Moscou a presidente brasileira se reuniu com o colega russo Wladimir Putin e o Primeiro Ministro Dmitry Medvedev. A principal ênfase foi a expansão do comércio e do investimento, a cooperação no âmbito BRICS e G20 e de forma objetiva temas ligados ao esporte. E neste item, é importante destacar que a Rússia sediará o Mundial de Futebol da FIFA em 2018 e os mesmos problemas enfrentados pelo Brasil, também são encontrados por lá. Para o ano de 2013, Rousseff já tem programada uma série de viagens: no roteiro se destacam visitas aos Estados Unidos, Chile, África do Sul e Índia e México.

O que deve ser levado em consideração neste momento de incertezas sobre o rumo da economia mundial é o Brasil por diversas razões não pode perder sua importância no cenário internacional: sua dimensão continental (ocupando quase metade da América do Sul), relativa proximidade geográfica com a África, Europa, América Central e Estados Unidos, importante provedor de matéria prima, população de quase 200 milhões de habitantes e o processo de modernização de seu parque industrial.

E aqui faço uma referência ao artigo da revista Foreign Affairs, intitulado Nova Política Externa do Brasil escrito por Jânio Quadros quando nitidamente previa a nossa transformação em uma potência econômica. O ex-presidente afirmou “Sairemos à conquista desses mercados; em casa, na América Latina, na África; na Ásia, na Oceânica, em países sob a democracia e naqueles que se uniram ao sistema comunista. Os interesses materiais não conhecem doutrina e o Brasil está atravessando um período em que sua própria sobrevivência como nação, ocupando uma das áreas mais extensas e privilegiadas do globo, depende da solução dos seus problemas econômicos.”

As ideias de independência e autonomia, ao mesmo tempo em que buscavam a ampliação das relações internacionais do Brasil com objetivos comerciais e sua participação nas decisões internacionais apresentadas em 1961, podem certamente ser aplicadas para os dias atuais.

Para onde deve então apontar a agenda internacional do Brasil na era Dilma Rousseff? O alvo das ações do governo brasileiro devem ser a China, Turquia, Indonésia ou Argentina? A saída parece messiânica e certamente não é fácil de responder. Mas a resposta pode se materializar se cada vez mais se evidenciar a proximidade e cumplicidade entre governo federal, governos subnacionais e empresas (estes dois simbolizando o que se conhece como paradiplomacia) e desta forma, se consolidar em trocas comerciais.

João Bosco Monte
Pos doutorado em Relações Internacionais Consultor internacional

"Em novembro deste ano ela esteve em Madri, e reafirmou seu desejo e o compromisso do governo brasileiro de dar um novo ânimo à parceria bilateral com o país ibérico"

"Para onde deve então apontar a agenda internacio
nal do Brasil na era Dilma Rousseff? O alvo das ações do governo devem ser a China, Turquia, Indonésia ou Argentina?"

1962: o ano que nao terminou nas relacoes internacionais - RBPI 2/2012, Editorial A.C. Lessa e P.R. Almeida

Um ultimo (acredito) trabalho publicado em 2012: o editorial que o editor Antonio Carlos Lessa e eu, como editor-adjunto, assinamos neste numero da RBPI, tratando de todos os temas ainda pendentes de 1962, cinquenta anos depois.

Editorial - O ano que ainda não terminou nas relações internacionais: 1962 nas páginas da RBPI, por Antônio Carlos Lessa & Paulo Roberto de Almeida

Cinquenta anos atrás, esta revista recém completava quatro anos, a partir de seu lançamento, em 1958. A periodicidade, estabelecida em seu número inaugural, se fazia à razão de quatro números por ano: a revista, portanto, abria o ano de 1962 com o número 17, já contando com o prestígio que lhe conferia a condição de ser uma espécie de “porta-voz” por escrito (embora informal) da política externa independente, inaugurada um ano antes com a ajuda do famoso artigo do presidente eleito Jânio Quadros na prestigiosa Foreign Affairs. A Revista Brasileira de Política Internacional (RBPI) republicou a versão original, em português, desse texto seminal da nova diplomacia brasileira na seção de documentos de seu número 16, de dezembro de 1961 (Nova Política Externa do Brasil, já, então, como “artigo do ex-Presidente Jânio Quadros”), junto com o texto integral da Carta de Punta del Este, conferência diplomática na qual tinha sido instituída a Aliança para o Progresso.
O que se poderia dizer a respeito do ano de 1962 é que ele ainda não terminou de acabar, tanto para a RBPI quanto para o próprio mundo; tantos foram e tantos ainda são, mesmo hoje, os processos ali forjados, ou os eventos então ocorridos que continuam a impactar o cenário contemporâneo. Sua continuidade é manifesta, seja na área da segurança estratégica – armas nucleares e não proliferação –, seja na questão do desenvolvimento – a partir da descolonização da África e de boa parte da Ásia –, nos primeiros passos da integração latino-americana, no deslanchar de mudanças nas regras do comércio internacional, ou ainda na própria revolução cubana.
O que, sim, terminou foi a bipolaridade estrita das duas grandes potências nucleares, numa época em que o Reino Unido já era estritamente alinhado aos Estados Unidos, em que a França recém começava a testar seus primeiros artefatos nucleares (no deserto argelino) e quando a China comunista ainda não havia se capacitado nessa área (o que ela faria apenas em 1964). O segundo grande contendor, a União Soviética, que desafiava os EUA pela voz de Krushev na Assembleia Geral da ONU, dizendo que o socialismo iria “enterrar o capitalismo”, já não existe mais. Não obstante o fato de que o atual cenário geopolítico se apresente sob outras roupagens, ele preserva, de certa forma, algumas feituras do anterior, ao preservar a divisão entre os cinco “mais iguais” do Conselho de Segurança e todos os demais, embora a República da China tenha sido finalmente substituída pela República Popular.
Vários outros temas, alguns de bastante atualidade, enchiam as páginas da revista, com um sabor que alguns americanos chamariam de déjà-vu all over again: tensão no Oriente Médio, corrida armamentista, Movimento dos Países Não Alinhados (MNA), valorização dos produtos de base, emergência do Sul e financiamento do desenvolvimento, entre outros ainda bem presentes no menu de todas as boas revistas de Relações Internacionais. Vale a pena, pois, conferir o que a RBPI publicou nesse ano que ainda não terminou. Uma nova visita aos índices do ano de 1962, meio século depois, pode ser útil, portanto, ainda que fosse apenas para confirmar tanto a importância diplomática e a relevância continuada de vários desses temas para os nossos dias quanto a essencialidade da RBPI para toda e qualquer pesquisa acadêmica que se empreenda, hoje, para uma retrospectiva da época ou para efetuar qualquer avaliação que se pretenda fazer, à distância, no que tange a agenda diplomática do Brasil naquela conjuntura.
O último número de 1961, publicado em dezembro, e circulando, portanto, no início de 1962, trazia artigos de diplomatas sobre as relações Brasil-Estados Unidos (Henrique Valle) e sobre o intercâmbio comercial entre o Brasil e a União Soviética (Paulo Leão de Moura), fluxos ainda engatinhando, depois de um primeiro artigo do ex-chanceler Oswaldo Aranha (n. 2, junho de 1958), defendendo, já sob a administração de Juscelino Kubitschek, a retomada das relações diplomáticas entre os dois países: se pretendia, então, a intensificação das vendas de café para os mercados socialistas. Naquele contexto, a RBPI refletia os primeiros passos da Política Externa Independente, com o seguimento das primeiras reuniões do MNA e a promoção de relações comerciais com a China de Mao. Por meio de artigos ou de notas tópicas, a RBPI seguia todos esses movimentos, profundamente desafiadores para a diplomacia brasileira de então.
A posição do Brasil na conferência de Punta del Este de 1961 está inteiramente refletida no artigo do intelectual Alceu Amoroso Lima, membro da delegação brasileira, no primeiro número de 1962 (ano 5, n. 17, março). Seguia-se um artigo do americano Richard Goodwin, sobre O futuro da liberdade e a Aliança para o Progresso, mas também um outro de Pedro C. M. Teichert sobre a América Latina e o impacto socioeconômico da revolução cubana. A seção de documentos trazia a posição do Brasil sobre a questão de Angola na ONU, onde se discutia a resistência do governo português em garantir a independência para sua maior colônia africana, como tinha ocorrido com quase todas as demais dependências europeias naquele continente; merecia ainda destaque nessa mesma seção a transcrição da Declaração dos Chefes de Estado ou de Governos dos Países não compromissados(como alguém traduziu os depois chamados não alinhados). O MNA acaba de realizar uma conferência em Teerã (agosto de 2012), talvez com as mesmas acusações às potências capitalistas que eram feitas em 1962.
O segundo número do ano (n. 18, de junho de 1962) se abria com um artigo do já prestigiado diplomata economista Otávio Dias Carneiro sobre o comércio entre o Brasil e a Europa Oriental. O jornalista nacionalista Barbosa Lima Sobrinho comparecia em seguida com um tema que animou as relações do Brasil com os Estados Unidos: O Brasil e a encampação de concessionárias estrangeiras. O historiador José Honório Rodrigues, que logo depois publicaria seu livro pioneiro sobre as relações entre o Brasil e a África (“novos horizontes”, como ele caracterizou), estava presente com um artigo sobre O presente e o futuro das relações africano-brasileiras. Mestre Gilberto Freyre criticava asIdeias errôneas sobre o Brasil e o então deputado Nelson Carneiro, depois conhecido como o “pai do divórcio no Brasil”, já se preocupava com A situação dos contratados das legações, ou seja, dos funcionários estrangeiros nas embaixadas do Brasil no exterior.
A seção Resenha desse número – na verdade compilando notas de atualidade – registrava a visita do presidente João Goulart aos Estados Unidos e ao México e a viagem a Washington do ministro San Thiago Dantas, buscando aliviar a difícil situação cambial em que se debatia então o Brasil. A seção de Documentos, por sua vez, trazia, entre outros atos de importância, um discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas do Senador Afonso Arinos (que tinha sido chanceler de Jânio Quadros) sobre a posição do Brasil em Punta del Este, onde a questão central foi a postura de Cuba socialista em face do sistema hemisférico interamericano. Esse ponto permanece, portanto, embora o Brasil tenha hoje caminhado para reinserir plenamente Cuba no contexto latino-americano; no plano do balanço de pagamentos e da disponibilidade de divisas, a situação, hoje, é infinitamente mais confortável.
No segundo semestre, o número 19 (de setembro de 1962) se abria com um novo artigo do diplomata economista Otávio Dias Carneiro sobre um dos temas mais relevantes da diplomacia econômica brasileira durante décadas: o comércio internacional de produtos de base; eles são, ainda hoje, uma presença constante na pauta exportadora brasileira, até com maior intensidade do que nas décadas imediatamente seguintes, ocupadas pela promoção comercial e a busca de novos mercados para os produtos manufaturados brasileiros. José Honório Rodrigues também voltava a abordar O presente e o futuro das relações africano-brasileiras (II), enquanto o diplomata jurista Geraldo Eulálio Nascimento e Silva discorria sobre a conferência de Viena sobre relações e imunidades diplomáticas, ainda uma das bases das relações internacionais contemporâneas. Entre os livros resenhados, encontra-se a primeira edição da coleção de discursos e artigos de San Tiago Dantas, Política Externa Independente, que a Fundação Alexandre de Gusmão acaba de republicar, em nova edição ampliada com estudos contemporâneos.
Finalmente, o quarto número do ano (n. 20, de dezembro de 1962) se abria com um artigo do então secretário da Organização dos Estados Americanos (OEA), ex-presidente equatoriano Galo Plaza, sobre um problema infelizmente ainda atual na região: Problemas de educação na América Latina. Um outro, do ex-presidente da Costa Rica, José Figueres, também tocava em assunto recorrente, talvez não mais tão tenso, embora tampouco desprovido de conflitos: O comércio entre países pobres e ricos como causa de tensões. Um dos economistas pioneiros nas questões do desenvolvimento dos países então chamados de subdesenvolvidos, Arthur Lewis, comparecia com um artigo sobre osProblemas econômicos do desenvolvimento.
Esses foram, portanto, os principais assuntos abordados nas páginas da RBPI em seus quatro números de 1962. Curiosamente não comparecia o grande assunto do ano, a crise dos foguetes soviéticos em Cuba, ocorrida em duas semanas tensas de outubro, provavelmente pelo caráter absolutamente imediato daqueles eventos dramáticos, que ameaçaram, de fato, deslanchar pela primeira vez um enfrentamento nuclear entre as duas grandes potências. O tema estaria presente, contudo, em diversos números posteriores, como ainda percorre as páginas de vários periódicos importantes da área.
Nos números seguintes, a RBPI continuaria a abordagem dos grandes temas da agenda diplomática mundial e brasileira, com artigos e ensaios de autores brasileiros e estrangeiros: Associação Latino-Americana de Livre Comércio (Alalc) (Henrique Valle), comércio internacional de produtos de base (Otávio Dias Carneiro), África (Arthur Cézar Ferreira Reis), o incidente nas relações Brasil-França causado pela chamada “guerra da lagosta”, além do seguimento dos projetos da Aliança para o Progresso. Já nessa época se discutia a desnuclearização da América Latina, que seria objeto do Tratado de Tlatelolco, de 1967, não muito bem-visto pela diplomacia brasileira.
Pouco adiante, em meados de 1963, a revista registrou a assinatura do primeiro instrumento de contenção da proliferação, o Tratado de Proscrição das Experiências com Armas Nucleares na Atmosfera, no Espaço Cósmico e sob a Água, tema ainda atual, embora o Comprehensive Nuclear-Test-Ban Treaty (CTBT), o tratado de proscrição completa dos testes nucleares, dos anos 1990, não tenha ainda entrado em vigor. Um outro número desse ano trazia a resenha de um livro, já então sob a forma de alerta, do famoso economista Robert Triffin, sobre o ouro e a crise do dólar, denunciando as fragilidades do sistema de Bretton Woods e antecipando e prenunciando o fim da era do padrão ouro-dólar, o que só ocorreria dez anos depois.
Todos esses exemplos, recolhidos um pouco aleatoriamente nas páginas da RBPI entre o final de 1961 e o início de 1963, demonstram como a conjuntura de meio século atrás ainda impregna o panorama atual das relações internacionais, tanto em seus aspectos políticos e de segurança estratégica quanto nos seus elementos econômicos e sociais. Uma releitura desses números, sobretudo os de 1962, nos instrui, realisticamente, sobre a imanência dos grandes temas da agenda diplomática internacional e brasileira, confirma, infelizmente, a modéstia das capacidades humanas em transformar positivamente o mundo, mas nos enriquece, intelectualmente, sobre a grande marcha da história e sobre as grandes e pequenas tragédias da política internacional.
A RBPI, que nasceu sob essa conjuntura histórica de transformação – que ainda é a nossa, meio século depois –, continua a alimentar o debate, o conhecimento e a pesquisa sobre esses temas cruciais das relações internacionais. Já tendo completado, ela mesma, 54 anos de existência continuada, a RBPI promete continuar, nos próximos 46 anos que a separam de seu primeiro centenário, o mesmo trabalho de compilação de análises relevantes sobre a atualidade internacional. Se recordar é viver, como diz a canção popular, a RBPI tem vida longa pela frente.
Temos trabalhado intensamente no resgate da nossa memória, do acervo de artigos, estudos, análises e documentos publicados ao longo da nossa trajetória. Todos os números da RBPI estão digitalizados e estão sendo progressivamente incorporados a bases de dados acessíveis a todos os pesquisadores. A denominada série Rio de Janeiro está inteiramente disponível no projeto de divulgação científica Mundorama (disponível em ).
Ao mesmo tempo, temos operado importantes mudanças na nossa linha editorial, justamente para que essa extraordinária tradição possa se renovar em parâmetros modernos e de elevada competitividade. Fizemos a partir deste número um novo e importante ajuste na política editorial da RBPI: a partir da próxima edição publicaremos apenas contribuições em inglês e em português, privilegiando os trabalhos em língua inglesa. Esta edição, portanto, é a última em que publicamos trabalhos em espanhol. Incentivaremos os nossos autores a submeterem as suas contribuições em bom inglês, ou buscaremos meios para traduzir em número crescente os artigos mais impactantes. É nosso desejo que, em pouco tempo, o formato impresso circule predominantemente em língua inglesa, ao tempo em que cuidaremos para que versões em português sejam publicadas paralelamente na nossa página no Scielo.
Entendemos que esses são ajustes que nos permitirão perseverar com a sincronização das nossas tradições com o perfil de uma revista moderna e inspirada por uma visão arrojada e cosmopolita de procedimentos e políticas editoriais, uma publicação que soube se renovar e se fazer a cada dia mais relevante, publicando ciência impactante tanto para a comunidade brasileira de Relações Internacionais quanto para o crescente número de especialistas de outros países que se motivam em acompanhar o debate especializado no nosso país.

Antônio Carlos Lessa é Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), editor da Revista Brasileira de Política Internacional (RBPI) e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (aclessa@gmail.com).Paulo Roberto de Almeida é Professor do Centro Universitário de Brasília (Uniceub), diplomata de carreira e editor-adjunto da RBPI (pralmeida@me.com).

Balanço de um ano feliz: viagem, estudos, novos projetos - Paulo Roberto de Almeida


Balanço de um ano feliz: viagem, estudos, novos projetos

Paulo Roberto de Almeida
Último trabalho de 2012

Este é meu último texto de 2012, escrito na madrugada do dia 31, quando ainda tenho diversas tarefas a cumprir durante o dia, antes de terminar o ano. Pretendo tecer aqui algumas considerações sobre, respectivamente, o que foi feito, isto é, o que eu consegui fazer durante o ano que hoje se encerra, o que faltou fazer – e foi muita coisa, a julgar pela minha pasta, que deixo de herança para o ano que inicia amanhã – e o que pretendo fazer em 2013, se por acaso as musas da inteligência, da arte da reflexão e da escrita (existem estas, por acaso?; digo especificamente) forem generosas comigo, e me permitirem uma produtividade igual ou maior do que nos anos precedentes.
Talvez eu devesse começar pelo que eu deixei de fazer, uma vez que o resto do texto será dedicado a um balanço de 2012, com uma contabilidade “escritural” e alguma avaliação de tipo qualitativo. Eu havia prometido escrever um texto sobre as relações Brasil-Bélgica, para um livro coletivo, até o final do ano, e não consegui fazer, em função dos preparativos da próxima mudança para os Estados Unidos, onde devo começar a trabalhar no Consulado em Hartford, escolhido em virtude de sua posição estratégica entre grandes universidades americanas. Claro, deixei de cumprir também várias outras tarefas, auto-assumidas na maior parte dos casos, outras encomendadas no ambiente acadêmico em que me movimento, paralelamente ao trabalho oficial na diplomacia, outras ainda surgidas por acaso, de um impulso do momento, ou de uma inconsequência intelectual, provavelmente de uma incontinência da escrita, um desses males que cultivo, não impunemente, junto com essa outra loucura dos livros e da leitura, já chamada de “gentle madness” por algum outro viciado dessa área.
Talvez eu devesse caracterizar minhas atividades essenciais, as que sempre me acompanharam em minha vida adulta, ou talvez mesmo antes, desde a mais precoce adolescência, como integradas por estas quatro práticas: ler, refletir, escrever e divulgar. Ler, sempre o fiz, desde que aprendi a técnica numa infância que classifico como tardia: apenas aos sete anos de idade, e isto porque minha casa não exibia nenhum material de leitura, sendo meus pais alfabetizados apenas parcialmente, já que não conseguiram terminar sequer o curso primário. Refletir, também o fiz, embora talvez de maneira não sistemática, provavelmente ajudado pela circunstância de que escolhi ter poucos amigos, não jogar futebol ou me juntar aos outros bandos de garotos e adolescentes do bairro, preferindo ficar na biblioteca ou lendo os livros que trazia quase todos os dias para casa, para continuar a leitura a contra luz, deitado na cama, um dos poucos lugares tranquilos numa casa pequena demais para todos os membros da família. Escrever, também comecei a escrever desde que dominei a técnica, mas infelizmente não guardei esses registros das primeiras composições escolares; e o que tinha acumulado como notas, resenhas e trabalhos escolares até os dezoito ou vinte anos de idade, ficaram para trás e se perderam, na mudança voluntária para a Europa em 1970. Divulgar foi mais raro, embora me recorde de uma primeira resenha de livro – de Erich Fromm, um alemão refugiado do nazismo nos Estados Unidos – que ficou para trás, num desses jornais impressos a mimeógrafo do diretório acadêmico do curso colegial; os escritos do ginasial, onde também participei de boletins escolares, se perderam todos, com uma única exceção (que um dia divulgarei, mas é perfeitamente inocente). Desde então, consegui divulgar, e até publicar, com maior intensidade, talvez até devendo passar para a auto-publicação, com todos os recursos atualmente disponíveis para tanto.
Retornando agora ao que deixei de fazer, a principal delas, a que está em meus working files desde 2001, pelo menos, é o segundo volume da história da diplomacia econômica no Brasil, que me comprometi a elaborar em três partes desde a concepção original do projeto, ainda na primeira metade dos anos 1990. Talvez eu consiga terminar o projeto, incluindo um terceiro volume para o período posterior a 1945, em meados da presente década, mas isto à condição que retome o trabalho no segundo semestre de 2013, depois de terminar o seminário sobre o pensamento brasileiro em política internacional, que me comprometi a fazer para a Fundação Alexandre de Gusmão. Tem também uma lista inteira de trabalhos ou livros inacabados, que tentarei avançar de modo paralelo aos encargos já inscritos para o primeiro semestre (e que compreendem a finalização de um livro coletivo sobre o Mercosul e diversos outros trabalhos anotados na agenda de trabalho imediata. Mas deixo a lista para lá, pois arriscaria ser incompleta além de aborrecida (e alguns deles estarão também na lista deixada para 2014).
Passando agora o que consegui fazer, talvez alguma contabilidade elementar ajudaria na avaliação quantitativa, pelo menos. Comecei o ano pelo trabalho n. 2.349 e estou terminando por este aqui, que leva o nº 2.457; são, portanto, 108 trabalhos completos, sem que eu dê agora o trabalho de contar o volume de páginas escritas (farei uma contabilidade detalhada nos primeiros dias de 2013). Em todo caso, essa mais de uma centena de trabalhos no ano representa exatamente nove trabalhos por mês, ou um trabalho a cada três dias (não contabilizadas aqui vários outros trabalhos incompletos, ou em curso de redação, e notas para futuros trabalhos). Com base na contagem das páginas escritas, poderei calcular quantas páginas por dia, ou por mês, e qual a média de páginas por trabalho, sendo de se esperar uma enorme variação entre eles. Falarei sobre os mais importantes mais tarde, sendo apenas de se destacar o livro sobre integração regional que preparei para a Editora Saraiva e que deve ser publicado no início de 2013. Outros virão, certamente, e ainda no decorrer de 2013, pelo menos assim espero.
Deixando de lado o balanço quantitativo, quero apenas referir-me ao título deste último trabalho do ano: foi, sim, um ano feliz, que comecei com uma viagem pessoal de estudos e termina agora pelo que sempre gostei de fazer: elaborando novos projetos de trabalhos acadêmicos, o que combina inteiramente com o meu lado mais intelectual do que propriamente executivo. Passei, no primeiro semestre, quase seis meses em Paris, para aulas no Institut de Hautes Études de l’Amérique Latina – e viajando intensamente pela Europa – e estou no limiar de nova viagem, desta vez a trabalho, mas que pretendo combinar igualmente ao meu hobby habitual (bem mais que distração, uma verdadeira segunda natureza, dada a intensidade da dedicação voluntária a essas lides acadêmicas).
Se eu fizer uma pesquisa por conceitos na lista dos trabalhos de 2012, a palavra livro é, provavelmente, a que aparecerá com mais frequência, inclusive pelas muitas mini-resenhas que preparo para a seção “Prata da Casa” do Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros, selecionando os livros de meus colegas de carreira que mais merecem registro para a atenção dos demais colegas. Se eu pudesse, eu me dedicaria à arte da resenha com maior intensidade, inclusive num gênero que não é muito comum nesse tipo de empreendimento: a resenha de velhos livros, talvez com mais de século e meio de publicação, pois é especialmente gratificante visitar novamente as grandes obras do passado para ver em que medida elas conservam o frescor da reflexão, a pertinência do argumento, a relevância da problemática abordada e sua importância para os dias que correm. Esta pequena arte se combina também a outro projeto meu, este permanente, pois se trata de percorrer os clássicos, revisitados e reescritos numa nova abordagem. Já fiz isso para Marx, Tocqueville, Maquiavel, um pouco para o Sun Tzu, e pretendo continuar praticando esse pequeno crime do “anacronismo” voluntário sempre que a ocasião e o tempo me propiciarem essa distração (ou divertissement, como chamo este jogo). A mesma palavra francesa eu emprego, aliás, para a minha atividade de blogueiro anarco-libertário, um simples entretenimento que me serve para diversos fins, entre eles o de registro, ou de memória, mas também para chamar a atenção dos meus seguidores para os muitos materiais interessantes que recebo ou que “pesco” todos os dias na vasta rede de informação e análise que nos submerge, literalmente, em ondas contínuas, incessantes, e cada vez mais intensas.
O blog é um divertimento, mas também uma maneira prática de não deixar passar uma infinidade de textos relevantes que de outra forma se perderiam no tsunami de informações com as quais entramos em contato de uma forma ou de outra durante uma única jornada de 24 horas (hélas, insuficientes para tudo o que gostaria de ler e escrever). O site, por isso mesmo, anda um pouco abandonado, por absoluta falta de tempo, mas também por que fazem vários anos que pretendo reformulá-lo totalmente, e ainda não encontrei (também não procurei) uma alma generosa e atenta que sente comigo para que planejamos juntos o site genial, visualmente bonito e funcionalmente operacional e prático, que vai me dar pouco trabalho para alimentar continuamente, com trabalhos antigos, recentes e futuros. Talvez possa fazê-lo nos EUA, contratando algum garoto adolescente, desses capazes de fazer qualquer coisa numa máquina infernal.
Sim, preciso prestar homenagem a este meu modesto, pequeno, mas altamente eficiente MacBook Air, que me permitiu exibir uma produtividade razoável, ao lado do iPad e do iPhone que o complementam de modo prático e na mobilidade inevitável de uma vida bastante agitada (feita de pouco sono, muita leitura e alguma escrita). Ao concluir este meu último trabalho do ano – que será devidamente complementado em duas ou três semanas por uma avaliação qualitativa desses escritos – só posso esperar, em 2013, um pouco de ordem e concentração no que é essencial, evitando a enorme dispersão de interesses e afazeres que costuma caracterizar este espírito inquieto que aqui escreve.
Evitei, por isto mesmo, pronunciar-me sobre a situação do país – tanto por que minhas opiniões são bastante conhecidas pelas pequenas notas que sempre introduzem minhas postagens de caráter econômico ou político – e resolvi falar apenas do que me atrai, me prende, me consome, como um vício insanável: a leitura, a reflexão, a escrita e, quando possível, a publicação desses meus rabiscos desordenados, uma coleção razoável de trabalhos que devem preencher várias estantes, quando impressos e alinhados nas prateleiras de minha biblioteca particular.
Uma última nota de tristeza: por absoluta impossibilidade material, estou sendo obrigado a me separar de meus muitos livros – confesso não ter ideia do volume total, uma vez que já estão divididos em dois locais – que representariam talvez metade de minha mudança (estou exagerando, claro); vou levar comigo apenas os essenciais à continuidade dos trabalho de curto prazo, deixando aqui todos os americanos, pois eu os encontrarei facilmente em qualquer boa biblioteca universitária americana. Sinto ter de me separar desses altamente charmosos objetos de meu prazer intelectual (vários mal cuidados, é verdade), mas é provável que acumule algumas novas centenas de exemplares na minha nova estada no exterior (livrarias americanas de grande porte são irresistíveis, assim como as pequenas livrarias de bairro, ou até os sebos e garage sales ocasionais. Prometo (mas não acredito nisso) classificar minha pequena biblioteca que me acompanhará, o que deve ser o início de um trabalho de catalogação que se estenderá ao Brasil em meu retorno (que não tenho ideia de quando será). Provavelmente não vou fazer nada disso, a não ser listagens de livros para as próximas doações (o que não consegui fazer agora).
Termino este texto já no alvorecer, tendo ainda de acordar cedo para “liquidar” alguns assuntos urgentes que não podem esperar o novo ano. Voltarei, prometo, em algum momento de janeiro de 2013, já com alguma coisa mais séria e mais compatível com a vocação deste escriba. Já fiz minhas previsões imprevisíveis para 2013 (busquem no blog), e tenho quase certeza que nenhuma delas se materializará no curso do ano (et pour cause). Agora tenho apenas de fazer minhas próprias previsões previsíveis, e vigiar meu ânimo dispersivo para tentar fazer pelo menos metade da lista ideal que tenho anotado em meu Moleskine de bolso (que aliás aposento agora, para logo iniciar dois outros, de viagem).
Bom ano a todos os que me leem, cobrem-me os trabalhos planejados e as leituras prometidas, e que cada um tenha o máximo de felicidade naquilo que estima ser a sua atividade essencial. As minhas são quatro, como já disse, e repito aqui em conclusão: ler, refletir, escrever e divulgar. Vale!

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 2457: 31 dezembro 2012, 5 p.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Nossos aliados no Brics: a India e suas mulheres

Por que a Índia trata tão mal suas mulheres?

Estupro e morte de estudante traz à tona a difícil realidade do país, considerado o pior para se nascer mulher em todo o mundo

30 de dezembro de 2012 | 8h 42
BBC Brasil
TrustLaw qualificou a Índia como o pior lugar para se nascer mulher em todo o mundo - AP
AP
TrustLaw qualificou a Índia como o pior lugar para se nascer mulher em todo o mundo
Muitos a chamaram de "coração valente" ou "filha da Índia". Mais do que motivar uma onda de orações e protestos em todo o país, a estudante de 23 anos morta no sábado após ser estuprada por seis homens em um ônibus em Nova Déli fez o país se perguntar: "Por que a Índia trata tão mal as suas mulheres?".

No país, não são raros os casos de aborto de fetos femininos, assim como os de assassinato de meninas recém-nascidas. A prática levou a um assombroso desequilíbrio numerico entre gêneros no país.

As que sobrevivem enfrentam discriminação, preconceito, violência e negligência ao longo da vida, sejam solteiras ou casadas.

TrustLaw, uma organização vinculada à fundação Thomson Reuters, qualificou a Índia como o pior lugar para se nascer mulher em todo o mundo.

E isso se dá em um país no qual a líder do partido do governo, a presidente da Câmara de Deputados, três importantes ministras e muitos ícones dos esportes e dos negócios são mulheres.

Crimes em alta - Apesar do papel mais importante desempenhado pelas mulheres no país, crimes de gênero estão em alta na Índia. Em 2011 foram registrados 24 mil casos de estrupo - 17% só na capital, Nova Déli. O número é 9,2% maior do que no ano anterior.

Segundo os registros policiais, em 94% dos casos os agressores conheciam as vítimas. Um terço desses eram vizinhos. Parte considerável era de familiares.

E não se tratam apenas de estupros. Segundo a policía, o número de sequestros de mulheres aumentou 19,4% em 2011 (em relação ao ano anterior). O aumento dos casos assassinato foi de 2,7%, nos de torturas, 5,4%, nos de assédio sexual, 5,8%, e nos de violência física, 122%.

Discriminação mortal - Segundo Amartya Sen, prêmio Nobel de Economia de 1998, mais de 100 milhões de mulheres desapareceram ou foram mortas em todo o mundo vítimas da discriminação.

De acordo com os cálculos dos economistas Siwan Anderson e Debraj Ray, mais de dois milhões de indianas morrem a cada ano: cerca de 12% ao nascer, 25% na infancia, 18% em idade reprodutiva e 45% já adultas.

O estudo mostrou que mais mulheres morrem na Índia por ferimentos do que por complicações no parto. E esses ferimentos seriam um indicador da violência de gênero.

Outro dado estarrecedor é o de 100 mil mulheres mortas por queimaduras. Segundo os dois economistas, boa parte delas são vítimas de violência relacionada ao pagamento de dotes matrimoniais. Não raro, os agressores queimam as mulheres.

Sociedade patriarcal - Para os analistas, é preciso uma mudança estrutural nas atitudes da sociedade para que as mulheres sejam mais aceitas e tenham mais segurança na Índia.

O preconceito de gênero é reflexo de uma sociedade de tradição patriarcal, ainda mais forte no norte do país.

Para os manifestantes que saíram às ruas após o estupro da jovem estudante de medicina, os políticos, inclusive o primeiro-ministro Manmohan Singh, não são sinceros quando prometem leis mais duras contra a violência de gênero.

Eles ainda questionam o fato de que 27 candidatos nas últimas eleições regionais eram acusados de estupro. Além disso, seis deputados respondem pelas mesmas acusações. Como crer, então, na classe política?

Ainda é cedo para saber se o governo realmente concretizará suas promessas de leis mais duras e julgamentos mais ágeis em casos de estrupo. Os protestos em Nova Déli, no entanto, parecem trazer alguma esperança de que algo poderá mudar, para o bem das mulheres indianas. 

Veja também:
link Índia acusa seis homens de matar jovem estuprada
link Corpo de jovem morta após estupro retorna à Índia e é cremado
link Curta o 'Internacional Estadão' no Facebook  


BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.