ANÁLISE INTERNACIONAL
Que esperar da politica externa brasileira em 2013
Joao Bosco monte
O Povo online (Fortaleza), 30/12/2012
Antes de tentar fazer uma análise do que pode acontecer em 2013 com relação à politica externa brasileira é importante destacar que nos primeiros dois anos de governo de Dilma Rousseff, as atenções do Palácio do Planalto estiveram mais direcionadas para assuntos domésticos, redundando em uma agenda internacional sensivelmente tímida.
Rousseff como a primeira mulher a ocupar a presidência do Brasil, fez o improvável e apostou, de forma pragmática, que o foco de suas ações deveria ser o cenário interno em seus dois primeiros anos de mandato. O resultado, talvez surpreendentemente até para o próprio governo, se traduz nos altos índices de popularidade de Dilma, considerada uma neófita na política e vista por muitos como uma mera extensão de seu predecessor e mentor,Luiz Inácio Lula da Silva.
De fato, embora Dilma Rousseff não tenha definido ainda qual é o foco da política externa de seu governo, o que se percebe, principalmente por diversas ações orquestradas pelo Itamaraty, é um direcionamento para as relações com a América do Sul e a África e no mundo em desenvolvimento, em geral. Por outro lado, também é interessante notar que isso não favoreceu para o prejuízo das tradicionais relações como Estados Unidos e a União Europeia, nosso principal parceiro comercial.
Mas o que parece importar neste momento é que a luz vermelha da economia nacional já está acesa há muito tempo e dados econômicos demonstram que o Brasil, cujo PIB (ou pibinho) em 2012 com muita dificuldade alcançará 1%, já não é a máquina de crescimento de apenas três anos atrás. Na verdade, o país que sobreviveu à maior crise de crédito mundial nos tempos modernos está crescendo menos do que os Estados Unidos, África ou os países dos BRICS.
Dilma Rousseff entende, portanto que o Brasil precisa dialogar de forma mais direta e contundente com os parceiros internacionais, abrindo dessa forma as portas para marcas e produtos brasileiros no exterior. Como sinal desta nova percepção, a agenda internacional da presidente brasileira em 2013 deve ser foi mais incisiva que nos anos anteriores de seu governo, quando visitou 17 países, num total de 15 viagens.
E parece que este novo momento já se pode notar com as últimas viagens ao exterior de Dilma. Em novembro deste ano ela esteve em Madri, e reafirmou seu desejo e o compromisso do governo brasileiro de dar um novo ânimo à parceria bilateral com o país ibérico.
Também foi notória a importância conferida às visitas oficiais realizadas recentemente à França e Rússia. Na capital francesa, o presidente François Hollande reiterou a intenção de aumentar a cooperação franco-brasileira e em Moscou a presidente brasileira se reuniu com o colega russo Wladimir Putin e o Primeiro Ministro Dmitry Medvedev. A principal ênfase foi a expansão do comércio e do investimento, a cooperação no âmbito BRICS e G20 e de forma objetiva temas ligados ao esporte. E neste item, é importante destacar que a Rússia sediará o Mundial de Futebol da FIFA em 2018 e os mesmos problemas enfrentados pelo Brasil, também são encontrados por lá. Para o ano de 2013, Rousseff já tem programada uma série de viagens: no roteiro se destacam visitas aos Estados Unidos, Chile, África do Sul e Índia e México.
O que deve ser levado em consideração neste momento de incertezas sobre o rumo da economia mundial é o Brasil por diversas razões não pode perder sua importância no cenário internacional: sua dimensão continental (ocupando quase metade da América do Sul), relativa proximidade geográfica com a África, Europa, América Central e Estados Unidos, importante provedor de matéria prima, população de quase 200 milhões de habitantes e o processo de modernização de seu parque industrial.
E aqui faço uma referência ao artigo da revista Foreign Affairs, intitulado Nova Política Externa do Brasil escrito por Jânio Quadros quando nitidamente previa a nossa transformação em uma potência econômica. O ex-presidente afirmou “Sairemos à conquista desses mercados; em casa, na América Latina, na África; na Ásia, na Oceânica, em países sob a democracia e naqueles que se uniram ao sistema comunista. Os interesses materiais não conhecem doutrina e o Brasil está atravessando um período em que sua própria sobrevivência como nação, ocupando uma das áreas mais extensas e privilegiadas do globo, depende da solução dos seus problemas econômicos.”
As ideias de independência e autonomia, ao mesmo tempo em que buscavam a ampliação das relações internacionais do Brasil com objetivos comerciais e sua participação nas decisões internacionais apresentadas em 1961, podem certamente ser aplicadas para os dias atuais.
Para onde deve então apontar a agenda internacional do Brasil na era Dilma Rousseff? O alvo das ações do governo brasileiro devem ser a China, Turquia, Indonésia ou Argentina? A saída parece messiânica e certamente não é fácil de responder. Mas a resposta pode se materializar se cada vez mais se evidenciar a proximidade e cumplicidade entre governo federal, governos subnacionais e empresas (estes dois simbolizando o que se conhece como paradiplomacia) e desta forma, se consolidar em trocas comerciais.
João Bosco Monte
Pos doutorado em Relações Internacionais Consultor internacional
"Em novembro deste ano ela esteve em Madri, e reafirmou seu desejo e o compromisso do governo brasileiro de dar um novo ânimo à parceria bilateral com o país ibérico"
"Para onde deve então apontar a agenda internacio
nal do Brasil na era Dilma Rousseff? O alvo das ações do governo devem ser a China, Turquia, Indonésia ou Argentina?"
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
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