Balanço de um ano feliz: viagem,
estudos, novos projetos
Paulo Roberto de Almeida
Último trabalho de 2012
Este é meu último texto de
2012, escrito na madrugada do dia 31, quando ainda tenho diversas tarefas a
cumprir durante o dia, antes de terminar o ano. Pretendo tecer aqui algumas considerações
sobre, respectivamente, o que foi feito, isto é, o que eu consegui fazer
durante o ano que hoje se encerra, o que faltou fazer – e foi muita coisa, a
julgar pela minha pasta, que deixo de herança para o ano que inicia amanhã – e
o que pretendo fazer em 2013, se por acaso as musas da inteligência, da arte da
reflexão e da escrita (existem estas, por acaso?; digo especificamente) forem
generosas comigo, e me permitirem uma produtividade igual ou maior do que nos anos
precedentes.
Talvez eu devesse começar
pelo que eu deixei de fazer, uma vez que o resto do texto será dedicado a um
balanço de 2012, com uma contabilidade “escritural” e alguma avaliação de tipo
qualitativo. Eu havia prometido escrever um texto sobre as relações
Brasil-Bélgica, para um livro coletivo, até o final do ano, e não consegui
fazer, em função dos preparativos da próxima mudança para os Estados Unidos,
onde devo começar a trabalhar no Consulado em Hartford, escolhido em virtude de
sua posição estratégica entre grandes universidades americanas. Claro, deixei
de cumprir também várias outras tarefas, auto-assumidas na maior parte dos
casos, outras encomendadas no ambiente acadêmico em que me movimento,
paralelamente ao trabalho oficial na diplomacia, outras ainda surgidas por
acaso, de um impulso do momento, ou de uma inconsequência intelectual, provavelmente
de uma incontinência da escrita, um desses males que cultivo, não impunemente,
junto com essa outra loucura dos livros e da leitura, já chamada de “gentle
madness” por algum outro viciado dessa área.
Talvez eu devesse
caracterizar minhas atividades essenciais, as que sempre me acompanharam em
minha vida adulta, ou talvez mesmo antes, desde a mais precoce adolescência, como
integradas por estas quatro práticas: ler, refletir, escrever e divulgar. Ler,
sempre o fiz, desde que aprendi a técnica numa infância que classifico como
tardia: apenas aos sete anos de idade, e isto porque minha casa não exibia
nenhum material de leitura, sendo meus pais alfabetizados apenas parcialmente,
já que não conseguiram terminar sequer o curso primário. Refletir, também o
fiz, embora talvez de maneira não sistemática, provavelmente ajudado pela
circunstância de que escolhi ter poucos amigos, não jogar futebol ou me juntar
aos outros bandos de garotos e adolescentes do bairro, preferindo ficar na
biblioteca ou lendo os livros que trazia quase todos os dias para casa, para
continuar a leitura a contra luz, deitado na cama, um dos poucos lugares tranquilos
numa casa pequena demais para todos os membros da família. Escrever, também
comecei a escrever desde que dominei a técnica, mas infelizmente não guardei
esses registros das primeiras composições escolares; e o que tinha acumulado
como notas, resenhas e trabalhos escolares até os dezoito ou vinte anos de
idade, ficaram para trás e se perderam, na mudança voluntária para a Europa em
1970. Divulgar foi mais raro, embora me recorde de uma primeira resenha de
livro – de Erich Fromm, um alemão refugiado do nazismo nos Estados Unidos – que
ficou para trás, num desses jornais impressos a mimeógrafo do diretório
acadêmico do curso colegial; os escritos do ginasial, onde também participei de
boletins escolares, se perderam todos, com uma única exceção (que um dia
divulgarei, mas é perfeitamente inocente). Desde então, consegui divulgar, e
até publicar, com maior intensidade, talvez até devendo passar para a
auto-publicação, com todos os recursos atualmente disponíveis para tanto.
Retornando agora ao que
deixei de fazer, a principal delas, a que está em meus working files desde
2001, pelo menos, é o segundo volume da história da diplomacia econômica no
Brasil, que me comprometi a elaborar em três partes desde a concepção original
do projeto, ainda na primeira metade dos anos 1990. Talvez eu consiga terminar
o projeto, incluindo um terceiro volume para o período posterior a 1945, em
meados da presente década, mas isto à condição que retome o trabalho no segundo
semestre de 2013, depois de terminar o seminário sobre o pensamento brasileiro
em política internacional, que me comprometi a fazer para a Fundação Alexandre
de Gusmão. Tem também uma lista inteira de trabalhos ou livros inacabados, que
tentarei avançar de modo paralelo aos encargos já inscritos para o primeiro
semestre (e que compreendem a finalização de um livro coletivo sobre o Mercosul
e diversos outros trabalhos anotados na agenda de trabalho imediata. Mas deixo
a lista para lá, pois arriscaria ser incompleta além de aborrecida (e alguns
deles estarão também na lista deixada para 2014).
Passando agora o que
consegui fazer, talvez alguma contabilidade elementar ajudaria na avaliação
quantitativa, pelo menos. Comecei o ano pelo trabalho n. 2.349 e estou
terminando por este aqui, que leva o nº 2.457; são, portanto, 108 trabalhos completos,
sem que eu dê agora o trabalho de contar o volume de páginas escritas (farei
uma contabilidade detalhada nos primeiros dias de 2013). Em todo caso, essa
mais de uma centena de trabalhos no ano representa exatamente nove trabalhos
por mês, ou um trabalho a cada três dias (não contabilizadas aqui vários outros
trabalhos incompletos, ou em curso de redação, e notas para futuros trabalhos).
Com base na contagem das páginas escritas, poderei calcular quantas páginas por
dia, ou por mês, e qual a média de páginas por trabalho, sendo de se esperar
uma enorme variação entre eles. Falarei sobre os mais importantes mais tarde,
sendo apenas de se destacar o livro sobre integração regional que
preparei para a Editora Saraiva e que deve ser publicado no início de 2013.
Outros virão, certamente, e ainda no decorrer de 2013, pelo menos assim espero.
Deixando de lado o balanço
quantitativo, quero apenas referir-me ao título deste último trabalho do ano:
foi, sim, um ano feliz, que comecei com uma viagem pessoal de estudos e termina
agora pelo que sempre gostei de fazer: elaborando novos projetos de trabalhos
acadêmicos, o que combina inteiramente com o meu lado mais intelectual do que
propriamente executivo. Passei, no primeiro semestre, quase seis meses em
Paris, para aulas no Institut de Hautes Études de l’Amérique Latina – e
viajando intensamente pela Europa – e estou no limiar de nova viagem, desta vez
a trabalho, mas que pretendo combinar igualmente ao meu hobby habitual (bem
mais que distração, uma verdadeira segunda natureza, dada a intensidade da
dedicação voluntária a essas lides acadêmicas).
Se eu fizer uma pesquisa
por conceitos na lista dos trabalhos de 2012, a palavra livro é, provavelmente,
a que aparecerá com mais frequência, inclusive pelas muitas mini-resenhas que
preparo para a seção “Prata da Casa” do Boletim da Associação dos Diplomatas
Brasileiros, selecionando os livros de meus colegas de carreira que mais
merecem registro para a atenção dos demais colegas. Se eu pudesse, eu me
dedicaria à arte da resenha com maior intensidade, inclusive num gênero que não
é muito comum nesse tipo de empreendimento: a resenha de velhos livros, talvez
com mais de século e meio de publicação, pois é especialmente gratificante
visitar novamente as grandes obras do passado para ver em que medida elas
conservam o frescor da reflexão, a pertinência do argumento, a relevância da
problemática abordada e sua importância para os dias que correm. Esta pequena
arte se combina também a outro projeto meu, este permanente, pois se trata de
percorrer os clássicos, revisitados e reescritos numa nova abordagem. Já fiz
isso para Marx, Tocqueville, Maquiavel, um pouco para o Sun Tzu, e pretendo
continuar praticando esse pequeno crime do “anacronismo” voluntário sempre que
a ocasião e o tempo me propiciarem essa distração (ou divertissement, como chamo este jogo). A mesma palavra francesa eu
emprego, aliás, para a minha atividade de blogueiro anarco-libertário, um
simples entretenimento que me serve para diversos fins, entre eles o de registro,
ou de memória, mas também para chamar a atenção dos meus seguidores para os
muitos materiais interessantes que recebo ou que “pesco” todos os dias na vasta
rede de informação e análise que nos submerge, literalmente, em ondas
contínuas, incessantes, e cada vez mais intensas.
O blog é um divertimento,
mas também uma maneira prática de não deixar passar uma infinidade de textos
relevantes que de outra forma se perderiam no tsunami de informações com as
quais entramos em contato de uma forma ou de outra durante uma única jornada de
24 horas (hélas, insuficientes para tudo o que gostaria de ler e escrever). O
site, por isso mesmo, anda um pouco abandonado, por absoluta falta de tempo,
mas também por que fazem vários anos que pretendo reformulá-lo totalmente, e
ainda não encontrei (também não procurei) uma alma generosa e atenta que sente
comigo para que planejamos juntos o site genial, visualmente bonito e
funcionalmente operacional e prático, que vai me dar pouco trabalho para
alimentar continuamente, com trabalhos antigos, recentes e futuros. Talvez
possa fazê-lo nos EUA, contratando algum garoto adolescente, desses capazes de
fazer qualquer coisa numa máquina infernal.
Sim, preciso prestar
homenagem a este meu modesto, pequeno, mas altamente eficiente MacBook Air, que
me permitiu exibir uma produtividade razoável, ao lado do iPad e do iPhone que
o complementam de modo prático e na mobilidade inevitável de uma vida bastante
agitada (feita de pouco sono, muita leitura e alguma escrita). Ao concluir este
meu último trabalho do ano – que será devidamente complementado em duas ou três
semanas por uma avaliação qualitativa desses escritos – só posso esperar, em
2013, um pouco de ordem e concentração no que é essencial, evitando a enorme
dispersão de interesses e afazeres que costuma caracterizar este espírito
inquieto que aqui escreve.
Evitei, por isto mesmo,
pronunciar-me sobre a situação do país – tanto por que minhas opiniões são
bastante conhecidas pelas pequenas notas que sempre introduzem minhas postagens
de caráter econômico ou político – e resolvi falar apenas do que me atrai, me
prende, me consome, como um vício insanável: a leitura, a reflexão, a escrita
e, quando possível, a publicação desses meus rabiscos desordenados, uma coleção
razoável de trabalhos que devem preencher várias estantes, quando impressos e
alinhados nas prateleiras de minha biblioteca particular.
Uma última nota de
tristeza: por absoluta impossibilidade material, estou sendo obrigado a me
separar de meus muitos livros – confesso não ter ideia do volume total, uma vez
que já estão divididos em dois locais – que representariam talvez metade de
minha mudança (estou exagerando, claro); vou levar comigo apenas os essenciais
à continuidade dos trabalho de curto prazo, deixando aqui todos os americanos,
pois eu os encontrarei facilmente em qualquer boa biblioteca universitária
americana. Sinto ter de me separar desses altamente charmosos objetos de meu
prazer intelectual (vários mal cuidados, é verdade), mas é provável que acumule
algumas novas centenas de exemplares na minha nova estada no exterior
(livrarias americanas de grande porte são irresistíveis, assim como as pequenas
livrarias de bairro, ou até os sebos e garage
sales ocasionais. Prometo (mas não acredito nisso) classificar minha pequena
biblioteca que me acompanhará, o que deve ser o início de um trabalho de
catalogação que se estenderá ao Brasil em meu retorno (que não tenho ideia de
quando será). Provavelmente não vou fazer nada disso, a não ser listagens de
livros para as próximas doações (o que não consegui fazer agora).
Termino este texto já no
alvorecer, tendo ainda de acordar cedo para “liquidar” alguns assuntos urgentes
que não podem esperar o novo ano. Voltarei, prometo, em algum momento de
janeiro de 2013, já com alguma coisa mais séria e mais compatível com a vocação
deste escriba. Já fiz minhas previsões imprevisíveis para 2013 (busquem no
blog), e tenho quase certeza que nenhuma delas se materializará no curso do ano
(et pour cause). Agora tenho apenas
de fazer minhas próprias previsões previsíveis, e vigiar meu ânimo dispersivo
para tentar fazer pelo menos metade da lista ideal que tenho anotado em meu
Moleskine de bolso (que aliás aposento agora, para logo iniciar dois outros, de
viagem).
Bom ano a todos os que me
leem, cobrem-me os trabalhos planejados e as leituras prometidas, e que cada um
tenha o máximo de felicidade naquilo que estima ser a sua atividade essencial.
As minhas são quatro, como já disse, e repito aqui em conclusão: ler, refletir,
escrever e divulgar. Vale!
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 2457: 31 dezembro 2012, 5 p.
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