O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

O que esperar da política externa brasileira em 2024? Não muita coisa… - Paulo Roberto de Almeida

 Em janeiro de 2023, quase um ano atrás, ao formular meus votos de sucesso ao novo governo que se iniciava, depois de quatro anos deprimentes, e não só na politica externa, eu escrevi, neste mesmo quilombo de resistência intelectual que é o Diplomatizzando, estas palavras, especificamente dedicadas à política externa e à diplomacia de Lula 3:

Serei especialmente crítico em relação a uma política externa feita de muitos equívocos conceituais (como a velha e anacrônica visão “classista” da divisão do mundo) e de sua primeira diplomacia partidária, com vergonhosos apoios a execráveis ditaduras supostamente de esquerda (e algumas de direita também). 

Sou, em particular, um opositor talvez isolado e de primeira hora do BRIC-BRICS, que considero um grande erro estratégico da diplomacia lulopetista, por nos unir, sem qualquer convergência sólida de objetivos compartilhados, a duas grandes autocracias e a duas outras democracias de baixíssima qualidade (como é a nossa aliás), apenas pela ilusão de que se trataria da construção de uma ordem mundial alternativa à velha dominação de antigas potências colonialistas ou do novo hegemonismo americano, o que é um programa meramente oposicionista, sem qualquer conexão com propostas visando a melhoria da qualidade de políticas públicas de desenvolvimento econômico e social, ou com a elevação dos padrões de governança democrática e de defesa dos direitos humanos e das liberdades individuais.


Continuo mantendo o mesmo ceticismo sadio em relação à diplomacia partidária do PT, de Lula especialmente, assim como a esperança de que a sociedade, senão o corpo profissional do Itamaraty, possa corrigir os aspectos mais nefastos dessa política externa para o Brasil e sua sociedade.

Os interessados em ler a íntegra de meus votos a Lula 3 em janeiro de 2023, podem acessar este link deste meu blog:

https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/12/o-que-eu-tramava-para-lula-ao-inicio-de.html?m=1


Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 28/12/2023


2a edição de um livro requisitado: Marxismo e socialismo: trajetória de duas parábolas da era contemporânea - Paulo Roberto de Almeida

A segunda edição de um livro bastante requisitado:  

Marxismo e Socialismo: Trajetória de duas parábolas da era contemporânea

By PAULO ROBERTO DE ALMEIDA


Sumário

 

Minhas relações com o marxismo e o socialismo: prefácio à 1ª edição

Continuando a estudar o fenômeno do marxismo: apresentação à 2ª edição

 

1. A parábola do marxismo em perspectiva histórica

2. A ideia de revolução burguesa no marxismo brasileiro

3. Agonia e queda do socialismo real

4. O modo repetitivo de produção do marxismo vulgar no Brasil

5. O Fim da História, de Fukuyama: o que ficou?

6. Os mitos da utopia marxista

7. O fracasso do marxismo teórico e do socialismo prático

8. A cultura da esquerda: sete pecados dialéticos

9. Sobre a responsabilidade dos intelectuais

10. Pode uma pessoa inteligente pretender-se comunista, hoje em dia?


Índice completo  

 

Prefácio à 1ª. Edição: Minhas relações com o marxismo e o socialismo

Apresentação à 2ª. Edição: Continuando a estudar o fenômeno do marxismo

 

1. A parábola do marxismo em perspectiva histórica

1.1. Ascensão e declínio de uma ideia

1.2. A “acumulação primitiva” da economia planejada

1.3. O marxismo enquanto “concepção burguesa” da História

1.4. Desventuras da dialética na periferia capitalista

1.5. O marxismo como doutrina da globalização capitalista

1.6. A astúcia da razão e as surpresas da História

 

2. A ideia de revolução burguesa no marxismo brasileiro

2.1. Itinerário teórico-prático da revolução burguesa no Brasil

2.2. Demiurgos e epígonos: os grandes mestres do marxismo brasileiro

2.3. Caio Prado Jr. e o capitalismo incompleto no Brasil

2.4. Werneck Sodré e a trajetória da revolução nacional democrática

2.5. Florestan Fernandes e a revolução burguesa na periferia

2.6. Os intelectuais marxistas e a revolução burguesa no Brasil

Orientações de leitura

 

3. Agonia e queda do socialismo real

3.1. O exterminador de futuros

3.2. Qual é a maior “invenção” da humanidade?

3.3. Uma contradição insanável

3.4. O socialismo é contra o mercado?

3.5. Um modo de produção “inventivo”?

3.6. O fim do socialismo e o laboratório da história

 

4. O modo repetitivo de produção do marxismo vulgar no Brasil

4.1. Uma falácia persistente: a deformação do marxismo nas academias

4.2. Marxistas e “marquissistas”: duas espécies, de duas classes diferentes

4.3. As forças produtivas do modo repetitivo

4.4. As relações de produção do modo repetitivo

4.5. As contradições insanáveis

Referências bibliográficas

 

5. O Fim da História, de Fukuyama: o que ficou?

5.1. O que restou, finalmente, da tese controversa de Fukuyama?

5.2. O que Fukuyama de fato escreveu?

5.3. Fukuyama tinha razão?

5.4. Do fim da História ao fim da Geografia

5.5. Existem opções aos órfãos do socialismo?

 

6. Os mitos da utopia marxista

1. O que é uma utopia e como o marxismo se encaixa no molde?

2. Utopia marxista e falácias acadêmicas: qual sua importância relativa?

3. Quais são os mitos da utopia marxista?

4. As falácias econômicas do marxismo

 

7. O fracasso do marxismo teórico e do socialismo prático

7.1. Cercando o “animal” e mostrando a arma

7.2. Sete anos que mudaram o mundo

7.3. Resistível reação à decadência irresistível do socialismo

7.4. A seleção natural das espécies mais resistentes

 

8. A cultura da esquerda: sete pecados dialéticos

8.1. Antimercado

8.2. Igualitarismo

8.3. A esquerda é contra a democracia formal

8.4. A esquerda é estatizante

8.5. A esquerda é anti-individualista

8.6. A esquerda é populista e popularesca

8.7. A esquerda é voluntarista e antirracionalista

 

9. Sobre a responsabilidade dos intelectuais

9.1. Uma visita rápida a Norberto Bobbio

9.2. Desvios cristãos e marxistas: similares, semelhantes, comparáveis?

9.3. O que Marx tem a ver com o socialismo do século XX?

9.4. O que fez Lênin para aplicar as ideias de Marx, e as suas próprias...

9.5. O que isso tem a ver com a responsabilidade dos intelectuais?

 

10. Pode uma pessoa inteligente pretender-se comunista, hoje em dia?

10.1. Uma tradição passadista que não passa

10.2. Um exemplo, entre outros, da crença persistente: Antônio Cândido

10.3. Comunismo: apenas um sistema de crenças, sem consistência real

 

 

Apêndices

Notas sobre os originais dos ensaios coletados

Breve nota biográfica: Paulo Roberto de Almeida

Livros e trabalhos de Paulo Roberto de Almeida



quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Novo livro publicado, Paulo Roberto de Almeida: O Brasil no contexto regional e mundial: artigos sobre nossa dimensão internacional (eBook Kindle)

 

Compendium of published and still non-published articles by Paulo Roberto de Almeida, dealing with various subjects in the fields of international relations, external policy, and diplomacy of Brazil, in its regional dimension and in the international context. Issues range from regional integration, political blocs, presidential diplomacy, economic and development questions (both as a whole and in the Brazilian case), as well as Global South, and main events in the recent past.

Detalhes do produto

  • ASIN ‏ : ‎ B0CR1Z682R
  • Editora ‏ : ‎ Diplomatizzando (27 dezembro 2023)
  • Idioma ‏ : ‎ Português
  • Tamanho do arquivo ‏ : ‎ 1318 KB
  • Quantidade de dispositivos em que é possível ler este eBook ao mesmo tempo ‏ : ‎ Ilimitado
  • Leitura de texto ‏ : ‎ Habilitado
  • Leitor de tela ‏ : ‎ Compatível
  • Configuração de fonte ‏ : ‎ Habilitado
  • Dicas de vocabulário ‏ : ‎ Não habilitado
  • Número de páginas ‏ : ‎ 216 páginas


Índice

 

Apresentação ,  7

 

1. Paz no mundo em 2023? ,  9

 

2. O Brics e o Brasil: quem comanda? , 15

 

3. Fórum de Davos: o piquenique invernal do capitalismo bem-comportado , 19

 

4. De repente, o mundo descobre um brasileiro pouco cordial ,  23

 

5. O Brasil e o seu vizinho mais importante, a Argentina, talvez distante , 28

 

6. O que o Brasil deixou de aprender com a Alemanha? , 33

 

7. Diplomacia de Lula 3: la nave va..., mas para onde? , 38

 

8. O Brasil e a China: até onde vai a relação estratégica? ,  44

 

9. Os intelectuais do Itamaraty e o caso único de José Guilherme Merquior , 49

 

10. O Brasil como um imenso Portugal?, 57

 

11. O que Putin quer de Lula? O que ele vai conseguir? ,  63

 

12. A Guerra Perpétua, ou um projeto de ‘nova ordem mundial , 70

 

13. A reunificação da Alemanha e a construção de Brasília ,  73

 

14. Por que a tal de ‘nova ordem mundial’ é uma má ideia? ,  77

 

15. Se eu quiser falar com o tal de Sul Global, telefono para quem? ,  82

 

16. Lula no G7: falta discutir a relação? , 85

 

17. Ah, esse ambicionado Prêmio Nobel da Paz... , 89

 

18. Grandezas e misérias da diplomacia presidencial: o caso do Brasil , 93

 

19. O Brasil aos olhos do mundo: como era antes, como ficou agora?,  98

 

20. Política externa e diplomacia brasileira: uma visão de três décadas , 101

 

21. O Brasil, a América Latina e a União Europeia: alguma novidade? , 105

 

22. A cúpula do Brics e o projeto mirabolante de uma moeda comum, 108

 

23. O Brasil de Lula 3 no G20 da Índia , 112

 

24. Parlamento e política externa: a experiência do Brasil , 116

 

25. O mau terrorismo e o terrorismo tolerável pelas esquerdas, 121

 

26. O Sul Global não existe, 125

 

27. Desafios da diplomacia brasileira na atualidade , 129

 

28. Diferenças entre a ‘velha’ e a ‘nova’ diplomacia de Lula,  133

 

29. Imigrantes na construção do Brasil e na política , 137

 

30. O Brasil em 2023: avanços e retrocessos , 140

 

31. Por que o Brasil ainda não é um país desenvolvido? (1), 144

 

32. Por que o Brasil ainda não é um país desenvolvido? (2), 148

 

33. O que falta ao Brasil para ser um país desenvolvido?, 152

 

34. O que aguarda o Brasil em 2024?, 157

 

 

Sobre o autor , 161

Livros do autor,  162

 


Apresentação

  

Toda a minha produção intelectual, ao longo de mais de cinco décadas de leituras, de reflexões e de escritos nos mais diferentes formatos, apresenta características basicamente acadêmicas, embora eu não tenha sido um acadêmico universitário em tempo integral. Todos os meus ensaios, artigos, notas, palestras, entrevistas e intervenções e comentários orais, em seminários, em cursos a convite ou em decorrência de aulas e conferências, guardam a mesma feitura fundamental: representam a síntese e alguma elaboração original a partir das muitas leituras que fiz ao longo da vida, de audiências presenciais ou virtuais, do seguimento de fontes de informação as mais diversas (rádio, TVs, jornais, revistas, em todas as línguas inteligíveis) e nos mais diferentes ambientes frequentados, como instituições de ensino, no decurso de viagens com interlocutores dos mais diversos meios ou no exercício da diplomacia, que foi minha ocupação principal ao longo de mais de quatro décadas, ao lado de uma dedicação também constante na docência superior.

Esta coletânea de curtos artigos, escritos nos últimos doze ou treze meses, difere dos meus muitos livros publicados ou organizados, normalmente dotados de jargão acadêmico, com citações e referências bibliográficas, pois que orientadas para um público universitário, ou equivalente, como são os diplomatas e os candidatos à carreira. Ainda que estes trabalhos também se inspirem no mesmo estilo acadêmico, não possuem o aparato próprio a esse meio, e se aproximam bem mais do formato jornalístico, como são os artigos de opinião de colunistas regulares. As três dezenas de breves escritos aqui reunidos foram elaborados exatamente com essa finalidade: tratar de questões conceituais ou de problemas conjunturais, cercando-os de algum contexto histórico ou de fundamentos econômicos, como correspondem às minhas afinidades intelectuais à margem dos estudos formais de ciências sociais: a história – eterna companheira desde as leituras precoces ainda na infância – e as relações econômicas internacionais, a que fui levado tanto pelas viagens e estudos em outros países, quando no exercício de minha profissão formal. 

Os textos aqui reunidos, numa quase estrita sequência cronológica, não são apenas artigos de circunstância, mas pequenas sínteses reflexivas sobre questões diversas, às quais dou importância especial, seja pela sua relevância para a vida do país, seja num plano bem mais intelectual do que propriamente operativo. Eles são o resultado de uma vida de leituras, de viagens, de observações tópicas ou gerais sobre problemas políticos, econômicos e sociais do Brasil, eventualmente visto através de lentes que levam em conta nossa circunstância regional e nossa inserção mundial. Eles também expressam a experiência adquirida no trato de atividades diplomáticas e também na sequência de minhas lides acadêmicas, ambas cobrindo o amplo espectro de meio século de participação ativa nos problemas do Brasil.

 

Brasília, 27 de dezembro de 2023

 

 Carregando no Kindle: 




 

Compendium of published and still non-published articles by Paulo Roberto de Almeida, dealing with various subjects in the fields of international relations, external policy, and diplomacy of Brazil, in its regional dimension and in the international context. Issues range from regional integration, political blocs, presidential diplomacy, economic and development questions (both as a whole and in the Brazilian case), as well as Global South, and main events in the recent past.

 

Coletânea de artigos publicados e inéditos de Paulo Roberto de Almeida, tratando de diversos assuntos nos campos das relações internacionais, política externa e diplomacia brasileira, em sua dimensão regional e no contexto internacional. As questões vão da integração regional, blocos políticos, diplomacia presidencial, economia e desenvolvimento (tanto de forma geral, quanto no caso brasileiro), assim como Sul Global, incluindo eventos relevantes no período recente.


Novo livro, em publicação: O Brasil no contexto regional e mundial: artigos sobre nossa dimensão internacional - Paulo Roberto de Almeida (2024)

Novo livro a ser publicado proximamente em Kindle:  

O Brasil no contexto regional e mundial: artigos sobre nossa dimensão internacional

By PAULO ROBERTO DE ALMEIDA

Congratulations!


R$15.00


______________________________


ALMEIDA, Paulo Roberto.

O Brasil no contexto regional e mundial: artigos sobre nossa dimensão internacional; Brasília: Diplomatizzando, 2024. 

167 p. 

 

ISBN: 978-65-00-89870-5

 

1. Brasil. 2. Diplomacia brasileira. 3. Política externa. 4. Política internacional. 5. América do Sul. 7. Título

 

_______________________________


Índice

 

Apresentação ,  7

 

1. Paz no mundo em 2023? ,  9

 

2. O Brics e o Brasil: quem comanda? , 15

 

3. Fórum de Davos: o piquenique invernal do capitalismo bem-comportado , 19

 

4. De repente, o mundo descobre um brasileiro pouco cordial ,  23

 

5. O Brasil e o seu vizinho mais importante, a Argentina, talvez distante , 28

 

6. O que o Brasil deixou de aprender com a Alemanha? , 33

 

7. Diplomacia de Lula 3: la nave va..., mas para onde? , 38

 

8. O Brasil e a China: até onde vai a relação estratégica? ,  44

 

9. Os intelectuais do Itamaraty e o caso único de José Guilherme Merquior , 49

 

10. O Brasil como um imenso Portugal?, 57

 

11. O que Putin quer de Lula? O que ele vai conseguir? ,  63

 

12. A Guerra Perpétua, ou um projeto de ‘nova ordem mundial , 70

 

13. A reunificação da Alemanha e a construção de Brasília ,  73

 

14. Por que a tal de ‘nova ordem mundial’ é uma má ideia? ,  77

 

15. Se eu quiser falar com o tal de Sul Global, telefono para quem? ,  82

 

16. Lula no G7: falta discutir a relação? , 85

 

17. Ah, esse ambicionado Prêmio Nobel da Paz... , 89

 

18. Grandezas e misérias da diplomacia presidencial: o caso do Brasil , 93

 

19. O Brasil aos olhos do mundo: como era antes, como ficou agora?,  98

 

20. Política externa e diplomacia brasileira: uma visão de três décadas , 101

 

21. O Brasil, a América Latina e a União Europeia: alguma novidade? , 105

 

22. A cúpula do Brics e o projeto mirabolante de uma moeda comum, 108

 

23. O Brasil de Lula 3 no G20 da Índia , 112

 

24. Parlamento e política externa: a experiência do Brasil , 116

 

25. O mau terrorismo e o terrorismo tolerável pelas esquerdas, 121

 

26. O Sul Global não existe, 125

 

27. Desafios da diplomacia brasileira na atualidade , 129

 

28. Diferenças entre a ‘velha’ e a ‘nova’ diplomacia de Lula,  133

 

29. Imigrantes na construção do Brasil e na política , 137

 

30. O Brasil em 2023: avanços e retrocessos , 140

 

31. Por que o Brasil ainda não é um país desenvolvido? (1), 144

 

32. Por que o Brasil ainda não é um país desenvolvido? (2), 148

 

33. O que falta ao Brasil para ser um país desenvolvido?, 152

 

34. O que aguarda o Brasil em 2024?, 157

 

 

Sobre o autor , 161

Livros do autor,  162

 


Apresentação

  

Toda a minha produção intelectual, ao longo de mais de cinco décadas de leituras, de reflexões e de escritos nos mais diferentes formatos, apresenta características basicamente acadêmicas, embora eu não tenha sido um acadêmico universitário em tempo integral. Todos os meus ensaios, artigos, notas, palestras, entrevistas e intervenções e comentários orais, em seminários, em cursos a convite ou em decorrência de aulas e conferências, guardam a mesma feitura fundamental: representam a síntese e alguma elaboração original a partir das muitas leituras que fiz ao longo da vida, de audiências presenciais ou virtuais, do seguimento de fontes de informação as mais diversas (rádio, TVs, jornais, revistas, em todas as línguas inteligíveis) e nos mais diferentes ambientes frequentados, como instituições de ensino, no decurso de viagens com interlocutores dos mais diversos meios ou no exercício da diplomacia, que foi minha ocupação principal ao longo de mais de quatro décadas, ao lado de uma dedicação também constante na docência superior.

Esta coletânea de curtos artigos, escritos nos últimos doze ou treze meses, difere dos meus muitos livros publicados ou organizados, normalmente dotados de jargão acadêmico, com citações e referências bibliográficas, pois que orientadas para um público universitário, ou equivalente, como são os diplomatas e os candidatos à carreira. Ainda que estes trabalhos também se inspirem no mesmo estilo acadêmico, não possuem o aparato próprio a esse meio, e se aproximam bem mais do formato jornalístico, como são os artigos de opinião de colunistas regulares. As três dezenas de breves escritos aqui reunidos foram elaborados exatamente com essa finalidade: tratar de questões conceituais ou de problemas conjunturais, cercando-os de algum contexto histórico ou de fundamentos econômicos, como correspondem às minhas afinidades intelectuais à margem dos estudos formais de ciências sociais: a história – eterna companheira desde as leituras precoces ainda na infância – e as relações econômicas internacionais, a que fui levado tanto pelas viagens e estudos em outros países, quando no exercício de minha profissão formal. 

Os textos aqui reunidos, numa quase estrita sequência cronológica, não são apenas artigos de circunstância, mas pequenas sínteses reflexivas sobre questões diversas, às quais dou importância especial, seja pela sua relevância para a vida do país, seja num plano bem mais intelectual do que propriamente operativo. Eles são o resultado de uma vida de leituras, de viagens, de observações tópicas ou gerais sobre problemas políticos, econômicos e sociais do Brasil, eventualmente visto através de lentes que levam em conta nossa circunstância regional e nossa inserção mundial. Eles também expressam a experiência adquirida no trato de atividades diplomáticas e também na sequência de minhas lides acadêmicas, ambas cobrindo o amplo espectro de meio século de participação ativa nos problemas do Brasil.

 

Brasília, 27 de dezembro de 2023

 

 Carregando no Kindle: 




 

Compendium of published and still non-published articles by Paulo Roberto de Almeida, dealing with various subjects in the fields of international relations, external policy, and diplomacy of Brazil, in its regional dimension and in the international context. Issues range from regional integration, political blocs, presidential diplomacy, economic and development questions (both as a whole and in the Brazilian case), as well as Global South, and main events in the recent past.

 

Coletânea de artigos publicados e inéditos de Paulo Roberto de Almeida, tratando de diversos assuntos nos campos das relações internacionais, política externa e diplomacia brasileira, em sua dimensão regional e no contexto internacional. As questões vão da integração regional, blocos políticos, diplomacia presidencial, economia e desenvolvimento (tanto de forma geral, quanto no caso brasileiro), assim como Sul Global, incluindo eventos relevantes no período recente.


Punhos de renda (Joaquim Nabuco e Oliveira Lima) - José Renato Nalini

 Punhos de renda

Por José Renato Nalini*

Blog do Fausto Macedo, 27/12/2023 | 05h00


https://www.estadao.com.br/politica/blog-do-fausto-macedo/punhos-de-renda/?utm_medium=newsletter&utm_source=salesforce&utm_campaign=manchetes&utm_term=20231227&utm_content=blogs 

As escaramuças entre pessoas cultas podem revestir peculiaridades que disfarçam a rudeza, própria aos desprovidos de polidez. Por isso se diz que existe uma “ética de punhos de renda”, tão cruel quanto, mas sob aparência de civilidade.

Essas desinteligências podem surgir na carreira universitária, em estamentos como a Magistratura ou a diplomacia. Até na Igreja, o confronto entre posições antagônicas transparece. Existe acerba competição entre potenciais candidatos às mesmas cobiçadas vagas. É um silente, porém feroz duelo de egos.

Oliveira Lima e Joaquim Nabuco, ambos contemporâneos, ambos amigos, ambos diplomatas, se estranhavam. O primeiro censurava Nabuco por não libertar os cativos que sua família ainda possuía. Invocava o exemplo de sua mãe, que alforriara todos os escravos do serviço doméstico, à exceção de um só, que fora vendido meses antes por furtos cometidos. Mas chegou a conhecimento da mãe de Oliveira Lima que esse elemento servil estava a serviço de um senhor de engenho conhecido por sua desumanidade e que se gabava de, toda a vez que comprava um escravo, aplicar-lhe uma “novena”. Isto é, mandar surrá-lo diariamente durante nove dias, para que “aprendesse a conhecer o senhor”. Condoída, a senhora recomprou-o, a preço elevado pelo desalmado, e deu ordem para libertar o infeliz.

Já Nabuco era mais poeta do que abolicionista. Ambicionava honrarias e galanteios. Araújo Beltrão, cunhado de Oliveira Lima, suscitou homenagem a Nabuco no Parlamento Português e conseguiu concretizá-la. Algo a que Nabuco não agradeceu e fez questão de esquecer.

“Na sua presunção, Nabuco ia ao ponto de esquecer as considerações pelo amor próprio alheio”. Oliveira Lima o ajudou quando em Londres, ante nova invasão armada no território contestado com a Guiana Britânica. Nabuco estava a cuidar do arbitramento entre Brasil e Inglaterra. Nabuco mandou a Oliveira Lima um texto preparado por Graça Aranha, verdadeira “mixórdia digna de Malasarte, que corria o risco de ser restituída para ser posta em vernáculo, por estar recheada de termos tupis. Uma das frases dizia – textualmente: dans la maloca du tuxana”. Oliveira Lima deixou de lado a minuta e redigiu outra. Com surpresa viu que a “sua” nota, que elaborara a respeito, figurou nas memórias de Nabuco, sem referência à verdadeira autoria.

Em compensação, Graça Aranha fez jus a uma recompensa por seu trabalho. Nabuco o mandou representa-lo em Haia, no casamento da Rainha Guilhermina, “custeando suas despesas com o dinheiro destinado aos gastos de publicidade”, de que Oliveira Lima não fizera uso. A observação deste: “Os turibulários têm sempre sorte porque os homens, mesmo grandes, são muito sensíveis à lisonja”. Raros os homens públicos dotados de altivez ávida de impopularidade. “Rio Branco e Nabuco, pelo contrário, tinham a ânsia da popularidade, com uma diferença entretanto. Nabuco era um aristocrata, descendente pela mãe daquele fidalgo vianês Paes Barreto, tronco dos Morgados do Cabo, que, com o espírito de um São João de Deus, quis ir morrer entre os pobres no hospital que fundara em Olinda”. Já a Rio Branco, “não achou Afonso Arinos, no elogio do visconde pronunciado na Academia ao recolher a sucessão de Eduardo Prado, que o escolhera para patrono da sua cadeira, outro avô senão um capitão de navio da Bahia. Ora, navios da Bahia, de longo curso naquele tempo andavam pela certa ocupados no tráfico de escravos”.

Em desfavor de Nabuco, Oliveira Lima diz que, “depois de estar em contato com o povo, ia ensaboar as mãos e perfumar-se”. Algo ainda muito comum nos dias de hoje. Políticos que apertam as mãos do populacho e, mal adentram em seus carros e recorrem ao álcool purificador. Hoje ainda existe a escusa da Covid. Mas, mesmo antes disso, o “nojo de pobre”, a ojeriza ao povo não era uma característica incomum aos “mais iguais do que os outros” na bizarra Democracia Representativa tupiniquim.

Seja como for, Nabuco era um cavalheiro. A ponto de uma condessa, esposa de um embaixador alemão no Rio, ter dito a seu respeito, que era de se estranhar que só na Europa se encontrassem brasileiros distintos. Aqui, os que ela conheceu, não poderiam ser incluídos nessa categoria.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras