O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Diplomacia da indecisao? - o longuissimo caso dos avioes da FAB

A decisão não pertence ao Itamaraty, obviamente, nem tem caráter essencialmente diplomático, e sim militar, mas tem gente que acha que a imagem do Brasil sai arranhada do episódio. Afinal de contas, se mobilizou a atenção de países e fornecedores durante muito tempo, se sinalizou com transferências de tecnologias e offsets, e agora tudo fica pendente outra vez?
Um país pouco sério, lembraria alguém...
Paulo Roberto de Almeida

Planalto traça 3 planos para compra de caças
Roberto Godoy
O Estado de S.Paulo, 23/01/2011

A escolha do novo caça de tecnologia avançada da Força Aérea, o processo F-X2, deve ser decidido até julho, tem dito o ministro da Defesa, Nelson Jobim. A decisão está na agenda de 2011 da presidente Dilma.

O Planalto considera três hipóteses para o contrato, que prevê a compra inicial de 36 caças, podendo chegar a 120 até 2027: manter a F-X2 como está, adiar a decisão por um ano ou, em ação radical, encerrar essa operação e abrir outra imediatamente, uma espécie de F-X3 de prazo curto, única forma de admitir novos participantes.

A medida, todavia, traria desgaste diplomático. A seleção já dura 15 anos. Os três concorrentes são patrocinados por seus governos e têm investido pesado em estruturas locais de acompanhamento e de informação. O cientista social Gunther Rudzit, especialista em relações internacionais, alerta: "A imagem do Brasil será arranhada - e a postura da nossa diplomacia será questionada, afetando a aura de eficiência e profissionalismo que o Itamaraty sempre teve".

Novos aviões. A entrada de outros competidores foi bem recebida no mercado especializado. A americana Lockheed-Martin não esconde a disposição de levar à mesa de negociações o F-35 Lightning, o mais avançado caça de múltiplo emprego em produção regular no mundo.

Será o próximo avião principal dos EUA, com versões para a força aérea e a aviação naval. Construído com materiais e recursos eletrônicos stealth, para escapar da detecção por radar ou sensores laser, é tão moderno que só começa a ser entregue em 2016. É caro, mas o preço está em queda: começou em US$ 89 milhões cada e chegará a US$ 73 milhões, resultado da fabricação em larga escala - 2.376 unidades vendidas para EUA, Austrália, Canadá, Itália, Dinamarca, Holanda, Noruega, Israel, Turquia e Grã-Bretanha. Outra vez, a dificuldade será a transferência de tecnologia.

Há outros pretendentes na F-X2. A Rússia, com o Su-35 e futuro Su-50. E a União Europeia, por meio do Typhoon Eurofighter. A proposta de menor valor é a da sueca Saab, que oferece o Gripen NG, em desenvolvimento, por US$ 4 bilhões. O mais caro e o preferido da Defesa - e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - é o francês Rafale, avaliado em cerca de R$ 6 bilhões. Entre um e outro está o americano F-18 Super Hornet.

O governo condiciona a compra à transferência de tecnologia em todas as áreas. É aí que as negociações ficam diferentes. Os franceses oferecem acesso irrestrito ao conhecimento pretendido. Os suecos convidam os especialistas militares e a indústria aeronáutica a uma parceria ampla. Os americanos esbarram na complexa legislação do setor e no poder do Congresso para vetar o atendimento às exigências.

Os acertos entre o então presidente Lula e seu colega francês, Nicolas Sarkozy, eram fáceis em abril de 2010. No dia 22, Lula recebeu um telefonema de Sarkozy, empenhado em garantir a preferência pelo Rafale. Diante de cinco pessoas, Lula convidou-o para passar férias em Fernando de Noronha - e foi convidado a descansar no Vale do Loire. Riram e contaram piadas.

O clima desandou em maio. Lula liderou a proposta ao Irã para troca de urânio. De ambos os lados os convites foram esquecidos. O encontro de trabalho entre os dois, previsto para dezembro, não houve. E a decisão do F-X2 ficou para Dilma Rousseff.

An Economic Cold War -- artigo PRA publicado

Meu mais recente artigo publicado:

Now, an Economic Cold War: Old Realities, New Prospects
(Shanghai, 13 outubro 2010, 4 p.)
Resumo modificado de trabalho apresentado na Fundación Ramón Areces, de Madrid, em simpósio organizado em colaboração com a OCDE sobre governança global.
Publicada in:
FRA, Revista de Ciencias y Humanidades de la Fundación Ramón Areces;
Monográfico: “Mas Allá de la Crisis: El Futuro del Sistema Multilatearal
(Madrid: Fundación Ramón Areces, Diciembre 2010, p. 116-120).
Relação de Originais n. 2202; publicados n. 1015.

Old Realities
The geopolitical Cold War is definitely closed, it seems. Besides “normal” political tensions and trade frictions between major powers, there are no more totally opposed conceptions about how to organize the world economically or politically. No one is saying something like “we’ll bury you”, as done in the past by a Soviet leader.
We are having now an economic Cold War, or sort of. Indeed, there is nothing capable of starting a full-scale confrontation among major powers. What we do have now are trade frictions and currency misalignments, over a post-crisis adjustment process. There is a dispute over how national economic policies should take into account their impacts over other countries’ economic situation. But, as Mark Twain could have argued, rumors about a global currency war are greatly exaggerated. We have not yet outlived the current financial crisis; this is just one among many others that affect dynamic markets since the beginnings of capitalism.
It is not entirely true that this crisis was created by the deregulation of the financial markets, although low regulation can indeed have facilitated the expansion of existing bubbles in some markets. The main culprit for the bubble, though, is the low level of interest rates established by central banks during too long a period. In the same manner, albeit in very different ways, that the old Lords of Finance of the Twenties created the crisis of the 1930s, by their action or inaction, the present crisis is the result of misguided policies by the new Lords of Finance.
It is also not true that this crisis is severe enough to justify a new Bretton Woods-like redrafting of the world economic order. Talks about a new financial architecture, or even about a redistribution of world economic and political power, are totally in contradiction with the more prosaic realities of our days. We are not at all in a post-major crisis arrangement, a sort of diplomatic complete reordering of the world after a cataclysmic seism, touching all and every major actor of the international scene. We are very far from that. Let’s look the precedents.
We are not in Wesphalia-1648. We are not in Vienna-1815. We are not in Paris or Versailles-1919. And we are not in Bretton-Woods-1944, or San Francisco-1945. We are not in any major re-founding of the international political and economic order. We simply are, nowadays, in the middle of our 1930s, trying to manage a big crisis by national responses, each one fitted to the specific circumstances of each country, and delinked from a major disaster affecting everyone and all countries.
To be more precise, we are somewhere between 1931 and 1933, still in the middle of a recession, but not in a depression. The level of unemployment is not as high as in 1933, and is probably in line with patterns of our days. World trade and financial flows are not as disrupted as in the 1930s, although economic liberalization regressed: we reverted to a light version of trade protectionism, without quotas.
This new economic Cold War arises from structural changes in the world economy, already on the move since the Eighties, when China started to flex its muscles again. At the same time, developing countries ceased to rely on national, inward-looking, projects for national development and opened themselves to foreign investment. Since then, the world economy has been transformed irrevocably.
But not everything, of course, has changed. The major decision-making institutions are still the same, with the same distribution of voting rights. IMF and World Bank are in the middle of their travails to find a new distribution of quotas. The collective voting power of China, India and Brazil is 20% less than that of Belgium, Netherlands and Italy, despite the fact that the joint GDP of the former countries is four times greater the size of their European counterparts; they have a population 29 times greater. Those are the reasons for this new economic Cold War.
How to manage those new realities in the economic realm, having as political leverages the same old structures of the decision-making process? That’s a tricky question, with no clear answer to the dilemma. To manage the world economy is a pretension that even the old G7 never reached to attain in its glorious days. Developed countries controlled then a big proportion of the world’s GDP, trade and financial flows. But they were never capable of coordinating their macroeconomic policies among themselves; never mind establishing rules and goals for the rest of the world.
Nowadays, with a painful free-fall in advanced economies, it is difficult to see what could be done to restore growth rates from their stagnating levels. Besides the cyclical problems affecting major economies, with the possible exception of China, India and a few other countries, we still have global challenges ahead, like poverty in less developed countries, decisions to be made regarding environmental matters, human rights violations in non-democratic countries, and many other relevant issues.
One single strategy would be the establishing of just one big goal for the world community: that has to be the promotion of global development, not exactly through assistance (the traditional Official Development Assistance), but primarily through real trade liberalization, especially in the farm sector, the only real possibility for the less-developed countries to become integrated into the world economy. The United States and European Union have a main responsibility in this domain.
It is highly unlikely that consensual proposals concerning global development could be arising from such a large body as the financial G20, too heterogeneous to be able to reach common positions. Perhaps, the best hope would be to have an evolution from the current G8 to a new G13. That means joining the leaders of the G8 together with five other big countries, namely Brazil, China, India, South Africa, and, either Indonesia or Mexico. Experience shows that small, informal bodies are more likely to deliver something meaningful than large institutionalized groups that get involved in bureaucratic foot-dragging and political entanglements.

New Prospects
What is to be done? The biggest problem in this approach of a G20-minus is acquiring the legitimacy that is involved in the act of speaking for the whole world community from the starting point of only 13 countries. To solve this quandary implies that the political leaders of these 13 countries would have to find a terrain of reciprocal confidence between them that has to be compatible with the representation at large they would be pretending to have from the whole community of nations.
Finding common grounds is a hard task to achieve. It will quite difficult to attain a perfect coordination of agendas between the big advanced and emerging countries and, together, among them and the international institutions. The world is simply not as globalized as required to attain this kind of interaction. Disparities of interests, differences of levels of development, imbalances between countries, many factors collude to render almost impossible this exercise of coordination.
A modest approach could be a more frequent interaction – once a year – between the leaders of the new G13. Sherpas of a special quality, meeting twice a year, could then be mobilized to discuss trade matters, environmental affairs, human rights protection, UN peace-keeping missions and the like, with specific mandates from their political leaders. But, don’t look at the UN for the organization of their agenda. It is difficult to implement anything through the UN, a too large and chaotic a body. Better to rely of the coordination of agendas of the three more important agencies for globalization: IMF, World Bank and WTO.
The main task of the “new sherpas” is to look for international economic coordination around relevant issues for the global community. A possible suggestion would be to try to establish a “global new deal”, exchanging extensive protection to investments and to proprietary riches (patents and the like), as well as other good microeconomic conditions for productive activity, from the side of developing countries (the recipients of FDI), against extensive licensing and effective investments and trade liberalization by rich countries and investors alike. This kind of deal, by extending property rights for the rich, could entail the strengthening of trade, financial and investment flows to the poor, giving a pretty little boost to globalization.
Traditional assistance for development, because it is ineffective, should be replaced, essentially, by a focus on educational improvements, that is, an extensive program for human resources qualification. Assistance as such should be limited to the implementation of a consistent program for eradicating most of infectious diseases in African countries and in some other developing countries. The main reason for the persistence of poverty in those countries is not the lack of resources, but the absence of governance and their non-integration into the world economy through trade links.
Assuming that the questions of democratic governance and human rights protection can be a conundrum for countries like China, or perhaps even Russia, the main target for the agenda of the new G13 could be the adoption of high standards for public governance in the technical meaning of this expression. It is a little too early to make democratic governance and respect for the human rights the decisive criteria for bilateral and-or multilateral cooperation. But these should be the ultimate goals of any kind of new global governance.

* Paulo Roberto de Almeida
Brazilian Diplomat, International Political Economy; Professor at University Center of Brasilia (Uniceub); (www.pralmeida.org)

[Shanghai, October 12, 2010]

Euro e socialismo cubano: mesmos combates - Moises Naim

Moises Naim sempre pretende surpreender, em seus artigos, com alguma imagem forte, algum tema impactante, alguma colocação provocadora. Nem sempre consegue, mas em todo caso tenta.
Sua comparação entre as agruras do euro e a esclerose final do socialismo cubano pode até ser interessante, mas obviamente os dois processos não têm absolutamente nada em comum, a não ser a advertência de dois anciãos quanto à necessidade de reformas, como ele destaca.
Em qualquer hipótese, o euro precisa de um novo ambiente econômico para sobreviver, enquanto o socialismo cubano precisa simplesmente ser enterrado, jogado na lata de lixo, esquecido.
Paulo Roberto de Almeida

Raúl Castro y Otmar Issing
MOISÉS NAÍM
El País, 23/01/2011

Raúl Castro y Otmar Issing no podrían ser más distintos. El primero es un militar caribeño y el segundo un economista europeo. Castro es uno de los padres fundadores del régimen comunista de Cuba e Issing es uno de los padres del euro. Mientras que Castro luchaba por exportar la revolución cubana, Issing trabajaba por la integración de Europa y es uno de los arquitectos del sistema monetario europeo. Castro está por cumplir 80 años e Issing tiene 75. No sé si se conocen, o si alguna vez hayan hablado, pero lo dudo.

A pesar de que no tienen nada en común, recientemente ambos sorprendieron al mundo con estridentes declaraciones acerca del inminente fracaso de los muy distintos proyectos a los cuales dedicaron sus vidas. La sorpresa no termina allí. Una aún mayor es que a pesar de las inmensas diferencias entre Cuba y Europa ambos recetan la misma medicina para evitar el colapso de su proyecto.

"O rectificamos o ya se acabó el tiempo de seguir bordeando el precipicio, nos hundimos", dijo el presidente Raúl Castro en un importante discurso a finales del año pasado. "Mi conclusión a comienzos del 2011 es sombría. Aún no hemos llegado a la hora de la verdad para el sistema monetario europeo. Solamente ha sido pospuesta", escribió Otmar Issing en esos mismos días. Según él, si los países europeos no hacen profundos cambios, el euro no sobrevivirá. Y a buen entendedor, pocas palabras: el fracaso del euro sería un devastador golpe para el proceso de integración europeo. El artículo de Issing tuvo un gran impacto debido a las credenciales de su autor, quien fuera miembro tanto del directorio del Banco Central de Alemania como del Banco Central Europeo, donde también fungió como su economista principal. Issing enfatiza que las transferencias financieras de los que llama "países disciplinados" a los que no lo son crean tensiones políticas que amenazan el futuro de la Unión Europea. Un modelo en el cual los países viven (y gastan) más allá de sus posibilidades es insostenible y está condenado al fracaso, reitera Issing.

A esa misma conclusión llegó el presidente cubano. Por tanto, en su reciente discurso anunció que a partir del 2011 "se irán introduciendo cambios estructurales y de conceptos en el modelo económico cubano". Y Castro tiene ideas muy claras acerca de lo que esto significa: cortar el gasto público, reducir los subsidios, flexibilizar el mercado laboral, disminuir el número de empleados públicos, aumentar la productividad, la producción y las exportaciones, disminuir restricciones a la actividad económica y promover las inversiones extranjeras. Issing no podría estar más de acuerdo. De hecho, esto mismo es lo que él recomienda para Europa.

Otro aspecto en el cual ambos coinciden es en que estas reformas son políticamente difíciles y que encontrarán mucha oposición. Anticipando las resistencias, Castro aclaró en su discurso cuál es su posición a quienes se opongan a los cambios: cualquier funcionario que "no esté convencido de nuestro programa de Gobierno, que renuncie", dijo Castro. También insistió en la imperante necesidad de "cambiar la mentalidad de los cubanos y de la dirigencia ante los nuevos escenarios económicos que vienen".

El presidente echó mano de ejemplos para ilustrar la necesidad de los cambios: "el pueblo vietnamita nos solicitó que le enseñáramos a sembrar café, y allá fuimos; se le enseñó, se le trasladó nuestra experiencia. Hoy Vietnam es el segundo exportador de café del mundo. Y un funcionario vietnamita le decía a su colega cubano: '¿Cómo es posible que ustedes que nos enseñaron a sembrar café, ahora nos estén comprando café?' No sé qué le habrá contestado el cubano. Seguro que le dijo: 'El bloqueo". Oír a Raúl Castro ironizando sobre el uso del bloqueo como excusa para justificar el fracaso económico cubano es, por decir lo menos, una ironía. Otra ironía es oírle decir que sus reformas no implican que haya dudas sobre la validez de la ideología del régimen: "Las medidas que estamos aplicando están dirigidas a preservar el socialismo, fortalecerlo y hacerlo verdaderamente irrevocable".

Recientemente, Fidel Castro escribió: "[En Cuba] nunca hemos escogido la ilegalidad, la mentira, la demagogia, el engaño al pueblo, la simulación, la hipocresía, el oportunismo, el soborno, la ausencia total de ética, los abusos de poder, incluso el crimen y las torturas repugnantes". Esta afirmación es tan creíble como la de Raúl cuando aclara que las reformas que está implementando no significan realmente ningún cambio ideológico en Cuba.

En todo caso, no sería malo que Raúl Castro converse con Otmar Issing. Después de todo, parece tener más ideas en común con él que con Fidel.

A ideologia do afrobrasileirismo: o debate continua...

Fui distinguido por uma chamada deste meu post:

A ideologia do afrobrasileirismo - um artigo PRA de 2004

no blog de meu colega de combates acadêmicos e debates intelectuais Orlando Tambosi, neste link: http://otambosi.blogspot.com/2011/01/afro-brasileirismo-apenas-uma-ideologia.html

E também por um extenso comentário do leitor sempre atento Paulo Araujo, que me permito transcrever aqui, in totum, para que não se perca como simples nota de rodapé.
Permito-me também esclarecer-lhe que conheço, desde longa data, o diário de Hipólito da Costa, de sua viagem aos Estados Unidos em 1798-1799, "Diário de Minha Viagem à Filadélfia", tendo escrito diversos trabalhos a respeito desse livro, cujas referências vou buscar para fazer um post especial, pois ele merece, nosso patrono do jornalismo independente, futuro editor do Correio Braziliense (editado em Londres, de 1808 a 1823).

Segue o comentário:

paulo araújo disse...

Caro Paulo

É o retorno ao idealismo chulé anti-iluminista pomposamente denominado pós-modernismo. Vivemos neste começo de século sob o império de uma metafísica cada vez mais influente: o relativismo. Tudo é discurso. E nesse plano discursivo, no qual o que é efetivo (histórico) é denunciado como “um texto a mais entre outros”, o que de fato existe é o trabalho incessante da construção e da desconstrução de narrativas. Assim, e todos estariam livres para, no plano narrativo, reeditar a realidade (o efetivo) do modo que bem entenderem. Assim, ganha quem grita mais alto.

O afrobrasileirismo, vertente ideológica “africana” do multiculturalismo, seria, então, mais uma trincheira na luta contra o imperialismo cultural, finalmente desvelado na pós-modernidade em sua forma de uma pretensa “racionalidade mais elevada”, mas que apenas legitima, no passado e no presente, a destruição de outras culturas.

Observo que em um outro pólo dessa discursividade descontrutivista é cada vez mais generalizada a denúncia de um outro engodo: “os americanos”. Os discursos pseudo-científicos do meio intelectual penetram o meio jornalístico e este, por sua vez, executa a sua função de caixa de ressonância do neologismo “os estadunidenses”.

Hipólito José da Costa partiu de Lisboa em 10 de outubro 1798 para os EUA, a serviço do governo português e a mando de D. Rodrigo de Souza Coutinho (futuro conde de Linhares). Partiu a bordo da corveta americana William e no mesmo dia iniciou um diário pessoal, que manteve atualizado até 27 de dezembro de 1799.

Em 1955 a ABL, na Coleção Afrânio Peixoto, publicou o diário sob o título DIÁRIO DA MINHA VIAGEM PARA FILADÉLFIA (1798-1799). Recomendo vivamente. Comprei o meu exemplar bem baratinho em sebo de SP. Acho que foram só R$ 12,00.

Tudo isso para lhe dizer que o neologismo "estadunidense" seria impossível na época de Hipólito. O tempo todo Hipólito registra que está na América, e quando se refere aos cidadãos da primeira república do mundo moderno ele os designa sempre por "os americanos". Por que? Simples. Era inconcebível para um europeu, mesmo que natural da Colônia do Sacramento, afirmar uma identidade (ou uma alteridade) americana ou mesmo brasileira. Ressalvo que dizer-se brasileiro na época de Hipólito, e até mesmo durante quase toda metade do século XIX no Brasil, era algo bem mais ligado à naturalidade, semelhante ao que hoje são os naturais de SP, MG, RJ, RS etc. Mesmo exilado em Londres, Hipólito pensava-se e agia como um integrante do império português e súdito de SAR. E também era assim com os espanhóis naturais das colônias hispânicas.

No entanto, os relativismos e seus ideólogos, que hoje nos aborrecem e nos insultam (vide a defesa dos direitos ao apedrejamento de mulheres no Irã e ao infanticídio entre populações indígenas no Brasil ) com o discurso multiculturalista politicamente correto, ignoram a história e, paradoxalmente, negam o direito dos cidadãos dos EUA a sua autodenominação original, nascida com a Revolução Americana: americanos. Ou seja, a cidadania e a conseqüente identidade americana forjaram-se sobretudo na guerra de libertação contra o opressivo e absolutista colonialismo inglês: americanos contra ingleses. Ao contrario do que propaga a ideologia antiamericana, essa identidade não foi roubada dos americanos nascidos no Continente (e afinal, essa identidade nem sequer existia), mas foi historicamente constituída como fato histórico absolutamente novo no Continente pelos cidadãos fundadores dos Estados Unidos da América. Já os britânicos do Canadá permaneceram, nessa ocasião, súditos fieis de Sua Alteza Real George III.

Sábado, Janeiro 22, 2011 11:09:00 PM

sábado, 22 de janeiro de 2011

A diferenca entre nos e os muito ricos - um exemplo

Se não estou enganado, o romancista americano Scott Fitzgerald, do Great Gatsby (1928, creio), escreveu uma vez que a diferença entre os ricos e nós é que eles, os ricos, têm dinheiro, muito dinheiro.
Também acho, mas eles também vivem cercados de empregados em grandes mansões, recheadas de obras de arte.
Aqui abaixo um exemplo da espécie, eu diria da pior espécie, que por acaso também é um dos grandes crápulas da criminalidade de colarinho branco no Brasil.
Não sei como um juiz deixa que um crápula desses acumule um débito de aluguel de mais de um milhão de reais. Vai ver o juiz também tem muuuuito dinheiro...
Paulo Roberto de Almeida

Ex-dono do Banco Santos é despejado de casa do Morumbi por dever aluguel
MARIO CESAR CARVALHO
FOLHA DE SÃO PAULO, 20/01/2011

O ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, que controlava o Banco Santos, foi despejado da casa em que morava no Morumbi, na zona sul de São Paulo. Ele não pagava o aluguel mensal de R$ 20 mil desde 2004. A dívida já alcançara R$ 1,727 milhão.

Edemar estava na casa por volta das 11h de hoje e recebeu Vânio Aguiar, o administrador judicial da massa falida do banco, e um oficial de Justiça.

Ex-banqueiro teve que deixar a mansão no Morumbi, em São Paulo, onde morava desde 2004 com a família
Segundo Vânio, ele tentou reverter a ordem de despejo até o último momento e não retirara nem roupas nem objetos pessoais da casa.

Edemar contou a Aguiar que ele e a mulher, Marcia Cid Ferreira, estavam de mudança para um flat.

O ex-banqueiro foi um dos mais importantes mecenas do país no final do século passado e ficou famoso pelas exposições que realizou na Bienal, como a "Brasil 500 Anos", apanhado da arte brasileira desde a chegada de Cabral, em 1500.

Após a quebra do Banco Santos, em novembro de 2004, foi condenado a 21 anos de prisão por crimes contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Edemar, que recorre em liberdade, nega ter praticado esses crimes e diz que o banco não estava quebrado quando sofreu intervenção do Banco Central. O rombo, segundo o BC, era de R$ 2,5 bilhões.

A ordem de despejo foi dada pelo juiz Régis Rodrigues Bonvicino, da 1ª Vara Cível de Pinheiros, a pedido da massa falida do Banco Santos. A casa pertence à Atalanta, empresa criada pelo próprio Edemar, mas que foi retirada do seu controle.

Bonvicino determinou o despejo, o pagamento da dívida e a permanência dos e todos os bens no imóvel.

Edemar tinha uma coleção de arte avaliada entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões.

Algumas das obras mais caras foram enviadas para fora do país com a quebra do banco, mas acabaram recuperadas pelo FBI (a polícia federal dos Estados Unidos).

Parte da coleção, porém, continua na casa. Entre outros artistas, Edemar tem telas do americano Frank Stella e do alemão Anselm Kiefer e esculturas dos brasileiros Brecheret e Tunga.

O imóvel e as obras passam para a massa falida, ordenou o juiz, e devem ser vendidos "para satisfazer credores".

Bonvicino escreveu na decisão que Edemar e a mulher "não têm qualquer direito líquido e certo de permanecer no bem, porque possui ao menos duas outras residências, estando descaracterizado o conceito de bem de família para uma mansão de 4 mil metros quadrados de área construída e terreno de 8 mil metros quadrados".

Projetada pelo arquiteto Ruy Ohtake, a casa com a fachada de concreto aparente custou R$ 142,7 milhões, de acordo com documentos contábeis de Edemar revelados pela Folhaem 2005.

A mesa de mogno da sala de jantar, para 20 pessoas, consumiu US$ 390 mil (R$ 652 mil). Uma luminária do alemão Ingo Maurer custou 262,5 mil euros (R$ 592 mil).

A decoração da casa foi feita pelo arquiteto norte-americano Peter Marino, que assina as lojas da Channel.

A Folha procurou o advogado de Edemar, Luis Corvo, em seu escritório, mas ele não ligou de volta.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A ideologia do afrobrasileirismo - um artigo PRA de 2004

Para complementar a informação iniciada em dois posts abaixo, em que registro a reação irada de um militante da causa negra no Brasil -- não exatamente um afrobrasileiro, no máximo um afrodescendente -- a meu artigo sobre essa ideologia nefasta, importada, racista e divisiva, transcrevo abaixo o artigo em questão, não sem antes lançar um desafio a meu irado leitor:

Desafio esse militante a provar, de fato (ou seja, com base em evidências explícitas e não apenas baseadas em autodeclaração), que ele é um afro-brasileiro, ou seja, um brasileiro que conserva traços culturais, linguísticos, gastronômicos, ideológicos, ou quaisquer outros que sejam especificamente africanos e exclusivamente africanos, e não apenas brasileiros, ou seja, integrando elementos culturais de diversas culturas que foram incorporadas ao mainstream do Brasil, nesse imenso cadinho que constitui a sociedade nacional.
Provando, merece ganhar um ou dois livros, a sua escolha.
Paulo Roberto de Almeida

Rumo a um novo apartheid?: Sobre a ideologia afro-brasileira
Paulo Roberto de Almeida, Sociólogo (ítalo e luso-descendente).
revista Espaço Acadêmico (Ano IV, nº 40, setembro 2004)
link: http://www.espacoacademico.com.br/040/40pra.htm

Faço questão de me comprometer, igualmente, com o combate às discriminações. Adotaremos políticas afirmativas para garantir direitos iguais a todos, sem distinção de gênero, etnia, raça, condição física, crença religiosa ou opção sexual. Queremos eliminar as desigualdades, valorizando as diferenças.
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003)

1. Colocando a questão
Um espectro parece rondar, atualmente, a sociedade brasileira: o do apartheid. Refiro-me à possibilidade de surgimento, disseminação e consolidação de uma nova forma, não menos insidiosa do que a tradicional (já suficientemente conhecida e combatida), de apartheid. Trata-se de um apartheid social – não necessariamente racial –, baseado numa nova separação cultural e ideológica, e portanto mental, dos brasileiros. Eles passariam a ser divididos em duas categorias fundamentais: a dos afrodescendentes, de um lado, a de todos os demais brasileiros, de outro.

Antes que alguém me acuse de “inimigo dos afrodescendentes” quero deixar bem claro que reconheço, sim, a existência de uma enorme defasagem social, educacional, cultural e profissional atuando em desfavor dos chamados “afro-brasileiros”, que é o resultado histórico das condições sociais de pobreza e desigualdade que sempre atingiram com maior acuidade a população de origem negra. Também sou, sim, explicitamente, a favor de políticas de ação afirmativa e de favorecimento educacional para os brasileiros pobres em geral e, em especial, no que for possível, com ênfase acrescida na situação da população negra. Mas quero deixar manifesto, desde já, que não acredito que qualquer tipo de “reserva de mercado” nos exames vestibulares de ingresso no terceiro ciclo represente uma mudança dramática da situação dos mais desfavorecidos, brasileiros pobres em geral e populações negras em particular.

A questão das cotas no vestibular é um aspecto menor, não o mais importante, de um problema maior, que é a desigualdade de chances que vitima os negros e mulatos brasileiros nas várias vertentes de uma inserção social que teima em ser persistentemente lenta, na educação, no emprego, nas possibilidades de ascensão social, enfim. Tenho dúvidas, porém, de que políticas de promoção desse tipo devam ser conduzidas como resultado de algum tipo de consciência (ou “remorso”) quanto à necessidade de reparação histórica à comunidade negra pelos males sofridos desde o tráfico e a escravidão (e nas fases seguintes de discriminação de fato ou de indiferença “ativa”). Também rejeito as alegações dos que são contrários às cotas universitárias pela suposta necessidade de preservar ensino de qualidade e sistema de mérito nas universidades públicas (elas já estão, de fato, trabalhando em uma situação “sub-ótima” no que respeita seus presumidos “padrões de qualidade” ou de “excelência”, em razão das muitas disfunções acumuladas ao longo de anos e anos de democratismo populista, de irresponsabilidade no controle do desempenho de seus professores, de corporativismo exacerbado e outros males).

O que pretendo tratar neste ensaio é uma outra questão: a da emergência e atual afirmação, ainda que incipiente, de uma ideologia do “afrobrasileirismo” (à falta de uma melhor definição).

2. Um problema não apenas conceitual
Em primeiro lugar, recuso a qualificação de “afro-brasileiros”, ainda que aceite a realidade de que temos, obviamente, “afrodescendentes”. Mas os nossos brasileiros “afrodescendentes” são tão africanos, hoje, quanto eu sou português ou italiano pela minha ascendência, ou seja, hoje em dia quase nada, ou de fato absolutamente nada. Somos todos brasileiros, e apenas brasileiros, ponto.

Isso se deu ao cabo de um imenso e bem sucedido experimento de miscigenação étnica e cultural, um processo único no mundo, já suficientemente explorado por autores vários – entre eles Gilberto Freyre – para ser novamente explorado aqui. Somos o verdadeiro melting-pot do mundo, muito mais do nos Estados Unidos, que conservaram vários traços de apartheid racial ou étnico. Não existem afro-brasileiros no Brasil, assim como não existem AfroAmericans nos EUA: existem negros americanos ou brasileiros negros, mulatos e das mais variadas colorações, que foram trazidos ao Brasil – ou aos EUA – como escravos e que se converteram em brasileiros – ou americanos – como quaisquer outros, independentemente de serem, e permanecerem, desfavorecidos nos planos social, profissional e até do reconhecimento cultural. Nos EUA, a condição estritamente material é até mais favorável aos negros, bem mais do que no Brasil, diga-se de passagem, mas o isolamento cultural – e racial – é bem maior, em virtude da segregação legal que acabou criando duas culturas e até mesmo dois “universos mentais”, totalmente distintos e em grande medida opostos. Todo e qualquer processo de miscigenação racial – ou étnica, para evitar uma terminologia indevida – é único e original, e o nosso foi verdadeiramente de miscigenação, à diferença dos EUA, onde jamais ocorreu (salvo de maneira extremamente marginal) qualquer “osmose” racial entre negros e as demais comunidades formadoras da população americana.

Quando digo que recuso o “afrobrasileirismo” é porque acredito que esse conceito não é o resultado de uma condição étnica, cultural ou mesmo histórica, mas sim uma ideologia, politicamente importada e artificialmente explorada, que pode contribuir, também no Brasil, para a criação do mesmo sistema de aparteísmo racial ou cultural que se constata existir nos Estados Unidos. Não creio que seja bom para o Brasil, aliás para os próprios “afrodescendentes” – quer reconheço existir, como disse –, aderirmos a uma ideologia que vai contra todos os princípios do nosso bem sucedido melting-pot, introduzindo em seu lugar a divisão, a diferenciação e o apartheid. A promoção dos valores “negros” não deveria em princípio ser feita em detrimento de valores universais e igualitários que estão na base de nosso sistema constitucional e cultural.

Muito bem, diriam os “afrodescendentes”, como resolver o problema da desigualdade de fato que impede, basicamente, a maior parte dos “negros” e assemelhados de entrarem na universidade e de galgarem postos profissionais mais condizentes com o perfil de ascensão social que se deseja para todos, inclusive os milhões de brasileiros pobres, brancos ou mestiços de outras etnias, que também sofrem os mesmos problemas? Como reconheço que a “solução universal” da melhoria da qualidade das escolas públicas pode ser uma quimera irrealizável no curto prazo, sou absolutamente a favor de bolsas de estudo (e outras formas de ajuda) generosamente distribuídas a “afrodescendentes” candidatos a ingressar em nossas escolas, de maneira a habilitá-los a prestar um vestibular nas mesmas condições (ou quase) que os demais.

Ainda que esta medida possa ser injusta do ponto de vista do branco pobre, igualmente morador de favelas ou zonas rurais periféricas, creio que ela pode e deve representar um começo de ação afirmativa no sentido de resgatar todo o sofrimento imposto pela sociedade nacional – majoritariamente branca, pelos seus estratos dirigentes e pelas suas decisões políticas, reconheça-se – à sua comunidade negra brasileira e outros estratos desfavorecidos. Aliás, acho que as universidades públicas poderiam e deveriam começar a oferecer cursinhos pré-vestibulares nos quais elas passariam a admitir, de modo maciço, todos os brasileiros pobres, em especial os negros e mulatos. Os estados deveriam desenvolver programas extensivos de bolsas de estudos (gratuitas, isto é, sem reembolso) dirigidas prioritariamente aos estratos de baixa renda, em especial os negros.

Trata-se de um sistema de “cotas”, sem qualquer “reserva de mercado” e baseado inteiramente no princípio da meritocracia, que permanece um sistema válido de seleção de candidatos a quaisquer cargos ou escolas públicas. Os negros – e outros pobres – do Brasil precisam de programas intensos de formação educacional e de preparação profissional: bolsas e cursos de preparação podem fazer a diferença positiva, sem introduzir a “diferença negativa” do regime de cotas baseadas em critérios raciais ou demográficos de escassa legitimidade democrática.

3. Agora ao coração do problema: a ideologia do “afrobrasileirismo”
Acredito que o “afro-brasileirismo” é um conceito em busca de definição, até mesmo entre seus promotores mais ativos. Não sou um conhecedor extenso da literatura a esse respeito, mas não me lembro de ter lido uma definição que fosse sociologicamente sustentável sobre essa “condição”. Por isso pretendo abordar o problema de um ponto de vista histórico, antropológico e, em seguida, político-ideológico.

As definições raciais brasileiras são tão diversificadas quanto a plasticidade da língua nacional, ou como a própria realidade étnica subjacente às populações que aqui se misturaram ao longo dos séculos. Sobretudo a partir da “importação” de negros africanos, entre os séculos 16 e 19, mas também com base nos elementos autóctones e nas muitas etnias imigradas desde a independência, constituiu-se um povo legitimamente brasileiro, dotado de características singulares no conjunto dos “povos novos” — a definição é devida ao antropólogo Darcy Ribeiro — e que é certamente original do ponto de vista das relações interétnicas e culturais que essas comunidades mantêm entre si. Pode-se indicar a preservação de certos traços “culturais”, gastronômicos ou religiosos no interior desses diversos elementos constitutivos do povo brasileiro, mas dificilmente se poderá apontar, entre eles, diferenças significativas ou considerar que seus modernos representantes possam reivindicar um “pertencimento” geográfico outro que não ao próprio Brasil.

Entretanto, a partir da importação acrítica de um conceito estranho à cultura e às tradições sociais brasileiras, a questão da “alteridade” étnico-geográfica começa agora a ser colocada em questão no caso dos negros e mulatos brasileiros. Com efeito, a partir de uma matriz importada dos Estados Unidos está sendo introduzida no Brasil a concepção segundo a qual, dentre os diversos segmentos da população brasileira, se encontrariam, não mais negros, pardos e mulatos (e suas infinitas variações subjetivas), mas um grupo novo na paisagem social do país: os afro-brasileiros. Tal como apresentada por seus proponentes, tratar-se-ia não apenas de uma nova categoria (ou classificação) étnico-cultural, mas de todo um programa político de promoção social e da identidade cultural desse segmento talvez majoritário no País.

Em que medida essa proposta é demograficamente pertinente, sociologicamente consistente, historicamente sustentável, etnicamente adequada e “politicamente correta”? Desde já esclareço minha posição por um ceticismo de princípio em relação a esse tipo de conceito e à “realidade” que o sustenta. Não creio que a noção de “afro-brasileiro” seja positiva do ponto de vista da integração social das diversas vertentes do povo brasileiro, podendo mesmo ser negativo para o programa que supostamente deveria ser o de todos os cidadãos nacionais: superar a velha segregação racial que ainda persiste apesar dos avanços logrados, em lugar de construir um novo apartheid racial.

Este é exatamente o ponto que constitui o objeto destas minhas reflexões pouco sistemáticas: em última instância, a proposta dos afro-brasileiros, se implementada como programa político, redundaria na substituição da velha discriminação racial contra negros e mulatos, combatida por gerações inteiras da causa negra brasileira, por um novo tipo de apartheid, a exemplo daquele que se constituiu nos Estados Unidos depois da abolição da escravidão. Ele significa, sinteticamente falando, a separação e a promoção de atitudes, comportamentos e práticas sociais exclusivamente reservados às populações de origem negra, com todas as suas implicações negativas para a integração ampliada das diversas componentes do povo brasileiro.

Antes, contudo, que se queira ver nos propósitos do autor algum elemento de racismo antinegro ou de descaracterização da luta antidiscriminação conduzida por muitos movimentos militantes da causa negra, gostaria de deixar bem claro minha posição de partida. Creio, como muitos outros sociólogos ou simples cidadãos, que o mito da “democracia racial” brasileira é exatamente isso, um mito, mascarando as muitas práticas não institucionais de discriminação de fato que, ainda hoje, dificultam a afirmação econômica, a ascensão social e a auto-estima psicológica dos negros e mestiços do Brasil. São bastante conhecidos os problemas que afetam negros e mulatos no Brasil: menor escolarização, renda inferior e chances reduzidas de mobilidade ascensional, seja no emprego, seja em outros canais de inclusividade social. A pobreza que atinge os negros e outras camadas mestiças não é simplesmente pobreza, mas vem acoplada a outros problemas que alguns sociólogos chamam de “ciclo cumulativo de desvantagens”.

Feito o diagnóstico sumário e bem estabelecida a justificativa para uma política (ou políticas setoriais) de promoção ativa desses segmentos — às quais sou amplamente favorável, geralmente num sentido não diretamente discriminatório, mas incidindo de forma preferencial, e concentrada, nas populações pobres — a questão que pretendo colocar neste pequeno ensaio é esta aqui: em que a ideologia afro-brasileira pode contribuir para a superação dessas desvantagens cumulativas que penalizam obviamente com maior acuidade aqueles que são objeto de sua atenção?

4. As conseqüências ideológicas do “afro-brasileirismo”: o novo apartheid
Quando utilizo o conceito de ideologia para referir-me ao programa político “afro-brasileiro” pretendo denotar exatamente essa característica básica do termo: trata-se de uma importação acrítica, mais ou menos clandestina — pois que não reconhecida de forma cabal, e sem o pagamento do devido copyright —, de um conceito racial-geográfico pronto e acabado e que se refere a uma experiência histórica e social alheia às realidades brasileiras, qual seja a dos Estados Unidos. Como pretendo discutir, subsistem problemas enormes, e não apenas de ordem epistemológica, à incorporação ingênua desse conceito ao universo racial, social e político brasileiro.

O que seria um afro-brasileiro? Trata-se tão simplesmente de um brasileiro dotado de ascendência africana? Certamente, mas em que sentido esse brasileiro negro, da era contemporânea, continua sendo africano? Provavelmente tanto quanto eu, neto de imigrantes portugueses e italianos, continuo sendo europeu, ou seja: nada, ou quase nada. Sou tão “europeu” quanto meu concidadão negro é “africano”, ou seja muito pouco, apenas por vagas identidades ancestrais que nos definem muito pouco em nossa atual identidade. Quero crer que somos ambos apenas e tão somente brasileiros.

Em outros termos, não apenas é difícil, mas afigura-se impossível definir grupos humanos mediante uma origem indistintamente “continental”, uma vez que pessoas e núcleos familiares se afiliam a determinados grupos humanos com identidades mais restritas do que o âmbito geográfico continental. Mormente no caso dos atuais brasileiros negros, trazidos ao Brasil como escravos em lotes individuais (em alguns casos do mesmo grupo de origem), suas tribos e etnias de origem perderam-se irremediavelmente, logo em seguida, na terrível mistura humana realizada pelos escravagistas e depois pela sociedade de “acolhimento”. Assim como parece difícil, no Brasil contemporâneo, falar de “eurobrasileiros” ou “ásiobrasileiros”, seria virtualmente impossível, nas condições ainda mais desestruturadoras da “imigração” africana, justificar a existência dessa categoria recriada de “afro-brasileiros”.

A rigor, pretendendo atribuir uma origem geográfica a todos os outros imigrantes voluntários, poderíamos falar de “ítalo-brasileiros”, ou “nipo-brasileiros”, por exemplo, pois eles possuem características sociais e culturais similares, identificando-se pela língua ou pelos costumes comuns, inclusive religiosos e alimentares. Ora, tal não ocorre com os supostos “afro-brasileiros” — ou ocorreria em escala muito menor, apenas no caso de certos grupos lingüísticos e religiosos concentrados na Bahia, identificados com a religião islâmica —, uma vez que eles são o resultado da mais trágica e desumana “emigração” conhecida em toda a história da humanidade, processo ocorrido ao longo de séculos e séculos de transferência forçada de lotes inteiros de indivíduos, arrancados de grupos de origem que poderiam ser bantos, ovambos, ibos, haussas ou quaisquer outros capturados pelos mercadores. Contrariamente aos imigrantes voluntários, eles não tiveram condições de preservar — salvo casos extremamente restritos — línguas ou costumes de origem, que de resto se espalhavam por várias regiões africanas. Um história sem dúvida alguma trágica, mas esta é a herança de vários séculos de escravismo e de colonização do Novo Mundo.

Não se trata, assim, de uma realidade brasileira, pois esta é uma história universal. Ou seja, não existem afro-brasileiros, assim como não existem afroamericanos ou afroqualquer outra nacionalidade que se queira. Existem negros, ou mestiços, americanos, brasileiros, colombianos, venezuelanos, cubanos, e vários outros mais, em resumo, cidadãos negros ou mulatos que se tornaram cidadãos de seus atuais estados nacionais. Se isto é um fato, como se justifica o aparecimento e consolidação dessa ideologia racialista?

Segundo minha interpretação, essa construção ideológica apenas surge como resultado da situação peculiar dos negros americanos, submetidos durante décadas e décadas a uma situação de apartheid de fato e de direito que os converteu em cidadãos de uma categoria à parte nos Estados Unidos. Eles já não eram africanos, a qualquer título — tanto porque o tráfico foi precocemente substituído pela “criação” de escravos —, mas não possuíam os direitos e franquias dos demais americanos, de origem branca e européia. A situação se agravou, paradoxalmente, depois da guerra civil, uma vez que a segregação foi sendo lentamente construída ao longo do último terço do século 19 e início do século 20 (aqui com o consentimento e o estímulo do governo federal e da Suprema Corte). A evolução terminológica acompanhou a tomada de consciência do problema negro nos Estados Unidos: eles primeiro foram “negros”, no sentido mais pejorativo do termo, isto é niggers, depois se converteram, numa conotação menos agressiva, em colored ou black people, para serem finalmente enquadrados, até com o seu consentimento, nessa categoria aparentemente inocente de African Americans.

Este o termo oficial — falso, hipócrita, de fato irreal e historicamente não fundamentado — sob o qual são atualmente identificados os negros americanos, aliás bem mais negros do que no Brasil, pois que não dispondo do mesmo “estoque” (inicial ou produzido) de mestiços e mulatos e dos “fluxos e refluxos” de outras categorias intermediárias. Compreende-se sua utilização, nos Estados Unidos, num sentido parcialmente ideológico, pois que servindo para fundamentar uma luta pela afirmação de direitos civis e, concomitantemente, pela promoção da igualdade de chances nos mercados laboral e educacional, luta sustentada tradicionalmente pela Associação Nacional para o Avanço do Povo de Cor (NAACP). Menos compreensível parece ser a introdução no Brasil, de forma consciente, de um conceito de separação, não de inclusão, que seria supostamente o objetivo maior de todos as categorias de brasileiros.

Aparentemente, porém, os negros brasileiros não desejam ser simplesmente brasileiros, mas sim esta outra condição, irreal e construída, de “afro-brasileiros”. Que tipo de conseqüência poderia ter esta atitude para a (des)construção da nação brasileira?

5. A revolução cultural em marcha: a valorização das diferenças
Transcrevo novamente, para comentar, a frase destacada em epígrafe, retirada de um dos discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, certamente preparada por um militante da chamada “causa negra” para apoiar as políticas de promoção de direitos das minorias e de grupos sociais desfavorecidos, adotadas conscientemente pelo governo: “Faço questão de me comprometer, igualmente, com o combate às discriminações. Adotaremos políticas afirmativas para garantir direitos iguais a todos, sem distinção de gênero, etnia, raça, condição física, crença religiosa ou opção sexual. Queremos eliminar as desigualdades, valorizando as diferenças.”

Minha opinião é a de que “garantia de direitos iguais” deve existir, em princípio, via criação de condições ou oportunidades iguais para todos, o que se dá geralmente por meio da educação (essencialmente nos dois primeiros ciclos de ensino e na vertente técnico-profissional). Políticas afirmativas são, por definição, discriminatórias em sua essência e intenção, o que acarreta o risco de criar novas formas de apartheid social ou racial, num país que deveria eliminar as desigualdades eliminando também as diferenças, por meio da miscigenação ativa, não via exaltação de valores étnicos ou raciais exclusivos (e portanto excludentes).

Antevejo um sério problema “político” em relação ao que acabo de expor, isto é, a promoção de uma política de “miscigenação ativa”, que entendo ser a única solução efetiva para os males – não só no Brasil, mas em todo mundo – da discriminação e do racismo: os militantes da “causa negra” me acusarão de tentativa de “branqueamento”, quando não do “crime de etnocídio”, ao pretender eliminar o problema via mistura racial. Eu responderia de imediato que é isso mesmo, pretendo não apenas “acabar” com a “raça negra” – mesmo não concordando com tal caracterização – mas também com a “raça branca” (e a “asiática”, e a “médio-oriental”) e outras tantas mais que podem existir neste país tão variado, e instintivamente tão integrado, como é o Brasil. A eliminação das diferenças de “raça” – essa palavra tão enganosa e deformadora, mas ainda assim tão útil do ponto de vista daqueles que se colocam do ponto de vista das diferenças, que não é o meu – é a única forma efetiva de se cortar pela raiz qualquer sentimento de rejeição em face da “alteridade”, pelo simples motivo de que não haveria mais, pelo menos idealmente, nenhum tipo de “alteridade” estritamente definida.

Creio mesmo que o Brasil encontra-se muito mais perto de realizar esse ideal da miscigenação “hegemônica” antes que qualquer outro povo do mundo. Os EUA poderão ser, talvez, e de certa forma já são, o primeiro país “multinacional” do planeta, haja vista a constante imigração e o afluxo ininterrupto dos mais diversos povos naquele país continente. Mas eles demorarão um certo tempo, se é que conseguirão de verdade chegar à condição desejável, para atingir a etapa que reputo indispensável e necessária de ser ou constituir progressivamente uma sociedade verdadeiramente “multirracial”. Acho que o Brasil encontra-se mais perto desse ideal, ainda que sua “inclusividade nacional” seja bem inferior à dos EUA. Não importa: o relevante é a atitude mental e o comportamento social subjacentes à esse ideal de miscigenação, e nisso o Brasil parece imbatível.

O único obstáculo a esse estado de “abolição de fronteiras étnicas” – uma imensa revolução no caminho de um gênero humano potencialmente “globalizado” – é representado, precisamente, pela ideologia das “diferenças”. Por que a “diferença” teria de ser um valor em si, independentemente e à parte da diversidade cultural entre povos distintos, o que é um fato da história? O perigo que vejo nesse “culto das diferenças”, em especial em se tratando de grupos étnicos, é justamente o da separação, o do apartheid.

Registre-se, aliás, que não vejo a promoção das “diferenças” como iniciativa política de qualquer outro grupo racial ou étnico no Brasil, à exceção dos próprios negros ou “afrodescendentes”. Atribuo essa especificidade “política” à história de discriminação social e mesmo de racismo aberto ou velado que reconheço ter existido e que ainda existe no Brasil. Compreendo sua existência, mas não creio, sinceramente, que ela seja boa, desejável ou até mesmo funcional do ponto de vista das políticas de promoção ativa de inclusão social, de igualdade de fato, racial e cultural, e do ponto de vista da construção de uma “nacionalidade brasileira” inclusiva e abrangente.

A ideologia afro-brasileira representa a negação de tudo o que representamos como nação e como povo. Não creio que os afrodescendentes brasileiros estarão mais bem servidos, do ponto de vista cultural, material ou mesmo espiritual, com uma ideologia grupal que exalta a diferença e promove a separação. Acredito mesmo que os militantes da causa negra não deveriam jactar-se de defender a causa de uma ideologia importada, que não tem nada a ver com a realidade brasileira e que resultaria, afinal de contas, numa construção artificial do ponto de vista da história e da psicologia social dos negros.

As discriminações devem ser efetivamente combatidas, não pela criação de novas formas de discriminação, tanto mais patéticas quanto voluntariamente adotadas, em nome de uma ideologia importada que não visa, de fato, promover a inclusão social, mas o desenvolvimento separado e combinado dos vários grupos étnicos em que se divide, até aqui, a população nacional de grandes países multi-étnicos como o Brasil e os EUA. Uma sociedade verdadeiramente integrada, como pode chegar a ser a sociedade brasileira em futuro não muito distante – se não socialmente, mas pelo menos do ponto de vista “racial” –, representa uma sociedade na qual não apenas as discriminações de fato sejam uma relíquia do passado mas também uma formação social na qual o racismo se torne uma hipótese inexistente até do ponto de vista teórico, pela impossibilidade prática de qualquer tipo de “separação racial”.

Isto é o que eu penso, de verdade. Se ouso parodiar o líder negro Martin Luther King, incansável batalhador das causas cívicas (e não da causa racial) nos EUA, eu diria, simplesmente: “eu tive um sonho…”

clique e acesse todos os artigos publicados...
http://www.espacoacademico.com.br - Copyright © 2001-2004 - Todos os direitos reservados

Stratfor: Brasil (ou Brazil) na berlinda...

Eu tinha sido solicitado a falar com a analista do Stratfor, Reva Bhalla, mas por razões de calendário de viagem e de férias, não foi possível. Fico satisfeito de encontrar em minha caixa este material, que vem seguido de um video, que infelizmente, na minha incompetência técnica, não sei colocar aqui.
Ainda não li, e não vi o video. depois comento.
Paulo Roberto de Almeida

Agenda: Brazil at a Crossroads
Stratfor, January 21, 2011

Latin America analyst Reva Bhalla discusses the challenges new Brazilian President Dilma Rousseff will face on crime, defense, the economy and foreign affairs in 2011.

Editor’s Note: Transcripts are generated using speech-recognition technology. Therefore, STRATFOR cannot guarantee their complete accuracy.

Colin: Brazil’s President Dilma Rousseff is no newcomer to politics, after all she was her predecessor’s chief of staff. 2011 is shaping up as having a very full agenda. Apart from recovery from deadly floods, where the death toll is approaching 800, there is much to be done. A full half of one percent increase in interest rates reminded us the economy is overheating.

Welcome to Agenda where I’m joined by webcam to STRATFOR’s Latin America analyst Reva Bhalla. Reva, let’s start by discussing the new president’s agenda.

Reva: Well Colin, Dilma Rousseff has a lot of items on her plate. Everything from major defense deals that she has to make decisions on, security issues with the country’s favela issue to important decisions Brazil has to take as it is emerging as a major regional power. One thing to keep in mind is that Dilma may not have the charisma as Lula, but she has a reputation for being very non-ideological, very technocratic. She employs this sort of no-nonsense attitude with her staff and she expects her staff to come to her with a plan B in pretty much every proposal. So she’s very much in the process of re-evaluating a lot of major decisions right now, including the jet fighter deal, which is taking a lot of attention these days. Colin: Who’s in the frame to win the jet fighter contract?

Reva: Well, toward the end of the Lula administration, it seemed pretty clear that Brazil would go ahead and opt for the French Rafale jet, for mainly political and strategic reasons. Now Dilma has basically re-opened the bidding process. U.S. firm Boeing is trying to sweeten the deal, but Brazil is very concerned about being tied to certain congressional constraints in agreeing to the U.S. deal, something that Brazil is very irked by especially when it comes to technology transfers. Now the Swedish Gripen offers more to Brazil in terms of price and performance, but we think this decision is still going to boil down to mainly a political and strategic decision in that Brazil is more likely to lean more toward the French jet.

Colin: Brazilian interest rates are very high, up half of one percent this week and more to come. That’s forcing the currency up, which might have two harmful effects: attracting hot money and damaging exports. ? Reva: Brazil maintains very strict fiscal policy and for good reason considering that the country was mired in an economic crisis just less than two decades ago. Now, in trying to keep inflation under control, Brazil has kept extremely high interest rates — right now it’s at about 11.25 percent. Now, with a government that is likely very unwilling to cut down on public spending, there are serious side effects to this kind of policy. One of those side effects is the boost to the country’s already appreciating currency. Now the stronger the Brazilian real gets, the less competitive Brazilian exports are on the open market. The Brazilian government really doesn’t have any good options in trying to deal with this currency crisis, but it’s transforming slowly and slowly into more of a political issue, especially as business and trade unions especially in the financial hub of Sao Paulo are applying more pressure on the state to do something to protect Brazilian industry. Again, Brazil doesn’t have very good options in dealing with this, but it is definitely an issue that is going to be pre-occupying the state in the coming year.

Colin: Let’s turn to resources. Can Brazil really realize its dream and become a major oil exporter? ?Reva: Well, its going to be difficult, but Brazil is definitely dedicated to this project. By the “project,” we are referring to the pre-salt fields — Brazil’s offshore deepwater fields that could potentially make Brazil a major oil exporter in the years to come. Now, this is going to require a lot of investment. We have already seen Brazil’s Petrobras employ some rather unorthodox means of capitalizing this endeavor. But the Brazilian government has made clear it’s going to be dedicating its resources in hopes of realizing this geopolitical dream.

Colin: What about domestic political problems like crime and drugs?

Reva: Now, Brazil faces a major challenge ahead to both pacify and integrate major favelas in the city of Rio de Janeiro. They’ve been employing a strategy called the UPP strategy that basically involves first overt military force that drives the drug-traffickers out and then a long-term police occupation. Now, this is an impressive model that’s worked on a small scale but replicating it on a larger scale is going to be extremely difficult. What’s happened so far is that a lot of the drug-traffickers in Complexo Alemao, which was the last favela targeted, are simply being displaced. Now that has side effects, especially when more drug-trafficking activity is just going from favela to favela or coming more from the favelas into city centers. Also, these drug-trafficking groups, particularly Comando Vermelho, the main group in Rio, they’re extremely well armed. And, if the state keeps pushing them in this pacification campaign, they do have the means of perhaps selectively carrying out attacks and trying to pressure the state to backing off of this offensive.

Colin: The other so-called BRIC countries are Russia, India and China. To what extent is Brazil joining them on the global scene?

Reva: Well, Brazil is most definitely emerging on the global scene; it’s no longer this insular power that it has been for decades now. And so of course we see a lot of countries reacting to that. You know, Brazil is interacting with the French on major defense deals, with the Chinese in this deepening economic relationship, also with the Indians where Brazil and India face a lot of competition with each other in certain industries. And so Brazil is learning more and more how to assert itself on the global scene and we can expect Brazil to fumble in a lot of respects. You know, Brazil is also trying to involve itself in issues that are very distant from the South American continent. For example, in very thorny Middle East issues. But, while this attracts a lot of attention, Brazil is slowly gradually attempting to assume this leadership role but it may not necessarily want to make very hard decisions or deal with the negative repercussions that may be attached to such a role.

Colin: Reva, it’s good to have you with us on Agenda, I’m sure we’ll talk again soon.

Reva: Certainly Brazil is a high priority for STRATFOR and we will be watching all these issues closely.

A ideologia do afrobrasileirismo: uma reacao tardia...

Recebi, em minha caixa da UnB (sim, ainda tenho uma, mesmo depois de anos sem dar aulas naquela universidade bizarra), a mensagem abaixo, que reproduzo tal qual, sem o e-mail de origem (por razões óbvias), que protesta contra um artigo meu de 2004.
Demorou seis anos, portanto, para que alguém resolvesse protestar, defendendo as cores (se ouso dizer) do afrobrasileirismo, essa ideologia que pretende que o Brasil se divide em pretos, de um lado, e todo o resto, do outro, sendo que os pretos (ou negros, ou afrobrasileiros, como voces quiserem), seriam uma "minoria" discriminada.
"Minoria" apenas para os militantes racistas da raça negra -- sorry, mas eles adoram se identificar com a "raça negra", seja lá o que isso queira dizer --, pois, segundo a última PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, 2009-2010) a população autodeclarada como sendo afrodescendente é de 53% por cento do total, ou mais (sempre aumentando, claro, pois muitos estão de olho em políticas discriminatórias a favor deles, com base em cotas raciais e similares).
Bem, não pretendo responder agora ao Marcus, mas vou remeter a meu artigo, e depois retomar o assunto, em algum novo trabalho sobre a ideologia afrobrasileira.
Vale a pena este debate, pois ele é um dos mais importantes da sociedade brasileira contemporânea. Dele depende saber se vamos criar uma sociedade inclusive, verdadeiramente multirracial, misturada, miscigenada -- como aliás já acontece na prática -- ou se vamos caminhar para uma sociedade segmentada em "raças", ou, sendo mais preciso, uma sociedade dividida em pretos, de um lado (e segundo os ideólogos do afrobrasileirismo todo e qualquer mulato é negro por definição), e, do outro, todo o resto da sociedade, amarelos, brancos, levemente avermelhados, acobreados (como os índios, por exemplo), enfim, todo esse povo que não merece receber o rótulo de "afrobrasileiro" e que, portanto, não deve fazer juz a nenhuma política dita de ação afirmativa, na verdade de cunho racista, mesmo tendo de pagar a conta dos anos de escravidão e injustiça que todos nós, não-negros, devemos como reparação aos ditos afrodescendentes.
Disso depende, como eu disse, se vamos viver numa sociedade de Apartheid, ou numa sociedade "normal", o que eles dizem que a sociedade brasileira nunca foi, por ser racista e discriminatória contra os negros mesmo sem reconhecer. Enfim, vocês conhecem toda a argumentação e não preciso me estender agora. Mas prometo voltar...
Paulo Roberto de Almeida

===========

Eis a mensagem recebida: (tal qual)

From: ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| |||||||
Subject: Rumo a um novo Apartheid - Sobre a ideologia Afro-brasileira
Date: 21 de janeiro de 2011 18:49:15 BRST
To: Paulo Roberto de Almeida - UnB

Em primeiro lugar... Não está sendo implantado um apartheid no Brasil. Sempre existiu um Apartheid aqui. No entanto, diferentemente de outros países que são abertamente racistas, o Brasil é um país de falsidades e dissimulações... Tudo aqui é por debaixo dos panos.

Nós afro-brasileiros, temos sido SISTEMATICAMENTE prejudicados ao longo da história desse país. E não adianta nem falar que a exclusão é social e não racial porque, no caso dos afro-brasileiros, é tanto social quanto racial.

As cotas não acirraram o racismo, como muitos afirmaram e desejaram.

Outra coisa:
Você escreveu: ...recuso a qualificação de “afro-brasileiros”...

Quem é você pra recusar ou aceitar alguma coisa... Nós negros é que devemos nos definir da forma que acharmos mais adequada... Você não tem nada com isso!

Como se já não bastasse todos os anos de escravidão, e uma abolição feita de forma a empurrar os negros para as margens da sociedade, mantendo-nos em condições de extrema pobreza, que nos expôs à mortalidade infantil, desnutrição, doenças e mazelas sociais... Ainda temos que esperar que os branquinhos nos digam como devemos nos definir?

Eu sou afro-brasileiro, e ponto final.

Duvido que algum negro já tenha lhe dito que você está errado ao definir-se como “ítalo e luso-brasileiro”... Então, vê se cuida da tua vida!!!

Marcus.


=========

O Marcus protesta contra este meu artigo:

472. “Rumo a um novo apartheid?: sobre a ideologia afrobrasileira
revista Espaço Acadêmico (Ano IV, nº 40, setembro 2004)
link: http://www.espacoacademico.com.br/040/40pra.htm
Relação de Trabalhos nº 1322.

Suponho que ele ainda esteja disponível no mesmo URL, do contrário podem me pedir.

O Marcus está manifestamente com raiva desse meu artigo. Então, em lugar de argumentar contra minhas posições, ele simplesmente me "convida", ou ordena, a ficar fora da discussão:

"Quem é você pra recusar ou aceitar alguma coisa... Nós negros é que devemos nos definir da forma que acharmos mais adequada... Você não tem nada com isso!"

ou no final:

"Então, vê se cuida da tua vida!!!"

Bem, isso pode ser típico da UnB, ou de certos alunos da UnB: em lugar de argumentar com base em regras simples do diálogo socrático, eles colocam logo um monte de !!!s, como se isso fosse um substituto para um debate racional.

Vou responder ao Marcus, e a todos os que pensam como ele, mas não agora.
Por enquanto eu apenas gostaria de dizer o seguinte:

Não vou ficar fora disso, e tenho muito a fazer, além de cuidar da minha vida. Sou um simples brasileiro, como o Marcus, cidadão consciente, como ele parece ser -- embora um tantinho exaltado e dado a repentes de agressividade -- pagador de impostos, como ele certamente é -- pelo menos indiretamente -- e pretendo exercer em toda a plenitude meus direitos de cidadão.
Entre esses direitos se inclui o de contribuir para a construção de uma sociedade inclusiva -- como ele parece também pretender -- sem os laivos do racismo e do Apartheid, uma sociedade que não precise catalogar e carimbar os seus filhos com qualquer rótulo racial ou geográfico, que os una como brasileiros, de preferência miscigenados, misturados, sem uma cor precisa, a não ser aquela cor morena que parece predominar no Brasil (mas isso pode despertar acusações de "etnocídio" em certas áreas, que pretendem a preservação da "raça negra").
Por isso mesmo, vou continuar exercendo meu direito de expressar minha opinião, em toda liberdade, sem constrangimentos de qualquer espécie, e sem ceder a ameaças de quem quer que seja.

Voltarei ao debate Marcus. Aguarde...

Paulo Roberto de Almeida

Precisao nos calculos, nos trilhoes de digitos...

Acho que não precisava tanto para saber o valor exato de Pi, mas sempre tem gente que não se contenta com imprecisões...
O problema seria o que fazer com toda essa certeza...
E atenção, os cálculos ainda não terminaram...
Sabe-se lá se terminarão um dia...
Paulo Roberto de Almeida

Empresário japonês conquista novo recorde mundial por cálculo do Pi
Reuters, 21 de janeiro de 2011

Shigeru Kondo chegou a 5 trilhões de casas do conceito matemático em agosto do ano passado

TÓQUIO - Um empresário japonês de 54 anos, usando um computador construído em casa, calculou o conceito matemático Pi (3,14159) com 5 trilhões de casas em agosto do ano passado e marcou um novo recorde mundial, reconhecido com um certificado pelo Guinness World Records na semana passada.

Shigeru Kondo, engenheiro de sistemas em uma empresa de alimentos em Nagano, no centro do país, calculou a razão da circunferência de um círculo por seu diâmetro e quase duplicou a precisão do recorde anterior, de 2,7 trilhões de dígitos. Ele começou o processo como um hobby.

"Eu realmente quero elogiar meu computador, que fez os cálculos por três meses sem reclamar", disse Kondo ao jornal Chunichi Shimbun. O executivo dividiu a honra com o estudante de ciência da computação dos EUA Alexander Yee, que programou o software e manteve contato com Kondo por e-mail.

Usando peças de armazéns locais e lojas online, o engenheiro montou um computador que conta com dois processadores avançados da Intel e 20 discos rígidos externos. Após 90 dias de processamento ininterrupto, Kondo obteve a sequência de 5 trilhões de números. Ele verificou o resultado com diferentes métodos, o que levou 64 horas adicionais.

O recorde anterior havia sido estabelecido por um consultor de software francês em janeiro de 2010. Calcular um Pi mais preciso, que tende ao infinito, é um desafio para estudiosos há milhares de anos, desde que esse parâmetro foi utilizado no Egito Antigo.

Kondo tenta agora calcular o número com até 10 trilhões de casas. "Se tudo correr bem, devo chegar a esse ponto em julho. Estou realmente ansioso para isso", afirmou.

China: o que vai acontecer em 2011 - McKinsey’s Shanghai office

Esta é a opinião de um "analista empresarial", ou executivo de consultoria, baseado em Shanghai. Pode ser que as coisas sejam diferentes, e a tendência é sempre ser um pouco pior do que as previsões, mas com a China nunca se sabe...
Paulo Roberto de Almeida

What might happen in China this year?
Gordon Orr
McKinsey’s Shanghai office, January 2011

Despite inflation, bankruptcies, and other problems, industrial enterprises should remain highly profitable.

Gordon Orr, a director in McKinsey’s Shanghai office, peers into 2011 and finds ways China may once again surprise the world.

Inflation in food prices will take longer than expected to control. The drivers of inflation are much more structural than cyclical. Indeed, the entire system is now so highly stressed that one snowstorm brings large spikes in food and energy prices as coal runs short. When ice shuts down the roads, as it does today in much of southwestern China, agricultural products simply cannot get to market.

Chinese consumption patterns are shifting as people become wealthier—more meat eating requires more cereals to feed the animals. The food supply chain, running at the limit, is close to breaking, and the pressures this problem creates will lead to further food quality crises. What’s more, price caps won’t be effective in creating a better balance between supply and demand. Rising food prices are a pan-Asian issue: inflation has recently surged in Indonesia (chilies), India (onions), and South Korea (cabbage and now beef as a result of foot-and-mouth disease). China, given its large absolute demand for so many agricultural products, will shape food prices across Asia.

A major second- or third-tier Chinese city will see demonstrations over food price rises, unemployment, or both, on a much larger scale than anything that has occurred in recent years. The demonstrators will probably be satisfied quickly by local action to increase financial support for them and to replace local-government leaders. Yet concerns over copycat actions elsewhere will lead to a nationwide preemptive program to support the urban unemployed.

Middle-class bankruptcies will expand dramatically. Buyers have aggressively bought multiple properties with every penny of free cash flow. All that is needed for a wave of bankruptcies is further interest rate rises (targeting inflation) that result in a blip down in house prices just as mortgage payments rise. We have seen this before across major cities in Asia. The government will probably decide that it cannot bail such people out, as that would be seen as rewarding recklessness among the haves at the expense of the have-nots. There is already significant noise on the Internet to the effect that government leaders are completely out of touch with the true cost of urban housing. These leaders must take material action to show that they are aligned with the hopes of people just getting on the real-estate ladder.

Minimum wages will rise, but productivity gains will outstrip labor costs. The profitability of industrial enterprises remained high at the end of 2010—indeed, higher, in many cases, than it had been a year earlier, despite the minimum-wage increases rolled out in 2010—and will probably remain high. Yet a government seeking to enhance its stature with lower-income workers will find that increasing minimum wages, perhaps by 15 to 20 percent, is an easy lever to pull. Once again, multinationals, especially Asian multinationals, will find themselves being monitored first for compliance. More broadly, 2011 is likely to see further increases in the number of complaints that blue-collar workers bring in the legal system against employers for failure to pay overtime and to give employees the required time off from work.

China’s economic growth will be lower than expected. The rollback of subsidies to consumers will, in 2011, lead to a slow start for consumption, which will never quite catch up during the year. In recent months, for example, automotive purchases accounted for 20 percent of consumption. With the rollback of subsidies, the imposition of quotas in Beijing (and probably other cities), and increased prices for license plates and parking, car sales are likely to plateau if not fall in 2011. This problem will be exacerbated by food price inflation, which will cause lower-income workers to cut back on nonfood and other discretionary expenditures.

China will step up its “invest out” program in the new five-year plan. The government may well seek to double the country’s cumulative outbound investment within the next five years. There will be resistance by governments in some countries (probably in Africa, Eastern Europe, and Latin America) where public opinion is not yet convinced that so much Chinese ownership of key assets is really attractive. This opposition will visibly upset China’s leaders, who may decide to sell the bonds of the reluctant governments and to increase the challenges that enterprises from these nations face in selling to Chinese state entities.

The state will again try to reduce its ownership role in business. If the government relaunches its program to sell off more of its stake in companies, domestic share prices will probably decline or at least remain flat. The program will also soak up much of the liquidity currently supporting Chinese IPOs, thus reducing the ability of entrepreneurs to cash out quickly through them. Also, private-equity firms that have been investing in pre-IPO growth stocks in China may hold on to these investments longer than planned.

Gordon Orr is a director in McKinsey’s Shanghai office.

The fall of the (still) mighty dollar - Barry Eichengreen

Um tema do momento, um grande autor, quase o "romance" do dólar, ou sua biografia não autorizada...
Paulo Roberto de Almeida

The rise and fall of the dollar
The Economist, Jan 20th 2011

Exorbitant Privilege: The Rise and Fall of the Dollar and the Future of the International Monetary System.
By Barry Eichengreen
Oxford University Press; 224 pages; $27.95.
To be published in Britain by OUP next month; £14.99

THE dollar’s ascendance to the rank of world’s most important currency is often remembered as having been slow and gradual, mirroring the decline of sterling and Britain’s historic economic dominance. In fact, it was surprisingly swift. From a standing start in 1914, the dollar had overtaken sterling in international importance by 1925. The first world war played a part, but so did a lesser-known factor. America had surpassed Britain as the world’s largest economic power as early as 1870, but it had a stunted financial system: its banks could not open branches abroad, it had no central bank and panics were common. All these things discouraged international use of the dollar.
This began to change with the creation of the Federal Reserve in 1913, providing stability to the American banking system. Benjamin Strong, the Fed’s de facto leader in its early years, saw how the deep and liquid market for trade acceptances - the IOUs that were used to finance shipments of goods - helped the Bank of England to manage credit conditions. The Fed used its clout to nurture a similar market in America. This hastened the migration of international financial activity from London to New York, and from sterling to the dollar.
Whether the dollar will share sterling’s fate is a common question in geopolitical circles. After all, it is only a matter of time before China’s GDP overtakes America’s. But as Barry Eichengreen shows in a fascinating and readable account of the dollar’s rise and potential fall, reserve-currency status depends on far more than GDP. It is also a function of strategic and military relationships, laws, institutions and incumbency.
Mr Eichengreen, who teaches at the University of California, Berkeley, is an international monetary historian whose research into how the gold standard propagated the Great Depression was the basis for his seminal 1992 book, “Golden Fetters”. His latest work is less about the future of the financial system than its history, and skilfully told history it is too. Mr Eichengreen sprinkles his economics with memorable sketches of economic and political leaders. Jimmy Carter, apparently, handicapped his efforts to reduce Germany’s trade surplus by addressing the more formal Helmut Schmidt, the German chancellor, by his first name.
The book’s title was inspired by Valéry Giscard d’Estaing, France’s finance minister in the 1960s, who once described the enormous benefit America derived from the dollar’s reserve status as its “exorbitant privilege”. The world’s need for dollars lets America borrow at lower cost. American companies are spared the hassle of transacting in another currency. Those suitcases of dollars so beloved of international arms smugglers and drug kingpins all represent interest-free loans to America.
That the world remains so dollar-centric, given America’s shrinking share of world output, is something of an anomaly. This could be explained for most of the post-war period by lack of competition. Japan discouraged international use of the yen for fear of elevating its value and hurting its exports. The presence of the Red Army on West Germany’s borders hung over the Deutschmark, and in any case Germany regarded support of the dollar as an intrinsic part of its military alliance with America.
Mr Eichengreen does not think the dollar is about to be vanquished as sterling was. Rather, he foresees a “multipolar” system of international currencies. Reunification shifted Germany’s priorities from supporting America to binding itself more closely to Europe, resulting in the creation of the first significant competitor to the dollar, the euro. Mr Eichengreen could have devoted more attention to the strains that Europe’s sovereign-debt crisis have placed on the euro. His book is optimistic, noting that political rather than economic imperatives have always driven the euro. Mr Schmidt sold monetary integration to Germany’s sceptical central bank by invoking Auschwitz. Yet Mr Eichengreen’s recent writings betray a pessimism about the euro’s future that is not visible in his book.
And what of China? As was true of America and the dollar a century ago, China’s currency does not enjoy anywhere near the clout that could be expected from the size of the Chinese economy. As with Japan, China has discouraged internationalisation of its currency for fear that inflows of capital would lift its value and curb Chinese exports. It has learned, however, from Japan’s mistakes, and is gradually liberalising the use of its currency. But China is still much further behind than America was in 1914; it will be decades before the yuan rivals the dollar’s leadership.
The chapter on the international financial crisis is an unsatisfying rehash of the usual explanations, such as loose monetary policy, sloppy underwriting and derivatives. Mr Eichengreen underplays the role that China played, through its accumulation of dollars, in financing America’s housing bubble. He thinks the crisis will accelerate the shift to a multipolar currency system, but that the dollar will not collapse. That would take profound economic mismanagement by America itself, in particular, unchecked budget deficits. It was Britain’s dismal economic performance, not the dethronement of sterling, that cost it its great-power status after 1945. “The only plausible scenario for a dollar crash”, Mr Eichengreen concludes, “is one in which we bring it upon ourselves".

Estatisticas da sexta-feira: visitas ao site

Meu medidor gratuito, sempre de visita nas sextas-feiras, me informa sobre o total de visitas a este blog:

Diplomatizzando
-- Site Summary ---
Visits
Total ...................... 147,884
Page Views
Total ...................... 214,396


Meus agradecimentos aos meus leitores habituais e visitantes ocasionais.
Serviços úteis também são fonte de satisfação intelectual.
Paulo Roberto de Almeida

Historia do pensamento economico: grandes autores

Um arquivo importante, para saber da vida e da obra dos grandes economistas:

McMaster University
Archive for the History of Economic Thought
http://socserv.mcmaster.ca/econ/ugcm/3ll3/

"This archive is an attempt to collect in one place a large number of significant texts in the history of economic thought. I have tried to cast my nets as wide as possible including representative texts of all of the major thinkers and schools of thought; and most of the sub-fields of economics. The archive is a work in progress that may never be completed. The field of economic thought is a very large one. The texts are posted primarily for the use of students who might not otherwise have access to these writings. They are to be used strictly for non-commercial educational purposes. There are mirror sites at the University of Bristol (maintained by Tony Brewer) and at the University of Melbourne (maintained by Robert Dixon). There are as well, many other sites that might be of interest." - Rod Hay

Rod Hay passed away suddenly on May 18, 2008 at the age of 60. The Department of Economics at McMaster will maintain this site in his memory. Here is a brief commemoration of his life.

List of Authors Included in this Archive

A
Abbott, Edith
Acton, John
Alison, William
Anderson, James
Andréadès, Andreas
Anonymous
Arbuthnot, John
Aristotle
Asgill, John
Ashley, William James
B
Babbage, Charles
Bacon, Francis
Baden-Powell, B. H.
Bagehot, Walter
Baldwin, Simeon
Ballard, Adolphus
Banfield, Thomas C.
Barber, William J.
Barbon, Nicholas
Barbour, W.T.
Barry, Patrick
Bastiat, Frédéric
Beard, Charles
Beccaria, Cesare
Bentham, Jeremy
Berglund, Abraham
Bisschop, W. R.
Blackie, John Stuart
Blake, William
Böhm-Bawerk, Eugen
Bonar, James
Bosanquet, Bernard
Bosanquet, Charles
Bluntschli, Johann
Boisguilbert
Bolingbroke, Henry St. John
Berkeley, George
Botero, Giovanni
Bradley, Harriett
Bray, John F.
Bryce, James
Bücher, Carl
Buckland, William
Burke, Edmund
Bury, John Bagwell
Byles, John Barnard
C
Cairnes, John E.
Cannan, Edwin
Cantillon, Richard
Carey, Henry
Carlyle, R. W.
Carlyle, Thomas
Cassel, Gustav
Chapman, Sydney
Child, Josiah
Clapham, John
Clarendon, Edward
Clark, Alice
Clark, John Bates
Cobbett, William
Coke, Edward
Coke, Roger
Comte, Auguste
Condillac, Étienne Bonnet de
Condorcet
Commons, John Rogers
Cook, William Wilson
Cooley, Charles Horton
Copeland, Melvin
Croce, Benedetto
Cunningham, William
D
Daggett, Stuart
Dalrymple, John
Davanzati, Bernardo
D'Avenant
Davenport, Frances G.
Davies, A. Emil
Davis, Joseph
Davis, John P.
Decker, Matthew
Defoe, Daniel
Dicey, Albert Venn
Digges, Dudley
Dill, Samuel
Dunbar, James
Durkheim, Emile
Dutt, R. C.
E
Edgeworth, Francis Ysidro
Edwards, George W.
Ellis, Thomas Peter
Elton, Charles
Ely, Richard
F
Ferguson, Adam
Ferguson, William Scott
Fetter, Frank Albert
Fichte, J. G.
Figgis, John
Fisher, Irving
Fiske, John
Fortescue, John
Fortrey, Samuel
Frank, Tenney
Freeman, Edward Augustus
Freund, Ernst
Fustel de Coulanges, Denis
G
Galiani, Ferdinando
Gentleman, Tobias
Gervaise, Isaac
Giblin, L.F.
Gierke, Otto
Gilbart, James William
Goddard, Thomas
Godwin, William
Gomme, George Laurence
Gras, Norman
Gray, Howard Levi
Greeley, Horace
Green, T.H.
Gross, Charles
Grotius, Hugo
Gumplowicz, Ludwig
H
Hale, Mathew
Halliday, William R.
Hammonds, J.L. and Barbara
Haney, Lewis H.
Harrington, James
Harrod, Roy
Hasbach, Wilhelm
Haskins, Charles Homer
Haverfield, Francis John
Hazard, Blanche
Hegel, G.W.F
Heitland, William E.
Hemmeon, Morley
Herbert, Claude-Jacques
Higgs, Henry
Hildreth, Richard
Hobbes, Thomas
Hobhouse, L.T.
Hobson, John Atkinson
Hodgskin, Thomas
Holbach
Hollander, Jacob
Hone, Nathaniel J.
Hornick, Philipp
Hourwich, Isaac
Hull, Charles
Hume, David
Hutcheson, Francis
I
Ihering, Rudolf
Ingram, John Kells
J
Jenks, Jeremiah
Jeudwine, J.W.
Jevons, William Stanley
Jocelyn, J.
Jones, Richard
Joplin, Thomas
K
Kant, Immanuel
Kellog, Edward
Kemble, John
Kennett, R. H.
Keynes, John Maynard
Keynes, John Neville
Klein, Julius
Knapp, Georg Friedrich
Knight, Frank
Knoop, Douglas
Korkunov, Nikolai
Kovalevsky, Maxim
Kropotkin, Petr Alekseevich
Kyrk, Hazel
L
Labriola, Antonio
Lapsley, G.T.
Laski, Harold
Laveleye, Emile
Lauderdale
Law, John
Le Bon, Gustave
Letourneau, Charles
Leslie, T.E. Cliffe
Levett, Elizabeth
Levy, Hermann
Lewis, George Randall
Lieber, Francis
Liefmann, Robert
Liesse, André
List, Fredrich
Lloyd, Henry Demarest
Lloyd, William Foster
Locke, John
Loeb, Isador
M
Macaulay, Catharine
Macgregor, D.H.
Macrosty, Henry
Majumdar, Ramesh Chandra
Maine, Henry Sumner
Maitland, Frederic
Malinowski, Bronislaw
Malthus, Thomas Robert
Malynes, Gerard de
Mandeville, Bernard
Marriott, J.A.R.
Marshall, Alfred
Martyn, Henry
Marx, Karl
Mavor, James
McCosh, James
McCulloch, John Ramsey
McDougall, William
McFadden, Daniel
Menger, Carl
Merriam, Charles
Michels, Robert
Mill, James
Mill, John Stuart
Millar, John
Mises, Ludwig
Misselden, Edward
Monroe, Arthur E.
Montague, Gilbert
Montesquieu, Charles de Secondat
Moore, Henry Ludwell
Moore, Margaret F.
Mun, Thomas
Murray, Alice Effie
Murray, James
N
Nasse, Erwin
Newcomb, Simon
Newton, Isaac
Nicholson, John Shield
Niebuhr, Bartold Georg
North, Dudley
North, Roger
O
O'Brien, George
Oman, Charles
Owen, Robert
P
Paine, Tom
Palmer, Neobard
Pantaleoni, Maffeo
Pareto, Vilfredo
Patten, Simon
Petty, William
Phear, John B.
Pigou, Arthur Cecil
Pirenne, Henri
Pollard, A. F.
Poole, Reginald Lane
Power, Eileen
Priestley, Joseph
Proudhon, Pierre-Joseph
Putnam, Bertha
Q
Quesnay, François
R
Rae, John
Ramsey, Frank P.
Ranke, Leopold
Ravenstone, Piercy
Rees, J. Morgan
Renard, Georges
Ricardo, David
Riesser, Jacob
Roberts, Lewes
Robertston, William
Rogers, Thorold
Roscher, William
Rostovtzeff, Mikhail Ivanovich
Round, Horace
Rousseau, Jean-Jacques
Rowntree, B. Seebohm
Ruskin, John
S
Sargent, Arthur John
Say, Jean-Baptiste
Scherer, James
Schmoller, Gustav
Schumpeter, Joseph
Scott, William Robert
Scrutton, Thomas
Sée, Henri
Seebohm, Frederic
Seebohm, Hugh
Selden, John
Seligman, Edwin
Senior, Nassau William
Sidgwick, Henry
Sigel, Feodor Feodorvich
Simmel, Georg
Sismondi, Jean-Charles-Léonard
Small, Albion
Smith, Adam
Smith, Peshine
Smith, J. Toulmin
Sombart, Werner
Spelman, Henry
Spencer, Herbert
Stephen, James
Stephen, Leslie
Steuart, James
Steward, Dugald
Streightoff, Frank
Stubbs, William
Sumner, William Graham
Swift, Jonathan
Syme, David
T
Tait, James
Tarde, Gabriel
Taylor, Frederick W.
Thomson, Robert Ellis
Tooke, Thomas
Torrens, Robert
Tout, Thomas Frederick
Townsend, Joseph
Toynbee, Arnold
Treitschke, Heinrich Gothard
Tucker, Josiah
Turgot, Anne-Robert-Jacques
U
Unwin, George
Ure, Andrew
V
Vanderlint, Jacob
Van Hise, Charles
Vaughan, Rice
Veblen, Thorstein
Vinogradoff, Paul
Von Halle, Ernst
W
Wakefield, Edward Gibbon
Walker, Amasa
Walker, Francis Amasa
Wallas, Graham
Walras, Léon
Ward, Lester
Weber, Max
Wells, David A.
West, Edward
Westerfield, Ray
Whale, P. Barrett
Whewell, William
Whitaker, Albert Conser
Wicksell, Johan Gustaf Knut
Wicksteed, Phillip Henry
Wieser, Fredrich
Williams, John H.
X
Xenophon
Y
Young, Allyn
Young, Arthur

Acordos de investimento: que falta faz um na Bolívia

No início dos anos 1990, o Brasil assinou diversos acordos de promoção e proteção recíproca de investimentos (APPIs), alguns deles assinados pelo então chanceler de Itamar Franco, que seria também chanceler do presidente "nunca antes".
Pois bem: nunca antes na história deste país, acordos internacionais negociados pelo Executivo sofreram barragem tão explícita, e desonesta intelectualmente, como os APPIs enfrentaram no Congresso nacional, oposição articulada sobretudo pelo PT.
Essa oposição e recusa de acordos de investimento continuou durante todo o governo do "nunca antes", mesmo numa época em que o Brasil já se tinha tornado um grande investidor na América do Sul e esses acordos protegeriam, pelo menos um pouco, nossos ativos e interesses na região (como depois se viu no infeliz caso da nacionalização dos hidrocarburantes na Bolívia, aliás de forma ilegal, mas sem a proteção de um acordo bilateral de investimentos, o que acarretou prejuizos à Petrobras).
A mesma história se repete hoje, no mesmo país, como revela abaixo esta matéria da coluna diária de Cesar Maia.
Infelizes investidores brasileiros: reclamem deste governo que está aí.
Paulo Roberto de Almeida

INVESTIDORES BRASILEIROS NA BOLÍVIA E INSEGURANÇA JURÍDICA!
Cesar Maia, 21/01/2011

1. Empresários brasileiros na Bolívia -em Santa Cruz de La Sierra- têm três linhas de investimentos. Na soja, cujo capital investido (seus ativos) já alcança 1 bilhão de dólares. Exportam soja e óleo de soja. E é soja orgânica. Na pecuária, em gado nelore principalmente. E, finalmente, em mineração.

2. A complexa legislação boliviana termina criando um quadro de insegurança jurídica. Nos últimos meses, com o diesel (usado no refino de cocaína) sendo contingenciado, as compras para tratores, máquinas e caminhões passaram a servir de pretexto para constranger os produtores.

3. As mineradoras nas regiões próximas a fronteira com o Brasil tiveram suas atividades suspensas até nova ordem, acarretando desemprego e imobilização dos investimentos. Um investimento de 80 milhões de dólares em forno, do empresário Eike Batista, foi bloqueado por concorrente. Agora, o governo e o concorrente querem comprar por 5 milhões de dólares.

4. O regime de tributação do Brasil para empresários brasileiros no exterior não leva em conta a tributação já ocorrida na Bolívia. Com isso, as aplicações financeiras dos empresários brasileiros têm que ser feitas nos EUA e não no Brasil, como preferem.

5. Já está na hora das autoridades brasileiras se reunirem com os empresários brasileiros que vivem na Bolívia e depois com o governo boliviano, para dar segurança jurídica aos investidores. E a comissão de relações exteriores de senado se aproximar do problema. E o ministério da agricultura se aprofundar em questão tão delicada.

Da pouca nobre arte de matar pessoas pela incompetencia...

O título do post é meu, mas apenas o título. Todo o resto é matéria de imprensa.
Sem comentários. E precisa?
Paulo Roberto de Almeida

Sob Lula, governo vetou plano anti-desastres no PAC
Blog Josias de Souza, 21/01/2011

Ainda sob a presidência de Lula, o governo elaborou um plano de prevenção contra desastres naturais. Pronto há dois anos, ficou no papel.

Previa a instalação de radares capazes de antever fenômenos climáticos como o excesso de chuvas que produziu mais de 760 mortos na região serrana do Rio.

Orçado em R$ 115 milhões o projeto seria incluído no PAC. Não foi. Tentou-se injetá-lo no PAC2. Mas o ministro Paulo Bernardo, então no Planejamento, vetou.

As informações foram repassadas, nesta quinta (20), a uma comissão do Congresso. Revelou-as Luiz Antonio Barreto (na foto lá do alto).

Ele comanda a Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Demissionário, Luiz Barreto será substituído por Carlos Nobre, pesquisador do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

A saída iminente como que destravou a língua do expositor. Ele contou que, depois de refugado pelos gestores do PAC, o plano anti-desastres foi lipoaspirado.

Sérgio Rezende, então ministro da Ciência e Tecnologia, pediu que Luiz Barreto incluísse o novo sistema num programa do próprio ministério.

Chama-se PCTI (Plano de Ação da Ciência, Tecnologia e Inovação). Em agosto do ano passado, criou-se um grupo de trabalho.

Mexe daqui, revisa dali os técnicos reduziram o investimento de R$ 115 milhões para R$ 36 milhões. Ainda assim, o governo não liberou a verba.

Falando a congressistas que interromperam o recesso para tratar das cheias do Rio, Luiz Barreto declarou-se “indignado” com o ocorrido.

Em tom assertivo, disse que, mesmo com o gasto mais modesto, o sistema de radares terá potencial para evitar a repetição da usina de cadáveres do Rio.

“Se nós gastarmos adequadamente R$ 36 milhões ao longo deste ano, não morre ninguém no ano que vem”, disse.

Luiz Barreto elogiou o substituto Carlos Nobre, escolhido por Aloizio Mercadante, novo ministro da Ciência e Tecnologia.

De resto, disse acreditar que o plano será desengavetado: “A solução existe, não custa um rio de dinheiro e está em boas mãos”.

O mais curioso é que, acossado pelos desastres que pipocaram em vários Estados, o governo viu-se compelido a liberar R$ 780 milhões para socorrer as vítimas.

Mais do que os R$ 115 milhões que seriam sorvidos pelo plano de prevenção de desastres. Muito mais do que os R$ 36 milhões da versão lipoaspirada.