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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A ideologia do afrobrasileirismo: uma reacao tardia...

Recebi, em minha caixa da UnB (sim, ainda tenho uma, mesmo depois de anos sem dar aulas naquela universidade bizarra), a mensagem abaixo, que reproduzo tal qual, sem o e-mail de origem (por razões óbvias), que protesta contra um artigo meu de 2004.
Demorou seis anos, portanto, para que alguém resolvesse protestar, defendendo as cores (se ouso dizer) do afrobrasileirismo, essa ideologia que pretende que o Brasil se divide em pretos, de um lado, e todo o resto, do outro, sendo que os pretos (ou negros, ou afrobrasileiros, como voces quiserem), seriam uma "minoria" discriminada.
"Minoria" apenas para os militantes racistas da raça negra -- sorry, mas eles adoram se identificar com a "raça negra", seja lá o que isso queira dizer --, pois, segundo a última PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, 2009-2010) a população autodeclarada como sendo afrodescendente é de 53% por cento do total, ou mais (sempre aumentando, claro, pois muitos estão de olho em políticas discriminatórias a favor deles, com base em cotas raciais e similares).
Bem, não pretendo responder agora ao Marcus, mas vou remeter a meu artigo, e depois retomar o assunto, em algum novo trabalho sobre a ideologia afrobrasileira.
Vale a pena este debate, pois ele é um dos mais importantes da sociedade brasileira contemporânea. Dele depende saber se vamos criar uma sociedade inclusive, verdadeiramente multirracial, misturada, miscigenada -- como aliás já acontece na prática -- ou se vamos caminhar para uma sociedade segmentada em "raças", ou, sendo mais preciso, uma sociedade dividida em pretos, de um lado (e segundo os ideólogos do afrobrasileirismo todo e qualquer mulato é negro por definição), e, do outro, todo o resto da sociedade, amarelos, brancos, levemente avermelhados, acobreados (como os índios, por exemplo), enfim, todo esse povo que não merece receber o rótulo de "afrobrasileiro" e que, portanto, não deve fazer juz a nenhuma política dita de ação afirmativa, na verdade de cunho racista, mesmo tendo de pagar a conta dos anos de escravidão e injustiça que todos nós, não-negros, devemos como reparação aos ditos afrodescendentes.
Disso depende, como eu disse, se vamos viver numa sociedade de Apartheid, ou numa sociedade "normal", o que eles dizem que a sociedade brasileira nunca foi, por ser racista e discriminatória contra os negros mesmo sem reconhecer. Enfim, vocês conhecem toda a argumentação e não preciso me estender agora. Mas prometo voltar...
Paulo Roberto de Almeida

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Eis a mensagem recebida: (tal qual)

From: ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| ||||||| |||||||
Subject: Rumo a um novo Apartheid - Sobre a ideologia Afro-brasileira
Date: 21 de janeiro de 2011 18:49:15 BRST
To: Paulo Roberto de Almeida - UnB

Em primeiro lugar... Não está sendo implantado um apartheid no Brasil. Sempre existiu um Apartheid aqui. No entanto, diferentemente de outros países que são abertamente racistas, o Brasil é um país de falsidades e dissimulações... Tudo aqui é por debaixo dos panos.

Nós afro-brasileiros, temos sido SISTEMATICAMENTE prejudicados ao longo da história desse país. E não adianta nem falar que a exclusão é social e não racial porque, no caso dos afro-brasileiros, é tanto social quanto racial.

As cotas não acirraram o racismo, como muitos afirmaram e desejaram.

Outra coisa:
Você escreveu: ...recuso a qualificação de “afro-brasileiros”...

Quem é você pra recusar ou aceitar alguma coisa... Nós negros é que devemos nos definir da forma que acharmos mais adequada... Você não tem nada com isso!

Como se já não bastasse todos os anos de escravidão, e uma abolição feita de forma a empurrar os negros para as margens da sociedade, mantendo-nos em condições de extrema pobreza, que nos expôs à mortalidade infantil, desnutrição, doenças e mazelas sociais... Ainda temos que esperar que os branquinhos nos digam como devemos nos definir?

Eu sou afro-brasileiro, e ponto final.

Duvido que algum negro já tenha lhe dito que você está errado ao definir-se como “ítalo e luso-brasileiro”... Então, vê se cuida da tua vida!!!

Marcus.


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O Marcus protesta contra este meu artigo:

472. “Rumo a um novo apartheid?: sobre a ideologia afrobrasileira
revista Espaço Acadêmico (Ano IV, nº 40, setembro 2004)
link: http://www.espacoacademico.com.br/040/40pra.htm
Relação de Trabalhos nº 1322.

Suponho que ele ainda esteja disponível no mesmo URL, do contrário podem me pedir.

O Marcus está manifestamente com raiva desse meu artigo. Então, em lugar de argumentar contra minhas posições, ele simplesmente me "convida", ou ordena, a ficar fora da discussão:

"Quem é você pra recusar ou aceitar alguma coisa... Nós negros é que devemos nos definir da forma que acharmos mais adequada... Você não tem nada com isso!"

ou no final:

"Então, vê se cuida da tua vida!!!"

Bem, isso pode ser típico da UnB, ou de certos alunos da UnB: em lugar de argumentar com base em regras simples do diálogo socrático, eles colocam logo um monte de !!!s, como se isso fosse um substituto para um debate racional.

Vou responder ao Marcus, e a todos os que pensam como ele, mas não agora.
Por enquanto eu apenas gostaria de dizer o seguinte:

Não vou ficar fora disso, e tenho muito a fazer, além de cuidar da minha vida. Sou um simples brasileiro, como o Marcus, cidadão consciente, como ele parece ser -- embora um tantinho exaltado e dado a repentes de agressividade -- pagador de impostos, como ele certamente é -- pelo menos indiretamente -- e pretendo exercer em toda a plenitude meus direitos de cidadão.
Entre esses direitos se inclui o de contribuir para a construção de uma sociedade inclusiva -- como ele parece também pretender -- sem os laivos do racismo e do Apartheid, uma sociedade que não precise catalogar e carimbar os seus filhos com qualquer rótulo racial ou geográfico, que os una como brasileiros, de preferência miscigenados, misturados, sem uma cor precisa, a não ser aquela cor morena que parece predominar no Brasil (mas isso pode despertar acusações de "etnocídio" em certas áreas, que pretendem a preservação da "raça negra").
Por isso mesmo, vou continuar exercendo meu direito de expressar minha opinião, em toda liberdade, sem constrangimentos de qualquer espécie, e sem ceder a ameaças de quem quer que seja.

Voltarei ao debate Marcus. Aguarde...

Paulo Roberto de Almeida

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Afrobrasileirismo: fraude escolar tambem serve para marketing

Recebi uma mensagem, tipicamente de marketing, tentando me convencer a fazer um curso sobre essas coisas fraudulentas e altamente míticas que agora se tornaram parte do currículo obrigatório nas escolas brasileiras, desde o primeiro grau.
Para tentar provar que minhas raízes africanas e indígenas são muito importantes, eu -- que não tenho nenhuma, assim como milhões de outras crianças que tampouco se imaginam como afrodescendentes, ou descendentes de "autóctones" -- somos convidados a fazer um curso, provavelmente cheio de mistificações, para tentar me convencer como essas raízes inexistentes são importantes, em minha vida e na vida nacional.
Eis os termos da mensagem de marketing recebida (elimino as referências "editoriais"):

O conhecimento e a reflexão sobre a História Africana e Indígena é uma forma de repensar os currículos e as práticas na escola.
Em decorrência da implementação da lei 10.639/03 há vários estudos sobre a História e a Literatura dos africanas e dos indígenas.
Acessar a memória é buscar por uma identidade, somos remetidos a uma reflexão sobre o conjunto de atividades cerebrais que cada pessoa carrega, em outras palavras, armazenar, conservar e atualizar informações que viveu e experimentou, permite trazê-las para o tempo presente.
Conteúdos:
Reconhecimento e valorização da identidade do povo brasileiro no resgate das raízes africanas e indígenas.
Democratização do saber, pela conscientização da sociedade multicultural e pluriétnica do Brasil.
Reflexão sobre a diversidade na busca de relações étnico – sociais positivas, visando a construção de um nação mais democrática.


Ou seja, escondendo-se atrás de palavras bonitas, ou idiotas, você escolhe -- "acessar a memória", "atividades cerebrais", "valorização da identidade", "conscientização da sociedade multicultural e pluriétnica do Brasil", "construção de um nação mais democrática" -- os mercadores do novo "saber" afrobrasileiro e indígena querem me fazer engolir, pagando, claro, um cursinho pilantra que vai lucrar em cima da obrigatoriedade debilóide imposta pelas "otoridades" da (des)educação no Brasil.
Cada vez mais me convenço: o Brasil está numa trajetória de mediocrização do ensino (em todos os níveis) e de construção de fraudes educacionais que vão custar muito caro ao país, pois esse tipo de bobagem tem a capacidade de comprometer por muito tempo, mas por muito tempo a má qualidade da educação brasileira.
Ou seja, o que já é ruim, vai ficar pior, vai caminhar para o péssimo, juntando com as fraudes históricas e as mistificações sociológicas.
Estamos certamente a caminho de uma decadência intelectual que vai demorar muito para ser eliminada...
Paulo Roberto de Almeida
(3.09.2010)

PS: Não sei se vocês repararam, mas os idiotas que pretendem me ensinar alguma coisa sobre minhas "raízes" precisariam antes começar por um curso de Português:
"O conhecimento e a reflexão sobre a História Africana e Indígena é uma forma de repensar..."
Ou seja, um sujeito no plural e um verbo no singular! Quando é que essa gente vai aprender Português. Mas se compreende: o Português é uma língua européia, dos bárbaros dominadores, não tem nada a ver com as supostas raízes africanas ou autóctones...
Dispenso-me de comentar todo o restante da mensagem, num Português arrevesado que faria corar de vergonha um estudante secundário (pelo menos imagino...).

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Identidades culturais: de volta a um debate importante

O debate que tinha sido aqui iniciado em relação ao Estatuto da (Des)Igualdade Racial -- de fato, um manifesto racialista da pior espécie, que cria um movimento em favor de um novo Apartheid no Brasil, ou seja, uma desgraça política, social e cultural -- continuou em novas vertentes do pertencimento geográfico ou cultural dos povos "africanos" e dos escravos trazidos ao Brasil.
Um de meus interlocutores habituais questiona algumas de minhas expressões, neste post

Sobre as "identidades" culturais brasileiras

e o uso que faço delas, o que me obriga a explicar-me mais uma vez. Eu o faço não apenas por respeito ao meu interlocutor -- e aos leitores deste blog em geral -- mas também em um novo post, depois de ter incorporado esse comentário como nota de rodapé, o que permite destacar devidamente os argumentos substantivos, em benefício, suponho, de um número maior de interessados neste tipo de questão.
Não poderei fazê-lo de modo extenso, ou com a ajuda de aparato referencial, pelas características deste meio, e porque o faço diretamente na janela do blog, sem maior elaboração conceitual. Mas vou citar o que me parece pertinente como leitura adicional.
Destaco os comentários de meu interlocutor em itálico e agrego meus novos comentários em seguida. O que vai citado entre aspas são expressões minhas, objeto dos comentários do meu leitor, a quem agradeço sinceramente pela oportunidade de explicitar meu pensamento.

I) “...não existem povos africanos, apenas povos retirados individualmente e separadamente da Africa.”
“Africano” é um adjetivo que significa “relativo à África”. Literalmente, “povos africanos” são “povos da África”. Em que sentido a expressão "povos africanos" não equivaleria a "povos da África"?
PRA: A África é um continente muito diverso, quase tão diverso quanto a Ásia e a Europa, que constituem verdadiros mosaicos de povos, culturas, religiões e línguas. Provavelmente quase tão diverso quanto o subcontinente indiano, sendo que neste último, pelo menos, algumas poucas religiões unificam povos que falam mais de 250 línguas ou dialetos, assimo como na Europa, toda ela, onde as diferentes vertentes do cristianismo também unificam o continente, muito mais do que na Ásia ou na África.
As expressões geográficas, portanto, não recobrem a diversidade cultural, étnica, religiosa e linguística desses imensos continentes (bem, muito pequeno no caso da Europa ocidental, cabendo todo ele no Brasil).
Falar de africanos, e por extensão de afro-brasileiros, é tão falso quanto dizer que eu sou um euro-brasileiro, quando sou descendente de avós portugueses por um lado, e italianos, por outro. Ou seja, meus antepassados não tinham nada a ver, a não ser vagas referências religiosas, com alemães, poloneses, espanhóis, ucranianos e levantinos, que também vieram em volumes significativos para o Brasil desde meados do século 19 até um século depois, aproximadamente.
Os "povos africanos" que foram trazidos ao Brasil nos três séculos precedentes se caracterizam justamente por não serem povos, e sim indivíduos, e aqui preciso retificar e corrigir a expressão que eu mesmo utilizei. Não existem povos africanos, a não ser como referência geográfica indeterminada e geral, como falamos de povos europeus, mas no caso dos "africanos" essa expressão é ainda mais enganosa.
O "trabalho" de captura de "africanos" dispersos em vastas regiões daquele continente, seu transporte, assemblagem, venda aos traficantes europeus e americanos (do Norte, do Caribe e do Sul) que os compravam "prontos" para embarque -- quase free on board -- para o Novo Mundo, e a subsequente distribuição e venda aos "consumidores" de escravos, todos esses processos eram e foram profundamente destruidores, desestruturadores das "identidades" (uma palavrinha traiçoeira essa) desses povos.
Em suma, eles vinham como "indivíduos" e não como "povos" e no Brasil procuravam juntar-se a outros indivíduos falando a sua língua ou dialetos assemelhados. Isso explica movimentos de revolta na Bahia e em outras regiões, mas essas eram situacoes excepcionais, pois na quase totalidade dos casos esses indivíduos eram obrigados a se adaptar às novas situações, falar a língua local e aprender novos hábitos. Não havia nada de muito pedagógico nisso tudo, pois os escravos eram tratados praticamente como animais, no que se configura toda a grande tragédia da história brasileira, hoje usada de forma demagógica para reivindicar direitos que não são os deles, mas de seus distantes descendentes, que foram, por certo discriminados, mas jamais carregaram o estigma da escravidão.
Resumindo: uma vez postos no Brasil, os escravos não foram, e nunca foram -- a não ser em casos excepcionalíssimos como os haussás da Bahia -- "povos africanos", e sim indivíduos que se recriaram separadamente como "novos brasileiros", ainda que involuntariamente, e de forma trágica, como sabemos.

II) “NENHUM AFRICANO escravo veio ao Brasil.”
PRA: Creio que não preciso elaborar extensivamente, em razão do que já escrevi acima. Meu objetivo ao dizer isso, na verdade, se prende à desmistificação de uma invenção espúria, totalmente ideológica, feita pelos movimentos negros racistas e racialistas, que pretendem existir uma "coisa" chamada de "afro-brasileiros". Não existe; existem apenas negros brasileiros, ou brasileiros negros, na verdade mais mestiços do que negros, que são um minoria no contingente dos brasileiros de extração parcial africana (na sua vertente negra, ou sub-sahárica), sendo a grande maioria misturados a brancos (mais portugueses do que outros povos) e indígenas (poucos).
Trata-se de um contrabando político mistificador, trazido pronto dos EUA, onde tampouco existem African-Americans, mas simplesmente americanos negros, ou negros americanos (bem menos misturados do que no caso brasileiro).
Escrevi bastante sobre neste meu trabalho, ao qual remeto os interessados numa discussão de natureza mais antropológica (sem deixar de ser política):

472. “Rumo a um novo apartheid?: sobre a ideologia afrobrasileira”, revista Espaço Acadêmico (ano 4, n. 40, setembro 2004; link: http://www.espacoacademico.com.br/040/40pra.htm). Relação de Trabalhos nº 1322.

Aliás, todo esse debate é de natureza puramente ideológica, ou política, como provado justamente agora pelas referências em torno da atual Copa do Mundo na República da África do Sul. Vários analistas, jornalistas, simples comentaristas, referem-se à "copa africana", e muitos lamentam a eliminação de "equipes africanas" -- Camarões, a própria África do Sul -- da competição, como sendo uma quase "tragédia" para o continente, cuja "honra", a partir daqui, estaria sendo defendida apenas pela equipe de Gana (e se esquecem da Argélia, que também está na África, ao que parece).
Ora, quando a Copa do Mundo de Futebol ocorre na Alemanha ou na Inglaterra, ninguém se refere a ela como sendo uma "copa europeia" ou qualquer coisa do gênero, e quando por acaso equipes extra-continente (digamos Argentina ou Brasil) acabam disputando os primeiros lugares, à exclusão de qualquer time do continente, ninguém fala de "tragédia europeia". Por que o mesmo não é feito em relação à África? Se supõe que neste caso existe um amálgama de africanos a povos negros, o que pode ser um racismo involuntário, ou pelo menos um pensamento racialista.

III) “Ou seja, não havia "africanos" escravos, havia indivíduos vindos da África, o que é muito diferente.”
O dicionário registra que a palavra “escravo” significa “aquele que, privado da liberdade, está submetido à vontade de um senhor”. Esses indivíduos vindos da África estavam privados da liberdade e submetidos à vontade de um senhor. Nesse sentido, entendo que são escravos. Assim, “indivíduos vindo da África privados da liberdade e submetidos à vontade de outra pessoa” deveriam ser chamados de “escravos africanos”. O senhor escreve, no entanto, que isto é muito diferente. Em que sentido?
PRA: Creio que neste caso também minhas explicações precedentes deveriam bastar. Mas posso acrescentar mais algumas coisas. A escravidão é uma instituição antiga, milenar, podendo ter existido durante mais de nove décimos da história da humanidade. A escravidão africana, ou de povos "africanos", é uma parte muito pequena, diminuta, de toda essa história multissecular. Começou na própria África, entre seus povos negros ou berberes (depois dominados pelos árabes, bem mais tarde), se expandiu moderadamente durante o Império Romano (mas os "africanos" negros, com exceção dos povos mais "brancos" estavam muito longe para serem aproveitados) e explodiu na era moderna, quando se tornou a forma predominante de escravidão econômica (havia e houve outras formas de escravidão).
Durante oito décimos, provavelmente, da história da escravidão no mundo, os escravos eram povos não muito diferentes dos que os escravizavam, perfeitamente brancos, prisioneiros de guerra, "bárbaros" (mas brancos) submetidos à escravidão. Provavelmente 90% dos escravos na história do mundo eram brancos, ou "arianos", e não africanos, um continente self-contained, e praticando escravidão em escala local (como aliás era o caso de outras regiões, também). O tráfico transcontinental e o comércio mundial de escravos foram relativemente recentes na história da humanidade, e em grande medida os grandes responsáveis por essa "exportação" de negros africanos para outros continentes foram os mercadores árabes ou outros traficantes muçulmanos, que possuiam intensos laços de tráfico humano no Oceano Índico, antes que o tráfico se transformasse predominantemente (mas temporariamente apenas) em atlântico e europeu. Os traficantes árabes e muçulmanos continuaram, inclusive, exportando negros para a península arábica durante muito tempo mais, depois que o movimento abolicionista europeu conseguiu extingur o tráfico e a escravidão na primeira metade do século 19, com as exceções que se sabe: brasileira (vergonhosamente até o final do século), espanhola (mas essencialmente para Cuba, durante tempo similar) e americana (mas aqui, sem tráfico, apenas escravos de "criação" durante muitas décadas até a guerra civil).
Ou seja, é preciso DENUNCIAR a tremenda hipocrisia de acadêmicos idiotas que dão ênfase, apenas e seletivamente, ao tráfico e à escravidão europeia, deixando completamente na escuridão todos os outros fenômenos anteriores, simultâneos e posteriores, muito MAIS IMPORTANTES quantitativamente do que os quatro séculos de tráfico europeu. Os números não existem, por se tratar de sociedades ágrafas ou por não dispormos de documentos de arquivo árabes ou muçulmanos sobre esse imenso tráfico, ou mais exatamente por que não é POLITICAMENTE CORRETO falar de escravidão muçulmana, mas aproximações e estimativas fariam, provavelmente, essa vertente superar amplamente a escravidão para o Novo Mundo. Ainda hoje existem escravos "legais" em certos países africanos e na península arábica.
Existem muitas histórias da escravidão e do colonialismo em escala mundial, e no longo prazo histórico, infelizmente muito poucas, ou quase nenhuma, traduzidos e publicados no Brasil. Não tenho tempo, agora, de fazer uma lista, mas tenho um ou dois em minha biblioteca (agora distante) e muitas outras referências em trabalhos antigos. O Brasil, como é hábito, desconhece a história mundial, e nossos acadêmicos fazem pálida figura ao lado de estudiosos de outros países, que possuem uma visão mais equilibrada da história do mundo, inclusive de suas grandes tragédias

IV) “...música “africana”, algo que evidentemente não existe...”
Eis aí outra palavra – música – que o senhor deve estar usando num contexto particular. Música é o nome com o qual se designa a “arte de se exprimir por meio de sons”. Essa arte é encontrada em todos os povos, em todas as épocas. Evidentemente que suas regras variam segundo a civilização e o contexto histórico. Valendo-me dessa definição de música, deduzo que o uso de instrumentos de percussão pelos povos da África é uma forma de expressão musical.
PRA: Pois bem, se essa definição é usada, não existe música africana. Existe, sim, influência de algumas tradições de certos povos africanos que foram incorporados no mainstream da música brasileira, mas tudo isso misturado com outras tradições, inclusive as mais formais, "partiturizadas", de origem europeia. Negros americanos são em grande medida responsáveis pelo soul e pelo jazz, e eu nunca ouvi que se tratasse de música ou tradições "africanas" nos EUA. Apenas black music, depois incorporada ao mainstream da música americana.
Repito, todo esse movimento "africanista" ou "afro-qualquer coisa" é profundamente mistificador e ideológico, talvez uma tentativa de recuperar raízes (que não existem quase, tamanha foi a desestruturação), mas que se presta a exercícios de auto-engano coletivo que encantam os relativistas culturais e os politicamente corretos.
Como eu não sou nem uma coisa nem outra, não preciso ficar pagando impostos para os pretensos "afro-brasileiros" cada vez que me refiro aos negros brasileiros, ou aos brasileiros negros, como seria mais correto.
Registre-se, também, essa outra mistificação, bem mais fraudadora e mentirosa, que consiste em identificar os mestiços -- que formam a MAIORIA da população brasileira -- aos negros, o que é um exercício totalmente enganoso e ilusório.
Seria ótimo para a sociedade brasileira se ela fosse ainda mais mestiça do que ela é, atualmente, pois nesse caso estariam sendo completamente destruídas as bases materiais do racismo -- que só pode existir quando existem diferenças marcadas, ou fenotípicas -- mas ao dizer isso estou incorrendo, como gostariam alguns de dizer, no crime de etnocídio, ou seja, tentativa de eliminação da raça negra.
Confirmo esse meu propósito "criminoso" e vou mais além: também quero EXTINGUIR por completo a "raça branca", que quando "deixar de existir" será um enorme aporte civilizatório, pois é evidente que todo o racismo "científico" dos últimos três ou quatro séculos se baseou na evidente supremacia material dos europeus sobre os demais povos para sustentar uma suposta supremacia racial, e racista, sobre os povos culturamente inferiores, ficando assim justificada e legitimada a escravidão, o colonialismo, as discriminações, as ideologias lombrosianas, eugênicas e outras.
Sou totalmente anti-racista e, coerentemente, favorável à "eliminação" de todas as raças. Quanto o mundo todo estiver maravilhosamente misturado, os poucos racistas que sobrarem vão ser, rigorosamente, casos de hospício...

Pelo que posso deduzir, o senhor está empregando diversas palavras em um contexto diferente do usual.
PRA: Certamente, sou totalmente partidário da mais ampla liberdade linguística -- o que não quer dizer desmantelar regras formais, como aquele stalinista que acaba de morrer -- e do uso inovador de expressões, desde que devidamente acompanhado de bases conceituais explicativas. Se uma palavra não existe, mas você sente necessidade daquele termo específico, deve-se "inventá-la", justificá-la e passar a usá-la. Assim surgem verbos como "deletar", na verdade uma adaptação (pré-existente no latim) do famoso "to delete" popularizado com a linguagem de computador. Downloadar, por exemplo, deveria existir, e eu já estou usando, independentemente se é correto ou não. Os americanos usam tranquilamente "googlelize", que poderia ser o nosso "googolizar".
Mas, isso é o de menos. No tema que nos ocupa, eu uso rigorosamente o termo africano como sinônimo de pertencimento geográfico geral, nunca para designar nossos negros brasileiros, ou brasileiros negros, que são tão africanos quanto eu sou europeu, ou seja, NADA, rigorosamente nada. A despeito de alguns poucos hábitos portugueses ou italianos, que ficaram muito tenuamente em minha formação, eu sou exclusivamente brasileiro, aliás bem menos do que os negros brasileiros, que "deixaram" de ser "africanos" há mais de 160 anos, ou seja, bem mais do que meus antepassados europeus, com a GRANDE diferença que as tradições culturais europeias foram bem mais preservadas e cultivadas do que (infelizmente, se alguém quiser) no caso dos "africanos" (de araque, pois repito, eles não existem).
Creio que fui bastante claro, desta vez...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 21 de junho de 2010)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O Brasil a caminho da estupidez - agora sim tenho certeza disso

Bem, não gosto de ofender ninguém, pelo menos não gratuitamente, mas neste caso tenho de dar a mão à palamatória. As pessoas estão se tornando mais estúpidas no Brasil, e isso acontece mesmo com professores, que supostamente estão, como diz o velho ditado, "às portas do conhecimento".
Leiam primeiro o post abaixo, do blog do sempre iconoclasta Janer Cristaldo, que por sua vez se fundamenta em matéria (que não li por inteiro) do Estadão, para ver se não concordam comigo.
Como é que uma professora supostamente bem formada consegue afirmar que, reproduzindo certos gestos cotidianos de índios, numa escola de classe média - "suíço-brasileira" - cuja mensalidade deve ser mais alta do que toda a "renda" anual de uma tribo indígena, os alunos "aprendem até as formas de comer e de sentar dos indígenas" ???
Discordo da professora: eu não preciso sentar como os indígenas para aprender a sentar, aliás não preciso aprender NADA com os indígenas que me sirva para a vida real, inclusive porque não preciso me defender de cobras, piranhas (salvo as do governo), de plantas venenosas, enfim do que quer que seja da vida selvagem. Quando eu preciso sentar, no meu meio habitual, eu uso cadeira, sofá, bancos, e se eu tiver de sentar no chão, sem problemas, não preciso de tecnologia indígena para fazê-lo.
Como é que alguém, supostamente alfabetizado, consegue dizer uma estupidez dessas?
E quanto ao ensino de matérias "afro-brasileiras", sinto muito dizer, mas a estupidez é maior ainda. Uma outra professora, que se supõe também seja minimamente alfabetizada, pretende que as "raízes indígenas e afro-americanas têm [muita importância] em [nossas] vidas (...) Os alunos percebem que nos nossos hábitos há muitas referências culturais, como dormir em rede, comer farinha de mandioca e assar peixe na brasa...".
Sinto muito professora, eu posso fazer isso em restaurantes, num camping e no quintal da minha casa, e têm know-how americano para peixe na brasa tão bom, ou talvez melhor, do que as supostas excelências aborígenes ou africanas. Minhas referências culturais estão mais perto de um gourmet europeu -- OK, sou mais um gourmand, do que um gourmet, mas isso é outra coisa -- do que da caça e pesca de indígenas e africanos. Aliás, eu NÃO preciso disso e não sei porque alunos da classe média paulistana também precisariam, a menos que algum maluco resolva virar eremita no fundo da Amazônia (mas nesse caso ele pode fazer um crash course com índios perfeitamente aculturados em alguma reserva oficial, onde eles vivem de mensalão governamental, não de caça e pesca).
Aliás, a escola mostra as culturas indígenas por meio de vídeos que foram feitos pelos próprios indígenas. Será que esses estúpidos não percebem a imensa contradição que existe entre pretender macacaquear índios na natureza ancestral quando esses índios estão usando equipamento eletrônico japonês (made in China), e contrabandeado ou comprado no free shop da aldeia, e a vida moderna que permite tudo isso sem precisar sentar no chão e comer uma horrível comida que eles tentaram torrar no foguinho improvisado da classe?
Eu não sei porque alguém tem de regredir na escala da civilização e da tecnologia para provar não se sabe bem qual tese estúpida sobre nossas supostas raízes. Suponho que esses professores vão para a escola em barco, a pé, a cavalo, whatever...
Quando deveríamos estar aprendendo ciência e tecnologia de última geração, estamos regredindo para os albores da civilização, culturas do neolítico superior???!!!
Tem sentido tudo isso?
Manifestamente não, isso apenas faz parte de um grande processo de imbecilização do país, uma tendência que nos faz regredir e acrescentar à idiotice já ambiente.
Agora, então, com a tal lei racista, o Estatudo da (Des)Igualdade Racial, essas bobagens afro-brasileiras vão fazer parte do currículo das escolas. Os alemãezinhos de Santa Catarina vão aprender como os seus ancestrais africanos deram enormes contribuições ao progresso do Brasil.
Sinto muito: eu gostaria muito de aprender como vivia na Basilicata a minha avó, que veio ao Brasil no começo do século 20 colher café, na imensa leva migratória que substituía os escravos de vinte ou trinta anos antes. Ela provavelmente se sentiu, mais de uma vez, tratada quase como uma escrava na fazenda de café, mas nunca fez disso um sinal de integração cultural, apenas como uma etapa na construção de sua nova vida no Brasil.
O Brasil caminha rapidamente para a estupidez. E isso vai custar muito para desfazer.
Leiam o texto do Cristaldo e entenderão a minha indignação.
Paulo Roberto de Almeida
(18.06.2010)

QUANDO ENSINO VIRA MENTIRA
Janer Cristaldo
Quinta-feira, Junho 17, 2010

Leio no Estadão que crianças da Escola Suíço-Brasileira fazem lanche comunitário com alimentos ligados à cultura indígena. Cocares, chocalhos, sementes e cantos indígenas estão se misturando aos livros e cadernos dos alunos nas aulas. Tudo isso para cumprir a lei que exige o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena, que passou a vigorar em 2008.

Com a proposta de atrair a atenção dos alunos para a importância histórica dos índios e dos negros, as aulas exploram múltiplos recursos. Na Escola Suíço-Brasileira, na zona sul de São Paulo, os alunos do 1.º ano do fundamental vivenciam o dia a dia dos índios em cabanas de pano e um banquete com alimentos típicos. "Eles aprendem até as formas de comer e de sentar dos indígenas", afirma a professora Vera Povoa.

É de perguntar-se se neste magistério, além de cocares, chocalhos, sementes e cantos indígenas, os professores falam nas práticas de canibalismo dos índios brasileiros, relatadas por Hans Staden. Se, ao abordar as formas de comer dos indígenas, os professores citam o bispo Sardinha, que foi degustado pelos caetés.

Para ambientar os alunos – diz a reportagem - algumas escolas utilizam desde vídeos - o que inclui até mesmo uma espécie de reality show do cotidiano de uma aldeia, filmado pelos próprios índios - até excursões para museus e comunidades indígenas, onde as crianças aprendem a usar arco e flecha.

Falta saber se os professores contam que, no cotidiano de uma aldeia, existe o direito de matar filhos de mães solteiras e os recém-nascidos portadores de deficiências físicas ou mentais. Gêmeos também podem ser sacrificados. Algumas etnias acreditam que um representa o bem e o outro o mal e, assim, por não saber quem é quem, eliminam os dois.

Outras crêem que só os bichos podem ter mais de um filho de uma só vez. Há motivos mais fúteis, como casos de índios que mataram os que nasceram com simples manchas na pele – essas crianças, segundo eles, podem trazer maldição à tribo. Os rituais de execução consistem em enterrar vivos, afogar ou enforcar os bebês. Geralmente é a própria mãe quem deve executar a criança, embora haja casos em que pode ser auxiliada pelo pajé.

A prática do infanticídio já foi detectada em pelo menos 13 etnias, como os ianomâmis, os tapirapés e os madihas. Só os ianomâmis, em 2004, mataram 98 crianças. Os kamaiurás matam entre 20 e 30 por ano. Sob o olhar complacente dos antrópologos e indigenistas. A tradição deve ser respeitada. Informarão as escolas aos alunos estas práticas tradicionais dos silvícolas?

“O interesse despertado nas crianças é notável, principalmente quando elas percebem a influência que as raízes indígenas e afro-americanas têm em suas vidas – diz a reportagem -. Os alunos percebem que nos nossos hábitos há muitas referências culturais, como dormir em rede, comer farinha de mandioca e assar peixe na brasa, por exemplo", afirma a coordenadora pedagógica da Escola Cidade Jardim Play Pen, Gabriela Argolo.

Seria interessante saber se os professores contam aos alunos que Zumbi, o novel herói da libertação dos negros, se lutava contra a escravidão, também tinha escravos. Se ensinam que, se os brancos europeus compravam escravos, quem os vendia eram os chefes tribais negros africanos aliados aos portugueses, que enriqueceram com a venda de seus irmãos.

Se os professores não ensinam estas verdades históricas, os estudos afros ficam incompletos. Outra pergunta a se fazer é quando as escolas terão disciplinas que ensinem nossas origens greco-hebraico-romanas e européias. Comentei há alguns anos a história de uma sobrinha, a quem apresentei a estátua do Quixote e Sancho Pança na Plaza España, em Madri. Ela tinha formação universitária e jamais ouvira falar destes dois. As novas gerações, ao que tudo indica, continuarão sem saber quem é Cervantes. Mas saberão como comiam ou dormiam os bugres. Saber que, cá entre nós, não passa de mera curiosidade histórica que nada nos acrescenta.

A organização social do Brasil, nossas instituições, nosso ensino e nossa cultura são européias, antes de serem africanas ou indígenas. Derivamos muito mais de Platão e Aristóteles, Kant ou Descartes, Montesquieu ou Montagne, do que de culturas ágrafas africanas ou nativas. O índio ou o africano em pouco ou nada contribuíram para formatar o Brasil como hoje é. Não fossem os portugueses, os habitantes de Pindorama ainda hoje viveriam da caça e coleta.

Índio não construiu nada. E negros, muito pouco. A pedagogia oficial, fundamentada em leis de cunho racista, está pretendendo inverter a história do país, atribuindo méritos a quem não os tem. Crianças adoram brincar em cabanas de pano, mas a cultura indígena jamais produziu pano. Pano é coisa de branco, que foi imposto pela Igreja aos índios para cobrirem suas vergonhas. Culinária indígena soa simpático, mas sempre é bom lembrar que esta culinária, entre seus acepipes, incluía carne de brancos.

O ensino está virando uma imensa mentira no Brasil. A serviço das viúvas do Kremlin, que querem negar o legado europeu que formou o país. Não será fácil reverter este embuste.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

1665) O racismo de certos afrodescendentes: o afrobrasileirismo

Por falta de tempo ou por concentração em temas de natureza mais econômica ou de relações internacionais, não tenho me dedicado a um assunto que me preocupa sobremaneira, como cidadão (não do Brasil, pois não tenho esses acessos patrioteiros, mas do mundo), que é o da ascensão do racismo, no Brasil e no mundo, favorecido por todos esses militantes de causas meritórias que acabam descambando para o racismo inverso, que consiste em promover a alteridade como valor absoluto.
Ora, como acredito -- ops, tenho certeza -- que somos essencialmente iguais, e que a humanidade só conseguirá superar esse mal terrivel que é o racismo caminhando para a mistura total dos povos, minha tendência é a de recusar absolutamente essa plataforma da promoção dos "direitos dos negros", pois isso é racismo ao reverso.
Sei que existe racismo, e que ele faz muito mal às pessoas assim discriminadas, mas acredito que ele poderá ser combatido pela promoção da mistura, como aliás fez e faz o Brasil e outros povos naturalmente.
A despeito de toda a militância negra racista, a sociedade brasileira e a humanidade caminharão inevitavelmente, irremediavelmente, em direção da mistura, qualquer que sejam os esforços dos racistas oficiais, brancos, negros, amarelos, whoever...
Eles apenas conseguem criar um pouco mais de intolerância e de racismo no caminho dessa mistura, que vai passar por cima deles e de todas as suas teorias racistas.
Bem, como não tenho tipo tempo de me dedicar a esses temas, como dizia ao início, permito-me postar aqui a referência a um antigo trabalho meu que trata, perifericamente dessas questões, ao discutir, de um ponto de vista essencialmente antropológico, a questao do afrobrasileirismo, que me parece uma mistificação tremenda.
Atenção: não nego a realidade dos afrodescendentes, uma realidade para mais da metade dos brasileiros. O que nego é essa mistificação construída do afrobrasileirismo, uma ideologia nefasta para o futuro do Brasil.

Rumo a um novo apartheid?: sobre a ideologia afrobrasileira
(Brasília, 29 ago. 2004, 11 p. Originais: 1322; Publicados: 512)

Ensaio sobre a possibilidade de uma separação “mental” dos grupos raciais no Brasil, com base na promoção das diferenças entre a etnia negra e as demais.

Publicado na revista:
Espaço Acadêmico (a. IV, n. 40, set. 2004)
http://www.espacoacademico.com.br/040/40pra.htm