O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

Mostrando postagens com marcador racismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador racismo. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 18 de maio de 2022

O supremacismo americano - Bret Stephens (NYT)

 

The Right Weaponizes America Against Itself

Bret Stephens

The New York Times – 18.5.2022

 

In the broadest sense, what goes by the name “replacement theory” — the idea that American elites are conspiring to replace so-called real Americans with immigrants from poor countries — is merely a description of the American way, enshrined in tradition, codified by law, promoted by successive generations of American leaders from Washington and Lincoln to Kennedy and Reagan.

There have been four, arguably five, great replacements in American history.

The first was the worst and the cruelest: the destruction — through war, slaughter, ill-dealing and wholesale expulsion — of Native Americans by European migrants. The same far-right true believers who now scream about their own purported replacement by the non-indigenous tend to be the most indignant when reminded that at least some of their ancestors were once the replacements themselves.

The second was a religious replacement of Protestants, who now number fewer than half of all Americans. It began at least as far back as 1655, when the Dutch West India Company rejected a petition by Peter Stuyvesant to expel Jews from New Amsterdam. (Doing so, the company wrote, would be “somewhat unreasonable and unfair.”) It accelerated in the 19th and 20th centuries, mainly thanks to the mass migration of Catholics from Europe and, later, Latin America. It continues with the arrival of Muslims, Buddhists, Hindus and others, along with a more general loss of faith.

The third was the ethnic replacement of the English. With their arrival in North America came indentured servants from Ireland and continental Europe, then immigrants from Germany, France and Ireland, later from places ever farther east. Willa Cather’s “My Ántonia,” the American prairie classic, is a story of settlers from Bohemia and other places in Central Europe, who soon became the backbone of the American Midwest.

Non-Europeans had a tougher time. The descendants of enslaved captives from Africa, the only replacements who came against their will, faced years of resistance even after emancipation. And the first major federal law to restrict immigration was the Chinese Exclusion Act of 1882.

The fourth replacement was of WASP elites. “A furtive Yacoob or Ysaac, still reeking of the ghetto, snarling a weird Yiddish to the officers of the customs” was how Henry Adams, John Quincy’s grandson, sneeringly described the immigrants he saw in New York. Within a generation, those Yacoobs and Ysaacs would be Goldmans, Frankfurters, Salks, Rickovers and Bellows. To judge by enrollment figures at Brooklyn Tech or elite universities, the next generation of elites will also be immigrants or their children, many from South or East Asia.

The fifth is the most contentious but also the most routine and unexceptional: the alleged replacement of the native-born white working class with a foreign-born nonwhite working class. In this telling, Washington policy, from the 1965 Immigration and Nationality Act to the 1994 North American Free Trade Agreement to current enforcement failures at the border, are part of a broad conspiracy to give American businesses cheap labor and Democratic politicians ready votes.

This is both nothing new and nothing at all. The United States has, from its earliest days, repeatedly “replaced” its working class with migrants, not as an act of substitution, much less as a sinister conspiracy, but as the natural result of upward mobility, the demands of a growing economy and the benefits of a growing population. The idea that NAFTA simply caused jobs to flee the United States sits at odds with the fact that the labor-force participation rate in the United States grew to its peak in the years immediately after the signing of the agreement.

What all of this says is that the phenomenon of replacement, writ large, is America, 

The first immigration bill was passed by the first Congress and signed into law by the first president. The American heartland was almost certainly more linguistically diverse in the 1890s than it is today — and adult immigrants often never learned to speak more than rudimentary English. The people who today think of themselves as regular Americans, people with surnames like Stefanik, Gaetz or Anton, would, on account of their faith or ethnicity, have been seen by previous generations of nativists as uncouth and unassimilable, dirty and disloyal.

All this is of a piece with our traditional self-understanding as a country in which a sense of common destiny bound by ideals matters more than common origins bound by blood. It’s also necessary to any form of conservatism that wants to draw a line against blood-and-soil nationalism or white-identity politics. You cannot defend the ideal of “E pluribus unum” by deleting pluribus. To subscribe to “replacement theory” — the sinister, conspiratorial kind now taking hold of parts of the right — is to weaponize America against itself.

I’m writing this in the wake of Saturday’s massacre in Buffalo, whose alleged perpetrator wrote a racist and antisemitic rant about replacement theory. It’s usually a mistake to judge an idea based on the behavior of some deranged believer. It’s also unnecessary. The danger with replacement theory in its current form isn’t that a handful of its followers are crazy but that too many of them are sane.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Racismo, antissemitismo, liberdade de expressão - Celso Lafer (OESP)

Opinião

Racismo, antissemitismo, liberdade de expressão

O negacionismo do Holocausto judaico, do genocídio armênio, do racismo estrutural que permeia a sociedade brasileira não é opinião, é uma iniquidade.

Celso Lafer, O Estado de S.Paulo 

20 de fevereiro de 2022 | 03h00 


“Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” é um dos objetivos do nosso país, contemplado na Constituição cidadã (artigo 3, IV).

É uma ideia a realizar que indica o caminho para dar plena efetividade ao Brasil como sociedade pluralista, diversificada e democrática, retificando múltiplas inadequações de nossa arquitetura imperfeita. 

A intolerância de práticas discriminatórias é um obstáculo a esta ideia a realizar. Ela veio à tona com estridência em eventos recentes, como o brutal assassinato de Moïse Kabagambe, o refugiado do Congo que encontrou abrigo em nosso país para morrer a pauladas ao lado do quiosque onde trabalhava na orla carioca; a prepotência da prisão sem provas de Yago Corrêa de Souza no Jacarezinho, depois de comprar pão perto de sua casa; e o empenho discriminatório da apologia do racismo nazista veiculado pelo podcaster Monark (Bruno Aiub). 

Os três eventos interligam-se. São constitutivos da abrangência de condutas impelidas pelas múltiplas práticas de racismo existentes na sociedade brasileira. 

Afrontam e contestam a dignidade da pessoa humana, princípio fundamental que inspira a Constituição. 

A preservação da dignidade humana permeia a tutela dos direitos humanos, cuja positivação é a expressão do aprimoramento da convivência coletiva num regime democrático. O ponto de partida dos direitos humanos é o princípio da igualdade, e o seu corolário lógico, a não discriminação, que se aprofundaram com a especificação da tutela dos seres humanos em situação de vulnerabilidade (crianças, idosos, mulheres, etc.). 

Nesta linha, a Constituição qualifica como crime a prática do racismo e a legislação infraconstitucional correspondente tipifica as modalidades com as quais se expressam. Estas modalidades são abrangentes e não circunscritas, como a interligação dos três eventos acima mencionados evidencia. 

A Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Recorrentes de Intolerância de 2013, recém-promulgada no Brasil, esclarece que, explícita ou implicitamente, “a discriminação racial pode basear-se em raça, cor, ascendência ou origem nacional ou étnica”. 

Foi por conta da abrangência que o Supremo Tribunal Federal (STF), em 2003, no caso Ellwanger, subsumiu o antissemitismo e a sua apologia discriminatória como uma das modalidades de crime da prática do racismo. 

A ilicitude da prática do racismo abarca a contenção da difusão e a propaganda de teorias e ideias que justificam ou incitam a discriminação, com destaque para as provenientes de explícitos discursos de ódio. Daí provêm parâmetros que esclarecem por que em nosso país e em muitos outros, com respaldo nas normas do Direito Internacional, a garantia constitucional da liberdade de expressão não se tem como absoluta. Não abriga na sua abrangência manifestações de ilicitude penal. É o caso da calúnia, da injúria e da difamação, e também do crime da prática do racismo e a sua incitação. 

Explica Stuart Mill, ao tratar do exercício da liberdade, que ela contempla a distinção entre condutas “self-regarding” e “other-regarding”. Em relação às primeiras, não cabem limitações, pois “o indivíduo não responde perante a sociedade pelas ações que não digam respeito aos interesses de ninguém a não ser ele”. Em relação às segundas, o indivíduo é responsável por qualquer ação prejudicial aos interesses alheios. Daí a possibilidade de limites, se a sociedade julgar que a sua defesa a requer. 

A punição legal do crime da prática do racismo e a sua apologia é o que prevê o direito brasileiro. O seu fundamento, como observa Mill, provém do fato de que “viver em sociedade torna indispensável que cada um seja obrigado a observar certa linha de conduta para com o resto”. 

Machado de Assis observou: “Haverá coisa pior que mesclar o ódio às opiniões?”. Inspirado por Machado, concluo pontuando os vínculos entre negacionismo, discurso de ódio e a prática de condutas racistas. O negacionismo nega fatos apurados motivados pelo ímpeto discriminatório e pelo ódio “que não respeita coisa nenhuma”, como dizia Monteiro Lobato pela voz do Visconde de Sabugosa. Contrapõe-se, assim, ao bem público consagrado no artigo 3, IV. Por isso, a denegação do Holocausto é prática de conduta racista. A Convenção Interamericana reitera que não cabe tolerar a defesa e a justificação do genocídio. Trata-se, assim, da contenção do dano moral para a sociedade que provém do desrespeito à tutela de consagrados direitos humanos. 

O negacionismo do Holocausto judaico, do genocídio armênio, do racismo estrutural que permeia a sociedade brasileira e que provém do passivo da escravidão tem um objetivo: impedir o reconhecimento do respeito que merecem ao direito à verdade e à memória das vítimas da prática do racismo que padecem uma pena sem culpa porque integram uma cor, uma religião, uma ascendência, uma origem nacional ou étnica. Por isso o negacionismo não é uma opinião. É uma iniquidade. 


PROFESSOR EMÉRITO DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, FOI MINISTRO DE RELAÇÕES EXTERIORES (1992 E 2001-2002)

 

 

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Mini reflexão sobre o racismo e racistas, no Brasil e alhures - Paulo Roberto de Almeida

 Mini reflexão sobre o racismo e racistas, no Brasil e alhures 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

  

O Brasil não é um país racista, mas ainda existem muitos racistas por aqui, embora o racismo não tenha as mesmas características de um país que possuiu um Apartheid LEGAL, como os EUA até os anos 1950-60, e que ainda continua tendo duas culturas, uma branca, outra negra. Diferente é a situação do Brasil, onde não existem – ou não existiam, até recentemente – essas duas culturas, distintas uma da outra. “Nossos” racistas estão sobretudo entre pessoas ignorantes.

O fato é que existe um Apartheid SOCIAL do ponto de vista prático, e ele é realmente deplorável, ainda que não existente institucionalmente, ou legalmente. Ele é um fato de nossa história, cujas lideranças políticas, ao longo do império escravocrata e de uma República indiferente à sorte dos antigos escravizados e seus descendentes. Em minha opinião, essa indiferença deveria ter sido institucionalmente superada, no final do Império e início da República, por uma política ativa de “integração do negro à sociedade de classes”, aproveitando um título de Florestan Fernandes. Mas essa solução já tinha sido pensada desde 1883 por Joaquim Nabuco, e NUNCA foi implementada, sendo que ela se aplicava não apenas aos negros libertos – e os já livres, em geral, que já eram maioria no momento da Abolição –, mas igualmente a todos os brancos pobres, ou a todos, indistintamente da cor ou da condição social: acesso à terra e promoção da educação de massas de qualidade. Isso nunca foi feito em nosso país, até o surgimento do paliativo das cotas raciais (e apenas parcialmente sociais).

 Agora, registre-se a mais recente afirmação entre nós de um assim chamado "afro-brasileirismo", Ele foi artificialmente importado tanto da cultura negra americana, quanto, sobretudo, da atitude hipócrita dos brancos americanos – que passaram das horríveis qualificações do nigger, depois ao coloured people, seguido pelo black people e, finalmente, a um inexistente African-American, aceito e disseminado pelos próprios negros americanos, que ficam buscando "raízes" num continente africano que só existe na imaginação de brancos e negros americanos –, e que precisa ser contextualizado, pois está sendo utilizado de maneira artificial entre nós.

Refiro-me ao fato de que está começando, ou se está pretendendo criar no Brasil uma SEGUNDA CULTURA, essa do afro-brasileirismo, que pode eventualmente nos levar a uma espécie de Apartheid CULTURAL, que não existia até aqui, e que considero especialmente danoso para a superação do racismo subsistente no Brasil. Estimo ser positiva a atitude dos negros e mestiços brasileiros de buscar expressar o orgulho de sua cor e de suas origens, assim como sua imensa, gigantesca contribuição – involuntária, por certo – para a construção desta nação, que nasceu mestiça e misturada, independentes dos preconceitos existentes e remanescente, assim como considero importante a luta que eles sustentam – que é a de muitos brancos também – contra as manifestações ainda numerosas de racismo individual, não institucional. Mas, não creio que o afro-brasileirismo seja uma solução as problemas dos racistas e do racismo subsistente no Brasil – já deslegitimados e em defensiva –, assim como as cotas raciais não são uma verdadeira solução ao problema do Apartheid SOCIAL, que se dirige a todos os pobres, atingindo com mais intensa acuidade os negros e mestiços.

Sou pela integração “racial” – isto é, mistura total de todos os povos aqui presentes –e pela integração cultural plena no Brasil, e não acredito que o afro-brasileirismo seja uma solução a ambos os problemas, do racismo e dos racistas, que possuem dimensões culturais, étnicas, antropológicas e psicológicas profundas, antes de serem essa imensa CHAGA SOCIAL Finalmente, também considero dúbio esse conceito de “racismo estrutural”, que me parece mais uma necessidade da militância antirracista negra de enfatizar o racismo real existente entre brasileiros, até mais do que uma situação de Apartheid institucional, que essa militância acredita existir. Não existe, a despeito de, na prática, termos manifestações racistas um pouco em todas as partes. 

Já escrevi há bastante tempo sobre a “cultura” do afro-brasileirismo –“Rumo a um novo apartheid? Sobre a ideologia afro-brasileira”, 2004; blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/09/a-ideologia-do-afrobrasileirismo-base.html) – e pretendo retornar a essa questão na primeira oportunidade. Meu temor é que ele venha a criar essa segunda cultura até aqui inexistente no Brasil. Abordarei o assunto em outra oportunidade. Vale!

 

Paulo Roberto de Almeida

Uberaba, 4053: 31 dezembro 2021, 2 p.

 

 

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

A “toca de coelho” das teorias conspiratórias - Marcos Rolim (Extraclasse)

 Marcos Rolim se pergunta, estarrecido: como foi possível, a tanta gente, nos EUA e no Brasil, chegar a esse estado de alienação completa, de total desvinculação da realidade? Trump, lá, Bolsovirus aqui, foram os grandes arautos das teorias conspiratórias, e com isso congregaram os doidos que antes estavam dispersos pela sociedade…

Paulo Roberto de Almeida 

OPINIÃO

A toca do coelho 

Alimentados por narrativas cada vez mais descompromissadas com a realidade, há centenas de milhares de bolsonaristas radicais para quem o mundo é uma grande armadilha
Por Marcos Rolim / Extraclasse, 12 de agosto de 2021 
 
 
 
 

“QAnon é o nome de uma teoria da conspiração da extrema-direita dos EUA,
que mobiliza milhões de pessoas em todo o mundo”

Foto: Elvert Barnes/ Visualhunt.com

Alice entrou na toca atrás dele, sem ao menos pensar em como é que sairia dali depois. A toca do coelho, no começo, alongava-se como um túnel, mas, de repente, abria-se como um poço, tão de repente que Alice não teve um segundo sequer para pensar em parar, antes de se ver caindo no que parecia ser um buraco muito fundo

O maior massacre em escolas nos Estados Unidos ocorreu em 2018 na Marjory Stonemam Douglas High School, na cidade de Parkland, na Flórida. O atirador, um ex-aluno de 19 anos que havia sido expulso da escola, usou um fuzil Smith & Weston M&P15, arma com a qual disparou durante seis minutos matando 17 pessoas e ferindo com gravidade outras 15. Nas redes sociais, o jovem manifestava sua adoração por armas, se relacionava com grupos neonazistas e supremacistas brancos e defendia o assassinato de mexicanos, negros e homossexuais.

O massacre produziu a campanha Never Again MSD por uma política de controle de armas de fogo nos EUA, organizada pelos sobreviventes. A campanha chegou ao seu ápice com uma grande marcha (March for our lives), que reuniu entre 1,2 milhão a 2 milhões de pessoas, um dos maiores protestos da história do país.

Um dos meninos sobreviventes da tragédia revelou, recentemente, que uma das piores coisas que ocorreu com ele foi, depois de tudo pelo que passou, ouvir de seu pai a “avaliação” de que a história do massacre não passava de uma farsa. “O fato de meu pai achar que o inferno absoluto pelo qual passamos, onde nove das vítimas estavam em nossa classe, foi um embuste piorou muito a situação. (…) Eu sequer contei isso aos demais, porque essa é uma dor que não quero que eles sintam”, explicou.  “Acho que meu pai ficou louco. Ele sempre foi muito conservador, mas agora QAnon consumiu sua vida a ponto de despedaçar nossa família”, disse. QAnon é o nome de uma teoria da conspiração da extrema-direita dos EUA, que mobiliza milhões de pessoas em todo o mundo.

A questão é: o que pode fazer com que alguém se desvincule de forma tão radical da realidade a ponto de acusar o próprio filho, sobrevivente de um massacre, de participar de um embuste?

Muitos dos integrantes da turba que invadiu o Capitólio em janeiro deste ano para tentar impedir a proclamação dos resultados das eleições presidenciais nos EUA usavam camisetas com a marca “Q”, sinalizando sua confiança em uma das narrativas mais alucinadas já criadas. Segundo QAnon, há uma cabala secreta formada por adoradores de satanás, pedófilos e canibais, que governam o mundo. Eles matariam bebês para injetar seu sangue e rejuvenescer. Donald Trump estaria empenhado em acabar com essa turma, razão pela qual enfrentou tanta oposição do “sistema” ou daquilo que QAnon chama de Deep State  (Estado profundo). A cabala seria liderada pelos comunistas, pela ONU e pelos democratas americanos, claro. Segundo QAnon, os massacres em escolas americanas seriam fake news inventadas pela cabala com o objetivo de acabar com o direito à posse e ao porte de armas de fogo. Quem tiver interesse nessa loucura pode conferir uma série documental na HBO, chamada “Q: Into The Storm”.

As pessoas que mergulharam na narrativa QAnon se perderam. Muitas, talvez, para sempre. Para todos os efeitos, é como se elas tivessem entrado na toca do coelho criada por Lewis Carroll em Alice no País das Maravilhas. Com a diferença de que Alice nunca abdicou de pensar e que, por isso, procurou o caminho de volta ao mundo, cansada das irracionalidades do “País das Maravilhas”.

No Brasil, estamos presenciando um fenômeno semelhante. Alimentados por narrativas cada vez mais descompromissadas com a realidade, há centenas de milhares de bolsonaristas radicais para quem o mundo é uma grande armadilha, em que poderosos interesses econômicos, alinhados com a “imprensa comunista”, com os políticos e o STF, impedem que o presidente governe. Para eles, a pandemia é um exagero, o coronavírus é uma estratégia da China para dominar o mundo, o aquecimento global é uma invenção da esquerda, as eleições em urna eletrônica – as mesmas que registram as eleições de Bolsonaro e de seus filhos há décadas – são fraudulentas; a ditadura militar não existiu, nem houve tortura, estupro de presas políticas, desaparecimento de cadáveres nos “anos de chumbo”. Para esses radicais, vacinas são um perigo e armas de fogo salvam vidas; a Amazônia não está em risco, racismo é “mimimi” e bandido bom é bandido do Centrão.

A partir desse lugar mágico em que confortam suas certezas, o núcleo mais duro do bolsonarismo se radicaliza crescentemente, inspirado por discursos fascistas disseminados pelas redes sociais, por aplicativos e nos “chans” (fóruns anônimos) na deep web, que estimulam a disseminação do ódio.

Uma das questões a resolver é: como desradicalizar pessoas? Temos algumas experiências internacionais, como o programa Exit Deutschland, liderado por Ingo Hasselbach, na Alemanha, inspirado em um programa sueco semelhante de desnazificação, além de metodologias que auxiliam pessoas envolvidas com violência política a deixarem suas organizações, como aquela proposta pela pesquisadora portuguesa Raquel da Silva, da Universidade de Birmingham (UK). O tema merece o estudo e, pela quantidade de pessoas que caíram “na toca do coelho”, teremos muito trabalho no Brasil.

PS – Agradeço à Sofia Rolim, minha filha, que me chamou atenção para a importância desse tema e me indicou a entrevista com o sobrevivente de Parkland.


terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Batalhas identitárias na academia americana acabam se disseminando pelo mundo: vão chegar aqui também, se já não chegaram..

100,000 Little Stalinists

A new book examines ‘The Tyranny of Virtue’ on campus and in the wider woke culture

by 
David Mikics
Tablet Magazine, September 25, 2019

This spring, the writer Laurie Scheck, who teaches at the New School, asked her class why filmmakers had titled their documentary on James Baldwin I am Not Your Negro even though Baldwin actually said, in his debate with William F. Buckley Jr., “I am not your nigger.” A (white) student complained that the teacher had used a forbidden word, and Scheck, who does not have tenure, was placed under investigation. She was cleared in August after the usual months-long Kafkaesque inquisition. Scheck didn’t get to see the charges against her and was banned from taking notes during meetings with her tormenters. The New School never apologized to her and did not say what it should have, that citing the words of an author during class is protected free speech.

So can a white professor directly quote an African American writer’s use of the word “nigger”? And will I, for that matter, get in trouble for writing that sentence? Baldwin is perhaps our greatest writer on race. Must he now be bowdlerized?

Scheck’s case happened too late to be included in Robert Boyers’ The Tyranny of Virtue: Identity, the Academy, and the Hunt for Political Heresies, but Boyers describes a bushel of similar craziness. He teaches literature at Skidmore College, where, one gathers from his book, some of the looniest SJW battles have been fought. Boyers is a child of the ’60s, when political action often meant something substantial, like protesting your government’s mass murder of Vietnamese civilians.

Boyers identifies as a liberal, the ever-embattled species he has valiantly championed for decades in the magazine he edits, Salmagundi. Scandalously, liberals love to debate political questions because they think the other side might have its reasons, too. “The most novel and radical principle of liberal politics,” writes the political theorist Stephen Holmes, is that “disagreement is a creative force” (Boyers cites the passage). While liberals locate disagreement not just between people but also within the self, fanatics—whether putatively on “the left” or “the right”—crush any ambivalence they might feel about their beliefs, and pretend that righteous motives are all that is needed to make the case for a political agenda.

These days fanaticism is winning the battle on the left just as it has on the right. The correct political positions, we are meant to think, are so obviously true that only a bad person could possibly experience doubt. Boyers’ funniest and most acute comments take aim at the fake consensus that has been imposed on our campus culture. One day, he says, you just can’t take it, and find “you’re unwilling to sit quietly, hands nicely folded, in the total cultural environment many of your friends and colleagues want to inhabit.” But whenever you say something mildly critical about the current orthodoxy, the others stiffen as if they’ve noticed a bad smell. “Suspicion is now the required posture toward those who would wish to walk about under no one’s surveillance,” Boyers judges, and he’s right. Too often, today’s colleges and universities are comfortable with difference only when it is skin deep.

Boyers, gadfly that he is, has bailed out of the left’s neo-Stalinist uniformity of opinion, which sees dissent as a source of infection that might injure vulnerable victim groups, for whom the enforcers of correct opinion speak like the Lorax, in the Dr. Seuss book, who unironically proclaimed “My name is the Lorax. I speak for the trees.” Boyers points out that current politically correct culture clings to two contradictory beliefs, determinism (you are your skin color, your class origin, your gender) and free choice (you should identify as whoever you feel compelled to be). Determinism usually has the upper hand, but not always. If you’re trans, and especially if you’re nonbinary, you can redefine yourself freely; if you’re white or black, you can’t.

Woke determinism, Boyers argues, enforces racial categories that we once recognized as oppressive but now seem to welcome, since they relieve us of the task of evaluating individuals. In the case of “white people,” the type is a cartoonish myth. Poor people in eastern Kentucky cannot use their whiteness as a gilded path to the Ivy League and Wall Street. But in some mystical way their sheer “whiteness” means, to the righteous left, that they are not truly oppressed. Intersectionality allows for the bewildering suggestion that sexism and patriarchy are examples of “white male privilege” and therefore not to be found in the African American neighborhoods of Chicago, or among Mexicans, Japanese, or Africans.

For the campus left, most of them white, “white privilege” has become a shibboleth. If you say it, you instantly gain the upper hand. For the woketivists, “being political” means condemning others as ignorant or malicious. What’s missing, Boyers urgently says, is “the agitation we want to feel in confronting the other—or in confronting what is opaque or impenetrable in ourselves.” The left can only do its part in making society better if it recognizes that being anti-racist, or pro-woman, or pro-immigrant doesn’t mean that you’ll do the right thing. Boyers pleads that “we want, or ought to want, not to love ourselves as if our ostensible motives—to be right, to be good, to be correct—guaranteed defensible outcomes.”

American Stalinist professors of the 1930s and ’40s had these same motives, and they supported a foreign tyrant. Rather than crushing capitalism, though, today’s campus activists have a much weirder goal, preventing vulnerable people, including themselves, from “having unwanted or disturbing thoughts.” Boyers describes a two-fold coercion: Campus activists both enforce silence and unleash torrential verbal abuse, often in the form of career-wrecking Twitter blitzkriegs. Students now mainly learn two things, “what not to ask,” and who they’re supposed to blame. Cowardly administrators, afraid for their own jobs, knuckle under to mob rule or even set the fires themselves, most disastrously at Oberlin.

The campus left’s “intolerance of ideas and persons felt to be divisive,” Boyers argues, is an effort to purge the self of anything that might spoil the unanimity and unquestioning adherence that is apparently now the goal of liberal education at some institutions. It’s a real question whether parents will continue to pay outrageous prices so that their children can be taught to censor themselves and others.

Censorship is both the goal and the means of the woke thought police. Boyers recounts his talk with a creative writing student who started a campaign to prevent the screening of a ’60s Italian comedy on the grounds that it might prove traumatic for her. Any film that shows abusive sexual relationships ought, in fact, to be banned from the classroom, the student implied, since it could trigger bad memories. So goodbye Hitchcock, Scorsese, and Kubrick. As for books, how will Shakespeare, Dostoevsky, or Dickens survive?

Such bargain-basement puritanism fails for several reasons. Sometimes an artist’s exploitation feeds insight. Boyers gives the example of Lucian Freud’s portraits of women: He strips them bare but also gives them vast penetrating power. And then, too, artists cannot tailor their aims to an audience’s political sensitivities. Last year one of my best students told me he was offended by Flannery O’Connor’s portrayal of a mentally disabled boy. But O’Connor, who was disabled herself, knew what she was doing; sometimes a wickedly one-dimensional character serves the writer’s purpose.

Trying to sanitize books, movies, and paintings by making them cloyingly life affirming or emotionally supportive is a hopeless task. Literature and culture are, by definition, a risk to your health, dangerous and disturbing. That’s why they’re good.

A large majority of Americans, including African Americans and other minority groups, think that political correctness is a problem. Those who disagree, a mere 8% of those surveyed, are disproportionately white and wealthy. The statistics I’ve quoted come from an article by George Packer, who reports on the new bias training required of all New York City school employees. The training program declares that “Perfectionism,” “Individualism,” and “Objectivity” are forms of “White Supremacy Culture,” and urges teachers to disrupt these insidious values. Any thinking person will see instantly that New York City’s bias training flatly contradicts what we require public schools to do: empower individual schoolchildren while also persuading them that wish-fulfillment differs from reality.




Boyers has given us a crucial lesson in the sweeping anti-liberalism of present-day leftists. Their will to enforce agreement with whatever one is supposed to think has spread far beyond the academy, and their loyalty tests get more absurd every day, as the laundry list of progressive positions becomes ever longer and more incoherent. Progressives have eagerly provided the muscle for conformism: Either you’re totally onboard, or else you’re the enemy, an unforgivable doubting soul.


quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Ainda uma mini-reflexão sobre o racismo e o nacionalismo — Paulo Roberto de Almeida

 Ainda uma mini-reflexão sobre o racismo e o nacionalismo 

Paulo Roberto de Almeida


Eu não diria que o racismo representa o que há de pior no ser humano, como acreditam alguns: a sensação de desconforto com a alteridade é praticamente natural na “raça” humana: deve ter existido no Cro-Magnon ao se confrontar com o Neandertal, se por acaso isso ocorreu. O racismo vem daí: é quase incontrolável nos grupos humanos diversificados.

Isto, evidentemente, não é uma justificativa para o racismo; apenas um alerta para se evitar simplificações indevidas com respeito a um dos fenômenos mais “comuns” na história humana.

Progressos civilizatórios podem minimizar os sentimentos racistas de pessoas simples (e até de algumas aparentemente “sofisticadas”), mas eles não evitam que tais sentimentos (até inconscientes) aflorem e floresçam em determinadas circunstâncias. O racismo que coexistiu e acompanhou o inconsciente alemão do romantismo nacionalista do Das Vaterlands, Das Volk, sem falar do Der Führer, é uma prova disso, numa sociedade que supostamente conviveu ou apreciou Kant, Goethe e Beethoven.

A tolerância “budista”, ou cristã, que prega a fraternidade e o amor ao próximo, qualquer que seja ele, aparece depois de alguma reflexão sobre o sentido da vida, e do respeito pela vida, costumes, aparência, linguagem e religião dos outros, diferentes.

O racismo pode vir junto com as formas mais canhestras de nacionalismo exclusivista, como no famoso Deutschland über Alles.

Aliás, se parece muito com Make America Great Again e com o “Brasil acima de tudo”, não é mesmo?

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 26/11/2020


Mini-reflexão sobre as agruras existenciais de acadêmicos sobre as “teorias” do racismo e sua relação com o “capitalismo” - Paulo Roberto de Almeida

 Mini-reflexão sobre as agruras existenciais de acadêmicos sobre as “teorias” do racismo e sua relação com o “capitalismo”

Paulo Roberto de Almeida


Debate mais ou menos inútil para saber se as teorias racistas precedem ou não o “capitalismo”, esse superlativo conceitual que nem era usado por Marx — que preferia falar em modo de produção burguês —, mas que enche a boca de acadêmicos e de jornalistas. 

Sempre existiu racismo, em todos os tempos, latitudes e longitudes; se existiam teorias ou não, isso é coisa de acadêmicos. Fatos reais precedem teorias; se as teorias existem, pré-existem ou subsistem, isso não afeta minimamente a existência do racismo, ou dos fatos em seu redor.

Apenas acadêmicos precisam das muletas mentais das teorias para entenderem a realidade. Os historiadores mais sensatos preferem primeiro investigar os fatos: se o fazem com a ajuda das muletas mentais ou não, isso não afeta os fatos, desde que precisamente e honestamente expostos.

Em tempo: Darwin nunca teve nenhuma teoria racista; ele apenas andava atrás dos fatos, e só se angustiava com o fato desses fatos contradizerem o seu livro sagrado, daí a demora em expor a sua teoria da seleção natural. Só se decidiu pela ameaça de concorrente que chegou às mesmas conclusões por outras vias.

Quem construiu teorias equivocadas na sequência foram Gobineau e Spencer, dois acadêmicos equivocados, mas “convenientes” para os manipuladores que os seguiram, criando teorias estapafúrdias no seu seguimento. Rosenberg e Hitler, por exemplo, exageraram na dose, provocando uma das maiores tragédias, senão a maior, da Humanidade. Não eram teóricos, nem acadêmicos, mas seduziram muitos acadêmicos e jornalistas, assim como o populacho em geral.

Os fatos continuaram existindo, independentemente dos equívocos conceituais e das falcatruas monstruosas criadas em torno deles.

A teoria da seleção natural, aliás, continua subsistindo, a despeito da bestialidade do criacionismo, do desenho inteligente e de outras bobagens inventadas depois, que nem são coisas sustentáveis, de verdadeiros acadêmicos, e sim “produções” mambembes de fundamentalistas religiosos. 

Darwin morreu na sua religião, embora um pouco angustiado com a sua “descoberta” de fatos. Ele não os inventou; apenas expôs, com base na sua atenta observação da realidade.

De vez em quando é preciso colocar ordem na confusão mental.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 26/11/2020

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Thomas Sowell's most recent book: Discrimination and Disparities (Hoover)


Thomas Sowell on the Origins of Economic Disparities


Recorded on April 1, 2019 Is discrimination the reason behind economic inequality in the United States? Thomas Sowell dismisses that question with a newly revised edition of his book Discrimination and Disparities. He sits down with Peter Robinson to discuss the long history of disparities among humans around the world and throughout time. He argues that discrimination has significantly less of a role to play in inequality than contemporary politicians give it credit for, and that something as incontrovertible as birth order of children has a more significant and statistically higher impact on success than discrimination. He discusses why parental attention is the most important aspect of a child’s intellectual development. Sowell goes on to break down different minority groups around the world who went on to have more economic and political success than their majority counterparts, such as the Indians in East Africa, Jewish people in Eastern Europe, Cubans in the United States, and the Chinese in Malaysia. He argues that there is an underlying assumption that if discrimination was absent equality would prevail, which historically has been proven wrong. Sowell goes on to discuss changes in crime rates and poverty since the expansion of US welfare programs in the 1960s and how this has had a huge impact on the success of African Americans. He talks about his own experience growing up in New York, how housing projects used to be considered a positive place to live, and his experience as the first member of his family to enter the seventh grade. Robinson asks Sowell his thoughts on the case for reparations currently being made in Congress, and Sowell presents an argument about why a plan for reparations is not only illogical but also impossible to implement, with so many US citizens’ ancestors arriving long after the Civil War. He also explains that slavery was common throughout the known world for thousands of years and that abolition movements didn’t begin anywhere in the world until the late 18th century. He reminds us that the United States was not the only country guilty of participating in slavery and yet is the only country debating reparations. For further information: https://www.hoover.org/profiles/thoma... https://www.hoover.org/publications/u... Interested in exclusive Uncommon Knowledge content? Check out Uncommon Knowledge on social media! Facebook: https://www.facebook.com/UncKnowledge/ Twitter: https://www.twitter.com/UncKnowledge/ Instagram: https://instagram.com/uncommon_knowle...


Thomas Sowell

Rose and Milton Friedman Senior Fellow on Public Policy

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Relato de um linchamento: a America profunda, racista, se manifesta - Delanceyplace

Today's selection -- from Atticus Finch: The Biography by Joseph Crespino.

In 1934, A.C. Lee, the father of Nelle Harper Lee and the inspiration for her 1960 novel To Kill a Mockingbird, learned about lynch mobs:

"The danger of the lynch mob and the threat it posed to civilized so­ciety was no abstraction for A. C. Lee. One of the most gruesome mob lynchings in the entire history of the practice hit close to home for Lee, lit­erally. It took place in 1934 outside Marianna, Florida, the county where A. C. Lee was raised, where his mother and father were buried, and where all of his brothers and sisters still lived. In a scene similar to the one that Harper Lee would imagine in Mockingbird, a group of men traveling in four or five cars abducted a black prisoner from the jail in Brewton, Al­abama, just forty miles south of Monroeville near the Florida state line. The black man, Claude Neal, was accused of having raped and murdered a white woman, Lola Cannidy, in a rural area in Jackson County, Flor­ida. Neal, along with his mother and aunt, was initially taken to the jail in the nearby town of Chipley, A. C. Lee's hometown. Neal confessed to the crime, although investigators would later suspect that he had been coerced. In a detail that was similar to how in Mockingbird Tom Robinson testified that he had encountered Mayella Ewell on the day of the alleged rape, Claude Neal told how he had been walking along the fenced border of the Cannidy farm when Lola Cannidy saw him and asked if he would come across the fence and clean out a hog trough that she had been strug­gling with (Mayella Ewell asks Tom Robinson if he would bust up a chif­farobe for her).

"The men who took Claude Neal from the jail in Brewton carried him back to the Cannidy family farm outside Marianna. A crowd estimated at several thousand people had gathered there, stoked by radio announce­ments and newspaper headlines earlier in the day. The horde became so large and unruly that Neal's abductors worried that they couldn't control it. So they took Neal to an alternative location and murdered him, but not before subjecting him to two hours of sadistic torture, including castration, forced autocannibalism, stabbing, burning with hot irons, and dismember­ment of toes and fingers. They tied Neal's body to the back of a car and dragged it to the Cannidy family home, where the remnants of the mob performed their own barbaric acts. Eventually Neal's mutilated corpse was hung from a tree on the northeast corner of the courthouse square in Marianna.

 
"The Monroe Journal ran a story about the grand jury investigation into Neal's abduction from the Brewton jail, though it included none of the sickening details of the lynching. That was the first news about the lynching to appear in the Journal, yet it was unlikely lo have been the first time that  A. C. Lee had heard of the incident. The Monroe Journal office received wire reports from the major news agencies. On October 21, the Associated Press sent a dispatch from Lee's hometown of Chipley that reported that hundreds of men swarmed the streets all night threat­ening to destroy the jail if the sheriff didn't hand over Neal and the other prisoners.

"Or perhaps Lee learned directly from his brothers or sisters about the mayhem in Marianna the day after the lynching. Neal's body was cut down from the tree on the courthouse lawn early on a Saturday morning. The rest of that clay, a busy Saturday when rural whites and blacks customarily came into town to shop and do business, was, according to one local white man, 'a day of terror and madness, never to be forgotten by anyone.' Mobs of whites began attacking blacks around the town square who were there buying or selling goods, or who worked for white store owners. Marianna's mayor searched for policemen but couldn't find any; apparently members of the mob had already found them and threatened them with reprisals if they came to the square. The mayor attempted to deputize special officers, but could find no volunteers. One black man who was assaulted on a side­walk raced across the street into the courthouse where a group of friendly white men, armed with a machine gun, offered protection for him and an­other black man. The mob attacked a black porter helping a customer. The porter had to slash his way through the crowd with a knife to make it back to his employer's store, where the owner locked the door and held the mob"
Sign Up Here
Atticus Finch: The Biography
Author: Joseph Crespino
Publisher: Basic Books
Copyright 1995 by Dava Sobel
Pages: 82-86
If you wish to read further:  Click for Purchase Options