Um dos mais propalados mitos -- ou seria mentira? -- da era lulopetista acaba de ruir: a de que suas políticas teriam conduzido a uma redução da alta concentração de renda no Brasil.
Nem poderia.
A despeito das alegações -- fabricadas, mentirosas -- todas as políticas operaram sempre em favor dos mais ricos, junto aos quais a organização criminosa ia buscar o dinheiro para o seu próprio enriquecimento e para montar um gigantesco esquema de corrução para garantir o seu monopólio de poder.
Paulo Roberto de Almeida
Desigualdade de renda no
Brasil não caiu entre 2001 e 2015, aponta estudo
Folha de S.Paulo, 9 de setembro de 2017
A desigualdade de renda no
Brasil não caiu entre 2001 e 2015 e permanece em níveis "chocantes",
de acordo com um estudo feito pelo World Wealth and Income Database, instituto
de pesquisa codirigido pelo economista Thomas Piketty, conhecido por seus
estudos sobre desigualdade com a obra "O Capital no Século 21".
Segundo a pesquisa, os 10% mais ricos da população aumentaram sua fatia na
renda nacional de 54% para 55%, enquanto os 50% mais pobres ampliaram sua
participação de 11% para 12% no período. Esse crescimento foi feito às custas
de uma queda da participação de dois pontos percentuais dos 40% que estão entre
os dois extremos (de 34% para 32%). O crescimento econômico observado no Brasil
no período teve pouco impacto na redução da desigualdade porque foi capturado
principalmente pelos 10% mais ricos, que ficaram com 61% da expansão observada
no período. Já a metade mais pobre da população foi beneficiada com apenas 18%
desses ganhos. "Em resumo, a desigualdade total de renda no Brasil parece
ser muito resiliente à mudança, ao menos no médio prazo, principalmente em
razão da extrema concentração de capital e seus fluxos de renda", conclui
o estudo.
O estudo do World Wealth and Income Database, assinado pelo
economista Marc Morgan, vai na contramão de indicadores como o índice de Gini,
que mostra a desigualdade, o qual indicou que houve uma melhora do cenário no
Brasil, atribuída às políticas de redistribuição de renda dos governos do PT,
como o Bolsa Família, e à política de valorização do salário mínimo, cujo valor
real aumentou cerca de 50% no período. Com base nesses indicadores, os governos
Lula e Dilma defenderam que houve redução na desigualdade durante suas gestões
– o que o estudo questiona.
Os resultados mais recentes estão em linha com os
observados pelos pesquisadores Marcelo Medeiros, Pedro Souza e Fábio de Castro,
da Universidade de Brasília, que identificaram uma estabilidade no nível de
desigualdade entre 2006 e 2012. "A redistribuição que houve nos anos 2000
foi sobretudo na base da pirâmide, pelo aumento do salário dos trabalhadores
menos qualificado por meio da valorização do salário mínimo e demanda maior por
esses trabalhadores nos setores de serviços e construção naqueles anos",
diz a economista da USP e colunista da Folha Laura Carvalho.
"Os mais
ricos continuaram se apropriando de uma parcela muitíssimo elevada da renda,
que pode ser explicada pela alta concentração de riqueza financeira e não
financeira no Brasil, além dos juros altos", completa.
Segundo o estudo, a
participação do Bolsa Família e do Benefício da Prestação Continuada (BPC) na
renda total nacional foi de 1%, em média, nesses 15 anos. Apesar da
contribuição total pequena, esses programas elevaram a taxa de crescimento da
fatia dos 50% mais pobres de 9% para 21%.
Uma das explicações para a discrepância é a metodologia adotada.
O estudo do World Wealth and Income Database leva em conta dados da Receita
Federal e das contas nacionais no cálculo, o que minimiza o problema de
pesquisas com base em declarações de entrevistados, como a Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (Pnad, do IBGE), nas quais os mais ricos tendem a
omitir sua renda. Esther Dweck, assessora econômica do Ministério do
Planejamento entre 2011 e 2016, afirma que não é possível medir se a situação
de quem estava abaixo da linha da pobreza melhorou pelo estudo. "A renda
dos mais miseráveis não é medida pelo Imposto de Renda, porque eles não
declaram. Esse é um estudo que capta bem a situação do 1%, que não ganha com
trabalho." "De fato, pela Pnad, os números pareciam melhores.
O
estudo mostra que, no Brasil, não conseguimos fazer uma política de
redistribuição na riqueza de forma mais estruturante", diz Dweck. Assim, o
levantamento chegou a uma média de renda anual de US$ 541 mil (R$ 1,6 milhão)
entre o 1% mais rico da população (cerca de 1,4 milhão de pessoas) em 2015
—superior à renda média do top 1% francês (US$ 450 mil a US$ 500 mil).
Ao mesmo
tempo, a renda média dos 90% mais pobres no Brasil equivale à média dos 20%
mais pobres da França. Os mais ricos no Brasil têm, então, uma renda superior
aos mais ricos da França, enquanto a maioria dos brasileiros têm renda
equivalente aos franceses mais pobres. Para Carvalho, são os dados comparativos
com outros países os resultados mais chocantes da pesquisa.