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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quarta-feira, 12 de julho de 2017

A desigualdade de renda no Brasil tem causas provadas, pouco sabidas - Ricardo Bergamini

Eonomistas de universidades federais vivem se escandalizando com a desigualdade de renda no Brasil, como se isso fosse algo alheio à sua própria condição.
Ricardo Bermini restabelece os dados precisos dessa equação inaceitável para qualquer trabalhador, ou empresário, do setor privado, que são os que produzem riquezas, e sustentam toda essa patota de privilegiados (entre os quais estou incluído, mas no antepenúltimo lugar, com apenas 41% dos ganhos dos mandarins do Banco Central).
Paulo Roberto de Almeida

Despesa Média/Mês com Servidores Federais da União (Ativos, Aposentados e Pensionistas)- Fonte MP

Base: Ano de 2016 (Média de 12 meses)

Poderes da União

R$ 1,00
Índice

Banco Central do Brasil

20.534,00
100,00

Legislativo

19.465,00
94,79
Judiciário
18.086,00
88,08
Ministério Público da União
16.532,00
8051
Empresas Públicas
12.008,00
58,48

Sociedade de Economia Mista

9.934,00
48,38

Executivo Civil

8.535,00
41,56
Executivo Militar
6.470,00
31,51

*FCDF

5.693,00
27,72
*FCDF – Fundo Constitucional do Distrito Federal.
Comentários:
1 – Dentro do serviço público federal há uma variação na média salarial entre o maior e o menor salário de 72,28%.
2 – Em 2016 o salário médio/mês dos trabalhadores formais das empresas privadas foi de R$ 2.052,00 (IBGE), ou seja: 90,01% menor do que o maior salário médio dos servidores da União e 63,95% menor do que o menor salário médio dos servidores da União. 
3 – Em 2016 o salário médio/mês dos aposentados e pensionistas do Regime Geral de Previdência Social (INSS) foi de R$ 1.285,80 (STN), ou seja: 93,74% menor do que o maior salário médio dos servidores da União e 77,41% menor do que o menor salário médio dos servidores da União. 
*FCDF – Gastos de pessoal com saúde, educação e segurança do Distrito Federal são de responsabilidade da União.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Piketty errou em sua tese sobre a concentração de renda - Carlos Goes


* UMA análise importante e bastante séria sobre efeitos da globalização , da transformação tecnológica e modificação da estratificação de renda, que Piketti não levou em consideração em seu longo livro...
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Piketty errado em sua tese sobre a concentração de renda
Carlos Goes 
Há cerca de dois anos, o francês Thomas Piketty abalou o mundo político ao publicar um tomo de 700 páginas sobre história e teoria econômicas – o que é algo que não acontece todos os dias. O livro de Piketty traz uma interessante explicação sobre as causas da desigualdade de renda e riqueza – o que é a razão de sua popularidade, já que esse é um tema central da política contemporânea. Só há um problema: apesar de interessante, não há nenhuma evidência empírica para corroborar a tese de Piketty, de acordo com os resultados de um novo estudo que eu acabo de publicar como um texto para discussão do FMI.

Qual é a tese de Piketty?

Eu comprei o livro de Piketty no dia em que ele foi lançado nos Estados Unidos. Pouco tempo depois, escrevi uma das primeira resenhas em português sobre o livro do francês. Desde então, eu já tentava desfazer muitos preconceitos políticos que se disseminaram sobre sua obra. Piketty é um economista sério e respeitado, que já publicou nos mais importantes periódicos científicos. Muito provavelmente, sua obra vai continuar a ser influente durante muito tempo – e suas bases de dados sobre concentração da renda e da riqueza são importantíssimas contribuições para a ciência econômica.
Para lançar as bases de sua teoria, Piketty analisa como a renda nacional é divida entre dois insumos essenciais ao processo produtivo: capital e trabalho (chamados em economês de “fatores de produção”). Essa divisão entre capital e trabalho não é, como pode soar à primeira vista, algo tipicamente marxista. É uma tradição que se estende desde os economistas clássicos e é também algo comum em qualquer curso de graduação economia (para os curiosos, ver aqui).
Resumidamente, Piketty diz que quando a diferença entre os retornos (rendimentos) ao investimento de capital (r) e a taxa de crescimento econômico (g) aumenta, a participação do capital na renda nacional deve aumentar. Isso significa que capitalistas se apropriariam de uma parte maior da renda nacional enquanto trabalhadores ficariam com uma parcela menor. Além disso, como a renda do capital (alugueis, juros, dividendos, etc.) é distribuída de forma mais desigual do que a renda do trabalho (salários), ele diz que o aumento da participação do capital na renda nacional deve levar a um aumento da desigualdade total de renda – e, ao longo do tempo, essa desigualdade de renda resultaria numa desigualdade de riqueza.

Na prática a teoria é outra?

Essas hipóteses de Piketty (de que a participação do capital e a desigualdade aumentam quando rg aumenta) são plausíveis. São também hipóteses sobre a realidade empírica – e, por isso, é possível usar dados empíricos para testar essas hipóteses.
Acontece que, embora traga muitos dados, o livro de Piketty não traz nenhum teste formal para suas hipóteses. Na realidade, ele traz somente algumas correlações aparentes que o leitor pode visualizar em alguns gráficos de linha. Foi para preencher essa lacuna que eu escrevi esse novo estudo. Ele se serve precisamente a fazer um teste empírico robusto da tese de Piketty.
Se as hipóteses de Piketty fossem corretas, seria de se esperar uma relação positiva entre a diferença r-g e as participações do capital e dos mais ricos na renda nacional. Mas, ao se analisar os dados de 19 países ricos numa amostra que se estende por mais de 30 anos, essa correlação simplesmente não existe. Ela é próxima de zero, como observado nos gráficos abaixo.
chart1
Obviamente, ausência de correlação não é ausência de causalidade. Pode ser que seja necessário passar algum tempo para que a relação seja observada. Por isso, o estudo utilizou também uma técnica estatística avançada (chamada no jargão técnico de econometria de “Paineis de Auto-Regressões Vetoriais Estruturais com Dinâmicas Heterogêneas”) e concluiu que, mesmo depois de controlar por outros fatores, quando há um aumento em r-g, não se observa uma resposta positiva na participação do capital na renda nacional. Isso acontece porque Piketty erroneamente assume que a taxa de poupança (a parte da renda das pessoas que elas não consomem e na verdade escolhem investir) é relativamente fixa ao longo do tempo, enquanto empiricamente ela tende a flutuar junto com a taxa de crescimento econômico. Como a taxa de poupança cai – ou seja, os capitalistas investem menos – quando r-g sobe, não se observa o aumento da participação do capital na renda nacional previsto pelo francês.
Isso é importante porque Piketty enfatiza que esse aumento da participação do capital é a condição necessária para o futuro aumento da desigualdade. Ele diz que à medida que capitalistas possuem uma proporção maior da renda nacional, a desigualdade de renda aumenta. Como o aumento da participação do capital não é observado empiricamente quando r-g aumenta, tampouco há uma transmissão desse fenômeno para a desigualdade de renda. Na verdade, segundo os resultados do estudo, em mais de 75% dos casos, quando r-gaumentou a desigualdade de renda caiu – o contrário do previsto por Piketty.
Como em qualquer exercício científico, é possível que novos dados levem a novas conclusões. Contudo, o que esses resultados indicam é que os melhores dados disponíveis contemporaneamente – e eu utilizei os dados compilados pelo próprio Piketty em sua World Top Incomes Database – não trazem nenhuma evidência empírica para corroborar a tese de Piketty.

O que isso significa no mundo real?

Essa conclusão tem duas implicações importantes para o mundo real.
A primeira é que o aumento na desigualdade de renda observada nos países ricos não tem muito a ver com essa dinâmica que Piketty descreve. Na verdade,como ele mesmo reconheceu em um artigo publicado após Capital no Século XXI, a maior parte da desigualdade de renda observada nos pa[ises ricos é explicada por um aumento na desigualdade nos salários dos trabalhadores. A diferença que importa, portanto, não é entre capitalistas e assalariados (entre o dono da empresa e um empregado), mas sim entre diferentes tipos de assalariados (um advogado, banqueiro ou executivo que ganha muito mais dinheiro do que um atendente de supermercado).
E o que explica esse aumento na desigualdade da renda do trabalho são diversos fatores que nada tem a ver com a tese de Piketty. Eles incluem alguns fenômenos notadamente “ruins”, como um aumento excessivo na diferença entre os salários de pessoas com ensino superior e ensino médiouma perda do poder de barganha dos sindicatos; e a capacidade dos mais ricos em conseguir comprar políticos para tornar as regulações mais favoráveis para si. Mas a desigualdade também veio como efeito colateral de algumas coisas que são geralmente consideradas “boas”, como o aumento da participação feminina na força de trabalho e o aumento no grau de inovação tecnológica no período da globalização. Ou seja, há mais nuances para essa história do que a narrativa original de Piketty fez parecer.
A segunda implicação dos resultados é que não existe uma “lei de ferro” das economias de mercado que as faz tender à desigualdade extrema. Não há nenhuma evidência empírica de que as previsões catastróficas de Piketty em relação à desigualdade devem se materializar.
Saber se Piketty está certo é muito importante não somente para a economia como uma ciência da ação humana, mas também para saber o que devemos fazer para combater essa crescente desigualdade. Sem saber quais são as causas da desigualdade, nós podemos acabar desenhando políticas públicas erradas. Achar que a desigualdade é inerente à economia de mercado pode nos levar a, na ânsia de combatê-la, matar os próprios mecanismos de inovação e redução da pobreza que da dinâmica de mercado.
Como diz o especialista em desigualdade global Branko Milanovic, desigualdade é como colesterol: há uma boa e outra ruim. A boa é aquela que deriva dos talentos, esforços e inventividade das pessoas e gera bons incentivos. Quando alguém cria valor para os outros, essa pessoa deve ser recompensada por isso — porque isso gera dinamismo econômico, inovação e menos pobreza. A ruim é aquela de uma sociedade estamental — de comando e controle —, onde as pessoas não enriquecem por causa de sua inventividade ou pelo valor que geram para à sociedade, mas pelos privilégios que têm junto aos poderosos.
Temos de corrigir as desigualdades ruins que existem no mundo — e elas existem em demasia. Mas, para isso, precisamos saber quais as causas fundamentais dessa desigualdade. E o que as evidências empíricas mostram é que elas não são causadas pelos fenômenos que Piketty relata.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Um debate sobre a concentracao de renda e o distributivismo estatal - neste blog

Permito-me destacar, arrancando-os das notas de rodapé que os tornam praticamente ilisíveis para a maior parte dos leitores, dois comentários que recebi a propósito desta minha postagem anterior:

Desigualdade: desaba a lenda da desconcentração
quinta-feira, 25 de setembro

Desigualdade: desaba a lenda da desconcentracao - Clovis Ross - See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/desigualdade-desaba-lenda-da.html?google_comment_id=z12tf1grtwacfhusv22jul3hxwvkvrjet&google_view_type#gpluscomments

Desigualdade: desaba a lenda da desconcentracao - Clovis Ross - See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/desigualdade-desaba-lenda-da.html?google_comment_id=z12tf1grtwacfhusv22jul3hxwvkvrjet&google_view_type#gpluscomments

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Desigualdade: desaba a lenda da desconcentracao - Clovis Rossi

- See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/desigualdade-desaba-lenda-da.html?google_comment_id=z12tf1grtwacfhusv22jul3hxwvkvrjet&google_view_type#gpluscomments
Finalizo transcrevendo a minha própria resposta-comentário a um dos interlocutores:

Euclides Vega

1 dia atrás  -  Compartilhada publicamente
 
Professor, a notícia não revela que a politica distributiva falhou, mas, no máximo, que ela está chegando ao seu limite. Alem disso, revela uma incompetência do atual governo em aplicar a politica programática do governo anterior


Pedro Cunha

4 horas atrás  -  Compartilhada publicamente
 
Problema sério na pesquisa original que motivou a matéria jornalística. A base de dados do IR não é representativa da população brasileira. Pobre não declara imposto de renda, logo não está na base de dados! Houve queda sim, e o motivo foi que o pobre melhorou de vida, já o rico não piorou.
  

Minha resposta:
Paulo Roberto de Almeida:

Pedro Cunha,
Agradeço pelo comentário, o que mais uma vez nos confirma a fiabilidade muito relativa desses estudos sobre desigualdade, concentração da renda, com base nas metodologias de indicadores (Gini, Theil, etc) e nas pesquisas tipo PNAD ou via IRPF, como criticado. Como se trata de um tema sensível politicamente, ele se presta a vieses metodologicos de diferentes naturezas, e por isso caberia um trabalho multidisplinar, por um centro de pesquisas econômicas, utilizando abordagens complementares para séries históricas mais consistentes nos últimos 20 ou 30 anos.
Parece visível que houve uma desconcentração nos últimos 10 ou 15 anos, mas caberia determinar exatamente os fatores, os mecanismos e os impactos setoriais e sobre a inserção ocupacional das várias categorias.
Uma coisa é certa: existe uma tendência, em todas as esferas e estratos sociais, a subdeclarar e a minimizar a renda monetária e os ativos de diversis tipos, inclusive porque com um Estado fascista como o nosso todos têm medo de declarar todos os seus rendimentos, inclusive os não monetários.
Em todo caso, tenho por princípio sempre desconfiar de dados e análises de governos e de certos acadêmicos. Aí sobra muito pouca gente, não é mesmo: existem consultorias empresarias (tipo McKinsey) que não teriam interesse em deformar os dados. Orgãos multilaterais (tipo PNUD) ou plurilaterais, como OCDE, também poderiam ser considerados relativamente isentos,  mas os vieses políticos e burocráticos sempre existem.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 26/09/2014

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Desigualdade: desaba a lenda da desconcentracao - Clovis Rossi

Os dados registrados num estudo, que ainda preciso conferir, confirmam que a
desigualdade na distribuição de renda, que sempre foi escandalosa no Brasil, tornou-se, ao contrário do proclamado pelo governo, maior e mais profunda justamente no período do distributivismo companheiro. Dava para desconfiar: eles deram umas migalhas para os pobres e muito mais para eles mesmos e para a burguesia e os mandarins do Estado. 

Leiam a matéria abaixo:

E, apesar de que a PNAD não constitui exatamente um instrumento ideal para a medição da desigualde, como demonstra o estudo citado na matéria acima, outro estudo mostra que a pobreza até aumentou. Acabaram os motivos para as mentiras companheiras ao que parece.
Paulo Roberto de Almeida

Com correção na Pnad, pobreza cai e miséria aumenta

Parcela de brasileiros miseráveis aumentou em 409 mil pessoas
Apesar de os dados da Pnad 2013 corrigidos pelo IBGE mostrarem a continuidade do processo de queda da desigualdade, a redução da pobreza ocorreu em ritmo menor e o contingente de miseráveis teve inclusive um leve aumento no ano passado. Depois de o instituto reconhecer que superestimou os dados das regiões metropolitanas de sete estados com impacto no resultado global de concentração de renda, os pesquisadores do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) Andrezza Rosalém e Samuel Franco refizeram os cálculos e constataram um cenário levemente pior.
A pobreza continuou cedendo no ano passado, mas num ritmo mais lento — menos que a metade verificada entre 2003 e 2013. Ao todo, 1,644 milhão deixaram o contingente. De acordo com os dois pesquisadores, 17% da população brasileira estava abaixo da linha de pobreza (de R$ 248 per capita) ante 18% do ano anterior. A pesquisa anterior mostrava um percentual de 16,9%. Já os miseráveis eram 6% da população brasileira, contra 5,8% de 2012.
Antes da correção da Pnad, já tinha mostrado aumento dessa parcela, mas em 0,1 ponto percentual. A despeito da ampliação das políticas de transferência de renda para esse público, com o Brasil Carinhoso (que complementa a renda dos beneficiários do Bolsa Família), houve o acréscimo de 409 mil pessoas nesse grupo. Eles levam em conta desigualdade medida pela renda domiciliar per capita, ao contrário do instituto.
Segundo Andrezza, do Iets, apesar de o Gini apontar queda, houve uma piora qualitativa. Os 10% mais pobres tiveram queda de 2,5% nos rendimentos ao contrário das divulgações passadas, em consequência da deterioração do mercado de trabalho, de um lado e da corroção da inflação, de outro.
— O mercado de trabalho tem um efeito não tão favorável para os mais pobres, que formam uma parcela menos escolarizada. O ideal é que o Gini melhore quando se aproximam as pontas. Esse modelo não está funcionando tanto. É uma piora qualitativa. Chegamos a um nível de se pensar num passo dois, analisar as políticas ofertadas para essa população — afirma Andrezza.
Consultado, o IBGE disse que não se pronunciaria sobre as declarações de ministros e da presidente a respeito da permanência da presidente Wasmália Bivar.
Paulo Roberto de Almeida Paulo Roberto de Almeida p

terça-feira, 27 de maio de 2014

Desigualdade renda, concentracao de riqueza: Piketty novamente contestado pelos seus dados errados (Wall Street Journal)

Morning Editorial Report

Piketty's Numbers Still Don't Add Up

More errors exposed in a popular book on income inequality, plus ObamaCare costs unions and carbon regulation will cost everyone.

The Wall Street Journal, May 27, 2014
 
MORE FLAWS EXPOSED IN LEFTIST BEST-SELLER
In a recent Journal op-ed, Harvard economist Martin Feldstein ticked off a series of errors in Thomas Piketty's "Capital in the Twenty-First Century." Now the UK's Financial Times also sees "data problems and errors" in the popular screed that has been lauded by economists including Paul Krugman.
After reviewing Mr. Piketty's work, the Financial Times finds "unexplained entries in his spreadsheets, cherry picking data sources and transcription errors. Taken together, these problems seem to undermine his conclusion that wealth inequality is rising in the US and in Europe."
Two weeks ago, Mr. Feldstein noted a series of fundamental errors, including those related to Mr. Piketty's practice of comparing the incomes of top earners with total national income. "National income excludes the value of government transfer payments including Social Security, health benefits and food stamps that are a large and growing part of the personal incomes of low- and middle-income households."
Mr. Feldstein wrote that "Mr. Piketty's theoretical analysis starts with the correct fact that the rate of return on capital...exceeds the rate of growth of the economy. He then jumps to the false conclusion that this difference between the rate of return and the rate of growth leads through time to an ever-increasing inequality of wealth and of income unless the process is interrupted by depression, war or confiscatory taxation."
"[Mr. Piketty's] conclusion about ever-increasing inequality could be correct if people lived forever. But they don't," observed the Harvard professor. "The result is that total wealth grows over time roughly in proportion to total income. Since 1960, the Federal Reserve flow-of-funds data report that real total household wealth in the U.S. has grown at 3.2% a year while the real total personal income calculated by the Department of Commerce grew at 3.3%."

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Piketty mandado para o chuveiro: Aaron Hedlund desmonta a tese da r > g (acumulacao de riqueza anda mais rapido que o crescimento da economia)

Mais uma contribuição para o debate (distorcido) sobre se r > g, ou seja, se a riqueza (dos donos do capital) anda mais rapidamente do que o crescimento da economia, como pretende Thomas Piketty com sua tese sobre o aumento das desigualdades (e sua "correção" pelo Estado social-democrata), ou se tudo isso é apenas má economia, como afirma Aaron Hedlund, em correspondência ao blogueiro de Marginal Revolution, Tyler Cowen.
Devo esta a meu amigo André Eiras.
Paulo Roberto de Almeida 

Aaron Hedlund on Piketty

by  on May 2, 2014 at 3:32 am in BooksEconomics | Permalink
He writes me in an email:
I feel comfortable saying that his extensive documentation of inequality– it’s trends, composition, etc.– is a big contribution that should drive future research.
…the thesis that r > g is the explanation for inequality or an ominous predictor of future inequality is, to be blunt, ridiculous.
1) Consider the most basic economic growth model: the Solow model where households arbitrarily follow a constant savings rate rule. In that model, the long-run growth rate equals the rate of technological progress, and the rate of return to capital is constant and completely independent of that growth rate. Therefore, you could have r > g, r = g, or r < g, simply because there is NO relationship. In that model, the capital/output ratio is stable in the long-run, again regardless of what r is relative to g.
We could beef the model up a bit by allowing households to actively choose how much to save (rather than impose a constant savings rate rule on them). In that model, the economy will also get to a point with stable long-term growth where the growth rate is determined purely by technological progress. In that model under log utility, 1 + r = (1 + g)*(1 + rate of time preference). As long as people are at all impatient, the implication is r > g. Therefore, the economy will have r > g, stable growth, and a stable K/Y ratio.
The flaw with both of these models, of course, is that they are representative household models where there is no inequality. Therefore, we can go a step further and add uninsurable risk to the model (whether that be health risk, earnings risk, or any other important source of economic risk). In *these* models, households also engage in precautionary savings, so in equilibrium r is lower than it is in the rep agent models. In fact, the greater amount of risk, the more wealth inequality and the SMALLER the gap between r and g.
2) Another huge fallacy is to translate “r > g” as “the return to capital is greater than the rate of return to labor.” The notion “rate of return” indicates an intertemporal dimension: for example, if I invest $1, how much do I get back in return a year later? The growth rate of the economy is not the return to labor. In fact, the “return” to labor is static: I give up x units of time in exchange for y dollars.
The RELEVANT comparison would be to compare the rate of return on capital to the rate of return on investing in human capital (ie you go to college and then reap labor market rewards in the future). The rate of return on human capital is most definitely not just “g.” In fact, the college premium is at an all-time high, which suggests that the rate of return on human capital is quite high and very possibly higher than the rate of return on physical capital.
3) The r > g –> inequality thesis is also based on ignoring the fact that r and g are both determined in equilibrium. Here’s what I mean: it is bad economics to say “Look, r > g, therefore IF people behave in such and such manner, their wealth will grow at a higher rate than g indefinitely.” The reason it is bad economics is because you can’t take the “r > g” as given and THEN impose whatever behavioral assumptions you want. The fact is, people’s behavior affects r and g. In the heterogeneous models I mentioned above, r > g, inequality is STABLE, and the behavior of households is determined by their desire to maximize utility. If I were to go to the model and arbitrarily force the households to behave differently, then the equilibrium r would change.
- See more at: http://marginalrevolution.com/marginalrevolution/2014/05/aaron-hedlund-on-piketty.html#sthash.BXFg7SLT.dpuf

quarta-feira, 23 de abril de 2014

O Capital no Seculo 21: entrevista com o autor, Thomas Piketty

Já postei aqui uma resenha crítica de Guy Sorman sobre esse livro que encanta os igualitaristas, mas que deve deixar os economistas liberais (no sentido clássico da palavra) um pouco nervosos, dadas as distorções de ordem política que o livro apresenta.
Segue uma entrevista com o autor publicasa no Le Monde
Paulo Roberto de Almeida 


Thomas Piketty : « Le retour des inégalités inquiète aux Etats-Unis »

Le Monde.fr |  • Mis à jour le 
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Un mois après sa sortie aux Etats-Unis, le livre de l'économiste français, qui a notamment été reçu à la Maison Blanche, s'est classé mardi en tête des ventes aux Etats-Unis sur Amazon. | AFP/Ivan COURONNE

Un mois après sa sortie aux Etats-Unis, le livre de l'économiste français Thomas Piketty, consacré à la montée des inégalités dans le monde, Capital in the Twenty-First Century (Le Capital au XXIe siècle), s'est classé, mardi 22 avril, en tête des ventes aux Etats-Unis sur le site de distribution en ligne Amazon. Il fait également partie de la liste des meilleures ventes duNew York Times.
Reçu il y a quelques jours à la Maison Blanche et au ministère des finances américain, M. Piketty enchaîne les colloques et les conférences aux Etats-Unis aux côtés de Prix Nobel d'économie afin de dénoncer l'extrême concentration des richesses et plaider pour une plus forte taxation des hauts revenus.
La sortie de votre livre aux Etats-Unis suscite un large débat. Etes-vous surpris par son retentissement ?
C'est vrai qu'on est en train d'atteindre la borne supérieure à laquelle je pouvais m'attendre. En même temps, cela fait longtemps que notre travail, avec Emmanuel Saez, sur les inégalités, suscite beaucoup d'intérêt à chaque publication. Là, la nouveauté, c'est qu'il s'agit d'un travail plus global, il est donc normal que cela retienne plus l'attention. Mais si j'ai écrit une histoire de la dynamique des inégalités c'est pour qu'elle puisse être lue par le plus grand nombre. Je suis surpris du succès, mais en même temps le but était de toucher un maximum de gens.
Est-ce que vous vous attendiez à des critiques aussi élogieuses dans ce pays, et à la limite plus élogieuses que celles que vous avez reçues en France, alors que les Etats-Unis ont plutôt la réputation d'être moins réceptifs au thème de l'inégalité ?
La réalité, c'est que les inégalités ont beaucoup plus augmenté aux Etats-Unis qu'en Europe au cours des trente ou quarante dernières années. De ce point de vue, ce n'est pas étonnant que le problème soit très présent dans le débat américain. Le retour des inégalités inquiète ici.
Mais les Etats-Unis ont toujours une relation beaucoup plus compliquée avec cette problématique que ce que l'on imagine parfois en Europe. C'est un pays qui a une tradition égalitaire très forte, qui s'est construit autour de cette question en opposition à une Europe elle-même confrontées à des inégalités de classe ou patrimoniales. Ensuite, il ne faut pas oublier que ce sont les Etats-Unis qui, il y a un siècle, ont inventé un système de fiscalité progressif sur les revenus justement parce qu'ils avaient peur de devenir aussi inégalitaire que l'Europe.
Par rapport aux tendances longues que vous décrivez dans votre livre, celui-ci aurait pu être écrit il y a cinq ans voire dix ans. Pensez-vous qu'il aurait eu autant de retentissement aux Etats-Unis ? Finalement, n'arrive-t-il pas à un moment propice, au lendemain de la crise financière ?
Ce livre arrive effectivement à un moment où la question est particulièrement prégnante aux Etats-Unis, même s'il reste de difficile de savoir comment il aurait été reçu il y a dix ans. Mais ce dont on parle moins, mais qui me fait autant plaisir, c'est que la traduction en anglais a permis également d'ouvrir le débat au niveau européen.
On doit reconnaître aux Etats-Unis la capacité de s'emparer de débats qui dérangent. En même temps, on n'a pas le sentiment que les politiques publiques sont vraiment prêtes à bouger, même si Barack Obama fait preuve de volontarisme dans son discours. Est-ce que cela veut dire qu'il n'est pas déjà trop tard pour renverser cette tendance aux inégalités et que l'argent influence déjà la politique de manière irréversible ?
Ça, c'est la vision sombre du problème. Je me méfie de ce pessimisme. Toute l'histoire de la répartition des richesses et de l'impôt est pleine de surprises et les choses peuvent évoluer beaucoup plus vite qu'on ne l'aurait imaginé. Aux Etats-Unis en particulier. Qui, il y a un peu plus d'un siècle, aurait dit que l'impôt fédéral sur le revenu serait un jour créé ou qu'on aurait instauré une très forte progressivité à partir des années 1920 ? Pas grand monde, certainement. Pourtant, l'argument était déjà de dire qu'une grande partie de notre processus démocratique était capturé par une minorité. Mais les institutions démocratiques ont fini par répondre à ce constat.
Vous apportez une contribution majeure au débat sur les inégalités. Quelles peuvent être les retombées concrètes en termes de décision politique ?
Ce livre n'est qu'un élément dans un débat plus large qui contribue à s'interroger sur la concentration excessive des revenus et des patrimoines. Maintenant, il faut que les mesures qui pourraient être prises soient renouvelées : l'impôt progressif que j'appelle de mes vœux n'est pas le même que l'impôt sur les revenus ou sur les successions mis en place au XXe siècle. Par exemple, l'impôt sur le patrimoine est à repenser. Mais ce n'est pas un livre qui va changer le cours de l'histoire.
Même si le Prix Nobel d'économie Paul Krugman dit que c'est certainement le plus important de la décennie ? Ça finit par vous gêner, ce concert de louanges ?
Non, ça fait plaisir, même si c'est un peu tôt pour évaluer l'impact de ce livre.
On lit beaucoup moins de critiques virulentes sur votre travail. Comment interprétez-vous ce silence de façade alors que les contempteurs de votre théorie sont sans doute nombreux et ont un accès à la parole publique relativement facile ?
On les entend peu parce que mon livre n'est pas un ouvrage de théorie ou de spéculation. A la fin, je tire des conclusions avec lesquelles on peut ne pas être d'accord, mais la grande majorité du livre est constituée d'exposés sur l'évolution historique des inégalités du patrimoine. Je pense que c'est quelque chose qui n'est pas facile à écarter d'un revers de main. Il s'agit avant tout d'un livre d'histoire qui met sur la table des faits historiques. Après, les gens peuvent en tirer d'autres conclusions pour la suite, mais le constat est difficilement contestable. C'est d'ailleurs l'intérêt du livre de remettre l'histoire au centre d'un débat qui est souvent idéologique.
Pensez-vous qu'aux Etats-Unis le fait d'être Français relativise la portée de votre de travail, la France étant parfois caricaturée sur le plan idéologique ?
Cet argument n'est pas trop utilisé ici. Globalement, je crois que les commentateurs ont compris que je ne suis pas un atroce anti-Américain. Encore une fois ce sont les Etats-Unis qui ont inventé le système de l'impôt progressif sur les revenus et les successions et non pas la France ou l'Allemagne. J'essaye d'en appeler à cette tradition progressiste américaine et je pense que c'est ce message qui passe bien et évite d'être caricaturé comme le Français qui vient donner des leçons aux Etats-Unis.
Certains en France avaient qualifié votre théorie de « marxisme de sous-préfecture ». Maintenant que ce « marxisme de sous-préfecture » rencontre une certaine résonance aux Etats-Unis, qu'avez-vous envie de leur répondre ?
C'est sans doute toujours mieux de lire avant d'écrire. C'est amusant de voir que The Economist ou leFinancial Times se révèlent plus ouverts que certains journaux français. Ce qui me gêne, c'est que, d'une certaine façon, cette anecdote est révélatrice de l'état du débat dans notre pays. Il y a une telle peur du déclassement en France qu'on est en permanence dans un débat électrisé entre des gens de droite qui accusent des gens de gauche de vouloir tuer la compétitivité du pays et qui n'arrivent même plus à lire et à regarder ce que pense l'autre.
Par Stéphane Lauer (New York, correspondant)
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sábado, 14 de agosto de 2010

Concentracao de renda: um debate sempre mal colocado

O chamado "Estado de bem-estar social" está tão disseminado nas modernas economias de mecado, e o pensamento social-democrata impregna de maneira tão aboluta as consciências cidadãs nesses países (aliás, em quase todos), que nunca achamos estranho que políticos, geralmente demagogos, sempre proclamem como objetivos meritórios a tal de "distribuição de renda" (quando na verdade eles querem se referir à "redistribuição" de renda, ou seja, tirar de Paulo para dar a Pedro, como dizem os americanos).
Pois bem, poucos analistas contemporâneos, sobretudo num país social-democrata à outrance, como no Brasil, onde NINGUÉM tem a coragem de se chamar de direita, ou conservador, onde NINGUÉM gosta de ser tido como liberal -- e a acusação de ser "neoliberal" é uma das mais danosas para a reputação de qualquer um -- conseguem fazer uma contra-argumentação consistente contra essa ditadura do pensamento, essa concepção única da redistribuição de renda, que escape do lugar comum obrigatório, que passa obviamente pela recomendação de política pública consistindo, justamente, em MAIS distribuição de renda (via Estado, obviamente).
Não mais; meu companheiro blogueiro Klauber Pires acaba de produzir uma peça imperdível que tenho o prazer de retransmitir aqui, pois diz tudo, ou quase tudo, que eu gostaria de dizer se tivesse a competência que ele tem em matérias econômicas e sua sensibilidade para a escrita de boa qualidade e saboroso.
Recomendo leitura atenta, e sobretudo, uma absorção consequente.
O exemplo que ele utiliza, inclusive, o do preço da gasolina, nos faz lembrar outras eras e outras políticas, não apenas no Brasil. Nos EUA, quando da crise do petróleo -- na verdade, uma operação de chantagem organizada por um cartel então bem articulado, a OPEP, que transferiu renda dos consumidores para os produtores, numa situação em que o produto era realmente insubstituível -- o governo Nixo tentou contornar o problema da inflação, fixando os preços da gasolina, em função do que imensas filas de carros se formavam nos postos de gasolina, numa irracionalidade total e completa. Um governo mais razoável, depois, acabou com a estupidez, deixando os mercados fixarem os preços DE MERCADO. As filas acabaram num instante. Como diz o economista Steven Landsburg, em The Armchair Economist, "people respond to incentives, the rest is commentary". Isto é economia, o resto é bobagem...
Não se pode mais falar em redistribuição, ou em concentração de renda, depois de ler o seu texto bem articulado e seus argumentos inatacáveis.
Tenham bom proveito.
Paulo Roberto de Almeida

Concentração de renda: um embuste!
Por Klauber Cristofen Pires
Blog Libertatum, 13 de agosto de 2010

Em uma sociedade livre, não há que se falar em concentração de renda, a amparar uma política pública de uma "distribuição de renda", seja por qual meio for. Em uma sociedade livre, fundada no princípio da não-agressão, e próspera, a renda já está distribuída no momento mesmo da troca dos títulos de propriedade.

Um estimado leitor trouxe-me para análise uma pesquisa do IPEA intitulada "Quadro de distribuição de renda não muda desde 1970, diz Ipea - País interrompeu processo de concentração de riquezas, mas desigualdade não diminuiu nos últimos 40 anos".

Considerando que pelo menos nos últimos vinte anos o país tem sofrido uma forte e crescente influência de políticas socialistas, uma notícia como esta poderia ser usada contra os seus autores, especialmente contra quem mais andou se utilizando dela para apregoar a sua ideologia e as suas receitas de desenvolvimento. Ponhamos uns parênteses aqui, para retomarmos este assunto lá na frente.

Com efeito, a campanha por uma distribuição de renda mais igualitarista - um conceito de corte tipicamente marxista, tem sido persistentemente o norte acadêmico em nossas faculdades, e dali para as publicações em geral e para a implementação das atividades e políticas dos mais variados órgãos públicos.

Em uma sociedade livre, não há que se falar em concentração de renda, a amparar uma política pública de uma "distribuição de renda", seja por qual meio for. Em uma sociedade livre, fundada no princípio da não-agressão, e próspera, a renda já está distribuída no momento mesmo da troca dos títulos de propriedade: Quando abasteço o meu carro, a minha renda está no tanque e a do proprietário do posto, em sua caixa registradora. E isto é tudo. Ambos estamos satisfeitos, ou de outra forma não teríamos fechado o negócio.

Pasme o leitor, mas os (pre)conceitos marxistas andam tão consolidados em nossa sociedade que não temos um termo próprio para designar uma operação de troca de títulos de propriedade; em vez disso, separamos esta operação única em duas etapas separadas, a "venda" e a "compra", e esta distinção vem bem a calhar para o estado arrostar para si o poder de regulá-las como se fossem suas concessões.

Pode ser que a oferta de gasolina seja uma atividade muito lucrativa, e que faça rico o dono daquele posto. Isto sugere que ele possivelmente venha a se tornar mais rico do que as demais pessoas de sua localidade. Todavia, em um cenário de plena liberdade econômica, isto não significa um ato de exploração, mas tão somente de aprovação popular, eis que as pessoas preferem abastecer seus veículos com o seu produto.

Mesmo que ele seja o único fornecedor das redondezas, ainda assim opera em regime de ampla competição, pois todas as oportunidades permanecem abertas para que um futuro concorrente se instale e ofereça sua propriedade por um preço menor, ou que uma terceira figura apresente uma novidade tecnológica economicamente mais viável.

Quando o estado intervém sobre a propriedade daquele comerciante de combustíveis, seja por estipular-lhe um preço, seja por confiscar-lhe o produto das suas trocas, ele comete um ato de agressão que prejudica não somente o nosso varejista, mas toda a sociedade. No caso, o estado tanto frustra as estratégias de um possível futuro concorrente que pensava em oferecer um preço mais baixo (e preste muita atenção aqui: viável economicamente) bem como corta na raiz os estímulos para a criação de novas tecnologias de transporte e de combustíveis alternativos.

O preço constitui-se em valiosa informação para a sociedade. Quando o proprietário daquele posto cobra um preço que possa ser considerado alto pelos cidadãos em geral, mesmo inconscientemente ele está alertando a todos que o seu produto é raro, e deve ser usado com comedimento e para as necessidades mais importantes e/ou urgentes. Com isto, como explicado acima, ele também está avisando, mesmo sem querer, que outros fornecedores devem comparecer àquele mercado ou que alguém deve inventar uma forma mais viável de transporte ou de combustível.

Note o leitor como esta é uma atitude até ecológica! Dentro dos princípios de não-agressão, ninguém está proibido de usar a gasolina que adquire, mas consistentemente convencido de que precisa utilizá-la com sabedoria. É por isto que tenho afirmado: se você quer agir de forma ecologicamente correta, pense antes em agir de modo economicamente eficiente!

Entretanto, justo neste quesito o estado provoca ainda mais efeitos deletérios por conta da sua política redistributivista: ao estipular um preço mais baixo do que o mercado praticaria em um cenário de ampla liberdade, o estado estimula os cidadãos ao gasto frouxo do combustível, por fazer-lhes pensar que é abundante, e com isto podendo causar o risco de desabastecimento, cuja consequência poderá resultar em grande prejuízo aos cidadãos em alguma hora crucial em que precisariam dele e não providenciaram poupar. Que tal, por exemplo, pensar em um hospital sem diesel para o seu gerador de emergência, ou no médico que não tem gasolina para se deslocar até o seu paciente?

Tenha paciência, Sr leitor, porque a lambança ainda não acabou. Sabe o quê acontece quando a emenda acaba se mostrando pior do que o soneto? Lá vem o estado a tentar corrigir o seu erro com outros erros subsequentes, e a próxima expectativa neste caso é a de que implemente uma política de racionamento ou que submeta o consumo a uma requisição justificada por parte de cada um dos consumidores. Posso pedir licença para parar por aqui?

Sempre que alguém aceite tomar como ponto de partida para um debate um dado qualquer de concentração de renda, neste mesmo momento estará abandonando uma discussão autenticamente econômica para acumpliciar-se com a adoção de uma política socialista. Daí por diante, pode-se discutir tão somente o grau de agressão à sociedade pelo estado, só isto.

Caro leitor, não se permita à intimidação por conta dos títulos que ostentam aqueles que defendem a idéia de uma sociedade igualitarista ou de um limite imposto pelo estado para as diferenças entre as riquezas das pessoas. A rigor, não existe no Brasil a figura do economista, bem como não existem faculdades de economia. Na falta de um termo mais adequado, eu as denominaria de "planejadores estatais".

Com efeito, a grossa parte do curso dos bacharéis em economia, cuja grade compõe-se hegemonicamente de estudos sobre as obras de Marx, Keynes e os teóricos da Escola de Frankfurt, consiste em estudos sobre políticas públicas. Quase não há interesse no estudo sobre as relações entre os particulares, a não ser justamente para aí encontrar alguma oportunidade de implantar alguma política intervencionista.

Antes que me tenham por prepotente, recorro à autoridade de Ludwig von Mises para demonstrar que o conceito de concentração de renda não tem qualquer base econômica autêntica e portanto, não passa de um embuste. A quem quer que se dê ao prazer de ler Ação Humana ou qualquer outra de suas obras, perceberá que ele faz uso do termo "economista" com o significado de exclusão de todos os socialistas, inclusive os fabianos, como Keynes.

Sempre que perguntarmos a uma dessas pessoas qual o mal que existe em uma dada concentração de renda para a prosperidade de uma sociedade, elas simplesmente não saberão explicar. Isto porque, para elas, a perseguição de uma situação de igualdade material é um fim em si. Aqui é oportuno lembrar que o mote contra a desigualdade foi criado como uma alternativa ao fracassado apelo do empobrecimento alegadamente causado pela revolução industrial, e que, a olhos vistos, jamais se produziu.

Em linha contrária, podemos, sim, justificar como a concentração de renda desempenha um indispensável papel para a prosperidade de uma dada sociedade. Antes, todavia, vamos "lavar" este termo, para denominá-lo apenas de "riqueza" ou melhor ainda, de "poupança acumulada". Com a poupança, viabilizam-se os investimentos de médio e longo grau de maturação, tidos justamente como aqueles dos quais se esperam os maiores benefícios. A riqueza nas mãos de quem provou ser competente para geri-la provoca a produção de mais riqueza (e inclusão) para todos os demais integrantes de um determinado grupo social.

Se eu puder fazer uso de uma ilustração, lembro de um ciclone. Imagine como em seu centro se concentra a maior energia e onde o vento flui com maior força e velocidade, enquanto as bordas, mesmo mais fracas, vão puxando as coisas ao redor e assim o fazendo crescer cada vez mais. O mesmo acontece , digamos assim, com uma virtuosa espiral de crescimento econômico. Algumas pessoas se fazem ricas antes do que as demais, mas é a riqueza delas o que justamente opera a inclusão das mais próximas, e a destas, para com as que lhes sucedem.

Não existe e jamais existiu uma sociedade igualitarista próspera, até porque o fim almejado de uma política de igualdade consiste em permanentemente tomar à força o resultado do trabalho honesto de quem se esforça por ele, desanimando-o, assim, irremediavelmente. Nas sociedades primitivas como as indígenas, todos são naturalmente iguais...e miseráveis. Nas sociedades socialistas, cria-se artificialmente uma concentração de renda a cargo do estado, a ser gerida por administradores públicos, que não possuem delegação de competência para a tomada das decisões mais cruciais, nem o talento para descobrir o que é mais urgente e necessário para a população, e enfim, nem sequer o empenho próprio para tanto.

Nos países sobre os quais se propagandeia uma diferença pequena entre a renda dos mais ricos em relação aos dos mais pobres, i.e. a Alemanha, é porque estes são muito bem educados e muito produtivos. O trabalho da maioria destas pessoas têm, em linhas gerais, um alto valor agregado, até um ponto em que as poucas pessoas pouco habilidosas, justamente por usufruírem de um mercado privilegiado - e até um certo ponto protegido pelo estado - também são bem aquinhoadas.

No Brasil, ao contrário, a população desprovida de qualquer habilidade profissional é extremamente numerosa, e a poupança é ferozmente deprimida pelo estado. Sem uma produtividade de alto nível, somos pobres trabalhando em serviços pobres para pessoas também pobres. Não admira, pois, que restem poucos ricos, e daí, tanta desigualdade.

Enfim, se algum significado útil pode ser dado ao termo "concentração de renda", este pode ser o de uma sociedade onde prevaleça a riqueza de alguns obtida por meio do uso da força agressiva própria ou promovida pelo estado. Neste sentido, sim, podemos, adequadamente, enquadrar o Brasil, como havia alertado lá nos primeiros parágrafos, para definir um país onde as relações humanas voluntárias e mutuamente benéficas são extremamente deprimidas por guildas, sindicatos, conselhos de classe, partidos, leis de preços mínimos, leis de preços máximos, leis de distribuição de renda, leis de preços sociais, leis trabalhistas, leis previdenciárias e tanto mais.