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sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Mini reflexão sobre o racismo e racistas, no Brasil e alhures - Paulo Roberto de Almeida

 Mini reflexão sobre o racismo e racistas, no Brasil e alhures 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

  

O Brasil não é um país racista, mas ainda existem muitos racistas por aqui, embora o racismo não tenha as mesmas características de um país que possuiu um Apartheid LEGAL, como os EUA até os anos 1950-60, e que ainda continua tendo duas culturas, uma branca, outra negra. Diferente é a situação do Brasil, onde não existem – ou não existiam, até recentemente – essas duas culturas, distintas uma da outra. “Nossos” racistas estão sobretudo entre pessoas ignorantes.

O fato é que existe um Apartheid SOCIAL do ponto de vista prático, e ele é realmente deplorável, ainda que não existente institucionalmente, ou legalmente. Ele é um fato de nossa história, cujas lideranças políticas, ao longo do império escravocrata e de uma República indiferente à sorte dos antigos escravizados e seus descendentes. Em minha opinião, essa indiferença deveria ter sido institucionalmente superada, no final do Império e início da República, por uma política ativa de “integração do negro à sociedade de classes”, aproveitando um título de Florestan Fernandes. Mas essa solução já tinha sido pensada desde 1883 por Joaquim Nabuco, e NUNCA foi implementada, sendo que ela se aplicava não apenas aos negros libertos – e os já livres, em geral, que já eram maioria no momento da Abolição –, mas igualmente a todos os brancos pobres, ou a todos, indistintamente da cor ou da condição social: acesso à terra e promoção da educação de massas de qualidade. Isso nunca foi feito em nosso país, até o surgimento do paliativo das cotas raciais (e apenas parcialmente sociais).

 Agora, registre-se a mais recente afirmação entre nós de um assim chamado "afro-brasileirismo", Ele foi artificialmente importado tanto da cultura negra americana, quanto, sobretudo, da atitude hipócrita dos brancos americanos – que passaram das horríveis qualificações do nigger, depois ao coloured people, seguido pelo black people e, finalmente, a um inexistente African-American, aceito e disseminado pelos próprios negros americanos, que ficam buscando "raízes" num continente africano que só existe na imaginação de brancos e negros americanos –, e que precisa ser contextualizado, pois está sendo utilizado de maneira artificial entre nós.

Refiro-me ao fato de que está começando, ou se está pretendendo criar no Brasil uma SEGUNDA CULTURA, essa do afro-brasileirismo, que pode eventualmente nos levar a uma espécie de Apartheid CULTURAL, que não existia até aqui, e que considero especialmente danoso para a superação do racismo subsistente no Brasil. Estimo ser positiva a atitude dos negros e mestiços brasileiros de buscar expressar o orgulho de sua cor e de suas origens, assim como sua imensa, gigantesca contribuição – involuntária, por certo – para a construção desta nação, que nasceu mestiça e misturada, independentes dos preconceitos existentes e remanescente, assim como considero importante a luta que eles sustentam – que é a de muitos brancos também – contra as manifestações ainda numerosas de racismo individual, não institucional. Mas, não creio que o afro-brasileirismo seja uma solução as problemas dos racistas e do racismo subsistente no Brasil – já deslegitimados e em defensiva –, assim como as cotas raciais não são uma verdadeira solução ao problema do Apartheid SOCIAL, que se dirige a todos os pobres, atingindo com mais intensa acuidade os negros e mestiços.

Sou pela integração “racial” – isto é, mistura total de todos os povos aqui presentes –e pela integração cultural plena no Brasil, e não acredito que o afro-brasileirismo seja uma solução a ambos os problemas, do racismo e dos racistas, que possuem dimensões culturais, étnicas, antropológicas e psicológicas profundas, antes de serem essa imensa CHAGA SOCIAL Finalmente, também considero dúbio esse conceito de “racismo estrutural”, que me parece mais uma necessidade da militância antirracista negra de enfatizar o racismo real existente entre brasileiros, até mais do que uma situação de Apartheid institucional, que essa militância acredita existir. Não existe, a despeito de, na prática, termos manifestações racistas um pouco em todas as partes. 

Já escrevi há bastante tempo sobre a “cultura” do afro-brasileirismo –“Rumo a um novo apartheid? Sobre a ideologia afro-brasileira”, 2004; blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/09/a-ideologia-do-afrobrasileirismo-base.html) – e pretendo retornar a essa questão na primeira oportunidade. Meu temor é que ele venha a criar essa segunda cultura até aqui inexistente no Brasil. Abordarei o assunto em outra oportunidade. Vale!

 

Paulo Roberto de Almeida

Uberaba, 4053: 31 dezembro 2021, 2 p.