O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 21 de junho de 2015

Homens que fazem a diferenca na luta contra a corrupcao - Reinaldo Azevedo

Uma matéria, e postagem, já antiga, mas ainda mais relevante na luta atual do Brasil contra bandidos, corruptos, corruptores, políticos venais, policiais e procuradores lenientes ou coniventes e outros meliantes, para demonstrar que determinadas pessoas fazem, sim, a diferença num processo tão difícil como esse que estamos vivendo há mais de um ano. 
Paulo Roberto de Almeida

03/11/2014

 às 6:33

O PT e advogados de corruptos se organizam agora para tentar destruir o juiz Sérgio Moro

Reinaldo Azevedo

Pouca gente se lembra, mas Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, transformado pelo PT no belzebu do Brasil, já foi um queridinho do partido. Lula se orgulhava de ter nomeado “o primeiro negro para a corte suprema do país”, o que, além de falso, era um tanto malandro. Antes de Barbosa, dois negros já haviam chegado à corte: Pedro Lessa, entre 1907 e 1921, e Hermenegildo de Barros, entre 1917 e 1931. Lula, como sempre, inaugurava o já inaugurado. O PT insistia na cor da pele de Barbosa porque esperava contar com um ministro grato que lhe fizesse todas as vontades. Quebrou a cara, e o herói de antes virou um desafeto.

Na edição desta semana, leiam, VEJA traz uma reportagem de Daniel Pereira e Robson Bonin demonstrando que o alvo da vez do partido é o juiz Sérgio Moro, que cuida do caso do petrolão, seguramente mais grave do que o mensalão, de quem já tomou o lugar de maior escândalo da história republicana. A artilharia contra Moro já está preparada.

À VEJA, disse um dos advogados dos acusados: “Já foram reunidas provas irrefutáveis de corrupção, e não temos mais como discutir o mérito. Nossa estratégia agora é encontrar falhas graves na condução do processo e tentar desqualificar o juiz”.

Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, notório advogado de mensaleiros e agora de acusados de participar da corrupção na Petrobras, disse que Moro tinha virado “o grande eleitor da sucessão de 2014″. Os defensores dos corruptos pretendem denunciar o juiz ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão responsável por analisar a conduta de magistrados. “Vão alegar, informa VEJA, que ele promoveu um vazamento seletivo de um processo em curso na Justiça Federal e esperam contar com a simpatia pela causa da corregedora do CNJ, a ministra Nancy Andrighi. A ideia é conseguir o afastamento de Moro das ações relacionadas ao caso”. Vale lembrar: Dilma Rousseff, candidata à reeleição e agora reeleita, fez a mesma acusação.

A tropa de advogados pretende ainda buscar a anulação das delações premiadas de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, ainda a ser homologada, alegando que eles foram coagidos por Moro, que teria ameaçado prender familiares de ambos.

Informa ainda a revista: “Em outra frente, os advogados estudam a possibilidade de pedir a transferência das investigações para o Rio de Janeiro, onde fica a sede da Petrobras, o foco dos maiores desvios em apuração. Com a mudança de foro, aumentariam suas chances de neutralizar os delegados da Polícia Federal e os procuradores que fazem as investigações. “Sem o trabalho deles, esse processo dificilmente chegará ao fim a contento”, diz uma das autoridades que trabalham no caso.

Vão parar por aí? Não! Um dos advogados afirma: “Também vamos levantar coisas da vida pessoal do juiz”. Informa VEJA: “A orientação é para verificar a evolução patrimonial dele e de seus familiares, além das relações políticas que eventualmente tenham”.

Os companheiros, em suma, vão recorrer ao método de sempre: pôr para funcionar a sua máquina de enlamear reputações e contar com a rede suja na Internet e na subimprensa, financiada por estatais, para tentar desmoralizar o juiz e melar a investigação.

Leiam a reportagem da VEJA que está nas bancas. O inimigo nº 1 do PT no momento chama-se Sérgio Moro, um juiz que tem o defeito, até onde todo mundo sabe, de ser incorruptível. Não serve para os “companheiros”.

Texto publicado originalmente às 4h12
Por Reinaldo Azevedo

sábado, 20 de junho de 2015

Mensagem a meus seguidores - Paulo Roberto de Almeida

Mensagem (que espero simpática) a meus seguidores

Paulo Roberto de Almeida 

Acredito ter dois tipos de seguidores:
1) voluntários
2) involuntários (ou compulsórios)

Esses dois tipos, por sua vez, se dividem em duas categorias, cada um:
1, a) aprendizes
1, b) críticos

2, a) vigilantes
2, b) censores

Posso explicar?

Os aprendizes devem ser jovens estudantes, talvez carentes de maiores leituras, e que buscam se qualificar ou aprender alguma coisa, com quem já leu muito, viajou muito, observou o mundo e aprendeu muitas coisas que agora podem ser transmitidas a quem ainda não teve tempo ou oportunidade de ler, observar ou aprender.

Os críticos devem ser professores, jovens ou não, que leem minhas coisas com aquele ceticismo que deve ser instintivo na categoria, alguns podendo concordar com o que escrevo - eventualmente transmitindo meus argumentos a seus alunos - enquanto outros não concordam, o que é natural, e que podem também usar meus argumentos para tentar rebatê-los, o que sempre é auspicioso, mas que também podem descartá-los com aquele ar de desprezo que os verdadeiros crentes, os true believers em certas concepções, devotam aos supostamente neoliberais, reacionários ou "de direita" (mas eu não sou nada disso). Tudo isso é bem vindo e deve ser praticado: quando eu era jovem, um pouco true believer também (mas jamais religioso, pois eu lia de tudo), eu ficava devorando artigos e livros de Roberto Campos e de Raymond Aron com muita curiosidade, mas também com certa raiva, pois tentava desmenti-los e não conseguia (o que acredito me tornou um pouco mais inteligente, ou pelo menos mais sabido). Agradeço hoje a esses dois "reacionários" terem feito de mim o que sou hoje, entre muitos outros autores, de todas as tendências que li, sem qualquer discriminação, ao longo da vida.

Os vigilantes devem ser aqueles colegas de profissão ou companheiros de ofício que, geralmente a pedido de chefes e de outros companheiros (não os meus, certamente), precisam ficar vigiando tudo o que eu escrevo e que publico para ver se eu não ultrapassei certas medidas, e se não mereço, talvez, uma advertência, quem sabe uma admoestação ou até uma punição (mais uma, mais ainda?). Quais são os limites? Não os estamentais, ou de casta, pois pouca gente liga para isso atualmente, ou nos tempos que correm. Na verdade, eu acho que é tudo aquilo que parece incomodar os companheiros, pois acho que ninguém da minha tribo está mais ligando para os cânones profissionais, para o bullshit do pensamento único, para a verdade oficial, para a ortodoxia do momento ou para os simples argumentos de autoridade, que são representados, como todos sabem, pelo discurso chapa branca, pelo politicamente correto, pelo dogma vaticanês, enfim, por todas aquelas coisas que nossa burocracia bem comportada produz tão bem. A casta já não é mais o que era, aliás, nem se reconhece mais como casta. Tudo está a serviço dos companheiros, o que é realmente lamentável.

Os censores, finalmente, são os representantes ou os assalariados des companheiros, militantes voluntários ou mercenários qualificados que têm por função vigiar, com aquelas grandes orelhas e aqueles olhos orwellianos, tudo o que eu digo, escrevo e publico, para ver se não é o caso de empreender alguma operação de sabotagem ou de neutralização ideológica, quando não algo mais drástico. Eles devem ter raiva de tudo o que escrevo, do que eu represento, e por eu ser algo que eles não podem ser: alguém inteiramente livre (de pensamento, certamente, e de várias outras amarras também), que se permite, sans Dieu, ni Maître, dizer tudo o que pensa sem temer retaliação, e isso de forma totalmente independente, voluntária, sem receber nada por isso, sem pertencer a qualquer movimento, partido ou grupúsculo, e que escolhe livremente os temas ou assuntos sobre os quais vai emitir alguma opinião.

Aos últimos, cuja atividade eu desprezo - pois ela é típica de regimes ditatoriais e de partidos totalitários, e que eles mesmos devem desprezar -, eu não tenho nada a dizer, a não ser que acredito que eles mesmos, se tiverem dois neurônios, devem achar tudo isso desprezível. Compreendo: a maior parte dos engajados na atividade censória faz isso por dinheiro, não por ideologia, pois não acredito que alguém razoavelmente bem informado possa, depois de tudo o que se sabe sobre esses regimes criminosos, trabalhar em prol desse tipo de situação, ou que ainda tenha coragem para pretender erigir em modelo de qualquer coisa um regime desse tipo. Essa atividade é simplesmente asquerosa, mas ela existe oficialmente nos regimes apreciados pelos companheiros (eles devem ser doentes mentais, no mínimo).

Às duas últimas categorias, a única coisa que eu poderia dizer é o seguinte: vocês estão gastando recursos públicos inutilmente, ou seja, o seu, o meu, o nosso dinheiro, com algo totalmente desnecessário e absolutamente inútil, por uma razão muito simples: eu vou continuar falando, escrevendo, publicando TUDO o que eu quiser, em total liberdade de opinião, seja em caráter puramente informativo, seja de tipo analítico, seja, como também ocorre frequentemente, de cunho declaradamente crítico e condenatório de tudo isso que está aí, as mentiras, as fraudes, a roubalheira, o bullshit, o politicamente correto e todas essas coisas totalitárias e desprezíveis que os companheiros defendem.

A todas as quatro categorias, apenas uma palavra: não se levem muito a sério, tomem algum tempo de se divertir também, como eu faço, aliás. Muito do que escrevo é puro divertissement, e não deve ser levado a sério, inclusive esta própria peça de divertimento (que espero bem educado). 

Para terminar:
Aprendizes: aprendam! 
Críticos: continuem lendo criticamente, e criticando, tudo o que escrevo, e se puderem, escrevam.
Vigilantes: relaxem, e não gastem dinheiro público com inutilidades.
Censores: passem bem, e minhas saudações aos companheiros (que continuarei incomodando).

Como já disse o poeta Mário Quintana: "Eles passarão, eu passarinho!"

Paulo Roberto de Almeida 
Hartford, 20/06/2015

A estagnacao secular e a recuperacao pela guerra - Felipe Miranda (Empiricus)

Discordo frontalmente de ambos os conceitos: tanto da estagnação secular, quando da recuperação por um fenômeno circunstancial, ainda que importante, como a guerra. Uma coisa não tem nada a ver com a outra, ou seja, guerra não tem nada a ver com politica econômica, apenas torce o braço da política econômica, com enormes custos de oportunidade que não são provocados por ninguém, e sim produzidos por fatores externos.
Paulo Roberto de Almeida

Meu maior pesadelo
Felipe Miranda, 20/06/2015

Caro leitor,

Na semana passada, pude ouvir diretamente de Alan Greenspan, na tradução livre: “nós estamos numa posição de estagnação secular.”

Confesso a vocês: isso me preocupa fortemente. Mais do que Grécia, ajuste fiscal ou mesmo recrudescimento das condições de liquidez internacional a partir do processo de normalização das políticas monetárias. Muito além, inclusive, de questões econômicas e financeiras estritas.

Explico o porquê...

O termo “secular stagnation” foi cunhado no auge da Grande Depressão, em 1938, por Alvin Hansen, então presidente da American Economic Association. A interpretação de Hansen era de que a Grande Depressão iniciaria uma nova era, representada por desemprego alto e duradouro e estagnação da economia. Não seria algo transitório ou solúvel facilmente a partir, por exemplo, da ação de política monetária.

Falaríamos de algo estrutural, mudanças nas bases da economia dos países industrializados, ligadas à redução da taxa de natalidade e ao excesso de oferta de poupança sobre investimentos, que levariam a uma taxa de juro de equilíbrio para níveis muito baixos, possivelmente inferiores a zero.

Posto que, a princípio, as taxas de juro efetivamente praticadas não poderiam ser negativas - e, por hipótese, estariam, portanto, superiores àquelas de equilíbrio -, o cenário engendraria enfraquecimento importante da demanda agregada.

Fazia muito sentido à época. Vínhamos de quase uma década de desemprego dramático, forte queda da massa salarial e baixo crescimento econômico.

O Banco Central dos EUA, depois de anos de política monetária expansionista, apertara o torniquete monetário em 1937, causando uma queda de 49% das bolsas norte-americanas; logo, voltou a afrouxar a política monetária entre 1938 e 1939, à espera de reação da economia - os resultados práticos, contudo, não vieram e a expansão do PIB continuou em ritmo muito baixo.

Como a economia dos países industrializados e dos EUA em particular sai da recessão da década de 30? Ou, em outras palavras, como pudemos interromper a traumática estagnação secular?

A resposta: com a Segunda Guerra Mundial. Somente com ela.

Foi necessário um conflito bélico de proporções globais - e desnecessário dizer: consequências brutais e altamente indesejáveis - para quebrar essa dinâmica nefasta.

Precisamos do enorme expansionismo fiscal, a partir de gastos militares bastante pesados, para preencher o buraco faltante de demanda agregada. Somente com isso, a economia voltou a crescer, com a geração pós-guerra vivenciando mudança pronunciada na tendência populacional, naquilo que ficou conhecido nos EUA como “baby boom”.

Avançando 75 anos na história, o tema da estagnação secular volta ao centro das discussões. O ex-secretário do Tesouro dos EUA Larry Summers tem sistematicamente abordado a questão e sua gravidade, tendo como adeptos Paul Krugman, Alan Greenspan e outros de gabarito semelhante.

Fundamental notar: houve apenas dois momentos da história em que se debateu o secular stagnation, em 2015 (para ser preciso, o tema começa a ser comentado com certa frequência já em 2014, a partir de discurso de Summers na NABE) e 1938.

Àquela altura, 1938 reconciliava-se com 1929. Analogamente, 2015 (ou talvez 2016; é impossível cravar com precisão o timing) pode representar o acerto de contas com 2008.

Não se trata de coincidência. A crise de sete anos atrás, cujo ápice é marcado pela quebra do banco Lehman Brothers em 15 de setembro, encontra um único precedente na história, justamente aquela iniciada em 1929, quando precisamos de uma Segunda Guerra Mundial para retirar a economia global da recessão.

Esse é o tamanho do problema, não podendo ser menosprezado.

Entre aqueles com capacidade de enxergar a história com o devido afastamento da volatilidade de curtíssimo prazo, já há inclusive quem alerte para o pior. Em conferência de Bretton Woods no Banco Mundial ao final de maio, George Soros declarou de forma categórica estar preocupado com a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial.

Segundo ele, se os esforços da China em migrar sua matriz exportadora para uma economia voltada ao mercado doméstico fracassarem, há possibilidade real de que os governantes chineses estimulem uma guerra para manter o país unido e continuar no poder.

Para referendar o argumento, Soros citou o exemplo do aumento dos gastos militares na China e Rússia.

A preocupação não é exclusiva do megainvestidor. No dia 15 de junho, a Bloomberg fez reportagem de título Five Million Reasons Why China Could Go to War (Cinco milhões de razões que justificariam uma guerra para China), citando maior atenção de bases militares no mar do Sul e relações armamentícias crescentes com Sudão, Iemen e Paquistão.

Em paralelo, há notícias apontando aproximação da China com a Rússia, que, por sua vez, acaba de prometer retaliar os EUA em caso de transferência de bases militares norte-americanas para os balcãs, conforme matéria da Reuters também do dia 15, de título Russia says will retaliate if US weapons stationed on its borders (Rússia diz que haverá retaliações caso EUA transfiram armas para suas fronteiras).

Não estou dizendo que, necessariamente, a reconciliação de 2015 com 2008 ensejará uma Terceira Guerra Mundial. Chamo a atenção, porém, para a gravidade e a complexidade do contexto político e econômico atual.

Temos sempre a tentação de achar que “desta vez é diferente”. Na maior parte das vezes, entretanto, não é. Se a história serve de guia, momentos muito longos de baixo crescimento econômico mundial, associados a recrudescimento das tensões políticas, abrem espaços para movimentos extremados, cujas consequências podem escapar ao controle.

Estamos certamente em tempos muito difíceis e os desdobramentos materiais podem ultrapassar nossa capacidade de antevisão a priori.

Voltando a Alan Greenspan e sua precisão nas palavras, “nós não sabemos muito bem o que fazer, por uma razão muito simples: nós nunca estivemos nessa situação antes.”

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Mercosul: vai sobreviver até 2021? Uma pesquisa feita em 2007 - Paulo Roberto de Almeida

A gente de vez em quando esquece das bobagens que já dissemos, preferindo apenas guardas as supostas genialidades.
Exemplos de bobagens passadas eu devo ter muitas, como talvez os argumentos relativamente otimistas que formulei a propósito do Mercosul nesta pesquisa empreendida por uma universidade brasileira em 2007.
Eu não adivinhava, então, quão baixo o Mercosul poderia cair, e quantos retrocessos poderia enfrentar, embora as causas estivessem claramente e prescientemente apontadas.
Apenas por isto eu transcrevo novamente este trabalho aqui.
Paulo Roberto de Almeida 

Uma pesquisa sobre o Mercosul: 

sua possível evolução até 2011 e 2021

Paulo Roberto de Almeida 

Espaço Acadêmico, junho de 2007 


Recebi, de uma universidade federal da qual me permito suprimir o nome (por simples razões de ordem prática e também porque não pretendo expor a iniciativa sem o expresso consentimento dos organizadores da pesquisa), um convite para participar de uma pesquisa a propósito da evolução futura do Mercosul. Para melhor familiarizar os leitores com os termos dessa pesquisa, creio mais apropriado transcrever o convite, como abaixo:

“Convidamos o senhor a participar de uma pesquisa acadêmica que busca prospectar cenários futuros do Mercado Comum do Sul (Mercosul) para os anos de 2011 e 2021, respectivamente 20 e 30 anos da assinatura do Tratado de Assunção.

“Para a realização desta pesquisa será utilizado o método Delphi, que consulta um grupo de especialistas a respeito de eventos futuros através de um questionário, que é repassado continuadas vezes, até que seja obtida uma convergência das respostas, um consenso, que representa uma consolidação do julgamento intuitivo do grupo.

‘”De todas as maneiras, fica bem claro que em toda e qualquer decisão, não será dado a conhecer o nome de nenhum respondente. Todos terão conhecimento da lista de participantes, mas os dados serão tratados de maneira coletiva.

“Essa pesquisa subsidiará a elaboração de um artigo acadêmico da disciplina de Negócios Internacionais do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade (XXX). Após o término da pesquisa, compartilharemos primordialmente os resultados com todos participantes.”

Essa pesquisa, tanto em sua versão online, como no documento de apoio encaminhado aos participantes, tinha a seguinte introdução: 

“O Mercosul, resultado de décadas de negociações e de disputas entre seus países integrantes, foi considerado, no seu início, como uma possibilidade muito efetiva de desenvolvimento econômico e social da região via integração. Surge, além disso, em uma década em que cada vez mais países em desenvolvimento adotam políticas neoliberais, a globalização ganha impulso e diversas crises cambiais ocorrem pelo mundo. Ao final da década de 90, mesmo com aumento do comércio intra-bloco e dos níveis de investimento produtivo, ainda restam diversas barreiras comerciais entre os integrantes assim como questões não resolvidas quanto à Zona de Livre Comércio e à União Aduaneira. No início do século XXI, ocorrem crises econômicas nos integrantes mais poderosos, Brasil e principalmente Argentina e o comércio intra-bloco perde força: aumenta-se o descrédito em relação ao Mercosul. Em seguida, a mudança nos perfis políticos dos principais governos da região para centro-esquerda, a definição da Venezuela como membro pleno, a melhoria da economia argentina, o crescimento econômico mundial, a recuperação do comércio intra-bloco, mas a insatisfação de membros menores como Uruguai e Paraguai emitem novas incertezas ao Mercosul, incluindo a sua continuidade. O Mercosul ainda não é, efetivamente, Zona de Livre Comércio ou União Aduaneira. Está longe de seu propósito principal, ser um mercado comum. Sendo assim, para onde vai o Mercosul?”

Ainda que eu tivesse algumas objeções de forma e de fundo aos argumentos acima reproduzidos e mesmo quanto ao enunciado das questões – que apresentam diversas defasagens temporais e mesmo de ordem factual – preferi responder ao questionário segundo os padrões estabelecidos. Ademais das perguntas, que, como em todo sistema Delphi, se baseavam na sua probabilidade de realização efetiva num determinado prazo – neste caso, os anos de 2011 e 2021 –, havia sempre uma explicação ou justificativa para cada um delas, do tipo: “Por quê; Quais entraves? Quais os riscos?”, etc. Consolidei minhas respostas num arquivo à parte, reproduzido abaixo. Prefiro suprimir minhas escolhas preferenciais, do tipo de média, baixa ou alta, em cada uma das linhas (ou seja, para 2011 e 2021), por não considerá-las muito relevantes (em vista dos imponderáveis que sempre surgem no futuro), e apresentar apenas os comentários explicativos, que seguem abaixo, tal como coletados em sistema online e através de documento próprio. 

Minha decisão em compartilhar estas respostas com um número maior de leitores se deve fato de que, possuindo algum conhecimento e experiência nessas questões de integração e de Mercosul, estimo ser interessante iniciar um debate mais amplo sobre a evolução futura do bloco, justamente, como aliás pretendido pelos organizadores da pesquisa.

Pesquisa sobre a evolução futura do Mercosul

1. Qual a probabilidade de ocorrência de acordos comerciais do Mercosul com a Comunidade Andina? Por quê? Quais entraves? Quais as oportunidades? Quais os benefícios? Quais os riscos?

PRA: A probabilidade é alta, porque de fato já existem diversos acordos entre os países do Mercosul e os da CAN, e ambos blocos estabeleceram um acordo quadro em 2004 e vem, supostamente, aprofundando esses acordos paulatinamente.

2. Qual a probabilidade de ocorrência de acordos comerciais do Mercosul com o NAFTA? Por quê? Quais entraves? Quais as oportunidades? Quais os benefícios? Quais os riscos?

PRA: Probabilidade de média a alta, pois a despeito de existirem amplos laços comerciais e de investimentos entre ambos os blocos, os países do Mercosul hesitam em se abrir a mais acordos de natureza substantiva com o NAFTA, que aliás, não negocia conjuntamente. O NAFTA é um acordo exclusivo da América do Norte e para fins de estratégias comerciais, cada um dos seus membros atua de modo independente e exclusivo. O que se cogitaria, portanto, seria, na verdade, acordos entre os países do Mercosul – que sim negociam conjuntamente – e países do Nafta, tomadas isoladamente, isto é, EUA, México e Canadá, cada um a seu modo.

3. Qual a probabilidade de efetivação de acordos comerciais do Mercosul com União Européia? Por quê? Quais entraves? Quais as oportunidades? Quais os benefícios? Quais os riscos?

PRA: Os principais entraves se deve à baixa disposição, de ambas as partes, a liberalizar amplamente as trocas, sobretudo em setores considerados sensíveis ou incapazes de sustentar a competição externa. A despeito de todos os economistas recomendarem maior liberalização, abertura ao comércio e aos investimentos, consolidação do jogo econômico pela via dos mercados, em lugar do regulacionismo estatal exagerado, como ocorre atualmente, os líderes políticos hesitam, continuamente, em engajar seus países na vida da abertura e da liberalização, com o temor de que perdas setoriais – fechamento de uma ou outra indústria não competitiva, com perda localizada e temporária de empregos – possam provocar protestos sociais (mais bem sindicais) e redundar e perda de apoio eleitoral.

4. Qual a probabilidade de ocorrência de acordos comerciais do Mercosul com o SADC? Por quê? Quais entraves? Quais as oportunidades? Quais os benefícios? Quais os riscos?

PRA: Existem muitas possibilidades de intensificação do comércio recíproco, mas o desconhecimento dos mercados e a propensão à cautela impedem uma verdadeira liberalização comercial. Ou seja, os acordos negociados sempre se caracterizam por baixos patamares de abertura recíproca.

5. Qual é a probabilidade de efetivação da ALCA? Por quê? Quais entraves? Quais as oportunidades? Quais os benefícios? Quais os riscos?

PRA: Os responsáveis políticos continuam a insistir na tese das assimetrias, neste caso entre os EUA, de um lado, como a economia mais poderosa do hemisfério, e todas as demais economias de outro, muito embora México, Canadá e alguns outros países já tenham aderido, com todos os benefícios e problemas, ao projeto americano de liberalização comercial. Na prática, a Alca – concebida com um único acordo, abrangente e uniforme, dotada de regras comuns aplicáveis a todos os participantes – pode revelar-se desnecessária, na medida em que a oposição de alguns países da América do Sul ao projeto original – notadamente Argentina, Brasil e Venezuela – já determinou uma mudança na estratégia negocial dos EUA, fazendo-os enveredar pela via mais fácil dos acordos bilaterais, em lugar de um único acordo hemisférico. O que se tem, de fato, é uma rede de acordos unindo quase todas as economias do hemisfério à economia dos EUA, deixando de fora apenas os mais recalcitrantes, entre eles o próprio Brasil.

6. Qual a probabilidade de ocorrência de acordo comercial com algum outro bloco econômico? Por quê? Quais entraves? Quais as oportunidades? Quais os benefícios? Quais os riscos?

PRA: Países da Ásia (possivelmente Asean) e do Oriente Médio (Emirados, ou Conselho de Cooperação do Golfo), com a possibilidade adicional de negociações com países da comunidade econômica do Mar Negro e outros países da Ásia Central. Existem possibilidades ainda não exploradas no comércio com outros blocos de integração, em virtude do desconhecimento, ausência de ligações físicas diretas e outros elementos negociais. Na prática, os empresários, que são aqueles que sempre saem na frente dos governos, irão criar os vínculos comerciais que depois serão ratificados ou formalizados pelos governos, uma vez que as burocracias governamentais são sempre lentas a se moverem. Governos são geralmente assaltados por lobbies setoriais que defendem interesses protecionistas, opostos a qualquer abertura ou liberalização.

7. Qual a probabilidade da Venezuela participar ativamente do Mercosul? Por quê? Quais entraves? Quais as oportunidades? Quais os benefícios? Quais os riscos?

PRA: A Venezuela teria todas as condições de participar plenamente do Mercosul, mas apresenta dificuldades conjunturais derivadas de seu regime político, dominado por uma ditadura personalista, engajada supostamente na construção de um "monstro metafísico" chamado "socialismo do século XXI", que representa simplesmente uma deformação completa das regras do jogo econômico. As distorções acumuladas por um estilo caudilhesco de poder político diminuem o espaço da economia de mercado na Venezuela – em total contradição com o que ocorre no resto do mundo, e hipoteticamente no Mercosul –, dificultam o surgimento de indústrias competitivas e portanto reduzem o espaço para a liberalização e a integração completa da Venezuela no jogo do livre comércio, que é, simples assim, o princípio básico do Mercosul. As práticas "econômicas" do ditador venezuelano afastam a Venezuela das regras e normas do Mercosul, tornando difícil, portanto, sua incorporação plena ao Mercosul. A "alta probabilidade" da Venezuela participar do Mercosul depende assim de que essas orientações bizarras no plano econômico sejam afastadas. As opções indicadas são totalmente condicionadas a que essa mudança de orientação ocorra, caso contrário a Venezuela vai retardar a integração plena do Mercosul e sua evolução para um mercado comum, como seria o projeto original.

8. Qual a probabilidade de haver a incorporação de algum(ns) outro(s) país(es) como membro(s) do Mercosul? Quais? Por quê?

PRA: Tanto a Bolívia, como o Equador poderiam aderir mais plenamente ao Mercosul, pois não assumiram outros compromissos liberalizantes com outros esquemas – ambos são teoricamente membros da CAN, que deveria ser uma união aduaneira, mas que não funcional como tal – ou com os EUA. O que os impediria, talvez, é o mesmo tipo de orientação estatizante e protecionista que caracterizam os regimes politicamente fechados, de que são exemplos, na região, Venezuela e Cuba (e possivelmente Nicarágua, se predomina esse tipo de orientação). Os demais países, como Chile ou Colômbia, já perseguem estratégias liberalizantes mais afirmadas, tendo concluído acordos com os EUA e dispostos a avançar em novos acordos de livre comércio com outros países.

9. Qual a probabilidade de haver a efetiva circulação de mão-de-obra no Mercosul? Por quê? Quais entraves? Quais as oportunidades? Quais os benefícios? Quais os riscos?

PRA: As diferenças de tamanho, sobretudo em relação ao Brasil, e os desníveis sócio-econômicos, são um poderoso indutor à não liberalização dos fluxos de pessoas, o que não significa que não possa haver maior liberalização de trabalhadores. Ou seja, a mão-de-obra poderia circular de forma mais ampla no Mercosul, mas sempre de forma regulada, ou seja, mais de acordo com princípios mercantilistas do que livre-cambistas.

10. Qual a probabilidade de haver livre circulação de capitais no Mercosul? Por quê? Quais entraves? Quais as oportunidades? Quais os benefícios? Quais os riscos?

PRA: Já existe relativa mobilidade capitais no Mercosul, o que tende a aumentar com a abertura gradual das economias. Uma liberalização completa, porém, dependeria da plena estabilização econômica em cada um dos países, o que está condicionado a que os graves problemas fiscais em quase todos eles – com reflexos orçamentários e na dívida pública – sejam equacionados de forma satisfatória no médio prazo.

11. Qual a probabilidade que se possa efetivar um Parlamento para o Mercosul? Por quê? Quais entraves? Quais as oportunidades? Quais os benefícios? Quais os riscos?

PRA: Já existe Parlamento do Mercosul, mas atualmente ele se dedica mais a "turismo parlamentar" do que a discussão e resolução de questões reais da união aduaneira deficiente que é a situação atual do Mercosul. Por outro lado, não estão resolvidas as questões da proporcionalidade da representação assim como a do processo decisório, elementos cruciais não apenas do Parlamento, mas do próprio bloco.

12. Qual a probabilidade da Zona de Livre Comércio existir plenamente, sem exceções? Por quê? Quais entraves? Quais as oportunidades? Quais os benefícios? Quais os riscos?

PRA: A ZLC já um fato predominante, e as exceções remanescentes – setor automotivo e açúcar – deveriam, em princípio, ser equacionadas em médio prazo.

13. Qual a probabilidade do Mercosul alcançar plenamente o estágio de União Aduaneira? Por quê? Quais entraves? Quais as oportunidades? Quais os benefícios? Quais os riscos?

PRA: Os países relutam em ceder soberania, mas os fatores mais limitantes são as diferentes estruturas tributárias, os regimes diferenciados de fiscalização e os próprios regimes aduaneiros, que não estão verdadeiramente integrados como deveria ser. Quinze anos depois do seu início, e doze anos depois de sua suposta conversão em UA, o Mercosul simplesmente não possui um Código Aduaneiro e uma autoridade aduaneira unificada. Será um processo difícil de ser concretizado.

14. Qual a probabilidade do Mercosul alcançar plenamente o estágio de Mercado Comum? Por quê? Quais entraves? Quais as oportunidades? Quais os benefícios? Quais os riscos?

PRA: Os países membros, por deficiências de suas lideranças políticas e protecionismo exacerbado em vários setores produtivos, simplesmente não caminham para atingir a liberalização plena das trocas de bens e serviços na região. Os riscos, como sempre, derivam das ameaças de desemprego setorial por motivo de concorrência – sendo o Brasil, ao mesmo tempo o país mais forte economicamente e aquele politicamente mais protecionista – e das incertezas fiscais derivadas de uma reformulação nas normas tributárias que deveriam ser implementadas parda que o mercado comum fosse efetivo. Outras dificuldades se explicam pela baixa propensão das lideranças políticas – do executivo e do legislativo – em se engajar pela via das reformas legais que precisariam ser feitas para viabilizar o mercado comum.

15. Qual a probabilidade dos países membros do Mercosul utilizarem uma moeda única? Por quê? Quais entraves? Quais as oportunidades? Quais os benefícios? Quais os riscos?

PRA: Não há nenhum, repito, nenhum, espírito de convergência macroeconômica entre os países do Mercosul atualmente. A despeito de todos serem moderadamente capitalistas – a exceção sendo a Venezuela, caso seja admitida, provavelmente submetida à macroeconômica surrealista de um ditador personalista –, todos eles perseguem objetivos econômicos estreitamente nacionais, com escassa, ou nenhuma, coordenação conjunta com vistas a atingir, ainda que no médio ou longo prazo, condições macroeconômicas convergentes de maneira a dar início a um processo de uniformidade nas políticas monetárias e cambiais, o que poderia abrir caminho para uma "banda cambial" conjunta e, mais adiante, se falar em "moeda comum". De toda forma isso só se aplica se, e quando, os países caminharem efetivamente para um mercado comum, que sendo verdadeiramente unificado "chama" naturalmente uma moeda comum, ou única. Não havendo mercado comum, é absolutamente irrealista falar de moeda única, e os promotores idealistas dessa quimera podem ser colocados na "ala dos Napoleões de hospício".

16. Qual a probabilidade dos países membros do Mercosul adotarem uma União Monetária? Por quê? Quais entraves? Quais as oportunidades? Quais os benefícios? Quais os riscos?

PRA: Os mesmos motivos explicitados acima, ainda que neste âmbito possa se pensar em "sistema monetário" do Mercosul, ou seja, uma variação correlacionada das moedas nacionais segundo alguma banda de referência, com intervenção ativa dos bancos centrais. Mas, para que isso se faça, seria necessário que os países renunciassem à soberania em matéria de política monetária e cambial, o que parece longe de se realizar. Isso exigiria, antes de mais nada, que todos eles fossem animados dos mesmos princípios em termos de políticas fiscais, que se caminhasse para a harmonização tributária, que os intercâmbios de todos os tipos – inclusive de mão-de-obra – fossem totalmente livres e que a racionalidade implícita num processo de unificação de mercados fosse manifestamente superior à situação atual de independência monetária e comercial. No fundo, se trata de saber se a densidade de comércio, de intercâmbio de tecnologia, de trocas financeiras e de todos os tipos se justifica economicamente. Só vale renunciar à soberania em matéria econômica se os ganhos esperados superam os inconvenientes da nova situação. Nas condições do Mercosul e da América do Sul não existe certeza de que esses ganhos justifiquem os custos.


Clausula democratica do Mercosul: o que cabe fazer agora?

Ninguém necessita de conselhos ou instruções ante tão claras determinações do Protocolo de Ushuaia II, não é mesmo?
 
ARTIGO 1
O presente Protocolo será aplicado em caso de ruptura ou ameaça de ruptura da ordem democrática, de uma violação da ordem constitucional ou de qualquer situação que ponha em risco o legitime exercício do poder e a vigência dos valores e princípios democráticos.
 
ARTIGO 2
Quando se produzir alguma das situações indicadas no artigo anterior, os Presidentes das Partes ou, na falta destes, os Ministros das Relações Exteriores reunir-se-ão em sessão extraordinária ampliada do Conselho do Mercado Comum, por solicitação da Parte afetada ou de qualquer outra Parte. Tal reunião será realizada no território da Parte em exercício da Presidência Pro Tempore.
 
(...)
 
ARTIGO 3
Os Presidentes das Partes ou, na falta destes, os Ministros das Relações Exteriores em sessão ampliada do Conselho do Mercado Comum promoverão, através da Presidência Pro Tempore, consultas imediatas com as autoridades constitucionais da Parte afetada, interporão seus bens ofícios e realizarão gestões diplomáticas para promover o restabelecimento da democracia no país afetado.
 
Caso as consultas mencionadas resultem infrutíferas ou que as autoridades constitucionais da Parte afetada se vejam impedidas de mantê-las, os Presidentes das demais Partes ou, na falta destes, seus Ministros das Relações Exteriores em sessão ampliada do Conselho do Mercado Comum considerarão a natureza e o alcance das medidas a serem aplicadas de forma consensuada, com base no estabelecido no Artigo 6.
 
ARTIGO 4
Quando o Governo constitucional de uma Parte considerar que esta ocorrendo em sua jurisdição alguma das situações indicadas no artigo 1 poderá solicitar aos Presidentes das Partes ou, na falta destes, aos Ministros das Relações Exteriores em sessão ampliada do Conselho do Mercado Comum, através da Presidência Pro Tempore, colaboração para o fortalecimento e preservação da institucionalidade democrática.
 
(...)
 
ARTIGO 6
Em caso de ruptura ou ameaça de ruptura da ordem democrática em uma Parte do presente Protocolo, os Presidentes das demais Partes ou, na falta destes, seus Ministros das Relações Exteriores em sessão ampliada do Conselho do Mercado Comum poderão estabelecer, dentre outras, as medidas que se detalham a seguir:
 
a.- Suspender o direito de participar nos diferentes órgaos da estrutura institucional do
MERCOSUL.
 
b.- Fechar de forma total ou parcial as fronteiras terrestres. Suspender ou limitar o comercio, o trafego aéreo e marítima, as comunicações e o fornecimento de energia, serviços e abastecimento.
 
c.- Suspender a Parte afetada do gozo dos direitos e benefícios emergentes do Tratado de Assunção e seus Protocolos e dos Acordos de integração celebrados entre as Partes, conforme couber.
 
d.- Promover a suspensão da Parte afetada no âmbito de outras organizações regionais e internacionais. Promover junto a terceiros países ou grupos de países a suspensão da Parte afetada de direitos e/ou benefícios derivados dos acordos de cooperação dos quais seja parte.
 
e.- Respaldar os esforços regionais e internacionais, em particular no âmbito das Nações Unidas, encaminhados a resolver e a encontrar uma solução pacifica e democrática para a situaçao ocorrida na Parte afetada.
 
f.- Adotar sançoes políticas e diplomáticas adicionais.
 
As medidas guardarão a devida proporcionalidade com a gravidade da situação existente; não deverão per em risco o bem-estar da população e o gozo efetivo dos direitos humanos e liberdades fundamentais ria Parte afetada; respeitarão a soberania e integridade territorial da Parte afetada, a situação dos países sem literal marítimo e os tratados vigentes.
 
ARTIGO 7
Na aplicação das medidas indicadas no Artigo 6, as Presidentes das demais Partes ou, na falta destes, seus Ministros das Relações Exteriores em sessão ampliada do Conselho do Mercado Comum zelarão, através dos meios apropriados, pelo cumprimento pela Parte afetada de suas obrigações no âmbito dos acordos de integração celebrados entre as Partes.
 
ARTIGO 8
Conjuntamente com a adoção das medidas assinaladas no Artigo 6, os Presidentes das Partes ou, na falta destes, os Ministros das Relações Exteriores em sessão ampliada do Conselho do Mercado Comum interporão seus bons ofícios e realizarão gestões diplomáticas para promover o restabelecimento da ordem democrática e constitucional, o legitime exercício do poder e a plena vigência dos valores e princípios democráticos no pais afetado. Tais ações serão levadas a cabo em coordenação com aquelas que se realizem em aplicação de outros instrumentos internacionais sabre a defesa da democracia e o respeito aos direitos humanos.
 
(...)

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Mercosul e sua clausula (nao muito) democratica: Protocolo de Ushuaia II (apenas para constar)

Bem, essas coisas não devem ser levadas muito a sério em nossos países, inclusive porque a direita vive arrumando confusão e tentativas de golpes, só para constranger os companheiros, que como todos sabem, defendem a democracia com unhas e dentes, sobretudo com os dentes. 
Paulo Roberto de Almeida 

Protocolo de Montevidéu sobre Compromisso com a Democracia 
no MERCOSUL (USHUAIA II)
A República Argentina, a Republica Federativa do Brasil, a Republica do Paraguai, a República Oriental do Uruguai, Estados Partes do MERCOSUL, e o Estado Plurinacional da Bolívia, a Republica do Chile, a Republica da Colômbia, a Republica do Equador, a Republica do Peru e a Republica Bolivariana da Venezuela, Estados Associados do MERCOSUL, doravante as Partes;        
 
CONSIDERANDO que a plena vigência das instituições democráticas e o respeito aos direitos humanos e as liberdades fundamentais são condições essenciais para a vigência e evolução do processo de integração entre as Partes;
 
REITERANDO o compromisso com a promoção, defesa e proteção da ordem democrática, do estado de direito e suas instituições, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais como condições essenciais e indispensáveis para o desenvolvimento do processo de integração e para,a,participação no MERCOSUL;
 
ACORDAM:
 
ARTIGO 1
O presente Protocolo será aplicado em caso de ruptura ou ameaça de ruptura da ordem democrática, de uma violação da ordem constitucional ou de qualquer situação que ponha em risco o legitime exercício do poder e a vigência dos valores e princípios democráticos.
 
ARTIGO 2
Quando se produzir alguma das situações indicadas no artigo anterior, os Presidentes das Partes ou, na falta destes, os Ministros das Relações Exteriores reunir-se-ão em sessão extraordinária ampliada do Conselho do Mercado Comum, por solicitação da Parte afetada ou de qualquer outra Parte. Tal reunião será realizada no território da Parte em exercício da Presidência Pro Tempore.
 
Caso a Parte afetada se encontre em exercício da Presidência Pro Tempore, a reunião indicada no parágrafo anterior terá lugar -em principio- no território da Parte a qual corresponda o próximo turno de referida Presidência.
 
ARTIGO 3
Os Presidentes das Partes ou, na falta destes, os Ministros das Relações Exteriores em sessão ampliada do Conselho do Mercado Comum promoverão, através da Presidência Pro Tempore, consultas imediatas com as autoridades constitucionais da Parte afetada, interporão seus bens ofícios e realizarão gestões diplomáticas para promover o restabelecimento da democracia no país afetado.
 
Caso as consultas mencionadas resultem infrutíferas ou que as autoridades constitucionais da Parte afetada se vejam impedidas de mantê-las, os Presidentes das demais Partes ou, na falta destes, seus Ministros das Relações Exteriores em sessão ampliada do Conselho do Mercado Comum considerarão a natureza e o alcance das medidas a serem aplicadas de forma consensuada, com base no estabelecido no Artigo 6.
 
ARTIGO 4
Quando o Governo constitucional de uma Parte considerar que esta ocorrendo em sua jurisdição alguma das situações indicadas no artigo 1 poderá solicitar aos Presidentes das Partes ou, na falta destes, aos Ministros das Relações Exteriores em sessão ampliada do Conselho do Mercado Comum, através da Presidência Pro Tempore, colaboração para o fortalecimento e preservação da institucionalidade democrática.
 
ARTIGO 5
Com base nos requerimentos do Governo constitucional da Parte afetada e com seu consentimento, os Presidentes das Partes ou, na falta destes, os Ministros das Relações Exteriores em sessão ampliada Conselho do Mercado Comum poderão dispor, dentre outras, a constituição de:
 
a.- Comissões de apoio, cooperação e assistência técnica e especializada a Parte afetada.
 
b.- Comissões abertas para acompanhar os trabalhos de mesas de dialogo entre os atores políticos, sociais e econômicos da Parte afetada.
 
Nas comissões mencionadas nas alíneas a) e b) poderão participar, dentre outros, membros do Parlamento do MERCOSUL, do Parlamento Andino, dos Parlamentos Nacionais, o Alto Representante-Geral do MERCOSUL e representantes governamentais designados pelas Partes para tal fim.
 
ARTIGO 6
Em caso de ruptura ou ameaça de ruptura da ordem democrática em uma Parte do presente Protocolo, os Presidentes das demais Partes ou, na falta destes, seus Ministros das Relações Exteriores em sessão ampliada do Conselho do Mercado Comum poderão estabelecer, dentre outras, as medidas que se detalham a seguir:
 
a.- Suspender o direito de participar nos diferentes 6rgaos da estrutura institucional do
MERCOSUL.
 
b.- Fechar de forma total ou parcial as fronteiras terrestres. Suspender ou limitar o comercio, o trafego aéreo e marítima, as comunicações e o fornecimento de energia, serviços e abastecimento.
 
c.- Suspender a Parte afetada do gozo dos direitos e benefícios emergentes do Tratado de Assunção e seus Protocolos e dos Acordos de integração celebrados entre as Partes, conforme couber.
 
d.- Promover a suspensão da Parte afetada no âmbito de outras organizações regionais e internacionais. Promover junto a terceiros países ou grupos de países a suspensão da Parte afetada de direitos e/ou benefícios derivados dos acordos de cooperação dos quais seja parte.
 
e.- Respaldar os esforços regionais e internacionais, em particular no âmbito das Nações Unidas, encaminhados a resolver e a encontrar uma solução pacifica e democrática para a situaçao ocorrida na Parte afetada.
 
f.- Adotar sançoes políticas e diplomáticas adicionais.
 
As medidas guardarão a devida proporcionalidade com a gravidade da situação existente; não deverão per em risco o bem-estar da população e o gozo efetivo dos direitos humanos e liberdades fundamentais ria Parte afetada; respeitarão a soberania e integridade territorial da Parte afetada, a situação dos países sem literal marítimo e os tratados vigentes.
 
ARTIGO 7
Na aplicação das medidas indicadas no Artigo 6, as Presidentes das demais Partes ou, na falta destes, seus Ministros das Relações Exteriores em sessão ampliada do Conselho do Mercado Comum zelarão, através dos meios apropriados, pelo cumprimento pela Parte afetada de suas obrigações no âmbito dos acordos de integração celebrados entre as Partes.
 
ARTIGO 8
Conjuntamente com a adoção das medidas assinaladas no Artigo 6, os Presidentes das Partes ou, na falta destes, os Ministros das Relações Exteriores em sessão ampliada do Conselho do Mercado Comum interporão seus bons ofícios e realizarão gestões diplomáticas para promover o restabelecimento da ordem democrática e constitucional, o legitime exercício do poder e a plena vigência dos valores e princípios democráticos no pais afetado. Tais ações serão levadas a cabo em coordenação com aquelas que se realizem em aplicação de outros instrumentos internacionais sabre a defesa da democracia e o respeito aos direitos humanos.
 
ARTIGO 9
As medidas a que se refere o Artigo 6 aplicadas a Parte afetada entrarão em vigor na data em que se adote a respectiva decisão. As mesmas cessarão a partir da data em que se comunique a Parte afetada a decisão das demais Partes nesse sentido, uma vez que as causas que motivaram sua adoção tenham sido plenamente reparadas.
 
ARTIGO 10

O presente Protocolo é parte integrante do Tratado de Assunção e dos respectivos
Acordos de integração celebrados entre o MERCOSUL e seus Estados Associados.
 
ARTIGO 11
O presente Protocolo estará aberto a assinatura das Partes ate 1° de março de 2012.
 
O presente Protocolo entrara em vigor trinta (30) dias após o deposito do instrumento de ratificação pelo quarto Estado Parte do MERCOSUL. Na mesma data entrara em vigor para os Estados Associados que o tiverem ratificado anteriormente.
 
Para os Estados Associados que não o t verem ratificado anteriormente a essa data, entrara em vigor no mesmo dia em que for depositado o respectivo instrumento de ratificação.                     
 
Os direitos e obrigações derivados do Protocolo somente aplicam-se aos Estados que o tenham ratificado.                                        
 
Nas matérias reguladas pelo presente Protocolo, as relações entre as Partes que o tenham ratificado e aqueles que ainda não o tiverem ratificado e destes últimos entre si continuarão regendo-se pelo Protocolo de Ushuaia sobre Compromisso Democrático no MERCOSUL, Bolívia e Chile.
 
Uma vez que todos os Estados signatário (aderentes do Protocolo de Ushuaia sabre Compromisso Democrático no MERCOSUL; Bolívia e Chile, tiverem ratificado o presente Protocolo, o primeiro ficara sem efeitos.
 
ARTIGO 12
A Republica do Paraguai será Depositaria do presente Protocolo e dos respectivos instrumentos de ratificação, devendo notificar as Partes sabre as datas dos depósitos desses instrumentos e da entrada em vigor do Protocolo, bem como enviar-lhes cópia devidamente autenticada do mesmo.

Venezuela chavista-Brasil companheiro: grandes alegrias, grandes tristezas, com turismo politico...

O voo em avião da FAB estava excelente, e o serviço de bordo não deixava nada a desejar às melhores companhias do Oriente Médio e da Ásia, mas a sobremesa é que não se pode digerir...
Aliás, não deu tempo: o trânsito estava um pouco rebelde...

Brasil-Venezuela

Senadores brasileños regresan al aeropuerto al no poder llegar a Caracas

Tintori Neves
Los senadores fueron recibidos por Lilian Tintori y Patricia Gutiérrez, esposas de los políticos presos Leopoldo López y Daniel Ceballos. Foto: Twitter Lilian Tintori.
Infolatam/Efe
Caracas, 18 de junio de 2015
Las claves
  • Los senadores no pudieron trasladarse hasta Caracas y tuvieron que volver a la terminal cuando varios autobuses situados en medio de la carretera supuestamente puestos para impedir el paso por unos túneles que estaban siendo limpiados, les impidieron el paso.
  • Los senadores esperaban, con este viaje, poder visitar a los políticos presos, así como a algunos de los de los opositores que se encuentran en huelga de hambre, dentro y fuera de internados judiciales, incluyendo a Leopoldo López que ya ha cumplido 25 días sin comer.
El grupo de senadores brasileños que llegó este jueves a Venezuela para solidarizarse con los opositores venezolanos presos no pudo trasladarse desde el aeropuerto a Caracas debido a que se encontraron con varios obstáculos, por lo que tuvieron que volver a la terminal.
Los senadores llegaron a las 12.30 hora local (17.00 GMT) al aeropuerto internacional de Maiquetía, a unos 20 kilómetros de Caracas, y fueron recibidos por Lilian Tintori y Patricia Gutiérrez, esposas de los políticos presos Leopoldo López y Daniel Ceballos, respectivamente, así como por otras opositoras.
Sin embargo, los senadores no pudieron trasladarse hasta Caracas y tuvieron que volver a la terminal cuando varios autobuses situados en medio de la carretera supuestamente puestos para impedir el paso por unos túneles que estaban siendo limpiados, les impidieron el paso.
“#ALERTA Accesos a #Caracas desde Maiquetía totalmente trancados que impiden desplazamiento de senadores brasileños”, señaló el partido opositor Voluntad Popular en su cuenta de Twitter.
Por su parte, la dirigente opositora María Corina Machado, que también formó parte del grupo que recibió a los senadores en el aeropuerto escribió en la misma red social: “Totalmente trancada la autopista (…) porque “están limpiando los túneles” y por “protesta” carretera vieja”.
Machado también opinó: “Si (el) régimen creyó que trancando todas las vías (…) impedirían que los Senadores constataran la situación DDHH en Venezuela, lograron lo contrario” y agregó que “en menos de tres horas los Senadores brasileros ya saben lo que significa vivir en dictadura hoy en Venezuela”.
El senador y excandidato presidencial brasileño Aécio Neves, que encabezó el grupo de parlamentarios que viajó a Venezuela, dijo antes de partir al país petróleo que llevaría “solidaridad a los presos políticos” y difundió en Twitter una foto en la que le observa subiendo al avión de la Fuerza Aérea Brasileña que trasladó al grupo.
Los senadores esperaban, con este viaje, poder visitar a los políticos presos, así como a algunos de los de los opositores que se encuentran en huelga de hambre, dentro y fuera de internados judiciales, incluyendo a Leopoldo López que ya ha cumplido 25 días sin comer.
Tintori mantenía la expectativa, además, de que los senadores vieran “las colas para comprar alimentos” y “la inseguridad” que se vive en Venezuela.
La esposa de Ceballos también reaccionó ante el hecho de que los senadores se vieran impedidos de llegar a Caracas y escribió, también en Twitter: “Un hombre que tiene 25 días en huelga de hambre por la libertad ha hecho que el régimen tranque vías para impedir visita de senadores del Brasil”.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Trade negotiations and Fast Track: Obama will get one? - Americans For Limited Government

O pessoal do Americans For Limited Government é absolutamente contrário a concessão, pelo Congresso, de uma Trade Promotion Authority, novo nome do Fast Track, ao presidente, para que ele possa negociar e assinar um acordo comercial na região da Ásia Pacífico e depois com a UE.
Ele não precisaria disso, mas o fato é que o Congresso pode se opor a determinados dispositivos e aí seria impossível voltar a reabrir o acordo multilateral, e os EUA acabariam ficando de fora, como parece que vão ficar de fora, se o Congresso não conceder um novo fast track, ou sem ele, se não aprovar o acordo resultante.
Seria um desastre, como já está sendo, um vácuo a ser ocupado inevitavelmente pela China, mas que trabalha com outros parâmetros negociadores e outros "conteúdos" de um acordo comercial, sem todos aqueles penduricalhos que os americanos exigem, tipo regras laborais, condicionalidades ambientais, propriedade intelectual, liberalização financeir e em serviços, etc.
Ou seja, um cenário preocupante para o império, que sente que já não consegue mais impor suas regras ao mundo, mas que o mundo está estabelecendo regras que o deixarão para trás.
Assim é também com o Brasil, um país que já ficou para trás, e que tem poucas chances de recuperar tudo o que foi perdido nos anos dos governos incompetentes do lulo-petismo.
Paulo Roberto de Almeida

Vote NO on fast track trade authority for Obama

Americans for Limited Government, June 18, 2015

Fairfax, Va.—Americans for Limited Government President Rick Manning today issued the following statement in opposition to granting fast track trade authority to President Barack Obama to negotiate the Trans-Pacific Partnership:

"President Barack Obama already has all the authority he needs in the Constitution to negotiate any treaty he pleases with or without fast track — all fast track does is turn the Congressional ratification part of treaty making into a rubber stamp.  I ask those who argue that fast track asserts Congressional authority to name another time when President Obama supported legislation that reined in his power.  Anyone who believes that Obama would sign a fast track bill that limited his authority to rewrite the rules of the world simply hasn't been paying attention."

To view online: http://getliberty.org/vote-no-on-fast-track-trade-authority-for-obama/

Attachment:
Stop pretending Pacific trade deal is not a treaty, By Robert Romano, June 18, 2015 at http://netrightdaily.com/2015/04/stop-pretending-pacific-trade-deal-is-not-a-treaty/