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sexta-feira, 22 de março de 2019

Academia Brasileira de Letras: Joaquim Nabuco


ABL dá início a suas atividades culturais de 2019 com o ciclo de conferências ‘Presenças Fundamentais’

A Academia Brasileira de Letras abriu, no dia 21 de março, quinta-feira, no Teatro R. Magalhães Jr. (Avenida Presidente Wilson, 203, Castelo, Rio de Janeiro), com o tema “Presenças Fundamentais”, a temporada 2019 de seus ciclos de conferências, sob coordenação-geral da Acadêmica e escritora Ana Maria Machado, Primeira-Secretária da ABL.
A palestra de abertura, intitulada O lugar de Machado de Assis na literatura brasileira, coordenada pelo Acadêmico Marco Lucchesi, Presidente da ABL, teve como conferencista o Acadêmico Domício Proença Filho. Jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, Machado de Assis foi o fundador da cadeira nº. 23 e ocupou por mais de dez anos a Presidência da Academia, que passou a ser chamada também de Casa de Machado de Assis.
O ciclo terá mais duas conferências, sempre às quintas-feiras, no mesmo local e horário: Nabuco: uma visão do passado brasileiro, tendo como palestrante o Acadêmico Evaldo Cabral de Mello; e Rui Barbosa, 170 anos, dimensão da atualidade do seu percurso, com o Acadêmico Celso Lafer.
Foram fornecidos certificados de frequência.
A Acadêmica Ana Maria Machado é a Coordenadora-Geral dos ciclos de conferências de 2019.

OS CONFERENCISTAS

Domício Proença Filho é Professor Emérito e Professor Titular de Literatura Brasileira da Universidade Federal Fluminense, aposentado; Doutor e Livre-Docente em Letras; Doutor Honoris Causa pela Universidade Clermont Auvergne, da França.
Lecionou Literatura Brasileira, Teoria Literária e Língua Portuguesa em diversos outros estabelecimentos de ensino superior e médio, entre eles, a UFRJ e a PUC o Rio de Janeiro. Como Professor Titular Convidado (Gastprofessor), ministrou cursos na Universidade de Colônia e na Escola Técnica de Altos Estudos de Aachen.
Coordenou, a convite da Missão Permanente do Brasil na ONU, o Primeiro Encontro das Academias de Letras dos países da CPLP, realizado na sede da Organização, em Nova Iorque, em 2018. Participou, como conferencista e debatedor, deste encontro e de seminários e cursos promovidos por instituições de ensino superior e centros de estudos em Lisboa, Coimbra, Porto, Colônia, Tübingen, Munique, Roma, Bolonha, Pádua, Madri, Salamanca, Paris, Clermont Ferrand, Belgrado, Novi Saád, Nova Iorque e Minnesota.
É também crítico, ensaísta, poeta, ficcionista, roteirista e autor de projetos culturais.
Publicou, até o momento, 68 livros, entre eles:
Ensaios críticos: Estilos de época na literatura, a linguagem literária, Leitura do texto, leitura do mundo (Prêmio Astrogildo Pereira de crítica, da União Brasileira dos Escritores–RJ, 2016); verbetes e monografias das áreas de Teoria Literária e de Literatura Brasileira da Enciclopédia Século XX, de que foi diretor de texto; cinco capítulos da História da Literatura Brasileira (Lisboa, 1999), dirigida por Sílvio Castro);
Poesia: Oratório dos Inconfidentes; Dionísio esfacelado-Quilombo dos Palmares, (Prêmio de poesia, da União Brasileira dos Escritores-RJ 2017), O risco do jogo, este com edição espanhola na coleção Piel de Sal, da Editora Celesta, que reúne obras de Valéry, Cummings, John Donne, Quevedo, Eliot, Mallarmé e Fernando Pessoa;
Ficção: Estórias da mitologia-o cotidiano dos deuses, uma extravagância ficcional, Capitu-memórias póstumas, romance com edições em italiano e francês, e Breves estórias de Vera Cruz das Almas, mini narrativas, (Primeiro lugar no concurso de contos da Fundação Cultural de Brasília, 1991);
Língua portuguesa: Por dentro das palavras da nossa língua portuguesa, Nova ortografia da língua portuguesa-guia prático Muitas línguas, uma língua: a trajetória do português brasileiro;
Roteiros e séries radiofônicas: “Nos caminhos da comunicação”, cem programas sobre língua portuguesa, e “Os romances de Érico Veríssimo”, cinco programas. Ambas foram transmitidas pela Rádio MEC. Idealizou, com Maria Eugênia Stein, o filme “Português, a língua do Brasil”, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, do qual foi também responsável pela orientação de conteúdos.
Oratório dos Inconfidentes e o romance Capitu-memórias póstumas vêm sendo objeto de teses universitárias e vários de seus poemas integram antologias publicadas no Brasil e no exterior.
Foi agraciado com a Medalha Tiradentes, do Estado do Rio de Janeiro; com a Medalha Pedro Ernesto, da Cidade do Rio de Janeiro; com a Medalha do Mérito Tamandaré, da Marinha do Brasil; com a Medalha do Mérito Naval; com o título de Cidadão de Minas Gerais.
Recebeu, entre outros, além dos citados, os seguintes prêmios: Personalidade Cultural do Ano, da Associação Paulista de Críticos de Arte -1982; Personalidade Cultural do Ano, da Associação Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro – 1992; Prêmio Raça Negra, pelo conjunto da obra, concedido pela Afrobras; Personalidade Educacional do ano – 2011 e 2012, concedido pela Associação Brasileira de Imprensa e o jornal Folha Dirigida; Prêmio São Sebastião de Cultura-Ação Cultural, 2014, da Arquidiocese do Rio de Janeiro.
Além da Academia Brasileira de Letras, é membro, entre outras instituições, da Academia Brasileira de Filologia, da Academia Carioca de Letras, da Academia das Ciências de Lisboa, do Real Gabinete Português de Leitura e do PEN Clube do Brasil.
Evaldo Cabral de Mello nasceu no Recife em 1936 e atualmente mora no Rio de Janeiro. Estudou Filosofia da História em Madri e Londres. Em 1960, ingressou no Instituto Rio Branco e dois anos depois iniciou a carreira diplomática. Serviu nas embaixadas do Brasil em Washington, Madri, Paris, Lima e Barbados, e também nas missões do Brasil em Nova York e Genebra, e nos consulados gerais do Brasil em Lisboa e Marselha.
Um dos mais destacados historiadores brasileiros, Evaldo Cabral de Mello é especialista em História regional e no período de domínio holandês em Pernambuco no século XVII, assunto sobre o qual escreveu muitos de seus livros, como Olinda restaurada (1975), sua primeira obra, Rubro veio (1986), sobre o imaginário da guerra entre Portugal e Holanda, e O negócio do Brasil (1998), sobre os aspectos econômicos e diplomáticos do conflito entre portugueses e holandeses. É organizador do volume Essencial Joaquim Nabuco, da Penguin-Companhia das Letras.
Celso Lafer, quinto ocupante da Cadeira 14 da Academia Brasileira de Letras, eleito em 2006, é professor Emérito da Universidade de São Paulo, do seu Instituto de Relações Internacionais e de sua Faculdade de Direito, na qual estudou e da qual foi titular, tendo lecionado Direito Internacional e Filosofia do Direito, de 1971 até a sua aposentadoria, em 2011.
Obteve o seu PhD em Ciência Política na Universidade de Cornell (EUA), em 1970; a livre-docência em Direito Internacional Público na Faculdade de Direito da USP, em 1977, e a titularidade em Filosofia do Direito, em 1988. De 2007 a 2015, presidiu a FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. 
Foi Ministro de Estado das Relações Exteriores em 1992 e, em 2001-2002. Em 1999, foi Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. De 1995 a 1998, foi Embaixador, Chefe da Missão Permanente do Brasil junto às Nações Unidas e à Organização Mundial do Comércio em Genebra. É membro titular da Academia Brasileira de Ciências (2004) e membro efetivo da Academia Paulista de Letras, eleito em 2014.
Suas publicações mais recentes incluem: Norberto Bobbio – Trajetória e obra – 1ª edição, São Paulo, Perspectiva (2013); Lasar Segall: múltiplos olhares – São Paulo, Imprensa Oficial do Estado (2015); A reconstrução dos direitos humanos (Um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt) – São Paulo: Companhia das Letras, 1988. Idem em espanhol, México: Fondo de Cultura Económica, 1994. Última reedição, São Paulo: Cia. das Letras, 2015; Um percurso no Direito no século XXI. Vol. 1 – Direitos Humanos, Vol. 2 – Direito Internacional, Vol. 3 – Filosofia e Teoria Geral do Direito. São Paulo: Atlas, Grupo Gen, 2015Hannah Arendt: Pensamento, Persuasão e Poder. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2018. 3.a ed. revista e ampliada, 2018; Relações Internacionais, Política Externa e Diplomacia Brasileira – Pensamento e Ação. 2 volumes. Brasilia: Fundação Alexandre de Gusmão, 2018.
28/02/2019 

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Depois da Unasul o ProSul: mais um exercicio de integracao

Não sei exatamente onde pretendem chegar os presidentes, mas se a integração latino-americana, ou no caso, a da América do Sul, dependesse de declarações presidenciais de boas intenções, a região seria a mais perfeitamente integrada do mundo, com instituições perfeitas e nenhum entrave de qualquer tipo entre os países do continente sul-americano.
Que o continente esteja virtualmente fragmentado, não é culpa dos atuais presidentes.
Em todo caso, espero para fazer novos comentários quando conhecer o plano de boas intenções.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 22 de março de 2019

Ministerio de Relaciones Exteriores de Chile - Declaración Presidencial sobre la Renovación y el Fortalecimiento de la Integración de América del Sur

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Los Jefes de Estado de la República Argentina, la República Federativa del Brasil, la República de Chile, la República de Colombia, la República del Ecuador, la República Cooperativa de Guyana, la República del Paraguay y la República del Perú, reunidos en Santiago, Chile, el 22 de marzo de 2019:

Conscientes que los nuevos desafíos a los que deberemos enfrentarnos demandan más que nunca trabajar todos juntos con el propósito de renovar y fortalecer el proceso de integración de las naciones de América del Sur, en un marco institucional flexible que permita encarar con eficiencia y eficacia los retos que plantea el mundo de hoy,

Ratificamos que la integración es un puente hacia el fortalecimiento del multilateralismo y la plena vigencia del derecho internacional, herramientas fundamentales para insertarnos de forma eficiente en la cuarta revolución industrial y la sociedad del conocimiento y la información,

Asentados en una rica historia común, de lucha compartida por la independencia de nuestros pueblos, estamos decididos a unir nuestras fuerzas y voluntades para resolver los problemas del presente y para enfrentar los desafíos de futuro que nos conciernen a todos,

Destacamos nuestro compromiso para consolidar y profundizar el desarrollo sostenible, erradicar la pobreza en todas sus formas y dimensiones, lograr una mayor igualdad de oportunidades y permitir a nuestros ciudadanos desplegar sus talentos, capacidad de innovación y el emprendimiento,

Reafirmamos que el proceso de construcción de un espacio de coordinación, cooperación e integración regional, debe ser respetuoso de la integridad territorial de los Estados, el derecho y la seguridad internacional, y comprometidos con la preservación de América del Sur como Zona de Paz,
Reconocemos los aportes de procesos anteriores de integración sudamericana, así como la necesidad de preservar su acervo, en el marco de un nuevo espacio de integración más eficiente, pragmático y de estructura simple que permita afianzar sus logros y evolucionar sin duplicación de esfuerzos, hacia una región más integrada,
Expresamos nuestros agradecimientos al Presidente Sebastián Piñera por su hospitalidad e iniciativa de convocar a esta Reunión de Presidentes Sudamericanos para avanzar en la integración de América del Sur,

DECLARAMOS:

1.      Nuestra voluntad de construir y consolidar un espacio regional de coordinación y cooperación, sin exclusiones, para avanzar hacia una integración más efectiva que nos permita contribuir al crecimiento, progreso y desarrollo de los países de América del Sur.
2.      Nuestro reconocimiento a la propuesta de crear un espacio de diálogo y colaboración sudamericana, el Foro para el Progreso de América del Sur (PROSUR), e instruimos a los Ministros de Relaciones Exteriores a profundizar el diálogo de conformidad con los términos de esta Declaración.
3.      Que este espacio deberá ser implementado gradualmente, tener una estructura flexible, liviana, no costosa, con reglas de funcionamiento claras y con un mecanismo ágil de toma de decisiones que permita avanzar a Sudamérica en entendimientos y programas concretos de integración en función de los intereses comunes de los Estados y de acuerdo a sus propias realidades nacionales.
4.      Que este espacio abordará de manera flexible y con carácter prioritario temas de integración en materia de infraestructura, energía, salud, defensa, seguridad y combate al crimen, prevención y manejo de desastres naturales.
5.      Que los requisitos esenciales para participar en este espacio serán la plena vigencia de la democracia, de los respectivos órdenes constitucionales, el respeto del principio de separación de los Poderes del Estado, y la promoción, protección, respeto y garantía de los derechos humanos y las libertades fundamentales, así como la soberanía e integridad territorial de los Estados, con respeto al derecho internacional.
6.      Que las República de Chile sostendrá la Presidencia Pro Tempore de este proceso durante los próximos 12 meses, y luego será entregada a la República de Paraguay.

MAURICIO MACRI
PRESIDENTE
DE LA REPÚBLICA ARGENTINA
JAIR MESSIAS BOLSONARO
PRESIDENTE
DE LA REPÚBLICA FEDERATIVA DEL BRASIL
SEBASTIÁN PIÑERA ECHENIQUE
PRESIDENTE
DE LA REPÚBLICA DE CHILE
IVÁN DUQUE MÁRQUEZ
PRESIDENTE
DE LA REPÚBLICA DE COLOMBIA
LENÍN MORENO GARCÉS
PRESIDENTE
DE LA REPÚBLICA DEL ECUADOR
GEORGE WILFRED TALBOT
EMBAJADOR 
DE LA REPÚBLICA COOPERATIVA DE GUYANA
MARIO ABDO BENÍTEZ
PRESIDENTE
DE LA REPÚBLICA DEL PARAGUAY
MARTÍN ALBERTO VIZCARRA CORNEJO
PRESIDENTE
DE LA REPÚBLICA DEL PERÚ


quinta-feira, 21 de março de 2019

Trump ganhou, ponto. Editorial Estadão

Eu geralmente costumo oferecer comentários pessoais a cada nova postagem de terceiros que se torna disponível neste espaço.
Mas acho que neste caso não precisa, absolutamente.
Tudo está dito...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 21 de março de 2019

Vitória, sim, mas de Trump

Houve uma vitória diplomática na visita do presidente Jair Bolsonaro aos EUA, mas, contrariando a avaliação de alguns otimistas, o vitorioso foi Donald Trump

Editorial O Estado de S. Paulo, 21/03/2019

Houve, de fato, uma vitória diplomática na visita do presidente Jair Bolsonaro a Washington, mas, contrariando a avaliação de alguns otimistas, o vitorioso foi o presidente Donald Trump. Sem o custo sequer de um voo em classe econômica, ele recebeu a homenagem e a promessa de apoio quase irrestrito do chefe de governo da maior economia latino-americana. “Eu apoio em grande parte as decisões do governo americano”, disse a um canal de TV o presidente Jair Bolsonaro, referindo-se a possíveis novas ações contra a ditadura venezuelana. Ele se absteve de indicar até onde estará disposto a aplaudir essas ações e é difícil, neste momento, imaginar um limite. Em Washington, ele chegou a declarar-se engajado na política da Casa Branca. Engajamento, na linguagem do dia a dia, é uma palavra geralmente mais forte que alinhamento. Os fatos poderão mostrar o peso real da linguagem, assim como o custo desse engajamento para o Brasil. 
De volta a Brasília, o encarregado formal da diplomacia brasileira, ministro Ernesto Araújo, apresentou à imprensa um balanço da viagem. Segundo ele, a ideia era mostrar um “novo Brasil”, comprometido com as ideias de liberdade e grandeza. Nenhum dos dois compromissos foi mostrado na visita a Washington. O presidente brasileiro aceitou sem discussão renunciar às vantagens de país emergente na Organização Mundial do Comércio (OMC) em troca de uma promessa de apoio a seu ingresso na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A perda pode ser irrelevante, mas a delegação brasileira parece ter chegado a Washington desprevenida em relação ao tema. Terá faltado competência na preparação da viagem? A China também é emergente na OMC e o governo americano tem batalhado para mudar esse status, mas os líderes chineses têm resistido. 
Segundo o ministro Araújo, o ingresso na OCDE será fundamental para a atração de investimentos e para o êxito do programa de reformas. Há quem acredite. Mas os fatos são mais complicados. Sem ser membro da OCDE, o Brasil tem sido um dos principais destinos do investimento direto. Poderá atrair volumes muito maiores, se o governo avançar na pauta de ajustes e reformas e criar condições para o crescimento. O avanço na pauta independe da OCDE. Alguém poderia explicar esse fato ao ministro Araújo, mas o esforço talvez nem valha a pena. Na visita a Washington, o ministro de fato foi o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente. Em recente reunião do Grupo de Lima, a respeito da Venezuela, quem falou pelo Brasil foi o vice-presidente Hamilton Mourão. 
A troca de concessões no comércio agropecuário, outro resultado da viagem, poderia ter sido negociada sem visita presidencial. Para isso bastaria, em condições normais, empenho na diplomacia comercial. 
No governo anterior, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, conseguiu abrir mercados importantes sem dar trabalho ao presidente Temer. Sua sucessora, a ministra Tereza Cristina, tem exibido disposição para batalhar e negociar. O presidente e os outros ministros ajudarão se deixarem de criar problemas com grandes clientes da agropecuária brasileira, como a China e vários países muçulmanos. 
As falas do ministro da Economia, Paulo Guedes, parecem ter agradado ao público empresarial. Mas ele poderia discursar com o mesmo sucesso em abril, em eventos paralelos à reunião de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI). Esses eventos são rotineiramente organizados nessas ocasiões e têm sido bem aproveitados por antecessores de Guedes. Ele poderá confirmar esse fato em menos de um mês, se preparar direito a viagem para a reunião do FMI. 
É estranho o ministro Araújo falar de liderança mundial quando mal se cuida de consolidar uma liderança regional. Essa posição foi menosprezada quando Washington foi escolhida como primeiro destino estrangeiro do presidente Bolsonaro. A rigor, nem sequer houve aproximação com os Estados Unidos, mas com um presidente. Bolsonaro disse acreditar “piamente” na reeleição desse presidente. Pode estar certo, mas até no Partido Republicano norte-americano os valores de Trump são com frequência contestados. Bolsonaro confunde os valores trumpianos com os da cultura americana.

Política externa sem rumo? Cedendo a impulsos pessoais?

Enormes dúvidas de toda a comunidade "epistêmica" de relações internacionais do Brasil, sobre diversos temas da diplomacia brasileira, depois da viagem altamente improvisada aos EUA, da qual não se sabem os resultados efetivos, como por exemplo, essa "troca de favores" entre o apoio dos EUA para a admissão do Brasil na OCDE e a contrapartida da nossa renúncia unilateral do tratamento especial e mais favorável para países em desenvolvimento, que o Brasil sempre insistiu em manter ao longo de décadas.
Outra questão é a de saber quem manda, de fato, na diplomacia brasileira: se vem do Itamaraty enquanto corpo profissional, se é apenas o chanceler acidental, se é o chanceler de fato, um dos Bolsokids, se é o guru da Virgínia, enfim, persistem algumas dúvidas quanto a isso...
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 21 de março de 2019

Brasil quer fim da Unasul e criação de outro bloco

    Chanceler Ernesto Araújo diz que Jair Bolsonaro anunciará, em sua visita ao Chile, a saída do país do grupo. Ideia é ter um novo organismo internacional, sem a Venezuela

    » Rosana Hessel
    02:00:20 | 21/03/2019 | Economia | Correio Braziliense | Política | BR
    O presidente Jair Bolsonaro deve anunciar, em sua visita ao Chile, hoje e amanhã, a saída do Brasil da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), grupo integrado por 12 países sul-americanos: Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Chile, Guiana, Suriname e Venezuela.
    A informação é do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Ele fez ontem um balanço da viagem oficial de Bolsonaro aos Estados Unidos. Segundo o chanceler, o abandono da Unasul será coordenado com os demais países do grupo e deve representar o esboço de um novo bloco sul-americano, sem a presença da Venezuela.
    "Gostamos muito da ideia chilena de substituir a Unasul por outro bloco. A Unasul é um órgão falido, que foi capturado e com vício de origem, que não conseguiu avançar na integração física entre os países. Não construiu um quilômetro de rodovia", criticou o ministro, horas antes de viajar ao Chile. Para Araújo, a criação de um outro bloco permitirá substituir a Unasul por iniciativas mais específicas de integração regional.
    O ministro adiantou que as conversas entre Bolsonaro e o presidente do Chile, Sebastián Piñera, devem focar no avanço dos projetos de integração do Brasil com o Pacífico e no aumento dos investimentos. Em terras chilenas, o chefe do Executivo participará de uma cúpula que contará com 21 chanceleres e 22 presidentes, segundo o Itamaraty.
    Bolsonaro retornará ao Brasil no sábado. Na semana que vem, fará uma visita oficial a Israel. Araújo, no entanto, não confirmou se, na ocasião, será anunciada a mudança efetiva da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém. Segundo o ministro, isso será definido durante as reuniões preparatórias da viagem, que não tem previsão de visita a territórios palestinos.
    Ao ser questionado sobre a troca de embaixadores de 15 representações no exterior, prevista pelo novo governo, Araújo destacou que a preferência para os novos titulares será técnica. "A lista que fechamos das mudanças atuais inclui apenas embaixadores de carreira. Washington não está nessa lista", disse ele, acrescentando que, em relação à embaixada de Washington, não haverá a restrição.
    Positivo
    Na avaliação de Araújo, o saldo da visita de Bolsonaro aos EUA foi positivo. Ele tentou rebater as críticas de que o Brasil teria cedido mais do que os EUA nas conversas bilaterais. "Não cedemos muito nessa visita. Se colocar um patamar de avaliação de interlocutores de fundos de investimentos, há entusiasmo com os sinais dados com o Brasil", declarou. "O mundo está olhando o Brasil e reconhece que é um novo acordo. Muita gente quer que o gigante continue adormecido."
    Ele não detalhou, contudo, como o país tem mais a ganhar do que a perder se realmente abrir mão do status de país em desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio (OMC) para receber o apoio formal dos Estados Unidos para a entrada na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma vez que Chile e México já pertencem à OCDE e não abriram mão desse status.
    Para o ministro, o principal saldo positivo foi a inclusão do país como aliado preferencial dos Estados Unidos na Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan) e o acordo de salvaguardas tecnológicas para a Base de Alcântara, no Maranhão.
    Em relação à Venezuela e às medidas que podem ser adotadas pelo Brasil e pelos EUA, Araújo não deu detalhes, mas tentou reforçar que é preciso combater o terrorismo de integrantes do Hezbolah que há no país vizinho.
    Prosul
    O outro bloco seria o Prosul, integrado por Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai, Costa Rica, Nicarágua, Panamá e República Dominicana.
    Desconforto
    No início da entrevista, Araújo demonstrou inquietação, pois seu papel na viagem acabou sendo ofuscado pelo filho do presidente e deputado federal, Eduardo Bolsonaro(PSL-SP), que acompanhou o pai na conversa privada com Trump, e, portanto, desempenhando o papel de chanceler, que deveria ter sido do titular do Itamaraty. Ao ser questionado sobre isso, o ministro tentou minimizar o desconforto. "Fazemos parte da mesma equipe. Ele ajudou muito na construção dessa parceria, e achei excelente que ele pudesse participar da conversa, porque reforça essa ideia de que faz parte desse novo relacionamento", afirmou.

    Política externa no desamparo?

    Inacreditável e gravíssimo o que está ocorrendo com a política externa brasileira sob os Bolsonaros: acordos feitos de boca, de forma improvisada, sem nenhum registro, e ninguém sabe dizer os efeitos reais para a diplomacia e a própria política econômica externa. Repito: inédito é INACREDITÁVEL.
    Leiam o comentário de um observador:
    “A notar a declaração do Ernesto Araújo afirmando que não sabe se acordos já negociados na OMC sofrerão com a decisão de abrir mão do tratamento diferenciado. Se eles não sabem o que foi acordado, fica difícil até avaliar o impacto da medida.”

    Política externa brasileira: quem é o verdadeiro chanceler? (FSP)

    Minha pequena introdução a esta importante matéria: 
    Obrigado a engolir o protagonismo do "chanceler de fato", o "chanceler acidental", diz que se sentiu representado pela presença do Bolsokid no encontro reservado com Trump. Não é verdade que, não estando o Secretário de Estado, o chanceler brasileiro tampouco poderia estar, não é verdade. TODOS os encontros de cúpula têm a presença de um note-taker, que pode ser o chanceler, o embaixador, qualquer um. Essa coisa de encontro a dois (Trump-Putin, Trump-Kim) isso é ANTI-DIPLOMÁTICO, alguém precisa fazer o registro do que é dito e acertado. Portanto, o chanceler brasileiro, ou o embaixador Sérgio Amaral DEVERIAM estar no encontro entre Bolsonaro e Trump. Essa mania de diplomacia familiar, ou diplomacia twiteira, é profundamente IRREGULAR e INDESEJÁVEL!
    Não foi o Itamaraty que ficou incomodado com isso, e sim o chanceler acidental. O Itamaraty ficou, sim, profundamente irritado com as ofensas da família Bolsonaro aos brasileiros honestos que trabalham duramente nos EUA para ganhar a vida, e só foram para lá porque políticos como esses negam aos brasileiros oportunidades de crescimento e de emprego dignas. É uma vergonha o que disseram os dois da foto sobre essa comunidade especialmente trabalhadora nos EUA, que aliás votou maciçamente pelo capitão. Acho que terá sido a primeira e última vez.
    Paulo Roberto de Almeida
    Brasília, 21 de março de 2019

    Protagonismo de Eduardo Bolsonaro nos EUA incomoda Itamaraty
    O presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara tem atuado como chanceler informal
    Marina Dias
    Washington
    Folha de S.Paulo, 21.mar.2019 às 2h00

    protagonismo de Eduardo Bolsonaro durante a viagem presidencial aos EUAincomodou o Itamaraty e forçou uma reação em série —da chancelaria e do próprio deputado— para tentar conter uma possível nova crise no governo.
    Em Washington, o filho do presidente Jair Bolsonaro quebrou protocolos na Casa Branca e foi um dos articuladores da primeira visita bilateral do pai, o que acabou por ofuscar o papel do chanceler Ernesto Araújo.
    Como uma espécie de chanceler informal, Eduardo participou da reunião reservadaentre Bolsonaro e o presidente americano, Donald Trump, na terça-feira (19) na Casa Branca.
    Ele articulou ainda a visita do líder brasileiro à sede da CIA, a agência de inteligência dos EUA, onde se encontrou com a diretora Gina Haspel.
    Sua presença no Salão Oval causou surpresa entre membros do governo e do Itamaraty e fez o deputado divulgar mensagem em rede social para dizer que aquilo “não se tratava de uma competição” e que todos os seus passos na área internacional são dados sob a orientação de Araújo —ausente no encontro.
    Na quarta (20), assim que desembarcou no Brasil, foi a vez do chanceler baixar a temperatura. Ele convocou a imprensa para defender sua atuação à frente do Itamaraty e dizer que foi sim importante para os resultados alcançados na viagem.
    Araújo disse ainda que tem “uma visão extremamente coincidente” com a de Eduardo sobre a relação com os EUA e a posição do Brasil no mundo. “Nós fazemos parte da mesma equipe. O deputado me ajudou muito na construção dessa parceria”, disse.
    Presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Eduardo foi um dos fiadores da indicação de Araújo para o Itamaraty, mas atua em paralelo quando o assunto é política externa.
    Suas declarações sobre determinados temas, como imigrantes por exemplo, causaram polêmica recentemente, refletindo um comportamento menos diplomático do que o esperado. Ele disse que os brasileiros ilegais são “uma vergonha” para o país.
    A retórica anti-imigração é alinhada à de Trump, de quem Eduardo é admirador.
    O filho de Bolsonaro disse que foi a convite do presidente americano que participou da reunião privada na Casa Branca —de praxe, o encontro envolve apenas os presidentes e os intérpretes, quando necessário.
    Antes da reunião, Eduardo era o único acompanhante do brasileiro durante o primeiro encontro dos líderes. Já do lado americano, estavam presentes o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, e Kim Brier, do Departamento de Estado dos EUA.
    Trump fez deferências públicas a Eduardo, ao dizer que o deputado fazia um “trabalho fantástico”. O deputado tem atuado para se aproximar de Washington desde o fim do ano, após as eleições. 
    Na ocasião, encontrou-se com autoridades como Jared Kushner, conselheiro-sênior e genro de Trump, além de lideranças conservadoras.
    Além da CIA e do Salão Oval, Eduardo cumpriu agendas paralelas à do pai ao lado de Filipe Martins, assessor para assuntos internacionais do Planalto.
    Araújo, por sua vez, disse que não estava prevista sua presença no Salão Oval, assim como não estava presente o secretário de Estado americano, Mike Pompeo.
    Nos bastidores, porém, o chanceler se irritou na frente de outros ministros por causa da participação de Eduardo no encontro privado.
    Segundo pessoas descreveram à Folha, Araújo ficou especialmente irritado após ler o blog da jornalista Míriam Leitão, do jornal O Globo, que afirmou que o Itamaraty saiu rebaixado com a ida do filho de Bolsonaro ao encontro. Se Araújo tivesse “alguma fibra”, ela escreveu, pediria para deixar o cargo.
    O Itamaraty reforçou que, após a bilateral, houve reunião ampliada com todos os ministros que estavam na comitiva, incluindo Araújo.
    Já no Brasil, o chanceler disse que achou excelente a participação de Eduardo no encontro reservado porque ele reforça o alinhamento entre ambos. “Eu me senti distinguido pela participação do deputado, ele comunga das mesmas ideias que eu”, concluiu.