Quarta carta aos leitores do Blog Diplomatizzando e aos seguidores do meu site www.pralmeida.org
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4 de julho de 2011.
Meus caros leitores (agora em número de 392 seguidores),
Escrevi uma terceira carta em 22 de abril último, para tecer considerações sobre minha atividade blogueira e sobre a necessidade de me concentrar em alguns temas de pesquisa histórica. Desta vez quero falar sobre algumas estatísticas que recolhi agora (acho que pela primeira vez) em torno das visitas a meu site: www.pralmeida.org.
Examinando essas estatísticas de visitas ao meu site nas últimas semanas, constatei que elas se situam entre 16 mil e 20 mil “unique visitors” cada mês, com mais de 20 mil visitas no total (e um número maior de páginas, mais de 30 mil, e de hits, número superior a 85 mil). Na verdade, eu estava, mais interessado nos temas de busca e de visita, do que propriamente no volume de visitas.
Como o meu site é, expressamente, didático e acadêmico, eu tenho interesse em saber que temas, exatamente, meus visitantes buscam no meu site. Pois parece que a preocupação em terminar o famoso TCC (trabalho de conclusão de curso) prima sobre todos os demais temas (todos eles podem ser encontrados no meu site, bastando agregar essas terminações ao URL genérico):
1) /05DocsPRA/1892GuiaMonografia.pdf (1613 downloads em junho; 1803 em maio)
2) /05DocsPRA/1205GlobalizDesenv.pdf (988 em junho; 800 em maio;)
3) /05DocsPRA/798MSulAlca.html (893 em junho; 1060 em maio)
4) /05DocsPRA/772EconSecXX.html (850 em junho; 1019 em maio)
5) /05DocsPRA/1277HistorPlanejBrasil.pdf (845 em junho; 705 em maio)
5) /05DocsPRA/1920BricsAduaneiras.pdf (590 em junho; 745 em maio)
Quanto às palavras-chave mais usadas nas buscas em meu site, elas são estas (e retiro a primeira de todas, o meu próprio nome):
1) como fazer uma monografia;
2) monografia como fazer;
3) vantagem e desvantagem da globalização;
4) desvantagens da globalização;
5) como escrever uma monografia
6) como organizar uma apresentação de monografia
7) como ser diplomata
Na verdade, todas essas palavras cobrem menos de 3% das buscas, ficando entre 1 e 2%, sendo que o meu nome vem na frente com 3,7% das buscas; todas as demais palavras confundidas fazem a grande maioria das buscas, com 87,4 % dos casos. Para ser mais preciso, juntando os itens 1, 2, 5 e 6, que todos se referem à preocupação em fazer uma monografia, isso dá um total de 4,5 a 5% das buscas.
Quais são os ensinamentos que eu posso tirar desses dados?
Em primeiro lugar, que os que acessam o meu site, em primeira mão, são, visivelmente, estudantes desesperados com seu trabalho de conclusão de graduação, ou seja, que eles não tem sequer orientação, em suas faculdades, sobre como fazer esses TCCs. Ponto negativo para seus professores, portanto, ou para as próprias instituições. Quanto a mim, vou revisar este meu trabalho e reforçá-lo, no sentido de torná-lo mais explícito, mais completo, mais detalhado, para colocar à disposição dos alunos com maior evidência no meu site e blogs.
Em segundo lugar, que o tema da globalização é o hit do momento, da década, da nossa época, mas é curioso constatar que os professores, provavelmente daquela tribo de antiglobalizadores que eu já dissequei bastante bem em meus trabalhos, insistem nos aspectos negativos do processo. Sem problemas, vou insistir nos dois aspectos e tratar de responder às preocupações dos alunos.
Em terceiro lugar, parece incrível que, quase dez anos depois de enterrada a Alca, para todos os efeitos práticos, os mesmos professores – e eu aposto que eles são “anti-alcalinos” a 99% – pedem trabalhos sobre esse fantasma da luta anti-imperialista. Não posso fazer nada, pois já disse tudo o que eu tinha a dizer sobre processo negociador. Mas quem sabe eu não faço um pouco de análise em retrospecto, ou de história virtual, comentando sobre como seria o continente com uma Alca (sem que saibamos, exatamente, o tipo exato de zona de livre comércio que poderia surgir, se o processo negociador terminasse de modo conclusivo)?
Finalmente, aparece sempre o tema do planejamento no Brasil, o que também confirma que o nosso país está longe, muito longe de ser liberal, ou aberto, já que entendo que essa preocupação com o planejamento tem a ver com as tais de “políticas públicas”, setoriais ou outras. Bem, vou continuar tratando destas questões também. Esclareço que não sou contra planejamento, pois ninguém, nenhuma empresa, nenhuma instituição, atualmente, pode trabalhar sem planejamento. O que sou contra é essa crença mágica de que políticas setoriais e planejamento estatal são capazes de resolver nossos problemas mais relevantes.
Espero não cansar meus leitores com esses temas recorrentes, mas entendo também que muita gente entra no meu site ou visita meu blog em busca justamente desses temas identificados como mais buscados.
Boa noite a todos, voltemos ao trabalho.
Paulo Roberto de Almeida
(4/07/2011)
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
segunda-feira, 4 de julho de 2011
domingo, 3 de julho de 2011
Universidades brasileiras: avestruzes introvertidos...
Sim, o avestruz supostamente é conhecido por colocar a cabeça num buraco na terra, quando em perigo. Não sei se é folclore essa história, ou se tem fundamentos reais.
Um avestruz introvertido, então, é a pior situação possível: além de estúpido, só vive a sua própria situação.
Enfim, não sei quanto aos avestruzes, mas o que eu tenho certeza é que as universidades brasileiras são piores do que avestruzes introvertidos, pois sem perigo nenhum, sem qualquer ameaça externa, decidem se fechar estupidamente ao exterior.
Nem todos, ou todas, são assim, obviamente, mas a maioria é: muita gente estudou no exterior, e os programas de cooperação se desenvolvem, mas o fato é que não temos estrangeiros aqui, tanto estudantes (salvo alguns de países assistidos), quanto professores (apenas de curta duração).
A matéria abaixo trata dessa triste realidade:
Paulo R. de Almeida
Home » Blogs » Ronaldo Lemos's blog
Universities in Brazil are too closed to the world, and that's bad for innovation
By Ronaldo Lemos
Posted on June 15th, 2011 at 11:18 am
When Brazilian president Dilma Roussef visited China in the beginning of May, she came back with some good news (maybe too good to be entirely true). Among them, theannouncement that Foxconn, the largest maker of electronic components, will invest US$12 billion to open a large industrial plant in the country. The goal is to produce iPads and other key electronic components locally.
The announcement was praised, and made it quickly to the headlines of all major newspapers. There is certainly reason for excitement. Brazil lost important waves of economic development, including industrialization (which only really happened in the 1940´s), or the semiconductor wave, an industry that has shown but a few signs of development in the country until now.
Leiam o resto aqui.
Um avestruz introvertido, então, é a pior situação possível: além de estúpido, só vive a sua própria situação.
Enfim, não sei quanto aos avestruzes, mas o que eu tenho certeza é que as universidades brasileiras são piores do que avestruzes introvertidos, pois sem perigo nenhum, sem qualquer ameaça externa, decidem se fechar estupidamente ao exterior.
Nem todos, ou todas, são assim, obviamente, mas a maioria é: muita gente estudou no exterior, e os programas de cooperação se desenvolvem, mas o fato é que não temos estrangeiros aqui, tanto estudantes (salvo alguns de países assistidos), quanto professores (apenas de curta duração).
A matéria abaixo trata dessa triste realidade:
Paulo R. de Almeida
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Universities in Brazil are too closed to the world, and that's bad for innovation
By Ronaldo Lemos
Posted on June 15th, 2011 at 11:18 am
When Brazilian president Dilma Roussef visited China in the beginning of May, she came back with some good news (maybe too good to be entirely true). Among them, theannouncement that Foxconn, the largest maker of electronic components, will invest US$12 billion to open a large industrial plant in the country. The goal is to produce iPads and other key electronic components locally.
The announcement was praised, and made it quickly to the headlines of all major newspapers. There is certainly reason for excitement. Brazil lost important waves of economic development, including industrialization (which only really happened in the 1940´s), or the semiconductor wave, an industry that has shown but a few signs of development in the country until now.
Leiam o resto aqui.
Divida Externa: ja vimos esse filme antes...
Um aumento muito grande da dívida externa se dá quando existem abundantes capitais sendo oferecidos no mundo, as taxas de juros são reduzidas e as facilidades aparentes são muito grandes.
Assistimos isso nos anos 1970 e novamente nos anos 1990: nas duas vezes o cenário final não foi exatamente positivo. E quando a tendência se inverter, e a moeda nacional se desvalorizar?
Estaremos incorrendo nos mesmos pecados do passado?
Paulo Roberto de Almeida
Dívida externa do país aumenta 43% desde fim da crise
Gustavo Pau e Eduardo Cucolo
Folha de S.Paulo, 03/07/2011
Passado o impacto mais agudo da crise internacional, a recuperação da economia brasileira provocou um efeito colateral ainda pouco comentado e compreendido: a alta mais acelerada da dívida externa desde o Plano Real. Ou, mais exatamente, desde que, em 1994, às vésperas do lançamento da atual moeda, foi fechado o acordo com os credores para normalizar os pagamentos e reabrir o mercado global de crédito para o governo brasileiro e para as empresas do país. Do final do ano retrasado para cá, a dívida externa conjunta de empresas, administrações públicas e famílias cresceu 43%. A taxa supera a expansão ao longo dos 15 anos anteriores, de 34%. Se as consequências dessa escalada ainda não estão claras, as causas são fáceis de explicar: no mundo desenvolvido, as taxas de juros despencaram para reativar a produção e o consumo; no Brasil, os investimentos públicos e privados tiveram uma forte retomada.
JUROS ALTOS
O cenário criado após o terremoto financeiro de 2008-2009 estimulou bancos e empresas do setor produtivo a buscar empréstimos e financiamentos no mercado internacional para aplicar e investir no mercado doméstico -no qual a oferta de recursos é escassa e os juros são os mais altos do planeta. A dívida externa, que era de pouco menos de R$ 200 bilhões no final de 2009, chegou a R$ 284 bilhões em maio. A parcela privada da dívida, hoje equivalente a três quartos do total, cresceu R$ 87 bilhões, enquanto a parcela pública da dívida encolheu R$ 1 bilhão. Autor de um trabalho recente sobre o tema, o economista Julio Gomes de Almeida, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), afirma que, embora não haja risco imediato, o salto da dívida ameaça a sustentabilidade do crescimento econômico.
RISCOS
“Esse é um processo insustentável a longo prazo e arriscado do ponto de vista empresarial”, diz Almeida. O perigo mais óbvio da dependência crescente de capital externo é a eventual reversão do quadro favorável atual. A alta dos juros externos ou das cotações do dólar pode tanto criar dívidas impagáveis quanto derrubar a produção nacional. O próprio governo já manifestou preocupação com o crescimento da dívida do setor privado. Em março, para conter esse movimento, houve aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para dívidas com prazo inferior a dois anos. Nos dois meses seguintes, as dívidas continuam crescendo, mas com prazos mais longos.
Assistimos isso nos anos 1970 e novamente nos anos 1990: nas duas vezes o cenário final não foi exatamente positivo. E quando a tendência se inverter, e a moeda nacional se desvalorizar?
Estaremos incorrendo nos mesmos pecados do passado?
Paulo Roberto de Almeida
Dívida externa do país aumenta 43% desde fim da crise
Gustavo Pau e Eduardo Cucolo
Folha de S.Paulo, 03/07/2011
Passado o impacto mais agudo da crise internacional, a recuperação da economia brasileira provocou um efeito colateral ainda pouco comentado e compreendido: a alta mais acelerada da dívida externa desde o Plano Real. Ou, mais exatamente, desde que, em 1994, às vésperas do lançamento da atual moeda, foi fechado o acordo com os credores para normalizar os pagamentos e reabrir o mercado global de crédito para o governo brasileiro e para as empresas do país. Do final do ano retrasado para cá, a dívida externa conjunta de empresas, administrações públicas e famílias cresceu 43%. A taxa supera a expansão ao longo dos 15 anos anteriores, de 34%. Se as consequências dessa escalada ainda não estão claras, as causas são fáceis de explicar: no mundo desenvolvido, as taxas de juros despencaram para reativar a produção e o consumo; no Brasil, os investimentos públicos e privados tiveram uma forte retomada.
JUROS ALTOS
O cenário criado após o terremoto financeiro de 2008-2009 estimulou bancos e empresas do setor produtivo a buscar empréstimos e financiamentos no mercado internacional para aplicar e investir no mercado doméstico -no qual a oferta de recursos é escassa e os juros são os mais altos do planeta. A dívida externa, que era de pouco menos de R$ 200 bilhões no final de 2009, chegou a R$ 284 bilhões em maio. A parcela privada da dívida, hoje equivalente a três quartos do total, cresceu R$ 87 bilhões, enquanto a parcela pública da dívida encolheu R$ 1 bilhão. Autor de um trabalho recente sobre o tema, o economista Julio Gomes de Almeida, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), afirma que, embora não haja risco imediato, o salto da dívida ameaça a sustentabilidade do crescimento econômico.
RISCOS
“Esse é um processo insustentável a longo prazo e arriscado do ponto de vista empresarial”, diz Almeida. O perigo mais óbvio da dependência crescente de capital externo é a eventual reversão do quadro favorável atual. A alta dos juros externos ou das cotações do dólar pode tanto criar dívidas impagáveis quanto derrubar a produção nacional. O próprio governo já manifestou preocupação com o crescimento da dívida do setor privado. Em março, para conter esse movimento, houve aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para dívidas com prazo inferior a dois anos. Nos dois meses seguintes, as dívidas continuam crescendo, mas com prazos mais longos.
Malthus, Marx o mercado - Moises Naim e a China
Malthus, Marx o mercado
MOISÉS NAÍM
El País, 03/07/2011
¿Llevará el crecimiento de la clase media en los países pobres a una catástrofe para el planeta?
Acabo de regresar de China. La velocidad de los cambios que allí ocurren no deja de sorprenderme. A pesar de que mi última visita no fue hace mucho, he percibido enormes transformaciones. Eso sucede cuando un país gigante crece al 10% al año. Visité China por primera vez en 1978, cuando apenas comenzaban sus reformas económicas. Recuerdo de ese viaje las grandes avenidas casi sin coches y llenas de una multitud en bicicleta, todos vestidos más o menos igual, verde olivo o azul. Hoy esas mismas avenidas están bordeadas de rascacielos con la arquitectura más audaz del mundo, están llenas de automóviles y de gente vestida de todos los colores y estilos. En mi primer viaje, la economía china era solo el 40% del tamaño de la Unión Soviética. Hoy es cuatro veces más grande.
El cambio fundamental es que millones de chinos han salido de la pobreza, formando una clase media que, si bien es mucho más pobre que la de Europa o EE UU, dispone por primera vez de medios para consumir más comida, medicinas o electricidad. Y esto no solo pasa en China: Turquía, Vietnam, Indonesia, Brasil, Colombia y en muchos otros países pobres la clase media viene creciendo.
¿Se transformará este gran éxito de la humanidad en una catástrofe para el planeta?
Hay tres maneras de responder a esta pregunta. La primera es la de Thomas Malthus, quien en 1798 explicó que, visto que la población crece a mayor velocidad que la producción de alimentos, inevitablemente las hambrunas, las enfermedades y las guerras "reequilibrarían" la situación. El Club de Roma patrocinó en 1972 la publicación del libro Los Límites al Crecimiento. Vaticinaba una catástrofe malthusiana alrededor de 2000 y pronosticaba que el petróleo se agotaría en 1992. Obviamente, Malthus y sus seguidores subestiman el impacto de las nuevas tecnologías. La revolución verde en la agricultura, por ejemplo, llevó a que en 20 años se duplicara la producción de cereales en los países pobres. En general, el mundo hoy produce más alimentos per cápita que nunca, y cada vez hay más tecnologías que permiten la explotación de recursos naturales antes inaccesibles.
Y esta es la segunda respuesta: el problema no es de producción, sino de distribución. Muy pocos consumen demasiado y demasiados consumen muy poco. Estados Unidos, por ejemplo, consume el 25% de la energía que se produce en el mundo anualmente, a pesar de que su población es solo el 4,6% del total mundial. Cada alemán gasta casi nueve veces más energía que cada indio, y 30 veces más que un bangladeshí. Desde esta perspectiva, Carlos Marx tiene razón: hay que obligar a que haya una distribución más igualitaria del consumo. Y eso lo tiene que hacer el Estado, casi seguramente por la fuerza.
La tercera manera de ver esto es a través de la óptica del mercado: los precios y los incentivos resolverán el problema. Si hay escasez subirán los precios, disminuirá el consumo y aumentarán los incentivos para ser más eficientes e inventar tecnologías para producir más a menor costo. Si el precio del petróleo sigue subiendo, el viento, el sol y el mar pueden competir con los hidrocarburos. Si el algodón sigue caro, más productores sembrarán algodón. Esto ha venido pasando, y los aumentos en producción y las maravillosas nuevas tecnologías lo confirman. El problema, sin embargo, es que los ajustes del mercado son brutales y no resuelven el problema de los consumidores, para quienes cualquier disminución en el consumo (obligada por el alza de precios) significa pasar hambre. Tampoco resuelve el problema de las fallas de mercado a nivel global: los océanos se deterioran a gran velocidad por su explotación indiscriminada. Y ya sabemos lo que está sucediendo con las emisiones de CO2 que calientan el planeta.
Ni Malthus, ni Marx ni los mercados nos dan respuestas adecuadas para las difíciles preguntas que plantea el explosivo crecimiento de China o la expansión de la clase media y el consumo a nivel mundial. Las respuestas tecnológicas estimuladas por el mercado pueden llegar tarde para evitar graves daños sociales y medioambientales. La exagerada intervención del Estado para corregir desigualdades asfixia la aparición de soluciones que solo los mercados pueden generar. Y si son desatendidas, las fallas de los mercados pueden hacer el planeta invivible.
Las ideologías rígidas no ayudarán a encontrar salidas. Hay que echar mano de todas las ideas, inventar otras nuevas y darle rienda suelta al pragmatismo y la experimentación. En el pasado, la humanidad halló soluciones para problemas sin precedentes. No hay por qué suponer que no las volverá a encontrar.
MOISÉS NAÍM
El País, 03/07/2011
¿Llevará el crecimiento de la clase media en los países pobres a una catástrofe para el planeta?
Acabo de regresar de China. La velocidad de los cambios que allí ocurren no deja de sorprenderme. A pesar de que mi última visita no fue hace mucho, he percibido enormes transformaciones. Eso sucede cuando un país gigante crece al 10% al año. Visité China por primera vez en 1978, cuando apenas comenzaban sus reformas económicas. Recuerdo de ese viaje las grandes avenidas casi sin coches y llenas de una multitud en bicicleta, todos vestidos más o menos igual, verde olivo o azul. Hoy esas mismas avenidas están bordeadas de rascacielos con la arquitectura más audaz del mundo, están llenas de automóviles y de gente vestida de todos los colores y estilos. En mi primer viaje, la economía china era solo el 40% del tamaño de la Unión Soviética. Hoy es cuatro veces más grande.
El cambio fundamental es que millones de chinos han salido de la pobreza, formando una clase media que, si bien es mucho más pobre que la de Europa o EE UU, dispone por primera vez de medios para consumir más comida, medicinas o electricidad. Y esto no solo pasa en China: Turquía, Vietnam, Indonesia, Brasil, Colombia y en muchos otros países pobres la clase media viene creciendo.
¿Se transformará este gran éxito de la humanidad en una catástrofe para el planeta?
Hay tres maneras de responder a esta pregunta. La primera es la de Thomas Malthus, quien en 1798 explicó que, visto que la población crece a mayor velocidad que la producción de alimentos, inevitablemente las hambrunas, las enfermedades y las guerras "reequilibrarían" la situación. El Club de Roma patrocinó en 1972 la publicación del libro Los Límites al Crecimiento. Vaticinaba una catástrofe malthusiana alrededor de 2000 y pronosticaba que el petróleo se agotaría en 1992. Obviamente, Malthus y sus seguidores subestiman el impacto de las nuevas tecnologías. La revolución verde en la agricultura, por ejemplo, llevó a que en 20 años se duplicara la producción de cereales en los países pobres. En general, el mundo hoy produce más alimentos per cápita que nunca, y cada vez hay más tecnologías que permiten la explotación de recursos naturales antes inaccesibles.
Y esta es la segunda respuesta: el problema no es de producción, sino de distribución. Muy pocos consumen demasiado y demasiados consumen muy poco. Estados Unidos, por ejemplo, consume el 25% de la energía que se produce en el mundo anualmente, a pesar de que su población es solo el 4,6% del total mundial. Cada alemán gasta casi nueve veces más energía que cada indio, y 30 veces más que un bangladeshí. Desde esta perspectiva, Carlos Marx tiene razón: hay que obligar a que haya una distribución más igualitaria del consumo. Y eso lo tiene que hacer el Estado, casi seguramente por la fuerza.
La tercera manera de ver esto es a través de la óptica del mercado: los precios y los incentivos resolverán el problema. Si hay escasez subirán los precios, disminuirá el consumo y aumentarán los incentivos para ser más eficientes e inventar tecnologías para producir más a menor costo. Si el precio del petróleo sigue subiendo, el viento, el sol y el mar pueden competir con los hidrocarburos. Si el algodón sigue caro, más productores sembrarán algodón. Esto ha venido pasando, y los aumentos en producción y las maravillosas nuevas tecnologías lo confirman. El problema, sin embargo, es que los ajustes del mercado son brutales y no resuelven el problema de los consumidores, para quienes cualquier disminución en el consumo (obligada por el alza de precios) significa pasar hambre. Tampoco resuelve el problema de las fallas de mercado a nivel global: los océanos se deterioran a gran velocidad por su explotación indiscriminada. Y ya sabemos lo que está sucediendo con las emisiones de CO2 que calientan el planeta.
Ni Malthus, ni Marx ni los mercados nos dan respuestas adecuadas para las difíciles preguntas que plantea el explosivo crecimiento de China o la expansión de la clase media y el consumo a nivel mundial. Las respuestas tecnológicas estimuladas por el mercado pueden llegar tarde para evitar graves daños sociales y medioambientales. La exagerada intervención del Estado para corregir desigualdades asfixia la aparición de soluciones que solo los mercados pueden generar. Y si son desatendidas, las fallas de los mercados pueden hacer el planeta invivible.
Las ideologías rígidas no ayudarán a encontrar salidas. Hay que echar mano de todas las ideas, inventar otras nuevas y darle rienda suelta al pragmatismo y la experimentación. En el pasado, la humanidad halló soluciones para problemas sin precedentes. No hay por qué suponer que no las volverá a encontrar.
sábado, 2 de julho de 2011
A curiosa economia politica do Planalto, alias bizarra...
Estou preocupado com a compreensão (ou falta) que gente do Palácio do Planalto exibe em relação a temas corriqueiros da economia, por vezes até nem de economia -- vocês sabem, essa coisa de fazer contas -- e simplesmente de conhecimento sobre como funciona (ou não) o governo, de quais recursos ele dispõe, de onde saem esses recursos e o que fazer com eles.
Estou até pensando em mandar alguns dos meus manuais de economia -- nada de muito complicado, nenhuma teoria econômica, apenas introdução à disciplina para não economistas -- para o Palácio do Planalto, especificamente para a nova ministra da Casa Civil, para ver se ela aprende um pouco nos próximos meses.
Vejamos. Quando ela ainda era senadora, a atual titular da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, disse que o generoso gesto do Brasil em triplicar os pagamentos ao Paraguai, mediante a revisão do acordo de Itaipu, não iria custar nada aos brasileiros, pois o dinheiro não seria obtido pela revisão das tarifas e aumento da nossa conta de eletricidade, mas que era o Tesouro que iria pagar!!!???
Confesso que não entendi.
Agora, a respeito dessa operação maluca no setor varejista, envolvendo franceses (nossos aliados estratégicos, como se sabe) e brasileiros, ela, ela mesmo, agora já ministra-chefe (chefe?; talvez chefa, para imitar a presidenta), reincidiu na sua estranha economia politica, dizendo que não seria usado dinheiro público na transação!!!???
Eu me pergunto com que tipo de recursos trabalham o BNDES e o BNDESPar, seu braço de investimentos? Seria com recursos privados, que eles vão buscar no mercado financeiro?
Preciso selecionar alguns livros de economia pública...
Paulo Roberto de Almeida
Estou até pensando em mandar alguns dos meus manuais de economia -- nada de muito complicado, nenhuma teoria econômica, apenas introdução à disciplina para não economistas -- para o Palácio do Planalto, especificamente para a nova ministra da Casa Civil, para ver se ela aprende um pouco nos próximos meses.
Vejamos. Quando ela ainda era senadora, a atual titular da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, disse que o generoso gesto do Brasil em triplicar os pagamentos ao Paraguai, mediante a revisão do acordo de Itaipu, não iria custar nada aos brasileiros, pois o dinheiro não seria obtido pela revisão das tarifas e aumento da nossa conta de eletricidade, mas que era o Tesouro que iria pagar!!!???
Confesso que não entendi.
Agora, a respeito dessa operação maluca no setor varejista, envolvendo franceses (nossos aliados estratégicos, como se sabe) e brasileiros, ela, ela mesmo, agora já ministra-chefe (chefe?; talvez chefa, para imitar a presidenta), reincidiu na sua estranha economia politica, dizendo que não seria usado dinheiro público na transação!!!???
Eu me pergunto com que tipo de recursos trabalham o BNDES e o BNDESPar, seu braço de investimentos? Seria com recursos privados, que eles vão buscar no mercado financeiro?
Preciso selecionar alguns livros de economia pública...
Paulo Roberto de Almeida
ABRI: encontro em SP e eleicoes para nova direcao
Deverá realizar-se em SP, na terceira semana de julho, mais um encontro da Associação Brasileira de Relações Internacionais. Na ocasião será eleita uma nova direção para a entidade.
Abaixo as propostas da chapa Autonomia e Excelência, que podem ser lidas neste blog:
Autonomia e Excelência
A nossa proposta para a ABRI
Posted on 01/07/2011
No próximo encontro da ABRI, será eleita a nova diretoria para o período 2011-2013. Nesse sentido, gostaríamos de lhes apresentar nossa chapa, constituída a partir de uma posição consensual entre sócios da ABRI, diversos programas de pós-graduação e cursos de graduação, em torno de dois princípios que devem sustentar o processo de construção da Associação e do campo das Relações Internacionais: a autonomia e a busca por excelência.
Compreendemos que com a criação da ABRI em setembro de 2005 demos um grande passo para a construção das Relações Internacionais no Brasil como um campo de conhecimento autônomo. Àquela altura, avaliava-se que, a despeito da grande expansão do campo, professores e pesquisadores vinculados aos programas de pós-graduação, cursos de graduação e centros de pesquisa careciam de um espaço autônomo de intercâmbio acadêmico-científico e de expressão de suas demandas institucionais e políticas. Entre 2005 e 2010, as perspectivas de expansão da área se confirmaram, desenhando um quadro composto, hoje, por cerca de 100 programas de graduação e 13 de pós-graduação (compreendendo 13 cursos de mestrado e 6 cursos de doutorado), sem contar os programas que possuem áreas de concentração ou linhas de pesquisa em Relações internacionais. Tais números confirmam a pujança da área em termos do crescente interesse pelas relações internacionais e de uma conseqüente demanda por formação profissional.
O crescimento da área confirma a necessidade de consolidação das RI como um campo de conhecimentos autônomo e da ABRI como um fórum independente de debates acadêmicos e de articulação de demandas institucionais, com vistas à consolidação de padrões de excelência consistentes com as demandas e responsabilidades que lhe são atinentes. Nesse sentido, acreditamos que a busca de autonomia e excelência que conduziu à criação da Associação deve ser reafirmada como princípio orientador das atividades e do posicionamento público da ABRI. Naturalmente, a afirmação e defesa da autonomia da área de Relações Internacionais e da ABRI não devem prejudicar nosso diálogo fraterno com outras áreas nem, tampouco nossa capacidade de articulação com outras associações irmãs no Brasil e no exterior. A construção das Relações Internacionais como campo de conhecimento autônomo e da ABRI como uma Associação independente supõe três movimentos combinados:
1. Autonomia: reconhecer a diversidade e estimular a pluralidade
O reconhecimento da diversidade do campo de estudos das RI, tanto no que respeita à variedade de orientações teórico-metodológicas de seus “programas” e projetos de pesquisa, quanto no que concerne à heterogeneidade de posicionamentos políticos de seus pesquisadores é uma condição para a construção de uma associação plural e democrática. A diversidade do campo não deve ser tomada como problema, senão como sinal de seu vigor intelectual. Nesse sentido, a ABRI deve, no melhor espírito republicano e consoante o princípio elementar da honestidade acadêmica, contribuir para fazer vicejar a diversidade e buscar descrevê-la e representá-la em suas atividades.
Acreditamos que, desde sua fundação, a ABRI desempenhou esse papel, incentivando a presença das mais diversas orientações em seus encontros e pautando seu posicionamento público na prática da consulta a pesquisadores e programas e na busca pelo entendimento. Assim, seguindo o caminho até aqui palmilhado, propomos:
(i) Incentivar e facilitar a criação de novos canais horizontais de consulta e articulação entre os programas de pós-graduação em Relações Internacionais e fortalecer os mecanismos já existentes. Nesse contexto, a ABRI, reconhecendo e respeitando a autonomia e a diversidade dos programas, deve facilitar e apoiar a construção do fórum de coordenadores de programas de pós-graduação em Relações Internacionais. Tal mecanismo é essencial para o posicionamento da associação não apenas diante das agências estatais, como também em face de entidades civis e, particularmente das associações científicas nacionais e estrangeiras;
(ii) incentivar o diálogo e a cooperação entre os cursos de graduação em Relações Internacionais através do apoio ao fórum de coordenadores de cursos de graduação, cuja primeira reunião, encontra-se prevista para o próximo encontro;
(iii) incentivar o intercâmbio de experiências e o fortalecimento de nossos periódicos através da criação do Fórum de editores de periódicos científicos;
tais fóruns deverão contribuir para:
(iv) qualificar e ampliar a participação da ABRI junto às agências de fomento e avaliação, particularmente a CAPES, o CNPq, e o INEP.
(v) fortalecer e aprofundar os laços com associações científicas brasileiras e estrangeiras com quem devemos trabalhar cooperativamente, observando, contudo as especificidades e autonomia do campo das Relações Internacionais e a independência de nossa Associação.
2. Excelência: fortalecer a graduação e a pós-graduação e contribuir para a formação científica e profissional
Ainda consoante o espírito da fundação da ABRI, acreditamos que a Associação deve contribuir para o fortalecimento de seus cursos de graduação e seus programas de pós-graduação. Nossa proposta pretende dar prosseguimento e aprofundar as ações que tiveram lugar nos últimos anos, através do incentivo ao debate de padrões de qualidade para nossas graduações, do estímulo à criação de canais horizontais de consulta, articulação e cooperação entre os programas de pós-graduação e cursos de graduação e, finalmente, de apoio à pesquisa e à produção acadêmica, nos limites que cabem à uma associação científica. Para tanto, acreditamos que a ABRI deve:
(vi) Executar no próximo período a decisão já tomada no âmbito da atual diretoria de criação de uma revista científica da associação;
(vii) Criar prêmios que reconheçam a excelência da produção científica no campo das Relações Internacionais, nos níveis da graduação (iniciação científica), mestrado (dissertações) e doutorado (teses)
(viii) criar oportunidades de debate acadêmico entre estudantes, professores e pesquisadores vinculados a programas de pós-graduação através da promoção de Seminários de pós-graduação e workshops doutorais;
(ix) facilitar e apoiar iniciativas de cooperação entre programas de pós-graduação com vistas à construção de projetos de ensino e pesquisa comuns;
(x) Fortalecer o Seminário Nacional de Graduação em Relações Internacionais – cuja 1a edição teve lugar em 2010 – como instância para a promoção de padrões de qualidade para os cursos de graduação e debate acerca da formação profissional no campo das RI;
(xi) Incentivar a cooperação entre os cursos de graduação através da promoção da pesquisa nacional de egressos e do intercâmbio de experiências de ensino e iniciação científica;
3. Autonomia, Excelência e independência: ampliar a presença da ABRI nos debates de temas da Política Internacional
A construção de um campo de conhecimento autônomo e de uma associação independente, supõe, finalmente, maior participação da ABRI e de seus associados nos debates públicos em torno dos problemas internacionais que afetam a sociedade brasileira. Para tanto, acreditamos que a ABRI deve dar os primeiros passos no sentido da constituição de arenas de discussão que permitam o diálogo entre a comunidade acadêmica, os profissionais de relações internacionais e os diversos atores sociais envolvidos nos processos de tomada de decisão acerca dos temas que compõem a agenda internacional do Brasil. Nessa direção propomos:
(xii) a criação de grupos de trabalho, no interior da Associação, para o debate de temas relevantes das Relações Internacionais do Brasil;
(xiii) a participação em, e eventual criação de, arenas interdisciplinares e inter-institucionais para o debate de temas relevantes das Relações Internacionais do Brasil;
(xiv) dar maior publicidade aos debates promovidos no interior da Associação ou pelos diversos programas da área acerca dos grandes temas da agenda internacional.
A construção de um campo de conhecimentos autônomo, de uma Associação independente e, finalmente de padrões de excelência consistentes com as responsabilidades impostas ao profissionais de relações internacionais e à nossa comunidade acadêmica, exige o aprofundamento e a ampliação das atividades da ABRI.
O seu apoio e participação são indispensáveis para esse projeto.
A chapa Autonomia & Excelência é formada por professores universitários de diversas instituições brasileiras e de diferentes tradições científico-acadêmicas da área. Na chapa está representada a diversidade regional da graduação e da pós-graduação em Relações Internacionais. O nosso time é formado por:
Diretoria Executiva:
Presidente – Paulo Lavigne Esteves – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-RIo;
Secretária-geral – Matilde de Souza – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC-Minas;
Secretário-adjunto – Antônio Carlos Lessa, Universidade de Brasília – UnB;
Tesoureiro - Carlos Enrique Ruiz Ferreira, Universidade Estadual da Paraíba – UEPB;
Diretores:
Eduardo Viola, Universidade de Brasília – UnB;
Gunther Rudzit, Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP;
Paulo José dos Reis Pereira, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP;
Carlos Arturi, Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.
Conselho Fiscal:
Danny Zahreddine, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC-Minas;
Francisco Gomes Filho – Universidade Federal de Roraima – UFRR.
Abaixo as propostas da chapa Autonomia e Excelência, que podem ser lidas neste blog:
Autonomia e Excelência
A nossa proposta para a ABRI
Posted on 01/07/2011
No próximo encontro da ABRI, será eleita a nova diretoria para o período 2011-2013. Nesse sentido, gostaríamos de lhes apresentar nossa chapa, constituída a partir de uma posição consensual entre sócios da ABRI, diversos programas de pós-graduação e cursos de graduação, em torno de dois princípios que devem sustentar o processo de construção da Associação e do campo das Relações Internacionais: a autonomia e a busca por excelência.
Compreendemos que com a criação da ABRI em setembro de 2005 demos um grande passo para a construção das Relações Internacionais no Brasil como um campo de conhecimento autônomo. Àquela altura, avaliava-se que, a despeito da grande expansão do campo, professores e pesquisadores vinculados aos programas de pós-graduação, cursos de graduação e centros de pesquisa careciam de um espaço autônomo de intercâmbio acadêmico-científico e de expressão de suas demandas institucionais e políticas. Entre 2005 e 2010, as perspectivas de expansão da área se confirmaram, desenhando um quadro composto, hoje, por cerca de 100 programas de graduação e 13 de pós-graduação (compreendendo 13 cursos de mestrado e 6 cursos de doutorado), sem contar os programas que possuem áreas de concentração ou linhas de pesquisa em Relações internacionais. Tais números confirmam a pujança da área em termos do crescente interesse pelas relações internacionais e de uma conseqüente demanda por formação profissional.
O crescimento da área confirma a necessidade de consolidação das RI como um campo de conhecimentos autônomo e da ABRI como um fórum independente de debates acadêmicos e de articulação de demandas institucionais, com vistas à consolidação de padrões de excelência consistentes com as demandas e responsabilidades que lhe são atinentes. Nesse sentido, acreditamos que a busca de autonomia e excelência que conduziu à criação da Associação deve ser reafirmada como princípio orientador das atividades e do posicionamento público da ABRI. Naturalmente, a afirmação e defesa da autonomia da área de Relações Internacionais e da ABRI não devem prejudicar nosso diálogo fraterno com outras áreas nem, tampouco nossa capacidade de articulação com outras associações irmãs no Brasil e no exterior. A construção das Relações Internacionais como campo de conhecimento autônomo e da ABRI como uma Associação independente supõe três movimentos combinados:
1. Autonomia: reconhecer a diversidade e estimular a pluralidade
O reconhecimento da diversidade do campo de estudos das RI, tanto no que respeita à variedade de orientações teórico-metodológicas de seus “programas” e projetos de pesquisa, quanto no que concerne à heterogeneidade de posicionamentos políticos de seus pesquisadores é uma condição para a construção de uma associação plural e democrática. A diversidade do campo não deve ser tomada como problema, senão como sinal de seu vigor intelectual. Nesse sentido, a ABRI deve, no melhor espírito republicano e consoante o princípio elementar da honestidade acadêmica, contribuir para fazer vicejar a diversidade e buscar descrevê-la e representá-la em suas atividades.
Acreditamos que, desde sua fundação, a ABRI desempenhou esse papel, incentivando a presença das mais diversas orientações em seus encontros e pautando seu posicionamento público na prática da consulta a pesquisadores e programas e na busca pelo entendimento. Assim, seguindo o caminho até aqui palmilhado, propomos:
(i) Incentivar e facilitar a criação de novos canais horizontais de consulta e articulação entre os programas de pós-graduação em Relações Internacionais e fortalecer os mecanismos já existentes. Nesse contexto, a ABRI, reconhecendo e respeitando a autonomia e a diversidade dos programas, deve facilitar e apoiar a construção do fórum de coordenadores de programas de pós-graduação em Relações Internacionais. Tal mecanismo é essencial para o posicionamento da associação não apenas diante das agências estatais, como também em face de entidades civis e, particularmente das associações científicas nacionais e estrangeiras;
(ii) incentivar o diálogo e a cooperação entre os cursos de graduação em Relações Internacionais através do apoio ao fórum de coordenadores de cursos de graduação, cuja primeira reunião, encontra-se prevista para o próximo encontro;
(iii) incentivar o intercâmbio de experiências e o fortalecimento de nossos periódicos através da criação do Fórum de editores de periódicos científicos;
tais fóruns deverão contribuir para:
(iv) qualificar e ampliar a participação da ABRI junto às agências de fomento e avaliação, particularmente a CAPES, o CNPq, e o INEP.
(v) fortalecer e aprofundar os laços com associações científicas brasileiras e estrangeiras com quem devemos trabalhar cooperativamente, observando, contudo as especificidades e autonomia do campo das Relações Internacionais e a independência de nossa Associação.
2. Excelência: fortalecer a graduação e a pós-graduação e contribuir para a formação científica e profissional
Ainda consoante o espírito da fundação da ABRI, acreditamos que a Associação deve contribuir para o fortalecimento de seus cursos de graduação e seus programas de pós-graduação. Nossa proposta pretende dar prosseguimento e aprofundar as ações que tiveram lugar nos últimos anos, através do incentivo ao debate de padrões de qualidade para nossas graduações, do estímulo à criação de canais horizontais de consulta, articulação e cooperação entre os programas de pós-graduação e cursos de graduação e, finalmente, de apoio à pesquisa e à produção acadêmica, nos limites que cabem à uma associação científica. Para tanto, acreditamos que a ABRI deve:
(vi) Executar no próximo período a decisão já tomada no âmbito da atual diretoria de criação de uma revista científica da associação;
(vii) Criar prêmios que reconheçam a excelência da produção científica no campo das Relações Internacionais, nos níveis da graduação (iniciação científica), mestrado (dissertações) e doutorado (teses)
(viii) criar oportunidades de debate acadêmico entre estudantes, professores e pesquisadores vinculados a programas de pós-graduação através da promoção de Seminários de pós-graduação e workshops doutorais;
(ix) facilitar e apoiar iniciativas de cooperação entre programas de pós-graduação com vistas à construção de projetos de ensino e pesquisa comuns;
(x) Fortalecer o Seminário Nacional de Graduação em Relações Internacionais – cuja 1a edição teve lugar em 2010 – como instância para a promoção de padrões de qualidade para os cursos de graduação e debate acerca da formação profissional no campo das RI;
(xi) Incentivar a cooperação entre os cursos de graduação através da promoção da pesquisa nacional de egressos e do intercâmbio de experiências de ensino e iniciação científica;
3. Autonomia, Excelência e independência: ampliar a presença da ABRI nos debates de temas da Política Internacional
A construção de um campo de conhecimento autônomo e de uma associação independente, supõe, finalmente, maior participação da ABRI e de seus associados nos debates públicos em torno dos problemas internacionais que afetam a sociedade brasileira. Para tanto, acreditamos que a ABRI deve dar os primeiros passos no sentido da constituição de arenas de discussão que permitam o diálogo entre a comunidade acadêmica, os profissionais de relações internacionais e os diversos atores sociais envolvidos nos processos de tomada de decisão acerca dos temas que compõem a agenda internacional do Brasil. Nessa direção propomos:
(xii) a criação de grupos de trabalho, no interior da Associação, para o debate de temas relevantes das Relações Internacionais do Brasil;
(xiii) a participação em, e eventual criação de, arenas interdisciplinares e inter-institucionais para o debate de temas relevantes das Relações Internacionais do Brasil;
(xiv) dar maior publicidade aos debates promovidos no interior da Associação ou pelos diversos programas da área acerca dos grandes temas da agenda internacional.
A construção de um campo de conhecimentos autônomo, de uma Associação independente e, finalmente de padrões de excelência consistentes com as responsabilidades impostas ao profissionais de relações internacionais e à nossa comunidade acadêmica, exige o aprofundamento e a ampliação das atividades da ABRI.
O seu apoio e participação são indispensáveis para esse projeto.
A chapa Autonomia & Excelência é formada por professores universitários de diversas instituições brasileiras e de diferentes tradições científico-acadêmicas da área. Na chapa está representada a diversidade regional da graduação e da pós-graduação em Relações Internacionais. O nosso time é formado por:
Diretoria Executiva:
Presidente – Paulo Lavigne Esteves – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-RIo;
Secretária-geral – Matilde de Souza – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC-Minas;
Secretário-adjunto – Antônio Carlos Lessa, Universidade de Brasília – UnB;
Tesoureiro - Carlos Enrique Ruiz Ferreira, Universidade Estadual da Paraíba – UEPB;
Diretores:
Eduardo Viola, Universidade de Brasília – UnB;
Gunther Rudzit, Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP;
Paulo José dos Reis Pereira, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP;
Carlos Arturi, Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.
Conselho Fiscal:
Danny Zahreddine, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC-Minas;
Francisco Gomes Filho – Universidade Federal de Roraima – UFRR.
Wikileaks-Brasil: China pensa que Brasil nao tem peso internacional
Estou terminando a revisão de um trabalho meu que escrevi há mais de um ano (e que ainda não foi publicado): "Brasil, China e a arquitetura da governança global"
A matéria abaixo (e o telegrama transcrito) sobre opiniões de um ex-embaixador da China no Brasil sobre nosso pequeno peso internacional apenas confirma, de modo mais explícito, o que já se sabia: a China não pretende apoiar o Brasil em sua pretensão de ocupar uma cadeira permanente no CSNU. Este nem é o problema principal, pois a China não pretende ampliar o CSNU para ninguém, pois isso diminuiria relativamente seu próprio peso internacional. Se trata, obviamente, de uma posição conservadora, como é, geralmente a das grandes potências (apenas quando elas não conseguem mais pagar a conta, como parece ser o caso dos EUA, atualmente, elas pretendem que outros o façam), e no caso da China, ela pouco se preocupa com a estabilidade do sistema internacional, e não pretende assumir um papel que a engaje mais de perto com certas responsabilidades "imperiais", digamos assim.
No caso do Brasil, porém, ela apenas explicita o que pensam de nós muitos imperiais e outros menos imperiais: não temos peso, ainda.
Pois é, parece que a solução mesmo é: cresça e apareça, mas isso não depende do mundo. Depende de nós mesmos, ou seja de reformas internas e de crescimento econômico e militar. A China só é o que é, hoje, por se tratar, de fato, de uma grande potência (já era antes, mas decaiu durante dois séculos), que cresceu enormemente nas últimas três décadas e vem se afirmando cada vez mais nos planos econômico e financeiro. Falta se afirmar no plano militar, mas isso assusta muita gente...
Paulo Roberto de Almeida
A) Matéria da Agência A Pública, sobre telegrama Wikileaks, sobre relações China-Brazil (neste link):
WIKILEAKS: China pensa que Brasil não tem “capacidade” para ser líder
Por João Peres, especial para a Pública, June 29th, 2011
Telegramas revelam conversa entre embaixadores da China e dos Estados Unidos na qual se pondera que o Brasil tampouco está qualificado para um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU
Segundo o ex-embaixador chinês no Brasil, a China acredita que o Brasil não tem “capacidade e influência” para ser líder e que as ambições do país excedem seu verdadeiro peso no cenário internacional. Telegramas de agosto de 2008 obtidos pelo Wikileaks mostram a conversa de Chen Duqing, que ficou no cargo até 2009, com o ex-embaixador dos Estados Unidos, Clifford Sobel.
Àquela ocasião, Duqing manifestou a Sobel que o Brasil não estaria qualificado para suas aspirações de ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e estava “interessado apenas em algumas áreas, e não em paz ou em segurança”.
Para Paulo Vizentini, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é preciso fazer a ressalva que a afirmação foi feita em 2008, começo da grande crise financeira que catalisaria as mudanças no quadro geopolítico internacional – e o Brasil ganhou força. Porém, admite ele, “o Brasil demonstra uma série de fragilidades quanto a seu projeto. Não temos um pacto de poder mínimo que assegure uma agenda comum que sobreviva a mudanças de governos”.
Conselho de Segurança
Em outro telegrama, os Estados Unidos ponderavam que a principal relutância chinesa quanto à reforma no Conselho de Segurança dizia respeito à possível entrada do Japão no conselho. Para os diplomatas, se a China apoiasse o Brasil em seu antigo anseio por uma inserção mais profunda no principal organismo multilateral, estaria por tabela beneficiando os rivais asiáticos. “Pode haver uma manobra chinesa no sentido de não deixar ninguém entrar. É fato que a China tem ficado incomodada com a reaproximação entre Japão e Estados Unidos”, pondera o professor.
A questão foi parcialmente alterada este ano, quando, em viagem a Pequim, a presidenta Dilma Rousseff conseguiu a inclusão, no comunicado bilateral, do apoio chinês a uma reforma no Conselho de Segurança para incluir nações emergentes. Falta obter, por parte da China, dos Estados Unidos e da própria ONU, uma defesa enfática do direito do Brasil de ingressar no órgão multilateral mais importante do mundo.
No campo interno, o embaixador chinês criticava os problemas de infraestrutura, classificando o porto de Santos como “o pior do mundo”. Ele apontou na conversa com Sobel que a burocracia nacional é muito confusa e que há uma sobreposição de funções. Para Duqing, merece especial atenção o fato de o Brasil não ter consolidado suas bases para dar conta de um desenvolvimento prolongado, indicando que, sem mais crescimento econômico, não se consolidará a meta de reduzir a desigualdade social.
Parceiro importante, parceiro ocasional
Em diversos telegramas, os diplomatas estadunidenses avaliam que o Brasil vê a China como um aliado fundamental, mas advertem que a relação não é marcada por reciprocidade. “O governo Lula considera a China um parceiro para contrabalancear a influência de nações mais ricas em instituições multilaterais”, anota a então embaixadora, Donna Hrinak, em despacho de 14 de maio de 2004 no qual resume, em poucas palavras, a tônica desta relação bilateral: “Para o Brasil, mesmo um casamento de conveniência é preferível a um eterno encontro”.
Naquele momento, chamava atenção a viagem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia realizado à nação asiática acompanhado por uma enorme delegação de 400 empresários. Os telegramas indicavam que a relação era desigual em termos de trocas comerciais, com envio de commodities brasileiras em troca de produtos industriais chineses.
Dados divulgados em abril pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) constatam que a desigualdade se aprofundou, e atualmente 86% da exportação brasileira ao parceiro é baseada em produtos primários.
Desconfianças de parte a parte
“Este é um grupo muito heterogêneo de países com diferentes metas”, anotava em 19 de fevereiro de 2010 o subsecretário-geral de política do Itamaraty, Roberto Jaguaribe, em conversa com o embaixador Thomas Shannon, na qual confirmava que a China não queria que o BRIC se transformasse em porta-voz das nações em desenvolvimento.
Na mesma conversa, o diplomata estadunidense demonstrava surpresa com a rapidez com que a China se engajou em negócios na América do Sul, passando de um envolvimento meramente econômico a uma relação política que se aprofundava constantemente. “China será uma forte concorrente, para os Estados Unidos e para o Brasil”, advertia Shannon, segundo telegrama de 22 de abril de 2008.
Os documentos são parte de 2.500 relatórios diplomáticos referentes ao Brasil ainda inéditos, que foram analisados por 15 jornalistas independentes e estão sendo publicados nesta semana pela agência Pública.
Esse posts foi publicado em Wednesday, June 29th, 2011 at 3:13 pm. Está arquivado como +. Você pode acompanhar quaisquer respostas a esse post através do RSS feed.
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B) Telegrama da Embaixada dos EUA em Brasilia (1/08/2008), sobre conversa do Embaixador Sobel com Embaixador da China, Chen Duqing (neste link):
08BRASILIA48
136585 1/8/2008 13:01 08BRASILIA48 Embassy Brasilia CONFIDENTIAL
C O N F I D E N T I A L SECTION 01 OF 03
BRASILIA 000048
SIPDIS
SIPDIS E FOR TOM PIERCE; EPSC FOR LISA KUBISKE
E.O. 12958: DECL: 01/07/2018
TAGS: ETRD, EINV, PREL, BR, CH
SUBJECT: CHINESE AMBASSADOR DISCUSSES HIS PRIORITIES, BRAZILIAN ASPIRATIONS
REF: A. STATE 164790
B. SAO PAULO 718
C. BRASILIA 918
D. RIO DE JANEIRO 598
E. BRASILIA 990
Classified By: Ambassador Clifford Sobel, reasons 1.4 b and d.
1. (C) Summary. Chen Duqing, Chinese Ambassador to Brazil, told Ambassador Sobel on October 19 that his top priorities are to create a more favorable environment for economic relations and to promote Chinese interests in the Brazilian Congress. Ambassador Chen described an economic relationship of growing bilateral trade and investment characterized by an unbalanced exchange of finished industrial goods from China for Brazilian raw materials, and said Brazilian political international ambitions exceed Brazil’s political weight. End summary.
2. (C) Chen told Ambassador Sobel that he travels extensively throughout Brazil in pursuit of his top priority of creating favorable conditions to increase the trade relationship, mainly to Rio de Janeiro and Sao Paulo, but also to northern states such as Para. He is increasing his ability to pursue his other top priority by adding a counselor to his staff to work full-time on congressional engagement.
“Brazil Must Open Its Mind More” – - – - – - – - – - – - – - – - -
3. (C) Sino-Brazilian relations are getting to be quite good, he explained, even if the only important Chinese visitor this year was the then-Deputy Foreign Minister (now Foreign Minister). But an outdated view of the Chinese political system blurs Brazil’s perception of China and “Brazil must open its mind more,” he said. The Chinese Communist Party was now taking historic steps at its National Congress, as President Hu noted when he said that China must be more open, and Brazil needed to understand this change, Chen stated. (Note: The 17th National Congress of the Communist Party of China took place October 15-21, 2007. End note.)
Trade and Investment – - – - – - – - – - -
4. (C) China would soon pass Argentina and Germany to become Brazil’s number two trading partner, after the U.S., Chen noted, offering a figure of two-way Chinese trade with Brazil at USD 20 billion in 2006. (Note: Chinese Foreign Ministry officials cited the same bilateral trade figure at the U.S.-China Sub-Dialogue on Latin America in late November, as reported ref A. According to the Sao Paulo State Federation of Industries, total bilateral trade in 2006 was USD 16.4 billion, as reported ref B. End note.) China’s exports to Brazil are mainly finished goods, especially electronics; Ambassador Chen said Brazil complains of dumping, but Chen added that “this is part of our process of increasing our relationship,” implying Brazilian dumping accusations are a natural part of a growing trade relationship.
5. (C) Brazil’s top exports to China are soy and iron ore. Seventy million tons of iron ore and 11 million tons of soy a year go to China, according to Chen, and China always runs a trade deficit with Brazil, now at about USD 4 billion a year. (Note: China buys about a third of Brazil’s iron ore exports, introducing “an obvious vulnerability” for Brazil, according to the November 2007 issue of Brazil Focus, published by Menas Associates, www.menas.co.uk. Ref C reported Brazilian mining executives’ concerns about China’s influence over Latin American natural resources. End note.)
BRASILIA 00000048 002 OF 003
Chen said that if you calculate undercounting on the Brazilian side the deficit is even greater. His principal concern about the economic relationship is that “Brazil has not consolidated its basis for more development” because “without more economic growth, it will not achieve greater income distribution.” He noted Brazil’s poor infrastructure, calling Santos the “world’s worst port,” and said China is interested in railroad projects in Brazil. Chen said Brazilian bureaucracy is “confused” and has no model, in comparison with China’s, where top bureaucrats must go through the Central Committee Party School.
Major Steel Investment – - – - – - – - – - – -
6. (C) Chen told Ambassador Sobel that China had signed a major joint venture agreement on October 3 with the Companhia Vale do Rio Doce (CVRD, now “Vale”) to construct a steel plant in Vitoria, Espirito Santo, making China a majority partner in the Companhia Siderurgica de Vitoria (CSV) with an investment of USD 5.5 billion (ref D). Chen said China would like to make more such investments, but there is political resistance in some circles in Brazil. (Note: Ref E reported Brazilian fears of China. Nonetheless, Brazilian leaders continue to court Chinese investment. Bahia governor Jaques Wagner led a trade mission November 15-25 to China in search of investment in tourism, ports, railroads, mining, ethanol, and semiconductors. Also in November, Amazonas Governor Eduardo Braga and a large entourage embarked on a 20-day Asian trade and investment mission to Japan, China (including Macau), Malaysia, and Indonesia. A Chinese trade and investment mission to Amazonas in 2008 was announced during Braga’s visit to China. End note.) In the northeast of Brazil, for example, Chen continued, there are many opportunities, but China will limit itself to equipment sales. Moreover, in spite of the large size of many Brazilian firms, there is little money for equipment purchases and Brazilian importation of Chinese goods became somewhat more difficult after China increased the exchange rate value of its currency 8.27 percent, he noted. China cannot revalue its currency as fast as the U.S. would like because it will produce a negative impact on the Chinese economy, Chen added.
7. (SBU) China’s domestic steel production accounts for the majority of China’s needs, but China must import certain specialized steels. The trade with Brazil has not grown in the last 20 years and remains at about 30 million dollars a year, according to Chen. (Note: According to the Brazilian Institute of Steel, 2006 Brazilian exports of steel and steel products to China were USD 52.7 million (66,628 metric tons) and have dropped significantly since 2005. Conversely, Brazilian imports of Chinese steel have increased from USD 27.5 million in 2005 to USD 92.7 million in 2006. End note.)
Biofuels – - – - -
8. (SBU) Asked about Chinese interest in Brazilian biofuels, Chen replied that China produces its own biofuel and does not buy any fuels from Brazil, only some heavy oil.
Brazilian Leadership Aspirations – - – - – - – - – - – - – - – - -
9. (C) Ambassador Chen said he has observed the growth in the U.S.-Brazilian bilateral relationship over the last year, and understands that Brazil wants to be a leader, but it has “no capacity or influence.” Chen dismissed Brazil’s UN Security Council aspirations, saying it is not qualified, and is “interested in only some areas, and not in peace and security.”
BRASILIA 00000048 003 OF 003
Biographical notes – - – - – - – - – -
10. (SBU) Ambassador Chen said he has never been on an official visit to the U.S. and has spent most of his career in lusophone assignments. He began his career in Brazil in 1974, and returned in the period 1981-84. He was Ambassador in Mozambique, and came to Brazil after a year and a half assignment in East Timor. He said he is 60 years old, can retire at any time, and will finish his career in Brazil. He speaks English. Sobel
A matéria abaixo (e o telegrama transcrito) sobre opiniões de um ex-embaixador da China no Brasil sobre nosso pequeno peso internacional apenas confirma, de modo mais explícito, o que já se sabia: a China não pretende apoiar o Brasil em sua pretensão de ocupar uma cadeira permanente no CSNU. Este nem é o problema principal, pois a China não pretende ampliar o CSNU para ninguém, pois isso diminuiria relativamente seu próprio peso internacional. Se trata, obviamente, de uma posição conservadora, como é, geralmente a das grandes potências (apenas quando elas não conseguem mais pagar a conta, como parece ser o caso dos EUA, atualmente, elas pretendem que outros o façam), e no caso da China, ela pouco se preocupa com a estabilidade do sistema internacional, e não pretende assumir um papel que a engaje mais de perto com certas responsabilidades "imperiais", digamos assim.
No caso do Brasil, porém, ela apenas explicita o que pensam de nós muitos imperiais e outros menos imperiais: não temos peso, ainda.
Pois é, parece que a solução mesmo é: cresça e apareça, mas isso não depende do mundo. Depende de nós mesmos, ou seja de reformas internas e de crescimento econômico e militar. A China só é o que é, hoje, por se tratar, de fato, de uma grande potência (já era antes, mas decaiu durante dois séculos), que cresceu enormemente nas últimas três décadas e vem se afirmando cada vez mais nos planos econômico e financeiro. Falta se afirmar no plano militar, mas isso assusta muita gente...
Paulo Roberto de Almeida
A) Matéria da Agência A Pública, sobre telegrama Wikileaks, sobre relações China-Brazil (neste link):
WIKILEAKS: China pensa que Brasil não tem “capacidade” para ser líder
Por João Peres, especial para a Pública, June 29th, 2011
Telegramas revelam conversa entre embaixadores da China e dos Estados Unidos na qual se pondera que o Brasil tampouco está qualificado para um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU
Segundo o ex-embaixador chinês no Brasil, a China acredita que o Brasil não tem “capacidade e influência” para ser líder e que as ambições do país excedem seu verdadeiro peso no cenário internacional. Telegramas de agosto de 2008 obtidos pelo Wikileaks mostram a conversa de Chen Duqing, que ficou no cargo até 2009, com o ex-embaixador dos Estados Unidos, Clifford Sobel.
Àquela ocasião, Duqing manifestou a Sobel que o Brasil não estaria qualificado para suas aspirações de ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e estava “interessado apenas em algumas áreas, e não em paz ou em segurança”.
Para Paulo Vizentini, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é preciso fazer a ressalva que a afirmação foi feita em 2008, começo da grande crise financeira que catalisaria as mudanças no quadro geopolítico internacional – e o Brasil ganhou força. Porém, admite ele, “o Brasil demonstra uma série de fragilidades quanto a seu projeto. Não temos um pacto de poder mínimo que assegure uma agenda comum que sobreviva a mudanças de governos”.
Conselho de Segurança
Em outro telegrama, os Estados Unidos ponderavam que a principal relutância chinesa quanto à reforma no Conselho de Segurança dizia respeito à possível entrada do Japão no conselho. Para os diplomatas, se a China apoiasse o Brasil em seu antigo anseio por uma inserção mais profunda no principal organismo multilateral, estaria por tabela beneficiando os rivais asiáticos. “Pode haver uma manobra chinesa no sentido de não deixar ninguém entrar. É fato que a China tem ficado incomodada com a reaproximação entre Japão e Estados Unidos”, pondera o professor.
A questão foi parcialmente alterada este ano, quando, em viagem a Pequim, a presidenta Dilma Rousseff conseguiu a inclusão, no comunicado bilateral, do apoio chinês a uma reforma no Conselho de Segurança para incluir nações emergentes. Falta obter, por parte da China, dos Estados Unidos e da própria ONU, uma defesa enfática do direito do Brasil de ingressar no órgão multilateral mais importante do mundo.
No campo interno, o embaixador chinês criticava os problemas de infraestrutura, classificando o porto de Santos como “o pior do mundo”. Ele apontou na conversa com Sobel que a burocracia nacional é muito confusa e que há uma sobreposição de funções. Para Duqing, merece especial atenção o fato de o Brasil não ter consolidado suas bases para dar conta de um desenvolvimento prolongado, indicando que, sem mais crescimento econômico, não se consolidará a meta de reduzir a desigualdade social.
Parceiro importante, parceiro ocasional
Em diversos telegramas, os diplomatas estadunidenses avaliam que o Brasil vê a China como um aliado fundamental, mas advertem que a relação não é marcada por reciprocidade. “O governo Lula considera a China um parceiro para contrabalancear a influência de nações mais ricas em instituições multilaterais”, anota a então embaixadora, Donna Hrinak, em despacho de 14 de maio de 2004 no qual resume, em poucas palavras, a tônica desta relação bilateral: “Para o Brasil, mesmo um casamento de conveniência é preferível a um eterno encontro”.
Naquele momento, chamava atenção a viagem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia realizado à nação asiática acompanhado por uma enorme delegação de 400 empresários. Os telegramas indicavam que a relação era desigual em termos de trocas comerciais, com envio de commodities brasileiras em troca de produtos industriais chineses.
Dados divulgados em abril pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) constatam que a desigualdade se aprofundou, e atualmente 86% da exportação brasileira ao parceiro é baseada em produtos primários.
Desconfianças de parte a parte
“Este é um grupo muito heterogêneo de países com diferentes metas”, anotava em 19 de fevereiro de 2010 o subsecretário-geral de política do Itamaraty, Roberto Jaguaribe, em conversa com o embaixador Thomas Shannon, na qual confirmava que a China não queria que o BRIC se transformasse em porta-voz das nações em desenvolvimento.
Na mesma conversa, o diplomata estadunidense demonstrava surpresa com a rapidez com que a China se engajou em negócios na América do Sul, passando de um envolvimento meramente econômico a uma relação política que se aprofundava constantemente. “China será uma forte concorrente, para os Estados Unidos e para o Brasil”, advertia Shannon, segundo telegrama de 22 de abril de 2008.
Os documentos são parte de 2.500 relatórios diplomáticos referentes ao Brasil ainda inéditos, que foram analisados por 15 jornalistas independentes e estão sendo publicados nesta semana pela agência Pública.
Esse posts foi publicado em Wednesday, June 29th, 2011 at 3:13 pm. Está arquivado como +. Você pode acompanhar quaisquer respostas a esse post através do RSS feed.
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B) Telegrama da Embaixada dos EUA em Brasilia (1/08/2008), sobre conversa do Embaixador Sobel com Embaixador da China, Chen Duqing (neste link):
08BRASILIA48
136585 1/8/2008 13:01 08BRASILIA48 Embassy Brasilia CONFIDENTIAL
C O N F I D E N T I A L SECTION 01 OF 03
BRASILIA 000048
SIPDIS
SIPDIS E FOR TOM PIERCE; EPSC FOR LISA KUBISKE
E.O. 12958: DECL: 01/07/2018
TAGS: ETRD, EINV, PREL, BR, CH
SUBJECT: CHINESE AMBASSADOR DISCUSSES HIS PRIORITIES, BRAZILIAN ASPIRATIONS
REF: A. STATE 164790
B. SAO PAULO 718
C. BRASILIA 918
D. RIO DE JANEIRO 598
E. BRASILIA 990
Classified By: Ambassador Clifford Sobel, reasons 1.4 b and d.
1. (C) Summary. Chen Duqing, Chinese Ambassador to Brazil, told Ambassador Sobel on October 19 that his top priorities are to create a more favorable environment for economic relations and to promote Chinese interests in the Brazilian Congress. Ambassador Chen described an economic relationship of growing bilateral trade and investment characterized by an unbalanced exchange of finished industrial goods from China for Brazilian raw materials, and said Brazilian political international ambitions exceed Brazil’s political weight. End summary.
2. (C) Chen told Ambassador Sobel that he travels extensively throughout Brazil in pursuit of his top priority of creating favorable conditions to increase the trade relationship, mainly to Rio de Janeiro and Sao Paulo, but also to northern states such as Para. He is increasing his ability to pursue his other top priority by adding a counselor to his staff to work full-time on congressional engagement.
“Brazil Must Open Its Mind More” – - – - – - – - – - – - – - – - -
3. (C) Sino-Brazilian relations are getting to be quite good, he explained, even if the only important Chinese visitor this year was the then-Deputy Foreign Minister (now Foreign Minister). But an outdated view of the Chinese political system blurs Brazil’s perception of China and “Brazil must open its mind more,” he said. The Chinese Communist Party was now taking historic steps at its National Congress, as President Hu noted when he said that China must be more open, and Brazil needed to understand this change, Chen stated. (Note: The 17th National Congress of the Communist Party of China took place October 15-21, 2007. End note.)
Trade and Investment – - – - – - – - – - -
4. (C) China would soon pass Argentina and Germany to become Brazil’s number two trading partner, after the U.S., Chen noted, offering a figure of two-way Chinese trade with Brazil at USD 20 billion in 2006. (Note: Chinese Foreign Ministry officials cited the same bilateral trade figure at the U.S.-China Sub-Dialogue on Latin America in late November, as reported ref A. According to the Sao Paulo State Federation of Industries, total bilateral trade in 2006 was USD 16.4 billion, as reported ref B. End note.) China’s exports to Brazil are mainly finished goods, especially electronics; Ambassador Chen said Brazil complains of dumping, but Chen added that “this is part of our process of increasing our relationship,” implying Brazilian dumping accusations are a natural part of a growing trade relationship.
5. (C) Brazil’s top exports to China are soy and iron ore. Seventy million tons of iron ore and 11 million tons of soy a year go to China, according to Chen, and China always runs a trade deficit with Brazil, now at about USD 4 billion a year. (Note: China buys about a third of Brazil’s iron ore exports, introducing “an obvious vulnerability” for Brazil, according to the November 2007 issue of Brazil Focus, published by Menas Associates, www.menas.co.uk. Ref C reported Brazilian mining executives’ concerns about China’s influence over Latin American natural resources. End note.)
BRASILIA 00000048 002 OF 003
Chen said that if you calculate undercounting on the Brazilian side the deficit is even greater. His principal concern about the economic relationship is that “Brazil has not consolidated its basis for more development” because “without more economic growth, it will not achieve greater income distribution.” He noted Brazil’s poor infrastructure, calling Santos the “world’s worst port,” and said China is interested in railroad projects in Brazil. Chen said Brazilian bureaucracy is “confused” and has no model, in comparison with China’s, where top bureaucrats must go through the Central Committee Party School.
Major Steel Investment – - – - – - – - – - – -
6. (C) Chen told Ambassador Sobel that China had signed a major joint venture agreement on October 3 with the Companhia Vale do Rio Doce (CVRD, now “Vale”) to construct a steel plant in Vitoria, Espirito Santo, making China a majority partner in the Companhia Siderurgica de Vitoria (CSV) with an investment of USD 5.5 billion (ref D). Chen said China would like to make more such investments, but there is political resistance in some circles in Brazil. (Note: Ref E reported Brazilian fears of China. Nonetheless, Brazilian leaders continue to court Chinese investment. Bahia governor Jaques Wagner led a trade mission November 15-25 to China in search of investment in tourism, ports, railroads, mining, ethanol, and semiconductors. Also in November, Amazonas Governor Eduardo Braga and a large entourage embarked on a 20-day Asian trade and investment mission to Japan, China (including Macau), Malaysia, and Indonesia. A Chinese trade and investment mission to Amazonas in 2008 was announced during Braga’s visit to China. End note.) In the northeast of Brazil, for example, Chen continued, there are many opportunities, but China will limit itself to equipment sales. Moreover, in spite of the large size of many Brazilian firms, there is little money for equipment purchases and Brazilian importation of Chinese goods became somewhat more difficult after China increased the exchange rate value of its currency 8.27 percent, he noted. China cannot revalue its currency as fast as the U.S. would like because it will produce a negative impact on the Chinese economy, Chen added.
7. (SBU) China’s domestic steel production accounts for the majority of China’s needs, but China must import certain specialized steels. The trade with Brazil has not grown in the last 20 years and remains at about 30 million dollars a year, according to Chen. (Note: According to the Brazilian Institute of Steel, 2006 Brazilian exports of steel and steel products to China were USD 52.7 million (66,628 metric tons) and have dropped significantly since 2005. Conversely, Brazilian imports of Chinese steel have increased from USD 27.5 million in 2005 to USD 92.7 million in 2006. End note.)
Biofuels – - – - -
8. (SBU) Asked about Chinese interest in Brazilian biofuels, Chen replied that China produces its own biofuel and does not buy any fuels from Brazil, only some heavy oil.
Brazilian Leadership Aspirations – - – - – - – - – - – - – - – - -
9. (C) Ambassador Chen said he has observed the growth in the U.S.-Brazilian bilateral relationship over the last year, and understands that Brazil wants to be a leader, but it has “no capacity or influence.” Chen dismissed Brazil’s UN Security Council aspirations, saying it is not qualified, and is “interested in only some areas, and not in peace and security.”
BRASILIA 00000048 003 OF 003
Biographical notes – - – - – - – - – -
10. (SBU) Ambassador Chen said he has never been on an official visit to the U.S. and has spent most of his career in lusophone assignments. He began his career in Brazil in 1974, and returned in the period 1981-84. He was Ambassador in Mozambique, and came to Brazil after a year and a half assignment in East Timor. He said he is 60 years old, can retire at any time, and will finish his career in Brazil. He speaks English. Sobel
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