Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
Debate: O Fim do FED (helas, not yet...)
The End of Central Banks (as we know them...) - coloquio em SP, 2/02
Mas esse debate deveria se estender a todos os quadrantes, latitudes, escolas econômicas.
As pessoas não se dão conta de como os problemas econômicos são afetados pela existência de um banco central monopolista, que decide punir os poupadores -- colocando a taxa de juros de juros em 0,25% por exemplo -- e premiar os credores, devedores e outros relapsos...
Os iluminados atrás das cortinas
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Poncius Pilatus no Caribe: assim é, se lhe parece...
Politica brasileira, por um especialista: Bolivar Lamounier - resenha Paulo R Almeida
Esta minha resenha, por exemplo, não traz nenhuma informação sobre o livro indicado nesta minha ficha, sem qualquer dado habitual, como a reprodução da capa e os dados editoriais primários.
O site é primário...
Eu mesmo acrescento o título, pois ele é indispensável à compreensão da primeira linha da resenha:
Livros e Publicações |
Paulo Roberto de Almeida
... E nunca teve a quem perguntar. Agora já tem: é o novo "Lamounier", cobrindo desta vez (quase) dois séculos de história política. Mas atenção: o livro não é para principiantes, nem do lado teórico, nem do lado prático, isto é, dos que são chamados a nos representar no parlamento e no executivo. Estes, como evidenciado nos casos de "fundos não contabilizados", acabam construindo um universo à parte dos que pagam impostos, que vêem os recursos auferidos serem dilapidados pelos poucos que, segundo a descrição apta de Milton Friedman, "são pagos para gastar o dinheiro dos outros".
Não se trata de uma simples "introdução" à história política brasileira, uma vez que o livro exige dos leitores um conhecimento mínimo dessa história e, ao mesmo tempo uma certa familiaridade com conceitos centrais da ciência política. Tampouco se trata de um "manual" para a reforma política e eleitoral à intenção dos que nos governam, pois eles dificilmente se deixariam guiar por critérios de racionalidade estrita do sistema partidário e representativo, preferindo cuidar dos seus interesses, acima de quaisquer considerações éticas. Como diz o autor na introdução: "O crafting institucional da democracia brasileira ostenta resultados contraditórios: organizamos bem a esfera eleitoral e criamos uma ética para o voto, mas não organizamos nem criamos uma ética para a esfera dos partidos e do parlamento". Difícil, assim, que os governantes sigam as recomendações da terceira parte, relativa, justamente, à reforma política, para introduzir um sistema de governo, uma organização partidária e um sistema eleitoral que correspondam às necessidades da nação, contra seus próprios interesses, enquanto classe organizada para o assalto (é o caso de se dizer) e a manutenção do poder. As duas primeiras partes, em todo caso, constituem a mais completa análise de que se tem notícia na literatura sobre a evolução da política brasileira, não apenas pelo lado dos "episódios" políticos, mas também pelo lado da teorização sobre os regimes políticos, os sistemas partidários, as relações civil-militares e as "lições" de cada período. Um quadro analítico resume a evolução do sistema político de 1822 a 2005: cada um dos regimes - Império, Primeira República, Revolução de 1930, Estado Novo, República de 1946 e o regime militar - terminou em grave conflito político, geralmente sob a forma de golpes militares, com o apoio das classes médias. O regime militar, na verdade, se esvaiu numa "prolongada peleja política e eleitoral", ao cabo da qual as oposições coligadas viabilizaram o retorno ao governo civil. O novo regime democrático, obviamente, ainda não acabou, mas se supõe que seu destino seja menos dramático do que a meia dúzia de sistemas político-partidários que o precederam. Lamounier examina a historiografia convencional - propondo sua revisão - e a literatura de cada época. Duas formas de reducionismo político são identificadas no protofascismo ("mescla de positivismo, nacionalismo e endeusamento do Estado") e no marxismo ("sobretudo na versão stalinista da Terceira Internacional"), intrinsecamente antiliberais e antiparlamentares, ambos avessos à consideração do sistema político enquanto esfera autônoma. A análise se estende ainda à construção e funcionamento dos sistemas partidários e representativos, sendo evidentes o crescimento paulatino do corpo eleitoral, a ampliação do sufrágio e a fragmentação gradual do sistema partidário. Um texto de Hegel sobre a Inglaterra de 1830 é ironicamente recrutado para explicar o que é um "curral eleitoral", prática aliás bem viva no Brasil moderno, a julgar pela formação de um exército contemporâneo de assistidos por "mensalinhos" oficiais. A despeito disso, a competição aumentou, mas nem sempre foi assim: Rodrigues Alves (1918) e Washington Luís (1926), por exemplo, conquistaram a suprema magistratura com maiorias "albanesas" superiores a 98% dos votos válidos, ainda que com cerca de 2% de votantes sobre a população total (hoje a proporção de eleitores é superior a 60%). "Lula lá", em 2002, foi "a batalha que não houve": a manutenção do sistema político de maiorias frágeis mostra a amplitude das reformas políticas que precisam ser feitas para tornar o Brasil mais conforme à estabilidade já conquistada no terreno econômico. A julgar pelo "presidencialismo de mensalão", ainda estamos longe do ideal...
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Como sempre, posto também o meu texto original:
Tudo
o que você sempre quis saber sobre a política brasileira...
Bolivar Lamounier:
Da Independência a Lula: dois séculos de
política brasileira
São Paulo: Augurium Editora, 2005, 320 p.;
R$ 49,00
...e nunca teve a quem
perguntar. Agora já tem: é o novo “Lamounier”, cobrindo desta vez (quase) dois
séculos de história política. Mas atenção: o livro não é para principiantes,
nem do lado teórico, nem do lado prático, isto é, dos que são chamados a nos
representar no parlamento e no executivo. Estes, como evidenciado nos casos de
“fundos não contabilizados”, acabam construindo um universo à parte dos que
pagam impostos, que vêem os recursos auferidos serem dilapidados pelos poucos
que, segundo a descrição apta de Milton Friedman, “são pagos para gastar o dinheiro
dos outros”.
Não se trata de uma simples
“introdução” à história política brasileira, uma vez que o livro exige dos
leitores um conhecimento mínimo dessa história, ao mesmo tempo em que certa
familiaridade com conceitos centrais da ciência política. Tampouco se trata de
um “manual” para a reforma política e eleitoral à intenção dos que nos
governam, pois eles dificilmente se deixariam guiar por critérios de
racionalidade estrita do sistema partidário e representativo, preferindo cuidar
dos seus interesses, acima de quaisquer considerações éticas. Como diz o autor
na introdução: “O crafting
institucional da democracia brasileira ostenta resultados contraditórios:
organizamos bem a esfera eleitoral e criamos uma ética para o voto, mas não
organizamos nem criamos uma ética para a esfera dos partidos e do parlamento”.
Difícil, assim, que os governantes sigam as recomendações da terceira parte,
relativa, justamente, à reforma política, para introduzir um sistema de
governo, uma organização partidária e um sistema eleitoral que correspondam às
necessidades da nação, contra seus próprios interesses, enquanto classe
organizada para o assalto (é o caso de se dizer) e a manutenção do poder.
As duas primeiras partes, em
todo caso, constituem a mais completa análise de que se tem notícia na
literatura sobre a evolução da política brasileira, não apenas pelo lado dos
“episódios” políticos, mas também pelo lado da teorização sobre os regimes
políticos, os sistemas partidários, as relações civil-militares e as “lições”
de cada período. Um quadro analítico resume a evolução do sistema político de
1822 a 2005: cada um dos regimes – Império, Primeira República, Revolução de
1930, Estado Novo, República de 1946 e o regime militar – terminou em grave
conflito político, geralmente sob a forma de golpes militares, com o apoio das
classes médias. O regime militar, na verdade, se esvaiu numa “prolongada peleja
política e eleitoral”, ao cabo da qual as oposições coligadas viabilizaram o
retorno ao governo civil. O novo regime democrático, obviamente, ainda não
acabou, mas se supõe que seu destino seja menos dramático do que a meia dúzia
de sistemas político-partidários que o precederam.
Lamounier examina a
historiografia convencional – propondo sua revisão – e a literatura de cada
época. Duas formas de reducionismo político são identificadas no protofascismo
(“mescla de positivismo, nacionalismo e endeusamento do Estado”) e no marxismo
(“sobretudo na versão stalinista da Terceira Internacional”), intrinsecamente
antiliberais e antiparlamentares, ambos avessos à consideração do sistema
político enquanto esfera autônoma. A análise se estende ainda à construção e
funcionamento dos sistemas partidários e representativos, sendo evidentes o
crescimento paulatino do corpo eleitoral, a ampliação do sufrágio e a
fragmentação gradual do sistema partidário.
Um texto de Hegel sobre a Inglaterra de 1830 é
ironicamente recrutado para explicar o que é um “curral eleitoral”, prática
aliás bem viva no Brasil moderno, a julgar pela formação de um exército
contemporâneo de assistidos por “mensalinhos” oficiais. A despeito disso, a
competição aumentou, mas nem sempre foi assim: Rodrigues Alves (1918) e
Washington Luís (1926), por exemplo, conquistaram a suprema magistratura com
maiorias “albanesas” superiores a 98% dos votos válidos, ainda que com cerca de
2% de votantes sobre a população total (hoje a proporção de eleitores é
superior a 60%). “Lula lá”, em 2002, foi “a batalha que não houve”: a
manutenção do sistema político de maiorias frágeis mostra a amplitude das
reformas políticas que precisam ser feitas para tornar o Brasil mais conforme à
estabilidade já conquistada no terreno econômico. A julgar pelo
“presidencialismo de mensalão”, ainda estamos longe do ideal...
Paulo
Roberto de Almeida
[Brasília,
14 outubro 2005]
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