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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Nem o Banco Central, nem o governo definem a taxa de juros, mas sim o credor - Ricardo Bergamini

 Nem o Banco Central, nem o governo definem a taxa de juros, mas sim o credor

Ricardo Bergamini

 

Preados Senhores

 

Abaixo provas cabais e irrefutáveis da afirmação do preâmbulo, senão vejamos:

 

1 - Em 2020, o governo promoveu o “OSCAR DE EFEITOS ESPECIAIS” e manteve a TAXA SELIC em 2,00% ao ano, mas os credores, de forma soberana, rolaram a dívida do governo ao custo de 8,37% ao ano. Tendo sido o IPCA de 4,52% ao ano, o ganho real dos investidores foi de 3,85% ao ano.  

 

- Em 2020, 57,74% do mercado de crédito - R$ 2.319,9 bilhões (31,31% do PIB) - com recursos livres com juro médio de 25,5% ao ano. 

 

2 - Em 2022, o governo manteve a TAXA SELIC em 13,75% ao ano, mas os credores, de forma soberana, rolaram a dívida do governo ao custo de 10,21% ao ano. Tendo sido o IPCA de 5,79% ao ano o ganho real dos investidores foi de 4,42% ao ano.  

 

- Em 2022, 59,61% do mercado de crédito - R$ 3.175,0 bilhões (32,3% do PIB) - com recursos livres com juro médio de 42,0 % ao ano. 

 

Cabe destacar que de 2011/2018 governos (DILMA/TEMER) a taxa média de ganho real dos investidores foi de 5,93% ao ano.

 

O que não se debate no Brasil é a diferença entre os juros pagos pelo governo na rolagem da sua dívida e o pago pelo mercado de crédito livre. 

 

- Em 2020, o governo pagou 8,37% ao ano e o mercado 25,5% ao ano.

 

- Em 2022, o governo pagou 10,21% ao ano e o mercado 42,0% ao ano.

 

 

 

Fonte - ME

 

Diferença entre juros SELIC e juros de longo prazo – ME

 

Base: dezembro de 2022

Ano

1

2

3

4

5

6

7

2011

2.600,7

4.376,4

59,44

11,00

12,83

6,50

6,33

2012

2.887,4

4.814,8

59,97

7,25

11,55

5,84

5,71

2013

3.059,6

5.331,6

57,39

10,00

11,32

5,91

5,41

2014

3.392,8

5.778,9

58,71

11,75

11,84

6,41

5,43

2015

4.055,7

5.995,8

67,64

14,25

16,07

10,67

5,40

2016

4.635,7

6.269,3

73,94

13,75

12,02

6,29

5,73

2017

5.218,8

6.583,3

79,27

7,00

10,29

2,95

7,34

2018

5.671,4

7.004,1

80,97

6,50

9,86

3,75

6,11

2019

6.137,6

7.256,9

84,58

4,50

8,71

4,31

4,40

2020

6.998,6

7.445,7

94,00

2,00

8,37

4,52

3,85

2021

7.643,0

8.599,8

88,87

9,25

8,91

10,06

-1,15

20/22

8.106,8

9.784,8

82,85

13,75

10,21

5,79

4,42

Legenda: 1 – Estoque da dívida da União - R$ Bilhões; 2 – Valor do PIB em R$ bilhões; 

3 – Dívida % do PIB; 4 - Taxa SELIC % ao ano; 5 - Custo de rolagem da dívida % ao ano;

6 - IPCA% ao ano; 7 - Ganho real do investidor % ao ano. 

 

Com base nas informações acima colocadas podemos afirmar que o debate de juros no Brasil é um manicômio amplo, geral e irrestrito.

 

Que Deus tenha piedade da abissal escuridão e ignorância reinante no Brasil (Ricardo Bergamini)

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Banco Central: historia contada por seus ex-presidentes

Com perdão aos webmasters do Banco Central, mas o site não contém link geral para a coleção de depoimentos, assim é impossível escolher quem ler, a menos que se faça uma busca específica pelo nome, esperando que venha tal gravação.
Não está em publicações, não está em nenhum lugar.
Qualquer garoto poderia oferecer um serviço melhor...
O depoimento de Pérsio Arida está aqui:
https://www.bcb.gov.br/historiacontada/publicacoes/hc_bc_volume_20_persio_arida.pdf
Paulo Roberto de Almeida


Banco Central lança sua História Contada com a presença de 14 ex-Presidentes e seu Presidente


03Janeiro2019
Publicadoàs 15:00
Atualizado03/01 às 15:17


O Banco Central divulgou nesta quinta-feira (03/01) a programação completa do evento de lançamento da coleção digital “História Contada do Banco Central do Brasil”. O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, e 14 ex-presidentes da instituição participarão do lançamento no próximo dia 11 de janeiro, às 14h30, no auditório do BC, no Rio de Janeiro.
O evento, que será aberto pelo presidente Ilan Goldfajn e pelo ex-presidente do BC, Alexandre Tombini, constará de três painéis de debate, nos quais os ex-presidentes irão discorrer sobre os principais momentos da economia brasileira nas últimas décadas. Já confirmaram presença os ex-presidentes Ernane Galvêas, Carlos Geraldo Langoni, Fernão Bracher, Fernando Milliet, Elmo Camões, Wadico Bucchi, Pedro Malan, Persio Arida, Gustavo Loyola,  Gustavo Franco, Francisco Lopes, Arminio Fraga, Henrique Meirelles e Alexandre Tombini.
COLEÇÃO 

A Coleção “História Contada do Banco Central do Brasil” é composta por 25 entrevistas com os ex-presidentes e outros atores que participaram da história da instituição. Os depoimentos contam a história do BC, da economia brasileira e internacional ao longo dos 54 anos de existência da autoridade monetária. 
Compõem a Coleção as seguintes personalidades:
Octávio Gouvêa de Bulhões (duas vezes superintendente da Sumoc e ministro da Fazenda quando da fundação do Banco Central), Alexandre Kafka (representante do Brasil junto ao FMI por 32 anos), Denio Nogueira, Casemiro Ribeiro (integrante da primeira Diretoria do BCB), Ruy Leme, Ernane Galvêas, Paulo Lira, Carlos Brandão, Carlos Geraldo Langoni, Affonso Celso Pastore, Antônio Carlos Lemgruber, Fernão Bracher, Fernando Milliet, Elmo Camões, Wadico Bucchi, Ibrahim Eris, Pedro Bodin (convidado em homenagem a Francisco Gros, já falecido), Paulo César Ximenes, Pedro Malan, Persio Arida, Gustavo Loyola, Gustavo Franco, Francisco Lopes, Armínio Fraga e Henrique Meirelles.
Evento: Lançamento da Coleção “História Contada do Banco Central do Brasil”
Local: Av. Presidente Vargas, 730, Centro, Rio de Janeiro – RJ
Data: 11/01/2019, às 14:30



quinta-feira, 4 de abril de 2019

Banco Central do Brasil sai do CCR - Maria Celina Arraes; comentarios PRAlmeida


A decisão é correta e o Banco Centra já tinha essa intenção desde os anos 1990, quando o Brasil realizou abertura econômica e liberalização comercial, e o sistema bancário já era perfeitamente capaz de financiar os fluxos de comércio exterior, garantindo linhas de crédito a importadores a exportadores, com a cobrança de comissões e juros quando pertinente. Não é função de Bancos Centrais financiar comércio exterior e oferecer garantias de risco em coberturas cambiais de negócios totalmente privados. 

Esse mecanismo do CCR vinha dos anos 1960, quando ainda havia certa penúria de dólares na AL, e o economista Raul Prebisch brigou com o FMI pois este defendia a multilateralização dos pagamentos – que é um mandato original vindo de Bretton Woods – e Prebisch ainda vivia naquele mundinho meio keynesiano de restrições a movimentos de capitais, e pretendia reproduzir na AL o mesmo mecanismo de clearing que existiu na Europa durante os anos 1950 (mas apenas como resultado do esforço de reconstrução da Europa sob o Plano Marshall, quando os EUA financiaram o BIS para que este servisse como caixa de compensações do comércio intra-europeu num período em que as moedas não eram conversíveis), mas que terminou no final da década. 

Correto, muitas moedas da AL não são conversíveis, mas de toda forma NÃO é função de BCs financiarem comércio exterior ou cobrir riscos cambiais. O mesmo se aplica, diga-se de passagem, a esses mecanismos de comércio em moedas locais.

Totalmente correta a postura de Maria Celina Arraes sobre essa questão.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4 de março de 2019


Banco Central do Brasil sai do CCR



Maria Celina Arraes

Consultant at Independent


O Banco Central publicou sua decisão de não mais participar do Convênio de Créditos Recíprocos (CCR) entre países da Associação Latino-americana de Integração ALADI a partir do mes de abril. O CCR é um sistema internacional de pagamentos por meio do qual são liquidadas operações de comércio internacional pelos bancos centrais dos países membros (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela). 
Publiquei na Revista da Procuradoria Geral do Banco Central do Brasil em dezembro 2015 (vol. 9 número 2, páginas 18 a 42) artigo em que registro a experiência de cooperação financeira internacional do Banco Central, da qual participei durante minha vida profissional, inclusive durante o período em que fui Diretora de Assuntos Internacionais. 
Minha análise à época é totalmente compatível com a decisão de sair do CCR. Permito-me transcrever abaixo trecho de artigo ressaltando que os dados não estão atualizados mas são representativos:
"Existe controvérsia sobre se é papel dos bancos centrais a operação de sistema de pagamentos que envolve concessão de crédito relacionada a comércio exterior, expondo a autoridade monetária aos riscos descritos (mencionados no artigo risco político e risco de crédito em relação a instituição bancária).
Por um lado, ao longo do tempo, o CCR perdeu relevância na liquidação das transações comerciais, em decorrência da maior sofisticação das instituições financeiras internacionais e dos instrumentos financeiros, do avanço tecnológico, da maior liquidez internacional, do processo de liberalização dos fluxos de capitais e do próprio crescimento do comércio. Tais circunstâncias propiciaram novos horizontes aos agentes de comércio exterior, possibilitando-lhes abrir mão dos procedimentos burocráticos e das restrições do mecanismo, tais como limites operacionais impostos aos bancos intervenientes nas operações e utilização de instrumentos específicos de crédito. Essas restrições eram destinadas a reduzir os riscos para os bancos centrais. 
Restrições cambiais, por outro lado, aumentam a utilização do Convênio. Não é por outra razão que, nos últimos anos, a Venezuela apresenta-se como o mais importante usuário do CCR.
Ressalte-se que o avanço tecnológico tornou possíveis soluções para pagamentos e liquidações internacionais, com liquidação pagamento por pagamento, ligadas aos sistemas de liquidação em tempo real das moedas em questão, tais como o sistema TARGET 2 no âmbito da União Europeia ou Continuous Linked Settlement (CLS), que possibilitam a liquidação de transações de câmbio multimoedas e, ao mesmo tempo, mitigam o risco envolvido.
Os que argumentam a favor de sua manutenção nos bancos centrais mencionam que esses bancos, mormente aqueles com função de supervisão dos bancos comerciais, encontram-se em posição privilegiada para conhecer o risco de seu sistema bancário e, dessa maneira, autorizar linhas de crédito, de acordo com o patrimônio de cada instituição financeira/banco comercial. As garantias basilares do Convênio reduziriam o risco político – os bancos centrais consideram essa dívida preferencial e de curto prazo – e, portanto, não passível de inclusão no Clube de Paris (independentemente do prazo da operação original, o crédito implícito no CCR é de quatro meses, prazo entre compensações). Menciona-se também que as dívidas sempre foram honradas, apesar da eventual existência de mora.
O argumento contrário ressalta que existe um subsídio implícito nas operações e que tal custo deve ser explicitado. Além disso, que essa natureza de risco – político – não deve ser assumida por bancos centrais. O fato de os pagamentos terem sempre sido honrados não implica não existência de risco, e este deveria estar precificado e claramente explicitado.
Alguns fatos ilustram a afirmação. O caso mais recente foi a ameaça do Equador de não honrar os pagamentos relativos à construção da hidroelétrica de San Francisco, em 2008. A ameaça não se concretizou, e o pagamento foi efetuado. De maneira muito resumida, uma empresa brasileira realizou investimento no setor elétrico equatoriano juntamente com uma estatal equatoriana. A hidroelétrica parou de funcionar por motivos estruturais. Em novembro de 2008, a empresa equatoriana ingressou com pedido de arbitragem, na Câmara de Comércio Internacional (CCI), questionando a legalidade da dívida contraída com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com a pretensão de não pagar o empréstimo realizado. O caso teve repercussão diplomática, com a convocação do embaixador brasileiro, naquele país, para voltar ao Brasil. Notícia publicada no Valor Online”, em 2017, dá conta de que o BNDES saiu vitorioso no entendimento da Câmara de Comércio Internacional (CCI), corte arbitral cuja decisão foi emitida, em caráter definitivo, sem direito a recurso. 
Mencione-se como comprovação da utilização do CCR como cooperação financeira de liquidez que, em 1º de junho de 2009, como medida para enfrentar a crise financeira internacional, o limite bilateral de crédito, entre Brasil e Argentina no CCR foi ampliado de US$120 milhões para US$1,5 bilhão. Entretanto, somente em 2011 (US$133 milhões) e em 2012 (US$400 milhões), os créditos do Brasil com aquele país não seriam cobertos pelo valor anterior.
Quais são os fatos?
1. A operação de sistemas de pagamentos pode não ser feita por bancos centrais, mas seu funcionamento, sem interrupções ou problemas, é preocupação diária dos bancos centrais, por seu potencial de originar crises sistêmicas e corrida a bancos.
2. As operações do CCR diminuíram de relevância devido aos desenvolvimentos apresentados acima, por limites e outras medidas para reduzir o risco pelos bancos centrais, pela abundância relativa de moeda forte na região. O fato é que hoje somente significam menos de 2,8% das importações intrarregionais
3. Além de a questão filosófica desse tipo de operação ser ou não função de bancos centrais, a oposição dos bancos centrais à assunção de riscos está também relacionada a sua responsabilização por eventuais inadimplências, pelos órgãos de controle de cada país, independentemente de sua participação na contratação. "