O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Para que servem embaixadas e consulados? - Revista IstoÉ

IstoÉ – Para que servem nossos consulados e embaixadas?

10/01/2014

 

A bilionária máquina diplomática do País proporciona mordomias a servidores públicos, mas falha na missão de dar suporte aos cidadãos brasileiros no Exterior

 

Izabelle Torres e Wilson Aquino

 

Na semana do Natal e do Réveillon, os brasileiros que foram ao consulado de Florença, na Itália, em busca de uma solução para algum embaraço burocrático, foram informados de que as atividades da casa estavam suspensas pelo recesso de fim de ano. No dia 4 de janeiro, a psicóloga amazonense Jaqueline Lopes Marques morreu em um acidente de carro em Los Angeles, nos Estados Unidos, e sua família declarou que não recebeu nenhum suporte da representação consular brasileira. Graças à morosidade das autoridades, o corpo de Jaqueline demorou quase uma semana para ser liberado para o Brasil. Na semana passada, o jornal "Folha de S. Paulo" revelou que o embaixador Guilherme de Aguiar Patriota (irmão do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota), número dois da missão do País na ONU, mora no Upper West Side, uma das regiões mais nobres de Nova York, em um imóvel alugado por US$ 23 mil mensais, o equivalente a cerca de R$ 54 mil. Detalhe importante: a conta é paga pelos cofres públicos. Em comum, todas as histórias apresentadas aqui revelam a ineficiência da bilionária máquina diplomática do Brasil.

 

LUXO

A embaixada brasileira na Piazza Navona tem obras de arte e teto banhado a ouro

 

Com um orçamento que ultrapassa os R$ 2,2 bilhões, o Ministério das Relações Exteriores gasta R$ 800 milhões apenas com servidores ativos, grande parte ganhando acima do teto constitucional, e outros R$ 400 milhões para manter a estrutura de embaixadas e consulados em 182 postos espalhados pelo mundo. Em Roma, na Itália, o Brasil mantém quatro representações diplomáticas. São duas embaixadas (uma delas no magnífico Palazzo Pamphili, na Piazza Navona, ornado com obras de arte e teto banhado a ouro, além de outra no Vaticano), um consulado-geral e um escritório junto à FAO, braço da ONU para alimentação e agricultura. Para que tudo isso? Procurado por ISTOÉ, o Itamaraty nada informou sobre o alto preço pago pelos brasileiros para sustentar seus tentáculos diplomáticos. Os gastos são bancados pelo contribuinte brasileiro, é claro, mas tratados com sigilo, o que é de estranhar em um País onde a transparência se tornou lei.

 

O órgão tem prometido ano após ano abrir sua caixa-preta de despesas e mostrar como os representantes brasileiros do alto escalão da diplomacia gastam o dinheiro público, mas os sistemas de controle de gastos do governo federal só alcançam um terço das despesas e não incluem detalhes das compras feitas por embaixadas, que são controladas pelo escritório financeiro de Nova York.  Só em festas, jantares e recepções, serão mais de R$ 12 milhões para custear eventos no Exterior em 2014. A maioria deles ocorrerá nas residências oficiais dos embaixadores, com o argumento de que ajudam a azeitar as relações dos homens que representam o Brasil em solo estrangeiro com autoridades de outros países. Trata-se, porém, de estratégia questionável cujos resultados práticos nem mesmo diplomatas experientes conseguem listar. A divulgação de que o embaixador Guilherme de Aguiar Patriota mora em um imóvel cujo aluguel custa R$ 54 mil mensais escancarou as mordomias da cúpula diplomática que vive no Exterior. Legalmente, o auxílio-moradia varia de US$ 3,2 mil a US$ 6,6 mil por mês, mas esses valores podem ser driblados por servidores de alto escalão cuja moradia é classificada na categoria de "residência oficial." Na prática, isso permite o pagamento de aluguel de qualquer quantia. Dois diplomatas ouvidos por ISTOÉ afirmaram que a manobra é aceita pelo ministério apenas em alguns casos, mas sempre a partir de critérios que costumam ser justificados por apadrinhamentos.

 

EMBAIXADA EM BERLIM

Estrutura cara, mas ineficiente

 

Do lado de fora dos muros das embaixadas e dos consulados, brasileiros que buscam ajuda efetiva da diplomacia sofrem com a passividade do País diante de problemas que mereciam reações mais firmes e solidárias. A má qualidade dos serviços explica-se por uma prática cada vez mais frequente: a indicação de servidores sem experiência prévia e treinamento para funções de chefia, e até empregados terceirizados para exercer funções de vice-cônsul do Brasil."Isso foi um absurdo e relata os problemas administrativos que os consulados vivem", diz Soraya Castilho, presidente da Associação Nacional dos Oficiais de Chancelaria do Serviço Exterior Brasileiro.

 

A maioria dos cidadãos que já enfrentou um problema grave no Exterior descreve uma situação comum. No início, a reação é de passividade total – marasmo que só costuma ser rompido quando vem uma ameaça externa, em particular alguma reportagem em jornal ou tevê. Foi assim no caso dos torcedores corintianos presos na Bolívia sob a arbitrária acusação de assassinato. Graças à inoperância da diplomacia brasileira, foram necessários cinco meses para que todos saíssem da prisão. Os casos não são isolados. "Os nossos diplomatas começaram a agir somente depois que procuramos a imprensa", afirma a arquiteta Suzana Paschoali, cujo filho, o estudante de artes cênicas da Universidade de Brasília Artur Paschoali, 20 anos, está desaparecido desde 21 de dezembro de 2012, no Peru. "E, mesmo assim, demonstraram um total despreparo para lidar com a questão." A família acredita que o jovem foi sequestrado por remanescentes do grupo terrorista Sendero Luminoso quando tirava fotos na região de Machu Picchu. Suzana conta que, quando soube do sumiço de Artur, ela e o marido viajaram para Lima, mas encontraram apenas funcionários terceirizados na embaixada brasileira. "Os diplomatas mais tarde se desculparam, alegando que, como era fim de ano, estavam de férias", lembra a arquiteta, para quem, caso a representação consular tivesse se mobilizado com mais interesse e rapidez, Artur poderia ter sido resgatado. "Agora, quando cobro uma solução, eles ficam irritados", diz ela.

 

Brasileiros que travam na Justiça disputas com estrangeiros também reclamam da falta de atenção e apoio por parte dos consulados. A advogada paulista Jacy Raduan, 33 anos, relata a situação de desamparo em que se encontrou quando foi pedir ajuda ao consulado para recuperar os dois filhos, de 5 e 7 anos, que lhe foram tomados pela Justiça alemã. Divorciada do pai dos meninos, um advogado alemão, ela levou as crianças em 2009 para visitá-lo na cidade de Baden-Baden. O pai declarou que Jacy tentaria sequestrar as crianças para trazê-las ao Brasil e a Justiça alemã deu a guarda imediatamente a ele.  "O pai fez uma declaração falsa ao governo alemão. Fui procurar o consulado e a atendente me disse que o máximo que ela poderia fazer era ouvir o meu lamento", diz Jacy. Segundo ela, o consulado nem sequer a orientou sobre os procedimentos legais necessários para recuperar a guarda das crianças. Jacy hoje vive no Brasil – sem os filhos.

 

A ineficiência se sucede. Na embaixada de Roma, localizada na histórica Piazza Navona, a servidora pública Aracy Souza tentou sem sucesso um encontro com o embaixador para apresentar os termos de uma parceria comercial entre a multinacional em que trabalha e uma empresa brasileira. Foi informada de que não seria atendida e nem sequer passou da portaria. Acabou conseguindo uma audiência, em Brasília, com o ministro Fernando Pimentel, da Indústria e Comércio Exterior. "Pretendia fechar um acordo de cooperação entre empresas, mas nada consegui em Roma", diz. "Me fizeram seguir um caminho mais trabalhoso."  Tudo isso se revela pior e mais grave enquanto oItamaraty não for capaz de explicar, de modo transparente, o destino real do dinheiro que recebe dos cofres públicos. Para que servem palacetes suntuosos se os cidadãos brasileiros – afinal, os que pagam a fatura – são tratados com tamanha indiferença?

P.R.Almeida: retomada da colaboracao com Dom Total

Dom Total é uma instituição de ensino de Belo Horizonte, Minas Gerais, na perspectiva da teologia da libertação, causas progressistas e essas coisas dentro do politicamente correto.
Colaborei com o site, na seção de Colunas, de 2008 a 2011, depois interrompi, por falta de tempo.
Agora estou retomando as colaborações.
Abaixo segue a lista de tudo o que já foi publicado, até a última quinta-feira.

Colunas Paulo Roberto de Almeida


Paulo Roberto de Almeida é doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas (1984). Diplomata de carreira desde 1977, exerceu diversos cargos na Secretaria de Estado das Relações Exteriores e em embaixadas e delegações do Brasil no exterior. Trabalhou entre 2003 e 2007 como Assessor Especial no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Autor de vários trabalhos sobre relações internacionais e política externa do Brasil. 

Últimos artigos publicados


Os artigos dos colunistas da Revista DomTotal são de natureza jornalística, escritos por autores especialmente convidados.
Os autores assumem inteira responsabilidade sobre o conteúdo dos mesmos e sua opinião não necessariamente representa a linha editorial da Revista DomTotal.
A reprodução de seus textos depende de autorização expressa de seus autores.

A relevancia persistente da Primeira Guerra Mundial - Der Spiegel

Disaster Centennial: The Disturbing Relevance of World War I

By Klaus Wiegrefe
Der Spiegel, January 9, 2014
Photo Gallery: Europe's Great ConflagrationPhotos
Getty Images
It has now been 100 years since the outbreak of World War I, but the European catastrophe remains relevant today. As the Continent looks back this year, old wounds could once again be rubbed raw.
Joachim Gauck, the 11th president of the Federal Republic of Germany, executes his duties in a palace built for the Hohenzollern dynasty. But almost all memories of Prussian glory have been eliminated from Bellevue Palace in Berlin, where there is no pomp and there are no uniforms and few flags. The second door on the left in the entrance hall leads into a parlor where Gauck receives visitors.

ANZEIGE
In the so-called official room, there are busts of poet Heinrich von Kleist and Social Democrat Friedrich Ebert, the first German president after Kaiser Wilhelm II fled the country into exile, on a shelf behind the desk. There are two paintings on the wall: an Italian landscape by a German painter, and a view of Dresden by Canaletto, the Italian painter.Gauck likes the symbolism. Nations and their people often view both the world and the past from different perspectives. The president says that he doesn't find this disconcerting, because he is aware of the reasons. In 2014, the year of the 100th anniversary of the outbreak of World War I, the eyes of the world will be focused on Germany's head of state. It will be the biggest historical event to date in the 21st century.
And Gauck represents the losers.
More than 60 million soldiers from five continents participated in that orgy of violence. Almost one in six men died, and millions returned home with injuries or missing body parts -- noses, jaws, arms. Countries like France, Belgium and the United Kingdom are planning international memorial events, wreath-laying ceremonies, concerts and exhibits, as are faraway nations like New Zealand and Australia, which formed their identities during the war.
Interactive Map
Poles, citizens of the Baltic countries, Czechs and Slovaks will also commemorate the years between 1914 and 1918, because they emerged as sovereign nations from the murderous conflict between the Entente and the Central Powers.
Unthinkable in Germany
In the coming months, World War I will become a mega issue in the public culture of commemoration. The international book market will present about 150 titles in Germany alone, and twice as many in France -- probably a world record for a historic subject. The story of a generation that has long passed on will be retold. New questions will be asked and new debates will unfold. British Prime Minister David Cameron is even making funds available to enable all children attending Britain's government-run schools to visit the battlefields of the Western Front.
A response of this nature would be unthinkable in pacifist Germany.
But Western Europeans paid a higher death toll in World War I than in any other war in their history, which is why they call it "The Great War" or "La Grande Guerre." Twice as many Britons, three times as many Belgians and four times as many Frenchmen died on the Maas and the Somme than in all of World War II. That's one of the reasons, says Gauck in his office in the Hohenzollern palace, why he could imagine "a German commemoration of World War I as merely a sign of respect for the suffering of those we were fighting at the time."
The "Great War" was not only particularly bloody, but it also ushered in a new era of warfare, involving tanks, aircraft and even chemical weapons. Its outcome would shape the course of history for years to come, even for an entire century in some regions.
In the coming weeks, SPIEGEL will describe the consequences of World War I that continue to affect us today: the emergence of the United States as the world's policeman, France's unique view of Germany, the ethnic hostilities in the Balkans and the arbitrary drawing of borders in the Middle East, consequences that continue to burden and impede the peaceful coexistence of nations to this day.
Several summit meetings are scheduled for the 2014 political calendar, some with and some without Gauck. Queen Elizabeth II will receive the leaders of Commonwealth countries in Glasgow Cathedral. Australia, New Zealand, Poland and Slovenia are also planning meetings of the presidents or prime ministers of all or selected countries involved in World War I.
'A Different Nation Today'
August 3 is at the top of Gauck's list. On that day, he and French President François Hollande will commemorate the war dead at Hartmannswillerkopf, a peak in the Alsace region that was bitterly contested by the Germans and the French in the war. The German president is also among the more than 50 heads of state of all countries involved in World War I who will attend a ceremony at the fortress of Liège hosted by Belgium's King Philippe. Gauck, a former citizen of East Germany, sees himself as "the German who represents a different nation today, and who remembers the various horrors that are associated with the German state."
The 73-year-old president hopes that the series of commemorative events will remind Europeans how far European integration has come since 1945. Gauck notes that the "absolute focus on national interests" à la 1914/1918 did not led to happy times for any of the wartime enemies.
But he knows that the memory of the horrors of a war doesn't just reconcile former enemies but can also tear open wounds that had become scarred over. In this respect, the centenary of World War I comes at an unfavorable time. Many European countries are seeing a surge of nationalist movements and of anti-German sentiment prior to elections to the European Parliament in May 2014.
In a recent poll, 88 percent of Spanish, 82 percent of Italian and 56 percent of French respondents said that Germany has too much influence in the European Union. Some even likened today's Germany to the realm of the blustering Kaiser Wilhelm II.
Last August, a British journalist emerged from a conversation with the press attaché at the German Embassy in London with the impression that Berlin, in the interest of promoting reconciliation, wanted to take part in commemorative ceremony in neighboring countries. This led to an outcry in the British press, which claimed that the Germans were trying to prevent the British from celebrating their victory in World War I.
Source of Apprehension
Such episodes are a source of apprehension for Gauck. "One can only hope that the voice of the enlightened is stronger today than it was in the period between the two wars."
And if it isn't? "Europe is too peaceful for me to consider the possibility of wartime scenarios once again. Nevertheless, we saw in the Balkans that archaic mechanisms of hate can take hold once again in the middle of a peaceful decade," Gauck warns.

Such "yes, but" scenarios on World War I are often mentioned. In the era of NATO and integrated armed forces, hardly anyone can imagine a war between Europeans. Still, it is possible to sow discord in other ways in the 21st century. Today's equivalent of the mobilization of armed forces in the past could be the threat to send a country like Greece into bankruptcy unless its citizens comply with the demands of European finance ministers. Historians of different stripes note with concern that the course of events in 1914 are not that different from what is happening in Europe today.Even a century ago, the world was globalized after a fashion. Intercontinental trade was booming, and export quotas were higher than they would be until the era of former Chancellor Helmut Kohl. Germans wore jackets made of Indian cotton and drank coffee from Central America. They worked as barbers in London, bakers in St. Petersburg and maids in Paris, while Poles slaved away in Germany's industrial Ruhr region.
Those who could afford it, traveled around Europe, without requiring a passport. Professors corresponded with their counterparts in Oxford or at the Sorbonne, in English and French. The ruling aristocratic families were related to one another. In fact, Kaiser Wilhelm II, Britain's King George V and Czar Nikolai II were cousins. They called each other Willy, Nicky and George and saw each other at family events, including the wedding of the Kaiser's daughter in Berlin in 1913.