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sábado, 18 de maio de 2024

A economia de Paulo Guedes mostrada em filme em NY - Alexa Salomão (FSP)

 Faríamos tudo de novo, com mais intensidade', diz Paulo Guedes

Em lançamento de filme sobre sua gestão, ex-ministro diz que Brasil precisa superar o maniqueísmo e a parcialidade nas discussões politicas e econômicas

Alexa Salomão

FSP, 15.mai.2024 

Digitalização de processos, marcos legais do saneamento e de ferrovias, a Lei de Liberdade Econômica, privatização de estatais, reforma da Previdência. O filme "Caminho da Prosperidade", lançado em Nova York nesta terça-feira (14), procura sintetizar o trabalho do ex-ministro da Economia Paulo Guedes e de sua equipe na voz deles mesmos.

O filme traz 30 entrevistados. A maioria passou pelo governo. A exceção é o empresário Guilherme Afif Domingos, que abre a sequência de depoimentos, e o economista Carlos Langoni, que faleceu em 2021 e a quem o filme é dedicado.

A seção no Symphony Space, na rua 95, teve cerca de 200 convidados. Entre os presentes estavam a deputada federal Bia Kicis (PL-DF) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que viu o filme sentado ao lado de Guedes.

À Folha, o governador contou que mantém a convivência com Guedes, que tem apresentado investidores para o estado de São Paulo e contribuindo na construção da agenda econômica, especialmente na área de energia renovável.

Segundo o diretor —o gaúcho Paulo Moura, da Ema Conteúdo—, o filme começou a ser gravado ainda no primeiro ano da gestão bolsonarista. Moura tem uma trajetória marcada por visões mais conservadoras, e a ideia inicial era fazer uma síntese das propostas dos chamados Chicago Boys, referência ao grupo de alunos da Universidade de Chicago (EUA), instituição em que Guedes estudou e que defende uma política econômica neoliberal.

A primeira gravação, conta Moura, ocorreu em agosto de 2019. A pandemia e a polarização política que se seguiu adiaram as filmagens e o projeto foi remodelado. "Caminho da Prosperidade" é nome do plano de governo de Guedes.

O filme foi financiado pelo empresário Winston Ling, fundador do Instituto Ling, também um nome mais à direita no espectro político e histórico defensor do neoliberalismo econômico. Ficou conhecido como o homem que apresentou Guedes ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2018. Ling também foi ao evento. À Folha, o empresário destacou que seu desejo é criar material para inspirar outras administrações.

"Minha motivação é deixar esse legado, essa 'fórmula do bolo' para as futuras gerações, não só do Brasil, como da América Latina e de outros países do mundo. O filme está legendado em espanhol e em inglês", afirmou.

"Com o mesmo propósito, o Adolfo Sachsida, que não esteve presente ontem por motivos emergenciais pessoais, está terminando de escrever um livro sobre o mesmo assunto, e o Waldery Rodrigues Júnior está escrevendo um livro-texto bastante técnico, em dois ou três volumes, destinado aos cursos de economia, aos professores e alunos de economia e aos técnicos das equipes econômicas do futuro, dos municípios, dos estados e do Brasil."

Após a exibição do filme, Guedes deu uma rápida entrevista, cercado de ex-integrantes de sua equipe que participaram do filme. Reafirmou suas posições e disse que aprofundaria a agenda se tivesse nova oportunidade.

"Faríamos tudo de novo, com mais intensidade. É o seguinte, começou o governo? Agora vai Petrobras e Banco do Brasil. Vamos ter mais concessões. Estava certo o Banco Central independente. Voltaríamos com a capitalização para a Previdência, porque vai dar problema em cinco ou dez anos."

Guedes defendeu a contribuição da economia embasada em ciência como princípio da gestão pública, afirmando que "existe o certo e o errado em economia. Existe ciência econômica". Tomou como exemplo a discussão sobre o uso da capitalização na Previdência, proposta dele que não emplacou, mas que ele ainda defende.

"A gente tem que estudar mais. Acreditar na ciência. Não gostamos de negacionistas [na economia]. Ah, mas dizem que o modelo de capitalização deu errado no Chile. Não. Pelo contrário. A renda per capita subiu tanto no Chile que, quando o cara se aposenta, ele não fica satisfeito. O que ele capitalizou é um pouco mais baixo. Então, você paga aquele suplemento."

Em vários momentos, o ex-ministro avisou que não queria polarizar. "Acabamos de sair, não quero entrar em confronto."

Não quis abordar temas políticos mais específicos, como avaliar por que o ex-presidente Bolsonaro preferiu fazer uma campanha focada nos temas da pauta de costumes em vez de destacar as iniciativas liberais na economia, esmiuçadas no filme.

"De forma alguma faria qualquer comentário desse tipo. Cada um fez o melhor que pode. Ninguém usou mal o legado de ninguém", disse Guedes. "É claro que houve fogo amigo, mas não de quem você falou [Bolsonaro]."

Também não quis discutir se o eleitor brasileiro rejeitou a sua agenda e mostrou na urnas preferir o modelo baseado em mais Estado e mais gasto, defendido na campanha pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) —e que representa o inverso do apresentado por sua gestão.

"Tenho tantas coisas a dizer sobre por que isso acontece, mas não me interessa dizer. Não quero ser usado para discórdia. O país não precisa disso. O país já tem demais isso."

"Eu acho que tem que acabar com esse maniqueísmo de se foi o partido tal que fez é muito bom e tudo que o outro fez foi errado. Nós sentimos o peso da parcialidade. É ruim para o país."

No entanto, lamentou os picos de tensão política. "Espero que a gente consiga [agora] fazer o contrário do que foi feito conosco. Parcialidade. Jogo político acima dos interesses do país."

Guedes também preferiu a ponderação nas questões que tratavam de paralelos entre sua gestão e a do ministro da Fazenda Fernando Haddad.

No caso da gestão de crises, relembrou o que fez na pandemia, mas afirmou ser difícil dizer o que seria melhor agora, no desastre provocado por chuvas torrenciais no Rio Grande do Sul. Na pandemia, o Brasil precisou atacar uma problema sanitário, o que incluía medidas de saúde em nível nacional. Agora, é uma crise climática, com efeitos profundos sobre uma região.

"Eu não me atreveria a ir além do que nós fomos. Talvez haja desafios novos. O impacto sobre a infraestrutura é grande. Do ponto de vista de impacto sobre o dia a dia da população foi também devastador. Não ousaria ir além. Só com a capa de superministro você ousa fazer tantos movimentos. Agora, cidadão comum, já não ouso enxergar tanto."

Sobre sua proposta na crise com a Covid-19, disse que o ponto central foi aplicar a descentralização, com o repasse de recursos livres para estados e municípios.

"Deixamos um protocolo de como atacar uma crise. Se pessoas forem atingidas, você transfere os recursos, estritamente de renda, direto para as pessoas. Se empresas são atingidas, você pode transferir o recurso direto para as empresas", afirmou.

"Acreditamos no funcionamento da democracia. É o governador que sabe como o estado pode ajudar os municípios, e é o prefeito que sabe como o município pode usar aquele recurso. Você de Brasília não sabe exatamente o que a cidade de Canoas ou de Pelotas está precisando."

Entre os integrantes da equipe que participaram do filme e foram à apresentação estavam Marcelo Guaranys, que foi secretário-executivo, Marcelo Siqueira, ex-chefe da assessoria especial do ministro, Diogo Mac Cord, ex-secretário de Desestatização, Desinvestimento e Mercados.

Também foram à apresentação Gustavo Montezano, o ex-presidente do BNDES, e Fábio Abrahão, que foi diretor do banco na área de concessões e desestatização. Hoje são sócios, junto com Guedes, na gestão de um fundo de private equity que se dedica a fomentar projeto nas áreas de energia verde e segurança alimentar.

A repórter viajou a convite da Ema Conteúdo

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