O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

quinta-feira, 7 de abril de 2016

A barbárie nazista na matança de judeus: poema (Yevgeny Yevtushenko) e história (Martin Gilbert)

De um grande poeta russo : " Babii Yar " ( de Yevgeny Yevtushenko)

Um brado em contra da intolerância

"Sinto-me como Dreyfus. 
O filisteu é simultaneamente o denunciante 
e o juiz. 

Sou prisioneiro. 
Estou cercado. 
Perseguido, cuspido e difamado. 

Grito, enquanto deliciosas senhoras decoradas 
com os seus laços de Bruxelas 
furam-me o rosto com os seus guarda-chuvas."
 
Parece tão longínquo, mas é tão atual... Esta é a capacidade mágica dos poetas, sabem antecipar o que vai acontecer... 
 

BABII YAR 

Nenhum monumento supera o Babii Yar. 

A pedra sepulcural é uma pura lágrima. 

Eu estou com medo. 

Eu sou hoje tão remoto 

como todo o povo judeu. 

Agora vejo-me 

como um judeu. 

Aqui arrasto-me através do Egipto Antigo. 

Aqui eu morro, crucificado, na cruz, 

carregando as cicatrizes deixadas pelos pregos. 

Sinto-me como 

Dreyfus. 

O filisteu é simultaneamente o denunciante 

e o juiz. 

Sou prisioneiro. 

Estou cercado. 

Perseguido, cuspido e difamado. 

Grito, 

enquanto deliciosas senhoras decoradas 

com os seus laços de Bruxelas 

furam-me o rosto com os seus guarda-chuvas. 

Vejo-me então 

como uma criança novinha em Bialystok. 

O sangue escorre, derramado pelos soalhos. 

No salão do bar a multidão desperta 

para uma medida de vodka e cebola. 

Desamparado,levo com uma bota 

um pontapé no traseiro. 

Em vão suplico por piedade 

aos meus carniceiros. 

Enquanto isso troçam e disparam, 

"Derrotem os judeus. Salvem a Rússia!" 

e um caceteiro bate na minha mãe. 

Ó meus povos russos! 

Eu sei, 

vocês são 

internacionalistas. 

Mas aqueles que têm as mãos sujas 

em vão vos retiraram 

a pureza do vosso nome. 

Eu conheço a bondade da minha terra. 

Mas os anti-semitas são vis 

e não caem em delíquo. 

Intitulam-se orgulhosamente 

de "A União dos Povos Russos!" 



Eu vi, como 

Anne Frank, 

os límpidos ramos da Primavera. 

E eu amo. 

Não preciso de frases vazias. 

Necessito apenas 

do que descobrimos dentro de nós. 

O que mal se pode ver 

ou cheirar! 

Não nos deixam partir 

e é-nos negado o céu! 

Contudo podemos abraçar-nos 

ternamente 

na escuridão de um quarto. 

Eles estão chegando? 

Não tenham medo. 

É o retinir suave 

da própria Primavera - 

a Primavera já vem a caminho. 

Chegando até mim. 

Despeçam-se depressa. 

Estão quebrando algo debaixo da porta? 

Não, é o gelo que se parte... 

A erva selvagem murmura sobre Babii Yar. 

As árvores olham agourentas 

como os verdugos. 

Aqui todas as coisas gritam em silêncio, 

e, dentro da minha cabeça, 

lentamente, sinto-me 

transformado em cinza. 

E sou eu mesmo 

a soltar um berro tronitruante 

pelos muitos milhares aqui enterrados. 

Eu sou 

cada velhinho 

aqui abatido a tiro. 

Eu sou cada criança 

aqui abatida a tiro. 

Nada será esquecido 

dentro de mim. 

Deixem a "Internationale" 

trovejar 

quando o último anti-semita na terra 

for enterrado para sempre. 

Não tenho um pingo de sangue judeu. 

Mas, na sua raiva insensível 

todos os anti-semitas 

devem odiar-me agora 

como se eu fosse um judeu. 

Mas até por essa razão 

Eu sou um verdadeiro russo! 


.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
   

O massacre de Babi Yar

Em setembro de 1941, Babi Yar, ravina existente em Kiev, capital da Ucrânia, foi o local de um dos maiores massacres de judeus em um único lugar, durante a 2ª Guerra Mundial. Em dois dias apenas, 34 mil judeus, homens, mulheres, crianças e velhos, foram mortos a tiros. Babi Yar se tornou símbolo do cruel assassinato de judeus perpetrado pelos Einsatzgruppen e do persistente não reconhecimento da memória judaica.

Em 1961, o poeta russo Yevgeny Yevtushenko, em seu poema “Babi Yar”, fez um apelo para que os terríveis acontecimentos não fossem relegados ao esquecimento.

“(..) A erva selvagem murmura sobre Babi Yar. As árvores olham agourentas como os verdugos. 

Aqui tudo grita em silêncio, e, tirando meu boné, sinto-me grisalho, lentamente. E eu, também, tornei-me um berro tonitruante, sem som, pelos muitos milhares aqui enterrados. Eu sou cada velhinho aqui abatido a tiros. Eu sou cada criança aqui abatida a tiros. Nada será esquecido, dentro de mim...”

Holocausto na Ucrânia 

A Operação Barbarossa, invasão da antiga União Soviética por Hitler, lançada em 22 de junho de 1941, foi decisiva no Holocausto, pois deu início ao genocídio de judeus. A matança sistemática de judeus no leste da Europa começou no primeiro dia da invasão alemã.

As forças nazistas rapidamente ocuparam a Ucrânia, o leste da Polônia, a Letônia, Estônia e Lituânia, a Bielorrússia e o oeste da República Russa. Assim que o exército alemão ocupava alguma área da ex-União Soviética, os Einsatzgruppen (Esquadrões da morte móveis das SS) entravam em ação, fuzilando os judeus. Estima-se que mais de 1,5 milhão foram executados dessa forma. Uma das “tarefas” dos Einsatzgruppen era organizar, entre a população local, indivíduos dispostos a perpetrar ou a participar do assassinatos em massa de judeus. Na Ucrânia não foi difícil; centenas de milhares colaboraram entusiasticamente com os nazistas. Sem tal participação, teria sido impossível que as matanças atingissem a escala que de fato tiveram.

Antes mesmo de os nazistas ir em frente com a “solução radical do problema judaico através da execução a tiros de todos os judeus”, milhares de ucranianos foram os responsáveis por sangrentos pogroms. Outros milhares tornaram-se guardas nos campos de extermínio. A ajuda da polícia ucraniana permitiu aos nazistas rapidamente identificar e reunir os judeus que, a seguir, eram conduzidos para locais ermos onde, um a um, família após família – homens e mulheres, velhos e crianças – eram brutalmente assassinados a tiros.

Kiev 

A cidade de Kiev acabou caindo em mãos alemãs após 45 dias de batalha, em 19 de setembro de 1941. Acredita-se que cerca de 70% dos 225 mil judeus (20 % da população da cidade) que viviam em Kiev conseguiram deixar a cidade a tempo. A maioria dos que ficaram eram os que não tinham condição de fugir: mulheres, crianças, velhos e doentes.

Desde o primeiro dia da ocupação, os judeus perceberam as “faces radiantes” de muitos ucranianos, como recordou mais tarde uma testemunha ocular, Konstantin Miroshnik1, então com 16 anos. Um dos vizinhos ucranianos dissera a seu avô, “Leib, seu poder judaico chegou ao fim, uma nova ordem começará agora, portanto tenha em mente, você terá contas a acertar...”.
No segundo dia da ocupação, policiais ucranianos apareceram nas ruas portando braçadeiras e anunciando que faziam parte da “Organização de Nacionalistas Ucranianos” (OUN), organização liderada por Stepan Bandera.

Por alguns dias os judeus não foram molestados. Em 21 de setembro, após ter sido submetido a humilhações públicas, foi assassinado Shlomo Glozman, um dos líderes comunitários de Kiev, junto com nove outros dos mais respeitáveis membros da comunidade.

Durante os primeiros dias da ocupação alemã, duas grandes explosões, aparentemente desencadeadas por engenheiros militares soviéticos, destruíram o prédio onde havia se instalado o quartel-general alemão e parte do centro da cidade. Os alemães usaram esses atos de sabotagem como pretexto para dar início à matança dos judeus de Kiev.

Em 27 e 28 de setembro, os nazistas colocaram cartazes em russo e ucraniano por toda a cidade, convocando os judeus para o “reassentamento”.  “Ordena-se a todos os judeus residentes de Kiev e suas vizinhanças que compareçam à esquina das ruas Melnyk e Dokterivsky, às 8 horas da manhã de 2ª feira, 29 de setembro de 1941, portando documentos, dinheiro, roupas de baixo, etc. Aqueles que não comparecerem serão fuzilados. Aqueles que entrarem nas casas evacuadas por judeus e roubarem pertences destas casas serão fuzilados”. Mais de 30 mil se apresentaram.

Nos dias 29 e 30, véspera de Yom Kipur, os judeus foram levados a Babi Yar, uma ravina nos arredores da cidade. Acreditavam que seriam embarcados em trens para um reassentamento. A multidão de homens, mulheres e crianças era grande o bastante para que ninguém se desse conta do que estava para acontecer, a não ser tarde demais. Um dos comandantes do Einsatzkommando chegou a se gabar, dias mais tarde, que, por causa de “nosso talento especial para a organização, os judeus acreditaram, até o momento de serem executados, que estavam realmente sendo enviados para um reassentamento”.

O massacre foi realizado em dois dias, pela unidade C do Einsatzgruppen, apoiada por membros de um batalhão das Waffen-SS. Unidades da polícia ucraniana foram usadas para agrupar e conduzir os judeus até o local de fuzilamento.

Logo após a guerra, um cidadão não judeu, o vigia do velho cemitério judaico próximo a Babi Yar, contou que testemunhara “cenas horríveis de dor e desespero”. Ao relatar os fatídicos acontecimentos contou: “Eu vi policiais ucranianos formarem um corredor e levar os judeus apavorados para a enorme clareira, onde, com bastões, aos gritos e utilizando cães que arrancavam pedaços dos corpos das pessoas, os judeus eram forçados a se despirem totalmente, a formar filas e, então, dirigir-se em colunas de dois para a boca da ravina. Ao escutarem o barulho das metralhadoras que estavam abatendo os judeus do grupo logo à frente, percebiam o que os esperava, mas não tinham mais como escapar. Ao chegar à boca da ravina, encontravam-se na beira do precipício, a 20, 25 metros de altura, e do outro lado havia metralhadoras alemãs disparando. (...). Então os próximos 100 eram trazidos, e tudo se repetia. Os policiais pegaram as crianças pelas pernas e as jogaram vivas dentro do Yar. Naquela noite, os alemães fizeram desmoronar as paredes da ravina e enterraram as pessoas sob uma espessa camada de terra. Mas a terra moveu-se ainda por muito tempo, porque judeus feridos e ainda vivos se moviam, desesperados”.

Dina Pronicheva foi uma dentre os poucos judeus a escapar com vida. Assim como centenas dos que foram alvejados, não morreu. Mas diferentemente da maioria dos que caíram vivos na vala, ela conseguiu evitar ser sufocada e escapou. Após a guerra, Dina contou os horrores de Babi Yar ao escritor russo Anatoli Kuznetsov, que publicou a história, primeiro na Rússia, em 1966, e na Inglaterra em 1970, sob o pseudônimo de A. Anatoli. Dina contou que enquanto estava ainda soterrada ouvia por todo lado e por baixo ela, sons abafados, gemidos, pessoas se sufocando e chorando. A massa de corpos movia-se ligeiramente conforme se acomodava e se espremia, através do movimento dos que ainda viviam. Lembrou como os soldados iam até a borda e iluminavam os corpos com suas lanternas, atirando com seus revólveres sobre os que ainda pareciam vivos.

Ao se referir ao massacre, Elie Wiesel escreveu que “testemunhas oculares disseram que, por meses após as mortes, o solo de Babi Yar continuava a esguichar guêiseres de sangue”. Após dois dias de assassinatos, a unidade do Einsatzkommando mandou para Berlim um relatório sobre a ação: em dois dias, 33.771 judeus haviam sido exterminados em Babi Yar e os “operadores” das metralhadoras haviam sido auxiliados pelos milicianos ucranianos. 

Nos meses seguintes, os nazistas utilizaram Babi Yar como um local de execução para prisioneiros de guerra soviéticos e para “ciganos”. O número de executados talvez jamais seja conhecido.

Destruindo provas 

Em março de 1944, a ex-URSS inicia a ofensiva na Bielorrússia. À medida que os exércitos alemães iam batendo em retirada frente ao inexorável avanço russo, eram instruídos a destruir as evidências dos assassinatos em massa.

Um comando especial foi incumbido de ir aos locais dos massacres realizados pelos Einsatzgruppen. Teriam que exumar e queimar cadáveres e ossos e espalhar as cinzas. Na maioria dos locais foram construídas piras maciças. Cada pira podia consumir 3.500 corpos e ardia até dez dias. Mas a quantidade de mortos enterrados na ravina de Babi Yar não permitia esse “modus operandi”. Lembrou posteriormente o comandante da operação: “A terra sobre a imensa cova comum foi removida; os corpos foram cobertos com material inflamável e incendiados. Demorou cerca de dois dias para que a tumba ardesse até o fundo”.

A terrível tarefa foi realizada por mais de 400 judeus e prisioneiros de guerra soviéticos. Eles sabiam que assim que o trabalho se encerrasse todos seriam mortos, sabiam que os nazistas não iriam deixar testemunhas de seus crimes. As mortes já vinham ocorrendo; no primeiro mês, 70 dos prisioneiros foram mortos em execuções realizadas toda a noite pelos guardas, para se divertirem.

Os prisioneiros famintos e doentes trabalhavam com grilhões nos tornozelos, guardados por SS armados com submetralhadoras e acompanhados por cães treinados para matar. Os guardas dirigiam-se aos judeus chamando-os de “Leichen”, cadáveres. Mas, como escreveu o historiador Reuben Ainsztein, um dos principais autores ingleses sobre o tema do Holocausto, “naqueles homens seminus impregnados de carne putrefata, cujos corpos estavam comidos por sarna e cobertos com uma camada de lama e fuligem, e nos quais restava tão pouca força física, sobrevivia um espírito que desafiava tudo o que os nazistas tinham feito ou poderiam fazer-lhes.  Nos homens em quem as SS viam apenas cadáveres andantes, maturava uma determinação de que ao menos um deles precisava sobreviver para contar ao mundo o que haviam visto em Babi Yar”.

Eles traçaram planos. Entre os idealizadores, havia um soldado judeu do Exército Vermelho, Vladimir Davydov, que acabou testemunhando em Nuremberg. A escala de represália eliminava fugas individuais. Após a fuga de um soldado não judeu do Exército Vermelho, Fyodor Zavertanny, os alemães fuzilaram 12 dos prisioneiros e o SS encarregado dos guardas, que tinha supervisionado o grupo de Zavertanny.  Uma fuga em massa era a única esperança. Mas os prisioneiros precisariam de um milagre, pois para poder fugir teriam que encontrar uma chave que pudesse abrir o cadeado do bunker onde eram trancafiados a noite. Eles passaram a procurar por quaisquer chaves que tivessem sobrado dentre os milhares de cadáveres apodrecendo e suas roupas em decomposição. Em 20 de setembro, o milagre aconteceu: um dos prisioneiros encontrou uma chave que servia no cadeado.

Nove dias depois, no 3º aniversário do massacre, 325 judeus e prisioneiros de guerra soviéticos fugiram. Desses, 311 foram fuzilados durante a fuga e apenas 14 alcançaram esconderijos, quatro ficaram por 20 dias em uma chaminé de uma fábrica desativada e dois foram escondidos sob o galinheiro por duas ucranianas, Natalya e Antonina Petrenko.

Em 6 de novembro, cinco semanas após a fuga, os 14 sobreviventes estavam entre os que recepcionaram o vitorioso Exército Vermelho que entrava em Kiev. Todos eles se juntaram às fileiras. Quatro deles, todos judeus, foram posteriormente mortos em ação contra os alemães, e dez sobreviveram à guerra. Dois judeus, Vladimir Davydov e David Budnik, prestariam depoimento, em 1946, no Tribunal de Nuremberg, sobre o massacre de Babi Yar.

Atitude soviética 

Na Kiev libertada, judeus sobreviventes e familiares dos judeus massacrados foram até a ravina, no local da execução. Lembra uma testemunha: “Descemos até o fundo. Ficamos parados, chorando. Juntamos os ossos queimados de braços, pernas”. Após o Exército Vermelho retomar o controle de Kiev, Babi Yar foi transformado num local de internamento de prisioneiros alemães e operou até 1946, quando foi totalmente demolido.

Nos anos seguintes ao término da 2ª Guerra, os judeus que retornaram a Kiev, assim como os demais na antiga União Soviética, quiseram erguer um memorial em homenagem aos judeus assassinados em Babi Yar, mas essas tentativas foram sistematicamente rechaçadas pelas autoridades soviéticas.

Desde a retomada da cidade, o governo desestimulou qualquer ênfase ao massacre de Babi Yar como sendo uma barbárie direcionada apenas aos judeus – queriam que a tragédia fosse lembrada como um crime cometido contra a população de Kiev e o povo soviético todo.

A primeira versão do texto sobre o terrível massacre ocorrido em Kiev mencionava os judeus. “Os bandidos hitleristas cometeram assassinato em massa da população judaica. Eles o anunciaram em 29 de setembro de 1941, dizendo que todos os judeus deveriam estar na esquina das ruas Melnikov e Dokterev portando seus documentos, dinheiros e valores. Os carniceiros os conduziram a pé para Babi Yar, apossaram-se de seus pertences e lá os abateram a tiros”. Mas ao ser oficialmente publicado, os judeus não eram mais mencionados: “Os bandidos hitleristas trouxeram milhares de civis à esquina das ruas Melnikov e Dokterev”.

Diversas tentativas de se erguer um memorial judaico no local dos massacres foram adiadas. Em outubro de 1959, o escritor Viktor Nekrasov publicou um artigo protestando contra a intenção de erguer um parque com um estádio de futebol em Babi Yar e construir uma represa na outra ponta da ravina. Nos anos após o término da guerra, Babi Yar enchera-se de entulho, lama e água, formando, na descrição de uma testemunha, “um lago profundo imóvel... De longe, parecia esverdeado, como se as lágrimas das pessoas que lá tinham sido mortas houvessem brotado do solo”.

As autoridades municipais de Kiev concordaram, a princípio, em erguer um monumento, mas insistiam em que fosse dedicado aos cidadãos soviéticos, sem mencionar o fato de serem judeus. No final, até mesmo essa decisão não foi levada adiante e as obras da represa foram iniciadas.

Uma noite, em 1961, a represa construída pela prefeitura ruiu e torrentes de água, argila líquida e lama, misturadas com restos de ossos humanos, jorraram nas ruas de Kiev abaixo.  A enxurrada provocou vários incêndios, destruiu uma garagem e, ao atingir a estação de bondes, virou os bondes, enterrando vivos todos os que estavam na estação e a bordo dos bondes. Nessa noite, enquanto os soldados estavam ocupados escavando em busca dos mortos e procurando sobreviventes na lama, uma segunda onda de argila líquida irrompeu de Yar, causando mais estrago e morte. Nos dois desastres, 24 pessoas foram mortas. Alguns dias depois, quando um bonde passou pelo local do desastre, uma velha ucraniana começou repentinamente a gritar: “Foram os judeus que fizeram isso. Estão se vingando de nós”.

À medida que as décadas passaram, muitos sobreviventes e os parentes dos sobreviventes procuraram retornar aos cenários de seu próprio sofrimento ou de sua família. Para os judeus da antiga União Soviética, Babi Yar, assim como outros locais de assassinato em massa de judeus, tornaram-se lugares de peregrinação solene. Visitar locais como Babi Yar, em Kiev, Rumbuli, perto de Riga, Ponar, fora de Vilnius, ou a cova da Rua Ratomskaya, em Minsk, tornou-se um meio de renovar e afirmar seu sentido de identidade judaica.

Em setembro de 1966, decorridos 25 anos do massacre, Babi Yar se tornou ponto de encontro para os ativistas judeus. Nos anos seguintes, os ativistas de várias partes do país vinham participar do evento em memória dos judeus assassinados, atendendo às convocações, a despeito do empenho das autoridades em evitar qualquer manifestação. Em 1971, no mínimo 1.000 pessoas participaram da cerimônia de recordação.

O interesse em Babi Yar atingiu seu ponto alto em 1961, no 20o aniversário do massacre, quando o poeta russo Yevgeny Yevtushenko publicou seu poema “Babi Yar” na Literaturnaia Gazeta. O poema se identificava com o sofrimento judeu, particularmente com as vítimas judias do nazismo, insistindo que enquanto existisse antissemitismo na ex-URSS sua sociedade não poderia ser genuinamente internacionalista. O trabalho evocou um amplo protesto, inclusive uma censura do Premier Nikita Khrushchev.  A intelligentsia liberal, no entanto, recebeu-o com aplausos, e o compositor Dimitri Shostakovich musicou-o em sua 13a Sinfonia, que logo foi banida pelas autoridades.

Somente em 1976, ergueu-se um monumento, mesmo assim, sem fazer qualquer menção específica às vítimas judias, referindo-se apenas “aos cidadãos de Kiev e prisioneiros de guerra”. Apenas após o advento da Perestroika, a política soviética mudou. No final da década de 1980, colocou-se uma placa em iídiche, sem, no entanto, haver menção especial aos judeus. Em 1988, o aniversário da aktion de setembro de 1941 foi relembrado em grande escala em uma manifestação em Moscou e outra em Babi Yar.

Em setembro de 1991, grupos ucranianos e judaicos, patrocinados pelo governo da Ucrânia, organizaram em Kiev um evento de grande porte em memória dos judeus assassinados em Babi Yar. Nas principais ruas foram colocadas fotos dos judeus mortos, houve vários dias de conferências, encontros, exposições, concertos e discursos, além da publicação de um livro-memorial. No dia 29 foi inaugurado um monumento em feitio de menorá.

Em junho de 2013, o Fórum Mundial de Judeus de Língua Russa anunciou que um novo complexo memorial será erguido no local do massacre de Babi Yar. Além de um centro judaico e de uma sinagoga, haverá uma exposição de material histórico com roupas e pertences dos judeus assassinados, documentos dos arquivos nazistas e entrevistas com sobreviventes.

1 Os testemunhos estão documentados na obra de Martin Gilbert, “Holocausto, História dos Judeus da Europa na Segunda Guerra Mundial”.

BIBLIOGRAFIA 
Brandon, Ray (Editor), Lower, Wendy The Shoah in Ukraine: History, Testimony, Memorialization , Indiana University Press 

Gilbert, Martin “Holocausto, História dos Judeus da Europa na Segunda Guerra Mundial”, Editora Hucitec 

Como e por que a Europa conquistou o mundo - Book Review

Published by EH.Net (April 2016)

Philip T. Hoffman, Why Did Europe Conquer the World? Princeton: Princeton University Press, 2015. vii + 272 pp. $30 (cloth), ISBN: 978-0-691-13970-8.

Reviewed for EH.Net by Jari Eloranta, Department of History, Appalachian State University.

Philip Hoffman, Professor of History and Business Economics at California Tech and recent president of the Economic History Association, is a prolific scholar, whose work has primarily focused on early modern Europe, especially French economic history and financial markets. Hoffman’s new book focuses on a pivotal issue in world history, namely how Europe came to rule the world. This is, needless to say, a hugely ambitious book and one that no scholar analyzing transitions in global history can overlook. It is a daunting task to attempt such an endeavor, let alone succeed as Hoffman has. This book will change interpretations of European warfare, the financing of conflicts, transitions in other regions of the world, the causes of the Industrial Revolution, and the Great Divergence — topics that are at the forefront of history, economics, and political science today.

Hoffman takes on big theories of history and development in this book, similar to other grand theorists like Jared Diamond (1999), Charles Tilly (1992), David Landes (1998), Joel Mokyr (1992), and Daron Acemoglu and James Robinson (2005). The pivotal question for all social scientists remains: Why are some so rich and some so poor? Whereas explanations for the different development paths have ranged from biological (Diamond) to geographical and cultural (Landes) and institutional (see e.g. North 1990), Hoffman follows a similar path as Tilly, Larry Neal (2000), and Niall Ferguson (2001), who argue that understanding the costs and impacts of warfare is the key to this puzzle. Tilly (1992) pointed out that capital and coercion are pivotal components in the rise of Europe over the last thousand years and that the constant need to fund warfare led to the creation of public debt and sharing of power between sovereigns and merchants. And, as Ferguson (2001) argues, military spending was the crucial component in this transition, since it led to other financial, fiscal, and institutional innovations. Hoffman is able to go a step beyond these somewhat blunt insights to provide a theoretical and (partially) empirical foundation that fills in many of the gaps and challenges the other “big” historical frameworks.

Hoffman poses a question for a potential time traveler similar to the one asked by Landes: How did Europe go from a patchwork of small and seemingly powerless communities one thousand years ago to a position of military and political dominance by the end of the millennium? Why did the world not become dominated by the Chinese or some of the other worthy contender? He answers the question by turning to a model of tournaments — the “tournament” for domination in Europe in conjunction with other cultural and historical developments explains Europe’s global success. Ultimately, the key to Hoffman’s explanation is warfare. As he correctly points out, Europeans have been almost constantly at war. Historically, most of their sovereigns’ spending went toward military purposes, and even lavish palaces like Versailles represented only a minuscule part of the state budget. His model links the high probability that European rulers would go to war to the high value of the victor’s prize, and similarity of resources, military technology, and ability to mobilize those resources (absence of a hegemon is crucial). Moreover, the political cost of attempting to win the prize must have been fairly low, and rulers were willing and able to learn from these conflicts. Thus, Hoffman’s four conditions for Europeans’ path toward global dominance include frequent war, high (and consistent) military spending, adoption and advancement of gunpowder technology, and relative lack of obstacles to military innovations. Europeans enjoyed low fixed costs for going to war, distances were small, variable costs for mobilization were low, and there was a merchant base that helped with the financing of conflicts.

One of the key elements in Hoffman’s explanatory framework is the ability of rulers to extract revenue from the society. His comparative data — which are by necessity a bit sporadic for China and other states around the globe — prove that European rulers collected, in per capita terms, much higher revenues and invested them into warfare. He also shows, based on his research into early modern European revenue systems and military producers, that the high military spending in Europe also translated into sustained productivity growth in the military sector. He even goes further to suggest that this was linked to the eventual Industrial Revolution, which is a bit harder to verify. Positive technological externalities may arise from military technologies, but significant crowding out effects cannot be ignored.

This book is particularly interesting when Hoffman engages in comparative research to examine various empires and regimes around the world in this period. While specialists in the histories of these polities may find details that they disagree with, the overall argument about China’s stagnation from the fifteenth century onward (or later, depending on whether one ascribes to the views of Pomeranz (2000) or Broadberry and Gupta (2006)) is quite convincing. Eschewing some of the more traditional explanations, for example China’s turn inwards in the fifteenth century, Hoffman makes a case for the tournament model here as well. He shows that Chinese tax collection rates were low, and that the focus on defending against nomads meant lower military spending on navies. Also, the investment in gunpowder technology was not consistently high, and thus the Chinese eventually fell behind the Europeans, which was displayed amply in the Opium Wars of the nineteenth century. Similar arguments can be made as to why Japan and India also stagnated, although some of the reasons differed. Interestingly enough, Hoffman also assigns a large role in Europe’s bellicosity to Christianity; rather than pulling European nations together, Christianity became a source of almost constant conflict, starting with the Crusades, divisions within the Catholic Church, and then the wars of religion in the sixteenth and seventeenth centuries.

In general, Hoffman’s model and the empirical support presented in the book are impressive and persuasive. One could, of course, offer some counterarguments. For example, Hoffman’s model is probably not as all-encompassing as he suggests; in many ways his framework complements the broader models about the role played by geography, nature, climate, and human interactions. Moreover, he inordinately downplays the role played by the modes of financing wars — why it may make a difference whether tax revenue or loans were used to extend conflicts. Ultimately the European (or originally Dutch/British) model of financing wars with the support of domestic merchants and markets with low interest rate loans was a huge advantage when Europe entered the age of total wars at the end of the eighteenth century. Finally, it is hard to discount the role raw materials and other natural resources played in assigning winners and losers in these tournaments. The classic argument by Pomeranz (2000) about the lack of coal near developing urban centers in China as a major hindrance to its industrialization is a good example of this line of thinking. Regardless of these small reservations, this book is a classic of economic history, which should be required reading by scholars everywhere, and will be a starting point for many debates about the role conflicts and military spending have played in historical processes.

References:

Acemoglu, D. and J.A. Robinson (2005) Economic Origins of Dictatorship and Democracy, Cambridge University Press.

Broadberry, S. and B. Gupta (2006) “The Early Modern Great Divergence: Wages, Prices and Economic Development in Europe and Asia, 1500–1800,” Economic History Review, 59(1), 2-31.

Diamond, J. (1999) Guns, Germs, and Steel: The Fates of Human Societies, W.W. Norton.

Ferguson, N. (2001) The Cash Nexus: Money and Power in the Modern World, 1700-2000, Basic Books.

Landes, D. (1998) The Wealth and Poverty of Nations: Why Some Are So Rich and Some So Poor, W.W. Norton.

Mokyr, J. (1992) The Lever of Riches: Technological Creativity and Economic Progress, Oxford University Press.

Neal, L. (2000) “How It All Began: The Monetary and Financial Architecture of Europe during the First Global Capital Markets, 1648–1815,” Financial History Review, 7(2), 117-140.

North, D. C. (1990) Institutions, Institutional Change and Economic Performance, Cambridge University Press.

Pomeranz, K. (2000) The Great Divergence: China, Europe, and the Making of the Modern World Economy, Princeton University Press.

Tilly, C. (1992) Coercion, Capital, and European States, AD 990-1992, Blackwell.

Jari Eloranta (elorantaj@appstate.edu) is a Professor of Comparative Economic and Business History at Appalachian State University and author of several articles on military and government spending, including (with Andreev Svetlozar and Pavel Osinsky) “Democratization and Central Government Spending, 1870–1938: Emergence of the Leviathan?” Research in Economic History (2014).

Copyright (c) 2016 by EH.Net. All rights reserved. This work may be copied for non-profit educational uses if proper credit is given to the author and the list. For other permission, please contact the EH.Net Administrator (administrator@eh.net). Published by EH.Net (April 2016). All EH.Net reviews are archived at http://eh.net/book-reviews/

O Mercosul em dois tempos - Renato Marques (ex-negociador pelo Brasil)

Renato Marques tem um livro sobre o Mercosul, que eu recomendo:
Duas Décadas de Mercosul (São Paulo: Aduaneiras, 2011, 368 p.; ISBN: 978-85-7129-581-0).
Fiz uma resenha desse livro, quando de sua primeira publicação, em edição do autor, na Ucrânia, e essa resenha está em meu livro "Prata da Casa", que pode ser acessado nestes links:
página do livro: https://www.academia.edu/5763121/Prata_da_Casa_os_livros_dos_diplomatas_Edicao_de_Autor_2014_; link direto para download do arquivo em pdf: https://www.academia.edu/attachments/34209509/download_file?s=work_strip&ct=MTQwNzAwODExOCwxNDA3MDExMjI5LDc4NTEwNjY; divulgado neste link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/07/prata-da-casa-os-livros-dos-diplomatas.html; disponível em Researchgate.net: https://www.researchgate.net/publication/269701236_Prata_da_Casa_os_livros_dos_diplomatas?ev=prf_pub. 
Paulo Roberto de Almeida  


EL MERCOSUR EN DOS TIEMPOS
Renato L. R. Marques
El Litoral (Santa Fe, Argentina), 8/04/2016

Los negociadores del Tratado de Assunción - que ha creado el Mercosur, hacen 25 años - tendrán distintos motivos para celebrar la fecha, según sus expectativas y motivaciones. Habiendo integrado ese grupo desde sus comienzos, creo no cometer equívocos al decir que todos los integrantes de los equipos técnicos – en que pesen sus diferencias puntuales - estuvieran movidos por un sentimiento de participación en un grand design, en un proyecto histórico y transcendiente, que iba más allá de la tradicional coreografia integracionista latino-americana, marcada por una retórica grandiloquente y minguados resultados. Nutrian así una firme convicción de que el proyecto deberia firmarse progresivamente, sin atropellos, vale decir, sin atender a los reclamos de los que insistian en que mimetizase el modelo europeo desde su início y adoptase inmediatamente instituciones supranacionales, como las creadas por el Tratado de Roma. De esas visiones maximalistas – típicas del character romántico de los ensayos integracionistas anteriores – surgieran las críticas iniciales a la institucionalidad en gestación.
Buscabase superar años de retraso en el aprovechamiento de las complementariedades regionales, cerceadas por viejos planes de sustitución de importaciones y rivalidades politicas. Así como promover la competencia a través de la apertura de los mercados intraregionales y de su mayor exposición al exterior. No por acaso, vários sectores de las economias de cada uno de los sócios se mobilizó, en un primer momento, contra la iniciativa.
Las mudanzas sufridas por el proyecto original son facilmente explicables por los cambios hacia la izquierda ocurridos en los gobiernos de la region. La dimensión económico y comercial del Mercosur cedió lugar a una cresciente orientación política y social, al punto del Mercosur tornarse casi un accesorio de instituciones más recientes, como la UNASUR. La vocación autárquica y proteccionista de eses régimenes accentuaron la proliferación de medidas restrictivas al comercio intra-bloco, generaron una cresciente desarmonización del Arancel Externo Comum (AEC) y no han creado mecanismos para facilitar la deseada complementariedad. El grán éxito apuntado en el comércio automotivo poco o nada debe a los gobiernos. Su intercámbio está regido por distintos Acuerdos de Complementación Económica en el ámbito de ALADI (fuera por lo tanto del Mercosur), que reflejan la estratégia de distribución espacial de la producción de las multinacionales en la región, con reglas de administración del comércio no siempre acceptadas por la OMC,  pero que operan con la misma funcionalidad verificada en los viejos Acuerdos Sectoriales de la extinta ALALC – de los cuales, el de maquinas de oficina es el gran modelo. No sorprende así que las exportaciones brasileñas para el grupo estén al nível de 2006, cuando alcanzó US$ 12 mil millones, y que el ritmo de crescimiento de nuestro comércio con la región esté muy abajo del registrado con otras partes del mundo. Como si no fuera poco, el Mercosur favoreció incursiones políticas controvertidas al suspender el Paraguay y al promover el ingreso de Venezuela con critérios de naturaleza más ideológicos que técnicos.
Todo eso parece alertar para la necesidad de rever las condiciones de funcionamiento del Mercosur, para que pueda retomar sus objetivos originales de estímulo a las actividads económicas de sus sócios y de aprovechamiento de las ventajas comparativas regionales. Para eso, el Mercosur no debe cerrarse en sí mismo y sí actuar como un instrumento para facilitar la inserción de sus integrantes en las grandes cadenas de producción globales. Esto implicará una mayor liberdad de acción para sus miembros, de modo a evitar las dificuldads de negociación impuestas por el hetereogeneo conjunto. Tratase de liberar el dinamismo de cada una de las economias ante los desafios impuestos por una coyuntura que seguramente no es propícia a todos en este momento. Para tanto el Mercosur tendrá que superar su crisis y buscar una nueva identidade, más apropriada a los nuevos tiempos. Caso contrario, el Mercosur – a pesar de todo el ruído generado – tenderá a se conformar a más un producto de esos sucesivos partos de los montes de la malograda história de la integración regional latino-americana.
                                                              
Renato L. R. Marques es Embajador retirado y negociador de los principales acuerdos constitutivos del Mercosur, desde los primórdios en 1989 hasta 1999.


Panama Papers: quando a hipocrisia se encontra com a roubalheira - NYTimes

Como já disse em outra postagem, muitas pessoas honestas, que ganharam muito dinheiro com seu esforço e dedicação a uma atividade qualquer, querem apenas proteger seus ganhos de governos extratores, gananciosos, e basicamente corruptos.
Outros, ricos por natureza, se ouso dizer, também querem se subtrair ao Fisco de países geralmente corretos, mas um pouco exagerado nas medidas de "pikettysmo explícito".
Isso não se aplica, obviamente, aos bandidos deliberados (e eles são muitos), e aos políticos safados, que dizem uma coisa em público e praticam outra em privado.
Todos eles, INVARIAVELMENTE, vão negar que possuem essas contas.
Parece que o islandês que se demitiu vai ser o único a ser "honesto", ou arrependido sincero.
Paulo Roberto de Almeida

http://www.nytimes.com/2016/04/07/world/americas/panama-papers-leak-casts-light-on-a-law-firm-founded-on-secrecy.html?emc=edit_th_20160407&nl=todaysheadlines&nlid=13125452&_r=0

Panama Papers Leak Casts Light on a Law Firm Founded on Secrecy


Video

Panama Lawyer Seeks Source of Leak

Ramón Fonseca, a co-founder of Mossack Fonseca, said his firm had asked the Panamanian authorities to investigative the hacking of its computers.
By REUTERS on Publish Date April 6, 2016. Photo by Carlos Jasso/Reuters. Watch in Times Video »
MEXICO CITY — The two men came together in an era of political and economic uncertainty in Panama: One a reserved German immigrant whose father served in the armed wing of the Nazi party, the other a gregarious, aspiring novelist whose family opposed Panama’s military dictatorship.
With the nation still under the sway of Gen. Manuel Noriega, the pair merged their small law firms in 1986, creating what would become a powerhouse of secretive offshore banking for the elite. Over the next three decades, Jürgen Mossack and Ramón Fonseca expanded their practice to a staff of 500, with affiliate companies around the world and a client list of the powerful, the famous and, sometimes, the infamous.
In January, a prosecutor investigating the sweeping corruption in Brazil publicly called their law firm “a huge money launderer.”
The partners had become very wealthy, and Mr. Fonseca leveraged the firm’s success to gain an influential role in the upper ranks of politics. He told associates that he wanted to clean up the government, serving as a special adviser to President Juan Carlos Varela until the corruption scandal in Brazil forced Mr. Fonseca to resign this year.
In an interview, he said that entering politics was, in part, a way of giving back. “I believe in sharing the pizza,” he wrote. “At least to give others one slice.”
The firm, Mossack Fonseca, was built on assurances of bulletproof privacy for its clients. But its operations were laid bare this week by a vast leak of millions of documents that have helped expose the proliferation of shell companies and tax havens for the world’s wealthiest people. The revelations have already prompted Iceland’s prime minister to step aside and spurred criminal investigations on at least two continents.
The leak has also brought more scrutiny to Panama’s financial and legal sectors, just as the country’s leadership was trying to shed its longstanding reputation as a haven for the loot of the criminal and corrupt. In February, Panama was removed from a watch list maintained by an international agency that sets standards to combat money laundering and terrorism financing, but it remains under scrutiny as a haven for tax evaders.
Panama’s president has vowed to cooperate with any judicial investigations stemming from the leaked information, which could put him in the awkward position of allowing an inquiry into his former adviser.
Mossack Fonseca has denied that it committed any wrongdoing, and Mr. Fonseca proclaimed his firm’s innocence.
“At the end of this storm the sky will be blue again and people will find that the only crime is the hacking” of the firm’s documents, he said in an hourlong interview conducted over the messaging platform WhatsApp.
But some in Panama who know Mr. Fonseca say the leak’s contents are at odds with how he has tried to portray himself and his role in the country.
Carlos Guevara Mann, a fellow party member and former government official, said he had once asked Mr. Fonseca, already a successful novelist, why he would bother with politics. The lawyer, he recalled, told him that he wanted to set straight the nation’s human rights record.
“When you match that conversation with the fact that the firm was providing services to all of those notorious human rights violators — Qaddafi, Mugabe, Assad and Putin — it really is repugnant,” Mr. Mann said.
Among the leaked documents was an email exchange obtained by the International Consortium of Investigative Journalists, in which the firm’s top partners realized they had worked for years with clients from Iran who had been listed on a sanctions list published by the United States government and the United Nations.
“This is dangerous!” Mr. Mossack wrote in an email to Mr. Fonseca and others at the firm. “A red flag should have been raised immediately.”
Photo
Panama City on Monday. The president of Panama has vowed to cooperate with investigations over a law firm’s leaked documents. Credit Arnulfo Franco/Associated Press
Mr. Mossack placed blame for the oversight on employees in the law firm’s London office who were “not doing their due diligence thoroughly, (or maybe none at all).”
The leaks have roiled Panama’s legal and banking sectors, bedrocks of the country’s economy, and chilled Panama’s business class. The country’s bar association has come to the firm’s defense, saying the leak amounted to an attack on the country’s reputation.
“Terrible damage is being done to them, to all lawyers and their country at large,” José Alberto Alvarez, the association’s president, said in a news conference on Monday.
Continue reading the main story
There is a lot at stake for Panama, a country whose economy heavily relies on the legal and financial services industries.
The rise of Mossack Fonseca coincided with the emergence of Panama as a capital of the worldwide offshore banking industry. The increasing flow of global capital across borders during the 1970s and 1980s fueled a market for lawyers and accountants capable of sheltering the money, and Panama was primed to take advantage of the boom.
Beginning in the early 1900s, its station as a trade and shipping center — at the intersection of two continents and at the convergence of the Pacific Ocean and the Caribbean Sea — made it an obvious candidate for offshore accounting. International ships flew the Panamanian flag to take advantage of its advantageous corporate tax structure, which some experts say was copied almost directly from the state of Delaware.
“Because it has always been at the center of international trade, it was a natural fit for things like offshore finance and international offshore tax planning,” said Victor Fleischer, a professor at the University of San Diego School of Law. “I don’t know if it is justified or not, but people have always thought of Panama as a little bit shady.”
The firm was aggressive and nimble, capable of responding to an evolving regulatory landscape. Its reputation flourished.
But other Panamanian law firms joined the fray, too, including larger and more prominent practices than Mossack Fonseca.
“All the important Panamanian law firms have a division like this,” said Roberto Eisenmann, the founder of the newspaper La Prensa in Panama.
In fact, Mossack Fonseca is just one of countless firms around the globe dedicated to a worldwide industry that harbors trillions of dollars and may deprive nations of as much as $200 billion in tax revenues each year, tax and legal experts say.
Mossack Fonseca’s founding partners bought large homes in exclusive neighborhoods in Panama City as well as luxurious weekend retreats. Growing up, their children borrowed the company plane and took friends on trips.

Distinct Personalities

But despite their parallel ascents in business and society, Mr. Mossack and Mr. Fonseca apparently kept their social lives separate. Friends and associates describe their personalities as completely distinct.
Mr. Mossack was born in Germany in 1948, and during World War II, his father was a member of the Waffen-SS, according to United States Army intelligence files obtained and provided by the International Consortium of Investigative Journalism. The family moved to Panama in the 1960s where, according to the intelligence files, Mr. Mossack’s father offered to spy for the C.I.A.
Mr. Mossack has maintained a low profile, eschewing the party scene of Panama’s high society while adopting a disciplined approach to his work. Though he is more focused on the day-to-day operations, he has so far declined to comment publicly about the document leak.
Mr. Fonseca, by contrast, has for years been something of a man about town. Born in Panama in 1952, he studied at the London School of Economics and later worked for several years at the United Nations in Geneva — “trying to save the world,” as he described it in the interview.
Video

France to Blacklist Panama

In response to the “Panama Papers,” French finance minister Michel Sapin told his country's parliament that France will put Panama back on its blacklist of tax havens.
By REUTERS on Publish Date April 6, 2016. Photo by Patrick Kovarik/Agence France-Presse — Getty Images. Watch in Times Video »
It was then, he said, that he first began to ponder writing a novel. Decades later, in the 1990s, he became famous as a novelist, twice winning Panama’s highest literary prize.
But he had even greater ambitions: politics. One day, when complaining to his father about the shabby state of Panamanian politics, the elder man snapped at him. “My father told me: It’s not fair to criticize the bull fighter from your seat,” he wrote in the interview. “Enter the ring!”
By the 2000s, he was well ensconced with the Panameñista party and became a close adviser to Mr. Varela. After Mr. Varela became president in 2014, Mr. Fonseca joined his cabinet as an adviser.
Within Mossack Fonseca, both founding partners had swagger. Former employees said the firm had a staff of aides, whose job it was to arrange hotel, car service and entertainment for wealthy clients when they came to town — like tours of the old city or the Panama Canal.
“There were no kings or princes that I remember,” said Tarina Rodríguez, adding that she worked at the firm for three years and served as the “head of hospitality.” The visitors, she said, “were very low-key businessmen, who wanted to keep a low profile.”
Several former employees described a disciplined culture, arguing that the partners appeared to run an ethical business. Mr. Mossack and Mr. Fonseca, they said, were sticklers for compliance, insisting on detailed procedures concerning most business matters at the firm.
“There were so many processes you had to follow,” said Mileidy Castillo, who said she worked at the firm from 2011 to 2013.
Experts say, however, that checking boxes is not the full measure of compliance. Rather, it comes with a law firm’s willingness to push its clients to reveal the true identity of those involved in offshore transactions, and the source of their money.
“Too often, these offshore firms are willing to take on just about any customer and follow their instructions,” said Jack Blum, a former Senate investigator who now specializes in examining money laundering and tax evasion.
As offshore accounts have multiplied during the past several decades, they have increasingly been used to launder money, evade taxes or finance terrorism. Those seeking to break the law have often enjoyed the same secrecy as accounts used for legitimate purposes.
An international transparency movement developed over the past decade, spearheaded by major international agencies. But Panama, long accustomed to following its own path, was far behind in compliance.
“In the last 25 years or so, there has probably been 15 years of almost no regulation,” Mr. Eisenmann said of Panama.
In 2014, the Financial Action Task Force put Panama on its list of countries where transparency and accountability systems were woefully lacking, a major blow to the nation. Mr. Varela quickly pushed through legislation to address the issue, leading to Panama’s removal from the list in February.

The Last Big Holdout

But Panama has been more reluctant to follow a transparency initiative started in 2009 by the Organization for Economic Cooperation and Development. While most other international financial centers, like the British Virgin Islands, the Cayman Islands and Singapore, quickly agreed to the initiative, Panama held back.
“Panama is the last major holdout that continues to allow funds to be hidden offshore from tax and law enforcement authorities,” the group’s secretary general, Angel Gurría, said in a statement on Monday.
But several tax experts pointed out that Panama, in its refusal to comply with international transparency standards, is in esteemed company: the United States.
Video

Kremlin Spokesman Denies Panama Report

Dmitry S. Peskov, a spokesman for President Vladimir V. Putin of Russia, said on Tuesday that leaked documents, called the Panama Papers, contained no information about the Russian leader.
By THE ASSOCIATED PRESS on Publish Date April 6, 2016. Photo by Ivan Sekretarev/Associated Press. Watch in Times Video »
Foreign nations have had trouble getting information about accounts their citizens hold in America as well.
“Panama isn’t the real story,” said Matt Gardner, the executive director of the Institute on Taxation and Economic Policy, a research group based in Washington. “This leak is giving a window into a much broader world, but it should be understood as giving a window into how things work in the U.S. as well.”
Since the data leak last weekend, both the firm and Mr. Fonseca have said that they are not responsible for the actions of the shell companies they create.
In the interview on Wednesday, Mr. Fonseca said that the company was careful to vet clients, and that it would drop any it discovered with a “bad reputation.” But he was insistent that his clients were lawyers, accountants and intermediaries — not dictators, for instance.
“We are like a car factory who sells its car to a dealer (a lawyer for example), and he sells it to a lady that hits someone,” he wrote in a message. “The factory is not responsible for what is done with the car.”
Mr. Fonseca said his firm tried to determine “to the best of our knowledge” the actual owner of a shell corporation.
“The industry is becoming more regulated and serious about being used by the bad guys and we welcome this,” he wrote, adding, “But pls remember that 15 years ago the term due diligence was unknown.”
Over the years, courts and government investigators have occasionally managed to puncture Mossack Fonseca’s shield of secrecy.
In Brazil, Mossack Fonseca was linked to a corruption investigation into bribes paid to politicians by companies doing business with the state-run oil company. Investigators began focusing on the firm after finding an array of apartments in the names of relatives of an imprisoned politician.
Recent litigation in the United States uncovered a connection between a shell company set up in Nevada and Mossack Fonseca’s headquarters in Panama. The breakthrough came after almost three years of legal wrangling by the plaintiff, one of the world’s best-financed hedge funds, run by the billionaire Paul Singer.
The hedge fund was trying to track down money that had been siphoned from public coffers in Argentina into illegal shell companies. The hedge fund owned $1.7 billion of Argentine debt dating to the nation’s financial crisis in the early 2000s, and the country was refusing to pay it.
But the hedge fund’s task was not so simple. A shell company known as MF Nevada was claiming that it had no relationship with Mossack Fonseca.
Even the judge found this hard to believe, at one point asking the company’s lawyer what the “MF” in MF Nevada stood for, according to a court transcript.
“I don’t know,” the lawyer responded, eliciting laughter in the courtroom.
During questioning, the person listed on the incorporation documents acknowledged that she took her directions from individuals at Mossack Fonseca. The federal judge in Nevada found that the shell company was essentially an alter ego of Mossack Fonseca, in effect granting the hedge fund access to information ordinarily held behind the law firm’s impenetrable facade in Panama.
“As attorneys we have the duty to provide privacy,” Mr. Fonseca said in the interview.
He feels his firm, in particular, has been robbed of it.
Mr. Fonseca said he was currently working on a novel about an investigative journalist who is “honest and looking for the truth without agendas.” And he has already begun outlining another book.
The working title: “Is privacy a lost human right?”

Correction: April 7, 2016
An earlier version of this article gave an incorrect last name for the secretary-general of the Organization for Economic Cooperation and Development. He is Angel Gurría, not Gerri.