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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Autoentrevista... ao chegar numa certa idade (2006) - Paulo Roberto de Almeida


Auto-entrevista (ao chegar numa certa idade...)

Paulo Roberto de Almeida

O objetivo desta entrevista é muito simples: colocar algumas questões sinceras a um personagem conhecido. Sua motivação é igualmente simples: a passagem do seu aniversário, não do seu seu, mas do seu dele, isto é do personagem. Considerando-se que, para mim, o personagem mais importante da minha vida sou eu mesmo – e não poderia ser de outra forma, do contrário não estaria aqui para controlar o gravador – a entrevista é comigo mesmo, o que, aliás, já estava implícito no título do trabalho, anulando assim qualquer efeito-surpresa.
Permito-me, portanto, aproveitar minha data natalícia – que eu não digo de quanto é, não por vergonha, mas porque isso não faz a menor diferença – para efetuar esta auto-entrevista com um personagem tão enrolado quanto eu (presumivelmente, vaidoso, também, pois do contrário a entrevista não existiria).
Antes, contudo, uma confissão e a promessa de pagamento de direitos autorais: tirei a idéia e a inspiração desta auto-entrevista do meu amigo Claudio Shikida, um economista promissor das Gerais, dedicado, como eu, às lides didáticas e acadêmicas (eu, a muitas outras mais, nas horas vagas e menos vagas), terrivelmente angustiado, como eu, com os des(a)tinos econômicos do Brasil, ele, contudo, bem mais jovem do que eu e com mais tempo, portanto, para corrigir as coisas erradas de que sempre nos arrependemos mais tarde, coisas que nos fizeram perder tempo, desviar o foco de atenção do trabalho principal (que alguém precisa me dizer qual seria), enfim, coisas que nos dão remorso depois, por termos calculado mal o custo-oportunidade do nosso raro (e caro) capital intelectual, deixando-o suportar as traças da preguiça e as trapaças da sorte. O importante, contudo, é ter paixão com aquilo e naquilo de que nos ocupamos, deixando-nos envolver (e absorver) pelos encargos do momento, mesmo os menos importantes...
Feito este prolegômeno, e sem mais delongas, vamos às conseqüências...
(Gravador ligado, ou melhor, computador ativo, bateria carregada...)


Então, Paulo Roberto, que balanço você faz da sua vida bem vivida?
            Creio poder afirmar, sem qualquer sentimento de auto-indulgência, que consegui construir um itinerário de sucesso relativo em minha vida, tanto no plano pessoal, como no profissional ou acadêmico. Digo relativo porque ele poderia ter sido mais “temprano”, ou mais evidente, do ponto de vista do reconhecimento público e da distinção social. O que sou, finalmente, é um diplomata de carreira média, sem grandes brilhos, mas também sem fracassos aparentes, um intelectual socialmente pouco conhecido, mas reconhecido em certos meios, uma pessoa humana dotada de algumas boas qualidades, mas também de vários defeitos. Entre estes últimos situa-se minha introversão básica, que me faz preferir a companhia dos livros do que das pessoas, o trabalho solitário no computador, no lugar da socialização aberta, o descaso, talvez, com as preocupações dos demais, na medida em que me concentro demasiadamente nas minhas próprias preferências em termos de leituras, interesses sociais, obsessões intelectuais.
Tudo isso não é muito bom, mas, por outro lado, creio que tenho algumas boas qualidades, a primeira delas sendo uma preocupação primordial com a sorte dos menos afortunados, daqueles que, como eu, na infância, conheceram ou conhecem a pobreza e que lutam para encontrar uma saída dessa condição amplamente insatisfatória. Sinto que eu tive chances, obviamente à custa de muito esforço pessoal e familiar, mas pelo menos pude contar com uma escola de boa qualidade, oportunidades de enriquecimento pessoal que me fizeram superar a estreiteza social e intelectual de meu meio de origem e que me permitiram uma vida de satisfação pessoal, de realizações intelectuais, de certo conforto material. Sinto que as crianças de hoje, que se encontram na mesma situação na qual eu me encontrava cinco décadas atrás, não têm muitas chances de refazer esse itinerário de ascensão social e de realização profissional, e isso me angustia profundamente. Sinto que o Brasil atual joga na lata do lixo dezenas (talvez centenas) de milhares de crianças que não poderão contribuir – como acredito que eu mesmo o faça – para o engrandecimento da Nação e a melhoria do bem-estar da sociedade. Nisso também reside o meu fracasso, que é também o de toda uma geração: não fomos capazes de melhorar o País, não tanto, em todo caso, quanto o seu povo sofrido o merecia. Esse fracasso de minha geração, eu o sinto como um fracasso pessoal.

O que lhe deu mais satisfação, até agora, na sua vida? Fez o que deveria ter feito?
            Não sei se tenho alguma grande obra da qual me orgulhar, no presente momento, mas o meu critério básico, de vida, é este aqui: procure construir um mundo e uma sociedade um pouco melhores do que aqueles que você encontrou ao chegar. Desse ponto de vista, talvez eu tenha contribuído para esse melhoramento parcial do nosso mundo e da nossa sociedade, não tanto enquanto diplomata, mas provavelmente enquanto mestre voluntário – o que eu não precisaria ser –, enquanto professor em tempo parcial, enquanto escritor em tempo integral, autor de alguns livros para-didáticos que podem melhorar o panorama do ensino especializado no Brasil. Através de meus muitos artigos, palestras e participação em seminários, com imensos sacrifícios pessoais e familiares – em grande medida também profissionais –, acredito que possa ter contribuído para o enriquecimento intelectual de alguns jovens que se interessaram em ler esses textos ou em ouvir-me. Tudo isso eu fiz sem pensar em remuneração ou “premiação” individual, apenas como um impulso interior, respondendo a uma necessidade íntima de ler, resumir, sistematizar essas leituras e de transmitir o que aprendi, pela palavra escrita ou a expressão oral. Acredito que fiz bem o que pude fazer nesse sentido, embora tudo isso seja uma pequena gota no imenso oceano de nossa incultura cívica e de nossa ignorância educativa.
            Essa “função didática” não era, registre-se, minha vocação original, que estava bem mais voltada para a “revolucionarização” do mundo e do Brasil – consoante uma ideologia da mudança radical e da transformação total da vida social, aqui e alhures –, do que para esse paciente trabalho professoral do “resume e ensina”. Acredito, porém, em retrospecto, que o lento trabalho didático é bem mais revolucionário do que os grandiosos projetos de mudança total da sociedade. Estes geralmente impõem um custo humano e social incomensurável para a maior parte das pessoas e das instituições, tão difíceis de serem construídas e tão fáceis de serem destruídas por espíritos malévolos ou egoístas. Sim, também acredito que eu não tenha sido egoísta, embora às vezes eu me arrependa de meu egoismo “didático” e de “escrevinhador”, que impõe custos aparentes e invisíveis à minha própria família e aos mais chegados. Nesse sentido, eu não fiz tudo o que deveria ter feito e sou devedor nesses aspectos.

Do que você se arrepende? (do que já fez e do que deveria fazer e ainda não fez?)
            Sinto não ter dado muita atenção às relações humanas e sociais, de ter me fechado sobre mim mesmo, ou melhor, nos livros, com os livros e para os livros. Não se pode ser perfeito, como se diz, mas acho que exagerei um bocado nessa convivência com os livros – e com os jornais e revistas, enfim, com a informação, de modo geral – deixando de lado justamente o lado humano das coisas. Acho que isso não me fez bem, nem familiarmente, nem pessoalmente ou profissionalmente. Não se trata de um “autismo livresco”, uma vez que, por adquirir muita informação, sou razoavelmente bem informado, cela va de soi, sobre o que ocorre no mundo e nas galáxias mais próximas, mas creio que uma redução ligeira da carga de leituras e uma atenção mais atenta, se ouso ser redundante, às pessoas que me cercam me teriam tornado uma pessoa melhor, mais apreciada, até mais ouvida.
            Não sei se ainda há tempo, mas talvez eu devesse começar a me ocupar do que é realmente importante: as pessoas, as relações humanas, não dos livros, que são inertes…

Sua vida pode ser dividida em etapas?; quais as mais importantes?
            Vejamos: 1) a ignorância, até os sete anos; 2) o aprendizado, dos sete aos 14 anos, aproximadamente; 3) o engajamento, a partir daí, nas chamadas causas “mudancistas”, o que sempre implica alguma dose de simplificação, de maniqueismo, de vontade de destruição, enfim, daquilo que se despreza, ou do que se aprende a ter raiva (a injustiça, a desigualdade, a miséria humana, material e social, e as supostas causas “estruturais” que respondem por esses males); 4) uma revisão intelectual desses true beliefs, a partir dos 25 anos, mais ou menos, o que coincide com uma reorientação de vida, a partir do primeiro quarto de século (uma geração inteira, pelo cômputo habitual), com definição profissional no campo do serviço público (diplomacia), seguida de casamento e de adesão ao “modo de vida burguês”; 5) um engajamento continuado, ao lado do serviço exterior, na carreira acadêmica, com a lenta (mas segura) construção de uma obra intelectual materializada em muitos livros e incontáveis artigos em diversas áreas de interesse acadêmico.
            Acho que estas seriam as principais etapas da minha vida, embora outros critérios, que não os acadêmicos e intelectuais, aqui selecionados, pudessem ter levado a uma outra divisão em etapas. Quanto às etapas mais importantes, acredito que elas estão em 2), o aprendizado, e em 4), a revisão intelectual. Esta corresponde ao abandono de simplismos e maniqueismos do marxismo adolescente, em favor de uma visão mais madura ou mais refletida dos problemas sociais, sobretudo a partir de um aprendizado mais sólido das questões econômicas, bem como pela predisposição de ter a mente aberta às experiências da vida, neste caso, um conhecimento direto das misérias do socialismo real.

Se voce pudesse voltar atrás, o que teria feito de diferente?
            Boa pergunta, difícil de ser respondida. Como eu não causei grandes males, nem à sociedade, nem a indivíduos, em particular, não identifico bem o que poderia ter feito de radicalmente diferente. Provavelmente, teria dado mais atenção à família, tanto a minha de origem, quanto a minha própria, já que este é, basicamente, o meu grande ponto falho. Não que eu tenha estado ausente fisicamente da família adquirida – o que certamente foi o caso da família de origem – mas é que eu certamente andei ausente intelectualmente e até fisicamente das obrigações mais elementares da administração familiar, voltado, como sempre estive, para a leitura e a redação. Eu também precisaria avaliar de forma crítica o engajamento afetivo, que é um importante elemento da dedicação familiar. Acredito que estes são os meus pontos fracos.

Se voce pudesse reencarnar, o que teria gostado ou gostaria ainda de ser?
            Não acredito nessa hipótese, daí um possível descarte da questão. Mas, admitindo, por brincadeira, essa possibilidade, a idéia surge de imediato de ter ou deter uma posição de mando, a partir da qual se poderia melhorar o mundo de maneira substantiva. Mas, esta é uma ilusão frequente daqueles que lêem muito, e que deveriam se contentar em ser nada mais do que simples conselheiros do príncipe e que, ao contrário, pretendem deter eles mesmos a chave do social embetterment. Dispor de poder significa ser uma pessoa mais ou menos carismática – nas artes da política ou no comando dos homens – e fazer disso uma alavanca da mudança. Geralmente se acaba caindo na mudança da condição pessoal, antes que a dos demais, daí decorrendo que não alimento nenhuma ilusão quanto a uma possível carreira política ou profissional.
            Gostaria, claro, de ser um melhor professor do que sou, reconhecido e prestigiado socialmente, o que aumentaria minha audiência e daria maior amplitude ao que tenho a dizer. Mas isso significa, mais uma vez, busca de prestígio social, o que redunda, sempre, na melhoria individual, não na transformação “societal”. Em todo caso, gostaria de ter poder “didático”, dispor de uma “caixa de ressonância” acoplada ao desempenho dessa missão. Mas, não consigo pensar em nenhuma figura histórica associada a essa imagem, algo como Buda e Confucius, junto com Gandhi e Einstein, inclusive porque as alusões a figuras históricas “memoráveis” como essas são profundamente enganosas, ademais de equivocadas, em seu mérito próprio.

Alguma preferência gastrônomica, um último desejo antes de lhe cortarem as coisas de que mais gosta por recomendação médica?
            Sorvete, doces cremosos, merengue, chocolate, refrigerante, enfim, tudo aquilo que já deixei de consumir, por força de conselhos nutricionais. No âmbito propriamente gastronômico, eu poderia listar, tranquilamente: risotto com trufas, espagueti com frutos do mar, um belo arrosto com legumes leves, vinhos encorpados e um queijo de cabra com baguette croustillante, terminando com uma fruta leve e um ristretto daqueles bem fortes. Talvez champagne para começar e um conhaque, ou melhor, cognac para terminar. Sem charutos, please. Tudo isso eu ainda posso arriscar, sem que um médico, daqueles chatos, venha me dizer para moderar a gula. Sempre fui mais gourmand do que gourmet, mas acho que, a partir de agora, deveria ser mais deste último do que daquele.

Alguma confissão? (Procure não enrolar os outros ou praticar o auto-engano.)
            Tenho de pensar seriamente antes de responder esta questão. Mas, como você vê, estou enrolando, mais uma vez. Acho que sou pretensioso demais, um metido a sabido, pretenso conhecedor de tudo, quando sou, na verdade, apenas um esforçado (nas leituras, certamente). Acho que também sou um pouco arrogante, com essa mania de ter lido mais do que os outros, o que deve ser insuportável para as pessoas “normais”. Penitencio-me por essas falhas, pois, e peço desculpas aos ofendidos. Sinceramente.

Além de ler, e de fazer resenhas, o que mais você fez nestes “nn” anos de vida?
            Bem, para conseguir fazer isso tudo, deixei de dormir, “nn” anos. O que eu mais fiz, portanto, foi vigília forçada, danosa, prejudicial à saúde mental pessoal e ao bem estar familiar. Isso, do lado ruim. Do lado bom, acho que me esforcei, sinceramente, para melhorar a vida das pessoas que me cercam, sobretudo pelo engrandecimento cultural ou intelectual. Acho que consegui fazer isso, embora não possa medir a eficácia real da minha ação. Acho que ela foi ínfima, em escala social, mas cada um faz o que pode.

O que o faz pensar que sua vida foi útil, para si mesmo, para a familia e os demais?
            Pelo meu critério, pretendo (mas ainda não consegui) deixar o mundo melhor do que o que encontrei, ou o que me foi dado. Existe falso altruísmo nisso? Talvez, mas essa é a minha maneira de conseguir prestígio e reconhecimento, o que pode ser uma forma de egoismo, também. Em todo caso, como não enriqueci às custas de ninguém – nunca pretendi, aliás, ficar rico no sentido material do termo –, nem tentei conseguir posições de mando praticando a usual arte da hipocrisia (que é comum nos políticos), acredito que fui útil no sentido mais banal do termo: pratiquei mais o bem do que o mal, mais contribui para o enriquecimento moral da humanidade do que agreguei aos elementos de egoísmo ou de individualismo excessivos que caracterizam as sociedades, em todas as épocas.
            Minha família talvez tenha outro julgamento quanto ao meu desempenho como pai, companheiro, orientador, mas espero não ter decepcionado a maior parte das pessoas que me cercam. Não vou encomendar pesquisas para recolher a opinião dos demais, mas uma consulta informal quanto à minha imagem talvez não fosse de todo descabida. 

Alguma regra de vida, alguma filosofia, mesmo barata?
            Aprenda, sempre, e ensine, o que sabe. Acumule e dissemine conhecimentos, seus e dos outros, processe e divulgue o que adquiriu no contato com os livros, na experiência de vida, na reflexão pausada, no contato com pessoas mais espertas do que você. Sempre se pode aprender algo de bom, de quaisquer experiências, mesmo as mais negativas. A humanidade só consegue avançar, no sentido moral da palavra “progresso”, quando as experiências e os saberes adquiridos são colocados à disposição do maior número.

Já preparou seu testamento (pelo menos intelectual)?
            Era só o que me faltava (e isso tem um lado fúnebre). Acho que, de certa forma, comecei agora mesmo, embora eu pretenda desenvolver isso em algum texto futuro (provavelmente sob a forma de um “testamento ético”). Em todo caso, preciso encontrar tempo para terminar de ler todos os meus livros (e depois distribuí-los). Acho que para isso precisarei de algo como 150 anos adicionais. Não sei se disporei de todo esse tempo.

Que mensagem importante deixaria ao mundo, na sua lápide, por exemplo?
            Um possível epitáfio (aliás vários, mas acho que tenho direito): “Foi feliz ao fazer o que fez. Aprendeu que o maior bem do mundo é converter-se em um multiplicador de conhecimentos. A humanidade não perde nada em dispor de indivíduos mais espertos, ou, pelo menos, de pessoas menos ignorantes. Esforçou-se para aumentar o número dos primeiros e diminuir o dos segundos, mas nem sempre foi bem sucedido. Não se pode fazer milagres…”

Bem, feliz aniversário, apesar de tudo.
Como “apesar de tudo”? O que fiz de errado ou de substancialmente equivocado? Que pessimismo é esse? A despeito das patifarias acumuladas pelos que nos comandam, nestes tempos de hipocrisia generalizada, de tantas falcatruas cometidas em nome do bem comum, de tanta roubalheira não sancionada pela justiça, a despeito disso tudo, creio que posso afirmar, como naquele filme singelo sobre o holocausto, que “a vida é bela!”
Acho que mereço desfrutar da vida como todo e qualquer indivíduo da espécie humana, de forma tão mais merecida quanto me sinto legitimamente orgulhoso ao olhar para trás e ver que, apesar do pouco que realizei, o que eu fiz, até aqui, pode ter servido, realmente, para tornar a vida de algumas pessoas um pouco melhor do que ela teria sido na minha ausência.
Cheers

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19 de novembro de 2006

Como e porque sou professor (2004) - Paulo Roberto de Almeida

Ainda a propósito de professores, no caso só um, eu mesmo...


A caminho de Ítaca...
como e porque sou professor

Paulo Roberto de Almeida

         De todas as ocupações que fui dado até agora exercer, numa vida nômade e aventurosa da qual guardo não poucos momentos de orgulho, a que mais prezo e valorizo, obviamente, é a de professor, ou melhor de orientador de ensino, uma vez que não sou professor em tempo integral, nem retiro meu principal ganha-pão dessa nobre função de ‘mestre de artes e letras’. Não sei, aliás, se tenho o direito de me considerar professor, no sentido estrito do termo, já que nunca fui treinado para tanto, desconheço as mais elementares noções de pedagogia e não tenho certeza, de fato, se ao exercer esse nobre ofício minha real intenção é a de tentar ensinar algo a outras pessoas ou, como parece mais provável, faço de tudo isso uma grande figuração e estou, de verdade, aprendendo algo novo cada vez que me ocupo dessa absorvente atividade.
         Antes que alguém pense que sou, apenas e tão somente, um grande ‘embromador’, utilizando-me de inocentes alunos para, constantemente, ensinar algo a mim mesmo, desejo retificar minhas palavras, e corrigir essa sensação de improvisação no trato com o corpo discente. Acredito ter realmente algumas coisas úteis a ensinar a outras pessoas, mais por desejo de transmitir coisas novas, que venho aprendendo desde muitos anos, ao longo de constantes e intensas leituras, do que propriamente por necessidade de ter uma segunda profissão (ainda que, de fato, eu a considere a minha primeira e eterna ocupação, ao lado desta mais formal que exerço temporariamente de diplomata). Com efeito, não retiro, como disse, meu sustento dessa atividade que muitos julgam paralela e exercida como uma espécie de hobby ou para complemento de salário. Longe disso, pois que nunca o fiz, pelo menos desde que ingressei no serviço exterior brasileiro, pensando nos retornos pecuniários que retiraria dessa dupla jornada de trabalho, muitas vezes estafante e exercida contra meu lazer pessoal ou dedicação à família, ou em detrimento da ainda mais prazerosa ocupação de simples leitor e escrevinhador de coisas várias.
         Nunca pensei em ser professor, achando que eu tinha, de fato, qualquer coisa de extraordinário para ensinar a “mentes inocentes”, ou que essa minha atividade temporária e fortuita iria fazer alguma diferença na futura capacitação profissional daqueles temporariamente colocados sob minha responsabilidade docente. O que de fato sempre me motivou a ensinar, ou pelo menos a transmitir conhecimentos, foi uma espécie de motivação interior, algo como uma compulsão inata que me impele a sistematizar o meu próprio conhecimento e tentar repassar aquela maçaroca de idéias e conceitos sob uma forma minimamente organizada, de forma a satisfazer minhas próprias necessidades em termos de racionalização do saber adqurido nos livros (e também na observação homesta da realidade) e de “atingimento” de uma nova síntese a partir desses conhecimentos dispersos na “natureza”. Estou parecendo muito dialético?
         Não importa, desejo confirmar e reafirmar que o que me impele a ser professor é mais uma força interna do que uma necessidade externa, quaisquer que sejam as outras motivações aparentemente altruísticas geralmente invocadas nessas circunstâncias (compromisso com o saber, transmissão de conhecimento, desejo de formar os mais jovens, atendimento de uma vocação e outras escusas do gênero). Sou professor porque eu mesmo “preciso” disso, não porque outros possam eventualmente precisar de minhas competências gerais ou habilidades específicas. Se desejar, você pode considerar isso altamente egoísta ou profundamente narcisista: não me importo com as classificações externas, pois minha motivação interior não vai mudar porque se descobriu, aparentemente, algum motivo menos nobre, ou passavelmente autocentrado nesta principal “ocupação secundária”. 
         É esta motivação interna, não necessariamente “espiritual”, que me leva a desviar-me de outras atividades, talvez mais prazerosas – como o próprio lazer pessoal, a convivência familiar ou o simples tempo alocado à minha outra compulsão não tão secreta que é o hábito da leitura –,  para dedicar-me a essas práticas docentes com uma certa regularidade e constância. Nem por isso desprovidas de algum retorno pecuniário: a despeito de já ter aceito dar aulas de mestrado gratuitas em universidade pública – e de dar incontáveis palestras sem nunca ter sequer invocado alguma remuneração em contrapartida, por vezes mesmo tendo incorrido em despesas pessoais de deslocamentos a outras cidades –, o essencial das minhas atividades docentes se faz segundo tradicionais práticas contratuais. Nem poderia ser de outro modo: se eu deixo de ler ou de escrever para dar aulas, que o ‘desvio’ de ocupação me permita ao menos alimentar esse terrível vício da compra de novos livros e periódicos.
         Tampouco eu poderia invocar como motivação ‘nobre’ a própria arte do ensino. Sendo eu mesmo um autodidata radical, não me preocupa tanto o que os alunos possam estar aprendendo, como o próprio conteúdo do que estou ensinando, que pretendo seja o mais claro possível, o mais didático e o mais completo dentro daquele campo de conhecimento. Transmito aquilo que sei, aos alunos, depois, o encargo de reter o novo saber, de complementá-lo com as muitas indicações de leitura que não me canso de fazer ou de interrogar-me sobre algum aspecto pouco claro ou solicitar esclarecimentos adicionais sobre ‘coisas’ passavelmente complexas, quando não prolixas (sim: tenho esse péssimo hábito, talvez pelo excesso de leituras, de “complicar inutilmente” a vida de meus alunos, estendendo-me sobre longos períodos históricos, voltando a um passado remoto para encontrar as causas de algum processo atual ou supondo um conhecimento geral, sobre o Brasil ou o mundo, que simplesmente não existe mais para a maior parte das gerações mais jovens). Nesse sentido, sou mais ‘substância’ do que ‘forma’, ao dar uma densidade no mais das vezes dispensável a um conteúdo de aula que a maior parte dos alunos provavelmente preferiria superficial ou no estrito limite do “necessário para fazer a prova”. Mas, como disse, não estou principalmente preocupado com o que os alunos possam ‘aprender’ e sim com o que eu mesmo possa ensinar.
         Tratar-se-ia, por acaso, de uma “má técnica docente”? Talvez, ou quem sabe até, certamente. Minha didática está em ensinar, ou transmitir conhecimentos, julgando que os alunos, ou ouvintes de alguma palestra, serão suficiente maduros ou responsáveis para procurar, depois, seu próprio aperfeiçoamento cultural ou intelectual, cultivando as boas práticas do autodidatismo que eu mesmo reputo valiosas para mim mesmo (e assim tem sido desde os tempos remotos em que aprendi a ler, na ‘tardia’ idade de sete anos). Tão motivado sou pela necessidade interior e imperiosa de ensinar, que procuro estender a tarefa além das quatro paredes da sala de aulas ou de um auditório ou seminário acadêmico. Pela necessidade de complementar esse ensino fora do período ‘normal’ de atividade docente, criei e mantenho, praticamente sozinho (sem possuir as técnicas para tanto) um site de informação com motivações essencialmente didáticas. Também tenho produzido material impresso como derivação ou complementação das atividades didáticas: praticamente todos os meus livros – com exceção de um grosso ‘tijolo’ de pesquisa histórica – resultaram de aulas dadas, conferências pronunciadas, palestras proferidas, seminários a convite (sim, nunca me ‘convidei’ para qualquer tipo de atividade externa, tanto porque não conseguiria atender a todas essas oportunidades).
         Tanto o site como os livros e trabalhos publicados, bem mais até do que as aulas dadas em caráter necessariamente restrito, constituem, obviamente, oportunidades para aparecer em público, me tornar conhecido, quem sabe até ‘famoso’ em certos meios. Seria, então, por algum secreto desejo de prestígio pessoal, de reconhecimento público, de notoriedade acadêmica, que me obrigo a todas essas atividades cansativas, que não raro penetram fundo na madrugada e ocupam quase todos os fins de semana, para maior angústia familiar e evidente cansaço cotidiano?
         Não posso, honestamente, recusar esse aspecto da ‘necessidade de reconhecimento’, talvez uma demonstração de ‘desvio de personalidade’, buscando na exposição pública e no aplauso dos demais uma satisfação de alguma necessidade ‘secreta’ que o excesso de timidez me impediria de realizar de outro modo. Não creio, todavia, que esse aspecto seja determinante, tanto porque tenho inúmeros outros trabalhos que permanecem rigorosamente inéditos ou porque mantenho, em paralelo, alguma atividade de correspondente dedicado – e não apenas em direção dos muitos alunos que me procuram pedindo ajuda em trabalhos ou projetos de estudos – e algumas colaborações regulares (em matéria de livros, por exemplo) com determinados veículos de divulgação que não necessariamente levam minha assinatura.
         A principal motivação, volto a reafirmar, é interna, e deriva dessa minha inclinação pelo estudo, pela sistematização do conhecimento, pela necessidade de eu mesmo ver claro no emaranhado de informações que recolho diariamente de livros, jornais e revistas, pelo desejo subsequente de organizar o conhecimento adquirido em uma nova ‘síntese combinatória’ e pela motivação ulterior de tentar alcançar um público mais amplo ao colocar no papel, se possível impresso e publicado, essa massa de conhecimentos que adquiro de forma contínua e de modo interminável. Tanto é assim que acabo aceitando, contra a opinião familiar e contra o que seria sensato do ponto de vista profissional, dar palestras em alguns cantos recuados desse país continente que é o Brasil (e até mesmo em outros países), sem outra motivação aparente (e real) do que a de atender à solicitação de algum grupo de estudantes que acabaram descobrindo, na internet ou nas bibliografias, algum livro ou trabalho meu, que estiveram na origem dos convites.
         Sem pretender dar qualquer conotação de ‘épico literário’ a esse meu ativismo docente, algo de “jornada de Ulisses” pode estar escondida nas minhas aventuras didáticas, no mar revolto das instituições de ensino superior e nas enseadas mais movimentadas dos seminários acadêmicos. Com efeito, minha busca incessante de ‘complemento professoral’ às atividades profissionais normalmente desempenhadas no âmbito da carreira diplomática – já por si suficientemente absorvente – pode ter esse sentido de unending quest, de busca incessante de algo mais, ou de itinerário contínuo em direção de algo valorizado, que eu não bem precisar o que seja, exatamente.
         Na verdade, a comparação pode ser enganosa, pois mesmo Ulisses sabia para onde queria ir, e a esse objetivo dedicou todo o tempo do retorno de Tróia, ainda que tivesse sido constantemente desviado de alcançar seu destino final pelas trapaças da sorte e pelos acasos da vida. De minha parte, eu não sei exatamente o que persigo ao me ‘obrigar’, literalmente, a exercer uma ‘segunda’ – ou primeira? – profissão, ao lado daquela que me distingue socialmente, que me define institucionalmente e que me remunera essencialmente.
         Independentemente do destino final, o caminho de Ítaca é, ele mesmo, a aventura de uma vida inteira, uma experiência gratificante (por vezes ‘mortificante’) e, de certa forma, um reconhecimento implícito de uma certa ‘dívida social’ que eu desejaria amortizar da forma mais inconsciente possível. Como seria isso? Sendo eu originário de família modesta, morador, até a adolescência tardia, de uma casa onde eram poucos os materiais de leitura e relativamente raros os ‘livros sérios’, tendo feito toda a minha educação formal em instituições públicas e tendo tido a chance de poder frequentar, desde muito jovem, uma biblioteca infantil, aprendi a valorizar tremendamente o hábito da leitura e o auto-aprendizado. Sou, essencialmente e verdadeiramente, um autodidata, no sentido mais completo e profundo da palavra, algo não necessariamente extraordinário ou excepcional, mas que no meu caso corresponde inteiramente a toda uma realização de vida que devo reconhecer e valorizar honestamente.
         Mas, onde entra Ítaca nessa história de self-made intellectual, de sucesso profissional pelo esforço próprio, de mérito social pelo empenho no estudo e no trabalho? Creio que Ítaca é uma espécie de ‘Santo Graal’ intelectual que persigo por simples desencargo de consciência. Como aprendi por mim mesmo, mas também aprendi porque frequentei escolas públicas que num determinado momento eram ‘boas’ – mas que hoje são passavelmente sofríveis, quando não insuficientes para formar qualquer estudante para o ingresso no terceiro ciclo – e sobretudo aprendi porque tive à minha disposição uma biblioteca repleta de livros interessantes, acredito que ao me obrigar a dar aulas eu esteja, talvez inconscientemente, procurando dar aos outros aquilo que eu mesmo tive como ‘oferta da sociedade’, basicamente uma boa escola pública e uma ‘grande” biblioteca infantil.
         São essas instituições que fizeram de mim o que sou hoje – ademais do esforço próprio no estudo e na leitura, por certo – e aparentemente eu tenho um certo calling, um certo dever de consciência de contribuir em retorno ao que obtive em priscas eras (com perdão pela horrível expressão ‘pasteurizada’). Obviamente não estou retribuindo na justa medida, pois que dou aulas e orientação a ‘marmanjos’ do terceiro ciclo, não a ‘pequenos inocentes’ dos dois ciclos anteriores, mas é o que eu posso fazer, com meu singular  despreparo para aulas de ensino fundamental, e meu (reconheçamos) bom preparo para o ensino especializado, fortemente intelectualizado.
         Voilà, minha ilha de Ítaca é uma espécie de miragem, um ponto não alcançável no horizonte, jamais realizado ou realizável, mas que conforma um objetivo material (e ‘espiritual’) que me traz imensa satisfação pessoal: a necessidade de ensinar, um desejo (agora não tão secreto) de contribuir para o engrandecimento alheio tomando como ponto de partida os conhecimentos que fui adquirindo ao longo de uma vida razoavelmente feliz, ainda que materialmente difícil, feita de muito estudo, de leituras intensas, de escrituras compulsivas, de perorações infinitas, de um constante navegar em busca de mais conhecimento, de mais informação, de um pouco mais de compreensão (no sentido weberiano da Verstehen). 
         Não sei, aliás, se chegarei a alguma Ítaca algum dia: a sensação que mais tenho é a de que sempre há uma nova porção de mar para além do horizonte, de que a busca por conhecimento é infindável e propriamente inesgotável. Mas, pelo menos, não busco o conhecimento pelo conhecimento, não me retiro nos prazeres secretos da leitura pela leitura, como esses leitores de Proust que fazem da busca do tempo perdido um exercício de indeclináveis características de ‘eterno retorno’.
         Eu acredito na ‘flecha retilínea do tempo’ (com os habituais acidentes de percurso), acredito que o saber tem um caráter instrumental, de liberação, de capacitação humana, de engrandecimento social, de aperfeiçoamento da humanidade, de busca de valorização do que é belo, do que é útil e, sobretudo, do que é bom. Nesse sentido, não sou relativista, nem agnóstico: acredito que o exercício das paixões humanas – e, no caso, minhas atividades didáticas ou professorais constituem uma ‘paixão’ – podem e devem servir a algo de valorizado socialmente, não para uma mera satisfação pessoal de fundo egoísta.
         Repito: dou aulas ou orientação com um certo sacrifício pessoal e familiar, e de forma nenhuma motivado pela remuneração ou pelo prestígio vinculado a essas atividades. Eu o faço por necessidade interior e motivado por um sentimento que poderia, honestamente, classificar como ‘nobre’. Retiro satisfação social dos encargos docentes auto-assumidos, mas sobretudo retiro satisfação pessoal pelo fato de estar ensinando algo a mim mesmo: esse algo é a consciência de que pertencemos a uma entidade que nos transcende – sem qualquer espiritualismo aqui – e que precisa melhorar constantemente para que nós mesmos possamos ter motivos contínuos de satisfação social ou pessoal.
         Sou perfeitamente materialista, mesmo correndo o risco de ser incompreendido por causa desse conceito tão carregado de significados obscuros e supostamente ‘vulgares’. Acredito que a elevação da humanidade se dará por força e empenho pessoal de seus componentes irredutíveis, que são os seres humanos como eu e você, que me está lendo neste momento. Eu procuro, modestamente, contribuir com o meu pequeno esforço para a elevação dos padrões materiais e morais da humanidade. Por isso tenho orgulho em ser professor ou orientador, mesmo não necessitando fazê-lo por razões objetivas ou externas.
         Se não me falharem as forças, continuarei a caminho de Ítaca pelo resto de meus dias...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 1345: 18 de outubro de 2004

 Postado originamente no blog DiplomataZ (23.11.2009; link: http://diplomataz.blogspot.com/2009/11/24-por-que-sou-professor-uma-reflexao.html). Repostado no blog Diplomatizzando, 15/10/2015 (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2015/10/a-caminho-de-itaca-como-e-por-que-sou.html).


domingo, 16 de outubro de 2016

Como e por que sou e nao sou diplomata? - Paulo Roberto de Almeida

Como e por que sou e não sou diplomata?

Paulo Roberto de Almeida

Se não sou exatamente diplomata, ou melhor, se sou diplomata, sendo também um tanto anti-diplomata, como eu poderia, então, ser classificado? 
Difícil encontrar uma designação única, ou unívoca, que sintetize num conceito singular minhas características múltiplas. Talvez eu devesse tentar uma definição de caráter múltiplo, algo mais ou menos assim: sou marxista, capitalista, não-religioso (ou talvez mesmo irreligioso), racionalista, anarquista político, social-democrata econômico e liberal dissidente em matérias de cultura e vida social, talvez mesmo um tanto iconoclasta e irreverente.
Vamos por partes. Marxista não é minha condição primeira, obviamente, mas é que me definiu do ponto de vista intelectual e enquanto formação acadêmica, aliás desde antes de ingressar na academia. Sei que o conceito, o adjetivo mais bem, se presta a muitas interpretações, a maior parte das vezes equivocadas em relação ao verdadeiro significado teórico do epíteto “marxista”. Vários de meus amigos “neoliberais” ou simplesmente “desideologizados” receberão tal tipo de designação ou definição como uma demonstração de surpreendente ingenuidade de minha parte, ou mesmo como a preservação irracional de velhas etiquetas ideológicas ou de um esquerdismo demodé e vagamente inconseqüente. Mas o marxismo me parece ser um instrumento ainda válido como método geral de análise, sem que eu subscreva a todas as conseqüências práticas ou mesmo implicações filosóficas do pensamento de Marx e sobretudo a suas derivações econômicas. É nesse sentido que me defino como um marxista capitalista, subscrevendo inteiramente a uma análise histórica do capitalismo, que tem muito a ver com a dinâmica do capital, em sua dimensão mais braudeliana, talvez, do que propriamente marxista.
Assim como o “marxista-existencialista” Jean-Paul Sartre achava que o marxismo constituía o “horizonte insuperável de nossa época”, eu também acho, em bom marxista, que o capitalismo se apresenta como uma espécie de horizonte insuperável de nossa época, pelo menos em suas manifestações “naturais” de funcionamento de mercados e em relação às suas tendências à acumulação ampliada de capital. 
Sou marxista, mas não religioso, entendida a boutade, obviamente, neste sentido especificamente marxista ou de qualificação filosófica, terreno no qual muitos dos marxistas teóricos ou práticos, mesmo contemporâneos, desenvolvem uma espécie de fervor religioso que os faz aderir a todos os instrumentos do culto sem rejeitar absolutamente nada, atitude da qual decorre um certo dogmatismo e uma espécie de cegueira mental que em muito prejudica uma análise marxista desprovida de preconceitos políticos. Sou irreverente e iconoclasta também em relação ao marxismo, por isso me afirmo como marxista não-religioso, o que vale dizer, sem dogmas e sem prejuicios, no sentido espanhol de idéia pré-concebida.
Minha irreligiosidade também se estende, cabe esclarecer desde já e de modo totalmente transparente, ao terreno propriamente religioso, onde não cultivo nenhum ateísmo ou deísmo particular. Não se trata de materialismo ou de anti-religiosidade, uma vez que não ostento nenhuma animosidade particular contra as religiões, ainda que eu tenha críticas pontuais contra ritos religiosos em geral e uma crítica geral contra uma religião em particular. As liturgias e práticas correntes dos cultos religiosos me parecem um tanto ultrapassadas, incompatíveis com a vida moderna, ainda que compreensíveis no terreno da tradição e da identificação comunitária. Preconceitos alimentares e normas de abstinência, aceitáveis num contexto pré-científico ou de precárias condições sanitárias e higiênicas, me parecem ridículos hoje em dia, ainda que eu respeite o direito dos crentes de praticarem tais “crendices”. O Brasil, país de muitas crenças e muita “flexibilidade” religiosa, convive com uma certa facilidade com essas obrigações rituais e normas comportamentais, nem todas seguidas “religiosamente”. Muito judeu, por exemplo, não hesita, numa churrascaria, a “traçar” uma boa linguicinha de porco, da mesma forma como nossos muçulmanos são muito pouco abstêmios, sobretudo na perspectiva da cervejinha da sexta-feira à noite. Isto é saudável e perfeitamente normal. 
Mas voltando à minha irreligiosidade, ela não é dogmática, e aceito participar de cultos e educar familiares na tradição cristã, que faz parte, finalmente, de uma certa tradição cultural. O mais importante, porém, são os valores, e desse ponto de vista, creio que as religiões cristã, judaica e budista ostentam um conjunto de valores positivos para o desenvolvimento moral da humanidade, para uma saudável ética respeitadora da vida e de certos princípios de tolerância e solidariedade, que foram (e são) extremamente positivos num mundo muitas vezes entregue a ditadores sanguinários que professam total desprezo pela vida humana e pelos valores da justiça e da verdade (sim, acredito que possa e deva haver alguma verdade, válida em várias épocas e para todos os homens, e desse ponto de vista não sou nenhum relativista histórico ou cultural).
Não sendo religioso, sou obviamente racionalista, mas não no sentido filosófico, uma vez que não pretendo defender nenhuma tese coerente sobre minha irreligiosidade e minha preferência pela cientificidade, ou melhor, pelo argumento socrático em busca da verdade. Há certas coisas, obviamente, que não podemos saber, ainda, mas eu não faço disso um motivo para elevações espirituais, ao contrário. Acredito que devemos continuar na busca de respostas racionais aos problemas da vida e da existência física. Não creio que, sendo racionalista, tenha qualquer obrigação de provar nada racionalmente, nem contra ou favor da existência de alguma entidade superior, que normalmente se chama Deus. Não é que esta hipótese não se coloca para mim, como disse um famoso filósofo, ou pensador, da época da Revolução francesa. Apenas que o problema religioso não se coloca para mim como um “problema”, trata-se, se tanto, de uma conveniência social que aceito, mas não discuto. No mais, procuro guiar minhas reflexões do modo mais racional possível, isto é, buscando razões, inquirindo, questionando, raciocinando, formulando teses ou hipóteses sobre como poderia ser isto ou aquilo. Verdades absolutas sempre são incômodas para um racionalista como eu, e geralmente me atenho aos problemas sociais, políticos e econômicos que compõem minha agenda de trabalho “normal”.
Sou também anarquista, como disse, mas de um anarquismo muito particular, sem qualquer fanatismo ou devoção especial, como seria de se esperar. Meu anarquismo está mais na recusa de autoridades, qualquer autoridade temporal, que não seja a da razão argumentada, isto é, a do debate racional em torno das “boas” respostas (ainda que isso possa parecer ilusório) a um determinado problema prático da humanidade. Meu anarco-marxismo se prende portanto ao meu caráter iconoclástico ou irreverente que exibo em relação às chamadas idées reçues, isto é, verdades presumidas, de fato “falsas verdades”. Essas received ideas não costumam resistir ao escrutínio da crítica severa, mas apenas os anarquistas intelectuais são propensos a contestar esses argumentos do senso comum tidos como verdadeiros, daí meu anarquismo conceitual, ou “idealista”. De certa forma, também sou anarquista em política, o que é uma decorrência lógica do anarquismo intelectual, uma vez que raramente aceito imposições autoritárias vindas de quem quer que seja. Isso pode ser difícil em instituições burocratizadas, caracterizadas, como aquela na qual trabalho, pela hierarquia e pela disciplina. Mas trata-se de um fato da vida, que deve ser aceito nos limites estritos do trabalho profissional, não transplantado para o terreno dos argumentos lógicos ou de debate de idéias. Com efeito, nunca deixei que a razão burocrática da hierarquia tolhesse de alguma forma o pleno desenvolvimento de meu trabalho especializado na burocracia diplomática, ainda que isto por vezes conforme alguma dificuldade ou outra no relacionamento profissional. Argumentos devem ser aceitos em sua consistência intrínseca e em sua validade própria, não em função de quem os expede ou formula. Nisto sou um anarquista radical.
Do ponto de vista econômico, entretanto, abandonei o antigo socialismo ingênuo do tipo estatizante, que mantive até o início dos vinte anos (e até conhecer os socialismos “reais”), em favor de soluções reformistas dentro do capitalismo, concebido este não como um sistema racionalmente construído pelos homens, mas derivado de um processo histórico impessoal e incontrolável por qualquer força da natureza (ainda que ele possa ser parcialmente “moldável” pela ação social). É o que eu chamo de social-democracia pragmática, ou seja, não ideológica, mas guiada tão simplesmente pela busca do maior bem-estar para todos os membros da comunidade, a começar pelos mais humildes. 
Ora, sendo um “marxista-capitalista”, por que não aderir simplesmente a uma modalidade liberal de economia, a mais conforme os “instintos naturais” do capitalismo? Talvez porque acredite, como muitos outros economistas, que a “ciência lúgubre” não seja verdadeiramente uma ciência, mas um conjunto de técnicas e instrumentos relativos a uma determinada época e a certas condições sociais, sendo suscetível, portanto, de receber interpretações diversas e de exercer influência sobre os sistemas sociais num sentido mais “liberal” ou mais “guiado” pela ação humana. Ainda que eu não acredite que decisões humanas (sociais, se quisermos) sejam isentas de julgamentos de valor ou de preferências “econômicas”, tampouco acredito que os mercados atuem de modo cego o tempo todo, uma vez que submetidos à ação desses mesmos grupos e indivíduos mais poderosos, o que é feito quotidianamente aliás, de forma consciente ou inconsciente. Daí minha preferência por um tipo de política econômica levemente social-democrata, que busca, justamente, “adaptar” os mercados a certas “necessidades” humanas.
Tenho plena consciência que essa busca se solda, em grande parte das vezes, por desastres econômicos, já que dirigentes ou burocracias mal instruídos ou mal informados terminam por deformar o jogo econômico, introduzindo distorções que provocam um prejuízo maior ao que intentavam prevenir, geralmente em detrimento dos grupos sociais mais desprovidos de influência no jogo político. Ainda assim, sendo realista, não acredito que qualquer governo, independentemente do credo político ou preferências ideológicas dos dirigentes no poder, pratique de verdade o liberalismo econômico e todos eles, mesmo os hayeckianos mais afirmados, tenderão a agir sobre o mecanismo econômico da sociedade, num sentido mais liberal ou mais intervencionista. Ora, isso retira ipso facto o caráter “liberal” da política econômica, uma vez que nenhum governo moderno pode hoje permitir-se praticar o laissez-faire puro. Sendo assim, melhor ser um social-democrata consciente do que um liberal frustrado.
Por fim, em matérias políticas e culturais, não tenho restrições em afirmar meu liberalismo radical, já que nesses campos a diversidade deve ser de rigor e a tolerância mútua uma obrigação. Esse tipo de liberalismo cultural não deve contudo ser confundido com o liberalismo clássico, ainda que eu tampouco tenho reservas quanto a ele, mas é que o liberalismo clássico afirma a autonomia do indivíduo “contra” o Estado, e eu entendo que esse tipo de autonomia tornou-se algo ilusória nas condições concretas do Estado moderno. A regulação social é um fato, contra a qual não há liberalismo que resista. Mas, em matéria cultural, sou pelo “florescimento das cem flores” e pela maior liberdade possível. 
Nada do que eu disse, ou revelei aqui, afeta minimamente o meu “ser” diplomata, ainda que possa afetar o meu modo de “fazer” diplomacia, nas condições concretas do Brasil, ainda tão bacharelesco e dotado de uma cultura cívica tão pouco desenvolvida. Não que eu faça diplomacia como Monsieur Jourdan fazia prosa, ao contrário: meu exercício de combinação de obrigações profissionais, de inclinações acadêmicas e de orientações políticas e econômicas é feito da forma mais consciente possível, muitas vezes com separação estrita dos “atores” que atuam num terreno ou noutro. Essa distinção não é fácil de ser feita, uma vez que muitas vezes somos levados, em face de declarações pouco esclarecidas de determinadas personagens políticas, a tentar “corrigir” ou comentar esses equívocos que se lêem na imprensa. Um exercício de auto-contenção é necessário.
Como resolver esse dilema moral entre o servidor público disciplinado - pois que o diplomata não pode ser senão um “servo” da máquina pública - e o “escrevinhador” político que tenho a pretensão (talvez indevida) de ser? Como equacionar moderação burocrática e conformidade aos preceitos de reserva do agente público com a vocação de debatedor social que emerge de uma orientação intelectual propensa ao diálogo - à polêmica, mesmo - e à participação na ação política? Não há uma resposta fácil e, de fato, não há nenhuma receita para a combinação adequada desses elementos por vezes díspares e contraditórios de conduta social. Daí minha definição preferencial por uma situação de “ambigüidade construtiva”, como se diz da linguagem de certos acordos ou tratados internacionais: sou um diplomata um tanto anti-diplomata, ou talvez eu seja um “escrevinhador” político que exerce a diplomacia nos desvãos de uma atividade que não se esgota nas oito horas cotidianas devotadas à burocracia governamental, mas que se estende por horas a fio, noite adentro, no diálogo solitário com os livros e o computador.
Como diria Gilberto Freyre a propósito de sua condição de sociólogo, não sou, nem pretendo ser, um diplomata puro, mas aspiro a bem exercer minha “profissão” de diplomata, inclusive por uma questão de responsabilidade social e de consciência pessoal. No resto do tempo, contudo, continuarei sendo aquilo que sempre fui, desde minha primeira adolescência, e exercendo meus dotes nos terrenos de minhas poucas vantagens comparativas: sou um “escrevinhador” político, anarco-marxista, capitalista, irreligioso, racionalista, social-democrata e liberal.
Por muito menos Marx lançou contra Proudhon, em sua célebre diatribe Miséria da Filosofia, uma frase cruel: “C'est la contradiction fait homme!” Ao que eu responderia: Soit! (Sim, eu tinha esquecido de mencionar minha iconoclastia também em relação ao marxismo nesta síntese final.) Voilà: creio que minha apresentação está agora completa.

(2002)

Meus "metodos" de leitura (tenho algum?) - Paulo Roberto de Almeida

Meus "métodos" de leitura...

Paulo Roberto de Almeida 

Não tenho propriamente “um” método de leitura, ou melhor tenho vários, flexíveis, adaptáveis às circunstâncias de tempo e lugar, de conforto e luminosidade, de pressa ou urgência, e, last but not the least, em função da natureza e da “grossura” (isto é, do volume) do livro.

Nos tempos da brilhantina, isto é, na era pré-computador, eu mantinha vários cadernos de leitura, geralmente quadriculados (são os que apresentam maior densidade de escritura por centímetro quadrado), nos quais eu ia anotando minhas leituras, fazendo transcrições de trechos das obras, agregando meus comentários críticos, enfim, guardando resumos para utilização futura. Eu tinha um caderno para cada área de conhecimento: sociologia, antropologia, história, problemas brasileiros (vários cadernos), marxismo, filosofia etc. Tomava o cuidado de encapá-los e até de fazer um índice. Eles me foram de uma preciosa ajuda quando da elaboração da tese de doutoramento.

Mas esse método é útil quando se tem a sorte de ser estudante em tempo integral, quando se pode passar dias e dias em bibliotecas agradáveis, percorrendo estantes, ou quando se está no recesso do lar, sem maiores obrigações do que as propriamente acadêmicas. Na vida profissional, a disponibilidade para leituras cuidadosamente anotadas se torna mais rara. Por isso, fui também adquirindo o hábito de fazer breves anotações em cadernetas pequenas, geralmente uma referência ou outra para registro rápido e lembrança futura, esperando que a oportunidade para a "grande leitura anotada" possa vir algum dia (que ilusão!).

Na era do computador, passei obviamente a fazer os registros diretamente em arquivos de texto, organizando as minhas leituras e anotações em pastas eletrônicas, divididas por assuntos (dezenas deles), numa grande pasta chamada de “Working”. Tenho centenas, provavelmente milhares de “working files”, esperando nova consulta no computador. De toda forma, quando preciso de algo, basta fazer um “search” no meu computador – agora no sistema “Spotlight” da Apple – e encontro coisas fantásticas, que nem eu mesmo suspeitava existir e das quais não me lembrava mais.

Não preciso dizer que estou lendo o tempo todo, de manhã, de tarde, no almoço, na janta, de noite, de madrugada e nos intervalos também, às vezes até dirigindo o carro (o que sinceramente não recomendo a ninguém). Só não leio durante a ducha porque ainda não inventaram livros impermeáveis, mas os “audio-books” podem ser uma solução a isto (mas ainda não encontrei Max Weber ou Adam Smith em audio).

Agora que desisti de fazer grandes leituras anotadas, leio rápido, muito rápido mesmo, pois minha grande familiaridade com os livros me habilitou a ler aquilo que é relevante em cada livro, de maneira a “liquidar” com um volume em muito pouco tempo, e nele selecionar aquilo que interessa de fato na obra, para apresentação a outros.

Sim, devo dizer que sempre estou lendo com o propósito de fazer alguma resenha, o que é uma maneira prática de ir realmente ao essencial do livro, e de me obrigar a acompanhar o que se publica de mais importante em minhas áreas de interesse.

Voilà, o que escrevi acima pode não ser uma exposição metodológica muito adequada para outros candidatos a leituras intensas, mas representa o meu método anárquico de leitura e de registro do conteúdo dos livros. Espero que seja útil...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 18 dezembro 2005

Pensando no pior: do que eu tenho escapado? Parece incrivel, mas a idiotice sobrevive...

Eu recebo muitos convites (que não posso aceitar todos) para falar para estudantes, geralmente universitários (mas não recusaria tampouco para outras categorias, dos diversos ciclos, do pré-primário ao pós-doc).
Habitualmente, se trata de questões de relações internacionais, política externa brasileira, mas também de políticas econômicas ou problemas atuais do Brasil.
Tenho tido sorte: os convites costumam vir de pessoas sensatas, grupos ou movimentos já identificados com certo universo conceitual, ou filosófico, que se aproximam daquilo que eu mesmo penso sobre os diferentes problemas que me requerem discutir.
Mas não considero isso uma vantagem, ao contrário. Não ser contestado em meus argumentos representa, de certa forma, algo como chover no molhado, falar para os já convertidos, para os like-minded guys, pessoas (estudantes, professores, curiosos) que geralmente partilham das mesmas convicções e tendem a concordar comigo (até aplaudir, o que me constrange, pois preferiria debate, contestação, contrarianismo).
Pois é, recebendo boletins diários de gregos e goianos, das mais diversas fontes, do bom, do mau e do feio, posso fazer uma ideia do que anda pela cabeça desses goianos (sem preconceito aqui, apenas para não falar mal dos troianos, dos persas, sei lá).
Agora imaginem se eu tivesse de debater com pessoas que leem estas coisas, que concordam com estas coisas, que acreditam nestas coisas?
Será que o debate político e econômico no Brasil continua subdesenvolvido?

Apenas uma pequena seleção do que estava no boletim que recebi hoje (16/10/2016) de uma dessas fontes muito usadas por professores e alunos em nossas academias, e que tem orgulho de se colocar num espaço etéreo chamado "pós-capitalismo" (onde está, quem já viu?, como posso chegar lá?):

O Ocidente declina, mas os EUA conservam o poder militar decisivo. A crise do capitalismo arrasta-se, espalha insegurança, corroi a democracia. Onde encontrar a esperança? Por Ignacio Ramonet

Surreal: ao divulgar a lista dos estabelecimentos com melhores notas no exame, ministério não tabulou 275 Institutos Federais de excelência. "Equívoco"? Ou interesse em valorizar ensino privado? Por Helena Borges

Venezuela:há saída à esquerda?
Há quem pense que o problema não é rebeldia demais -- mas de menos


Tem mais, muito mais. O que está acima é apenas de um boletim. Todos os dias me chegam maravilhas desse tipo.
O que eu faria com gente assim? Como conseguiria discutir com trues believers?
Desafio...
Paulo Roberto de Almeida

Marcos Lisboa discute os problemas econômicos correntes, no Brasil e no mundo


Seminário PEC 241 e a dimensão fiscal da crise
Publicado em 28 de set de 2016
Marcos Lisboa. 23/09/2016

Parte 1 (de 8):
 22.678 visualizações (até 16/10/2016)

Parte 2 (de 8): 
https://www.youtube.com/watch?v=zRSMu7Adfj4&list=PLSp7l06tKgYBNNVIOgu4nxfs64t-K4yn9&index=2

Parte 3 (de 8), aqui com uma contraposição por parte de Laura Carvalho: 

https://www.youtube.com/watch?v=_TKdx6vgO9g&list=PLSp7l06tKgYBNNVIOgu4nxfs64t-K4yn9&index=3

etc....

Nos videos 6 e 9, o economista Marcos Lisboa desmantela os argumentos canhestros da economista Laura Carvalho, uma típica representante do desenvolvimentismo primário, maniqueista, falsamente progressista, e notoriamente pobre em fundamentos empíricos de suas opiniões impressionistas. Dá até dó da moça. E isso é uma professora da prestigiosa FEA-USP, que já tem uma outra do gênero, ou pior, marxista primária, que é a Leda Paulani. Pobres alunos...
Paulo Roberto de Almeida