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terça-feira, 11 de junho de 2019

Seminário sobre globalismo no Itamaraty: relato de Eliane Oliveira (O Globo)


Esta matéria da jornalista do Globo dá uma aparência de discurso racional ao que constituiu apenas uma aglomeração de frases desconexas do chanceler, pretendendo juntar “elementos historicamente verificáveis”, como as democracias liberais do Ocidente, com noções altamente questionáveis no plano das políticas nacionais, como podem ser o papel de Deus e o espaço dos sentimentos religiosos na vida das nações. Tratou-se, provavelmente, da primeira vez em que as nações ocidentais, ao preservarem suas instituições estáveis, no curso da formidável implosão do socialismo no mundo, foram acusadas de se terem rendido ao comunismo, que no mesmo momento estava sendo jogado na lata de lixo da História. Uma interpretação sem dúvida original, ainda que canhestra, das relações internacionais contemporâneas, aparentemente dominadas por esse monstro metafísico do globalismo. O assessor internacional aterrorizou os presentes ao seminário com os imensos perigos que um punhado de burocratas não eleitos, pontificando a partir das organizações multilaterais, fazem correr aos Estados nacionais, castrados em sua soberania. O mundo está perdido...
O chanceler já pode ser admitido na Academia Tabajara de Filosofia e o assessor internacional, dotado de poucos estudos, deveria completar suas leituras de relações internacionais em alguma Faculdade Tabajara de Ciência Política.
Ambos devem ter combinado a divisão do besteirol que a audiência teve de suportar no seminário do Itamaraty, uma instituição que já abrigou coisas bem melhores...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de junho de 2019

'Estamos tentando recuperar o coração da sociedade liberal', diz chanceler de Bolsonaro

Ao abrir seminário sobre 'globalismo' no Itamaraty, Ernesto Araújo afirma querer recompor alma conservadora

POR ELIANE OLIVEIRA
| Atualizado: 

BRASÍLIA — O ministro das Relações ExterioresErnesto Araújo, disse que o Brasil tem um papel fundamental no combate ao "globalismo" — expressão usada pelos movimentos de direita para se referir a instituições internacionais que acusam de interferir na soberania dos países e tentar apagar as tradições nacionais. Em um seminário que promoveu ontem sobre o tema no Itamaraty, Araújo disse que o presidente Jair Bolsonaro fez algo inédito quando mencionou Deus em seu discurso no Fórum Econômico Mundial de Davos, em janeiro deste ano.
— O Brasil tem um papel fundamental. Estamos entrando para tentar recuperar o coração da sociedade liberal e recompor a alma conservadora. É a preservação de um conceito profundo de dignidade humana. Alguém que se relaciona com Deus. Deus em Davos — disse o chanceler a um auditório lotado, na Fundação Alexandre de Gusmão, ligada ao Ministério das Relações Exteriores.
No governo Bolsonaro, os seguidores do guru da direita Olavo de Carvalho reivindicam fazer parte do movimento antiglobalista, cujo expoente internacional é Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump. Para eles, o "marxismo cultural" passou a dominar as instituições internacionais, como as das Nações Unidas, em uma espécie de nova versão do antigo internacionalismo socialista.
Ao abrir o seminário que reuniu representantes da direita nacional e internacional, Araújo afirmou que o globalismo ocorreu no momento em que o comunismo “tomou o coração dos liberais”. Para o ministro, tudo começou há cerca de cem anos, quando o filósofo Friedrich Nietzsche passou a propagar com ênfase o niilismo que, segundo o chanceler, nada mais é do que o fim da crença em Deus.
— O comunismo e o nazifascismo dependem da morte de Deus e do fim do antropoteísmo (representação da divindade sob forma e atributos humanos). Ambos instalaram o antropocentrismo radical, como se estivessem libertando o homem — afirmou Araújo.
Tanto o chanceler quanto o assessor internacional do Planalto, Filipe Martins, procuraram criticar tanto o comunismo quanto o nazifascismo. Correntes da direita ultranacionalista, que os dois costumam elogiar, têm sido associadas a características do fascismo por historiadores e analistas.
Araújo disse que economias liberais “ligadas à ordem divina” foram a espinha dorsal do Ocidente, o que segundo ele permitiu a vitória sobre o nazifascismo e o enfrentamento do comunismo a partir de 1945, graças à fusão do liberalismo e da fé cristã. Depois de 1989, porém, “alguém achou que não precisava mais do conservadorismo nas democracias liberais”, disse o chanceler:
— Expulsaram Deus do lado liberal. Mas no corpo das democracias liberais continuava a bater um coração conservador.
Já Filipe Martins deu a seguinte definição para globalismo: é a tentativa de instrumentalização política e ideológica da globalização, para empoderar um conjunto de burocratas não eleitos e os grupos de interesses que têm acesso a eles.
— Não há apenas um projeto globalista. É um método de domínio e exercício do poder. As finalidades apontadas pelos globalistas são a paz e a prosperidade. Se olharmos o comunismo e o nazifascismo, eles também prometiam isso — disse Martins.
O americano Cris Buskirk, editor da revista American Greatness (Grandeza Americana), disse que os presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro são nacionalistas, patriotas e "respeitam seus povos". Segundo ele, os dois se recusam a abrir mão da soberania de seus países em favor de entidades supranacionais:
— Há algumas exceções, como a Cruz Vermelha, que faz um bom trabalho. Mas há organizações que têm outras metas e visam ao poder político para exercer influência.
Convidada a falar sobre "globalismo e a educação", a deputada Christine Nogueira (PSL-RJ) afirmou que os globalistas atuam prioritariamente na área educacional. Entre os seus objetivos, disse, está o de destruir a família.
— Se eu não quero que a família seja respeitada, eu preciso destruí-la. Estamos transformando as escolas em empresas em que os alunos não passam de consumidores e os professores, de fornecedores. Nossas escolas foram transformadas em redutos de militantes — disse a deputada.

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Guerra cibernetica - Rubens Barbosa (OESP, 11/06/2019)


GUERRA CIBERNÉTICA

Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 11/06/2019

No século XXI, a tecnologia está definindo novas formas de emprego bélico nas guerras tradicionais. A inteligência artificial está abrindo espaço para armas e sistemas autônomos letaisrobôs autônomos letais, ou ainda, robôs assassinos. Definidas como qualquer sistema de arma com autonomia em suas funções, essas armas podem selecionar (isto é, procurar ou detectar, identificar, rastrear, selecionar) e atacar (isto é, usar força bruta contra, causar dano ou destruir) alvos, sem intervenção humana.
Em paralelo a esses desenvolvimentos tecnológicos - que terão impacto na guerra como entendida até aqui - a cibernética está inovando nas técnicas de enfrentamento sem o uso da força convencional As ameaças globais nos dias de hoje estão se transformando rapidamente: operações on line para influência e interferência em eleições, armas de destruição em massa e sua proliferação, terrorismo, contra-inteligência,  e tecnologias destrutivas, ameaças à competitividade econômica, espaço e armamento no espaço, crime transnacional (armas e drogas), entre outras.
Na definição do teórico Clausewitz, “guerra é um ato de violência destinado a forçar o adversário a executar nossa vontade”. A violência tem como objetivo controlar. O chinês Sun Tzu acrescenta que “a maior proeza militar é vencer sem combater”: a astúcia e a manipulação apresentam mais vantagens do que a agressividade para impor sua vontade sobre os outros.
Já chegamos a essa fase de sofisticação bélica. A guerra cibernética, definida com a utilização de meios numéricos para desenvolver a função de controlar outros ou empresas, transforma radicalmente os três componentes históricos da guerra: a espionagem, a sabotagem e a guerra da informação, na linha observada por Sun Tzu.
Multiplicam-se informações sobre o uso da capacidade cibernética – inclusive na espionagem, ataque e influência com o objetivo de conseguir vantagem política, econômica e militar. Segundo se noticia, de um lado a China, Rússia, Irã, Coreia do Norte, e de outro EUA, Israel, Reino Unido e França, dispõem de meios cada vez mais sofisticados para obter informações de governos e de empresas, para influir na vida das pessoas e destruir a infraestrutura e objetivos estratégicos.
Na última década esses países desenvolveram e experimentaram, com crescente capacitação, técnicas para alterar informações e sistemas em outros países. Por anos, conduziram espionagem cibernética para recolher inteligência e colocar em risco a infraestrutura de outras nações. Mais recentemente, novos tipos de ataque cibernético foram desenvolvidos e a mídia social passou a ser usada para alterar o pensamento, o comportamento e as decisões, como ocorreu nas eleições americanas pela ação da Cambridge Analytica-facebook. A medida em que bilhões de novos instrumentos digitais são conectados e integrados na vida cotidiana e nos negócios, competidores e adversários ganharão maior conhecimento para acesso às informações protegidas pelos governos e empresas.
O mundo entrou em uma fase de guerra permanente: sem frente de batalha e sem regras de engajamento. Em 2016, agentes de inteligência da China conseguiram capturar instrumentos de espionagem da NSA e os reposicionaram para atacar aliados dos EUA e empresas privadas da Europa e Ásia.
A guerra cibernética se assemelha à guerra insurrecional, com a diferença de poder planejar e executar a ação à distância, longe do inimigo. A utilização de algoritmos de inteligência artificial multiplicará o impacto das ações e criará no adversário novas vulnerabilidades. Será mais difícil a identificação de seus autores, pela utilização dos robots para autorizar a difusão de falsas informações nas redes sociais ou para a disponibilização com livre acesso de algoritmos permitindo incluir  pessoas em qualquer vídeo e de colocar em sua boca o que se deseje que ele diga. É possível que já estejam acontecendo  operações de  espionagem cibernética, de sabotagem ou de influência comandadas de maneira completamente autónoma, necessitando apenas do sinal verde de alguém.
Essa nova forma de ver as rivalidades e as estratégias adotadas pelas grandes potências globais está tratada de forma simples e direta no recente livro “Cyber: a guerra permanente”, de Jean Louis Gergorin e Leo-Isac-Dognin. O trabalho procura responder como a emergência do instrumento cibernético  se instalou no centro da Guerra permanente e quais são as consequências dessa nova relação de forças.
             O entendimento de que a tecnologia 5G possa ser explorada para espionagem e sabotagem de instalações de infraestrutura, rede de comunicação e centros financeiros passou a ser uma nova preocupação e está na raiz da proibição da compra de produtos da Huawei para as redes 5G públicas ou privadas nos EUA. A nova guerra fria entre os EUA e a China começou com o comércio, mas deve se deslocar rapidamente para a tecnologia, onde a China dá mostras de estar a frente de Washington nos avanços da aplicação da ultima geração 5G.
No Brasil, nos últimos anos, instituições públicas e empresas tem sido objeto de ataques por hackers e por organizações no exterior. Em 2013 Edward Snowden, ex-contratado da NSA, tornou públicos detalhes do programa de espionagem da NSA, que espionava vários países, inclusive o Brasil.  A vulnerabilidade do governo brasileiro foi admitida pelo então ministro da defesa, como mencionei neste espaço em 2015 (Segurança Cibernética). Recentemente o Itamaraty ficou paralisado por alguns dias, possivelmente depois de um ataque cibernético. Espera-se que o Centro de Defesa Cibernética do Ministério da Defesa tenha recursos adequados para desempenhar plenamente suas funções e tentar proteger governo e empresas dessa nova forma de guerra que está ai para ficar. O assunto é urgente.

Rubens  Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE)


Deirdre McCloskey on the spot, in Buckingham, July 2019

Call for contributions: 1st Vinson Centre Workshop in Economics and Entrepreneurship
‘Growth in the modern world: Economics, knowledge and bourgeois ethics;
10 July 2019, Vinson Centre, University of Buckingham, UK

Opening keynote: 
‘Liberalism as Causal: How the Knowledge Society Became the Great Enrichment’
Deirdre McCloskey, University of Illinois at Chicago

This workshop will engage with key themes of Deirdre McCloskey’s Bourgeois Era trilogy, with a focus on the causes of the kind of economic growth triggered during the industrial revolution. Contributions are welcome both from economic and historical perspectives as well as cognate fields of inquiry, either reacting explicitly to the Bourgeois Era, or by drawing on research relating to themes advanced in the trilogy. Contributions of work-in-progress and from postgraduate students are very welcome. A limited number of travel grants are available to postgraduate students wishing to participate. Proposals should take the form of a short (250w) abstract, sent to katie.jones@buckingham.ac.uk by 19 June 2019.

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Professor Matthias Klaes, FInstLM, FHEA
Director, Vinson Centre for Economics and Entrepreneurship
University of Buckingham

10 de junho de 1580: morte de Luis Vaz de Camoes

Morre Luís Vaz de Camões

No dia 10 de junho de 1580, morreu Luís Vaz de Camões, o mais famoso escritor de Portugal e autor de 'Os Lusíadas'

Morre Luís Vaz de Camões
Camões perdeu um olho durante a guerra contra os Celtas, no Marrocos, pelo Exército da Coroa de Portugal (Foto: Wikimedia)
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Luís Vaz de Camões é o mais famoso nome da literatura portuguesa. Autor de “Os Lusíadas”, livro que conta a história do povo português, tendo como herói o navegador Vasco da Gama, morreu em 10 de junho de 1580, aos 56 anos, em Lisboa.
Não se tem certeza do ano nem do local do nascimento de Camões, admite-se que tenha sido próximo à Lisboa no ano de 1524. Alistou-se para o Exército da Coroa de Portugal, que o levou para a África como soldado e participou da guerra contra os Celtas, no Marrocos, onde perdeu o olho direito.
Em suas viagens pelo exército, começou a escrever os primeiros manuscritos dos Lusíadas, que foi publicado em 1572, com ajuda do rei de Portugal, D. Sebastião.
Em suas obras, o autor se preocupa em relatar os dramas humanos, sejam eles amorosos ou existenciais. Suas principais inspirações são as trovas populares e as cantigas medievais. Na sua obra-prima utilizou um recurso que a diferenciou da maior parte das epopeias, inserindo episódios líricos que em nada tem relação com o tema central, as navegações de Vasco da Gama.
Camões é o principal representante do Classicismo Português. Ele morreu em Lisboa, no dia 10 de junho de 1580, na pobreza.