O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Manifesto Globalista - Paulo Roberto de Almeida

Nova divulgação deste "manifesto", redigido em março, mas corrigindo uma distração relevante que estava inscrita na versão anterior: a troca de bolchevique por menchevique, o que faz toda a diferença. Outra razão desta nova divulgação é o fato de que a pandemia GLOBAL, que se acelerou nas duas últimas semanas, está sendo encarada por meio de medidas nacionalistas, exclusivas e excludentes, afastando a necessária coordenação e cooperação GLOBAIS, como deveria ser.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 16 de março de 2020

Manifesto Globalista


Paulo Roberto de Almeida


Introdução: um manifesto em defesa do globalismo?
Um “manifesto globalista”? Na linha do Manifesto Comunista (1848), de Marx e Engels? Sim, exatamente, mas com algumas diferenças de espírito e de conteúdo. 
Como o globalismo vem sendo atacado de maneira superficial e simplista por alguns espíritos neogóticos, com argumentos totalmente equivocados, vou divulgar o meu manifesto globalista, especialmente voltado para o mundo diplomático brasileiro, onde o besteirol antiglobalista que está sendo disseminado desde algum tempo é bem maior. A estrutura do presente ensaio provocador pode parecer semelhante, ou similar, à do texto gótico de 1848, mas os argumentos são bastante diferentes.
Mas antes uma precisão: o título original do pequeno panfleto de 1848 – feito muito rapidamente, inclusive com alguns “empréstimos” deliberados – preparado por dois jovens hegelianos radicais, era Manifesto do Partido Comunista. Só que não ainda não existia nenhum “partido comunista”: o texto havia sido encomendado pela Liga dos Justos, uma associação de trabalhadores alemães sediada na Inglaterra. Os partidos comunistas surgiram bem mais tarde, no seguimento da primeira grande divisão dos socialistas, seja na Primeira Internacional, em face do embate entre anarquistas-bakuninistas e marxistas-marxianos, seja depois, com o surgimento dos socialistas-reformistas – Lassale, Liebknecht, Kautsky, Bernstein –, agrupados na Segunda Internacional, que logo foram combatidos pelos bolcheviques-leninistas da Terceira Internacional. A partir de 1919, quem quisesse apoiar o primeiro “Estado trabalhador” da História tinha de mudar o nome do seu partido para comunista, e acrescentar o subtítulo: “seção [nacional] da Internacional Comunista”, como foi o primeiro nome do Partido Comunista do Brasil: seção brasileira da Internacional Comunista (1922, nome recuperado depois, sem o subtítulo, pelo PCdoB). 
Marx e Engels aprovariam, quase certamente, a distinção entre comunistas e socialistas, para logo em seguida criticar os discípulos pouco instruídos nas coisas econômicas (pois que conduziram o comunismo a uma situação insustentável). Para os propósitos do presente ensaio, como nem o globalismo, nem o bizarro antiglobalismo constituem partidos, no sentido etimológico e funcional da palavra, este novo manifesto não é do “Partido Globalista” e sim apenas um “Manifesto Globalista”; se quiserem acrescentar algo, eu não me oporia a este subtítulo: “contra o antiglobalismo”. Feitos os esclarecimentos históricos, vamos a um novo “clássico revisitado” de minha série, que já comporta uma paródia do velho Manifesto, adaptado aos vibrantes novos tempos da globalização capitalista (o novo Manifesto, e o livro completo, estão disponíveis aqui: https://www.academia.edu/41037349/Velhos_e_Novos_Manifestos_o_socialismo_na_era_da_globalizacao_1999_).

1. O grande temor dos reacionários: o espectro do globalismo
Um espectro percorre a comunidade adepta das teorias conspiratórias: o espectro do globalismo. Todos os poderes de velhas correntes ultraconservadoras, da extrema direita e dos reacionários sem qualquer doutrina, mas também da esquerda antiglobalizadora, se aliaram em uma campanha contra o fantasma do globalismo. Este seria, no precário entendimento dos que estão coligados ou convergentes no combate a esse novo monstro metafísico, um alegado complô de ricaços de esquerda e de burocratas da ONU — sem esquecer alguns ideólogos, como este que aqui escreve — devotado a retirar soberania aos Estados nacionais e a construir um governo mundial dirigido por burocratas não eleitos de organismos internacionais. 
Qual entidade de burocratas dedicados à interdependência global não foi vilipendiada pelos seus adversários no poder como globalista? Quantos diplomatas sinceramente devotados ao seu trabalho internacionalista já não foram acusados de globalistas pelos novos cruzados reacionários da causa antiglobalista?
Desse fato concluem-se duas coisas.
O globalismo passou a ser identificado por esses adeptos de teorias conspiratórias como um novo poder.
Já é tempo dos globalistas engajados – como este que aqui escreve – exporem perante o mundo inteiro – ou pelo menos aos true believers e outros ingênuos seduzidos pela causa antiglobalista – a sua visão do mundo, seus objetivos e tendências, e de contraporem à lenda do espectro do globalismo um manifesto do próprio punho. Um manifesto que examine cada uma das alegações dos antiglobalistas e confirme que eles estão indo na direção contrária ao sentido tomado pela grande trajetória da interdependência global, ao pretenderem fazer girar para trás a roda da História.

2. Globalistas e antiglobalistas (ou internacionalistas conscientes e nacionalistas tacanhos)
Adeptos de teorias conspiratórias sempre existiram ao longo dos séculos: são geralmente mentes simples, almas cândidas, pessoas ingênuas que, induzidas por profetas de algum desastre iminente – gurus alucinados pelas dificuldades naturais, estruturais ou conjunturais, sistêmicas ou acidentais, contingentes, das economias sociedades – tentam ver, nesses soluços de uma longa e lenta evolução para estágios diferentes de organização econômica, política e social, a ação de sociedades secretas, entidades poderosas que manobrariam em surdina justamente contra o Estado ao qual pertencem. 
Para eles, se algo estranho – ou seja, coisas que eles não conseguem explicar – está acontecendo no mundo, ou no cantinho em que eles vivem, é porque um pequeno grupo de espertalhões, geralmente ricos e poderosos, mas sempre mal intencionados, está tentando (e conseguindo) tomar o controle do mundo e de suas vidas, para impor não se sabe bem que tipo de novo regime ou sistema de vida. Dizer que os “conspiradores” são paranoicos já é uma redundância em si, pois parece haver uma correspondência íntima entre esses dois tipos de alucinados, embora nem todos os paranoicos sejam adeptos de teorias conspiratórias: vários se refugiam em seu mundinho conhecidos, temendo que o céu lhes caia sobre a cabeça, apenas dizendo que “estão vindo atrás de mim”. Paranoicos podem ser recatados e, portanto, não prejudiciais, mas conspiratórios tendem geralmente a perturbar a paz geral e a felicidade da nação anunciando as piores catástrofes que estão para se abater sobre o país e cada um de nós. Os antiglobalistas pertencem a esse gênero perfeitamente alucinado: “Os globalistas vão tirar nossas liberdades, vão retirar a soberania da nação, vão nos converter todos em escravos da poderosa máquina perversa” (que pode ser a do capital ou a do marxismo, à sua escolha), “eles vão destruir as bases das nossas sociedades, já estão fazendo isso, alerta minha gente!”.
Pois é, esses são os antiglobalistas, que seriam apenas ridículos, se não fossem também inutilmente ridículos, pois engajam a sociedade, quando estão no poder, em uma retirada em regra de fluxos, circuitos, correntes, movimentos e outras interações que seriam naturais e benéficas, se deixadas ao sabor das mudanças progressivas e regulares em quaisquer sociedades “normais”, ou seja, aquelas que respondem à dinâmica constante das atividades econômicas ou que reagem positivamente às novas ideias que cérebros educados estão sempre propondo para melhorar a vida de cada um dos cidadãos (ou súditos).
E quem são os globalistas, supostamente pecadores, indivíduos perigosos, propensos, pelo menos potencialmente, a roubar nossas liberdades e a soberania dos países, supostamente em benefício de algum grupúsculo organizado de conspiradores profissionais (que podem ser grandes capitalistas, judeus, marxistas, o que vier à cabeça)? Os globalistas somos todos nós, pessoas normais, que tendem a receber positivamente quaisquer novos influxos que representem agregação de valor, seja material, seja espiritual: produtos (ou seja, bens e serviços, de todas as partes do mundo), ideias novas, hipóteses, pesquisas, desafios, enfim, quaisquer propostas de mais conforto, harmonia, bem-estar, novidades em geral. Globalistas são pessoas abertas ao que o mundo produz de melhor – e, presumivelmente, a soma de novidades do mundo sempre será maior do que as novidades do seu próprio país –, ideias interessantes, até propostas desafiadoras, do ponto de vista das velhas tradições e costumes arraigados nas dobras do tempo. 
Globalistas são receptivos a tudo isso, e não temem perder a liberdade se aceitam provar um novo pudim (salvo se for inglês, pois aí é perigoso), um novo aparelho (mesmo se for chinês, com aquelas coisas embutidas que vão passar a controlar a sua vida), uma nova forma de responsabilização de políticos (esse estamento autocentrado em todos os países), e propensos a se abrirem às migrações de todos os tipos, inclusive as suas próprias. Numa palavra, globalistas são internacionalistas, e antiglobalistas tendem a ser nacionalistas tacanhos (muitos deles obtusos, ou seja, infensos a quaisquer novidades).
Estou sendo maniqueísta? Provavelmente sim, mas cabe recordar que antes de aparecerem os nacionalistas tacanhos, que proclamam abertamente serem não só antiglobalistas, como também nacionalistas de um novo tipo (não carnívoros, se supõe), todos vivíamos felizes, sem sequer ter a consciência de sermos globalistas, ou seja, de estarmos abertos às novidades do mundo. O Brasil é um exemplo disso: acolheu imigrantes de todo o mundo, como uma coisa benéfica à construção do seu próprio Estado-nação – permitindo, por exemplo, no Império, que esses estrangeiros se estabelecessem nas faixas de fronteiras –, como algo natural e positivo; mas, a partir de certo momento, virou um país nacionalista tacanho, agora tudo mais reforçado, depois que essa horda de soberanistas ingênuos e de antiglobalistas que se abateu sobre nós. 

3. Globalistas naturais e globalistas profissionais
A distinção pode parecer desprovida de maior significado, ou simplesmente inútil, na medida em que poucas diferenças existem, em princípio, entre aqueles que se adaptam naturalmente ao ritmo das mudanças no mundo contemporâneo – francamente globalista, na letra dos tratados e no espírito dos tempos – e os que se exercem profissionalmente no campo ativo do globalismo assumido e promovido. Vamos explicar.
Globalistas naturais são todos os cidadãos, indivíduos normais, consumidores abertos ao que possa existir de novidade no mundo da oferta dos mercados, sem preconceitos contra itens úteis na sua labuta diária ou no seu lazer cotidiano: são aqueles que não acham que a Coca-Cola é a “água negra do imperialismo” – como alguns anti-imperialistas ainda proclamavam algum tempo atrás –, que o rock não é uma “dança satânica”, que o iPhone é uma das grandes invenções da humanidade, que a China não quer exportar o seu modelo político – apenas inundar nossos mercados de produtos baratos, eventualmente também de uma qualidade aceitável –, que a ONU não vai instalar um governo mundial e que o George Soros não vai destruir o valor da nossa moeda e sugar nossas reservas internacionais. Enfim, são cidadãos como quaisquer outros, sem prevenções contra o que nos vem de fora, e com uma imensa curiosidade de saber o que existe lá fora, sem dividir o mundo entre “nós e o resto do mundo”. 
Globalistas profissionais são justamente aqueles que trabalham nessa interface, entre o nacional e o internacional, entre o doméstico e o externo, entre as nossas vantagens competitivas nacionais e as vantagens comparativas internacionais (sempre relativas, como poderia lembrar Ricardo contra aquele pioneiro, Adam Smith, que acreditava nas vantagens absolutas e na errônea teoria do valor trabalho, e que daí passou para o Marx). Em princípio, todo empresário deveria ser globalista, pois é do grande mundo externo que ele retira ideias, insumos e meios de produção para fazer sua oferta interna, eventualmente externa também. Todo economista sensato também deveria ser globalista, ou seja, a favor do livre comércio, o que não significa sair por aí negociando acordos de livre comércio com países like-minded; não precisa: basta orientar o seu ministro do comércio exterior a adotar a liberalização erga omnes, ou seja, unilateral, sem qualquer necessidade de estabelecer acordos mercantilistas com quaisquer outros países.
Isso seria o normal, e esses seriam os primeiros globalistas profissionais, ou seja, empresários competitivos e economistas simplesmente sensatos empenhados em colocar o país na interdependência global, a melhor situação que qualquer estadista digno desse nome poderia aspirar para o seu país. Mas, hélas, isso não vale para os empresários brasileiros e para os “economistas” do governo Trump, empenhados ferozmente em defender sua reserva de mercado e em “equilibrar”, por quaisquer meios, a balança comercial, tanto a global quanto a bilateral, uma situação impossível, teórica e praticamente (inclusive porque balança comercial não é uma preocupação microeconômica de empresários, nem deveria ser a maior questão macroeconômica a preocupar os economistas governamentais, pois existem outros componentes no balanço de pagamentos).
E quanto aos diplomatas? Ora, não seria preciso nem argumentar como, ou porque, os diplomatas são, necessariamente globalistas profissionais, até compulsórios. Não se trata apenas de conformação “genética”, se cabe alusão a qualquer “fatalidade natural”, ou de alguma “deformação de ofício”, se também cabe a expressão depreciativa; antes de qualquer outro critério, trata-se de um ambiente natural para o exercício de suas funções executivas, sobretudo no caso desses burocratas obrigatoriamente imersos no mundo da globalização. E isso não existe apenas depois da construção da ordem multilateral no pós-Segunda Guerra, ou antes, na criação da Liga das Nações, depois da Grande Guerra e com os acordos de Paris, em 1919: diplomatas integram uma das mais antigas profissões do mundo, mobilizados cada vez que soberanos mais sensatos procuravam evitar guerras ofensivas ou defensivas, em caso de tensões com soberanias vizinhas ou impérios conquistadores. Junto com os soldados, que são seus irmãos naturais e que também precisam ser naturalmente, profissionalmente globalistas, os diplomatas só existem na globalidade, na globalização, no globalismo, sendo inconcebível um diplomata “antiglobalista”.
Aliás, um diplomata antiglobalista não é apenas uma contradição nos termos, é antes de mais nada um ser ridículo, pois não se entende um profissional das relações exteriores que queira se refugiar no nacionalismo tacanho, no provincianismo rastaquera, na recusa da abertura do país a todos os tipos de interações benéficas ao povo, à economia, à cultura nacional. O que é especificamente moderno, ou contemporâneo, no globalismo diplomático, é o multilateralismo, disputando espaços preliminares com o bilateralismo triunfante até o século XIX e explodindo com vigor depois da Segunda Guerra Mundial, com a fundação da ONU e de todas as suas agências especializadas (aliás, até antes, desde Bretton Woods, que iniciou a conformação da ordem econômica multilateral do pós-guerra, que ainda é a base das relações internacionais). Um diplomata que se proclame antiglobalista é mais do que um estranho no ninho, ou um cisne negro, é sobretudo uma aberração teórica e prática, uma vez que mesmo esse ser bizarro terá de se haver com as estruturas multilaterais, portanto globais, que foram sendo estabelecidas progressivamente ao longo das últimas sete ou oito décadas.

4. Literatura globalista e antiglobalista
Literatura antiglobalista não existia até certo tempo atrás, ou então se restringia aos poucos panfletos conspiratórios, daquele mesmo nacionalismo tacanho, que provocaram tantas guerras ao longo da era moderna, até os conflitos globais da primeira metade do século XX. O nacionalismo, segundo estudiosos do tema – Hans Kohn foi o maior de todos – é um fenômeno relativamente moderno, que se desenvolve paralelamente ao crescimento da doutrina liberal, mas que assume feições exclusivistas e excludentes no curso do gradual desenvolvimento paralelo do coletivismo, em suas diversas formas econômicas e políticas, entre elas o pangermanismo, um nacionalismo proto-globalista (se assim cabe a expressão), que provocou, junto com o expansionismo imperialista, a maior guerra de todos os tempos. 
O nacionalismo, assim como o racismo – especificamente antissemita – e o culto do líder e da pátria emergiram no século XIX, tendo sido anteriormente especialmente francês, da era napoleônica – como defesa da pátria atacada pelas monarquias europeias que estavam sendo desmanteladas pelas novas ideias de soberania popular da revolução de 1789 –, tornou-se, na imediata sequência, um produto do romantismo alemão, que teve suas derivações nos círculos wagnerianos até chegar a Rosenberg e Hitler. No decorrer do século XIX, ele se confunde com um dos tipos de darwinismo social, a partir do qual a ideia de raça se torna a base fundamental da nacionalidade e do patriotismo. Em sua obra magna, A Ideia do Nacionalismo (publicada originalmente em 1944), Hans Kohn assim define o nacionalismo: 
Nationalism is a state of mind permeating the large majority of the people and claiming to permeate all its members; it recognizes the nation-State as the ideal form of political organization and the nationality as the source of all creative cultural energy and economic well-being. The supreme loyalty of man is therefore due to his nationality, as his own life is supposedly rooted in and made possible by its welfare. (Hans Kohn, The Idea of Nationalism: A Study in Its Origins and BackgroundNew York: Macmillan, 1961, p.16).

Mas antes mesmo de publicar essa sua obra magna, Hans Kohn, um promotor precoce do sionismo – depois abandonado em favor do estabelecimento de um Estado binacional na Palestina –, havia publicado, antes da guerra, uma obra, Force or Reason: issues of the Twentieth Century (Harvard University Press, 1937), na qual dizia o seguinte: 
On a shrinking earth man should concentrate all his rational forces upon the adjustment of his social and political life to the new conditions. Instead, we hear reason and reasonableness decried and the old battle cries of fierce imperialism and conflict of races raised again. (p. 96)

A despeito de discutir, em seu livro, “The Cult of Force”, “The Dethronement of Reason”, ou “The Crisis of Imperialism”, Kohn proclamava, ao lado do reconhecimento das dificuldades de se alcançar a equalização concreta das oportunidades entre os homens, sua crença nos valores civilizatórios alcançados pela sociedade contemporânea e sua esperança no prevalecimento da justiça democrática. O que se teve, infelizmente, a partir dali, foi a brutal reafirmação da força, não da razão, trazidos tanto pelo fascismo quanto pelo comunismo, dois movimentos aparentemente guiados por motivações globalistas, mas o primeiro nacionalista ao extremo, o segundo supostamente internacionalista (à sua maneira). Daí se pode perceber certa confusão teórica e conceitual entre os defensores do velho nacionalismo e os do novo antiglobalismo, tendentes a fazer crer que o nacionalismo não foi, como se acredita, o verdadeiro responsável pelas terríveis guerras que ensanguentaram o século XX, e sim forças ainda positivas, que nos poupariam de um suposto flagelo a ser provocado, não pela globalização – o que seria de toda forma inútil –, mas pelo globalismo, que pretenderia, segundo os novos arautos do antiglobalismo, da “ditadura das organizações internacionais”. 
Incapazes de sustentar suas ideias bizarras por meio de trabalhos consistentes, os defensores brasileiros do nacionalismo antiglobalista recorrem a obras de autores estrangeiros (geralmente americanos, europeus e israelenses), como se os novos manifestos nacionalistas trouxessem qualquer contribuição intelectual aos problemas de um país como o Brasil, uma nação que não enfrenta, como muitos desses países, problemas decorrentes de uma grande inserção mundial, de uma imensa atratividade imigratória, terrorismo, um multiculturalismo supostamente nocivo e outras questões próprias vinculadas às suas peculiaridades políticas e ideológicas propriamente nacionais. Assim como o afro-brasileiro é uma importação espúria de tendências peculiares ao ambiente racial dos Estados Unidos, o antiglobalismo atual constitui uma outra importação bizarra de “ideias fora do lugar”, sem qualquer sustentação ou correspondência numa elaboração intelectual própria. 
Num plano puramente “literário”, portanto, antiglobalistas tupiniquins representam bonecos de ventríloquo repetindo ideias alheias que não possuem qualquer embasamento na realidade nacional, muito menos no contexto da atividade diplomática de um país que está praticamente excluído das grandes cadeias de valor da grande interdependência econômica global, e que precisa ainda lugar para superar fortes tendências à introversão e ao espírito mercantilista que ainda permeia sua política comercial e sustenta sua política industrial. O antiglobalismo jabuticabal é, desse ponto de vista “literário”, uma aberração total no quadro de um universo conceitual que deveria apoiar sua ação diplomática e a atividade dos seus profissionais da diplomacia, que são, como já dito, “geneticamente” globalistas.
Em face de tamanha aberração, um “Manifesto Globalista” como o presente texto nem precisaria se apresentar como uma “crítica da razão pura” do globalismo, nem como uma “crítica da razão prática” do antiglobalismo, pois este é inconsistente, irrealista, ou simplesmente absurdo, em seus próprios termos. Como um país insuficientemente inserido nas grandes correntes da modernidade e da economia mundial, como é o Brasil, poderia ser antiglobalista? Como poderia suas elites dirigentes – quaisquer que sejam elas, as políticas, os donos do capital, os intelectuais formadores da opinião pública – poderiam pretender unir os destinos do país à pequena tribo de nacionalistas de extrema-direita que atuam no sentido de desmantelar a ordem mundial criada no pós-guerra e refluir as políticas nacionais para o ambiente estreito das fronteiras domésticas? A recusa do multilateralismo, como princípio fundador da diplomacia contemporânea, não é apenas ridícula, ela é sobretudo inoperante e, mais que tudo, inútil, em vista de todos os compromissos já existentes no plano prático.

5. Posição dos globalistas universalistas em face dos antiglobalistas nacionalistas 
À diferença dos antiglobalistas, os globalistas – como este que aqui escreve – não lutam para alcançar os fins egoístas e os interesses exclusivos de uma concepção territorialista de nação, ou para realizar os objetivos estreitos de uma ideia excludente de pátria. Eles se atêm a um conceito mais amplo de interesse coletivo, que não elude noções básicas do pensamento liberal em economia e em política, ou seja, individualismo e ampla defesa das liberdades democráticas, e focam não apenas em metas do momento presente, para um determinado país ou Estado-nacional, mas proclamam um visão vinculada a aspirações mais amplas, que representam, simultaneamente, o futuro da humanidade. À diferença, porém, do nascente liberalismo político do século XIX, os liberais globalistas da atualidade se pautam em muito do que proclamou o grande intelectual da diplomacia brasileira, José Guilherme Merquior, notadamente em sua última grande obra: Liberalism, Old and New (1991). Merquior sabia reconhecer a tensão já detectada desde o século XIX entre os impulsos libertários e os ímpetos igualitaristas, expressas nas correntes políticas contemporâneas. Como ele resumiu ao final desse livro: 
Como foi observado por alguns distintos sociólogos como [Raymond] Aron ou [Ralph] Dahrendorf, a nossa sociedade permanece caracterizada por uma dialética contínua, embora cambiante, entre o crescimento da liberdade e o ímpeto em direção a uma maior igualdade – e disso a liberdade parece emergir mais forte do que enfraquecida. (O Liberalismo, antigo e moderno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991; tradução do original em inglês por Henrique de Araújo Mesquita; p. 223)

Tal postura não tem praticamente nada de nacionalista, e muito menos de antiglobalista, mas representa o espírito do pensamento liberal, como expressão do mais puro universalismo filosófico, ou seja, tudo o que se contrapõe ao nacionalismo estreito defendido pelos antiglobalistas contemporâneos, que nada mais são do que os atuais herdeiros dos antigos nacionalistas, que produziram as grandes catástrofes do século XX. Mas não só do século XX, antes mesmo isso ocorria, como refletido nas obras de pensadores, romancistas, ativistas políticos de todos os matizes e de várias épocas.
Não é preciso remontar à famosa frase de Samuel Johnson, que ainda no século XVIII, rejeitava o patriotismo – a forma mais extrema de nacionalismo – como sendo “o último refúgio dos canalhas”, para rejeitar as formas mais extremas de exclusivismo nacional. O grande romancista russo Leon Tolstoi, assim como sua compatriota Emma Goldman, ativista da causa feminista e anarquista como ele, eram, nos albores do século XX, declaradamente antinacionalistas. Ao final da Grande Guerra, já distinguido como o grande cientista da relatividade, Albert Einstein, ao ser interrogado sobre sua nacionalidade respondeu: “Pela herança eu sou um judeu, pela cidadania um suíço, e por formação um ser humano e apenas um ser humano, sem qualquer vínculo especial a qualquer estado ou entidade nacional de qualquer tipo.” Dez anos depois, novamente questionado sobre se sentia mais como alemão ou judeu, proclamou ser contrário a qualquer tipo de nacionalismo, mesmo sob o disfarce de patriotismo: “Eu me considero um homem. O nacionalismo é uma doença infantil, o sarampo da humanidade”. 
George Orwell, um socialista antiautoritário, se expressava ao final da Segunda Guerra Mundial em termos contundentes contra o nacionalismo em suas “Notas sobre o nacionalismo” (1945). Mais perto da nossa época, o velho semanário liberal The Economist se perguntava, em seu editorial de 19 de novembro de 2016, quando da eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, a propósito do seu grito de guerra de America First, se ele não era o “último recruta de um perigoso nacionalismo”. Estabelecendo uma comparação entre Trump e Ronald Reagan, que também tinha prometido recuperar os EUA, depois da patética presidência de Jimmy Carter, o editorial da Economist dizia: 
But there is a difference. On the eve of the vote, Reagan described America as a shining “city on a hill”. Listing all that America could contribute to keep the world safe, he dreamed of a country that “is not turned inward, but outward—toward others”. Mr Trump, by contrast, has sworn to put America First. Demanding respect from a freeloading world that takes leaders in Washington for fools, he says he will “no longer surrender this country or its people to the false song of globalism”. Reagan’s America was optimistic: Mr Trump’s is angry. (…) Civic nationalism appeals to universal values, such as freedom and equality. It contrasts with “ethnic nationalism”, which is zero-sum, aggressive and nostalgic and which draws on race or history to set the nation apart. In its darkest hour in the first half of the 20th century ethnic nationalism led to war. (“The new nationalism”, The Economist, November 19th 2016, ênfase agregada; link: https://www.economist.com/leaders/2016/11/19/the-new-nationalism)

Sintomaticamente, os antiglobalistas brasileiros, em sua adesão doentia, não aos Estados Unidos apenas, mas ao governo e à personalidade de Trump em particular, também subscrevem às mesmas ideias retrogradas e agressivas desse nacionalismo rastaquera e a um antiglobalismo tão bizarro quanto surrealista, pois que construindo um monstro metafísico a partir do multilateralismo contemporâneo, que eles se propõem combater com a sanha doentia de novos cruzados, na verdade com as armas enferrujadas e os slogans ridículos de um novo “exército de Brancaleone”. Como diria Marx, em seu famoso Manifesto, eles se prendem a velhos grilhões reacionários, não têm nenhum mundo a ganhar e pretendem fazer girar para trás a roda da História.
De minha parte, termino meu pequeno manifesto dando entusiasticamente três vivas ao globalismo! 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 15 de fevereiro de 2020

A China finalmente liberaliza sua política cambial e os EUA a acusam de manipulação - Jeffrey Schott

Quando a China finalmente adota a flutuação cambial, depois de décadas de manipulação para manter a paridade numa situação de baixa, os EUA, sob Trump (sempre equivocado) a acusam de manipulação cambial, o que não mais se justifica...
Paulo Roberto de Almeida

The US-China currency deal will provoke new trade tensions

Peterson Institute of International Economy, February 7, 2020 5:00 AM

President Donald Trump has long claimed that China gained competitive advantage in trade by manipulating its exchange rate. That was true 15 years ago but not in recent years. No matter, Trump administration officials continue to raise the specter of past goblins to rally support for their efforts to erect new import restrictions against Chinese goods and services. And that remains the case despite the recently announced US-China “phase one” trade deal and its new obligations on currency practices.
Currency manipulation is a widely cited but imperfectly understood concept. In brief, it occurs when a country intervenes in foreign exchange markets to artificially suppress the value of its currency in order to boost exports and curb imports. China was widely accused of buying dollars and selling its own currency in the first decade and more of this century, contributing to its export boom.

Using Trade Measures to Enforce Currency Obligations

Under the phase one deal, China has accepted substantial and enforceable obligations on its exchange rate practices. For the first time, the entire currency chapter will be subject to the pact’s dispute settlement procedures, thus allowing the United States to challenge Chinese currency manipulation and impose trade measures to counter the impact on bilateral trade.[1]
Why did China agree to bilateral enforcement provisions? In brief, the pact’s obligations simply codify recent practices of the People’s Bank of China (PBOC) that comply with its G-20 and International Monetary Fund (IMF) commitments to avoid competitive devaluation and currency manipulation. And, in return, the US Treasury lifted its controversial designation of China as a currency manipulator, issued in August 2019.[2]
On that calculus, China didn’t seem to give up much to satisfy US demands. But it underestimated how much the United States would move the goalposts regarding what constitutes manipulation and thus open the door for new protectionist actions.
To date, the US Treasury has been the arbiter of currency disputes. Under separate statutes enacted in 1988 and 2015, Treasury is required to report twice a year on whether major trading partners, including China, have manipulated their currencies; each statute contains different criteria for assessing currency manipulation. The 2015 criteria include whether the trading partner has racked up a big bilateral trade surplus and global current account surplus and has persistently intervened in foreign exchange markets to keep its currency undervalued. The laws require the United States to take specific “remedial” actions against the manipulating country, but these do not include imposing tariffs. Until last August, no US administration had labeled China a currency manipulator since 1994.
But Treasury’s designation of China as a currency manipulator in August 2019 showed that the statutes are open to differing interpretations as to what constitutes currency manipulation. Moreover, Congress can always change the requirements, as it has tried to do over the past 15 years when frustrated by Treasury’s unwillingness to designate China, to tip the scales of Treasury’s assessment of foreign currency practices so that it produces more positive findings of currency manipulation or to authorize the Commerce Department to counter currency undervaluation under US unfair trade laws (as Senators Charles Schumer and Lindsey Graham sought to do 14 years ago).
Currency enforcement actions under the US-China phase one pact would be initiated by the US Treasury secretary (or PBOC governor) and then referred to the Bilateral Evaluation and Dispute Resolution Arrangement co-chaired by the United States trade representative (USTR) and a Chinese vice premier. If the two sides don’t agree after extensive consultations on what needs to be done, the United States would be authorized to unilaterally retaliate “by suspending an obligation…or by adopting a remedial measure in a proportionate way” (Article 7.4:4b).[3] Note that a “proportionate” US response to currency manipulation could involve across-the-board tariffs on all US imports from China!
In other words, the US-China pact enables USTR to act against what it deems to be Chinese currency manipulation if US complaints about Chinese currency practices are not resolved to its satisfaction during bilateral consultations. The new enforcement mechanism contains elaborate consultative requirements and explicit retaliation rights, but it would essentially lead to the same stand-off and subsequent unilateral actions that have occurred throughout the two-year trade war. China can either accept the US actions or withdraw from the pact, presumably reigniting the trade war.

Currency Practices and Unfair US Trade Laws

Allowing the use of trade measures to enforce exchange rate policy obligations greatly expands the prospective remedies that US officials may pursue under current US law when confronting currency manipulation.[4] It also would likely have knock-on effects on other US laws that could be deployed to counter foreign currency practices.
With USTR as judge and jury of currency disputes with China, protectionist lobbies will be emboldened to push Congress to revise US trade law so that US officials can impose trade measures to manage exchange rates. And there is now a new channel for currency protectionism under trade laws administered by the Commerce Department.
It is probably not a coincidence that the Commerce Department issued final regulations on February 3, 2020, that define currency undervaluation as a countervailable subsidy liable to penalty duties under US unfair trade laws. US imports from China benefiting from “unfair currency subsidies” could potentially face countervailing duties for “causing harm to [US] industries.” Bluntly put, Commerce has manipulated the definition of currency manipulation for protectionist purposes. Though Commerce officials decry their innocence, this regulatory change conflicts with current Treasury practice and almost assuredly violates World Trade Organization (WTO) subsidy obligations, which I helped write 40 years ago. Look for Congress to resolve the Treasury-Commerce conflict through new, bipartisan legislation that (1) codifies Commerce practice under the new regulations in line with past efforts pursued by Senators Schumer and Graham and (2) rejects concerns that changes in US law would violate WTO obligations and prompt retaliation against US exporters.
Treasury Secretary Steven Mnuchin, inadvertently or not, has accepted a deal that will likely further politicize exchange rate policymaking and spark new trade tensions. US currency policy has become a political football with USTR and Commerce, not the Treasury secretary, at quarterback.

Notes

1. The United States-Mexico-Canada Agreement (USMCA) also includes currency provisions in its core text.  However, enforcement actions in the USMCA are limited to violations of transparency and reporting provisions under USMCA Article 33.5. 
2. Treasury Secretary Steven Mnuchin lifted that financial indictment on January 13, 2020, but kept China on a special currency watch list.
3. In addition, either country could ask the IMF to monitor policies or initiate consultations with the “Party Complained Against” (Article 5.4:2).
4. Under the Trade Facilitation and Trade Enforcement Act of 2015, remedial actions must include one or more of the following measures: block Overseas Private Investment Corporation (OPIC) financing or federal procurement of goods and services (consistent with WTO obligations); consider not entering into bilateral/regional trade pacts; and call for more IMF surveillance.

Hiroshima, 75 anos: reflexões sobre o papel da arma atômica - G. John Ikenberry (Princeton)

Um debate sobre o significado do primeiro, e quase único – ocorreu outro, pouco depois, sobre Nagasaki – bombardeio atômico no contexto do cenário internacional, da época e depois.

https://www.wilsoncenter.org/event/age-hiroshima-nuclear-revolution-75th-anniversary-atomic-bombings?emci=1dfdf53c-494f-ea11-a94c-00155d039e74&emdi=2490c82a-514f-ea11-a94c-00155d039e74&ceid=36813

The Age of Hiroshima: The Nuclear Revolution on the 75th Anniversary of the Atomic Bombings 


Video & key quotes

“There is a diffuse effort to blend the history and Hiroshima’s legacy into social movements, and to leverage, and remind, and have all of that feed into our politics and diplomacy,” observes G. John Ikenberry, Albert G. Milbank Professor of Politics and International Affairs at Princeton University.

On August 6, 1945, in the waning days of World War II, the United States dropped an atomic bomb on the Japanese city of Hiroshima. The city’s destruction stands as a powerful symbol of nuclear annihilation, but it has also shaped how we think about war and peace, the past and the present, and science and ethics. The Age of Hiroshima, published by Princeton University Press in January 2020, traces these complex legacies, exploring how the meanings of Hiroshima have reverberated across the decades and around the world.
Age of Hiroshima editors Michael Gordin and John G. Ikenberry, as well as contributor Alex Wellerstein, will discuss how the bombing of Hiroshima gave rise to new conceptions of our world and its precarious interconnectedness, and how we continue to live in its dangerous shadow today. Toshihiro Higuchi and Jessica Mathews, in commenting on the volume, will offer their own perspectives on Hiroshima as an historical event and a cultural phenomenon.

Selected Quotes

Michael Gordin, Wilson Center Fellow and Rosengarten Professor of Modern and Contemporary History, Princeton University
“The biggest absence…is we still have no really good idea why we haven’t had nuclear war since. We have a lot of theories about why that’s the case, but we have an n of 2 in terms of use of nuclear weapons in war to kill people. They have been used in other ways; testing, placement for deployment, there’s all sorts of ways you can use a nuclear bomb without setting it off.”
“So once you have the sense that there’s a threshold, I think it actually restructures how you think about the conventional, and makes the conventional permissible – as long as you’re not going above that.”
G. John Ikenberry, Albert G. Milbank Professor of Politics and International Affairs, Princeton University
“We try to use Hiroshima as a site for turning its history into a kind of platform for debate, for education, for activism, for bringing people together each year, with reports that people who are elsewhere during the year. Thinking about how to control nuclear weapons, how to bring back the momentum that has kind of all gone away for arms control and disarmament.”
“There is a diffuse effort to blend the history and Hiroshima’s legacy into social movements, and to leverage, and remind, and have all of that feed into our politics and diplomacy.”
“I learned of the exquisitely complex way in which Japan thinks about Hiroshima, and the broader role of the war as both aggressor and victim.”
“Hiroshima had this kind of lightning affect – illuminating a landscape of international politics”
“The social milieu, the political milieu in which governments operate is so important. And that’s why in some sense, it’s so frightening today. Because remember the 80s? Remember when Reagan was deploying new missiles of intermediate missiles in Europe? There were millions of people in the streets in Europe and the United States.”
Alex Wellerstein, Stevens Institute of Technology
“The historians I know, the practicing people who work on this actively today, most of them think the revisionist narrative is wrong…. And they also think the orthodox narrative is wrong. And the reality is some very much more complicated thing.”
“Deterrence is in people’s minds. And it’s not a lot of people’s minds. For most of the world today, you’re talking about a dozen minds in the world, who are in charge of making…. Because we’ve centralized nuclear weapons unlike a lot of things our government does, nuclear arms are centralized. Basically, one person in the American system. It’s three people in the Russian system … You’re talking about a very small number of people, and if they have the idea that using the weapon is a terrible idea, then it’s enacted in the world. And if they don’t have the idea than we are in a dangerous, dangerous place. “
 “I will say I think that there’s a lot of factors. And instead of saying, ‘we can’t know,’ I would say it seems incredibly contingent. Which is really just a very intellectual way of saying, ‘well, it depends on what happens that day.’ And that’s not reassuring.”
Toshihiro Higuchi, Assistant Professor, Edmund A. Walsh School of Foreign Service, Georgetown University
“I think of how fruitful it is to really bring together many different scholars… We have, you know, Japanese historians, literary scholars, and then political scientists, and the history of science, and the sociologists of science.”
“I think it’s about, really, if we can think about ourselves as an independent thinking citizen, as opposed to identifying ourselves completely with the state or nation.”
“I think it’s important to make them curious, so that they start asking questions, and they start exploring themselves.”

SPEAKERS


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Aspone olavista de assuntos internacionais da PR: enquadramento ideológico?

Bolsonaro transfere poderes de gabinete de Filipe Martins para militar

Conhecida como 'gabinete do ódio', Assessoria Especial será esvaziada em prol da área comandada pelo almirante Flávio Augusto Viana Rocha

Por Julia Braun - Veja, 14 fev 2020, 12h14
O assessor internacional de Bolsonaro, Filipe Martins: indicação de Olavo Carvalho e disseminação de conteúdos em favor da militância de extrema direita nas redes sociais - 03/05/2019 redes sociais/Reprodução
Em decreto publicado no Diário Oficial desta sexta-feira, 14, o presidente Jair Bolsonaro transferiu algumas das atribuições de sua Assessoria Especial – comandada, entre outros, pelo chefe adjunto Filipe Martins – para a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (SAE). A Assessoria Especial, que fica na sala 314 do Palácio do Planalto, recebeu o codinome “gabinete do ódio”.
Também nesta sexta-feira, Bolsonaro nomeou o almirante Flávio Augusto Viana Rocha para comandar a SAE, que a partir de agora fica responsável por novas funções, como assistir o presidente na preparação de material de informação e de apoio, de encontros e audiências com autoridades estrangeiras, de preparar a correspondência com autoridades e de encaminhar e processar as proposições e expedientes da área diplomática.
A SAE estava ligada à Secretaria-Geral da Presidência, uma das quatro pastas com status de ministério que funciona no Palácio do Planalto. Assim, o responsável pela secretaria respondia ao ministro Jorge Oliveira, titular da Secretaria-Geral. A partir de agora, a SAE ficará subordinada diretamente ao presidente da República.
A nomeação de Rocha, um oficial-general da ativa da Marinha que estava à frente do 1º Distrito Naval, também foi publicada no Diário Oficial desta sexta, junto com a exoneração de seu antecessor, Bruno Grossi.

Esvaziamento do ‘gabinete do ódio’

A Assessoria Especial foi apelidada de “gabinete do ódio” por sua função de comandar a disseminação de conteúdos em favor da militância conservadora e de extrema direita nas redes sociais. Ali opera o chefe adjunto Filipe Martins, de 31 anos, contratado para o aconselhamento do chefe de Estado sobre temas internacionais por indicação de Olavo de Carvalho, guru da família Bolsonaro.
No primeiro ano de governo de Jair Bolsonaro, Martins foi um dos mais influentes do grupo que gravita em torno do presidente. Com a rearticulação elaborada pelo governo, não ficou claro qual grau de atuação o assessor especial terá a partir de agora.

USA: o declínio de uma grande democracia - Ishaan Tharoor (WP)

Trump’s authoritarian style is remaking America

Ishaan Tharoor
The Washington Post, February 13, 2020

President Trump speaks at a rally Feb. 10 in Manchester, N.H. (Jim Watson/AFP/Getty Images)
President Trump speaks at a rally Feb. 10 in Manchester, N.H. (Jim Watson/AFP/Getty Images)
Over the course of his presidency, there have been myriad warnings about President Trump’s authoritarian tendencies. He has played to the fears of his critics by blowing past the republic’s increasingly creaky system of checks and balances. And with the aid of a right-wing echo chamber, he has pushed forward a narrative that conflates national interest with his personal gainpatriotism with unflinching loyaltyto the occupant of the Oval Office.
As Trump embarks on a reelection campaign and basks in the aftermath of the Senate impeachment trial — in which, thanks to a Republican Party wholly captured by Trumpism, acquittal was seemingly always a fait accompli — he is adding to the strains on America’s polarized democracy. His calls this week for prosecutions of his perceived enemies and public attacks on federal judges and prosecutors involved in cases against his allies were so abnormal that it led to an unlikely rebuke from Attorney General William P. Barr, a Cabinet official largely viewed by Trump’s opponents as shamefully acquiescent.
The Washington Post’s White House reporters described a president“simmering with rage, fixated on exacting revenge against those he feels betrayed him and insulated by a compliant Republican Party.” He is willing to test the rule of law even further and is comfortable doing so, they reported, “to the point of feeling untouchable.”
“If a president can meddle in a criminal case to help a friend, then there’s nothing that keeps him from meddling to harm someone he thinks is his enemy,” Joyce White Vance, a former U.S. attorney, told my colleagues. “That means that a president is fully above the law in the most dangerous kind of way. This is how democracies die.”
 
The president’s demagoguery has left a deep mark on American society. An investigation by my colleagues sifted through 28,000 reports of bullying in U.S. schools and found hundreds of incidents in which Trump-inspired rhetoric was used to harass children, especially students from Hispanic, black or Muslim backgrounds.
“Since Trump’s rise to the nation’s highest office, his inflammatory language — often condemned as racist and xenophobic — has seeped into schools across America,” my colleagues wrote. “Many bullies now target other children differently than they used to, with kids as young as 6 mimicking the president’s insults and the cruel way he delivers them.”
This unsettling trend speaks of a deeper malaise and entrenched divisions. David Roberts at Vox argued that the United States is in the grips of an “epistemic” crisis: A decades-long right-wing project to create its own media bubble cemented a polarized political reality in which rival camps can’t even agree on the facts of their disagreements.
“That is what a tribalist like Trump wants: for communication and compromise across tribal lines to become impossible, so that loyalty becomes the only measure and everything is reduced to pure struggle for dominance,” Roberts wrote.
Lawmakers are still trying to check Trump’s power. On Thursday, every Democratic senator and eight Republicans in the Senate passed a resolution to curb Trump’s ability to order future strikes against Iran. But Trump is almost certain to veto the latest effort by Congress to assert its oversight authority over an emboldened executive.
Former Trump administration officials have emerged in public to criticize the president’s behavior and policies, including former White House chief of staff John Kelly on Wednesday. Myriad Republican politicians and operatives in private bemoan Trump’s hold on the party, but few are willing to risk overt dissent. Those who do are dragged through the coals by Trump and his loyalists.
“The Republican Party is betraying democracy, and these are historical times,” Jason Stanley, a Yale philosophy professor and author of “How Fascism Works,” told Business Insider. “The Republican Party has shown that it has no interest in multi-party democracy. … They are much more concerned with power, with consolidating power.”
The ruling party’s cynicism has engendered visions on the left of its wholesale defeat.
“The Republican Party is now a reliable opponent of equality and a malignant force in American life — a cancer within a patient in denial about the nature and severity of her condition,” wrote the New Republic’s Osita Nwanevu. “It should be not only defeated but destroyed — vanquished from the American political scene with a finality that can only be assured not by electoral politics or structural reforms alone, but by a moral crusade.”
This is, of course, hardly the first time the United States has been so divided. An important piece in the New Yorker by Harvard historian Jill Lepore examined the sense of democratic crisis that was felt by many Americans in the 1930s. She details the astonishing New Deal-era civic engagement that took place in response, the profusion of debates, publicly backed artistic projects, town halls and radio shows that drew in millions around the country.
“Our wisdom or ignorance stands in the way of our accepting the totalitarian assumption of Omniscience,” the historian Charles Beard argued at the time, when explaining how Americans would resist the pull of communism or fascism. “And to this extent it contributes to the continuance of the arguing, debating, never-settling-anything-finally methods of political democracy.”
 
There’s plenty of arguing now in America, but it’s hard to see any glimmers of civic reconciliation.