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terça-feira, 28 de julho de 2020

Boletim da Sociedade Brasileira de Direito Internacional: comemorativo dos 100 anos da SBDI


"Descobri", e acabei postando, o arquivo digital do número comemorativo dos 100 anos (1915-2015) do Boletim da Sociedade Brasileira de Direito Internacional (Órgão oficial da SBDI; ISSN: 0103-8451, agora sob a direção do Prof. Wagner Menezes, da FaDUSP), que no seu volume 103 (julho-dezembro 2017, n. 125-130, 2017), publicou, entre dezenas de outros artigos, meu ensaio sobre “A construção do direito internacional do Brasil a partir dos pareceres dos consultores jurídicos do Itamaraty: do Império à República” (p. 1153-1211), (originalmente disponível neste link: https://drive.google.com/file/d/1U8Jym4r61ghZelJj_HgNoJM-0kPJltMd/view), sendo que eu o inseri igualmente na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43725383/Sociedade_Brasileira_de_Direito_Internacional_-_Boletim_dos_100_Anos_1915-2015_).

Meu artigo, que me parece abrir várias "janelas" para dissertações e teses de estudantes de Direito ou de Relações Internacionais, pode ser lido em diferentes versões, pois diferentes veículos se interessaram pela publicação, e também em versão em Power Point, correspondendo à minha apresentação no Congresso Brasileiro de Direito Internacional:

3023. “A construção do direito internacional do Brasil a partir dos pareceres dos consultores jurídicos do Itamaraty: do Império à República”, Brasília, 19 agosto 2016, 47 p.; revisto em 26/08/2016, 49 p. Ensaio bibliográfico a partir dos pareceres dos consultores jurídicos do Itamaraty e das consultas da seção dos Negócios Estrangeiros do Conselho de Estado nas obras publicadas pela Funag e Senado Federal; preparado primordialmente para o 14o. Congresso Brasileiro de Direito Internacional, realizado em Gramado, RS, de 31/08 a 3/09/2016, por iniciativa de Wagner Menezes. Postado na plataforma Academia.edu (21/08/2016; link: https://www.academia.edu/s/8bb14e500d/3023-a-construcao-do-direito-internacional-do-brasil-a-partir-dos-pareceres-dos-consultores-juridicos-do-itamaraty-do-imperio-a-republica-2016). Nova versão, ampliada, com novos links acrescentados aos livros citados na, postado na plataforma Academia.edu (26/08/2016, link: https://www.academia.edu/s/224fb86980/3023-a-construcao-do-direito-internacional-do-brasil-a-partir-dos-pareceres-dos-consultores-juridicos-do-itamaraty-do-imperio-a-republica-2016). Feita versão visual em Power Point para apresentação no Congresso de Gramado, sob n.  3028, postada igualmente na plataforma Academia.edu (link: http://www.academia.edu/28053979/3028_Apresentacao_Paulo_Roberto_de_Almeida_Gramado_2016_). Publicado sob o título de “A construção do direito internacional do Brasil a partir dos pareceres dos consultores jurídicos do Itamaraty: do Império à República”, nos Cadernos de Política Exterior (Brasília: Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, Funag-MRE; ano II, n. 4, segundo semestre 2016, p. 241-298; ISSN: 2359-5280; link: http://funag.gov.br/loja/download/1186-cadernos-de-politica-exterior-ano-2-volume-4.pdf), na Revista Jurídica Luso-Brasileira (ano 4, n. 3, 2018, pp. 1251-1314; ISSN: 2183-539X; link: https://www.cidp.pt/revistas/rjlb/2018/3/2018_03_1251_1314.pdf) e no Boletim da Sociedade Brasileira de Direito Internacional (Órgão oficial da SBDI; ano CIII, vol. 103, julho-dezembro 2017, n. 125-130, 2017, p. 1153-1211; ISSN: 0103-8451; link: https://drive.google.com/file/d/1U8Jym4r61ghZelJj_HgNoJM-0kPJltMd/view) ; inserido na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43725383/Sociedade_Brasileira_de_Direito_Internacional_-_Boletim_dos_100_Anos_1915-2015_). Relação de Publicados n. 1238 e 1270. 


sábado, 13 de junho de 2020

Constituições Brasileiras: uma informação sumária - Paulo Roberto de Almeida

Constituições Brasileiras: uma avaliação sumária



Paulo Roberto de Almeida
Notas para podcast com Rodrigo Marinho (Instituto Mises); 12/06/2020

Constituições e regimes políticos no Brasil, 1824-1988
Constituições
Tipo de instituição
Características
1a.: 1824-1889
Outorgada; emendas.
Longa duração, 65 anos de regime parlamentar.
Pedro I dissolve a Constituinte; quatro poderes, inclusive o Moderador, exclusivo do imperador, podendo dissolver a câmara; voto censitário;
2 a.: 1891-1934
Constituinte;
promulgada.
Emendada em 1926; eleições fraudulentas.
Regime republicano federativo, autonomia dos estados; presidencialismo de 4 anos, sem reeleição; voto restrito aos alfabetizados; Estado laico;
3 a.: 1934-37
Promulgada;
curta vigência
Assembleia, com representação corporativa
Centralização, nacionalismo econômico; direitos sociais e laborais; direito de voto às mulheres; analfabetos continuam excluídos;
4 a.: 1937-46
Imposta
Golpe de Estado fechou o Congresso
Autoritária, inaugura o Estado Novo: dissolução dos partidos; centralização; ditador legisla por decretos.
5 a.: 1946-1964
Promulgada
Assembleia Constituinte
Tensão entre a maioria presidencial e o Congresso, proporcional; coalizões heteróclitas de partidos.
Atos Institucionais
Deformaram a Const. 1946: AI-1: cassou mandatos; AI-2: decretos-leis;
“A Revolução vitoriosa se investe no exercício do Poder Constitucional”, e se legitima por si mesma, como Poder Constituinte; AI-2; extinguiu partidos políticos; AI-3: eleições indiretas; AI-4: CF-1967
6a.: 1967-69
Outorgada pelo Governo
Comissão de Juristas: Congresso mutilado aprovou
Congresso aprovou em 40 dias; AI-5 (13/12/1968): Cassação de mandatos; intervenção nos estados e municípios; suspendeu o habeas corpus; 
Emenda Constit. n. 1 - 1969
Junta Militar; suspende CF-1967
17/10/1969 (AI-16); suspensão de garantias constitucionais e de apreciação judicial; 
7ª.: 1988
Congresso Constituinte
Extensa; prolixa; mais de cem emendas
Comissão de Juristas (Afonso Arinos); Relator da Msg Pres. ignorado na Const. exclusiva; participação popular; vocação parlamentar desviada
Elaboração: Paulo Roberto de Almeida (12/06/2020)

Remeto a estes meus trabalhos: 

3501. “Constituição de 1988: uma utopia contra o crescimento”, Brasília, 16 agosto 2019, 14 slides. Breve apresentação sobre temas constitucionais, mas sobretudo sobre métodos de estudo e trabalho, com objetivos pragmáticos, para debate sobre a questão. Disponível em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43335000/Constituicao_de_1988_uma_utopia_contra_o_crescimento_2019_).

3414. “Roberto Campos e a utopia constitucional brasileira”, Brasília, 23 fevereiro 2019, 36 p. Texto introdutório ao livro de Paulo Roberto de Almeida (org.), Roberto Campos, A Constituição Contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988 (São Paulo: LVM, 2018, 448 p.; ISBN: 978-85-93751-39-4). Disponibilizado em Academia.edu (link: http://www.academia.edu/38422710/3414RobertoCamposUtopiaConstitucional.pdf) e anunciado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/02/roberto-campos-e-utopia-constitucional.html). 

3365. “Trinta anos da Constituição: evento no Mackenzie”, Brasília, 27 novembro 2018, vídeo em QuickTime, de 6ms, com comentários sobre Roberto Campos e sua postura em face da CF-1988, remetendo à obra: Paulo Roberto de Almeida (org.), Roberto Campos, A Constituição Contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988 (São Paulo: LVM, 2018, 448 p.; ISBN: 978-8593751394). Postado no YouTube (link: https://youtu.be/ZDxNxFQvSUw). Gravação alternativa feita por câmera de vídeo, de menor duração (3ms), também carregada no YouTube (link: https://youtu.be/wpifxapYfBw); ambos disponíveis no Canal Pessoal do YouTube (link: https://www.youtube.com/user/paulomre/videos). Divulgado, com texto do Prefácio, na plataforma Academia.edu (28/11/2018; link: https://www.academia.edu/37864650/A_Constituicao_Contra_o_Brasil_Ensaios_de_Roberto_Campos). Relação de Publicados n. 1295.

3323. “Prefácio ao livro Roberto Campos e a utopia constitucional brasileira”, Brasília, 18 agosto 2018, 6 p. Texto para servir de prefácio ao livro em questão, a partir de extratos do trabalho original n. 3310. Incorporado ao livro, com título revisto: Paulo Roberto de Almeida, A Constituição Contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988 (São Paulo: LVM, 2018, 448 p.; ISBN: 978-8593751394). Índice divulgado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/37324704/A_Constituicao_Contra_o_Brasil_Ensaios_de_Roberto_Campos_sobre_a_Constituinte_e_a_Constituicao_de_1988 http://www.academia.edu/37396782/A_Constituicao_Contra_o_Brasil_Ensaios_de_Roberto_Campos_sobre_a_Constituinte_e_a_Constitui%C3%A7%C3%A3o_de_1988).

3240. Estrutura Constitucional e Interface Internacional do Brasil: Relações internacionais, política externa e Constituição, Brasília, 29 janeiro 2018, 146 p. Compilação seletiva de ensaios sobre essa temática, elaborados depois de 1996, como complemento ao livro Parlamento e Política Externa (1996). Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/35779830/Estrutura_constitucional_e_interface_internacional_do_Brasil), em Research Gate (9/03/2018; link: https://www.researchgate.net/publication/323675789_Estrutura_Constitucional_e_Interface_Internacional_do_Brasil_Relacoes_internacionais_politica_externa_e_Constituicao_Brasilia_Edicao_do_Autor_2018), informado no Diplomatizzando (https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2018/01/as-relacoes-constitucionais-e-estrutura.html). DOI: 10.13140/RG.2.2.28791.11683.

193. “A Estrutura Constitucional das Relações Internacionais e o Sistema Político Brasileiro”, Montevidéu, 7 agosto 1990, 29 p. Reelaboração de ensaio sobre as relações internacionais na Constituição, com ênfase nas relações Executivo-Legislativo. Encaminhado ao I Forum Nacional de Direito Constitucional (São Paulo, 14-15/09/90) e à revista Contexto Internacional do Instituto de Relações Internacionais da PUC-RJ. Publicado na Contexto Internacional (Rio de Janeiro, Ano 6, n. 12, julho-dezembro 1990, p. 53-69; links: http://contextointernacional.iri.puc-rio.br/media/Almeida_vol12.ano6.pdf e https://www.academia.edu/attachments/32718354/download_file). Relação de Trabalhos Publicados n. 062.

1777. “A economia política do baixo crescimento econômico no Brasil: um Prometeu acorrentado pela sua própria Constituição”, Brasília, 31 julho 2007, 21 p. Ensaio sobre os impedimentos constitucionais a maiores taxas de crescimento econômico e de inserção internacional no Brasil, com base nos trabalhos 169 (“Relações Internacionais e Interesse Nacional: As Relações Econômicas do Brasil e a Ordem Constitucional”, Genebra, 20 fevereiro-13 março 1989) e 1752 (“Prometeu acorrentado: o Brasil amarrado por sua própria vontade”, Brasília, 20 maio 2007), e incorporando os quadros analíticos do capítulo 3 (“A estrutura constitucional das relações internacionais do Brasil”), do livro O Estudo das Relações Internacionais no Brasil (Brasília: LGE, 2007). Publicado in Elizabeth Accioly (coordenadora), O Direito no Século XXI: homenagem ao Professor Werter Faria (Curitiba: Editora Juruá, 2008, 864 p.; ISBN: 978-85-362-2151-9; p. 615-632). Republicado em edição especial comemorativa dos 20 anos da instalação da Assembleia Nacional Constituinte da Revista de Informação Legislativa (Brasília: Subsecretaria de Edições Técnicas do Senado Federal, ano 45, n. 179, jul.-set. 2008, p. 1-16), sob supervisão do Professor Jorge Fontoura (organizador). Recebido para revisão em 15.08.2008. Relação de Publicados nº 846. 

2898: “Consequências econômicas das constituições brasileiras, 1824-1946”, Anápolis, 25 de novembro de 2015, 22 p. Reaproveitamento, revisto e adaptado, do trabalho 2784 (redigido em Hartford, 1 de março 2015, 19 p.; revisto em 5/05/2015), destinado ao terceiro volume da obra coletiva editada por Camilo Negri e Elisa de Sousa Ribeiro (Coords.), Retratos Sul-Americanos, vol. III: Perspectivas Brasileiras sobre História e Política Externa (Brasília: s.n., 2015, 415 p.; ISBN: 978-85-448-0287-8; eISBN: 978-85-448-0286-1; p. 136-185; disponível Amazon: http://amzn.com/B019ME2W7I; Bookess: http://www.bookess.com/read/23683-retratos-sul-americanos-perspectivas-brasileiras-sobre-historia-e-politica-externa-volume-iii/). Relação de Publicados n. 1206.

2505. “A Constituição brasileira contra o Brasil: uma interpretação econômica da esquizofrenia constitucional”, Hartford, 8 Agosto 2013, 39 p. Ensaio interpretativo sobre os mais importantes dispositivos econômicos da Constituição de 1988, e dos que regulam direitos sociais com impacto na economia do país, enfatizando seu caráter distributivo, o que inviabiliza uma taxa de crescimento mais vigorosa para o país. Resumo em 20 p. em 08/08/2013, sob o título “A Constituição brasileira aos 25 anos: um caso especial de esquizofrenia econômica”, publicado no Digesto Econômico (Julho-Agosto 2013, p. 64-74). Resumo em 25 p. em 12/08/2013, sob o título “A Constituição brasileira contra o Brasil: dispositivos constitucionais que dificultam o seu crescimento econômico”, como contribuição a livro: René Marc da Costa Silva (org.): 25 Anos da Constituição Federal de 1988: uma comemoração crítica (Brasília: Uniceub, 2013, 240; ISBN: 978-85-61990-17-6; p. 55-81; disponível: http://www.academia.edu/5634341/103_A_Constitui%C3%A7%C3%A3o_brasileira_contra_o_Brasil_dispositivos_constitucionais_que_dificultam_o_seu_crescimento_econ%C3%B4mico_2013_); divulgação desta versão dividida em sete blocos, no site do Instituto Millenium, links reproduzidos na postagem do Diplomatizzando (07/01/2015; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2015/01/a-constituicao-brasileira-um-caso.html). Relação de Publicados n. 1105 e 1112.

169. “Relações Internacionais e Interesse Nacional: As Relações Econômicas do Brasil e a Ordem Constitucional”, Genebra, 20 fevereiro-13 março 1989, 26 p. Ensaio sobre as relações econômicas internacionais do Brasil, tal como influenciadas pelos dispositivos pertinentes da nova Constituição e sua relevância para o interesse nacional em termos de capacitação para o desenvolvimento. Publicado no Boletim da Sociedade Brasileira de Direito Internacional (Anos XXXIX a XLI, 1987/1989, n. 69/71, p. 164-183). Relação de Trabalhos Publicados n. 058. 

138. “Relações Exteriores e Constituição”, Brasília, 8 dezembro 1986, 11 p. Artigo sobre a recuperação legislativa da fiscalização e controle da política externa do Executivo, nos EUA e no Brasil. Publicado na Revista Brasileira de Política Internacional (Rio de Janeiro, ano XXIX, n. 115-116, 1986/2, p. 83-90), na Revista de Informação Legislativa (Brasília, ano 24, n. 94, abril-junho 1987, p. 109-120) e na revista Política e Estratégia (São Paulo, vol. V, n. 2, abril-junho 1987, p. 256-263). Relação de Trabalhos Publicados n. 029, 037 e 039.

123. “Uma Interpretação Econômica da Constituição Brasileira: A Experiência de 1946 e Perspectivas para 1987”, Brasília, 15-20 junho 1986, 25 p. Artigo sobre a representação dos interesses sociais no processo constitucional brasileiro. Elaborado originalmente como ensaio de histórica intelectual reconhecidamente inspirado no livro do historiador “marxista” norte-americano Charles Beard, An Economic Interpretation of the Constitution (1913), foi publicado, em sua versão original, na publicação quadrimestral da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados, Revista da Fundação SEADE, São Paulo em Perspectiva (São Paulo: vol. 2, n. 2-3, maio-dezembro 1986, p. 53-64). Reformulado parcialmente em setembro 1986. Publicado, sem o novo subtítulo “A Representação dos Interesses Sociais em 1946 e 1986”, na revista editada pela Universidade de Brasília, Humanidades (Brasília: Ano III, n. 11, novembro 1986-janeiro 1987, p. 18-26). Publicado, com algumas correções de texto, na revista editada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ciência e Cultura (São Paulo: vol. 39, n. 1, janeiro 1987, p. 34-46). Relação de Trabalhos Publicados n. 026, 032 e 034.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

O desenvolvimento brasileiro em perspectiva global e comparada - Paulo Roberto de Almeida

O desenvolvimento brasileiro em perspectiva global e comparada
Insuficiências da política externa no processo de desenvolvimento brasileiro? Uma perspectiva histórico-diplomática sobre a não convergência do Brasil a padrões mais elevados de modernidade desde o final do século XIX

Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: introdução a estudo mais amplo; finalidade: destinado a futuro ensaio]


Não sou historiador, nem sou economista, mas sempre gostei de refletir historicamente sobre as frustrações de nosso desenvolvimento econômico e social — e elas são muitas e evidentes, do contrário já seríamos uma nação materialmente mais avançada, com menor grau de iniquidades sociais —, sendo propenso, como um modesto aprendiz de sociologia histórica, a analisar essas insuficiências no contexto mais vasto do processo mundial de desenvolvimento econômico dos povos e nações desde o final do século XIX, ou seja, desde quando se confirmou aquela tendência que os historiadores econômicos chamam de Grande Divergência, no bojo da segunda revolução industrial.
Ora, já estamos na quarta ou na quinta revolução industrial e o mundo caminha para um período de relativa convergência— mais evidente no caso da Ásia Pacífico do nos demais continentes da periferia —, mas o Brasil “insiste” em “ficar do lado errado” da História, ou seja, do lado daqueles países que falharam em realizar uma modernidade completa, em não convergir para o lado das sociedades avançadas e em preservar os seus velhos traços de descalabro político, de corrupção moral, de iniquidades sociais, em meio a um contexto global tão confuso e desafiador quanto foi aquele do final da belle époque, que finalmente nos levou a meio século de devastações materiais, políticas e morais.
Tendo feito, no meio século subsequente, da sociologia histórica uma de minhas afinidades eletivas no campo do trabalho intelectual, mas tendo me exercido na carreira diplomática no terreno profissional, tenho buscado, ao longo das últimas quatro décadas, aprofundar minhas pesquisas de relações econômicas internacionais com uma preocupação particular sobre o caso brasileiro, uma atenção que não é puramente acadêmica, mas que envolve também uma reflexão sobre as melhores políticas públicas suscetíveis de nos levar da condição de país periférico — até materialmente bem dotado, inclusive de um Estado relativamente funcional, mas exibindo uma sociedade muito desigual, com um número anormalmente elevado de pobres e desqualificados — para uma outra, de país medianamente desenvolvido, com maior inserção na economia global e menores taxas de iniquidades sociais e de delinquências políticas e morais.
É com base nessas considerações de ordem ética que me proponho rever, ainda que de forma impressionista — ou seja, sem o devido apoio nos procedimentos habituais no meio acadêmico, de recurso a referências bibliográficas ou a fundamentações empíricas — o nosso processo de desenvolvimento ao longo desse século e meio decorrido desde o final da Guerra do Paraguai, com algumas indagações próprias à minha condição profissional, no sentido de verificar se a diplomacia profissional do Brasil não poderia ter exercido papel mais relevante na construção da nação, para situar-me no universo conceitual delineado na obra já clássica de Rubens Ricupero: A diplomacia na construção do Brasil, 1750-2016(Rio de Janeiro: Versal, 2017). Trata-se de operar uma interação entre o relato histórico, mesmo de forma sintética, sobre esses 150 anos de evolução errática e o exame de algumas janelas de oportunidades oferecidas ao nosso corpo profissional de diplomatas no sentido de imprimir às políticas públicas algumas características operacionais mais coetâneas e convergentes com padrões mais elevados de modernidade econômica e social, o que de toda forma seria dependente de um sistema político mais adequado ao objetivo de fazer do Brasil uma nação mais avançada espiritualmente e menos desigual no plano social. 
Estas reflexões também são inspiradas em obra de contornos similares — a de Antonio Paim, Momentos decisivos da história do Brasil (São Paulo: Martins Fontes, 2000) —, provavelmente com angústias convergentes, no sentido de verificar se o país não poderia ter sido desviado, em momentos de bifurcação de sua trajetória histórica, de alguns de nossos “pecados originais”, o patrimonialismo, o protecionismo e o estatismo excessivos, o nacionalismo ingênuo, o contra-reformismo renitente, para enveredar por um caminho mais afirmado de verdadeira construção da nação pela adoção de políticas públicas mais condizentes com suas necessidades. 
Na impossibilidade de examinar o conjunto enorme de fatores conducentes a essa “via luminosa” do desenvolvimento inclusivo, vou contentar-me em examinar alguns momentos ou episódios nos quais a diplomacia profissional poderia talvez ter contribuído de maneira mais afirmada com o projeto obsessivo de construção da nação, o desenvolvimento integral de suas forças sociais, o que, de toda forma, dependeria de uma revolução educacional jamais levada a cabo de maneira consequente e acabada. A diplomacia não teve forças — talvez por viver muito apartada da nação, atuando mais como uma corporação de Estado em si e para si — para impulsionar mais vigorosamente um projeto de desenvolvimento nacional, que sempre permaneceu no plano mais retórico do que concreto. Não era essa, provavelmente, a sua “missão histórica”, embora não lhe faltassem meios, intelectuais em sua maior parte, de dar sua contribuição a essa grande transformação (para ficar com um conceito caro a Karl Polanyi).
Vejamos o que se pode dizer dessas interações aqui sugeridas.


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10 de junho de 2020

Destinado a ser incorporado a uma nova versão, ampliada, deste trabalho, com acréscimos relativos a elementos de história diplomática (Oliveira Lima, Itiberê Brasílio da Cunha, Oswaldo Aranha, San Tiago Dantas, Eugênio Gudin, Roberto Campos e outros): 

3662. “Desenvolvimento brasileiro, do século XIX à atualidade: economia, pobreza, trabalho e educação em perspectiva histórica”, Brasília, 3 maio 2020, 17 p. Notas para aula a ser ministrada a pedido do Prof. Cleofas Jr., da Paraíba, no dia 6/05/2020, 15hs, via canal do YouTube. Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/42926645/Desenvolvimento_brasileiro_do_seculo_XIX_a_atualidade_economia_pobreza_trabalho_e_educacao_em_perspectiva_historica_2020_) e anunciado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/05/desenvolvimento-brasileiro-do-seculo.html).

segunda-feira, 27 de abril de 2020

As duas últimas décadas do século XX: fim do socialismo e retomada da globalização (2006) - Paulo Roberto de Almeida

Acabo de postar na plataforma Academia.edu, este trabalho que consolida a informação sobre as duas últimas décadas do século XX no plano das relações internacionais: 


As duas últimas décadas do século XX: fim do socialismo e retomada da globalização


Paulo Roberto de Almeida
Capítulo 8 do livro organizado por Flávio Saraiva, Relações internacionais contemporâneas. Publicado em José Flávio Sombra Saraiva, Relações internacionais: dois séculos de história, v. II: Entre a ordem bipolar e o policentrismo (de 1947 a nossos dias) (Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, IBRI; Fundação Alexandre de Gusmão, FUNAG; Coleção Relações Internacionais, 2001, v. II, p. 91-174);
Republicado in: José Flávio Sombra Saraiva (org.), História das Relações internacionais Contemporâneas: da sociedades internacional do século XIX à era da globalização (2a. revista e atualizada; São Paulo: Editora Saraiva, 2006, p. 253-316; ISBN: 85-88270-03-X).


Sumário: 
Introdução: a grande transformação do final do século XX
1. A década de 80: dez anos que abalaram o mundo 
1.1. O fim do socialismo e seu impacto nas relações internacionais
1.2. Fim da Guerra Fria e mudanças no cenário internacional
2. Nova Guerra Fria e a derrocada do socialismo 
2.1. Relações entre as superpotências: da détente à nova Guerra Fria
2.2.O socialismo na contracorrente da História
2.3 Razões da derrocada socialista: irrelevância econômica internacional
2.4. Impossibilidade de reforma e perda de prestígio externo
3. A economia mundial: crise, crescimento de diversificação 
3.1. Integração de mercados financeiros e anarquia monetária
3.2. Comércio internacional: crescimento e protecionismo
3.3. Fragmentação e diversificação do Sul
4. Relações estratégicas internacionais e conflitos regionais 
4.1. Controle de armamentos: contenção nuclear vertical e horizontal
4.2. Conflitos regionais: a disseminação horizontal
4.3. A Ásia e o enigma chinês
4.4. Progressos na busca da segurança coletiva
5. A década de 90: a nova balança do poder mundial 
5.1. A era do Pacífico? Da pax niponica ao triunfalismo americano
5.2. Volatilidade de capitais e crises bancárias: a instabilidade financeira
5.3. A emergência de múltiplas polaridades
6. Os problemas globais: a nova agenda internacional
6.1. Novos e velhos problemas: a complexa agenda mundial
6.2. Limites da soberania estatal
6.3. Globalização e regionalização: tendências irresistíveis?
7. A globalização e o Brasil 
7.1. A América Latina no contexto internacional
7.2. O Brasil na globalização 


Texto integral disponível na plataforma Academia.edu, link:



domingo, 19 de abril de 2020

O Barão do Rio Branco nos escritos de Paulo Roberto de Almeida

O Barão do Rio Branco nos escritos de Paulo Roberto de Almeida

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: coletânea de textos sobre Rio Branco; finalidade: dia do diplomata 2020]


Todo ano, no dia 20 de abril, os diplomatas comemoram o “dia do diplomata”, que foi criado ao início do regime militar, para institucionalizar a cerimônia de formatura das novas turmas do Instituto Rio Branco, cujo surgimento se deu por decreto do presidente Getúlio Vargas, nessa data em 1945, nas comemorações do centenário do nascimento do assim chamado patrono da diplomacia brasileira. Naquela ocasião foram publicados nove volumes das obras do Barão, além da biografia – altamente oficial – do próprio por Álvaro Lins. Em 1959, o político e intelectual baiano Luiz Vianna Filho publicava uma nova biografia, bem mais interessante, ainda que limitada. 
Muitas outras biografias foram escritas, de maior ou menor qualidade. Em 2002, aos cem anos da posse do Barão como chanceler, um seminário foi realizado no Rio de Janeiro, para o qual colaborei com este texto: “O Barão do Rio Branco e Oliveira Lima: Vidas paralelas, itinerários divergentes”, in: Carlos Henrique Cardim e João Almino (orgs.), Rio Branco, a América do Sul e a Modernização do Brasil (Brasília: Comissão Organizadora das Comemorações do Primeiro Centenário da Posse do Barão do Rio Branco no Ministério das Relações Exteriores, IPRI-Funag, 2002, ISBN: 85-87933-06-X, p. 233-278).
A mais recente biografia do Barão, aliás excelente, é a do historiador diplomata Luís Cláudio Villafañe G. Santos: Juca Paranhos, o barão do Rio Branco (São Paulo: Companhia das Letras, 2018, 560 p.). O mesmo autor já tinha publicado, anteriormente, O evangelho do Barão: Rio Branco e a identidade brasileira (São Paulo: Unesp, 2012), ademais de ter organizado a exposição, e o seu guia, sobre os cem anos da morte do Barão, no velho Palácio do Itamaraty no Rio de Janeiro, em 1912. Nessa oportunidade, foram republicadas as obras completas do Barão, em doze volumes, e o livro que resultou do seminário, para o qual colaborei com um texto: “A economia do Brasil nos tempos do Barão do Rio Branco”, in: Manoel Gomes Pereira (org.): Barão do Rio Branco: 100 anos de memória (Brasília: Funag, 2012, 748 p.). Esse livro, assim como as obras completas do Barão, em nova edição ampliada – também organizadas e editadas pelo diplomata Manoel Gomes Pereira –, e o livro de 2002, estão disponíveis na Biblioteca Digital da Funag, em diversos formatos.
Apresento a seguir, alguns dos meus trabalhos em torno do Barão do Rio Branco, seu trabalho na época e o impacto ainda atual do grande chanceler.

526. “O legado do Barão: Rio Branco e a moderna diplomacia brasileira”, Brasília, 26 abril 1996, 7 p.; revisão: 02/05/96, 11 p. Apresentação e comentários ao livro José Maria da Silva Paranhos, Barão do Rio Branco: Uma Biografia Fotográfica,1845-1995, Texto de Rubens Ricupero; organização, iconografia e legendas de João Hermes Pereira de Araujo (Brasília: FUNAG, 1995, 132 p.). Publicado na Revista Brasileira de Política Internacional (vol. 39, n° 2, julho-dezembro 1996, p. 125-135). Divulgado no blog Diplomatizzando (19/04/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/04/dia-20-de-abril-dia-do-diplomata.html). Relação de Publicados n. 198.
936. “O Barão do Rio Branco e Oliveira Lima: Vidas paralelas, itinerários divergentes”, Washington, 14 ago. 2002, 41 p. Texto sobre o relacionamento entre os dois diplomatas, preparado para o seminário sobre os 100 Anos da posse do Barão do Rio Branco como chanceler, realizado nos dias 28 e 29 de agosto, no IRBr, Brasília. Publicado in Carlos Henrique Cardim e João Almino (orgs.), Rio Branco, a América do Sul e a Modernização do Brasil (Brasília: Comissão Organizadora das Comemorações do Primeiro Centenário da Posse do Barão do Rio Branco no Ministério das Relações Exteriores, IPRI-Funag, 2002, ISBN: 85-87933-06-X, p. 233-278). Ensaio incluído no volume: Oliveira Lima: um historiador das Américas, Paulo Roberto de Almeida, André Heráclio do Rêgo (Recife: CEPE, 2017, 175 p.; ISBN: 978-85-7858-561-7, p. 13-54); anunciado no Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/12/oliveira-lima-um-historiador-das.html). Relação de Originais n. 3177; Relação de Publicados n. 382 e 1277.
939. “Reflexões a propósito do centenário do Barão: (ou das dificuldades de ver no plano interno as razões de nossos problemas)”, Washington, 2 setembro 2002, 6 p. Ensaio sobre a relação entre nossos desafios externos e os problemas internos, em relação a texto de Rubens Ricupero sobre o centenário do Barão do Rio Branco e os desafios atuais para o Brasil no plano internacional. Publicado no Meridiano 47 (Brasília: ISSN 1518-1219, n. 28-29, novembro-dezembro 2002, p. 24-27; link: http://www.mundorama.info/Mundorama/Meridiano_47_-_1-100_files/Meridiano_28_29.pdf). Ensaio incorporado ao livro: Paralelos com o Meridiano 47: Ensaios Longitudinais e de Ampla Latitude (Hartford, 2015). Divulgado no blog Diplomatizzando (19/04/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/04/cem-anos-da-posse-do-barao-do-rio.html). Relação de Publicados n. 358.
1727. “Dos arquivos da história: o Itamaraty nas fontes primárias”, Brasília, 20 fevereiro 2007, 4 p. Notas sobre os seguintes volumes: Alvaro da Costa Franco (org.): Com a palavra, o Visconde do Rio Branco: A política exterior no Parlamento imperial [1855-1875] (Rio de Janeiro: Centro de História e Documentação Diplomática; Brasília: Funag, 2005, 574 p.).
2065. “Prata da Casa – Boletim ADB 4o. trimestre 2009”, Brasília, 25 novembro 2009, 1 p. Notas sobre os livros: (...) Luiz Felipe de Seixas Corrêa: O Barão do Rio Branco: Missão em Berlim – 1901/1902 (Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2009, 140 p.; ISBN: 978-85-7631-161-4). Publicado no Boletim ADB (ano 16, n. 67, outubro-novembro-dezembro 2009, seção “Prata da Casa”, p. 31). Relação de Publicados n. 943ter.
2372. “A economia do Brasil nos tempos do Barão”, Paris, 4 março 2012, 32 p. Ensaio preparado para seminário internacional em homenagem ao Barão do Rio Branco no centenário de sua morte (Rio de Janeiro, maio de 2012). Publicado como “A economia do Brasil nos tempos do Barão do Rio Branco”; In: Manoel Fomes Pereira (org.): Barão do Rio Branco: 100 anos de memória. Brasília: Funag, 2012, 748 p.; ISBN: 978-85-7631-413-4; p. 523-563. Relação de Publicados n. 1084.
2407. “O Barão do Rio Branco e as estratégias do Brasil: a grande e as pequenas”, Brasília, 10 de julho de 2012, 6 p. Colaboração ao primeiro número da revista do Curso Sapientia. Publicada na Revista Sapientia (ano 1, n. 2, setembro 2012, p. 23-25; ISSN: ; link: http://www.cursosapientia.com.br/revista/ed2/). Divulgado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2012/09/estrategias-de-politica-externa-grande.html). Relação de Publicados n. 1073.
2419. “Prata da Casa, Boletim ADB - 3ro. trimestre 2012”, Brasília, 20-25 agosto 2012, 5 p. Notas sobre os seguintes livros:  (...) 2) Luís Cláudio Villafañe G. Santos: O evangelho do Barão: Rio Branco e a identidade brasileira (São Paulo: Unesp, 2012, 176 p.; ISBN: 978-85-393-0244-4).
2434. “O Barão do Rio Branco: então e agora”, Brasília, 14 Outubro 2012, 11 p. Texto-guia para palestra na Universidade Federal de Passo Fundo, dia 18/10, Revisto integralmente para ser incorporado ao livro: Nunca Antes na Diplomacia...: A política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Appris, 2014, p. 289; ISBN: 978-85-8192-429-8). Relação de Originais n. 2596. Relação de Publicados n. 1133.
2466. “O Barão em todos os seus estados...”, Hartford, 20 fevereiro 2013, 3 p. Especial para o Boletim ADB, 1/2013, resumindo as Obras Completas do Barão (2012), a obra coletiva: Gomes Pereira, Manoel (org.). Barão do Rio Branco: 100 Anos de Memória (Brasília: Funag, 2012, 748 p.; ISBN: 978-85-7631-413-4), e dois livros ilustrados: caricaturas e exposição. Publicado no Boletim ADB (ano 20, n. 80, janeiro-fevereiro-março 2013, p. 4-7; ISSN: 0104-8503). Relação de Publicados n. 1092.
2483. “Prata da Casa, Boletim ADB – 2do. trimestre 2013”, Hartford, 27 Abril 2012, 3 p. Notas sobre os seguintes livros: (...) 4) Manoel Gomes Pereira: Barão do Rio Branco: 100 anos de memória (Brasília: Funag, 2012, 748 p.; ISBN: 978-85-7631-413-4).
2773. “Prata da Casa, Boletim ADB – 1ro. trimestre 2015”, Hartford, 15 fevereiro 2015, 3 p. Notas sobre os seguintes livros: (...) 6) Centro de História e Documentação Diplomática: II Conferência da Paz, Haia, 1907: a correspondência telegráfica entre o Barão do Rio Branco e Rui Barbosa (Brasília: FUNAG, 2014, 272 p.; ISBN 978-85-7631-508-7).
2852. “Prata da Casa, Boletim ADB – 3ro. trimestre 2015”, Hartford, 11 julho 2015, 3 p. Notas sobre os seguintes livros: (...) 5) Benjamin Mossé: Dom Pedro II: Imperador do Brasil (O Imperador visto pelo barão do Rio Branco) (Brasília: Funag, 2015, 268 p.; ISBN: 978-85-7631-551-3).
3213. “Diplomatas ganham o seu sindicato próprio: farão bom uso?”, Brasília, 19 dezembro 2017, 2 p. Comentários e transcrições, do Visconde do Rio Branco, e de Ribeiro Couto. Postado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/12/diplomatas-ganham-o-seu-sindicato.html).
3408. “A economia política do Barão, na obra de L. C. Villafañe”, Brasília, 7 fevereiro 2019, 13 p. Resenha do livro de Luís Cláudio Villafañe G. Santos: Juca Paranhos, o barão do Rio Branco (São Paulo: Companhia das Letras, 2018, 560 p.; ISBN: 978-85-359-3152-5). Publicado em Meridiano 47 - Journal of Global Studies 20 (agosto 2019; link: http://periodicos.unb.br/index.php/MED/issue/view/1811); disponível nos links: http://periodicos.unb.br/index.php/MED/article/view/22839/23240 e https://doi.org/10.20889/M47e20007). Divulgado no blog Diplomatizzando (24/08/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/08/a-economia-politica-do-barao-na-obra-de.html); disponível na plataforma Academia.edu (link:https://www.academia.edu/40165256/A_economia_politica_do_Barao_na_obra_de_L._C._Villafane). Relação de Publicados n. 1318.
3412. “Prata da Casa, outubro de 2018 a fevereiro de 2019”, Brasília, 20 fevereiro 2019, 6 p. Resenhas dos seguintes livros para a Revista da ADB:  (...) 5) Villafañe G. Santos, Luís Cláudio: Juca Paranhos, o barão do Rio Branco (São Paulo: Companhia das Letras, 2018, 560 p.; ISBN: 978-85-359-3152-5).


Cem anos da posse do Barão do Rio Branco (1902) como chanceler - Paulo Roberto de Almeida (2002)

Dando continuidade à publicação de meus textos sobre o Barão do Rio Branco, transcrevo um pequeno artigo que fiz em 2002, como reflexão a partir de artigo do embaixador Rubens Ricupero, publicado pouco antes, e que transcrevo ao final desta postagem.
Paulo Roberto de Almeida

Reflexões a propósito do centenário do Barão
(ou das dificuldades de ver no plano interno as razões de nossos problemas)

Paulo Roberto de Almeida
Washington, 2 setembro 2002

Em artigo publicado na Folha de São Paulo do dia 1º de setembro [in fine], o Embaixador Rubens Ricupero traça brilhante retrospecto da ação competente do Barão do Rio Branco à frente da chancelaria brasileira, do final de 1902 ao início de 1912. Está ali plenamente justificada a opção preferencial do Barão por uma estreita aliança com os Estados Unidos, em face do agressivo imperialismo europeu, então em seu auge expansionista. Os desafios se colocavam mais no plano global do que no regional, uma vez que neste o Barão soube negociar todas as pendências fronteiriças com pleno conhecimento de causa.
Na arena internacional, porém, como escreve Ricupero, “os desafios globais tinham natureza diferente e pertenciam a outra esfera, a das relações com as grandes potências, perante as quais estávamos inferiorizados por um diferencial de poder tamanho que éramos obrigados a inventar um jogo defensivo mais sutil e indireto.” Daí a tentativa do Barão, em grande medida frustrada, de multilateralizar a doutrina Monroe, em torná-la um instrumento de defesa coletiva do continente em face da agressividade européia, o que não foi logrado justamente porque os EUA estavam então adotando os mesmos métodos “civilizadores” dos europeus. 
Em todo caso, a estratégia política do Barão – de construir uma estreita aliança com os EUA – foi por Ricupero considerada como apropriada em seu contexto, sendo consagrada como norma da política externa brasileira nas fases subsequentes do período republicano: “As fórmulas do barão deram certo, convertendo-se por longos anos em paradigma incontornável da política externa brasileira.” Ricupero, no entanto, coloca a questão de saber se essa estratégia poderia ser adequada igualmente para nossa própria época, daí o sentido do seu título interrogativo: “O que faria o Barão?”. 
Diz Ricupero que, atualmente, “talvez pela primeira vez em um século, defrontamo-nos com dilemas tão desafiadores como os de 1902. Eles apresentam semelhanças de ordem geral com os do passado já que de novo temos de nos definir diante de alteração radical na estrutura mundial de poder e em relação a uma fase muito mais intensa de globalização.” A diferença, contudo, é que o império ameaçador tornou-se aquele mesmo com o qual pretendíamos nos aliar um século atrás: “Desta vez, no entanto, não é o sistema multipolar a incorporar novo ator principal como os EUA, mas são estes últimos que engolem o multipolarismo para concentrar quase todo o poder. O problema é saber se esse poder será exercido unilateralmente ou se sera possível, em alguma medida, colocá-lo a serviço de ordem internacional consentida, tolerante, generosa e justa e que papel poderia ter a diplomacia brasileira nesse esforço.”
Ricupero não traz respostas à questão de como conviver com esse novo desafio, nem especulando sobre o que faria o Barão, hoje, nem sobre o que ele mesmo propõe como estratégia defensiva ou ofensiva do Brasil nesse novo contexto. Sua conclusão soa quase como uma dúvida existencial do Brasil na presente conjuntura, na qual defensores e adversários do projeto da Alca se dividem em igual número por todo o espectro político e econômico nacional. Pergunta ele, à guisa de conclusão: “Será viável construir um tipo de inserção internacional que compatibilize uma Alca mais equilibrada e equânime com as oportunidades abertas pelo multilateralismo comercial em relação à Europa, à Ásia, a todas as regiões e países, essência da genuína globalização?”
Minha presente reflexão, longe de pretender contestar a brilhante argumentação de Ricupero, vai no sentido de colocar uma interrogação mais profunda, vinculada à própria orientação da política externa ou, o que me parece ainda mais fundamental, ao problema da determinação das origens dos nossos problemas de inserção internacional e das raízes desses mesmos problemas.
Observando o debate sobre a Alca e as demais negociações em que estamos engajados, sobre as alternativas de políticas comercial, industrial e diplomática que deveríamos implementar na próxima fase da consolidação econômica e democrática a partir de 2003, não posso deixar de registrar como os diferentes interlocutores sociais e políticos que intervêm nesse debate tendem a atribuir a fatores externos as principais fontes de desafios para o Brasil. De certa forma, os motivos de nossos desequilíbrios são dados, ora pelos tão vilipendiados capitais voláteis, ora pelo protecionismo europeu ou americano, qunado não pelo unilateralismo e prepotência dos países mais ricos, como no suposto projeto de “anexação colonial”, agora representado pela Alca.
Frente a esses desafios, o Brasil sempre tendeu a adotar uma postura defensiva e retraída, como na luta contra a prepotência inglesa do século 19, que pretendia acabar com o tráfico negreiro, na resistência envergonhada contra as pressões de uma das mais velhas ONGs do mundo, a Anti-Slavery Society, à época engajada em ver acelerada a abolição da escravidão no Brasil, reclamando oficialmente contra a propaganda contrária que se fazia na Europa, no início do período republicano, à ida de emigrantes para o Brasil – como se eles não fossem tratados praticamente como substitutos dos escravos nas plantações de café –, bem como contra, já então, os esforços dos EUA de constituir, no plano hemisférico, uma “customs union”, tal como proposta na primeira conferência americana de Washington, em 1889-1890, virtual antecessora do atual projeto da Alca. 
Nos anos 40 e 50 do século passado, por outro lado, quando toda a sociedade se mobilizava na tarefa da industrialização nacional, pretendíamos ter capitais estrangeiros para tal, mas de preferência sem o apêndice incômodo dos capitalistas estrangeiros, isto é, gostaríamos que os países ricos financiassem nosso esforço industrializador mediante adequada transferência de capitais mas preservando totalmente o controle sobre vetores e mecanismos desse processo. Tratava-se, como no século 19, de aceitar as benesses do mundo externo sem incorporar suas obrigações, em termos de educação das massas, de promoção de direitos sociais ou, mais prosaicamente, das obrigações e contrapartidas decorrentes de um mundo verdadeiramente interdependente. 
Em todos esses episódios e processos, o que chama a atenção é a dificuldade dos setores dominantes no Brasil em ver a origem dos problemas no próprio Brasil, em nossas esclerosadas estruturas sociais, em nosso deficiente aparelhamento produtivo, em nossa incapacidade em reconhecer que a ineficiência geral do sistema econômico deriva, essencialmente, da baixa qualificação geral do nosso povo, o que deriva, obviamente, dos níveis ínfimos de educação formal da maioria da população. Passa-se a imagem de que com um ambiente externo mais favorável – menos protecionismo, mais financiamento internacional, maior estabilidade de preços nos mercados mundiais, mais cooperação ao desenvolvimento sob a forma de transferência de tecnologia, maiores possibilidades externas, enfim, revertendo em maiores oportunidades internas – poderíamos impulsionar de forma decisiva e célere nosso processo de desenvolvimento econômico e social. 
Tenho um certo grau de respeito por essa visão “técnica” dos nossos principais problemas, inclusive pela forma competente como sabemos (e sempre soubemos) mobilizar, mediante uma diplomacia que demonstra uma certa competência técnica, essas “possibilidades externas” para convertê-las em oportunidades nacionais. Não posso, porém, deixar de receber com um certo sorriso de desconfiança essas tentativas nossas de transferir para outra esfera a origem de nossos problemas seculares de desenvolvimento, sempre postergando para depois a solução de questões cruciais que, elas sim, estão na raiz de nosso vergonhoso atraso social. Como explicar de outra forma o fato, em si bastante auspicioso, de que tenhamos conseguido conformar a décima mais importante economia do planeta – depois de termos sido durante décadas os primeiros fornecedores de vários produtos primários, verdadeiros monopolistas de algumas commoditiesbastante transacionadas nos mercados mundiais – e continuarmos, por outro lado, a ostentar uma das mais indecentes estruturas de repartição social da renda que se conhece nesse mesmo planeta? Como conciliar, de um lado, a pujança de nossa indústria – nacional e multinacional – e a tremenda competitividade de nossa agricultura com, de outro lado, níveis tão iníquos de educação e saúde para milhões de nossos compatriotas?
Não sei se esses fatos perturbam meus colegas diplomatas e, de forma geral, nossos líderes políticos, mas a mim isso causa um imenso desconforto, não apenas nas reuniões e conferências internacionais a que assisto por dever de ofício, mas como simples cidadão brasileiro, como pessoa humana pertencente a uma coletividade. Não posso, assim, deixar de reagir com um certo ceticismo – embora sadio, pois o pessimismo absoluto não constrói nada de permanente – a esses belos discursos em prol da soberania nacional e do desenvolvimento, de manutenção do tratamento preferencial e mais favorável para países em desenvolvimento, de aumento na cooperação internacional e do estabelecimento de regras especiais no comércio mundial para lidar com os “problemas específicos dos países em desenvolvimento”. Sou, sim, profundamente cético, para não dizer que sou virtualmente contrário, em relação às possibilidades criadoras dessa pretensa “importação de desenvolvimento”, talvez por acreditar, como já afirmava o saudoso Barbosa Lima Sobrinho, que “capital se faz em casa”, e que ele se faz, basicamente, mediante a formação de recursos humanos. 
Por isso gostaria de terminar estas reflexões repetindo a mesma fórmula de que utilizei-me em palestra efetuada no Instituto Rio Branco, em 2 de abril de 2002, por ocasião do lançamento de meu livro Formação da Diplomacia Econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (São Paulo-Brasília: Senac-Funag, 2001). Se eu não corresse o risco de parecer demagógico, à pergunta de saber para quê, enfim, deveria servir nossa diplomacia, tida como excelente, eu responderia, simplesmente, que ela deveria servir para colocar crianças na escola, algo que continua a ser o nosso grande problema (e drama) nacional. Se admitirmos que já conseguimos colocar a maior parte dessas crianças na escola e que o problema não é mais este (mas ele ainda é, certamente, o do desempenho escolar), então eu diria que a diplomacia deveria servir, antes de mais nada, para melhorarmos a qualidade de nosso sistema educacional, que continua a ser extremamente deficiente. De resto, de que adianta ter uma diplomacia avançada, mas um povo sem condições de competir na arena da economia mundial?
Estas são, finalmente, as raízes de nosso medo diante da Alca e diante de outros tantos desafios do cenário internacional: não temos confiança em nós mesmo, pois que somos um povo fragilizado pela ausência, quase dois séculos depois de o País ter-se tornado independente e da existência de um Estado constituído, de uma verdadeira Nação, que ainda resta a construir em seu tecido social e em sua formação cultural. Como diplomata ou como cidadão, essa anomia estrutural me traz bastante desconforto, ao passo que os desafios apontados por Ricupero no cenário internacional nada mais são senão meros embates de interesses setoriais que saberemos conduzir da melhor forma possível.
Mas eu me sentirei frustrado se, ao cabo desses processos negociadores e tendo sabido defender ao melhor possível os chamados “interesses nacionais” – com Alca ou sem Alca, não importa muito aqui –, eu olhar novamente para dentro e constatar que, finalmente, o cenário interno no Brasil mudou muito pouco, a despeito de um ou outra “vitória diplomática” no plano externo. 
Alternativamente, eu me sentirei sinceramente recompensado se, ao examinar novamente o itinerário da nossa diplomacia no início do século XXI – quando, por exemplo, completarmos dois séculos de exercício diplomático contínuo a partir do território nacional, em 2008 – puder constatar que essa diplomacia não precisará mais servir, ainda que hipoteticamente, para colocar crianças na escola. Se tivermos logrado vencer a batalha interna da formação do povo e da qualificação educacional da população eu me sentirei recompensado, como diplomata e como cidadão.
Até lá, temos muito trabalho pela frente, e não apenas no plano da diplomacia econômica e comercial, ainda que este esforço continuado fosse apenas para manter e justificar nossa fama de excelentes. Na verdade, não me importa muito saber o que faria o Barão em face desse tipo de desafio, pois não o considero o mais importante que temos. De fato, não creio que necessitemos de um novo Barão – seja ele quem for: um diplomata genial ou toda uma categoria profissional tida por excelente – e sim de uma consciência clara de que nossos principais problemas não são de ordem externa e sim, todos, de natureza interna. Mãos à obra, portanto, pois tenho a impressão de que a história não absolverá nossa geração diplomática, se daqui até lá não contribuirmos com todas as nossas forças para colocarmos o País real em compasso com a suposta excelência de sua diplomacia.

Paulo Roberto de Almeida
Washington, 938: 2 de setembro de 2002.

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(artigo original de Rubens Ricupero)

O QUE FARIA O BARÃO?

Cem anos atrás, a política externa brasileira enfrentava dois formidáveis desafios que voltam a nos pôr à prova sob roupagem diferente. O primeiro era como lidar com uma súbita transformação da estrutura mundial de poder que nos afetava diretamente. O segundo era inserir o país num sistema internacional profundamente alterado por um processo de globalização sem precedentes. 
Nesta semana, em Brasília, deu-se início às comemorações do centenário da longa gestão do barão do Rio Branco como ministro das Relações Exteriores, a partir de 1º de dezembro de 1902, nove anos e pouco da mais brilhante e criativa estratégia externa desenvolvida pelo Brasil. Não eram só as questões globais que nos pressionavam então. Os problemas fronteiriços eram prementes e alguns, como o do Acre, explosivos e inadiáveis. Tratava-se, porém, no fundo, de questões típicas do século 19, a serem resolvidas com métodos daquele século, corretamente aplicados, o que se fez com incomparável competência. Estavam também inseridas no eixo das relações com nações das quais não nos separavam grandes diferenças de poder, ou, quando estas existiam, tendiam a favorecer-nos (casos da Bolívia e do Peru no Acre). 
Já os desafios globais tinham natureza diferente e pertenciam a outra esfera, a das relações com as grandes potências, perante as quais estávamos inferiorizados por um diferencial de poder tamanho que éramos obrigados a inventar um jogo defensivo mais sutil e indireto. De um lado, pesavam sobre nós as ameaças do imperialismo europeu no apogeu de sua arrogância e agressividade. A ilha da Trindade tinha sido ocupada pelos ingleses anos antes, tivéramos choques armados e sangrentos com os franceses em Calçoene, no Amapá, e haveríamos de provar no futuro a prepotência teutônica no perigoso incidente do Panther. Do outro lado, a emergência dos Estados Unidos como potência global era um verdadeiro terremoto na estrutura de poder tradicionalmente dominada pela Europa e não podia ser ignorada, pois ocorria no espaço continental a que pertencíamos. A estratégia de Rio Branco consistirá essencialmente em fazer uso do segundo fenômeno para neutralizar os perigos decorrentes do primeiro, mediante a "aliança não-escrita" ou opção preferencial por Washington. 
Explorando, no jargão marxista, as "rivalidades intra-imperialistas", o barão apoiou a Doutrina Monroe e o pan-americanismo patrocinados pelos EUA. É verdade que o poder americano se expressava às vezes de modo truculento -na política do "Big Stick" de Teddy Roosevelt, por exemplo. Ela se exercia, contudo, longe de nossas fronteiras, contra Cuba, contra o Panamá, contra a América Central, contra o Caribe, não no Amapá ou em Roraima. O que pragmaticamente interessava a Paranhos era obter o apoio ou a simpatia americanos nas questões fronteiriças contra os europeus e os latino-americanos e colaboração e ajuda na projeção do Brasil no continente ou no mundo. Quando isso não era possível, não hesitava em tomar partido contra os EUA, como fez nas instruções a Rui Barbosa em Haia. Seu objetivo era tornar a Doutrina Monroe uma política de defesa coletiva das Américas, e não mais um instrumento unilateral dos americanos, o que não conseguiu devido às resistências encontradas na Conferência Interamericana de Buenos Aires de 1909. 
Ao mesmo tempo que assim lidava magistralmente com o poder mundial em mutação, Rio Branco percebeu que a fase da globalização vitoriana modificava em prejuízo do Brasil o sistema de poder na América do Sul. Na nova etapa da divisão internacional de trabalho que veio então à luz, os mais favorecidos foram a Argentina e, em menor grau, o Uruguai, exportadores de produtos temperados (carnes, trigo, cereais, lãs), em forte demanda na Europa urbanizada pela Revolução Industrial. Fornecedora de produtos tropicais de sobremesa (açúcar, café, cacau) desde o início da colônia, a economia brasileira beneficiou-se menos em matéria de investimentos e financiamentos ingleses, de expansão das exportações e até do afluxo de imigrantes em termos relativos à população. A rápida prosperidade da Argentina e sua modernização em decorrência da plena integração da economia ao sistemaeuropeu não poderiam deixar de acarretar um reforço do poderio militar e estratégico platino em época de aguda rivalidade com o Brasil. 
Aqui também o caminho encontrado pelo barão para contra-arrestar essa tendência foi acentuar a inserção brasileira no sistema econômico cujo centro era não a Europa, mas os EUA. A realidade objetiva justificava a escolha, pois nesse período o mercado americano absorvia cerca de 36% das exportações brasileiras (contra 25% a 18% hoje), era o principal importador do nosso café (mais de 50%), da borracha e do cacau, os investimentos ianques concentravam-se na indústria de transformação, no automóvel, no novo, em contraste com os britânicos, que preferiam as ferrovias e os serviços públicos (como hoje fazem os capitais espanhóis e portugueses). 
As fórmulas do barão deram certo, convertendo-se por longos anos em paradigma incontornável da política externa brasileira. Agora, talvez pela primeira vez em um século, defrontamo-nos com dilemas tão desafiadores como os de 1902. Eles apresentam semelhanças de ordem geral com os do passado já que de novo temos de nos definir diante de alteração radical na estrutura mundial de poder e em relação a uma fase muito mais intensa de globalização.
Desta vez, no entanto, não é o sistema multipolar a incorporar novo ator principal como os EUA, mas são estes últimos que engolem o multipolarismo para concentrar quase todo o poder. O problema é saber se esse poder será exercido unilateralmente ou se sera possível, em alguma medida, colocá-lo a serviço de ordem internacional consentida, tolerante, generosa e justa e que papel poderia ter a diplomacia brasileira nesse esforço. O mesmo dilema nos desafia no caso da atual fase da globalização, que marginalizou a Argentina, deixou o Brasil em posição precariamente intermediária, mas inconfortável, e privilegiou o México por meio de sua incorporação ao espaço econômico da América do Norte. Será viável construir um tipo de inserção internacional que compatibilize uma Alca mais equilibrada e equânime com as oportunidades abertas pelo multilateralismo comercial em relação à Europa, à Ásia, a todas as regiões e países, essência da genuína globalização? 

(Rubens Ricupero é embaixador)
(Folha de São Paulo, 01/09/02)