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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quarta-feira, 10 de junho de 2020

O desenvolvimento brasileiro em perspectiva global e comparada - Paulo Roberto de Almeida

O desenvolvimento brasileiro em perspectiva global e comparada
Insuficiências da política externa no processo de desenvolvimento brasileiro? Uma perspectiva histórico-diplomática sobre a não convergência do Brasil a padrões mais elevados de modernidade desde o final do século XIX

Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: introdução a estudo mais amplo; finalidade: destinado a futuro ensaio]


Não sou historiador, nem sou economista, mas sempre gostei de refletir historicamente sobre as frustrações de nosso desenvolvimento econômico e social — e elas são muitas e evidentes, do contrário já seríamos uma nação materialmente mais avançada, com menor grau de iniquidades sociais —, sendo propenso, como um modesto aprendiz de sociologia histórica, a analisar essas insuficiências no contexto mais vasto do processo mundial de desenvolvimento econômico dos povos e nações desde o final do século XIX, ou seja, desde quando se confirmou aquela tendência que os historiadores econômicos chamam de Grande Divergência, no bojo da segunda revolução industrial.
Ora, já estamos na quarta ou na quinta revolução industrial e o mundo caminha para um período de relativa convergência— mais evidente no caso da Ásia Pacífico do nos demais continentes da periferia —, mas o Brasil “insiste” em “ficar do lado errado” da História, ou seja, do lado daqueles países que falharam em realizar uma modernidade completa, em não convergir para o lado das sociedades avançadas e em preservar os seus velhos traços de descalabro político, de corrupção moral, de iniquidades sociais, em meio a um contexto global tão confuso e desafiador quanto foi aquele do final da belle époque, que finalmente nos levou a meio século de devastações materiais, políticas e morais.
Tendo feito, no meio século subsequente, da sociologia histórica uma de minhas afinidades eletivas no campo do trabalho intelectual, mas tendo me exercido na carreira diplomática no terreno profissional, tenho buscado, ao longo das últimas quatro décadas, aprofundar minhas pesquisas de relações econômicas internacionais com uma preocupação particular sobre o caso brasileiro, uma atenção que não é puramente acadêmica, mas que envolve também uma reflexão sobre as melhores políticas públicas suscetíveis de nos levar da condição de país periférico — até materialmente bem dotado, inclusive de um Estado relativamente funcional, mas exibindo uma sociedade muito desigual, com um número anormalmente elevado de pobres e desqualificados — para uma outra, de país medianamente desenvolvido, com maior inserção na economia global e menores taxas de iniquidades sociais e de delinquências políticas e morais.
É com base nessas considerações de ordem ética que me proponho rever, ainda que de forma impressionista — ou seja, sem o devido apoio nos procedimentos habituais no meio acadêmico, de recurso a referências bibliográficas ou a fundamentações empíricas — o nosso processo de desenvolvimento ao longo desse século e meio decorrido desde o final da Guerra do Paraguai, com algumas indagações próprias à minha condição profissional, no sentido de verificar se a diplomacia profissional do Brasil não poderia ter exercido papel mais relevante na construção da nação, para situar-me no universo conceitual delineado na obra já clássica de Rubens Ricupero: A diplomacia na construção do Brasil, 1750-2016(Rio de Janeiro: Versal, 2017). Trata-se de operar uma interação entre o relato histórico, mesmo de forma sintética, sobre esses 150 anos de evolução errática e o exame de algumas janelas de oportunidades oferecidas ao nosso corpo profissional de diplomatas no sentido de imprimir às políticas públicas algumas características operacionais mais coetâneas e convergentes com padrões mais elevados de modernidade econômica e social, o que de toda forma seria dependente de um sistema político mais adequado ao objetivo de fazer do Brasil uma nação mais avançada espiritualmente e menos desigual no plano social. 
Estas reflexões também são inspiradas em obra de contornos similares — a de Antonio Paim, Momentos decisivos da história do Brasil (São Paulo: Martins Fontes, 2000) —, provavelmente com angústias convergentes, no sentido de verificar se o país não poderia ter sido desviado, em momentos de bifurcação de sua trajetória histórica, de alguns de nossos “pecados originais”, o patrimonialismo, o protecionismo e o estatismo excessivos, o nacionalismo ingênuo, o contra-reformismo renitente, para enveredar por um caminho mais afirmado de verdadeira construção da nação pela adoção de políticas públicas mais condizentes com suas necessidades. 
Na impossibilidade de examinar o conjunto enorme de fatores conducentes a essa “via luminosa” do desenvolvimento inclusivo, vou contentar-me em examinar alguns momentos ou episódios nos quais a diplomacia profissional poderia talvez ter contribuído de maneira mais afirmada com o projeto obsessivo de construção da nação, o desenvolvimento integral de suas forças sociais, o que, de toda forma, dependeria de uma revolução educacional jamais levada a cabo de maneira consequente e acabada. A diplomacia não teve forças — talvez por viver muito apartada da nação, atuando mais como uma corporação de Estado em si e para si — para impulsionar mais vigorosamente um projeto de desenvolvimento nacional, que sempre permaneceu no plano mais retórico do que concreto. Não era essa, provavelmente, a sua “missão histórica”, embora não lhe faltassem meios, intelectuais em sua maior parte, de dar sua contribuição a essa grande transformação (para ficar com um conceito caro a Karl Polanyi).
Vejamos o que se pode dizer dessas interações aqui sugeridas.


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10 de junho de 2020

Destinado a ser incorporado a uma nova versão, ampliada, deste trabalho, com acréscimos relativos a elementos de história diplomática (Oliveira Lima, Itiberê Brasílio da Cunha, Oswaldo Aranha, San Tiago Dantas, Eugênio Gudin, Roberto Campos e outros): 

3662. “Desenvolvimento brasileiro, do século XIX à atualidade: economia, pobreza, trabalho e educação em perspectiva histórica”, Brasília, 3 maio 2020, 17 p. Notas para aula a ser ministrada a pedido do Prof. Cleofas Jr., da Paraíba, no dia 6/05/2020, 15hs, via canal do YouTube. Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/42926645/Desenvolvimento_brasileiro_do_seculo_XIX_a_atualidade_economia_pobreza_trabalho_e_educacao_em_perspectiva_historica_2020_) e anunciado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/05/desenvolvimento-brasileiro-do-seculo.html).