quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Coleção Paulo Roberto de Almeida na Biblioteca do Itamaraty: balanço de meio de caminho

Coleção Paulo Roberto de Almeida na Biblioteca do Itamaraty: balanço de meio de caminho  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota introdutória à relação de livros doados, entre 2020 e 2024, para integrar a coleção PRA na Biblioteca Antônio Francisco Azeredo da Silveira, do Itamaraty.

 

        Esta nota tem o objetivo de fazer uma primeira apresentação da Coleção PRA, formada a partir de doações progressivas de partes de minha coleção razoavelmente grande de livros para integrar o patrimônio livresco do Itamaraty, ocupando lugar de destaque em estantes da Biblioteca Antônio Francisco Azeredo da Silveira, que ocupa o andar térreo do Anexo II do Itamaraty; ela também faz um balanço das remessas efetuadas em quatro anos, desde 2020, quando comecei a selecionar coleções temáticas de minha biblioteca para depósito naquela prestigiosa biblioteca, que frequentei e onde trabalhei intensamente ao longo de minha carreira de mais de quatro década, doações interrompidas durante a pandemia do Covid-19 e retomadas agora, ao final de 2024.

        Se existe algo com o que me identifico, que expressa minhas preferências intelectuais e que rechearam uma vida ativa na produção de trabalhos inspirados em minhas leituras, essa coisa é representada pelos livros, todos os tipos de livros, em especial os de história, de economia, de política, de cultura, no seu sentido mais amplo. A partir do aprendizado da leitura e da escrita, na idade “tardia” de sete anos, eu nunca mais me separei dos livros, meus, das bibliotecas, emprestados de outras pessoas, lidos nas próprias livrarias, ademais das resenhas de centenas, de milhares de outros livros, lidas nos jornais e revistas, algumas especializadas, em periódicos do tipo da New York Review of Books, do qual fui assinante durante muitos anos, antes durante e depois de meu mestrado em Economia e doutorado em Sociologia Histórica e Política. Vivi com os livros, pelos livros, para os livros, escrevendo eu mesmo algumas dezenas de livros e centenas de resenhas, curtas e maiores, de outros tantos livros. Meu site e meu blog apresentam sumariamente esses meus livros e resenhas, textos parciais ou completos livremente disponíveis num site pessoal ou em provedores de acesso acadêmico como as plataformas Academia.edu ou a Research Gate. 

        Não sei quantos livros acumulei ao longo de mais de seis décadas de contato íntimo com esses inegáveis objetos de prazer intelectual, alguns poucos milhares talvez, mas nunca me dediquei a contá-los, sequer catalogá-los ou organizá-los de forma racional em minhas bibliotecas, que me seguiram ao longo de uma vida nômade a partir dos 20 anos. Alguns, não sei quantos, foram justamente perdidos, quando decidi partir, em 1970, num autoexílio em direção da Europa, nessa idade, quando vivíamos os “anos de chumbo” da ditadura militar no Brasil. Da Europa voltei quase sete anos depois, com dois diplomas, um terceiro a caminho, e algumas poucas centenas de livros que foram despachados de navio no momento do retorno ao Brasil, no mês de março de 1977: lembro que fui buscar meu baú metálico em Santos, e os livros europeus, alguns brasileiros (que eu tinha carregado comigo ao partir, ou que recebi da família e de amigos, durante os estudos de mestrado e doutorado), constituíram o embrião de minha primeira biblioteca, que só fez crescer na quatro décadas seguintes, quando exerci a função de diplomata a serviço do Brasil, em oito postos diferentes, sempre acumulando mais e mais livros. Num determinado momento, nos dois últimos postos, eles tiveram de ficar no Brasil, numa kit-biblioteca que adquirimos – eu, um micro apartamento, minha mulher, Carmen Lícia, que sempre leu muito mais do que eu, um outro, no mesmo condomínio –, pois que seria impossível transportá-los conosco. 

        Quando fiz a minha tese de doutoramento, começada e terminada no exterior, entre o final dos anos 1970 e início dos 80, solicitei muitos livros da Biblioteca do Itamaraty, que recebia pela mala diplomática, e despachava de volta depois de consultá-los. Quando permaneci sem funções na Secretaria de Estado durante algum tempo nos anos 2000, fiz dessa Biblioteca meu escritório de trabalho, e ali escrevi muitos artigos e alguns livros. Daí que, quando a minha biblioteca ficou inadministrável, a solução de doar meus livros para a biblioteca do Itamaraty foi naturalmente planejada e admitida, vários anos antes de começar a fazê-lo. Antes disso, tendo trabalhado sobre temas do Mercosul e da integração regional no início dos anos 1990, e escrito meu primeiro livro sobre a construção do Mercosul (1993), resolvi doar a maior parte de minha biblioteca sobre esse tema para a biblioteca do Instituto Rio Branco, onde eu já tinha dado aulas (de Sociologia Política, logo depois de terminar o doutorado) e ao orientar trabalhos de conclusão de estudos de muitos jovens diplomatas; esses livros não foram agrupados em nenhuma coleção, mas dispersos no patrimônio geral da biblioteca do IRBr.

        Aproximando-me da aposentadoria, e já preocupado com o caos absoluto do meu acervo livresco, dividido entre o nosso próprio apartamento residencial e a kit-biblioteca, comecei a me organizar para a doação. Numa primeira etapa, agrupei exemplares de todos os meus livros de autoria pessoal, num segundo grupo aqueles que eu tinha editado, ou seja, obras coletivas, um terceiro formado por todos os livros editados por terceiros com os quais eu havia colaborado com um ensaio ou capítulo e, finalmente, uma quarta categoria composta por todos os livros de leitura ou de pesquisa, dispersos em quase todas as disciplinas das humanidades e das ciências sociais aplicadas (que são a imensa maioria das doações). Estou, portanto, colocando numa listagem preliminar os livros já entregues e catalogados, contendo na lombada a sigla CPRA, Coleção Paulo Roberto de Almeida, na Biblioteca do Itamaraty, que já conta com coleções riquíssimas de outros diplomatas como Ronald de Carvalho, Álvaro Teixeira Soares, Miguel Ozório de Almeida, Jayme Azevedo Rodrigues, Dario Castro Alves, Mario Pimentel Brandão, Samuel Pinheiro Guimarães, Celso Amorim e muitos outros (vou relatar, numa postagem própria, as coleções mais importantes).

Espero que meu exemplo, que não é original, sequer o mais importante, estimule outros colegas diplomatas a também doarem seus livros à Biblioteca do Itamaraty, com uma particularidade: ela acumula, sobretudo, livros pertinentes ao trabalho dos diplomatas, ou seja, Direito, História, Economia, Relações Internacionais, Geografia, além das referências inevitáveis no terreno dos dicionários, atlas, línguas etc. A Literatura está bastante bem representada nas coleções, estrangeira e nacional, ademais de algumas obras realmente raras. Sou especialmente grato aos funcionários da Biblioteca que classificam, catalogam e colocam os livros em ordem para serem consultados, inclusive em bases remotas, o que fiz e continuo fazendo o tempo todo.             Uma apresentação sumária de minha coleção foi feita neste link: https://www.gov.br/mre/pt-br/biblioteca/colecoes/paulo-roberto-de-almeida.

Continuarei informando.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4807, 4 dezembro 2024, 3 p.


 Nota em 5/12/2023:

A relação parcial dos livros doados entre 2020 e 4/12/2024 pode ser acessada neste link, que remete a arquivo em Academia.edu: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/12/relacao-dos-livros-doados-biblioteca-do.html?m=1 

 

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