Opinião:
O que esperar da COP-30
A COP-30 foi pensada como uma conferência que transcende a imagem restritiva de um encontro climático
Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 28/10/2025
A tão falada e esperada COP-30 terá início na próxima semana. Desde 2023, o governo brasileiro vem trabalhando para que a COP-30 se consolide como marco não apenas para o fortalecimento do multilateralismo, mas também para sua evolução rumo a uma nova era de governança global fortalecida.
As bem-sucedidas presidências brasileiras da Cúpula da Amazônia (Belém, agosto de 2023), do G-20 (2024) e do Brics (2025), bem como o protagonismo brasileiro na COP-28 (Dubai, dezembro de 2023) e na COP-29 (Baku, novembro de 2024), permitiram desenhar uma linha de pensamento e ação na área de mudança do clima capaz de enfrentar os desafios do século 21, de ameaças difusas e grandes transformações nos cenários econômico e político globais, em que o avanço tecnológico e as preocupações com o meio ambiente e as mudanças climáticas ganham um papel de relevo.
A COP-30 foi pensada como uma conferência que transcende a imagem restritiva de um encontro climático. Além das expectativas da sociedade civil em torno de uma “COP social”, trata-se de um momento potencialmente definidor para o futuro da governança global, que vai muito além do seu papel convencional de conferência climática. Tal perspectiva reflete uma realidade em que geopolítica, comércio, desenvolvimento, paz e segurança, estabilidade financeira, inflação, emprego, política fiscal e monetária, tecnologia e integridade da informação, democracia e combate às desigualdades, fome e pobreza passaram a fazer parte de agendas que impactam e são impactadas, em todos os níveis, do local ao global.
Para a política interna, a COP-30 poderá servir de plataforma para que o Brasil se consolide na vanguarda da economia do futuro, permitindo ao País não só aproveitar, como também moldar um novo ciclo de prosperidade definido pelas transições energética, digital e bioeconômica, acompanhadas por avanços no combate às desigualdades. A agenda de transições justas para uma economia de baixo carbono poderá ajudar a definir um novo caminho para o desenvolvimento brasileiro.
A presidência brasileira da COP teve um papel relevante na preparação e no desenvolvimento da agenda do encontro em torno de três objetivos: 1) reforçar o multilateralismo e o regime climático sob a Convenção do Clima e seu Acordo de Paris; 2) conectar o regime climático à vida real das pessoas, inclusive como vetor de prosperidade, desenvolvimento e combate à desigualdade, no quesito fome e pobreza; e 3) acelerar a implementação do Acordo de Paris, envolvendo atores públicos e privados e ajustes estruturais na governança global e na arquitetura financeira internacional.
A presidência brasileira convocou um “mutirão global” contra a mudança do clima, em quatro frentes de atuação: Mobilização Global, com quatro Círculos de Liderança – o “Círculo dos Presidentes das COP”, presidido por Laurent Fabius, presidente da COP-21; o “Círculo dos Povos”, liderado pela ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara; o “Círculo de Ministros da Fazenda”, presidido pelo ministro Fernando Haddad; e o “Círculo do Balanço Ético Global”, liderado pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. Negociações formais incluem cerca de 20 temas substantivos, entre os quais adaptação e transições climáticas justas. Agenda de Ação – envolve atores públicos e privados (governos subnacionais, setor privado, sociedade civil), durante a COP. Cúpula de Líderes, tratando de temas politicamente sensíveis que poderão dar o tom para o sucesso da COP-30, com anúncios de alto nível, em áreas como fome e pobreza, energia e florestas, entre os quais o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF).
A COP-30 marca o início do segundo ciclo de ambição do Acordo de Paris com a apresentação das novas metas climáticas para 2035 pelos países-membros, por meio de suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Além da apresentação das NDCs e do relatório com soluções para o incremento do financiamento climático para países em desenvolvimento, a COP-30 deverá avançar em três dimensões: 1) dar seguimento e melhor detalhamento a metas globais de transição energética e do “fim do desmatamento e sua reversão até 2030”, adotadas pela COP-28 sob o Balanço Global do Acordo de Paris; 2) atender aos anseios de países em desenvolvimento quanto aos impactos de medidas unilaterais de comércio sobre o desenvolvimento sustentável; e 3) há expectativa em relação à presidência brasileira quanto à inflexão sem precedentes para colocar as pessoas no centro da pauta climática e de desenvolvimento, inclusive via oportunidades para empregos, renda, qualidade de vida, redução da inflação, saúde e combate às desigualdades, fome e pobreza.
Embora não constando formalmente da agenda negociadora, as seis áreas-chave mencionadas – multilateralismo; NDCs; pessoas; comércio; energia e florestas; e financiamento climático – colocar-se-ão, substantivamente, como medidas do sucesso da COP-30. O pacote político de Belém deverá finalmente ser lastreado por entregas mínimas na agenda formal das negociações, sobretudo quanto aos indicadores para o Objetivo Global de Adaptação – principal tema negociador mandatado para a COP-30 e ao programa de trabalho sobre transições justas.
Presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), foi embaixador do Brasil em Londres (1994-99) e em Washington (1999-2004).
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