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sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Bolsonaro indica diretor de empresa israelense para embaixada em Israel

Não deveria haver, em princípio, nenhuma objeção a que um empresário – ou acadêmico, ou militar, ou qualquer outro membro de tribos exóticas – ocupe a função de embaixador num país qualquer, ou até, neste caso, um militar capacitado no plano técnico e internacional. O que há, neste caso, é um NÍTIDO conflito de interesses, pelo fato desse militar ter estado ligado a companhias privadas, ou a pelo menos uma, operando na interface entre os dois países, e em negócios que podem envolver algum lobby, mesmo superficial. Isso pode torná-lo embaixador dessa empresa, mas não necessariamente do Brasil.
O presidente não parece ter consciência do que envolve um trabalho de representação diplomática, de informação não enviesada, de negociação de questões de interesse nacional, e não apenas setorial ou empresarial.
Paulo Roberto de Almeida 

Bolsonaro indica diretor de empresa israelense para embaixada em Israel

Coronel da reserva trabalha na aeroespacial IAI e foi adido militar em Tel Aviv

O governo Jair Bolsonaro decidiu indicar um militar, diretor de marketing de uma empresa de defesa israelense no Brasil, para ser o próximo embaixador do país em Israel.
O arranjo não tem precedente na história recente da diplomacia brasileira e deverá gerar mais uma polêmica na política externa do presidente, que tentou sem sucesso emplacar o filho Eduardo como embaixador em Washington.
O indicado é o coronel da reserva Paulo Jorge de Nápolis, que trabalha na empresa aeroespacial IAI (Israel Aerospace Industries).
Diferentemente de Eduardo, contudo, ele tem experiência prévia com a função. Entre 2013 e 2015, foi adido militar na embaixada brasileira em Tel Aviv.
Na função, que o Brasil mantém em cerca de 50 países, ele foi responsável pela interlocução entre os canais diplomáticos brasileiros e israelenses na área de defesa.
Depois de voltar ao Brasil, ele serviu como oficial de ligação entre adidos militares no exterior, os 40 adidos estrangeiros baseados em Brasília e o Estado-Maior do Exército.
Antes, havia sido comandante do centro de instrução de operações especiais da Força. O coronel é formado na turma de 1987 da Academia Militar das Agulhas Negras.
Naquilo que conhecidos dele consideram uma injustiça, Nápolis não foi escolhido pelo Alto-Comando do Exército para progredir na carreira como general e foi para a reserva em março de 2017.
Um mês depois, ele foi trabalhar na IAI, que opera no Brasil com um de seus principais produtos, a linha de drones, sistemas de segurança e na área de aviônicos.
A Folha o procurou, tanto na empresa como enviando mensagem a seu celular, mas Nápolis não respondeu.
Questionado se o trâmite de informar Israel da indicação já começou, o Itamaraty afirmou que não comentaria o caso.
Hoje, todos os postos estão ocupados por funcionários de carreira do Itamaraty, embora não haja nenhuma obrigação legal para tanto.
Eventuais conflitos de interesse não são regulados, mas certamente serão objeto caso a indicação de Nápolis prospere e ele seja sabatinado pelo Senado, passo obrigatório para virar embaixador.
Não há tradição no Brasil, como nos EUA, de enviar empresários para representar o país no exterior.
No passado, políticos importantes sem cargo público eram frequentadores da representação em Lisboa, e a posição na Agência Internacional de Energia Nuclear, em Viena, foi ocupada por um físico especializado no tema.
O nome de Nápolis foi apoiado dentro do Palácio do Planalto pelo general Luiz Eduardo Ramos, chefe da Secretaria de Governo.
O ministro, que carregava na farda a insígnia de ter treinado como paraquedista em Israel, chegou a ter o nome ventilado para a função, o que não procede. Aliados dele afirmam que isso foi uma intriga para desgastá-lo.
A troca em Tel Aviv é especulada há bastante tempo e chegou a ser citada pelo próprio presidente.
Bolsonaro disse a aliados que considerava o atual ocupante, Paulo César de Vasconcellos, “um petista” —algo refutado por seus amigos, lembrando que sua indicação se deu em 2017, no governo conservador de Michel Temer (MDB).
Esses interlocutores creditam a uma suposta resistência do diplomata à ideia bolsonarista de mudar a embaixada de Tel Aviv para Jerusalém o motivo maior de seu desgaste, mas ele nunca se pronunciou sobre o tema.
Na quarta (4), Vasconcellos se recusou a participar de um jantar oferecido ao deputado Eduardo Bolsonaro (SP), que lidera uma comitiva parlamentar a Israel.
Segundo relato publicado pelo jornal O Globo, Vasconcellos disse que consultou o Itamaraty e que teria sido acordado que ir ao local, num assentamento judaico em área palestina, poderia ser visto como um endosso à colonização que historicamente era criticada pelo Brasil.
A relação de Bolsonaro com Israel sob o governo de Binyamin Netanyahu é de extrema proximidade.
Bibi, como o premiê ora ameaçado por não ter conseguido formar um governo de coalizão é conhecido, foi um dos poucos líderes mundiais a prestigiar a posse do brasileiro.
Bolsonaro tem interlocução constante com o embaixador israelense no Brasil, Yossi Shelley, que também é próximo do secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, membro da comunidade judaica e que ajudou a organizar a visita de Bibi ao país em janeiro, antes de integrar o governo. ​
A mudança da embaixada para Jerusalém, algo que os Estados Unidos de Donald Trump fizeram, é vista nos meios diplomáticos como uma forma de legitimar o status judaico da cidade, que é disputada como capital também pelos palestinos.
A ONU recomenda a manutenção de representações em Tel Aviv até que a questão seja solucionada.
Bolsonaro, seus filhos políticos, o chanceler Ernesto Araújo e todo o entorno dito ideológico da cúpula do governo se dizem favoráveis à medida, mas a pressão de países árabes e ameaça de retaliação no setor agropecuário fizeramo presidente recuar.
Em sua visita a Israel, em março, ele frustrou Bibi ao anunciar a abertura de um escritório de representação em Jerusalém, mas manteve a promessa da mudança. 
No caso de Bolsonaro, além do conhecido alinhamento a políticas de Trump, há uma questão interna a motivar o presidente brasileiro.
Grupos evangélicos são parte central da base de apoio do presidente, e em muitos deles há a crença de que Jesus Cristo só voltará à Terra se os judeus estiverem fixados em Israel —algo que afirmam acreditar ser reforçado pelo reconhecimento de Jerusalém como capital.
Neste primeiro ano de governo, a relação com Tel Aviv se estreitou. Os israelenses têm interesse de maior cooperação na área de defesa, segurança e alta tecnologia, nas quais são líderes.
Em outubro, a Polícia Nacional de Israel abriu um escritório em São Paulo com esse fim. Grupos de esquerda fizeram circular teorias sobre a presença de espiões no país, algo que de resto ocorre no mundo todo com várias nações, mas a iniciativa tem cunho comercial.
Há negócios em curso no campo, como os da IAI e da Elbit, que controla a empresa gaúcha AEL, fabricante do painel do novo caça da Força Aérea Brasileira, o sueco Gripen —e que fornecerá o produto aos novos modelos da Aeronáutica da Suécia.