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segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Cem anos de distorções brasileiras? - Paulo Roberto de Almeida

Cem anos de distorções brasileiras?

Paulo Roberto de Almeida

        Nos tempos de Monteiro Lobato, mais de cem anos atrás, os males do Brasil eram as saúvas e a ação predatória do Jeca Tatu, destruindo rapidamente a cobertura vegetal da Mata Atlântica, inclusive onde ele tinha herdado uma fazenda da qual se desfez pouco depois (e corrigiu sua visão negativa do Jeca Tatu, atribuindo às doenças e à insalubridade ambiente a culpa pelas nossas mazelas).

        Passados cem anos, as saúvas vão muito bem, se refestelando em total ilegalidade e indignidade no mandarinato estatal (em especial a aristocracia feudal do Judiciário) e a destruição ambiental continua a ter brilhante futuro pela frente, graças à representação política congressual, defendendo os novos predadores do agronegócio e fazendo birra contra um governo supostamente de esquerda ou “progressista”. 

        No campo que me é pessoalmente afeto, como trabalho intelectual, depois de prático, a política externa e a diplomacia, o quadro não é muito otimista. Em 1925, o irascível Artur Bernardes comandava a saída pouco gloriosa do Brasil da Liga das Nações, a primeira tentativa (oligárquica) de construir a paz no mundo, ao passo que o atual governo Lula, exatos cem anos depois, comanda uma irrefletida e equivocada aliança com duas grandes autocracias (nucleares), envolvendo o Brasil nas fricções entre as superpotências, quando a boa doutrina dos antigos estadistas — Rio Branco, Rui Barbosa, Oswaldo Aranha, San Tiago Dantas, Afonso Arinos — sempre recomendou autonomia decisória e equidistância em conflitos que não envolvessem nossa segurança e os interesses nacionais.

        Nos momentos decisivos de desafios maiores a esses interesses, como em 1917 e em 1941, Rui Barbosa e o seu discípulo Oswaldo Aranha souberam orientar a política externa e a diplomacia para escolhas estratégicas de acordo aos valores e princípios doutrinais compatíveis com objetivos adequados às necessidades daqueles momentos.

    Este é o caso atualmente?

        Tenho sinceras dúvidas de que as boas escolhas em política externa estejam sendo conduzidas, ou de que a diplomacia profissional esteja em condições de orientar devidamente o chefe de Estado (também de governo e da própria diplomacia) em escolhas decisivas que se nos apresentam num momento especialmente conturbado da vida internacional. Não só os fundamentos doutrinais da boa diplomacia brasileira do passado parecem ter sido abalados por desvios ideológicos e partidários, como também os interesses nacionais permanentes (a autonomia decisória em política externa e não interferência nos assuntos internos de outros Estados) são desrespeitados por uma diplomacia presidencialista míope ou excessivamente personalista.

        Mais alguns anos de distorções?

Brasília, 1/12/2025