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quinta-feira, 19 de março de 2020

Consequências geopolíticas da pandemia Covid-19 - Paulo Roberto de Almeida

Consequências geopolíticas da pandemia Covid-19

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: debate público; finalidade: esclarecimento pessoal]


Grandes mudanças nos equilíbrios econômicos e políticos em escala global costumam ocorrer em consequência de eventos ou processos de grande impacto nacional e mundial: desastres naturais – catástrofes da natureza, epidemias, justamente – e, mais frequentemente, guerras civis e revoluções (domésticas) e guerras entre Estados. Estas são mudanças que podem ocorrer em curto ou médio prazo, e podem ajudar, ou postergar, mudanças “naturais” que já vinham ocorrendo mais gradualmente, sob o peso da demografia, dos grandes deslocamentos de populações – invasões “bárbaras” no Ocidente entre a Antiguidade e a Idade Média, por exemplo – e, mais frequentemente, como resultado de avanços materiais e progressos tecnológicos, que alteram, gradual ou repentinamente, os modos de produção e de intercâmbio entre sociedades e regiões inteiras: disseminação de novas culturas e criações (intercâmbio de espécies nos grandes espaços abertos, como descrito por Jared Diamond em seu clássico Armas, Germes e Aço), invenções práticas (arado, contabilidade de partida dobrada, caravelas, revolução científica, máquinas a vapor, motor a explosão, válvulas, transistores, etc.) e novidades nos meios de intercâmbio (moeda, lettera di cambio na Idade Média, bill of exchange telegráfico no século XIX, transações financeiras instantâneas na era contemporânea). Dentre as grandes calamidades epidêmicas, permanecem paradigmáticas, na história da humanidade, a Peste Negra na Europa do século XIV – que, contraditoriamente, representou um crescimento da produtividade econômica, ao diminuir a população total – e a “Gripe espanhola”, em 1918-19, que pode ter vitimado entre 50 e 100 milhões de pessoas.
Existem outras mudanças, de natureza contingente ou conjuntural, que também podem alterar profundamente as relações entre Estados, impérios, nações, tanto quanto a evolução interna das sociedades, ações que são o resultado de decisões de dirigentes, atuando sob o impacto de paixões momentâneas, cálculos estratégicos ou pressão das circunstâncias: guerra de Troia, queda de Roma imperial, expansão árabe do islamismo e cruzadas vindas da Europa cristã, invasão mongol do império Song, guerras entre impérios bizantino e persa, invasão otomana do Império Romano do Oriente e nas franjas balcânicas da Europa e na África do norte, e, finalmente, expansão europeia a partir dos Descobrimentos e consequente dominação ocidental sobre o resto do mundo pelos cinco séculos seguintes (até a Segunda Guerra Mundial pelo menos). Acredito que se possa colocar entre essas mudanças de tipo contingente a decisão de um novo Secretário-Geral do PCUS da União Soviética de não continuar preservando as estruturas atrasadas do planejamento centralizado e o duro regime de censura autocrática do Partido. A implosão subsequente do socialismo na Europa foi a “grande transformação” na política e na economia global desde a Grande Guerra, da qual tinha justamente emergido a contestação bolchevique à economia capitalista e às democracias de mercado. Estas são as grandes mudanças de impacto monumental nos últimos três mil anos (desde a guerra de Troia, tão mítica quanto possa ser), ou desde os impérios romanos (república e império) e chineses (várias dinastias sucessivas), até o século XX.
Ao lado dessas mudanças “objetivas”, existem as grandes mudanças “imperiais” que resultam de choques entre pretensões hegemônicas concorrentes, em diversas regiões: no caso da Europa, o chamado “equilíbrio de potências” do final do século XIX foi precedido de guerras devastadoras entre os impérios britânico, francês, dos Habsburgos, dos czares e muitos outros. A Revolução francesa de 1789 – independentemente do fato objetivo que ela atrasou relativamente o capitalismo na França, segundo Hobsbawm, quando a Grã-Bretanha surfava praticamente sozinha na onda da primeira revolução industrial – representou, em seus muitos episódios e desdobramentos – sob o Diretório, Consulado e Império napoleônico –, a maior alteração conhecida até então naquela ponta da Eurásia: guerras napoleônicas, com o fim do Império Romano Germânico, da Liga Hanseática, impacto nas dinastias da península ibérica e, a partir daí, nas suas colônias do Novo Mundo, que caminharam uma a uma para a independência política, depois das treze colônias da América do Norte pouco antes.
A segunda revolução industrial sinalizou o processo que os economistas historiadores chamam de “Grande Divergência”, ou seja, o aprofundamento da distância entre as nações industrialmente avançadas e as dependências coloniais e nações periféricas que preservaram essa status praticamente até a contemporaneidade; apenas recentemente, a partir da terceira onda da globalização (desde os anos 1980), o processo se encaminha para uma Convergência que atinge mais decisivamente os novos países industriais que se inseriram nas grandes cadeias de valor da nova interdependência global. Mas, o evento ainda mais decisivo para uma alteração radical nas relações interimperiais e entre grandes economias foi representado pela Grande Guerra (1914-1918), que modificou profundamente não apenas a geopolítica do mundo contemporânea, mas também as bases de funcionamento da economia global. Ao lado das demais mudanças políticas – fim de impérios: alemão, austríaco, russo, otomano; criação de novos Estados, no quadro dos princípios wilsonianos das negociações de 1919 –, o que repercutiu gravemente pelo resto do século foi a intervenção estatal na vida econômica, com toda a panóplia do regulacionismo intrusivo e da assunção pelo Estado de inúmeros setores de interesse público: não apenas energia, transportes e comunicações, mas também indústrias ditas “estratégicas”.
O multilateralismo nascente, na Liga das Nações, não foi capaz de evitar o crescente apelo ao nacionalismo econômico, ao protecionismo, às políticas de “beggar-thy-neighbour” (empurre a crise para o seu vizinho). Foi o que justamente ocorreu a partir da crise da bolsa de Nova York, em outubro de 1929 (aprovação de novas tarifas americanas, em 1930), mas sobretudo a partir da quebra de bancos em 1931, que precipitou o mundo numa nova e gigantesca crise: fim da conversibilidade, restrições quantitativas, desvalorizações agressivas e, enfim, a Grande Depressão que se arrastou praticamente até a Segunda Guerra Mundial. Esta precipita movimentos que já tinham começado na Grande Guerra: erosão paulatina dos grandes impérios europeus e emergência de duas grandes potências antagônicas, que vão marcar os quarenta anos seguintes de Guerra Fria, sob o signo do terror nuclear e da oposição irredutível entre o mundo socialista e o capitalista, com um Terceiro Mundo espremido entre os dois. A grande divisão geopolítica do mundo, resumida nas obras clássicas de John Lewis Gaddis, nunca representou, na verdade, um congelamento do poder mundial, pois que outras potências, grandes e médias, continuaram emergindo e alterando gradualmente o verdadeiro nervo central dos equilíbrios mundiais, o poder econômico, os novos “Estados comerciais”, na caracterização de Richard Rosencrance (Trading State; mais aplicável a Japão, Alemanha e outros).
A ordem econômica multilateral de Bretton Woods seguiu uma trajetória de sucesso a partir do segundo pós-guerra, com percalços eventuais, sobretudo representado pela quebra do padrão ouro-dólar (1971-73) e suas crises habituais absolutamente “normais”: do petróleo (1973-79), da dívida externa dos países emergentes (1982-90), das crises financeiras dos países asiáticos e da Rússia (1997-98), com seus efeitos no resto do mundo. A crise de 2008-09, precedida da bolha imobiliária e das instituições financeiras (2007-08), esteve mais centrada nos próprios países avançados, num momento em que a China já despontava como a segunda grande potência econômica mundial, ao lado dos velhos parceiros-inimigos do CSNU, que são também as potências nucleares “autorizadas”.
Cabe agora contemplar o cenário atual, absolutamente inovador por causa da irrupção da pandemia do Covid-19, cuja “globalidade” deve provocar imensos efeitos econômicos em todo o mundo e também mudanças geopolíticas no momento imprevisíveis, mas que podem confirmar certas tendências já presentes na fase pós-Guerra Fria. Nos 30 anos seguintes, o mundo parecia se encaminhar para um cenário de “convivência pacífica” entre grandes contendores econômicos, comerciais e tecnológicos, ou seja, a substituição da antiga Guerra Fria geopolítica da era nuclear para uma nova Guerra Fria Econômica, que teria tudo para se desenvolver de modo relativamente harmônico, não fossem as novas tendências surgidas a partir do relativo declínio das antigas potências industriais do século XX. Observadores otimistas – como Niall Ferguson, por exemplo – chegaram a cunhar o termo de “Chimerica”, que seria uma espécie de osmose entre as duas grandes economias planetárias, absolutamente complementares entre si, e que poderiam, se animadas pelos princípios cooperativos do multilateralismo econômico – Gatt-OMC, instituições de Bretton Woods, Ocde, etc. – contribuir para uma nova fase de prosperidade universalmente partilhada por países ricos, emergentes e em desenvolvimento, assim como ocorreu nas “trinta gloriosas”, as três décadas de crescimento contínuo no pós-Segunda Guerra, mas que beneficiaram mais os países avançados do que os socialistas (et pour cause) ou os países “subdesenvolvidos”.
Infelizmente essa perspectiva de um reforço na interdependência global não se materializou, em virtude da introversão dos países ricos, em especial os EUA, no novo protecionismo comercial (mais padrões do que tarifas), no nacionalismo xenofóbico, nas políticas tendentes a preservar suas estruturas industriais já condenadas desde o declínio da segunda revolução industrial. Depois da fase otimista da “globalização”, o mundo caminhou para uma “desglobalização” moderada, até a irrupção catastrófica do Covid-19 a partir do final de 2019, mas que só revelou toda a sua extensão nos primeiros meses de 2020. O que pode ocorrer a partir de agora, em termos de impacto na economia global, no emprego e na renda de centenas de milhões de pessoas, na política de diferentes regimes ao redor do mundo, é propriamente imprevisível, mas algumas tendências poderiam ser sinalizadas.
Não há por que subestimar o impacto amplamente catastrófico da pandemia atual, em termos humanos, sociais e econômicos, mas existem, igualmente, consequências geopolíticas do Covid-19, com incidência progressiva ou continuada em termos de mudanças no cenário global, principalmente quanto aos papeis globais dos EUA e da China. Esta vem sendo acusada de responsável pela disseminação do elemento vetor, que se converteu na maior pandemia conhecida na história da humanidade, com capacidade de superar, talvez, em incidência, a chamada “gripe espanhola”, ainda que não dotada, provavelmente, da mesma letalidade que o influenza de cem anos atrás. No plano estritamente técnico, cabe registrar que o regime autoritário chinês pode, sim, ser acusado de ter postergado as primeiras reações ao novo vírus em sua província central, mas, uma vez aferida a seriedade e gravidade desse desafio, atuou prontamente, em bases científicas e em total cooperação com a OMS, para lutar contra seus efeitos mais nefastos em seu próprio território e em direção dos demais países. A hostilização ideológica da ditadura chinesa não contribui em praticamente nada para o esforço conjunto de combate à pandemia, tanto porque os ensinamentos e lições derivadas do dramático episódio chinês podem servir, e em alguns casos estão sendo, de aprendizado a novos países afetados pelo mesmo mal. A centralização dos esforços e a rápida introdução de medidas coercitivas de isolamento, de controle, prevenção e remissão dos vetores contribuíram, possivelmente, para o virtual corte nas novas fontes de contaminação, sendo que novos casos detectados são todos importados. Ou seja, depois de estar na origem da pandemia, a China passa a oferecer know-how, cooperação técnica, equipamentos e pessoal aos países afetados, com destaque para a Itália e o próprio Brasil.
O que parece relativamente certo é que, sendo a epidemia global, sua reversão não se fará facilmente em bases puramente nacionais ou exclusivamente autocentradas, o que pode dificultar a necessária coordenação e cooperação entre países e organismos internacionais. Aqui se situam as possíveis consequências geopolíticas do Covid-19, e tal perspectiva se situa inteiramente na capacidade de projeção externa das grandes economias do mundo atual, a partir de uma sólida base nacional. Desde os tempos nos quais a Grã-Bretanha se constituiu como o berço e o motor da primeira revolução industrial, não se assistia a uma mudança tão rápida na geopolítica do poder mundial. A Royal Navy exerceu uma preeminência notável sobre quase todos os oceanos no decorrer do século XIX, assim como a libra britânica e a City de Londres se constituíram na base incontornável dos grandes fluxos e circuitos de comércio, de investimentos, de finanças internacionais durante mais de um século, enquanto a Europa ocidental se alçava na liderança do mundo na passagem para a segunda revolução industrial (que também foi a era dos impérios e colonialismo contemporâneo). A Alemanha caminhou rapidamente para estabelecer sua supremacia no continente, e ao fazê-lo, devido à natureza de seu regime político, foi responsável por três guerras – começando pela de 1870, mas se prolongando mais enfaticamente em 1914 e 1939, a “segunda guerra de Trinta Anos” – que justamente destruíram o poderia europeu sobre resto do mundo, abrindo o caminho para a emergência dos dois grandes da era nuclear.
Os Estados Unidos emergiram como a grande potência econômica e tecnológica no bojo da segunda revolução industrial e recuperaram, parcialmente, o papel econômico da Grã-Bretanha no comando da economia mundial no decorrer do século XX. Sua emergência como potência militar se dá apenas no decorrer e após a Segunda Guerra Mundial, mas sua base econômica continuou declinando relativamente, pari passu à emergência de novos competidores: Alemanha, Japão, e desde o início do novo milênio, a China. O fato de a atual liderança política nos EUA estar retrocedendo o país para um tipo semelhante – não similar – de isolacionismo como o conhecido no entre guerras pode acelerar o declínio relativo da potência hegemônica do pós-Guerra Fria, que o historiador Niall Ferguson gostaria que assumisse, como novo Colossus, o papel anteriormente exercido pelo Empire britânico. Este é um fato objetivo, confirmado pelas tendências detectadas no período recente, assim como pelas políticas implementadas no país, ambas coincidentes no retrocesso à introversão.
Mais importante ainda, em termos geopolíticos, são duas outras tendências que podem ser detectadas em dois ambientes paralelos na governança dos grandes impérios, dois típicos símbolos do poder estatal, exemplificados nas figuras que Raymond Aron identificava como os personagens centrais desse poder: o soldado e o diplomata. O primeiro, sabe-se desde as lições de Clausewitz, representa a ultima ratio da defesa e da projeção do poder do Estado; o segundo também emerge na mesma época, ou seja, o Congresso de Viena, como o enviado formal e regular para administrar as relações cooperativas, ou seja, amistosas, e não bélicas, entre os países. O diplomata é uma espécie de acadêmico que está a serviço dos governos, ao passo que o soldado é o braço armado do Estado, para ser usado apenas em última instância.
Paradoxalmente, a arrogância imperial faz com que a paranoia normal dos militares – que é necessária por pura coerência com os seus propósitos, de dissuadir e de ameaçar – seja projetada igualmente entre acadêmicos e diplomatas, com o que se constrói um ambiente pouco propenso à construção da interdependência global que deveria abrir uma nova era de prosperidade para o mundo. Ao eleger a China, não como mera concorrente tecnológica ou militar, mas como “adversária estratégica”, os paranoicos do Pentágono podem estar dando início a uma nova corrida armamentista, como já houve tantas no passado – entre Roma e Cartago, entre os impérios centrais que precipitaram a Grande Guerra, entre a URSS e os EUA, na Guerra Fria – e que pode desviar importantes recursos econômicos numa conjuntura de esgotamento dos Tesouros nacionais para cuidar do declínio demográfico e da pressão competitiva dos mercados emergentes. Por outro lado, a adesão de diplomatas e acadêmicos a essa visão confrontacionista do ambiente internacional impede, paralelamente, ou pelo menos retrasa, a integração econômica e cultural do mundo, tal como construída pela globalização microeconômica, aquela conduzida por empresas e indivíduos (em contraposição ao segundo tipo de globalização, a macroeconômica, isto é, aquela administrada por governos e entidades internacionais, e que pode ser, na verdade, uma antiglobalização).
Tal como eu vejo o atual cenário mundial no plano geopolítico, creio que as atuais tendências e políticas nacionalistas em ação em importantes países do Ocidente – uma manifestação que vem sendo identificada com o paranoico fenômeno do antiglobalismo – farão retroceder a interdependência global, mas elas serão tanto mais prejudiciais às economias nacionais quanto mais seus dirigentes adotarem o recurso ao nacionalismo protecionista. Na outra vertente do mundo, defendendo resolutamente a globalização, o livre comércio, a abertura aos investimentos – ainda que fazendo um uso malicioso das regras multilaterais que eventualmente regulem essas áreas, e recorrendo também a práticas desleais nos mercados globais –, situa-se a China atual, lançada com ardor na nova interdependência, embora agora temporariamente afetada pelo seu terrível surto epidêmico (em remissão). Como interpreto o curso da atual Guerra Fria Econômica em curso no mundo – com suas evidências tópicas simbolizadas pelo Belt and Road, 5G, conflitos em termos de propriedade intelectual de inovações tecnológicas, práticas desleais de comércio, etc. – aplicando, como se deve, justamente os critérios de tendências e políticas, acredito que a China já emergiu dessa “guerra” como a vencedora indiscutível nesse processo, uma vez que ela apresenta tendências e políticas coincidentes e conducentes com os requerimentos da globalização no seu presente estágio de desenvolvimento. A pandemia pode frear moderadamente o ritmo desse processo, mas assim como a Europa emergiu mais forte e mais produtiva da sua terrível experiência com a Peste Negra, acredito que a China emergirá mais capacitada, mais bem dotada de know-how, experiência e conhecimento, ou seja, melhor preparada para enfrentar eventuais choques entre impérios, fricções normais no longo caminhar do processo histórico.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19 março 2020.


Rodrigo Constantino também aproveita o Coronavirus para continuar a batalha ideológica

A ditadura chinesa do Partido Comunista é apenas a forma moderna do velho "despotismo oriental", a tirania longeva que se estendeu ao longo de séculos, com poucos períodos de abertura política ou tolerância com a dissidência (que no entanto existia e existe, mesmo nos momentos mais despóticos).
O despotismo não impediu o desempenho brilhante da China nos séculos passados, graças tanto à energia de seu povo, quanto à organização "weberiana" dos mandarins do Estado, e também fases tenebrosas de sua história – guerras civis, rebeliões, invasões estrangeiras com humilhações e genocídios, como no caso do militarismo do Japão –, o que se agravou ainda sob o maoísmo demencial dos anos 1950 aos 70, com milhões de mortos em cada um desses episódios e provações. 
Epidemias existem em diferentes países e situações, que são ou não controláveis pelas autoridades sanitárias.
A ditadura chinesa errou, sim ao início do novo coronavirus, mas depois se recompôs e organizou um sistema eficaz de controle e combate, o que fez com a epidemia revertesse em dois ou três meses. A RPC oferece agora know-how, equipamentos e pessoal como colaboração a países afetados, entre eles Itália e Brasil.
Acredito que se deve separar as querelas ideológicas das questões técnicas vinculadas ao combate à pandemia, que sendo uma enfermidade global, deve ser combatida globalmente, na cooperação entre os estados nacionais, sob a coordenação da OMS e organismos regionais dessa esfera.
O exclusivismo nacionalista, assim como o dedo acusatório de natureza política não vão resolver os problemas dos países afetados.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19/03/2020

Onde os valores fazem parte da notícia

 

    A ditadura comunista deveria indenizar o mundo pelo vírus chinês


Por Rodrigo Constantino
Gazeta do Povo, 19/03/2020

O presidente Donald Trump passou a só se referir ao Covid-19 como "vírus chinês", e tem sido atacado por jornalistas por isso. Mas como ele nunca abaixa a cabeça para essa turma, chega a ser constrangedor ver a humilhação que sofrem quando tentam emparedar o presidente como "racista", e ele simplesmente explica que o vírus veio da China mesmo, e que o regime, ao esconder informações, ajudou a criar a pandemia."

Como explica Ben Shapiro, não há nada de controverso em chamar de vírus chinês, como chamamos, aliás, a gripe que dizimou milhares no passado de gripe espanhola. Diz Shapiro:

 
"O fato de a imprensa de alguma forma ter encontrado tempo para tratar de um assunto menor — a descrição de um vírus chinês como tal — em meio a um pânico mundial sem precedentes demonstra o profundo descompromisso daqueles que reclamam.

É inacreditável que o termo seja controverso. O vírus realmente teve origem na China. Mais do que isso, a ideia de que o governo chinês deveria ser protegido das consequências de suas medidas tirânicas e seu governo patológico é de uma perversidade sem igual."

 
O debate foi aquecido no Brasil pelo episódio envolvendo Eduardo Bolsonaro, que publicou mensagem na linha do que disse Trump. Eduardo pode falar dez vezes antes de pensar, pode ser pouco diplomata, irresponsável até, tudo isso de que tem sido acusado, mas ele é o deputado federal mais votado da nossa democracia e não mentiu; já a China é uma ditadura que prende jornalistas e calou médicos que alertavam para o risco da gripe.

Eduardo, em que pese ser filho do presidente e por isso gerar tensão diplomática maior, não foi o único deputado federal a se manifestar nesse sentido. Marcel van Hattem, do Partido Novo, também comentou, ao compartilhar a ótima sequência feita por Rodrigo da Silva sobre o caso.
 

Kim Kataguiri, do DEM de Rodrigo Maia e ligado ao MBL, também publicou responsabilizando o regime chinês.

Já Rodrigo Maia, supostamente tentando apagar incêndio diplomático, pediu desculpas à ditadura.

Nosso “primeiro-ministro”, nos desejos de boa parte da mídia, prefere tomar o partido do regime que prende jornalistas, que cala médicos que alertam sobre o coronavírus, que permitiu com que o troço virasse uma pandemia. Eles amam a democracia... ou nem tanto!

É lamentável - e revelador -, portanto, ver nossos "jornalistas" e "democratas humanistas" tomando o partido da ditadura, vibrando com a "enquadrada" do PCC, o maior responsável pela pandemia. É pragmatismo, simpatia ideológica ou se venderam para os comunistas mesmo?



Artigo completo aqui.
 

domingo, 15 de março de 2020

Emily Hahn e Charles Boxer, uma história fascinante (New York Times, 1997)

From The New York Times (1997): o Charles Boxer referido nesta matéria sobre Emily Hahn é simplesmente o maior historiador do império marítimo português, falecido em 2000, objeto de uma monumental biografia do historiador Dauril Alden: Charles R. Boxer: an Uncommon Life, Soldier, Historian, Teacher, Collector, Traveller (Lisboa: Fundação Oriente, 2001, 616 páginas em grande formato; ISBN: 972-785-023-05).
Recomendo igualmente a leitura deste longo artigo sobre Charles Boxer pelo historiador brasilianista Kenneth Maxwell: 
The C.R. Boxer Affaire: Heroes, Traitors, and the Manchester Guardian
Author: Kenneth R. Maxwell, Nelson and David Rockefeller Senior Fellow, Council on Foreign Relations, March 16, 2001

Paulo Roberto de Almeida


Emily Hahn, Chronicler of Her Own Exploits, Dies at 92
The New Yor Times, February 19, 1997, Section B, Page 7

Emily Hahn, early feminist and prolific author who wrote 54 books and more than 200 articles for New Yorker, dies at age 92
https://www.nytimes.com/1997/02/19/arts/emily-hahn-chronicler-of-her-own-exploits-dies-at-92.html


Emily Hahn, an early feminist and a prolific author who wrote 54 books and more than 200 articles for The New Yorker, died yesterday at St. Vincent's Hospital and Medical Center in Manhattan. She was 92, said her daughter, Carola Boxer Vecchio.
Ms. Hahn was known for her writings about her adventurous life in the Far East before World War II and for her books on such diverse subjects as Africa, D. H. Lawrence and apes. (Ms. Hahn kept gibbons.) She also worked as a Hollywood screenwriter during the 1920's.
Over the course of her career, Ms. Hahn wrote about Chinese cooking, about feminism (''Once Upon a Pedestal: An Informal History of Women's Lib,'' 1974) and about diamonds (''Diamond: The Spectacular Story of Earth's Rarest Treasure and Man's Greatest Greed,'' 1956). Another work was ''The Islands: America's Imperial Adventures in the Philippines'' (1981). In her later years, Ms. Hahn wrote several books about animals, including ''Eve and the Apes'' (1988), about women who owned apes. In ''Look Who's Talking'' (1988), she examined communication between beasts, and between beasts and humans.
Emily Hahn was born in St. Louis, where her father, Isaac Newton Hahn, was a salesman. At a time when few middle-class women had careers, she was determined to be a mining engineer. But her adviser at the University of Wisconsin told her, she once said, that the female mind was ''incapable of grasping mechanics or higher mathematics.'' That remark only hardened her resolve, and she stayed on, graduating in 1926. She is believed to be the first woman to earn a degree in mining engineering at the university. She worked for a year for the Deko Oil Company of St. Louis but grew bored with the work.
Her career as an author began in 1924, when she took a trip across the country in a Model T Ford, and her letters home so captivated her brother-in-law that he sent them to The New Yorker, which bought some of them. In 1930, her first book, ''Seductio ad Absurdum: The Principles and Practices of Seduction -- A Beginner's Handbook,'' was published.
Inspired by Charles A. Lindbergh's solo flight across the Atlantic, Ms. Hahn decided she wanted to be ''free,'' she said, and in 1930 she embarked on a journey to Africa, where she worked in a hospital and lived with a tribe of Pygmies.
In 1935, The New Yorker hired her to be its China correspondent. China was the place, Ms. Hahn once said, that had the greatest impact on her life. She arrived during the period of the Communist revolution and the war against the Japanese, and made the acquaintance of Mao Zedong and Chou En-lai. She also became a confidante of the Soong sisters, one of whom married Sun Yat-sen, another Chiang Kai-shek, and in 1941 published ''The Soong Sisters,'' a biography.
While in China, Ms. Hahn had an affair with Sinmay Zau, an aristocratic intellectual whom she described as her ''cultural and political guide to China.'' She also spent time in opium dens, eventually becoming addicted to the drug, she said.
''I was young and I thought it was romantic to smoke opium,'' she told The Washington Post. ''I was quite determined. It took me a year or so to become addicted, but I kept at it.'' Later, she said, ''I went to a man who hypnotized me and sure enough, I didn't want it any more.''
In Hong Kong, Ms. Hahn met Maj. Charles Boxer, a British intelligence officer in the Far East. He was already married, but they began an affair. In 1940 she became pregnant. At a time when such pregnancies were often kept secret, she chose not only to keep her baby daughter, Carola, but to proclaim her birth proudly.
Soon after their daughter's birth, Major Boxer was captured by the Japanese and put in a prison camp. For some months, Ms. Hahn brought food to him there, avoiding repatriation by claiming to be Eurasian. But fearing for the safety of her daughter, she fled Hong Kong in 1943. Major Boxer survived his captivity. Ms. Hahn married him in 1945, and they had a second child, Amanda. Ms. Hahn described her wartime romance in her 1944 book, ''China to Me: A Partial Autobiography.''
At The New Yorker, Ms. Hahn became one of the few writers to work for all four of its editors, Harold Ross, William Shawn, Robert Gottlieb and Tina Brown. She and her husband often lived an ocean apart, with Ms. Hahn, because of British tax laws, spending no more than 91 days a year in England while Major Boxer remained at their home in Little Gaddesden, Hertfordshire.
Ms. Hahn continued writing until the end of her life, including an article about Amanda's dog published this month in a British magazine. In December, Ms. Hahn had her first poem published in The New Yorker, ''Wind Blowing.''
Ms. Hahn is survived by her husband; her daughters, Carola, of Jackson Heights, Queens, and Amanda, of London; two grandchildren, and two great-grandchildren.
''My younger daughter once rebuked me for not being the kind of mother one reads about,'' Ms. Hahn once told an interviewer. ''I asked her what kind that was, and she said, the kind who sits home and bakes cakes. I told her to go and find anybody who sits at home and bakes cakes.''

A version of this article appears in print on Feb. 19, 1997, Section B, Page 7 of the National edition with the headline: Emily Hahn, Chronicler of Her Own Exploits, Dies at 92.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Bolsonaro, a Amazonia e a China - Heriberto Araújo and Melissa Chan (WP)


How Bolsonaro’s risky bet on China in the Amazon could backfire

Heriberto Araújo is a reporter who is currently working on a book about the human and environmental costs of the Amazon’s destruction. Melissa Chan is a reporter focused on transnational issues, often involving China’s influence beyond its borders. They were both previously based in Beijing. Their recent trip to Brazil was supported by the Pulitzer Center.

The cowboys and prospectors of the Amazon couldn’t be any happier. One year into his tenure, Brazilian President Jair Bolsonaro is delivering on his campaign promise to reinforce, at whatever the cost, Brazil’s status as an agricultural colossus. In 2019, Brazil recorded its second highest ever soy production numbers and exported more than 50 percent more soybeans than the United States. Beef sales jumped 15 percent to reach an all-time high, including over $7 billion sold overseas.
China, the country’s largest trade partner, has driven this meat and grain boom, buying $31 billion worth of its food commodities last year. The partnership seems to work well: Brazil has the land, and China the demand. But Bolsonaro might want to think twice about this relationship.
Before his election, Bolsonaro had run on an anti-China platform. “The Chinese are not buying in Brazil,” he warned during the campaign. “They are buying [up] Brazil.”
Since then, his posture has radically changed. Last October, he visited Beijing and declared that Brazil and China “were born to walk together.” His powerful minister of agriculture, Tereza Cristina, has even established a special China department to cater to Brazil’s largest customer.
This hasn’t turned off his supporters — for now. On China, “when he is wrong, he recognizes it and changes course. He isn’t ashamed of this,” Agamenon da Silva Menezes told us when we stopped by his office. The cattleman and representative of one of the most vocal ranching associations in the Amazon had supported Bolsonaro in the election.
For Bolsonaro, economic prosperity trumps environmental preservation. Agriculture and deforestation are the main drivers of emissions in the country, and logging the Amazon’s trees for timber, then converting that cleared land to expand the boundaries of soy fields and cattle pastures in order to sell more to China has become, in Bolsonaro’s mind, part of the country’s manifest destiny.
He has mostly ignored the global outcry to save the Amazon, which is critical to fighting climate change due to its ability to store massive amounts of carbon emissions. He has also cut the budget of the government’s environmental protection agency, hamstringing its ability to police the jungle, and sent the army in to finish paving the more than 800 miles of a highway bisecting the region, meant to facilitate the transport of grain to China through the Amazon basin. Deforestation rates in the Amazon reached a 10-year high in 2019 and jumped a staggering 183 percent between December 2018 and December 2019.
Meanwhile, China — a signatory to the Paris agreement on climate change — has kept quiet over its contribution to the crisis. When it comes to Brazil, Beijing has put its food security priorities ahead of its environmental commitments and chosen to do business with no questions asked.
Yet Bolsonaro’s bet on China may backfire. Meat prices in Brazil haveskyrocketed domestically, fueling inflation. That’s a worrisome trend in a country where churrasco (barbecue) is almost a religion and where inflation sparked massive demonstrations in 2013 that threatened to derail then-President Dilma Rousseff’s bid for a second term. Experts and officials agree that the rising cost of beef at home is a direct consequence of record beef sales to China, where a devastating swine flu that has halved its pig population has led many Chinese to buy more beef as a replacement protein.
This hasn’t just come at the expense of Brazilian consumers. In some cases, it has even come at the cost of Brazilian sellers. Powerful Chinese state-owned enterprises recently bullied Brazilian exporters, renegotiating contracts at the last minute and pushing them to sell meat at a loss.
Now, Bolsonaro’s ambitious trade plans with China might face further jeopardy. Brazil had benefited from the trade war between the United States and China, stepping in to sell more soy and beef to the Asian superpower as U.S. farmers got cut out. But the boom times may be over, with the new trade deal essentially a purchase agreement with a pledge from Beijing to buy $36 billion worth of agricultural products from the United States this year, much of it soy, and $43 billion the next.
In order to honor its commitment, China has no choice but to pivot back to the United States. As a result, Bolsonaro’s staunchest supporters — farmers — may face a soy surplus this season, just when the harvest is forecast to reach an all-time high. In January, Brazil’s soy exports dropped more than 26 percent from the same period last year.
The coronavirus also looks set to severely hit China’s domestic growth and, in turn, demand for Brazilian food commodities. With many workers still under quarantine and on unpaid leave across the country, appetite for expensive, imported beef will — and already has — start to wane.
Bolsonaro now faces a dilemma. He can take a step back from the vagaries of Chinese demand and do what his admirers claim he’s good at: learning from his mistakes and changing course. He can work on preserving the Amazon; environmentalists say it is possible to develop the region sustainably. Or, he can double down on his partnership with China — and put Brazil’s, and the world’s, future prosperity at risk.

domingo, 23 de fevereiro de 2020

A diferença entre Estados autoritários e os democráticos: China como "homem doente da Ásia" no Wall Street Journal

Vinte anos atrás, a prestigiosa revista mais do que secular The Economist tinha uma capa, um editorial e várias matérias sobre a Alemanha, como "o homem doente da Europa", a propósito da relativa estagnação da economia alemã naquela conjuntura.
Qual foi a reação dos dirigentes alemães?
Nenhuma, absolutamente nenhuma.
Ou melhor, reconheceram os problemas do momento e trataram de corrigi-los para que o país retomasse seus antigos níveis de produtividade e competitividade que sempre distinguiram a Alemanha, temporariamente afetados por políticas erradas e pelos impactos reais da integração da RDA, acrescidos dos problemas trazidos pouco antes pela moratória russa, que afetou muitos bancos alemães.
A China já foi chamada de "homem doente da Ásia", no final do século XIX, quando ela realmente estava em decadência e tinha perdido guerras contra a Rússia czarista e o Japão ascendente, assim como estava sendo humilhada pelos imperialismos ocidentais, e não tinha sequer como retaliar.
Logo depois foi a vez do Império Otomano, de ser chamado de "homem doente", o que era também um fato, em breve confirmado pelo fim do Império e o nascimento da Turquia moderna, com um território reduzido em relação ao enorme império antes espalhado pelo sul da Europa, Oriente Médio e norte da África.
Hoje, a China, que não tem nada de "homem doente" da Europa, enfrenta um problema episódico, que vai ser superado dada sua enorme capacidade de reação, sua organização, seu poderio econômico.
O grande historiador e especialista de relações internacionais, Walter Russell Mead, realmente perpetrou um erro grave – ou então a responsabilidade incumbe aos editores –, ao chamar a China de "homem doente da Ásia", mas ele é um colunista baseados nos EUA, que tem liberdade para publicar o que deseja no Wall Street Journal, um jornal conservador, mas provavelmente o melhor jornal do mundo, junto com o Financial Times. A decisão da China de expulsar três jornalistas do escritório de Beijing do WSJ apenas revela o espírito totalitário do PCC, sua intolerância com as opiniões de um acadêmico, que não afetariam em nada a capacidade da China de resolver um grave problema de saúde pública. 
Essa é a diferença entre as democracias e as ditaduras: as primeiras não interferem na liberdade de imprensa e sobretudo na opinião de comentaristas e acadêmicos. Ditaduras costumam controlar seus cidadãos e os próprios jornalistas estrangeiros que escrevem sobre o país. A retaliação inaceitável da China contra jornalistas estrangeiros apenas confirma essa diferença básica, que um dia será superada, para felicidade do próprio povo chinês.
Paulo Roberto de Almeida

Inside The Wall Street Journal, Tensions Rise Over ‘Sick Man’ China Headline

After China announced the expulsion of three of the paper’s journalists, 53 reporters and editors at The Journal asked top executives to consider changing the headline and apologizing.
John Wisniewski
More than four dozen journalists at The Wall Street Journal challenged their bosses and criticized the newspaper’s opinion side in a letter that was sent to top executives on Thursday, the day after China announced that it would expel three Journal staff members in retaliation for a headline that offended the country’s leaders.
In all, 53 reporters and editors signed the letter. They criticized the newspaper’s response to the fallout from the headline, “China Is the Real Sick Man of Asia,”that went with a Feb. 3 opinion essay by Walter Russell Mead, a Journal columnist, on economic repercussions of the coronavirus outbreak.
The letter, which was reviewed by The New York Times, urged the newspaper’s leaders “to consider correcting the headline and apologizing to our readers, sources, colleagues and anyone else who was offended by it.”
Describing the headline as “derogatory,” the letter was sent on Thursday from the email account of the China bureau chief, Jonathan Cheng, to William Lewis, the chief executive of Dow Jones and the newspaper’s publisher, and Robert Thomson, the chief executive of News Corp, the Rupert Murdoch-controlled parent company of Dow Jones.
Mr. Cheng, who did not sign the letter, wrote in a separate note that he was passing the letter along to the two executives, adding that he believed their “proper handling of this matter is essential to the future of our presence in China.”
The in-house criticism brought to the surface longstanding tensions at The Journal between the reporters and editors who cover the news and the opinion journalists who work under the longtime editorial page editor, Paul A. Gigot. As at other major newspapers, including The Times and The Washington Post, the news side and the opinion department are run separately.
Mr. Gigot oversees the unsigned editorials that represent the newspaper’s institutional voice, the op-ed columns like the one by Mr. Mead and the criticism in the arts and culture sections. He also hosts a program on Mr. Murdoch’s network, the Fox News Channel.
Foreign news media organizations in China tread a difficult path. The nation’s growing economic and political clout make it an essential story. Chinese officials covet attention from the global stage, and images of foreign reporters jotting down their comments at news conferences are a staple of state-controlled evening news shows.
The Chinese government uses visas for foreign journalists as leverage, doling out and retracting credentials as a way to influence news outlets. Foreign news media organizations face pressure to steer clear of sensitive topics like the wealth and political pull of the families of the country’s leaders.
Like many other international news organizations, The Times among them, The Journal is blocked online in China, and the “Sick Man” headline was brought to wide attention there by state-controlled media, amid nationwide concern over an epidemic that has infected over 76,000 people in China and killed more than 2,400.

China was sometimes described as the “sick man of Asia” at the end of the 1800s, in “the depths of what we now call China’s ‘Century of Humiliation,’” said Stephen R. Platt, a historian of modern China at the University of Massachusetts. The empire had then lost a series of wars and had feared being divvied up by imperial powers.
“Nobody in their right mind would confuse China today with China at the end of the 19th century,” Mr. Platt said. “I think that’s where the insult lies, this hearkening back to this terrible period and somehow implying that it’s all the same.”
On Wednesday, Geng Shuang, a spokesman for China’s Ministry of Foreign Affairs, said in a transcript provided by the Chinese government that Chinese officials “demanded that The Wall Street Journal recognize the seriousness of the error, openly and formally apologize, and investigate and punish those responsible, while retaining the need to take further measures against the newspaper.”
The statement added that “the Chinese people do not welcome media that publish racist statements and smear China with malicious attacks.”
The Journal has not made a formal apology. The closest it came was when Mr. Lewis, the publisher, said in a statement on Wednesday that the headline “clearly caused upset and concern amongst the Chinese people, which we regret.”
Susan L. Shirk, the chair of the 21st Century China Center at the University of California, San Diego, said that there was reason for the newspaper to refrain from making an apology now that the Chinese government had demanded one.
“The Chinese government has been coercive in its demands for apologies from all sorts of international groups on issues that are essentially domestic political issues,” Ms. Shirk, a deputy secretary of state under former President Bill Clinton, said. “This has the effect of interfering in freedom of expression in our own countries.”
A majority of the reporters and editors who signed the letter are based in the newspaper’s China and Hong Kong bureaus.
They included the three journalists whom China ordered to leave the country on Wednesday: Josh Chin, the deputy bureau chief in Beijing and an American citizen; Chao Deng, a reporter, who is also an American; and Philip Wen, a correspondent and Australian citizen who reported on an Australian investigation of a cousin of President Xi Jinping of China as part of an inquiry into organized crime. The Chinese government gave the journalists until Monday to leave the country.
The letter argued that “the public outrage” over the headline in China “was genuine” and said the “Sick Man” headline should be changed online.
“We are deeply concerned that failure to take such action within the next few days will not only inflict further damage on our China bureau’s operations and morale in the short term,” the letter said, “but also cause lasting damage to our brand and ability to sustain our unrivaled coverage of one of the world’s most important stories.”
The letter also noted that people at The Journal had raised concerns about the “Sick Man” headline before China announced that it would revoke the journalists’ visas and order them out of the country. It also questioned whether the headline was “distasteful,” given the coronavirus outbreak.
A Dow Jones spokeswoman confirmed that the executives had received the letter and said in a statement, “We understand the extreme challenges our employees and their families are facing in China.” The company added that it “will continue to push” to have the visas of its three journalists reinstated.
Mr. Cheng, the China bureau chief, and more than a dozen others who signed the letter did not respond to requests for comment.
In addition to criticizing the headline, the letter took issue with an unsigned editorial published by the newspaper on Wednesday, after China’s announcement that the journalists would be expelled.
In the punchy style the editorial page is known for, it got right to the point: “President Xi Jinping says China deserves to be treated as a great power, but on Wednesday his country expelled three Wall Street Journal reporters over a headline. Yes, a headline. Or at least that was the official justification.” The editorial went on to argue that the Chinese government had revoked the reporters’ credentials to divert attention from its “management of the coronavirus scourge.”
The editorial acknowledged criticism of the headline but defended it as echoing a description familiar to American readers that cast the late Ottoman Empire as the “sick old man of Europe.”
Shen Yi, a lecturer on international relations at Fudan University in Shanghai, said The Journal’s headline displayed a sense of racial superiority. The language was similar to comments by Kiron Skinner, a former director of policy planning at the State Department, who had said that with China, the United States had “a great power competitor that is not Caucasian,” Mr. Shen wrote in a recent essay.
“The increasing prominence and scope of this sort of language gives you a feeling for the despicable thoughts that underlie it,” Mr. Shen wrote. “Even now, in the 21st century, some U.S. officials and elites still deep in their hearts know and understand the world through the framework of the suzerain and its colonies.”
Mr. Mead, the writer of the op-ed, suggested in a Twitter post on Feb. 8 that he was opposed to the headline, writing, “Argue with the writer about the article content, with the editors about the headlines.” He declined to comment for this article.