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sábado, 24 de junho de 2023

Ah, esse ambicionado Prêmio Nobel da Paz... - Paulo Roberto de Almeida (Crusoé)

Meu artigo publicado mais recente: 

1513. Ah, esse ambicionado Prêmio Nobel da Paz...”, Brasília, 11 junho 2023, 3 p. Artigo sobre os prêmios Nobel e a pretensão de Lula de conquistar um da Paz para si. Publicado na revista Crusoé (23/06/2023; link: https://crusoe.uol.com.br/secao/paulo-roberto-de-almeida/ah-esse-ambicionado-nobel-da-paz/?utm_source=crs-site&utm_medium=crs-login&utm_campaign=redir). Relação de Originais n.  4412.

Ah, esse ambicionado Prêmio Nobel da Paz...

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Artigo sobre os prêmios Nobel e a pretensão de Lula de conquistar um da Paz para si. Publicado na revista Crusoé

  

O testamento de Alfred Nobel, reservando uma parte de sua imensa fortuna para premiar cinco personalidades que, no ano anterior, realizaram grandes feitos em favor da humanidade, foi finalizado em 1895, prevendo a distribuição de prêmios nas seguintes áreas: física, química, medicina, literatura e a promoção da paz e da amizade entre as nações. Mas, os primeiros prêmios só foram concedidos a partir de 1901, em função de dissensões familiares quanto à repartição de seu legado. Os prêmios científicos e de literatura seriam avaliados por academias suecas dos respectivos setores, enquanto o da paz estaria a cargo do parlamento norueguês, cujo reino, naquela época, era unido ao da Suécia. Bem mais tarde, em 1968, foi introduzido um prêmio Nobel em Economia, a ser atribuído pelo Banco Nacional da Suécia. 

Ao longo dos anos, com poucas exceções, os prêmios foram sendo atribuídos, previsivelmente para cientistas, pesquisadores, literatos dos próprios países avançados, onde naturalmente estavam concentradas as pesquisas científicas e a produção intelectual. Paulatinamente, escritores e cientistas dos demais países, alguns que hoje se situam no que vem sendo chamado de Sul Global, foram sendo contemplados, alguns dos quais bem próximos do Brasil, mas jamais alguém de nacionalidade brasileira (embora alguns cientistas que viveram ou trabalharam no Brasil tenham recebido a graça). Tentativas foram feitas, candidaturas foram apresentadas, mas a sorte foi ingrata com o país abençoado por Deus, ou onde ele teria supostamente o seu lugar de eleição.

(...)

... muitas das democracias ocidentais, entre elas todos os membros da Otan, contestam, inclusive, a suposta imparcialidade do Brasil, para liderar um “clube da paz”, uma vez que Lula, mais identificado atualmente por sua simpática postura em favor de ditaduras de esquerda, tem consistentemente dado mostras de defender o lado russo. Esse posicionamento ocorre a despeito do fato de a diplomacia brasileira ter votado condenando a Rússia na Assembleia Geral da ONU, mas em resoluções puramente simbólicas da, pois que desprovidas do poder coercitivo que teria uma decisão do seu Conselho de Segurança. A proposta de “cessação de hostilidades”, agregada a uma dessas resoluções, só favoreceria a Rússia de Putin, pois que “congelando”, de certa forma, as forças sobre o terreno, sendo que a potência agressora ocupa boa parte da Ucrânia oriental e meridional. 

Não será, portanto, com qualquer manobra inovadora em torno do pior conflito militar na Europa, desde o final da Segunda Guerra Mundial, que Lula conquistará o ambicionado Prêmio Nobel da Paz. Ele terá de pensar em outras iniciativas, de grande peso na atualidade, para almejar o mítico prêmio. Que tal começar por um grande dever de casa, e fazer cessar, por completo, as hostilidades de madeireiros e garimpeiros contra a paz dos povos originários da Amazônia? Eis uma missão que poderia valer como um 13º trabalho de Hércules...


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4412, 11 junho 2023

.  

Ler a íntegra no site da revista Crusoé: 

 https://crusoe.uol.com.br/secao/paulo-roberto-de-almeida/ah-esse-ambicionado-nobel-da-paz/?utm_source=crs-site&utm_medium=crs-login&utm_campaign=redir

sexta-feira, 9 de junho de 2023

Por que a tal de ‘nova ordem mundial’ é uma má ideia? - Paulo Roberto de Almeida (Crusoé)

 Meu mais recente artigo publicado: 

4374. “Por que a tal de ‘nova ordem mundial’ é uma má ideia?”, Brasília, 26 abril 2023, 4 p. Artigo publicado na revista Crusoé (9/06/2023; link: https://oantagonista.uol.com.br/mundo/crusoe-por-que-a-tal-de-nova-ordem-mundial-e-uma-ma-ideia-2/). Relação de Publicados n. 1511.

 

Por que a tal de 'nova ordem mundial' é uma má ideia?

 

Paulo Roberto de Almeida, Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

 

Qualquer sugestão, proposta, imposição ou surgimento de uma nova ordem política e econômica, a mais forte razão, uma ordem que seja global, implica, necessariamente, a ruptura com a ordem pré-existente, em curso ou vigência num determinado período ou região. Normalmente, quaisquer ordens existentes são naturalmente transformadas ao cabo ou progressivamente a partir de mudanças estruturais nos sistemas econômicos e regimes políticos sobre os quais se sustentavam durante certo tempo. Mudanças “transformacionais” sempre ocorreram ao longo de toda a história humana, mesmo naqueles impérios mais solidamente estabelecidos ao longo de séculos. As rupturas são mais raras, sobrevindo como resultados de grandes catástrofes, guerras civis ou de agressão por um império mais forte.

 

Quais foram as grandes rupturas da ordem mundial na história?

Estados-nacionais constituem um tipo de organização estatal relativamente recente na história da humanidade. Anteriormente, povos, etnias, religiões, reinos e comunidades de diversas origens e formação viviam, sobreviviam ou se transformavam em ritmos e interações relativamente erráticas, mais frequentemente sob o domínio de impérios, que sempre foram mais resilientes do que pequenas unidades políticas. O conceito de Estado nacional deriva dos acordos de Westfália, em 1648, que passaram a reconhecer certos direitos e soberanias dos poucos Estados que deles participaram no século XVII. Eles são quase contemporâneos da expansão e consolidação de um dos mais longevos impérios desde a era moderna: o império otomano, que quase conquistava Viena por essa época e que durou cerca de 600 anos até ser dissolvido ao final da Grande Guerra de 1914-18.

(...)


O Brasil precisa de uma nova ordem global? Tem algo a ganhar com isso?

O Brasil foi um dos países “periféricos” e “subdesenvolvidos” que mais se beneficiou com a nova ordem surgida nos estertores da Segunda Guerra, em Bretton Woods, para sua estrutura econômica, San Francisco para seu sistema (precário) de preservação da paz e da segurança internacionais, além de mecanismos próprios para a cooperação entre Estados. Mesmo sem ser um grande comerciante global, soube aproveitar as possibilidades de explorar suas vantagens comparativas para se tornar, atualmente, um dos grandes celeiros globais. Também acolheu enormes volumes de investimentos diretos estrangeiros para dinamizar sua pobre indústria do início do século XX. E também completou a “substituição de importações” no campo científico ao importar muitos cérebros para suas universidades e mandar milhares de estudantes graduados completarem especializações no exterior. 

Que razões teria para o projeto de substituir a ordem que garantiu razoavelmente sua gradual ascensão a uma das mais importantes economias do mundo por uma outra ordem global que resultasse de um novo conflito geopolítico de resultados imprevisíveis? Algum interesse maior de natureza tão fundamental que não permitisse acomodar suas aspirações nos quadros existentes da ordem de Bretton Woods e da ONU? Estruturas orgânicas à parte, essa nova ordem, tal como vem sendo proposta por duas grandes autocracias não ocidentais, teria condições de preservar seus outros vetores no terreno dos valores e princípios que fundamentam sua adesão a um regime democrático, a um Estado de Direito garantidor das liberdades e de adequada defesa dos direitos humanos, numa sociedade aberta às diferenças e ao respeito das individualidades? Trata-se de uma aposta arriscada, que não deveria ser sequer considerada por um governo representativo de nossas aspirações democráticas.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4374: 26 abril 2023, 4 p.


 Ler a íntegra no site do revista, ou espere duas semanas: 

 linkhttps://oantagonista.uol.com.br/mundo/crusoe-por-que-a-tal-de-nova-ordem-mundial-e-uma-ma-ideia-2/


sábado, 29 de abril de 2023

O Brasil como um imenso Portugal - Paulo Roberto de Almeida (Crusoé)

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Paulo Roberto de Almeida na Crusoé: O Brasil como um imenso Portugal
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Paulo Roberto de Almeida na Crusoé: O Brasil como um imenso Portugal

Com a Revolução dos Cravos de 1974, brasileiros passaram a aspirar por democracia e por políticas progressistas dos dois lados do Atlântico

Muito tempo antes que Chico Buarque e Ruy Guerra, nos anos 1970 aventavam essa hipótese numa das mais bonitas canções (Fado Tropical) da época da ditadura brasileira, e quando Portugal se preparava para se libertar da sua longeva ditadura civil, dois “pais fundadores” da nação brasileira já tinham sugerido tal conformação no limiar da independência: em lugar de uma separação completa entre a metrópole lusitana e o então Reino Unido do Brasil, que as duas partes do reino configurassem um só Estado, com sede no Rio de Janeiro, no comando de um grande império marítimo transnacional. Com efeito, tanto Hipólito da Costa – o primeiro jornalista brasileiro independente –, quanto José Bonifácio – o primeiro membro brasileiro de um gabinete português sob a regência do príncipe D. Pedro –, concebiam, ainda poucos meses antes da separação, a continuidade de um só Estado monárquico constitucional, com a capital que abrigou a família real portuguesa quando esta teve de se resguardar da invasão napoleônica.

Em 1820-21, quando da revolução do Porto e das Cortes de Lisboa, o rei D. João VI teve de retornar relutantemente a Portugal; mas ele também mantinha essa ideia de que as duas partes do reino – e o Brasil já era bem mais rico do que Portugal – deveriam se manter juntas, para a maior glória da dinastia dos Braganças, em face de todas as outras monarquias europeias. Teria sido o primeiro reino “europeu” estabelecido numa possessão tropical, uma novidade absoluta na história europeia e mundial. Mas, como se sabe, as Cortes forçaram a separação, ao tentar fazer o Brasil retornar ao seu antigo estatuto colonial; daí o rompimento, contra o qual lutaram, enquanto puderam, tanto Bonifácio quanto Hipólito.

A separação não era inevitável, inclusive porque D. Pedro, ao assumir em outubro de 1822 como Imperador do Brasil, era o legítimo sucessor do pai no Reino de Portugal, e a ruptura, de fato e de direito, só se deu, para todos os efeitos jurídicos e diplomáticos, em 1825, com a intermediação da potência da época, a Grã-Bretanha. Mas cabe considerar também que suas elites econômicas, os grandes proprietários de terras, tinham todo interesse na separação, para poder controlar de forma soberana e completamente as atividades mais lucrativas da época: o tráfico de escravos, a exportação dos produtos locais e a importação dos bens necessários à manutenção e desenvolvimento da nova nação. Nesse intervalo, a jovem república do hemisfério norte, os Estados Unidos, já tinha reconhecido a independência, assim como o fizeram, mas de forma bizarra, os independentistas de Buenos Aires, que logo entraram em desavenças e em guerra contra o Brasil, por causa da Cisplatina, finalmente reconhecida como República Oriental do Uruguai, sob pressão inglesa, em 1828.

Durante quase dois séculos Portugal e Brasil se “desenvolveram” em separado, não fosse pelo…

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terça-feira, 18 de abril de 2023

O que Putin quer de Lula? O que ele vai conseguir? - Paulo Roberto de Almeida (Crusoé)

 Meu artigo por inteiro, tal como já publicado para os assinantes da Crusoé

1499. “O que Putin quer de Lula? O que ele vai conseguir?”, Crusoé (31/03/2023; link: https://crusoe.uol.com.br/edicoes/257/o-que-putin-quer-de-lula-o-que-ele-vai-conseguir/?fbclid=IwAR0HUZLik-L-mAziepagvbW2FtPFh-mtymnqIQHUhNSGKuu2dxVGndG0dKk?utm_source=crs-site&utm_medium=crs-login&utm_campaign=redir). Relação de Originais n. 4344.


O que Putin quer de Lula? O que ele vai conseguir?

  

Paulo Roberto de Almeida, Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Revista Crusoé (31/03/2023; link: https://crusoe.uol.com.br/edicoes/257/o-que-putin-quer-de-lula-o-que-ele-vai-conseguir/?fbclid=IwAR0HUZLik-L-mAziepagvbW2FtPFh-mtymnqIQHUhNSGKuu2dxVGndG0dKk?utm_source=crs-site&utm_medium=crs-login&utm_campaign=redir)

  

Em meados de abril próximo, o eterno chanceler da Rússia, Sergei Lavrov deverá visitar o Brasil, e seu mais importante encontro não será, talvez, com o chanceler oficial, Mauro Vieira, mas provavelmente com o chanceler oficioso, Celso Amorim. Ambos se conhecem de longa data, antes ainda que tramassem conjuntamente a transmutação do BRIC original – uma mera plataforma de investimentos em economias emergentes, sugerida pelo economista Jim O’Neill, do Goldman Sachs – em um BRIC diplomático, com a adjunção dos outros dois países incluídos no acrônimo, Índia e China. Tal transfiguração da lagarta do BRIC, antes da emergência do BRICS – que mais se parece com um ornitorrinco, dadas as suas bizarras características– transcorreu nos dois últimos anos do primeiro mandato de Lula (2003-2006), quando a sigla já tinha adquirido certa notoriedade de imprensa, em vista do grande dinamismo econômico então apresentado pelas quatro grandes economias emergentes. Foi um gesto ousado, pois a sigla estava concebida para apresentar não mais do que carteiras, ou portfólios, de investimentos com promessas de grandes retornos, voltados para alguns fundos sequiosos de boas oportunidades de mercado.

Depois de vários encontros entre os respectivos chanceleres, o BRIC diplomático foi oficialmente lançado numa reunião de cúpula realizada em Ecaterimburgo em 2009, mas não atravessou mais do que dois anos no seu formato inicial, passando a incorporar a República da África do Sul, pelas mãos da China, desde 2011. O sucesso de mídia foi enorme, desde essa fase inicial, pois que os países avançados do Ocidente ainda enfrentavam o rescaldo das crises imobiliária, securitária e bancária de 2008, que teve início nos Estados Unidos e logo se propagou para as outras economias de mercado, ao passo que os BRICS, pelo menos a China e a Índia, pareciam imunes às turbulências e mantinham suas taxas de crescimento relativamente satisfatórias. O novo BRICS navegava de vento em popa, e já na cúpula de Fortaleza, em 2014, fazia aprovar um banco de fomento a investimentos, o NDB, e um mecanismo de socorro contingente, vagamente similar aos mecanismos de ajuste existentes no FMI: os encontros anuais dos cinco líderes recebiam os holofotes da mídia e choviam as demandas de novos candidatos ao bloco que prometia ultrapassar o PIB do G7 antes da primeira metade do século. Depois disso, a dinâmica econômica do grupo se enfraqueceu.

O curioso é que nessa primeira fase, a Rússia ainda fazia parte de um puxadinho do G7, o G8, formado na fase de transição do socialismo ao capitalismo, nos anos 1990, para facilitar a acomodação da gigantesca e nuclearmente poderosa Rússia – mesmo depois da implosão e fragmentação do império soviético – às novas regras do velho e duro capitalismo. Não apenas isso, como deferência política especial a um grande, mas esfarrapado, “parceiro” da primeira Guerra Fria: na cúpula do G7 em Kananaskis, no Canada, em 2002, a Rússia foi reconhecida como “economia de mercado”, muito antes dela ser aceita no Gatt-OMC, ou sequer ser considerada apta a integrar a OCDE (o que ela não fez até hoje, mesmo tendo sido aceita na OMC em 2015, muito depois da bem mais capitalista China). Mas o fato é que o G8 tinha uma conformação exclusivamente política, e de menor relevância do que a alta agenda econômica e financeira do G7, que continuava se reunindo com os ministros de finanças das sete grandes economias de mercado, sem a contraparte russa.

Essa distinção diminutiva do G8 parecia incomodar o novo líder russo, Vladimir Putin (designado por Ieltsin para sucedê-lo desde 1999), tanto que, num pronunciamento à nação, no início de 2005, ele já declarava que o colapso da União Soviética tinha sido “a maior catástrofe geopolítica do século” e “uma tragédia para os russos”. Essa declaração foi feita quase às vésperas das comemorações do 60. aniversário da vitória final da finada URSS na Segunda Guerra Mundial, oficialmente chamada de “Grande Guerra Patriótica”. Que ela possa ter sido uma “tragédia para os russos” é compreensível, pois que alguns milhões deles ficaram além das fronteiras da nova República Federal da Rússia, que também passou a enfrentar revoltas separatistas, como na Chechênia, selvagem reprimida. Mas, se houve alguma “catástrofe”, ela foi certamente extremamente benéfica para milhões de outros europeus, e muitos habitantes das antigas satrapias da Ásia central, que passaram a dirigir os seus próprios destinos, não sem seguidas interferências do urso russo, sempre temido.

Dois anos depois, dirigindo-se diretamente aos países ocidentais na conferência sobre segurança de Munique, em fevereiro de 2007, Putin alertava duramente os países ocidentais com respeito às preocupações de segurança de seu país, e já fazia referência ao BRIC, então em formação, da seguinte forma: 

O PIB combinado, em paridade de poder de compra, de países como Índia e China já é maior do que o dos Estados Unidos. Um cálculo similar com o PIB dos países do BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China – ultrapassa o PIB total da UE. E, segundo os especialistas, esse diferencial só vai crescer no futuro. (Discurso e debate de Putinna Conferência de Munique sobre Política de Segurança, 10/02/2007; disponível: http://www.en.kremlin.ru/events/president/transcripts/24034).

 

O debate que se seguiu a esse discurso franco e contundente de Putin, já assumindo os ares de um novo czar, foi extremamente revelador do espírito com que ele contemplou o ingresso de diversos países vizinhos, ex-integrantes do império soviético, às estruturas políticas e militares da Otan, chegando praticamente às portas de São Petersburgo: a Estônia e a Letônia, rapidamente aceitas, com a Lituânia e vários outros da Europa central e oriental, na organização do tratado do Atlântico Norte. Esse processo continuou moderadamente até que a tentativa da Georgia de aderir à Otan, em 2008, despertou a violenta reação da Rússia, que ocupou partes do seu território setentrional; na verdade, essa iniciativa se devia não à Otan, mas a um referendo realizado em janeiro daquele ano, na Georgia, que revelou que 77% da população era favorável ao ingresso na organização de segurança coletiva. 

O caso mais complicado, obviamente, se referia ao segundo maior país da Europa, depois da própria Rússia. A Ucrânia, formalmente independente desde 1991, mas não considerada para adesão à Otan, tinha inclusive firmado com a Rússia, em 1997, um tratado de amizade, cooperação e parceria, pelo qual eram fixados o princípio de uma “parceria estratégica”, o reconhecimento da inviolabilidade das fronteiras existentes, o respeito pela integridade territorial e o compromisso mútuo de não ser usado o território de nenhuma das partes para afetar a segurança da outra. Depois da invasão da Crimeia, em 2014, poucos meses antes da cúpula do BRICS de Fortaleza, a Ucrânia declarou sua intenção de não renovar esse tratado em setembro de 2018. Mas, já imediatamente após a invasão da península, em fevereiro de 2014, os principais países do Ocidente adotaram sanções, ainda que moderadas, contra a Rússia; ela foi expulsa do G8, que voltou ao seu formato original.

Nesse tempo, e desde antes, forças russas já atuavam provocativamente nas províncias separatistas do Donbas, ameaçando, portanto, a integridade territorial da Ucrânia. O Brasil, teoricamente conhecido como possuindo uma diplomacia de estrita adesão à Carta da ONU e ao direito internacional, permaneceu estranhamente à margem do conflito, sem tomar qualquer posição sobre uma das mais graves violações ao princípio onusiano de não interferência nos assuntos internos de outros países. À época, a presidente Dilma Rousseff, não querendo dificultar a vinda de Putin para a cúpula do BRICS, evitou, deliberadamente, manifestar qualquer posicionamento oficial do Brasil sobre a flagrante ruptura de uma das cláusulas basilares das relações internacionais, inclusive inscrita no Artigo 4º da CF-1988. Mais adiante, questionada sobre a questão numa reunião do G20 na Austrália, no final de 2014, Dilma disse que não iria se manifestar sobre um “assunto interno” da Ucrânia, como se a invasão de seu território por uma potência estrangeira pudesse ser assim classificada. A Rússia ficou, obviamente, satisfeita com essa estranha neutralidade da parte do Brasil.

A mesma postura, já no governo Bolsonaro, foi adotada em fevereiro de 2022, quando da invasão maciça deslanchada por forças russas a partir da sua fronteira com a Ucrânia, mas também a partir da vizinha Belarus, causando a mais dramática ruptura na paz e na segurança internacionais desde o término da Segunda Guerra Mundial, superando mesmo os conflitos na ex-Iugoslávia, uma federação de povos e religiões diversas, envolvidos em guerras civis. Ainda que condenando formalmente, mas não nominalmente, a Rússia pela invasão, o Brasil de Bolsonaro evitou cuidadosamente responsabilizar diretamente a Rússia pela inaceitável violação dos principais artigos da Carta da ONU. Pouco tempo antes do início da guerra de agressão – já anunciada muitas semanas antes pelo presidente americano Joe Biden – o presidente brasileiro, contra recomendações contrárias insistentes da diplomacia profissional, fez questão de visitar Putin e, na sua presença, declarar-se “solidário” à Rússia. No retorno ao Brasil, declarou que tinha afastado o perigo da guerra: uma semana depois teve início a maior operação de guerra desde os grandes combates da Segunda Guerra, eufemisticamente apelidada por Putin de “operação militar especial”. 

A despeito de formalmente seguir a maioria dos membros da ONU, no CSNU, na AGNU e no Conselho de Direitos Humanos, nas resoluções que denunciaram a Rússia por violar dispositivos da Carta, o Brasil evitou acusar diretamente o país agressor: falou em favor de uma “solução pacífica das controvérsias”; recomendou a “cessação de hostilidades” entre as partes, como se estas fossem recíprocas; considerou que se deveria contemplar as “preocupações de segurança das partes”, como se, mais uma vez, estas fossem equivalentes; sobretudo, opôs-se à adoção de sanções – sob a escusa de que elas seriam “unilaterais”, como se o direito de veto estivesse sendo utilizado legitimamente, ou alegando que sanções não contribuiriam para uma “solução ao conflito”; também opôs-se ao fornecimento de armas e outros meios de defesa ao país atacado, para não “provocar maior número de vítimas”, como se a Ucrânia devesse se render ao agressor mais poderoso. Estas foram, basicamente, as posições adotadas pela diplomacia sob o comando de Bolsonaro desde o início do conflito; mas cabe registrar que elas não mudaram fundamentalmente, ou em nada, no governo Lula.

Ao contrário, o candidato Lula chegou a demonstrar uma postura ainda pior, ao acatar velhas e conhecidas posições da maioria da esquerda antiamericana do seu partido, no sentido de proclamar a culpa da Otan no conflito, assim como, de maneira ainda mais inaceitável, a responsabilidade pessoal do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pela deflagração da guerra. Eleito presidente, ele evitou de tomar posição de maneira explícita sobre essas questões, mas começou a agitar a ideia de um “clube da paz”, que seria proposto por ele ao assumir a presidência. Também reincidiu na esquisitice folclórica ao afirmar uma “sabedoria” de senso comum: “quando um não quer, dois não brigam”. A mesma arenga foi repetida, quando já presidente, ao receber a visita em Brasília do chanceler alemão Olaf Scholz, numa frase que deve ter sido acolhida com estranheza ao redor do mundo. A proposta do “clube da paz” mostrou-se naturalmente natimorta, antes mesmo de sua visita ao presidente Joe Biden. Contudo, o Brasil de Lula continuou opondo-se, como no governo anterior de Bolsonaro, à adoção de sanções ou ao fornecimento de equipamentos bélicos à Ucrânia, na justificativa canhestra que tampouco o fazia em direção da Rússia (como se esta tivesse pedido, como fez, ao contrário, a Ucrânia, recebendo uma negativa de Bolsonaro, mantida sob Lula). 

Nessas condições, o que pode pretender Lavrov em sua visita ao Brasil, depois de já ter visitado a África do Sul e de ter combinado com a presidência do país alguns temas da agenda do BRICS em sua próxima cúpula, e que chegou até a incluir uma fantástica moeda comum do bloco para os seus intercâmbios comerciais? Certamente vai querer a continuidade da política de “neutralidade” ou de “imparcialidade” do Brasil, no tocante à guerra de agressão que seu país leva adiante de forma criminosa na Ucrânia. O chanceler russo já havia saudado uma inexistente proposta de paz do Brasil para a “solução” do conflito (que nunca chegou a ser apresentada), bem como os 12 pontos apresentados pela China como base para uma discussão a respeito, plano já considerado inconsistente pelos países ocidentais. 

Ambas as iniciativas pecam pela absoluta falta de exigência da retirada das tropas russas do território ucraniano, sendo que uma resolução adotada na AGNU – portanto, nada mais do que simbólica – requerendo essa mesma premissa, recebeu um pequeno adendo do Brasil pedindo a “cessação de hostilidades”, o que representaria, de fato, o virtual congelamento da ocupação ilegal conduzida pelas tropas russas em 20% do território ucraniano. Não se sabe se os diplomatas brasileiros que apresentaram esse acréscimo coraram de vergonha pela contradição explícita da demanda em relação ao teor da resolução.

Existe a dúvida se Putin comparecerá à cúpula do BRICS na África do Sul, pois existe uma ordem de detenção do presidente russo por “crimes de guerra”, feita pelo Tribunal Penal Internacional, de cujo Estatuto de Roma o país africano é membro, o que o obrigaria a deter o dirigente russo e enviá-lo à Haia. Não parece haver esse risco, como não ocorreu quando o antigo ditador sudanês Omar al-Bashir ali compareceu numa reunião africana de cúpula. Mas, certamente, seria um enorme constrangimento pelo menos para o Brasil, para a África do Sul, e, talvez, para a Índia (embora esta não seja parte do TPI). Diplomatas brasileiros ouvidos em off pela imprensa minimizaram a importância do pedido de detenção de Putin pelo TPI, o que pode ser um reconhecimento realista quanto às limitações do TPI (e da CIJ, que não possuem os “dentes” do CSNU), mas também já pode significar uma adesão submissa à presumida postura do presidente Lula de evitar causar embaraços ao grande aliado original na formação do BRICS, uma das iniciativas das quais parecer orgulhar-se o presidente brasileiro, ao lado do IBAS (bloco político integrando a Índia, o Brasil e a África do Sul) e da Unasul. 

Tal postura parece ser exatamente o que Putin gostaria de ter da parte de Lula: uma “neutralidade” que, no plano objetivo, é inteiramente favorável à Rússia. Vai conseguir? Muito provavelmente, pois que o Brasil parece aderir, ainda que discretamente ou não assumidamente, ao tal de “Não Alinhamento Ativo”, inventado por alguns partidários de um “desalinhamento passivo e inativo” em relação à mais grave questão afetando a paz e a segurança internacionais desde décadas. Tal postura, supostamente identificada a um fantasmagórico “Sul Global” – que se considera ser neutro ou indiferente em face dessa cruel guerra de agressão –, reproduz, em diferentes circunstâncias e em outra dimensão, a falácia do pacifismo dos anos 1930, ou seja, a inação de importantes membros da comunidade internacional em resposta ao ativismo dos expansionistas, o que levou quase toda o planeta ao maior desastre humanitário e civilizatório de toda a história humana. 

Seria uma outra maneira, não confessada, de limitar essa cruel guerra de agressão ao contexto exclusivamente europeu, como se a violação da Carta da ONU e das normas mais elementares do Direito Internacional, e como se as transgressões dos tratados humanitários e das próprias leis da guerra fossem um assunto exclusivamente europeu, não universal. A diplomacia brasileira enfrenta aqui o seu mais relevante desafio das últimas décadas, talvez desde sempre: permanecer nessa “neutralidade” hipócrita, de indiferença, que só serve ao agressor, sob risco de negar seus mais solenes compromissos com o Estado de Direito no plano internacional, como já haviam peremptoriamente defendido o Barão do Rio Branco e o delegado Rui Barbosa na segunda conferência da paz da Haia, em 1907. Cem anos depois da morte do grande jurisconsulto baiano, aliás convidado para integrar a Corte Internacional de Justiça em 1923, a abstenção nessa causa representaria mais uma derrota do grande civilista e campeão da Justiça no plano internacional, em sua luta por uma verdadeira postura dos “neutros” em caso de crimes de guerra. 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4344: 25 março 2023, 6 p.

 

domingo, 26 de março de 2023

O Brasil e a China: até onde vai a relação estratégica? - Paulo Roberto de Almeida (Crusoé)

Lula desistiu de ir à China, vitimado, não pelo "comunavirus" como diria um beócio, mas por uma "leve pneumonia" segundo seus médicos. A postergação da viagem não me impede de reproduzir novamente o artigo que eu fiz no mês passado sobre as relações do Brasil com a China, como forma de debater a questão. 


O Brasil e a China: até onde vai a relação estratégica?

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Artigo publicado na revista Crusoé (3/03/2023; link: https://crusoe.uol.com.br/edicoes/253/o-encanto-de-lula-pelo-duvidoso-modelo-chines/).

 

 

A sedução precoce pelo “modelo” chinês de crescimento

Em janeiro de 2002, pela primeira vez, o então presidente de honra do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva, visitou oficialmente a China, a convite do governo chinês e do Partido Comunista da China, tendo sido recebido com todas as honras devidas a um prometedor futuro chefe de Estado. Sua comitiva, integrada por futuros ministros e personagens importantes de seu governo, um ano adiante – José Dirceu, então presidente nacional do partido; Jorge Viana, governador do Acre; Antonio Palocci, prefeito de Ribeirão Preto; deputados federais Paulo Delgado (MG) e Jaques Wagner (BA) –, foi recebida por Wei Jianxing, um dos principais dirigentes do Bureau Político Permanente do Comitê Central do PCC, em audiência calorosa no Grande Palácio do Povo, em Beijing.

De volta ao Brasil, publicou um artigo num dos veículos do PT, no qual exaltava o modelo econômico chinês, mas no qual cometia, igualmente, uma série de equívocos conceituais e factuais, os quais parece ter mantido mesmo passadas duas décadas dessa viagem inaugural de várias outras, ao longo dos anos. Ele dizia, por exemplo, que o gigante asiático tinha ¼ da população do planeta, mas apenas 7% das terras agricultáveis do planeta, e que ainda assim conseguia “produzir o suficiente para alimentar esse mundo de gente”. Primeiro erro, pois que a China não apenas já era um dos principais países importadores de alimentos, assim como de quaisquer outras matérias primas para abastecer seu já gigantesco sistema manufatureiro, voltado basicamente para exportações baratas em direção dos países desenvolvidos. O Brasil, justamente, já era um dos grandes exportadores de alimento e de vários produtos primários para a China, dela importando um oceano de manufaturados de baixo custo e de qualidade razoável.

Lula se surpreendeu com as altas taxas de crescimento da China, ignorando que países que partem de níveis muito baixos de desenvolvimento econômico e social – como ainda era o caso da China, recém-admitida na OMC, depois de 14 anos negociando sua adesão ao Gatt – tendem a apresentar taxas vigorosas de crescimento, mas que normalmente declinam a partir de certo estágio nos progressos alcançados. Ele também dizia, no seu terceiro erro, que a China tinha “diminuído significativamente a desigualdade social.” Ora, a China já era, e continua sendo, justamente o país campeão na progressão negativa do seu coeficiente de Gini, saindo dos modestos patamares de um país socialista miserável, para índices próximos ao do Brasil, à medida em que avançou na construção do seu “capitalismo com características chinesas”.

Baseado num relatório do Banco Mundial, Lula também afirmou que “a China foi nos últimos anos o principal país responsável pela diminuição da pobreza no mundo.” Totalmente correto, mas isso quem disse foi o Banco Mundial, não o PT, que continuava afirmando, junto com os neófitos do Fórum Social Mundial, muitos deles petistas, que a globalização só consegue produzir miséria e desigualdade. Ora, se tem uma coisa que a China de Deng Xiaping conseguiu fazer foi aderir entusiasticamente à globalização capitalista, coisa que os economistas do PT sempre olharam com extrema desconfiança. Ainda assim, Lula afirmou que a China fazia isso “modo autônomo e soberano”, sem que o FMI impusesse os “seus modelos econômicos”. Quarto erro, portanto, pois se tem alguma coisa que o FMI não faz é impor um determinado modelo econômico, contentando-se com implementar programas de ajuda econômica a países (inclusive socialistas) que incorrem em sérios desequilíbrios de balanço de pagamentos, como ocorria com o Brasil naquela época.

Numa das mais controvertidas afirmações de seu artigo, Lula escreveu: “Os chineses nos explicam que estão praticando o que chamam de socialismo de mercado. A impressão que dá é que eles estão aprendendo a ganhar dinheiro com os capitalistas, para gastá-lo como socialistas.” Tanta ingenuidade não chega a ser propriamente um erro, mas traduz um dos mais persistentes vieses econômicos da concepção fundamental dos petistas sobre o papel do Estado no desenvolvimento de um país: a China justamente cresceu e se desenvolveu à medida em que mais e mais atividades produtivas saíam das mãos tortas das empresas estatais para serem entregues ao setor privado, que atualmente já responde por mais de 2/3 do PIB chinês. 

Outra ingenuidade transparece numa afirmação seguinte, segundo a qual a China participa da globalização, mas “não abre mão do planejamento, da definição de prioridades”, acrescentando que ela “não permite que o mercado decida em nome da sociedade.” Como se os países dotados de Estados organizados – entre eles todos os membros da OCDE e o próprio Brasil – não tivessem, igualmente, governos planejadores, estabelecendo prioridades para o investimento público. Partindo de patamares modestos, a China hoje apresenta o maior volume de investimentos saído diretamente do setor privado, mas o seu Estado precocemente weberiano – pelos mandarins, atualmente funcionários do PCC – sempre dirigiu os grandes investimentos públicos em infraestrutura e comunicações, como qualquer outro país racional.

 

A visita em grande pompa do presidente-trabalhador ao Oriente

Pano rápido: vamos passar à primeira viagem oficial de Lula, já como presidente, dois anos depois. Em seus discursos, na própria China e de volta ao Brasil, o presidente exagerou na retórica e passou a vender coisas que só existiam em sua cabeça. Em primeiro lugar, ele voltou a repetir uma de suas obsessões diplomáticas, mais constantes: a tal de “aliança estratégica” com o gigante asiático, aproveitando para dizer que “muita gente no mundo está torcendo para que essa aliança não dê certo”; era evidente a cutucada nos Estados Unidos, um atavismo em suas perorações, que só pode ser uma necessidade psicológica. Fui buscar o que pudesse justificar tal argumento de “aliança estratégica” no comunicado bilateral liberado no curso da própria visita e confesso a frustração: não há nada ali que possa dar respaldo a essa “aliança estratégica”, salvo a dupla repetição da expressão “parceria estratégica”, muito usada para descrever protocolarmente as relações do Brasil com outros países, como a Argentina, a Alemanha, a França, os próprios Estados Unidos, logo em seguida com a Índia e por aí vai.

De estratégico mesmo, eu encontrei no comunicado duas frases que a China exigiu e o Brasil cumpriu. Na primeira, o Brasil “concordou com a postura chinesa de que Taiwan e Tibete são partes inseparáveis do território chinês e manifestou seu repúdio a quaisquer ações e palavras unilaterais que visem a promover movimentos separatistas”. Na outra frase, a China agradeceu ao Brasil “pelo seu apoio na Comissão [hoje Conselho] de Direitos Humanos em Genebra”, isto é, o apoio diplomático da delegação brasileira para que não se examine de modo algum a situação dos direitos humanos na China, como se ela pairasse acima dos outros como um exemplo de tratamento aos nacionais nesse terreno. 

Num de seus gestos mais ousados, em sua primeira e triunfal visita, Lula sugeriu que o Mercosul e a China firmassem um acordo de livre comércio, assim como acatou a sugestão dos dirigentes chineses no sentido de acatar, na OMC, o status de economia de mercado para a China. Nas duas posturas, e já de volta ao Brasil, Lula defrontou-se com a veemente oposição da CNI, da FIESP, e da maioria das associações setoriais a ambas propostas, e nunca mais se ouviu o presidente repetindo suas ousadias. Mas essa viagem pioneira não dispensou uma outra contrariedade aos interesses do Brasil, que foi o embargo chinês a carregamentos de soja brasileira que supostamente continham, misturadas, soja natural e variedades geneticamente modificadas, nada que os animais chineses não pudessem consumir, mas um gesto provavelmente destinado a rebaixar o preço do produto, que naquela altura já atingia níveis históricos na bolsa de commodities de Chicago. 

 

O ideograma do BRICS na agenda estratégica da China

Lula foi a China algumas outras vezes, em visitas bilaterais ou no quadro do BRIC, que a China fez questão de aumentar para BRICS, com a incorporação da África do Sul, um país que não se enquadrava minimamente nos critérios originais do grupo, mas que convinha à China, já empenhada numa nova “conquista da África” para atender a imensa necessidade de matérias primas de suas insaciáveis indústrias. Ela continua procedendo da mesma forma, buscando “engordar” o BRICS com vários outros candidatos em desenvolvimento, como forma de administrar uma espécie de anti-OCDE, com países dispostos a sustentar sua grande estratégia de parcerias alinhadas numa frente contra as potências “hegemônicas” do Ocidente. 

Ao transformar a antiga proposta de um economista de um banco de investimentos – que estava pensando unicamente numa boa carteira de oportunidades de retornos financeiros suculentos, em quatro grandes economias em desenvolvimento – em um foro diplomático, os “planejadores diplomáticos” do PT certamente não imaginaram que as duas poderosas autocracias do planeta, Rússia e China, poderiam usar o BRIC-BRICS para os seus próprios interesses nacionais, o que se revelou agora, e de forma especialmente dramática, a partir da guerra de agressão de Putin contra a Ucrânia, da qual Xi Jinping é bem mais “solidário” do que o foi Bolsonaro e, talvez, doravante, venha a ser Lula. Joe Biden tentou convencê-lo do contrário, ao que Lula desconversou, naquela velha cantilena de que a sua “guerra era contra a pobreza”, tendo recebido zero apoio para a sua proposta estapafúrdia de um “clube da paz”, com “países não envolvidos no conflito” (sic, três vezes). 

Em sua próxima visita à China, Lula não deve voltar a sugerir o tal acordo de livre comércio entre o Mercosul e o gigante asiático – que já é, na prática, o principal parceiro de todos os membros do bloco do Cone Sul, em comércio ou investimentos –, nem ousará sequer mencionar aquela outra ideia maluca da “moeda comum”, que o chanceler russo, Lavrov, e as lideranças sul-africanas querem incluir na agenda da próxima cúpula do BRICS. Ele certamente voltará a saudar entusiasticamente a “parceria estratégica” – que os chineses realmente têm em alta conta – e proporá que ela se estenda a outros campos que não apenas o lançamento de satélites de sensoriamento remoto por foguetes chineses. Não sabemos se Lula mantém as mesmas ilusões atualmente como aquelas exibidas em suas duas primeiras visitas à China. Em todo caso, a visita, e o restabelecimento de boas e intensas relações, de todos os tipos – mas provavelmente não em direitos humanos e democracia, como pretende Biden –, corresponde aos mais altos interesses do Brasil, desde que não condicionadas a apoios indiretos aos estritos interesses nacionais, e estratégicos, da China, na sua postura de “rivalidade imperial” com os Estados Unidos. 

“O oriente é vermelho”, poderão repetir os mais apegados à bandeira do PT, como se os atuais mandarins chineses, selecionados exclusivamente com base em suas capacidades administrativas (e não mais no marxismo embolorado de certos petistas), estivessem minimamente preocupados com ideologia, no novo “Grande Salto para a Frente” que eles estão decididos a empreender no caminho de serem reconhecidos como a versão 2.0 do outrora fabuloso Império do Meio. Desde as navegações portuguesas do século XV, o fascínio de Catai continua a seduzir o “extremo Ocidente” que veio a ser o Brasil.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 20 fevereiro 2023, 5 p.; Relação de Originais: 4326,; Publicados n.  1496.





sexta-feira, 18 de junho de 2021

Entrevista sobre o bolsolavismo diplomático, com Paulo Roberto de Almeida - Duda Teixeira (Crusoé)

 Uma entrevista que concedi recentemente ao jornalista Eduardo Teixeira, da revista Crusoé, sobre diferentes aspectos da diplomacia bolsolavista, publicada na edição desta sexta-feira, 18/06/2021.

Aos leitores interessados, vale uma assinatura desta excelente revista (estou renovando a minha).



Quanto a mim, penso desenvolver alguns elementos dessa entrevista para uma matéria sobre aspectos absolutamente inéditos para a política externa e a diplomacia brasileira derivados das esquizofrenias do bolsolavismo na direção das relações internacionais do Brasil

O clipping da ADB capturou a matéria no seu boletim diário:

Mudança à força

Um dos principais críticos da interferência petista e bolsonarista no Itamaraty, o embaixador Paulo Roberto Almeida diz que as correções de rumo na diplomacia brasileira só devem acontecer no atual governo por pressão externa

18.06.21

O diplomata Paulo Roberto Almeida, de 71 anos, é conhecido por sempre dizer o que pensa. Por causa disso, levou diversos puxões de orelha e teve a carreira prejudicada. Na era petista, foi acusado de ser “neoliberal” e foi relegado ao que, entre os diplomatas, é conhecido informalmente como o DEC, departamento de escadas e corredores. Passou treze anos e meio sem ocupar um cargo. Em 2016, no breve governo de Michel Temer, foi reabilitado e assumiu a direção do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, o Ipri, vinculado ao Itamaraty. Três anos depois, já no governo de Jair Bolsonaro, foi exonerado do posto após publicar em seu blog textos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do embaixador Rubens Ricupero e do ex-ministro Ernesto Araújo, discutindo a Venezuela. Os posts irritaram os bolsonaristas, que não gostaram de ver tucanos criticando o atual governo.

Almeida foi então transferido para a Divisão de Arquivos, no segundo subsolo do Itamaraty, onde não há wifi nem sinal de celular. “Enquanto os petistas não me colocaram em lugar algum, os bolsonaristas quiseram me humilhar”, diz o embaixador. Mesmo assim, ele não se intimidou e, desde 2019, publicou cinco livros. O último deles, Apogeu e Demolição da Política Externa, acaba de seguir para a última revisão.

O diplomata avalia que a nomeação de Carlos França para o cargo de chanceler melhorou o clima internamente. Como França consulta os colegas e segue os processos decisórios normais, as chances de erros diminuem. Contudo, Almeida afirma que ainda paira sobre o Itamaraty a influência de Jair Bolsonaro, seus filhos e assessores, o que pode resultar em constrangimentos – um exemplo é a indicação do ex-senador e ex-prefeito do Rio Marcelo Crivella, bispo da Igreja Universal, para a embaixada na África do Sul. “Isso demonstra, mais uma vez, que o presidente não hesita em tomar atitudes que prejudicam a imagem e os interesses do Brasil quando se trata de defender seus interesses eleitoreiros”, diz. Eis a entrevista.

Que avaliação o sr. faz da gestão de Carlos França, substituto de Ernesto Araújo no cargo de ministro das Relações Exteriores?

A chegada dele foi um alívio. A personalidade de França é o inverso da do Ernesto Araújo, que era rejeitado quase que unanimemente pelos profissionais. França sempre foi um excelente diplomata, com um trabalho impecável. É reconhecido pelo seu jeito afável e pela sua cordialidade sincera. Tem um modo de ser transparente, simples e modesto. Apenas a sua chegada já representou uma melhoria de 200% na gestão dos assuntos internos do Itamaraty. Além disso, ele retomou o processo decisório, o que é muito bom.

Como?

Isso acontece em todo lugar, nas empresas, nas organizações. Os funcionários de cada área, que estão na base, fazem relatórios em suas áreas de especialização. Essas informações sobem pela hierarquia até chegar à cúpula, onde as decisões são tomadas. No Itamaraty, quando se trata de algo muito importante, o assunto vai parar na Presidência da República. No governo militar, que tinha uma estrutura muito rígida, com planejamento e metas, eu era uma dessas pessoas trabalhando na base, em assuntos específicos. Quando o papa João Paulo II foi escolhido, em 1978, eu fiz um longo memorando sobre o que isso significava. O texto foi muito elogiado e possivelmente foi para a Presidência. Sempre tínhamos de produzir esses textos. Quando o balé Bolshoi, da Rússia, vinha para o Brasil, os militares sempre achavam que vinha um monte de espião comunista, e nós precisávamos escrever sobre aquilo. Algumas vezes, os relatórios de três ou quatro páginas voltavam com a rubrica “de acordo”, o que significava que o Itamaraty tinha feito uma exposição para o presidente, que tinha concordado com o conteúdo. Em outros momentos, vinha com a orientação para consultar outros ministérios. Foi assim com o Ernesto Geisel, com o Figueiredo. Foi assim também com o Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique. Uma mudança aconteceu com Lula. Em seu governo, ele pediu para que o Itamaraty mostrasse relatórios mais breves, com no máximo uma página.

E como era com o Ernesto Araújo?

Araújo tomava decisões trancado em seu gabinete, sem consultar diplomatas ou ler qualquer coisa. Despachava de um bunker, auxiliado apenas pelo deputado Eduardo Bolsonaro, pelo Filipe Martins, assessor de assuntos internacionais da Presidência, e pelo Olavo de Carvalho. As notas que o Araújo soltava nada tinham a ver com a tradição do Itamaraty. Nenhum diplomata seria capaz de escrever aqueles absurdos. Os textos não faziam nenhuma referência ao direito internacional e traziam uma linguagem estropiada, com português mal escrito.

O que acontece quando não se respeita esses processos?

O risco maior é tomar decisões que vão contra os interesses nacionais. Uma delas foi o anúncio de transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém. Isso seria desastroso para o agronegócio brasileiro. Se o governo tivesse deixado a empresa chinesa Huawei de fora do leilão de tecnologia 5G, a China teria imposto retaliações maciças ao Brasil. Os processos decisórios também são importantes na elaboração dos discursos oficiais, como aqueles que são feitos em foros internacionais. O embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa, que é sogro do Ernesto Araújo, fez um livro, em três tomos, sobre as posições do Brasil na ONU. Há 70 anos, o Brasil inaugura as sessões da Assembleia Geral, o que foi uma forma de compensar o país por não ter entrado no Conselho de Segurança. Esses discursos mostram como o Brasil tradicionalmente pensa em diversos temas. Está tudo ali. Há uma unidade muito clara. Mas provavelmente não haverá uma quarta edição. O primeiro discurso de Bolsonaro na ONU em setembro de 2019 foi muito estranho, e o segundo foi um pouco menos ruim. Faltou consultar os demais diplomatas.

Na prática, algo já mudou na diplomacia brasileira?

Acho que as mudanças ainda estão por vir. Elas devem chegar principalmente como resultado de pressão externa, que pode vir do agronegócio, do Senado, das empresas, da opinião pública ou de outros países. Não necessariamente virão da vontade do presidente e dos seus assessores. Por enquanto, olhando para algumas votações em Genebra, na área de direitos humanos, ainda não voltamos ao padrão anterior. Permanece aquela visão contra o aborto da Damares Alves (ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos). É uma visão ainda desconfiada de temas que possam levar a direitos da mulher e a direitos reprodutivos. O evento mais recente, ainda não resolvido, é essa indicação absolutamente estranha do bispo Marcelo Crivella, da Igreja Universal do Reino de Deus, para ser o embaixador na África do Sul. Na verdade, o assunto dele é Angola, onde há pendências entre as autoridades locais e sua instituição religiosa. Sabe-se que há muita lavagem de dinheiro com destino à África do Sul. Isso foi revelado porque um dos brasileiros que trabalhavam em Luanda teve um acidente na estrada. A polícia encontrou 60 milhões de dólares no seu automóvel. Então, é comum que carros atravessem a Namíbia levando dinheiro para a África do Sul. Claro, o Crivella gostaria que o governo desse uma cobertura total para os negócios da Universal. Ele não poderia ir para Angola, porque há uma pendência judicial contra ele. Então Bolsonaro fez algo muito estranho, que é designar um bispo que não pode sair do Brasil, que foi preso em dezembro, para ser o embaixador na África do Sul, onde ele poderia atuar. Mas a África do Sul é a base financeira dos negócios de lavagem de dinheiro na África, que envia dinheiro para paraísos fiscais. Seria muito estranho ter um embaixador não do Brasil, mas da Igreja Universal, na África do Sul.

Acredita que a indicação pode ser aprovada pelo Senado?

Acho pouco provável. A Comissão de Relações Exteriores do Senado vai achar muito estranha essa designação. Mesmo assim, seria preciso aguardar a aceitação do país africano. Se acontecer, seria muito complicado para o Brasil. Crivella poderia se envolver nos negócios africanos da Universal, com o potencial de gerar novos escândalos. Isso demonstra, mais uma vez, que o presidente não hesita em tomar atitudes que prejudicam a imagem e os interesses do Brasil quando se trata de defender seus interesses eleitoreiros. A candidatura para a OCDE (o clube dos país mais ricos do mundo), por exemplo, poderia ser prejudicada porque ela exige cooperação nas operações contra lavagem de dinheiro e contra a corrupção.

Ainda soa estranho um político ser indicado para um cargo em embaixada?

A diplomacia petista estreou com a indicação de pessoas de fora da carreira diplomática. Lembro do caso do Tilden Santiago. Ele era formado em jornalismo e filosofia, e foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores. Santiago tentou uma candidatura ao Senado por Minas Gerais em 2002, mas perdeu a eleição. Lula o mandou para a embaixada em Cuba, porque ele era admirador do Fidel Castro. Foi um dos poucos não diplomatas a serem enviados para embaixadas no exterior. Celso Amorim, depois, estabeleceu que todos os chefes de embaixadas deveriam ser diplomatas de carreira.

O clima sombrio que havia dentro do Itamaraty melhorou?

Em parte. Depois de se desentender com os senadores, principalmente com a Katia Abreu, Ernesto Araújo foi forçado a se demitir no dia 29 de março. No dia seguinte, o boletim do Itamaraty publicou a lotação dele na Subsecretaria Geral de Administração. Essa é a secretaria que cuida do que podemos chamar de “cozinha” do Itamaraty, da administração da casa. Ele estava tentando colocar seu chefe de gabinete como o subsecretário geral de administração. Pensei na época que o objetivo era construir um Ministério de Relações Exteriores do B. Eles seriam responsáveis por uma diplomacia paralela, com todo apoio do presidente, filhos e assessores. Mas o Ernesto Araújo não conseguiu o que pretendia e tirou uma licença de três meses.

Se o PT voltar em 2022, o sr. não teme ser novamente afastado?

Acho que vou me aposentar no final de 2022, talvez antes. Mas posso dizer que fui prejudicado tanto na era petista como na bolsonarista. Há uma grande diferença entre elas: os bolsonaristas são vingativos e mesquinhos. O PT me deixou fora do Itamaraty por treze anos e meio. Fui vetado e enviado para o departamento de escadas e corredores. Fiquei no limbo. Por dez anos, fiquei sem nenhum cargo na Secretaria de Estado. O Celso Amorim, ex-chanceler, tinha horror a mim, porque eu publicava e dizia o que pensava. Ele vetou uma promoção minha. Os petistas diziam que eu era ‘neoliberal’. Em 2014, eu publiquei o livro Nunca Antes na Diplomacia, com uma crítica pesada ao petismo. Com o bolsonarismo foi distinto. Em 2019, quando eu publiquei no meu blog um artigo do Fernando Henrique Cardoso, um do Rubens Ricupero e outro do Ernesto Araújo, eles me demitiram das funções que exercia. Mas, enquanto os petistas não me colocaram em lugar algum, os bolsonaristas quiseram me humilhar. Eles me mandaram para a Divisão de Arquivos. Então eu fiquei lá na biblioteca, sem função. Em 2019, eu publiquei um pequeno livro intitulado Miséria da Diplomacia: a Destruição da Inteligência no Itamaraty. Decidiram me retaliar. Sem que eu soubesse, eles foram computando minhas faltas. Em muitas delas, eu estava em bancas acadêmicas em São Paulo, em Curitiba, dando palestras. Uma vez, eu estava com o próprio Ernesto Araújo, no Ministério da Defesa, e eles me deram falta. Eu justifiquei e não aceitaram. Mais recentemente, passaram a me cobrar por horas não trabalhadas. Já tive um prejuízo de mais de 40 mil reais com eles. Só não conseguiram me demitir por justa causa porque veio a pandemia.

O Itamaraty, afinal, falhou na compra de vacinas?

Não, o Itamaraty, como instituição, não falhou na aquisição de vacinas pela simples razão que nunca lhe foi dada essa atribuição. O problema foi a oposição do presidente a uma ação vigorosa nessa frente. Araújo apenas se submeteu a isso. O governo falhou por inteiro em todas as fases, etapas e configurações de um enfrentamento sério da pandemia. O quadro de miséria moral existente nesse setor está na origem da tragédia acumulada em número de mortos e outras vítimas da Covid-19, por uma indiferença perversa. Tanto o Itamaraty não falhou que o novo chanceler proclamou, em seu conciso e objetivo discurso de posse, que sua primeira preocupação será com uma diplomacia da vacina, colocando os postos a serviço dessa meta.

Isso pode fazer diferença no combate à pandemia no Brasil?

Ainda estamos numa situação diferente da dos demais países, onde o combate à pandemia recebe o inteiro apoio dos chefes de governo ou de estado. Isso não é uma realidade no Brasil. Bolsonaro segue com a mesma indiferença perversa. Na verdade, em temas de interesse global – meio ambiente, desenvolvimento, cooperação regional, comércio internacional, direitos humanos, novas fronteiras dos direitos coletivos –, o Itamaraty sempre exerceu um protagonismo digno de nota, sendo conhecido pelos seus esforços de mediar interesses de países avançados e em desenvolvimento, num esforço notável em foros multilaterais. Não fosse este governo, o Brasil teria provavelmente liderado uma iniciativa de coordenação global contra a pandemia, unindo cooperação bilateral, regional, multilateral, em todos os foros e instâncias abertas ao engenho e à arte de nossa diplomacia.

https://crusoe.com.br/edicoes/164/mudanca-a-forca/

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Candidato a cadeira no STF: além de incremento dilmista no Currículo, plágio na dissertação, com os erros do original - Revistas Crusoé, Fórum

Até hoje, quarta-feira, 7/10/2020, o caso era mais patético e de malandragem – incremento do currículo, aliás até mais grave do que o da Dilma, pois nem CV Lattes ele tem – em casos tópicos de "pós-doc" inventados, o que já é suficientemente grave. Agora, é um crime, senão no Código Penal, pelo menos deontológico, pois significa que ele copiou, inclusive preservando erros do original, trecho de artigo de colega.

Até a Janaina Paschol, insuspeita, pois que simpática ao bolsonarismo, se espantou com a revelação.

Sei que nem o presidente nem o Centrão estão preocupados com esses aspectos, pois o que interessa a eles é desconstruir a Lava Jata, o ex-juiz Moro, a luta contra contra a corrupção, mas não se trata mais de aceitar um sujeito que toma tubaína com o capitão, e sim da honestidade intelectual do candidato.

O General Heleno tomou conhecimento do CV do sujeito? Tem algo a dizer?

Paulo Roberto de Almeida

Crusoé acusa Kassio Nunes, indicado ao STF por Bolsonaro, de plágio em mestrado

Revista Fórum, 7 out 2020 - 14:48

Kássio Nunes (Foto: TRF1)

Reportagem de Rodrigo Rangel e André Spigario nesta quarta-feira (7) na revista Crusoé, ligada ao grupo O Antagonista, acusa o desembargador Kassio Nunes Marques, indicado por Jair Bolsonaro à vaga de Celso de Mello no Supremo Tribunal Federal (STF), de cometer plágio na dissertação de seu mestrado na Universidade Autônoma de Lisboa.

Os jornalistas dizem ter analisado o trabalho, que foi disponibilizado na internet e garantiu ao juiz o título de mestre, e encontrado trechos inteiros copiados do advogado Saul Tourinho Leal, piauiense que integrou a banca de advocacia do ex-ministro do STF Carlos Ayres Britto.

“A dissertação repete até um erro de português contido em um dos artigos do advogado – o que indica ter havido, na elaboração da dissertação, um ‘copia e cola’ a partir dos textos de Saul Tourinho Leal”, diz o texto dos jornalistas, que dizem ter usado a ferramenta “Plagium”, disponível na internet, para cruzar as informações e detectar o possível plágio.

Porta-voz do lavajatismo, o grupo Antagonista é ligado a Sérgio Moro, que foi alçado ao Ministério da Justiça com a promessa de que Jair Bolsonaro o indicaria a uma vaga no Supremo. Moro, no entanto, deixou o governo acusando Bolsonaro de interferência na Polícia Federal e tornou-se inimigo do presidente.

Na última edição, a Crusoé classifica Nunes Marques como “o avesso de Moro” na reportagem de capa.

Janaína Paschoal
Nas redes sociais, a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP) classificou a reportagem como “denúncia muito grave”.

“Amados, essa denúncia é muito grave! Estou, há dias, procurando a tese de doutoramento e os trabalhos de pós doutoramento do indicado ao STF, sem sucesso! Localizei a dissertação de mestrado, li e, como disse, apesar de não concordar, achei o trabalho tecnicamente muito bom!”, afirmou.

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