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domingo, 3 de março de 2019

FHC sobre a politica externa bolsonarista

O ex-presidente se pronuncia sobre a política externa do presidente Bolsonaro, como também já o tinha feito, alguns dias antes o embaixador Rubens Ricupero (link abaixo, para quem não o leu). Realmente, do ponto de vista deste modesto observador (há 40 anos) da política externa brasileira, pode-se dizer, como para o lulopetismo diplomático, que nunca antes na história tinham ocorrido certas coisas na diplomacia brasileira. Bem, sempre é tempo de novos experimentos.
Resta apenas saber, como no velho mote, se as coisas novas são boas, e se as boas (se existem) são novas...
Paulo Roberto de Almeida


A vez da Venezuela
Insistirá o governo do Brasil no descaminho de subordinar a política externa a uma ideologia?
*Fernando Henrique Cardoso
O Estado de S.Paulo, 03 de março de 2019 | 03h00

O Brasil está sendo confrontado com sua História. Quem leu o texto recente de Rubens Ricupero sobre a política externa do governoBolsonaro perceberá os descaminhos pelos quais poderemos enveredar. Diante dos ensaios de ruptura com as tradições de nossa política externa, empalidecem as diferenças de matiz político-ideológico observadas desde José Sarney até Michel Temer. Basta ler o livro Um Diplomata a Serviço do Estado, do embaixador Rubens Barbosa, para ver que se manteve certo consenso básico sobre o interesse nacional e sobre o modo de adequá-lo a mudanças nos ventos do mundo. 
Historicamente a condução da nossa política externa obedeceu a linhas de continuidade, com raras exceções em períodos não democráticos. É ao barão do Rio Branco que se atribui a noção de que deveríamos manter boas relações com os Estados Unidos para fazer o que nos convém na área que nos toca mais de perto, a América do Sul. Na guerra contra o nazismo até bases estrangeiras foram autorizadas a se instalar no Brasil. Mas foi um momento histórico excepcional a requerer que agíssemos assim. Em regra, nunca houve adesões incondicionais: primaram nossos interesses soberanos. Mesmo na guerra fria, quando o bloco capitalista se opunha ao bloco comunista, buscamos manter certa autonomia. 
Com a globalização muita coisa mudou no ambiente político e, sobretudo, na interconexão econômica dos países. A diplomacia brasileira, porém, não deixou de se orientar pelo interesse nacional. Em artigo recente publicado neste espaço disse que o atual governo abusa da inconsistência em certas áreas. Para onde nos pode levar esse “abuso da inconsistência” na política externa? 
Entende-se que haja incertezas na atualidade, advindas da nova página que se está abrindo nas relações entre os Estados Unidos e a China. A aceitação recíproca, obtida graças às reformas de Deng Xiaoping, às teorias sobre o “socialismo harmonioso” e à ascensão pacífica da China, começa a mudar. Os chineses queriam evitar a “armadilha de Tucídides”: a emergência de nova potência levaria a guerras com o antigo hegemon. Assim, o país abriu a sua economia para capitais internacionais o usarem como plataforma de exportação e se tornou o principal financiador do déficit comercial dos Estados Unidos, comprando títulos do Tesouro americano. Essa estratégia assegurou tempo e gerou os recursos necessários para que a China ampliasse o mercado interno e investisse na formação de empresas globais capazes de disputar a liderança tecnológica com suas rivais americanas. 
Estamos chegando a uma profunda revisão dessas políticas, adotadas quando a coincidência de interesses prevaleceu sobre a rivalidade, em ambas as partes. A luta tecnológica pelo predomínio no mundo globalizado pode produzir surpresas desagradáveis. Por trás da retórica arrogante e aparentemente desconexa de Trump existe uma luta real pelo predomínio global. A chamada “guerra comercial” é um sintoma dessa disputa nas tecnologias determinantes do poder futuro, na economia e no campo da segurança. As tensões no Pacífico, do sul da costa chinesa ao litoral do Vietnã, são a face mais visível da dimensão militar do conflito entre as duas potências. O antagonismo ainda é mais agudo no ciberespaço, onde batalhas são travadas diariamente. 
Nesse quadro, que interesse poderia ter o Brasil em assumir a priori um dos lados da disputa? Os que sustentam que devemos alinhar-nos em tudo à Casa Branca desconhecem que a sociedade americana é democrática e seu atual ocupante não expressa necessariamente um consenso duradouro. Vamos transferir a embaixada em Israel de Tel-Aviv, contrariando nossa histórica pregação em favor de dois Estados naquela região do Oriente Médio? 
E que sentido faz criticar a própria ONU como suspeita de “globalismo”, do qual ela seria o instrumento? A única consequência prática é macular a imagem do Brasil em áreas tão sensíveis e importantes quanto o são os direitos humanos, o meio ambiente e a imigração. O dano à imagem do País, uma vez cristalizado, terá consequências contra os nossos interesses, como já se deram conta os setores mais lúcidos do empresariado brasileiro. 
Insistirá o governo no descaminho de subordinar a política externa a uma ideologia, e não às realidades? Em nenhum outro lugar as consequências dessa reviravolta seriam mais nocivas que na nossa vizinhança. A crise da Venezuela se aprofunda. O caso remete à “política do barão”, pois mexe com nossos interesses mais imediatos, na América do Sul. É de louvar a prudência dos militares, mas é de temer a vocalização de alguns líderes políticos sobre nossa ação nesse drama. Sejamos claros: o governo Maduro é antidemocrático e insustentável. Não é de hoje que tenho me manifestado publicamente dessa maneira, em reuniões internacionais, acadêmicas e políticas. Contudo falar em permitir bases estrangeiras em território nacional ou em abrir caminho para aventuras guerreiras nas nossas vizinhanças não tem nada que ver com os interesses brasileiros de longo prazo. E em política externa é disso que se trata. 
Apoiar a oposição venezuelana é uma coisa. Imaginar que se deva fazer o que foi feito na Líbia, pensando que forças externas podem reconstruir a democracia no país, é ignorar os fatos. Os desatinos verbais têm sido de tal ordem que resta o consolo de ver os militares recordarem que temos uma tradição de altanaria e soberania a respeitar, soberania nossa e dos demais países. 
Bom mesmo seria ver o Itamaraty voltar a ser coerente com sua tradição: ressaltar e criticar o autoritarismo predominante na Venezuela, apoiar a oposição, dar acolhida às vítimas do arbítrio do atual governo e manter acesa a chama democrática. Abrir espaço para que terceiros países, mormente distantes da América do Sul, queiram resolver o drama político pela força não nos convém e fere nossas melhores tradições de atuação internacional. 
*SOCIÓLOGO, FOI PRESIDENTE DA REPÚBLICA




segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Intelectuais e diplomacia: coletânea - Paulo Roberto de Almeida


Trajetórias intelectuais: uma coletânea de escritos

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de fevereiro de 2019, 3 p.
Compilação dos escritos a propósito de intelectuais na diplomacia.

704. “Nosso homem no Itamaraty”, Brasília, 18 agosto 1999, 2 p. Elementos de informação sobre os “intelectuais” do Itamaraty, como subsídio a matéria de Paulo Moreira Leite, então na revista VEJA. Não aproveitado no momento, em virtude da transferência de PML para Washington, para trabalhar no jornal Gazeta Mercantil.

1054. O Sociólogo Aprendiz: reminiscências de um outro século, Washington, 26 mai. 2003, 202 p. Compilação linear das listas de trabalhos, bem como das introduções e prefácios preparados para os volumes encadernados de trabalhos originais e publicados (1968 a 1997), agregados de prefácio, como forma de subsidiar a preparação de livro de memórias intelectuais, de um século a outro. Relacionar ao esquema preparado no trabalho n. 1040 (“Mania de Brasil”: livro social-biográfico).

1642. “Economia política do intelectual”, Brasília, 20 julho 2006, 11 p. Uma visão cética sobre alguns dos mitos da nossa época. Espaço Acadêmico (ano 6, n. 63, agosto 2006). Relação de Publicados n. 690.

1781. “Perguntas a um Espectador Engajado”, Brasília, 12 agosto 2007, 1 p. Questões formuladas ao personagem idealista que teima em desenvolver atividades intelectuais paralelas aos afazeres profissionais normais e às lides acadêmicas mais comuns.

1790. “PIB potencial e disponibilidade intelectual”, Brasília, 26 agosto 2007, 4 p. Considerações sobre minha trajetória intelectual e meu “não-aproveitamento” funcional.

2000. “Um balanço da produção e seu sentido...: reflexões livres por ocasião do trabalho n. 2000”, New York, 28 abril 2009, 9 p. Comentários a propósito de minha produção intelectual, na passagem do trabalho (devidamente identificado) número 2000; dispensando o balanço contábil (com estatísticas a respeito), efetuei uma avaliação qualitativa e uma reflexão livre sobre meus textos como complemento às atividades didáticas. Publicado no blog Diplomatizzando (em 28.04.09; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2009/04/1086-por-ocasiao-do-trabalho-nr-2000.html#links).

2039. “Um intercâmbio acadêmico sobre a responsabilidade do Intelectual”, Brasília, 21 agosto 2009, 2 p. Intercâmbio com Antonio Ozai sobre Marx e os marxistas, a propósito de seu post “Marx e os marxismos” (Blog do Ozai: http://antonio-ozai.blogspot.com/2009/06/marx-e-os-marxismos.html). Circulado na lista Diplomaticas e postado em meu blog Diplomatizzando (21.08.2009; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2009/08/1302-um-intercambio-academico-sobre.html). Serviu de base à elaboração do trabalho n. 2103: “Sobre a responsabilidade dos intelectuais: devemos cobrar-lhes os efeitos práticos de suas prescrições teóricas?”, Brasília, 19 janeiro 2010, 12 p. Argumentos de natureza política e histórica sobre a falência do marxismo aplicado. Espaço Acadêmico (vol. 9, n. 105, fevereiro 2010, p. 149-159). Postado no blog Diplomatizzando (4/09/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/09/sobre-responsabilidade-dos-intelectuais.html).

2052. “Memórias Intelectuais: Uma biografia das ideias que permearam a minha vida”, Brasília, 18 outubro 2009, 8 p. Começo do que pretende ser uma história das ideias, ou uma biografia intelectual, consistindo numa pequena introdução que se poderia chamar de metodológica a uma obra mais vasta e gradual. Inédito em versão integral; feita versão resumida em 22.12.2009. Postado no blog Diplomata Z (1.01.2010; link: http://diplomataz.blogspot.com/2010/01/29-memorias-intelectuais.html).

2063. “Etapas cronológicas (mais uma) e sentido da vida (se é que existe):, Brasília, 19 novembro 2009, 5 p. Considerações sobre minhas orientações intelectuais e produção acadêmica. Postado no blog Diplomatizzando (19.11.2009; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2009/11/1520-proposito-de-mais-um-aniversario.html) e no blog DiplomataZ (http://diplomataz.blogspot.com/2009/11/22-mais-um-aniversario.html).

2103. “Sobre a responsabilidade dos intelectuais: devemos cobrar-lhes os efeitos práticos de suas prescrições teóricas?”, Brasília, 19 janeiro 2010, 12 p. Argumentos de natureza política e histórica sobre a falência do marxismo aplicado, elaborado com base no trabalho 2039: “Um intercâmbio acadêmico sobre a responsabilidade do Intelectual”. Revisto em 3.02.2010. Espaço Acadêmico (vol. 9, n. 105, fevereiro 2010, p. 149-159; ISSN: 1519-6186; link: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/9275/5252). Postado no blog Diplomatizzando (4/09/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/09/sobre-responsabilidade-dos-intelectuais.html). Relação de Publicados n 952.

2388. “Os diplomatas e a cultura brasileira”, Antuérpia, 28 Abril 2012, 3 p. Comentários sobre as relações entre os diplomatas culturais, ou intelectuais, e o Itamaraty. Postado no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com/2012/04/diplomacia-e-cultura-uma-relacao-sempre.html).

2594. “Uma vida através dos livros: minhas memórias intelectuais”, Hartford, 24 março 2014, 10 p. Registro parcial dos livros mais importantes publicados no mundo e no Brasil, ao longo de minha vida. Para desenvolvimento futuro com comentários sobre os autores e suas obras, ano a ano.

2753. “Minhas memórias intelectuais”, Hartford, 17 janeiro 2015, 2 p. Apenas títulos, conceitos, símbolos de uma vida pensada, atravessa, refletida, produzida, para servir como base de futuras memórias sobre as ideias, e situações, que permearam uma vida de produção intelectual.

2911. “Uma vida entre dois séculos: um balanço retrospectivo”, Anápolis, 26 dezembro 2015, 9 p. Reaproveitamento do trabalho 2877, para fins de avaliação do itinerário intelectual percorrido e de parte da produção realizada, nos terrenos profissional e acadêmico, mas de modo qualitativo. Postado no blog Diplomatizzando (link: http://www.diplomatizzando.blogspot.com.br/2015/12/uma-vida-entre-dois-seculos-um-balanco.html), disseminado no Facebook.

3018. “Breve nota biográfica: Paulo Roberto de Almeida”, Brasília, 2 agosto 2016, 2 p. Pequena nota sobre meu itinerário intelectual, e sobre o que apreciaria ser lembrado como contribuição social. Postado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/08/breve-nota-biografica-paulo-roberto-de.html).

3045. “O prazer intelectual como objetivo de vida”, Brasília, 8 outubro 2016, 2 p. Mini-reflexão sobre a importância do conhecimento em minha vida. Postado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/10/mini-reflexao-sobre-o-significado-da_8.html), disseminado no Facebook (https://www.facebook.com/paulobooks/posts/1284854741577973).

3282. “Diplomatas intelectuais: uma elite do conhecimento no Itamaraty”, Brasília, 5 junho 2018, 2 p. Projeto de nova edição da obra O Itamaraty na Cultura Brasileira (2001); correspondência enviada aos novos colaboradores, com exceção do capítulo sobre Sérgio Corrêa da Costa: Roberto Campos: Paulo Roberto de Almeida; Lauro Escorel: Rogério de Souza Farias; Sergio Corrêa da Costa: Antonio de Moraes Mesplé; Wladimir Murtinho: Rubens Ricupero; Vasco Mariz: Mary Del Priore; e José Osvaldo de Meira Penna: Ricardo Vélez-Rodríguez. Em preparação.

3333. “Da quantidade à qualidade: o significado dos números coincidentes”, Brasília, 23 setembro 2018, 5 p. Digressão sobre a produção intelectual, listas de originais e de publicados, a propósito do trabalho 3333. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/09/na-oportunidade-do-meu-trabalho-3333.html), Facebook (link: https://www.facebook.com/paulobooks/posts/2104838996246206).

3349. “De volta ao meu quilombo de resistência intelectual: resistir, perdurar, continuar o debate de ideias”, Rio de Janeiro, 18 outubro 2018, 4 p. Comentários sobre as próximas etapas de minha postura contrarianista. Divulgado no blog Diplomatizzando (22/10/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/10/de-volta-ao-meu-quilombo-de-resistencia.html).


Preparatório a algum trabalho sobre o tema.


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

O chanceler paralelo: Eduardo Bolsonaro - Igor Gadelha (Crusoe)


Transcrevo, abaixo, trechos da entrevista de Eduardo Bolsonaro ao jornalista Igor Gadelha da revista Crusoé, exclusivamente sobre temas de política externa e diplomacia, à exclusão de todos os demais, sobre política interna, Congresso, etc.
Confirma-se o que já se sabia...
Paulo Roberto de Almeida


“Filho é indemissível’
Revista Crusoé, n. 41, 9/02/2019

(...)

O sr. acha que o Brasil deveria intervir ou apoiar uma intervenção militar na Venezuela?
Sou contra a ideia de que o Brasil venha a declarar uma guerra ou fazer uma intervenção na Venezuela. Até se nós quisermos aqui formar uma força humanitária e mandar um avião sobrevoar as áreas onde estão as pessoas mais ligadas ao Guaidó (Juan Guaidó, que se proclamou presidente interino do país), qual a garantia teremos de que esse avião não vai ser bombardeado na Venezuela? Nenhuma. Então, a Venezuela hoje não tem sequer uma estabilidade para você mandar uma ajuda humanitária desse porte. Além disso, mandando uma ajuda humanitária, certamente quem está lá embaixo está com armas nas mãos, que são os coletivos do Maduro, para os quais ele distribuiu vários fuzis, inclusive AK. Com apoio da Rússia, alguns anos atrás, o (Hugo) Chávez distribuiu mais de 100 mil (fuzis) para os seus coletivos, os cubanos, que são em torno de 50 mil, expectativa de 50 mil a 100 mil, mais ou menos, que estejam lá, Hezbollah, FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), ELN (Exército de Libertação Nacional). Esse pessoal é que vai pegar a ajuda humanitária e distribuir entre os deles. Então temos que ter a coragem de falar o seguinte: o Maduro só vai sair do poder através do uso da força. Não estou dizendo que o Brasil tem que ir lá, entrar com militares, com as Forças Armadas, para tirar o Maduro, não. Não é isso que estou dizendo. Estou tendo uma conclusão óbvia. Porque através de eleições ele já demonstrou que não vai sair. As últimas eleições tiveram mais de 80% de abstenções. Se levarmos em conta que não houve fraude, o que é uma piada imaginar que não houve fraude naquelas eleições, o Maduro foi reeleito com 17% dos votos.
De onde viria, então, essa força para tirar Maduro do poder? Dos Estados Unidos?
Os Estados Unidos têm grandes Forças Armadas. E não só os Estados Unidos, mas qualquer iniciativa que venha a ser feita na Venezuela, como ocorreu de maneira desorganizada com Oscar Pérez, que juntou um pequeno contingente de militares e policiais e conseguiu fazer uma força ali para tentar bater de frente com o Maduro, qualquer iniciativa dessas tem que ser apoiada. Porque, se ela não for apoiada, a cada dia que passa, mais pessoas estarão morrendo de fome, e o Maduro não está nem aí para isso.

Mas que solução o sr. vê, afinal?
Vejo que, de alguma maneira, alguém tem que se organizar. Principalmente militares venezuelanos que estão no exílio, de alguma maneira, se organizar para conseguir, pouco a pouco, entrar e ir libertando a Venezuela. Agora, entre o que eu acho que pode acontecer e o que vai acontecer, há uma distância bem grande. Estou te falando aqui como um deputado federal do Brasil o que eles podem fazer, o que estão fazendo etc. Agora, toda ditadura, quanto mais ela vai se enrijecendo, mais a oposição também vai tomando medidas contrárias. O povo venezuelano estará vendo que vai morrer de fome ou vai ter que se prostituir para ter umas migalhas do governo, mais e mais pessoas vão pensando que vale a pena tentar ir para o tudo ou nada.

Qual é a sua opinião sobre a transferência da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém?
Acredito que o Brasil não pode errar porque, pelo tamanho que o Brasil tem, ele vai servir de exemplo para toda a região. Então, se o Brasil fizer uma transferência de maneira exitosa, se for um sucesso a transferência da embaixada, isso fará com que outros países possam vir a acompanhar o Brasil. Do mesmo modo que, se nós fizermos alguma coisa errada, isso vai servir de exemplo para que outros países não venham a seguir essa tentativa de transferência da embaixada para Jerusalém. O que as pessoas não atentam é que ocorreu já uma grande mudança no Oriente Médio, onde Israel não é mais visto como inimigo. Israel é cada vez mais visto como um aliado. O grande problema de toda aquela região é o Irã. O Irã é que financia o terrorismo, o Irã é que causa problemas, que dá suporte para grupos extremistas. Para você ver: Israel queria dar de graça a tecnologia de água para os fazendeiros no Irã. O governo do Irã não permitiu porque era uma ajuda de Israel. Ele prefere ver seu povo morrendo sem alimento e sem água a receber uma ajuda de Israel. E eu corroboro que aquelas relações ali mudaram quando você olha a mudança que os Estados Unidos fizeram de sua embaixada para Jerusalém. Vários países censuraram publicamente, mas não houve qualquer tipo de retaliação contra os Estados Unidos. Aí, já sei, você vai perguntar: poxa, mas olha o tamanho dos Estados Unidos. Tudo bem. Mas olha o tamanho da Guatemala. Será que, se os países árabes não quisessem destruir a Guatemala, fazer um embargo econômico, não poderiam fazer? Por que não fizeram? O Brasil é um meio termo. Não está em uma posição como a americana, nem como a guatemalteca. Mas é um meio termo, e acho, sim, que a gente tem que fazer essa mudança. Primeiro, por respeito aos eleitores, já que é uma promessa de campanha do Jair Bolsonaro. E, em conversa com o Benjamin Netanyahu, quando ele veio ao Brasil, Jair Bolsonaro se comprometeu a fazer a mudança.

Há uma pressão da bancada ruralista contra a transferência por receio de retaliações na compra de frango.
Muito frango… E carne. Do Brasil e da Austrália. E se os dois mudarem a embaixada, (os países árabes) vão fazer o quê?

O sr. concorda com o meio termo adotado pela Austrália de instalar a embaixada em Jerusalém Ocidental?
Não. Acho que tem que ser o compromisso de campanha. Você pode botar um gabinete avançado, depois pode fazer a mudança da embaixada. Tem que ver um prédio para isso. Isso pode ser que não saia de graça. Enfim. Mas são medidas que têm que ser tomadas. Outro ponto que a gente não passou, mas que é relevante, é que muitas pessoas têm medo de ataque terrorista. Ah, a gente vai estar trazendo para o Brasil a questão do terrorismo islâmico para cá. Meus caros, a Argentina já teve dois ataques terroristas nos anos 1990. Quem acha que no Brasil não tem operação de grupo extremista está redondamente enganado. O Hezbollah está aqui em cima junto com o Hamas, aqui na Venezuela. E reparem: quantas pessoas morreram de ataques terroristas em 10 anos na Europa? Não chegam a mil.

Mesmo assim é muita gente.
Eu sei. Mas calma lá. Estou querendo dizer o seguinte: e se eles começarem a fazer ataques terroristas reivindicando que as mulheres, sei lá, tenham determinado comportamento? E aí, a gente vai abaixar a cabeça para eles porque vão fazer ataques terroristas? Acho que, se eles radicalizarem com ataques terroristas, a gente poderia enrijecer as nossas leis, especificamente para esses casos. Banimento de passaporte, banimento do país, prisão perpétua. Começar a discutir aqui. Tenho certeza que, se você colocar para um plebiscito, aprova.

Mas é cláusula pétrea na Constituição a proibição da prisão perpétua, por exemplo. Como fazer?
O poder constituinte originário é do povo. O povo tem total poder para mudar. Quem vive no território brasileiro não é o povo brasileiro?

(...)