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sexta-feira, 7 de julho de 2023

Grandezas e misérias da diplomacia presidencial: o caso do Brasil - Paulo Roberto de Almeida (Crusoé)

 Meu artigo mais recente publicado na revista Criusoé: 

4414. “Grandezas e misérias da diplomacia presidencial: o caso do Brasil”, Brasília, 11 junho 2023, 4 p. Artigo para a revista Crusoé. Publicado em 7/07/2023 (link: https://oantagonista.uol.com.br/opiniao/crusoe-grandezas-e-miserias-da-diplomacia-presidencial/). Relação de Publicados n. 1515. 


Grandezas e misérias da diplomacia presidencial: o caso do Brasil

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre uma ferramenta muito delicada: a diplomacia feita por chefes de governo. 

Revista Crusoé (7/07/2023; link: https://oantagonista.uol.com.br/opiniao/crusoe-grandezas-e-miserias-da-diplomacia-presidencial/). Relação de Publicados n. 1515.

  

A diplomacia foi inventada para que os soberanos não tivessem de recorrer à guerra cada vez que surgisse uma desavença qualquer entre duas nações vizinhas. Nem sempre foi exercida por diplomatas profissionais, sendo que a existência e a continuidade de enviados permanentes, acreditados junto a Estados estrangeiros, são fenômenos relativamente recentes na história da humanidade, começando a se desenvolver na idade moderna, mais exatamente a partir das grandes navegações, e tomando uma forma mais elaborado no Congresso de Viena de 1815, ao final das guerras napoleônicas. Antes, e mesmo depois desse famoso congresso – objeto de uma tese de doutorado do mais famoso diplomata contemporâneo, o agora centenário Henry Kissinger –, o mais usual era o envio de enviados extraordinários, ou ministros plenipotenciários, junto às cortes e governos dos países amigos, com os quais havia interesse em negociar tratados de comércio e navegação ou para tratar de questões delicadas surgidas nessas relações. Na Europa do Antigo Regime, esse intercâmbio de representantes dos soberanos adquiriu certa amplitude e intensidade, com o que a “troca” de embaixadores passou a ser mais frequente.

Eram bem mais raros, todavia, os encontros entre os próprios soberanos, não apenas pela dificuldade de comunicações, como pela pompa que um deslocamento real exigia. Nas democracias burguesas do século 19, tais encontros começaram a frutificar, mas apenas por ocasião de visitas bilaterais, visando os mais altos interesses dos Estados. Nem no Congresso de Viena isso ocorreu, pois os assuntos mais relevantes da Europa pós-napoleônica foram tratados entre os chanceler dos Estados mais importantes ou seus designados especiais. As negociações de paz de Paris, em 1919, contaram com a presença do presidente americano Woodrow Wilson, que ali apresentou seus famosos “14 pontos” – onde figurava a criação da primeira organização multilateral voltada para a paz e a segurança, a Liga das Nações –, mas os demais participantes foram representados por seus ministros das relações exteriores ou, no máximo, pelos primeiros-ministros, dado o formato quase geral de regimes parlamentares. 

A partir daí, a configuração das relações diplomatas passa a ser objeto de regras bastante minuciosas, até que estas fossem finalmente formalizadas nas duas convenções de Viena do início dos anos 1960, sobre relações diplomáticas e consulares. Mas, os encontros de cúpula permaneciam ainda assim muito raros, sendo mesmo excepcionais, ...

(...)

Um dos problemas da diplomacia presidencial é justamente esse, o entusiasmo do dirigente máximo pelos seus próprios projetos pessoais, sem que eles tenham sido estudados e avaliados pela corporação dos profissionais da diplomacia e por outros assessores especializados da burocracia estatal, de maneira a mapear devidamente o caminho que o chefe de Estado, e de governo, pretende trilhar nas relações exteriores, como forma de evitar surpresas desagradáveis, como essa de ficar falando sozinho sobre um tal de “Clube da Paz”. Outro tema constrangedor, para diplomatas e responsáveis econômicos, é ver o presidente deblaterar contra o dólar, ao pretender “libertar” o Brasil, o Mercosul, o Brics, e quem mais quiser, dessa incômoda “dependência” do dólar, propondo sua substituição por uma “moeda comum”, cuja viabilidade é próxima de zero nos anos de seu mandato. Diplomacia presidencial pode ser útil, em determinadas circunstâncias, mas exercida em excesso pode ter efeitos inesperadas para quem pretende voltar triunfalmente aos cenários globais.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4014, 12 junho 2023, 4 p.

Revista Crusoé (7/07/2023; link: https://oantagonista.uol.com.br/opiniao/crusoe-grandezas-e-miserias-da-diplomacia-presidencial/)