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segunda-feira, 6 de maio de 2019

Neste dia na historia: nascimento de Karl Marx

Ao contrário do que diz a matéria, Marx não era um economista, a despeito de tentar ser, mas nunca conseguiu. Ele se tornou. no máximo, um filósofo social, mas jamais um economista. Exerceu seus talentos com teses pré-concebidas sobre o desenvolvimento da economia de mercado, e nunca conseguiu entender o capitalismo. Sua teoria da "mais valia" é uma fraude completa, e não recebe uma mínima consideração de economistas sérios. Só se estuda a mais valia nas faculdades de humanidades gramscianas, brasileiras e estrangeiras. Não tem nenhuma importância para a vida moderna, ou até a do capitalismo no século XIX.
O que não o impediu de se tornar uma das grandes referências na construção da sociologia moderna, com Saint Simon, Proudhon, Tocqueville, Comte, até chegar nos contemporâneos: Simmel, Spencer, os franceses Emile Durkheim, Marcel Mauss, o alemão Max Weber, e obviamente Raymond Aron.
Por acaso, eu que sou sociólogo (pelo menos titulado, embora nunca tenha exercido profissionalmente, a não ser por breves períodos como professor em mestrado de sociologia), também sou um pouco (ou muito) marxista, pois é impossível ser sociólogo sem ser também marxista.
Acho que foi por isso que fui defenestrado do IPRI pelo chantecler: ele devia achar que eu estava disseminando marxismo cultural no Itamaraty. Com muita honra, chantecler...
Paulo Roberto de Almeida

Nasce Karl Marx

Nasce Karl Marx
Em suas obras, Marx obtém uma perspectiva muito mais abrangente e adequada da dinâmica social capitalista (Foto: Wikimedia)
O pensador e economista alemão Karl Marx nasceu em uma família de classe média, na cidade de Tréveris na atual Alemanha, no dia 5 de maio de 1818. Sua mãe Henri Pressburg (1771–1840) era judia holandesa e seu pai, Herschel Marx (1759–1834), um advogado e conselheiro de Justiça.
Aos 17 anos, Marx foi para a faculdade de Direito na Universidade de Bonn. Na universidade ele ficou noivo de Jenny von Westphalen, a filha do Barão von Westphalen. No ano seguinte, Marx foi para a tradicional Universidade de Berlim, onde ele ficou por quatro anos. Nesta época, ele se interessou pelas ideias do filósofo Hegel. Em Berlim, Marx ingressou no Clube dos Doutores, que era liderado por Bruno Bauer.
Impedido de seguir uma carreira acadêmica, ele virou, em 1842, redator-chefe da Gazeta Renana (Rheinische Zeitung), um jornal da província de Colônia; conheceu Friedrich Engels neste mesmo ano, durante visita dele a redação do jornal. Em 1843, Marx conheceu a Liga dos Justos (que mais tarde iria se tornar a Liga dos Comunistas).
Integrante de um grupo de jovens que tinham afinidade com a teoria pregada por Hegel (Georg Wilhelm Friedrich, um dos mais importantes e influentes filósofos alemães do século XIX), Marx começou a ter mais familiaridade com os problemas econômicos que afetavam as nações quando trabalhava como jornalista.
Dedicado desde a juventude ao estudo da Economia Política, disciplina fundada no século XVII, na Inglaterra das revoluções burguesas, Marx contou com o estímulo e a colaboração de seu grande amigo Friedrich Engels (1820-95). Juntos escreveram vários textos; e na maturidade Engels continuou ajudando Marx em alguns pontos de sua grande obra sobre a economia moderna.
Em suas obras, Marx obtém uma perspectiva muito mais abrangente e adequada da dinâmica social capitalista. Em o “Manifesto Comunista” de 1848, ele faz o diagnóstico eloquente do tempo instituído pelo capital: “Essa subversão contínua da produção, esse abalo constante de todo o sistema social, essa agitação permanente e essa falta de segurança distinguem a época burguesa de todas as precedentes. Dissolvem-se todas as relações sociais antigas e cristalizadas, com seu cortejo de concepções e de idéias secularmente veneradas; as relações que as substituem tornam-se antiquadas antes de se consolidarem. Tudo o que era sólido e estável se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado.”
Desiludido com as mortes de sua mulher (1881) e de sua filha Jenny (1883), Karl Marx morreu no dia 14 de março de 1883. Foi então que Engels reuniu toda a documentação deixada por Marx para atualizar “O Capital”.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Um pouco mais de Roberto Campos, desta vez no céu, ou no limbo dos economistas - Paulo Roberto de Almeida

Uma coisa puxa outra, e acabei me lembrando que, já tendo começado o governo companheiro, fiz uma outra rememoração de Roberto Campos, aos três anos de sua morte, desta vez em conversa com Keynes, Hayek e Marx, em torno de um bom copo de whiskey (mas não sei se servem bebidas alcóolicas no céu):

1332. “O que Roberto Campos estaria pensando da política econômica?”, Brasília, 30 setembro 2004, 4 p. Ensaio colocando RC em conversa com Keynes, Hayek e Marx, no limbo, a propósito do terceiro ano de sua morte. Preparada versão reduzida, sob o título de “O que Roberto Campos pensaria da política econômica”, publicada no caderno econômico d’O Estado de São Paulo(Sábado, 9 de outubro de 2004, p. B2). Relação de Publicados nº 471.

O que Roberto Campos estaria pensando da política econômica?

Paulo Roberto de Almeida
Preparada versão reduzida, sob o título
“O que Roberto Campos pensaria da política econômica”,
publicada no caderno econômico d’O Estado de São Paulo
(Sábado, 9 de outubro de 2004, p. B2).
Relação de Publicados nº 471.

No dia 9 de outubro se estará ultrapassando a marca dos três primeiros anos do falecimento, em 2001, do diplomata, economista, administrador público, político e pensador Roberto Campos, que foi também um comentarista cáustico e voluntariamente impiedoso de nossas (ir)realidades quotidianas e bizarrices institucionais. Infelizmente para nós (mas talvez felizmente para os seus adversários “filosóficos”), ele não viveu o suficiente para assistir, a partir de 2002, a uma das mais formidáveis revoluções intelectuais já registradas em toda a história do Brasil: nada mais, nada menos do que a incrível conversão da água em vinho, isto é, a transformação do antigo partido adepto das rupturas econômicas – e propenso a fazer passar as “prioridades sociais” antes do respeito aos contratos da dívida – em um grupo comprometido com a responsabilidade fiscal, com a boa gestão das contas públicas e, surpresa das surpresas, com a aceitação decidida e consentida, não só da renovação do acordo de assistência financeira com o FMI, como também das condicionalidades associadas ao seu “menu” de política econômica (mais parecido a um regime de emagrecimento do que a uma churrascaria rodízio).
O que estaria pensando de tudo isso o iconoclasta, irônico e irreverente Roberto Campos? O que estaria escrevendo a respeito da atual política econômica o mais arguto dos polemistas brasileiros contemporâneos, o homem a quem seus inimigos políticos teimavam em chamar de “Bob Fields”, como se ele fosse menos patriota ou menos comprometido com o interesse nacional do que aqueles que o provocavam com slogans mal concebidos, mas que hesitavam em (ou simplesmente evitavam) enfrentá-lo num debate aberto e responsável sobre esses temas candentes da atualidade econômica?
Onde quer que ele possa estar no presente momento – e eu o imagino no limbo econômico das soluções imperfeitas, como compete a todos os partidários da disciplina da escassez, esses adeptos realistas da “ciência lúgubre”, sentado confortavelmente à esquerda de Hayek e à direita de Keynes –, ele deve estar soltando gostosas gargalhadas, comentando com seus incrédulos parceiros essa verdadeira “reversão de expectativas” a que o Brasil assistiu nos últimos dois anos e meio. Vamos imaginar um possível diálogo entre os três, com algumas rápidas incursões por parte de Marx (também, e mais do que nunca, no limbo) e uma única e breve intervenção do seu discípulo russo, Vladimir Ulianov, em férias de paragens mais quentes.
Roberto Campos, que nasceu no mesmo ano da revolução bolchevique, não teria perdido a oportunidade para, em primeiro lugar, espicaçar este último e provocar o filósofo alemão, cujas doutrinas serviram de inspiração para a mais desastrada tentativa de superar os limites estreitos da escassez econômica em nome de uma suposta gestão socialista das forças produtivas. “O que você está achando da ‘nova política econômica’ Vladimir?”, perguntaria ele, para ouvir o outro resmungar ressabiado: “Os companheiros assumiram numa situação de verdadeira guerra econômica, pois os especuladores de Wall Street e os sabotadores internos queriam a derrocada imediata do novo governo. Eles precisaram, temporariamente, compor com as forças do mercado e com os banqueiros gananciosos, mas ainda guardam munição para combater a exploração capitalista e a opressão burguesa. Espere para ver.” 
Sem esperar pelo resto, Roberto Campos dirigiu-se de maneira não menos provocadora ao autor do Capital,: “Você acha mesmo, Karl, que nossos amigos saberão construir a sociedade ideal, na qual cada um contribuirá na medida de suas capacidades e cuja distribuição se fará segundo as necessidades de cada um de seus membros?” “Mas isto não é para agora, seu capitalista utópico”, respondeu o filósofo da mais valia, “e sim para a etapa comunista da revolução brasileira, isto é, para a última e derradeira fase da construção socialista. Por enquanto, até eu recomendaria uma política de transição e uma acomodação com os mercadores do templo, isto é, os donos do capital. De toda forma, ainda estamos no começo: não se esqueça que no Manifestode 1848 eu preconizava primeiro o aprofundamento da globalização capitalista. Estou satisfeito com o que estou vendo: o novo governo caminha a passos rápidos no processo de internacionalização das empresas brasileiras, contribuindo com a missão histórica da rápida universalização do modo capitalista de produção. O socialismo está ao alcance da mão.”
Marx recebeu a surpreendente adesão do liberal Hayek, que também achava que o governo tinha tomado o caminho da servidão, construindo as bases da mesma economia coletivista que um dia tragou sua querida Áustria, sob a forma do dirigismo nazista, assim como a Rússia, sob a economia totalmente estatizada dos bolchevistas. “E o senhor, Herr Campos, não está preocupado ao ver a atual orientação do Brasilianische economik Regierung?”, indagou ele, com o semblante carregado. “De fato, meu caro Friedrich”, comentou Campos, “vários dos membros da nomenklatura tropical padecem de incurável nostalgia em relação aos antigos tempos revolucionários. Mas isso justamente não ocorre com das Finanz Ministerium de Herr Palocci: sua Realeconomik não causaria nenhum tipo de constrangimento ao seu amigo Friedman, de Chicago. Ele até agora se guiou pelo mais retos princípios do Ideal Liberalismus e estou certo de que ouviria com prazer algumas de suas receitas práticas sobre como escapar da servidão, hoje representada por um Estado economicamente opressor da liberdade de empreender, tão bem defendida em sua obra.”
Enquanto Hayek se deleitava ao ouvir essas palavras, Keynes fazia tilintar de impaciência o gelo de seu legítimo scotch, atacando sem mais esperar: “Mas esse doutor em medicina poderia ter evitado o amargo purgante de uma tão inútil quanto cruel recessão, se tivesse seguido uma das receitas da Teoria Geral, que recomendava injeções fiscais anti-cíclicas para poupar os Brazilian workers do desemprego e da perda do poder de compra. Ele precisava ter assegurado a demanda agregada, bem como o nível das despesas públicas, e deveria ter reintroduzido os controles de capitais, evitando a todo custo cair nas mãos daqueles fundamentalistas do FMI”. 
“Você está mal informado, Maynard”, retrucou Campos, que tinha intimidade suficiente com o inglês para chamá-lo pelo seu nome do meio. “O Estado brasileiro não consegue sequer assegurar um dedal orçamentário para a recuperação das esburacadas estradas federais, quanto mais essa injeção fiscal que você recomenda para estimular a demanda agregada. O que ele faz, de um lado, é uma oferta desagregada de promessas insustentáveis de crescimento, ao mesmo tempo em que retira, por outro lado, as poucas poupanças da sociedade, pela mão de uma máquina de arrecadação mais ameaçadora do que um dreadnoughtbritânico.” Antes que Keynes formulasse novas recomendações de política econômica a partir das idéias de algum economista morto, Campos completou, com a mais fina ironia britânica: “As conseqüências econômicas de misterPalocci são, em todo caso, menos perigosas do que as recomendações bizarras dos seus discípulos no Brasil, que pretendem dar cabo de algo que nunca existiu em meu país: o liberalismo econômico. Francamente, Maynard, eles estão completamente out of touch! Passe o gelo, por favor, e se puder a sua garrafa também.”
Virando-se novamente para Hayek, Campos aduziu com um sorriso maroto: “Não aconteceu em minha vida, mas eu ainda vou assistir, no Brasil, aqui do alto, à mais incrível revolução capitalista que se poderia esperar de um antigo líder socialista radical.” Tendo Marx justificado que isso talvez representasse alguma necessidade histórica da fase de transição para o capitalismo globalizado – que, afinal de contas, tinha tido sua marcha interrompida por setenta anos de tropeços socialistas –, Campos concluiu, rendendo uma homenagem à prosa barroca do Manifesto: “Eu também acho Karl: os seus amigos ex-socialistas, hoje neocapitalistas, não têm mais nada a perder, senão os grilhões mentais que os prendem às velhas soluções estatizantes de um passado tão mítico quanto, hoje em dia, inexeqüível. Esses grilhões mentais precisam ser rompidos e eles serão rompidos”. E dirigindo-se a ambos: “Vamos brindar com um gole de Schnaps a esta revolução burguesa tropical?”


Paulo Roberto de Almeida é doutor em ciências sociais, mestre em planejamento econômico e professor universitário.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Ainda Roberto Campos, com Marx e Hayek, discutindo a politica companheira - Paulo Roberto de Almeida

Este artigo é também sobre Roberto Campos, no terceiro ano de sua morte, batendo um papinho sobre as políticas econômicas companheiras com dois colegas economistas:


1333. “O que Roberto Campos estaria pensando da política econômica?”, Brasília, 30 setembro 2004, 4 p. Ensaio colocando RC em conversa com Keynes, Hayek e Marx, no limbo, a propósito do terceiro ano de sua morte. Preparada versão reduzida, sob o título de “O que Roberto Campos pensaria da política econômica”, publicada no O Estado de São Paulo (sábado, 9/10/2004, caderno Econômico, p. B2). Reproduzido in totum no site do jornalista Diego Casagrande (Porto Alegre: 8/11/2004) e no site do Ministério do Planejamento. Relação de Publicados n. 498.


O que Roberto Campos estaria pensando da política econômica?

Paulo Roberto de Almeida
Preparada versão reduzida, sob o título
“O que Roberto Campos pensaria da política econômica”,
publicada no caderno econômico d’O Estado de São Paulo
(Sábado, 9 de outubro de 2004, p. B2;
Relação de Publicados nº 471.

No dia 9 de outubro se estará ultrapassando a marca dos três primeiros anos do falecimento, em 2001, do diplomata, economista, administrador público, político e pensador Roberto Campos, que foi também um comentarista cáustico e voluntariamente impiedoso de nossas (ir)realidades quotidianas e bizarrices institucionais. Infelizmente para nós (mas talvez felizmente para os seus adversários “filosóficos”), ele não viveu o suficiente para assistir, a partir de 2002, a uma das mais formidáveis revoluções intelectuais já registradas em toda a história do Brasil: nada mais, nada menos do que a incrível conversão da água em vinho, isto é, a transformação do antigo partido adepto das rupturas econômicas – e propenso a fazer passar as “prioridades sociais” antes do respeito aos contratos da dívida – em um grupo comprometido com a responsabilidade fiscal, com a boa gestão das contas públicas e, surpresa das surpresas, com a aceitação decidida e consentida, não só da renovação do acordo de assistência financeira com o FMI, como também das condicionalidades associadas ao seu “menu” de política econômica (mais parecido a um regime de emagrecimento do que a uma churrascaria rodízio).
O que estaria pensando de tudo isso o iconoclasta, irônico e irreverente Roberto Campos? O que estaria escrevendo a respeito da atual política econômica o mais arguto dos polemistas brasileiros contemporâneos, o homem a quem seus inimigos políticos teimavam em chamar de “Bob Fields”, como se ele fosse menos patriota ou menos comprometido com o interesse nacional do que aqueles que o provocavam com slogans mal concebidos, mas que hesitavam em (ou simplesmente evitavam) enfrentá-lo num debate aberto e responsável sobre esses temas candentes da atualidade econômica?
Onde quer que ele possa estar no presente momento – e eu o imagino no limbo econômico das soluções imperfeitas, como compete a todos os partidários da disciplina da escassez, esses adeptos realistas da “ciência lúgubre”, sentado confortavelmente à esquerda de Hayek e à direita de Keynes –, ele deve estar soltando gostosas gargalhadas, comentando com seus incrédulos parceiros essa verdadeira “reversão de expectativas” a que o Brasil assistiu nos últimos dois anos e meio. Vamos imaginar um possível diálogo entre os três, com algumas rápidas incursões por parte de Marx (também, e mais do que nunca, no limbo) e uma única e breve intervenção do seu discípulo russo, Vladimir Ulianov, em férias de paragens mais quentes.
Roberto Campos, que nasceu no mesmo ano da revolução bolchevique, não teria perdido a oportunidade para, em primeiro lugar, espicaçar este último e provocar o filósofo alemão, cujas doutrinas serviram de inspiração para a mais desastrada tentativa de superar os limites estreitos da escassez econômica em nome de uma suposta gestão socialista das forças produtivas. “O que você está achando da ‘nova política econômica’ Vladimir?”, perguntaria ele, para ouvir o outro resmungar ressabiado: “Os companheiros assumiram numa situação de verdadeira guerra econômica, pois os especuladores de Wall Street e os sabotadores internos queriam a derrocada imediata do novo governo. Eles precisaram, temporariamente, compor com as forças do mercado e com os banqueiros gananciosos, mas ainda guardam munição para combater a exploração capitalista e a opressão burguesa. Espere para ver.”
Sem esperar pelo resto, Roberto Campos dirigiu-se de maneira não menos provocadora ao autor do Capital,: “Você acha mesmo, Karl, que nossos amigos saberão construir a sociedade ideal, na qual cada um contribuirá na medida de suas capacidades e cuja distribuição se fará segundo as necessidades de cada um de seus membros?” “Mas isto não é para agora, seu capitalista utópico”, respondeu o filósofo da mais valia, “e sim para a etapa comunista da revolução brasileira, isto é, para a última e derradeira fase da construção socialista. Por enquanto, até eu recomendaria uma política de transição e uma acomodação com os mercadores do templo, isto é, os donos do capital. De toda forma, ainda estamos no começo: não se esqueça que no Manifesto de 1848 eu preconizava primeiro o aprofundamento da globalização capitalista. Estou satisfeito com o que estou vendo: o novo governo caminha a passos rápidos no processo de internacionalização das empresas brasileiras, contribuindo com a missão histórica da rápida universalização do modo capitalista de produção. O socialismo está ao alcance da mão.”
Marx recebeu a surpreendente adesão do liberal Hayek, que também achava que o governo tinha tomado o caminho da servidão, construindo as bases da mesma economia coletivista que um dia tragou sua querida Áustria, sob a forma do dirigismo nazista, assim como a Rússia, sob a economia totalmente estatizada dos bolchevistas. “E o senhor, Herr Campos, não está preocupado ao ver a atual orientação do Brasilianische economik Regierung?”, indagou ele, com o semblante carregado. “De fato, meu caro Friedrich”, comentou Campos, “vários dos membros da nomenklatura tropical padecem de incurável nostalgia em relação aos antigos tempos revolucionários. Mas isso justamente não ocorre com das Finanz Ministerium de Herr Palocci: sua Realeconomik não causaria nenhum tipo de constrangimento ao seu amigo Friedman, de Chicago. Ele até agora se guiou pelo mais retos princípios do Ideal Liberalismus e estou certo de que ouviria com prazer algumas de suas receitas práticas sobre como escapar da servidão, hoje representada por um Estado economicamente opressor da liberdade de empreender, tão bem defendida em sua obra.”
Enquanto Hayek se deleitava ao ouvir essas palavras, Keynes fazia tilintar de impaciência o gelo de seu legítimo scotch, atacando sem mais esperar: “Mas esse doutor em medicina poderia ter evitado o amargo purgante de uma tão inútil quanto cruel recessão, se tivesse seguido uma das receitas da Teoria Geral, que recomendava injeções fiscais anti-cíclicas para poupar os Brazilian workers do desemprego e da perda do poder de compra. Ele precisava ter assegurado a demanda agregada, bem como o nível das despesas públicas, e deveria ter reintroduzido os controles de capitais, evitando a todo custo cair nas mãos daqueles fundamentalistas do FMI”.
“Você está mal informado, Maynard”, retrucou Campos, que tinha intimidade suficiente com o inglês para chamá-lo pelo seu nome do meio. “O Estado brasileiro não consegue sequer assegurar um dedal orçamentário para a recuperação das esburacadas estradas federais, quanto mais essa injeção fiscal que você recomenda para estimular a demanda agregada. O que ele faz, de um lado, é uma oferta desagregada de promessas insustentáveis de crescimento, ao mesmo tempo em que retira, por outro lado, as poucas poupanças da sociedade, pela mão de uma máquina de arrecadação mais ameaçadora do que um dreadnought britânico.” Antes que Keynes formulasse novas recomendações de política econômica a partir das idéias de algum economista morto, Campos completou, com a mais fina ironia britânica: “As conseqüências econômicas de mister Palocci são, em todo caso, menos perigosas do que as recomendações bizarras dos seus discípulos no Brasil, que pretendem dar cabo de algo que nunca existiu em meu país: o liberalismo econômico. Francamente, Maynard, eles estão completamente out of touch! Passe o gelo, por favor, e se puder a sua garrafa também.”
Virando-se novamente para Hayek, Campos aduziu com um sorriso maroto: “Não aconteceu em minha vida, mas eu ainda vou assistir, no Brasil, aqui do alto, à mais incrível revolução capitalista que se poderia esperar de um antigo líder socialista radical.” Tendo Marx justificado que isso talvez representasse alguma necessidade histórica da fase de transição para o capitalismo globalizado – que, afinal de contas, tinha tido sua marcha interrompida por setenta anos de tropeços socialistas –, Campos concluiu, rendendo uma homenagem à prosa barroca do Manifesto: “Eu também acho Karl: os seus amigos ex-socialistas, hoje neocapitalistas, não têm mais nada a perder, senão os grilhões mentais que os prendem às velhas soluções estatizantes de um passado tão mítico quanto, hoje em dia, inexeqüível. Esses grilhões mentais precisam ser rompidos e eles serão rompidos”. E dirigindo-se a ambos: “Vamos brindar com um gole de Schnaps a esta revolução burguesa tropical?”

Paulo Roberto de Almeida é doutor em ciências sociais, mestre em planejamento econômico e professor universitário.
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)


Versão publicada:

O Estado de São Paulo, Sábado, 9 de outubro de 2004
O que Roberto Campos pensaria da política econômica?
ENTRE HAYEK E KEYNES, HERR CAMPOS ESTARIA RINDO DA REVERSÃO DE EXPECTATIVAS VISTA NO BRASIL

(Subtítulo da edição impressa do jornal: “Diálogo de mortos: de Marx, Keynes, Hayek e Campos sobre o Brasil de Lula)

PAULO ROBERTO DE ALMEIDA


No dia 9 de outubro se completam três anos do falecimento, em 2001, do diplomata, economista, administrador público, político e pensador Roberto Campos, que foi também um comentarista cáustico e impiedoso de nossas bizarrices institucionais. O que estaria pensando o iconoclasta, irônico e irreverente Roberto Campos a respeito da política econômica do atual governo?
Onde estará ele no presente momento? Eu o imagino no limbo econômico das soluções imperfeitas, no purgatório da disciplina da escassez, na companhia de adeptos da "ciência lúgubre", sentado à esquerda de Hayek e à direita de Keynes, soltando gargalhadas a propósito da "reversão de expectativas" a que o Brasil assistiu nos últimos dois anos.
Roberto Campos não perderia a oportunidade para provocar o filósofo alemão cujas doutrinas serviram de inspiração para os propositores de uma "nova política econômica": "Você acha, Karl, que nossos amigos saberão construir a sociedade ideal, na qual cada um contribuirá na medida de suas capacidades e cuja distribuição se fará segundo as necessidades de cada um de seus membros?" "Isto não é para agora, seu capitalista utópico", responde o filósofo da mais-valia, "e sim para a etapa comunista, para a última fase da construção socialista. Por enquanto, até eu recomendo uma política de transição e uma acomodação com os donos do capital. No Manifesto de 1848 eu preconizava primeiro o aprofundamento da globalização capitalista. Estou satisfeito com o novo governo: ele promove a internacionalização das empresas brasileiras, ajudando na missão histórica da rápida universalização do modo capitalista de produção. O socialismo está ao alcance da mão."
Marx recebeu a surpreendente adesão do liberal Hayek, que também achava que o governo tinha tomado o caminho da servidão. "E o senhor, Herr Campos, não está preocupado com a orientação do Brasilianische economik Regierung?", indagou com o semblante carregado. "De fato, meu caro Friedrich", comentou Campos, "vários dos membros deste governo padecem de nostalgia em relação aos tempos revolucionários. Mas isso não ocorre com das Finanz Ministerium de Herr Palocci: sua Realeconomik não causaria nenhum constrangimento ao seu amigo Milton Friedman. Ele até agora se guiou pelos retos princípios do Ideal Liberalismus e estou certo de que ouviria com prazer suas receitas sobre como escapar da servidão, hoje representada por um Estado economicamente opressor da liberdade de empreender."
Enquanto Hayek se deleitava ao ouvi-lo, Keynes fazia tilintar o gelo de seu scotch, atacando sem mais esperar: "Mas esse doutor em Medicina poderia ter evitado o purgante de uma cruel recessão, se tivesse seguido as receitas da Teoria Geral, que recomenda injeções fiscais anticíclicas para poupar os Brazilian workers do desemprego. Ele precisa assegurar a demanda agregada e o nível das despesas públicas, além de controlar os capitais, evitando cair nas mãos dos fundamentalistas do FMI."
"Você está mal informado, Maynard", retrucou Campos, que tinha intimidade com o inglês para chamá-lo pelo nome do meio. "O Estado brasileiro não consegue sequer manter as estradas federais, quanto mais fazer essa injeção fiscal para estimular a demanda agregada. O que ele faz é uma oferta desagregada de promessas insustentáveis de crescimento, ao mesmo tempo em que retira a poupança da sociedade, usando uma máquina de arrecadação mais ameaçadora do que um dreadnought britânico." Antes que Keynes formulasse novas recomendações de política econômica a partir das idéias de algum economista morto, Campos completou, com a mais fina ironia britânica: "As conseqüências econômicas de mister Palocci são, em todo caso, menos perigosas do que as recomendações bizarras dos seus discípulos no Brasil, que pretendem dar cabo de algo que nunca existiu em meu país: o liberalismo econômico. Francamente, Maynard, eles estão completamente out of touch!
Passe o gelo, por favor, e a garrafa também."
Virando-se para Hayek, Campos aduziu com um sorriso maroto: "Não aconteceu em minha vida, mas ainda vou assistir, no Brasil, à mais incrível revolução capitalista que se poderia esperar de um antigo líder socialista." Tendo Marx justificado que isso era uma necessidade histórica da transição para o capitalismo globalizado - que tinha tido sua marcha interrompida por 70 anos de tropeços socialistas -, Campos concluiu, rendendo uma homenagem à prosa barroca do Manifesto: "Eu também acho Karl. Os seus amigos ex-socialistas, hoje neocapitalistas, não têm mais nada a perder, senão os grilhões mentais que os prendem às velhas soluções estatizantes de um passado tão mítico quanto, hoje em dia, inexeqüível. Esses grilhões mentais precisam ser rompidos e eles serão rompidos." E dirigindo-se a ambos: "Vamos brindar com um gole de Schnaps a esta revolução burguesa tropical?"

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Marx e o fetiche do capital: alguem ainda ousa ler o catatau? - Paulo Roberto de Almeida

Em 2018, muita gente vai comemorar os 200 anos do nascimento, em Trier, de um dos maiores intelectuais do século XIX (mas virtualmente desconhecido em seu próprio século) e um dos filósofos sociais que mais influenciaram sindicalistas, líderes políticos, militantes de movimentos revolucionários e acadêmicos em geral, no século XX, podendo ser considerado um dos mais importantes inspiradores de revoluções, lutas políticas e medidas econômicas tomadas por seus seguidores ao longo desse século, desde Lênin, em especial, passando por Trotsky, Stalin, Mao e outros tantos, que todos eles produziram catástrofes e mortandades inimagináveis, até mesmo para seus piores inimigos, como podem ter sido os líderes de movimentos fascistas na mesma época (como podem ter sido Mussolini, Hitler, e alguns outros de menor importância).
Karl Marx foi o mais poderoso filósofo social do século XX, embora tenha sido um péssimo economista, pois conseguiu formular as bases (muito vagas, por sinal) de um sistema que fracassou sob todos os critérios, e que só produziu fracassos produtivos, miséria, desigualdades sociais (tudo ao contrário do que os marxistas prometiam), terminando por provocar a derrocada econômica de todos os países que pretenderam seguir suas "recomendações econômicas" (sem mencionar a opressão, a repressão e o regime de escravidão moderna criada por esses regimes socialistas).
Tendo sido marxista em minha juventude -- e posso assegurar que li quase toda a obra do barbudo de Trier -- mas retificado minhas concepções econômicas, políticas e sociais ao aprofundar leituras e, sobretudo, ao visitar TODOS os socialismos existentes, dos reais aos surreais e aos mais esquizofrênicos, comecei a analisar a obra marxiana e formular minhas sínteses interpretativas, de maneira a poupar esforço e equívocos a muitos jovens que são literalmente seduzidos por professores ignorantes ou desonestos, que ou não leram a obra de Marx, ou leram vulgatas e não sabem sequer analisá-la criticamente.
O trabalho abaixo, escrito vários anos atrás, permanece válido, uma vez que se trata de uma análise da principal obra do grande revolucionário equivocado.
Paulo Roberto de Almeida

Revista Espaço Acadêmico n. 83, Abril de 2008
ink: http://www.espacoacademico.com.br/083/83pra.htm

O fetiche do Capital

por Paulo Roberto de Almeida

Alerto, desde o inicio, que o Capital a que me refiro no título (em itálico, por favor) é mesmo a obra preferida de marxistas e marxianos, o magnum opus de Karl Marx, tão cultuado quanto pouco lido desde sua edição original (em 1863). A pergunta se coloca: por que voltar agora a essa obra vetusta, quase gótica, stricto et lato sensi, objeto de controvérsias desde sua primeira versão, que coroa e anuncia as teorias da mais-valia, sobre as quais Marx trabalhou durante anos seguidos, sem jamais dar forma final à obra que ele estimava – como seus seguidores e admiradores – como o desvendamento definitivo do funcionamento do modo de produção capitalista?
Existiriam muitas razões, nenhuma delas voltada para a explicação própria dessa obra, o que  já foi feito e que continua a ser feito pelos já referidos apreciadores do seu autor. Pretendo, de meu lado, dirigir-me a uns poucos leitores, provavelmente estudantes universitários em sua maior parte, alguns professores idem, e talvez um ou outro dos curiosos que circulam em sites e revistas digitais. Minha razão de voltar a escrever sobre esse tema recorrente tem a ver com o que poderia ser chamado de “economia política” da formação intelectual, ou, mais prosaicamente, com a simples economia do estudo acadêmico. Gostaria de livrar uns e outros de um fetiche que se tornou regular e inseparável de certa cultura universitária, que normalmente se pretende séria e respeitável.
Tenho reparado, pela minha freqüentação de listas de discussões e pela leitura de sites acadêmicos que professores universitários brasileiros continuam a insistir com seus alunos na leitura do Capital, leitura que é feita sempre parcial e truncadamente, pois que não concebo um estudante “normal” de nossas instituições de ensino superior mergulhando na leitura sistemática dos três livros do Capital (e mais quatro sobre a Teoria da Mais-Valia), sem correr seriamente o risco de ser reprovado nas demais matérias por falta de estudo, o que seria a suprema ironia.
Alerto, também desde o início, que não tenho nada contra a leitura do Capital, sempre bem-vinda e interessante quando se dispõe de tempo e do lazer necessários a um mergulho na história das idéias econômicas do século XIX. A questão é que raramente esse estudo é feito nas disciplinas de história do pensamento econômico ou de história das idéias, como deveria ocorrer. Ele é mais freqüentemente conduzido nas aulas de sociologia ou de teoria social, quando não nas de história contemporânea. Mais usualmente ainda, esse estudo é empreendido como atividade paralela aos programas oficiais e à margem das disciplinas nas quais se encontram engajados seus promotores e coordenadores. Tudo, ao que parece, com o objetivo de unir filosofia e praxis (apud Feuerbach).
Seria excelente se esse exercício fosse feito com o espírito crítico que se espera de todo e qualquer professor universitário, comparando teorias de autores diversos, confrontando explicações sobre o mesmo objeto e avançando o conhecimento até o estado recente da literatura em torno da problemática em questão, qual seja, a história do surgimento e do desenvolvimento do modo de produção capitalista e seus efeitos sociais de mais amplo escopo. É menos louvável quando esse estudo tende a se aproximar de equivalentes universitários de cultos esotéricos, nos quais o respeito pela palavra do profeta acompanha uma admiração beata pelas suas revelações geniais e a virtual impossibilidade, daí decorrente, de contestar o conteúdo e a forma do “livro sagrado”.
Tenho observado, em meus contatos, que alguns professores, que certamente recomendam a leitura do Capital aos seus alunos, continuam a manter uma deferência quase religiosa em relação à obra considerada máxima de Marx, atribuindo-lhe poderes extraordinários de não apenas explicar o modo de funcionamento do capitalismo do século XIX, mas praticamente o dos nossos dias, numa admiração acrítica que beira a ingenuidade. Raros, no entanto, são aqueles que ultrapassam as primeiras cem páginas do Capital, dedicada à análise da mercadoria, considerada o símbolo do dito modo de produção. A razão me parece ser simplesmente esta: o Capital é uma obra pesada, gótica, rebuscada, dotada de enorme dispersão analítica e inúmeras regressões históricas, em meio a seus objetivos pretendidamente sistemáticos.
Essa constatação já tinha sido feita mais de um século atrás por um estudioso dos sistemas socialistas: “A falta de unidade [do Capital] é evidente: o autor vê claramente o objetivo que ele quer atingir, mas não consegue ver tão claramente o caminho que o conduz a esse objetivo; ele tenta vários e quando vê que um desses o conduz a resultados fora da realidade, ele toma outros, muitas vezes oposto ao primeiro, sem ao menos se preocupar com as contradições que dai resultam. Como os fiéis de Marx não admitem que o autor possa carecer de lógica ou de conhecimentos científicos, essas contradições não os chocam absolutamente; ao contrário, eles admiram os mistérios profundos e sublimes que o sistema certamente contém” (Vilfredo Pareto, Les Systèmes Socialistes; 2a. ed.; Paris: Marcel Giard, 1926, tomo II, p. 342). Pareto confirma que Marx inovou a antiga economia política bem mais quanto à forma, do que em relação ao conteúdo: “É claro que não pretendemos acusar Marx de ter voluntariamente alterado a realidade; mas, como outros autores que defendem passionalmente uma tese, ele foi levado, provavelmente sem ter consciência disso, a escolher seus argumentos não em virtude, exclusivamente, da dose de verdade intrínseca que eles poderiam conter, mas em virtude das vantagens que deles poderia extrair para a sua tese” (idem, p. 351).
Esta pode ser uma razão simplesmente formal, ou estilística, mas que deve contribuir para o alto grau de “desistência” na continuidade de sua leitura. (Parênteses: gostaria de conhecer, por favor, o grupo ou um simples aluno que conduziu esse exercício até o fim, isto é, a leitura completa, do primeiro volume ao menos, do Capital.) As razões mais importantes da descontinuidade e da pouca relevância desse tipo de empreendimento se situam, porém, na estrutura interna da obra e sua organização quase “literária”, quando pretende ser uma obra de economia política, ou melhor, de crítica à economia política de seu tempo. Ao empreender a confecção dessa obra, que consumiu, conforme ele mesmo, quarenta anos de uma vida de estudos, Marx pretendia elevar a economia política do seu tempo à categoria de análise “científica”, armado metodologicamente de seu instrumental dialético que ele pretendia pós-hegeliano, ou seja, não idealista. Todos aqueles que já penetraram nos arcanos do Capital – e do capital – sabem que muito de sua argumentação se desenvolve em torno das “contradições” da produção capitalista, da oposição das “relações de produção”, do caráter inconciliável entre o caráter social da produção e o caráter privado da apropriação do produto. O capital, em Marx, é o deus ex machina da sociedade burguesa moderna.
Mais importante ainda, Marx pretende explicar o “segredo” do modo de produção capitalista pelo processo de extração de mais-valia, que para ele resume o essencial das contradições que presidem à realização histórica do capital. Todos aqueles que já leram o Capital sabem que, para Marx, o trabalhador – sinônimo de operário de fábrica, o que já é um reducionismo inaceitável levando-se em contra a complexidade e a diversidade das formas concretas de organização social da produção – produz o valor de sua força de trabalho em uma parte, apenas, de sua jornada de trabalho, sendo o trabalho restante apropriado pelo capitalista, em proporções variáveis segundo a composição do capital (fixo, ou constante, e variável, sendo este o determinante da taxa de extração da mais-valia). Trabalho necessário e trabalho excedente (ou sobre-trabalho) representam, para Marx, a explicação-chave e a expressão exata do grau de exploração da força de trabalho pelo capital (ou do trabalhador pelo capitalista). Os já convencidos exultam com essa “explicação”.
Este é, em resumo, o ciclo do capital, todo o resto da economia política marxista sendo uma derivação – histórica ou funcional – dessa relação fundamental. Pela adesão incondicional à teoria do valor trabalho, Marx filia-se à corrente clássica da economia política, mais especificamente a David Ricardo, de quem é o herdeiro direto, ainda que renegando o caráter “não científico” de suas idéias. Marx apoiava sua análise numa rica exposição de fatos – muitos deles tirados de relatórios oficiais do governo britânico – mas os generalizava, para deles extrair conclusões esquemáticas, pré-determinadas, segundo as quais o capitalismo, pelas contradições internas, inevitáveis, seria inapelavelmente suplantado e substituído pelo socialismo, um modo de produção superior, capaz de reconciliar o caráter social da produção e extração de mais-valia com sua distribuição “eqüitativa”. Como ele diria mais tarde, na crítica ao programa de Gotha da social-democracia alemã, “de cada um segundo a sua capacidade, a cada um segundo as suas necessidades”, uma frase tão tautológica do ponto de vista das premissas socialistas sobre as quais se apóia, quanto praticamente inaplicável no plano da economia real. (Novo parênteses: antes de alguém pretender criticar a minha crítica, desafio qualquer um a definir o que são necessidades humanas e como quantificar sua exata necessidade na esfera individual.)
Não é preciso, neste momento, desmontar os equívocos do profetismo marxiano sobre a crise e auto-destruição final do capitalismo, uma visão messiânica que transforma seu socialismo pretendidamente científico em algo semelhante a uma teleologia social, isto é, uma história com um curso pré-determinado (conduzindo inevitavelmente à derrocada do capitalismo e sua substituição pelo socialismo). Quando da publicação da Origem das Espécies, de Darwin, no final dos anos 1860, Marx chegou a acreditar, durante um momento, que a teoria darwiniana da seleção natural poderia oferecer um suporte biológico para sua visão determinista sobre o curso da história como o desenvolvimento da luta de classes, mas, em vista da natureza aberta da teoria de Darwin – com os impulsos aleatórios do ambiente externo, como mudança climática ou migração de espécies – ele se decepcionou com o “parentesco” e veio a apoiar outras teorias (equivocadas) que viam no itinerário da raça humana a marca inelutável do progresso linear em direção ao futuro.
No que se refere especificamente ao método de Marx, basta indicar as contradições do seu próprio raciocínio “econômico”, incapaz de conciliar os dados da realidade com sua fórmula sobre a origem do valor e a extração de mais-valia. A teoria do valor-trabalho é um verdadeiro axioma no pensamento econômico marxista, que no entanto não consegue fundamentar o valor do trabalho na velha lei da oferta e da procura, como sempre feito na teoria econômica. Todo o desenvolvimento ulterior da economia dispensou facilmente as esquemáticas construções marxistas, em prol da realidade da “lei do valor burguesa”, ou seja, o equilíbrio entre oferta e demanda. Pareto ironizou: “Assim, abandonando a lei da oferta e da demanda, nós [isto é, Marx] tínhamos começado por afirmar que o valor era apenas trabalho cristalizado; mas, depois de muitos zigzags nós voltamos a essa lei, e nossa [de Marx] teoria se resume a dizer que o valor é medido pelo trabalho, à condição que as condições colocadas pela lei da oferta e da procura sejam satisfeitas” (idem, p. 358).
Tampouco seria preciso tecer considerações muito longas sobre suas “leis da concentração da produção”, que Marx confundia com a expansão do patrimônio da burguesia, que para ele estaria na origem da derrocada final de todo o sistema. Não é que a história se desenvolveu de modo diverso ao previsto por Marx: é que em sua própria época, o sistema não funcionava segundo o seu modo de análise, indiferente que era à diversidade dos “modos de produção” mercantis, e a toda uma série de atividade intermediárias que Marx considerava simplesmente improdutivas. As falhas propriamente econômicas da análise marxiana do capitalismo são ainda mais significativas do que seus equívocos de previsão quanto ao desenvolvimento futuro do sistema. Enfim, basta com dizer que a validade de sua “economia política” para a economia atual – e mesmo aquela de sua época – é propriamente marginal, senão próxima de zero, tendo apenas validade relativa para uma descrição (em tons apopléticos) da miséria humana sob as condições do capitalismo manchesteriano de sua época (que ele conheceu, aliás, bem mais pela obra de seu amigo Engels do que diretamente).
Em vista do que precede, tendo a considerar esses convites feitos a alunos das humanidades para integrar grupos de leitura do Capital como uma incitação à auto-flagelação, ou como uma forma atenuada de tortura intelectual. Não que eles não possam tirar benefícios intelectuais desse tipo de exercício, uma vez que a leitura de Marx é sempre estimulante (embora, para alguns, ela é mais bem “embriagadora”). O lado menos interessante da história se deve ao fato de que a leitura não está propriamente sendo feita para o enriquecimento do conhecimento histórico sobre as idéias e teorias em curso no momento da transição entre a economia política clássica e a neoclássica, mas em completo isolamento dessas correntes de pensamento, numa espécie de “ilha marxista” que tenta   preservar a pureza dos argumentos originais, uma conservação em formol de um conjunto de análises ultrapassadas – quando elas já não eram defasadas em sua própria época – quando não completamente equivocadas quanto à natureza do sistema capitalista e seu modo de funcionamento.
O Capital, desse ponto de vista, assemelha-se a outro ícone do socialismo redivivo, um cadáver de Lênin em seu mausoléu kitsch, aguardando um julgamento menos religioso por parte de seus cronistas e historiadores. O fetiche da leitura do Capital aparece, assim, como um produto típico da cultura universitária, que, tomada nesse tipo de dimensão mística de seus desdobramentos modernos, se converte rapidamente em mecanismo de alienação coletiva, aliás um conceito típico do marxismo universitário derivado da Escola de Frankfurt, a partir da leitura da Ideologia Alemã e dos Manuscritos Econômico-Filosóficos.
Os professores que pretendem dar “aulas” – ou até cursos inteiros – sobre esses textos sagrados do marxismo fossilizado não estão de fato participando de um grande esforço intelectual inserido num estudo de história das idéias, mas, sim, isolando os demiurgos numa torre de marfim reconstruída para suas necessidades políticas imediatas e, a partir de suas preleções vitriólicas sobre  o caráter iníquo do capitalismo, pretendendo fundar uma ação política contemporânea na qual o que menos se requisita é pensamento crítico, e sim a fé inquestionável nos escritos fundadores. Desse ponto de vista, eles não são propriamente professores, e sim sacerdotes de uma religião laica, que pode até não ostentar diferenças notáveis, no plano conceitual, com suas expressões correntes no mundo litúrgico. Como anuncia o panfleto de um desses cursos de leitura das obras sagradas, “o pensamento dos dois grandes filósofos, Marx e Engels, se mantém vivo e atual”. Ou seja, não se trata de inseri-los nas correntes de sua época e confrontar o que, de fato se mantém vivo, na obra de dois demiurgos da catástrofe capitalista, mas sim de repetir, como num catecismo, os trechos mais eloqüentes de uma verborréia barroca, que encanta até hoje os inimigos do capital (e amigos do Capital, embora a leitura desta obra não esteja contemplada no curso).
O patético nessa história toda não é exatamente a leitura do Capital ou de qualquer outra obra do repertório sagrado do marxismo clássico; o triste, ou lamentável, é fazê-lo encerrado numa camisa-de-força intelectual que comanda ao leitor não ir além da própria obra e do autor estudado, eventualmente recorrendo a outras obras, de outros estudiosos, que poderiam estar em contradição com as idéias de um pensador que afirmava, justamente, ser a favor do movimento constante de idéias, como recomendado em seu método “ dialético”. Nesse sentido, a leitura do Capital deixou de ser um convite ao diálogo com todos os autores citados, comentados ou criticados por Marx, e limita-se a ser uma admiração beata de uma obra tomada isoladamente. Não há melhor definição para a palavra fetiche.

quarta-feira, 25 de março de 2015

A frase (equivocada) do seculo (e meio), e uma autocritica - Karl Marx, Paulo Roberto de Almeida

Lendo hoje um boletim europeu, falando das eleições britânicas do próximo dia 7 de maio, deparei-me com o seguinte trecho, na qual o autor cita a frase em questão de Marx, em apoio ao seu argumento de que essas eleições não vão determinar absolutamente nada na vida política inglesa.
Que seja, mas vamos ao trecho em questão:

The mode of production of material life,” Marx wrote, “conditions the general process of social, political and intellectual life”: economic developments give rise to politics, not the other way round. And economics will determine the politics of Britain’s relationship with the EU.

Bem, eu também fui adepto desse tipo de pensamento, quando comecei a ler Marx, bem jovem aliás, e acreditei piamente que ele estava correto.
A frase me parece sair de um texto de juventude (ou primeira maturidade), A Ideologia Alemã (1845) ou mais provavelmente da Introdução à Contribuição à Crítica da Economia Política (1851), e reza assim:

O modo de produção da vida material condiciona o processo geral da vida social, política e intelectual.

Bem, qualquer pessoa sensata saberia hoje reconhecer que se trata de um equívoco fundamental, e que a vida intelectual pode não ter absolutamente nada a ver com a vida material, como aliás provam todos os dias os companheiros. A despeito de se proclamarem partido dos trabalhadores, o conjunto de medidas que eles tomaram no governo privilegiaram, antes de mais nada, sobretudo, principalmente, essencialmente (etc., etc., etc.) a burguesia, ou seja, industriais e banqueiros.
Alguém quer me desmentir?
Paulo Roberto de Almeida

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Pausa para... o hipocondríaco Nelson Rodrigues, segundo Otto Lara Resende

Trecho de uma crônica de Luís Schwarcz no blog da Companhia das Letras, transcrita no site do Observatório da Imprensa.

‘A testemunha silenciosa’ ou Otto Lara Resende

Por Luiz Schwarcz
Observatório da Imprensa, 16/07/2013 na edição 755
Nelson [Rodrigues] era muito hipocondríaco. Certo dia, [Otto Lara Resende] recebe um telefonema do dramaturgo – e... Otto imitava com perfeição a voz grave do autor de A vida como ela é
“Otto, estou muito mal, nas últimas. Internei-me na clínica São Vicente, não tenho muito tempo de vida. Venha me ver e traga um jornalista para fazer comigo a derradeira entrevista.” 
Ao chegarem, Nelson diz ao jovem jornalista: “Rapaz, você está com lápis e papel na mão?”
“Sim, estou pronto.” 
“Então anota aí: “Marx é uma besta!” 
Segue-se um longo silêncio. 
“Pois não, já anotei. Como continuamos?” 
“Não continuamos. Estou melhor. Não vou morrer mais.”

domingo, 5 de maio de 2013

O filosofo como farsa: Marx transformado em gnomo de jardim (Der Spiegel)


Philosopher as Farce: Artist Immortalizes Marx as Garden Gnome

Photo Gallery: Gnomes of the World, Unite!
Photos
DPA
Ottmar Hörl gained international notoriety in 2009 by designing garden gnomes giving Nazi salutes. Now he hopes to stimulate debate with 500 gnome-like figurines of Karl Marx in Trier, but he might not hit his mark.
Pedestrian shopping areas in Germany are usually filled with people pondering such mundane issues as which nail polish to buy or whether to grab a pretzel. But who says that these bargain hunters couldn't wrangle with more lofty and abstract philosophical questions, such as Marx's critique of capitalism, especially if they come packaged in something as down-to-earth as the good ol' German garden gnome?

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Political artist Ottmar Hörl captured headlines far away from his hometown of Nuremberg in 2009 when he created garden gnomes performing Nazi salutes. And now he's back to making what he hopes will be another controversial statement. In honor of Karl Marx's 195th birthday, Hörl has spread out 500 plastic figurines of the famous thinker in Trier, the western German city near the border with Luxembourg where Marx was born. Each miniature sculpture, which stands less than a meter (3.3 feet) tall, portrays Marx in the exact same pose, but in different shades of red.
A nifty idea, sure. But what could it possibly mean? "I want to inspire pedestrians to think about Karl Marx in a different way," Hörl explains while his installation is being set up next to Trier's historic Roman city gate, Porta Nigra, adding that the German philosopher has often been misinterpreted.
Still, one could say that Hörl himself has fallen pray to this fallacy himself. No matter what we personally think about Marx and his philosophy of history, if he is reduced to the figure of a bearded little chap, the great thinker joins the ranks of other city mascots like the Berlin bear or Hamburg's Hans Hummel. The Marx-gnome may become a popular subject for tourist photos or a favorite for children to climb around on, but it will hardly stir a debate about Marx' ideas -- at least not about anything that goes beyond the simplistic message of Hörl's artwork, which claims that not every shade of red is the same and that Marxism can be interpreted in myriad ways.
The primary insight that Hörl's Marx-gnome communicates is that if Marx is trivialized to the maximum, he hardly even disrupts the consumerist landscape on the shopping mall. Four different shades of red give less food for thought than any nail polish section. Indeed, it would hardly have been possible to ridicule the man who once tried to overcome capitalism more thoroughly.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Bolivar socialista?: no way, said Marx; e como fica agora?

Apesar de Bolívar ser cultuado pela esquerda, Marx o considerava 'medíocre e grotesco'da Livraria da Folha, 05/03/2013 - 20h35

Descoberto apenas em 1935, "Simón Bolívar por Karl Marx" apresenta a análise do autor de "O Capital" sobre o "libertador". Apesar de ser um símbolo para a esquerda latino-americana, Marx demonstra um forte sentimento de aversão a Bolívar, o apresentando como um "personagem medíocre e grotesco".

Em 1857, Charles Dana, diretor do "New York Daily Tribune", contratou Karl Marx para escrever sobre temas de história militar, biografias e outros assuntos. Por acaso, Marx redigiu o verbete sobre Bolívar. Friedrich Engels também trabalhou no projeto que daria origem a "New American Cyclopaedia".

Morto em 17 de dezembro de 1830, provavelmente por envenenamento, Simón Bolívar foi o líder militar responsável pela independência de diversos territórios da América Latina, terras ocupadas pela Espanha.

Bolívar é considerado um herói entre os latino-americanos. Nasceu em Caracas, no dia 24 de julho de 1783, data em que se comemora o Dia de Simón Bolívar.

A biografia do venezuelano, com precisão enciclopédica, está em "O Libertador", de Moacir Werneck de Castro. O volume conta a história de um homem que amou, sofreu e cometeu equívocos políticos. O texto permite a análise das características sociais e econômicas da época, além de uma reflexão ideológica.

Em "Guia Politicamente Incorreto da América Latina", Leandro Narloch e Duda Teixeira questionam a veracidade do heroísmo de diversas figuras desta parte do mundo. Segundo os autores, "cultuar heróis perversos" e culpar outros países por problemas internos são características dos latino-americanos.

No livro "Os Redentores", Enrique Krauze reúne ensaios sobre 12 personalidades cujos pensamentos e ações moldaram a identidade latino-americana. Uma obra para quem quer entender questões da América Latina que vão além da conversa de bar, sem os fogos de artifício dos famosos "politicamente incorretos".

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Pausa para... um dos irmaos Marx, este legítimo...

Blog do Além
Postado por Engels
http://www.blogsdoalem.com.br/engels/


PÁ DE KARL
No começo, era tudo lindo. Eu deixava a barba crescer e logo a dele aparecia comprida também. Eu tuitava e, em seguida, ele dava um RT. Fazíamos tudo juntos, pensávamos parecido. Tinha gente que achava que eu me chamava Marx &, de tanto ouvir nossos nomes andarem juntos. Outros, que consideravam ossas ideias um tanto quanto nonsense, nos apelidaram de irmãos Marx. Qualquer coisa que um escrevia, mesmo que o outro nem tivesse dado palpite, ambos assinavam. Éramos assim tipo Lennon & McCartney. Aliás, seguindo nessa comparação, uma amiga dizia que o papel de Ringo cabia a Stalin, mas eu acho isso uma maldade com o Stalin.

Porém, em determinado momento, Marx me surpreendeu. Disse que se sufocado, que precisava de mais espaço para expressar suas ideias. Insinuou que fosse a hora de partir para uma carreira solo. E finalizou revelando que nossa produção, até então, muito panfletária.

Fiquei atônito, confuso. Não entendi que naquele momento estava se erguendo o muro de Berlim de nossa amizade. Como bom materialista, ainda teve coragem de me pedir uma grana emprestada, prometendo que, em alguns anos, aquilo viraria O Capital. Dei o dinheiro, não sou de perder uma oportunidade.

De Lennon & McCartney passamos a Roberto e Erasmo, comigo, obviamente, a fazer o papel de Tremendão e sem direito a receber homenagens do tipo: você meu amigo de fé meu irmão camarada. A partir daí, nossas carreiras se bifurcaram com visibilidades distintas.

Não sei se a intenção de Marx era a de me alienar da autoria do pensamento fundador da doutrina comunista. Se era esse o seu propósito, mais valia ele o ter deixado claro. O fato é que seu nome é o seu único sinônimo. Ninguém usa engelismo nem mesmo marxengelismo para se referir à concepção materialista e dialética da História. Para isso consagrou-se o termo marxismo. Fiquei relegado aos livros de história. Não figuro em bandeiras, flâmulas, camisetas e pôsteres. Enfim, não entrei para a cultura pop. Infelizmente, a ideia do comunismo virou propriedade privada de Marx.



Aurélio

SOBRE MIM
A revolução ainda se faz necessária. Não podemos confiar apenas na educação das novas gerações para que as mudanças essenciais aconteçam. Taí o Sertanejo Universitário para confirmar essa tese.
SOBRE O BLOG
Eu e o Paulo Skaf fazemos uma dura crítica ao modo de produção capitalista e na forma de como a sociedade se estruturou através desse modo. Buscamos organizar o proletariado como classe social capaz de reverter sua precária situação.
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