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quarta-feira, 23 de julho de 2025

Quem quer ser um Império? - Paulo Roberto de Almeida

 Quem quer ser um Império?


        Impérios ainda são coisas do presente, mas cheiram a mofo, pois vêm de um passado muito distante.

        Impérios são coisas doentias, fadadas ao fracasso, ainda que possam ter sucesso durante algum tempo, por vezes durante séculos.
        Mas, eles tendem a ser dominados por personalidades autoritárias, algumas nitidamente desequilibradas.
        Alguns já ouviram certamente falar da sabedoria de um outro dos imperadores romanos, como Marco Aurélio, por exemplo.
Mas suponho que todos também ouviram falar da loucura de vários outros, entre eles Calígula e Nero. Sabemos o que ocorreu depois; Roma se afundou na confusão e os bárbaros chegaram, e se instalaram. Acabou o império de Roma; sobrou, durante mais mil anos o do Oriente, em Bizâncio, ou Constantinopla, que foi saqueada pelas cruzadas e depois conquistada pelos otomanos.
        O Império do Meio foi o mais exitoso durante séculos, mas em algum momento resolveu se fechar aos contatos com os estrangeiros, os europeus, que vinham para copiar coisas daquela civilização muito mais avançada do que os seus reinos barulhentos, briguentos, ensopados no sangue de suas batalhas contínuas, uns com os outros. Um imperador mal assessorado por mandarins introvertidos decidiu fechar a China; foi assim que o país economicamente e cientificamente mais avançado do mundo perdeu as revoluções científicas e industriais do Ocidente e acabou sendo humilhada por eles, que voltaram com canhoneiras. A China perdeu a primeira e a segunda revoluções industriais, pelo seu insulamento. Na terceira, já vivia sob o maoísmo demencial, que afundou ainda mais a China, com seu Grande Salto para a Frente (andou para trás, e eliminou mais ou menos 40 milhões de chineses) e depois com a Revolução Cultural, que destruiu as universidades e todo o sistema de ensino, substituído pela banalidade do Livrinho Vermelho do Presidente Mao. Se recuperou depois, com a tecnologia do Ocidente, e graças à energia e à educação do seu povo já superou o Ocidente, na quarta ou na quinta revolução industrial. Agora tem um novo imperador, o primeiro depois de Mao, e não sabemos como evoluirá daqui para a frente.
        O Império britânico foi o mais extenso do mundo – superado em longevidade pelos impérios centrais e pelo império otomano – mas dominou a indústria, as finanças, a cultura do mundo durante praticamente dois séculos. Quando visitei a Inglaterra pré-Thatcher já parecia um país do Terceiro Mundo, inviabilizada pelas políticas erráticas do Labour e mesmo dos Tories. Deu trabalho para colocá-la um pouco nos eixos, mas voltou a ter primeiros-ministros medíocres, e não sei se tem algum futuro.
        O império francês torrou o dinheiro continental e aventuras coloniais, que só beneficiaram seus plutocratas, o que talvez tenha motivado Jean-Baptiste Duroselle a escrever "Tout Empire Perira". É isso.
        O império americano, só tem cem anos mas já parece ter se esgotado antes mesmo de Trump, como relatam Paul Kennedy, Robert Gordon e outros. Trump veio para afundar ainda mais uma democracia disfuncional e um sistema econômico meio errático.
        E o império russo?: czarista, soviético, agora neoczarista, sob Putin? Teve algum sucesso, a roubar terras dos vizinhos, como a Finlândia, os bálticos, os povos do Cáucaso e da Ásia central (a China imperial inclusive. Vladivostock, por exemplo).
Creio que chegou ao seu limite expansionista e vai declinar, demograficamente, economicamente, militarmente (mas vai demorar nesse último aspecto, que foi o que precipitou a sua implosão, no regime soviético).
        A Europa continental, a da UE, é apenas um meio império, e vai demorar para se converter em um império verdadeiro, talvez nunca. É um conjunto agradável para passeios românticos e boa gastronomia, mas estão cansados de guerras, e talvez não queiram assumir as responsabilidades de um verdadeiro império, como os americanos (envergonhados), os russos (doentiamente vocacionados à supremacia) e os chineses (querem ser hegemons bem comportados, inundar os outros com seus produtos e nunca mais sofrer humilhações pelos estrangeiros).
        Impérios são resilientes, mas em algum momento um líder desequilibrado perturba a sua marcha. Alguns podem ter verdadeiros debiloides ignorantes no comando de um país vibrante e acolhedor, como os EUA, mas também com muita gente ignorante ao ponto de ser seduzida por demagogos como o atual presidente.
        O Brasil já foi um "império", de araque, um gigante de pés de barro, teve alguns estadistas no seu comando, mas a maior parte dos dirigentes também foi singularmente medíocre. AInda não conseguimos produzir novos estadistas, e parece que vai demorar. Calculo mais uma ou duas gerações, mas nunca seremos um império, a não ser no divertimento e na corrupção.
        Mil desculpas pela conclusão decepcionante.
        Vamos nos arrastando em direção ao futuro, pois como disse Mário de Andrade um século atrás:
        "Progredir, progredimos um pouquinho
        Que o progresso também é uma fatalidade..."

        Que seja...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 23 de julho de 2025