Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
terça-feira, 14 de janeiro de 2020
Roger Scruton: Swimming Always Against the Tide - Theodore
terça-feira, 12 de maio de 2015
Reino Unido: uma eleicao que nao resolve os problemas fundamentais -Theodore Dalrymple
Eye on the News
“You’d better vote Tory too,” I said, “or you’ll be out of a job.”
“I’m voting Conservative,” she said.
“The Tories are the Conservatives,” said the doctor.
“I never knew that,” she said. “I always wondered who they were.”
I was immediately reminded of what Churchill once said: the best argument against democracy is a five-minute conversation with the average voter. How, I wondered, could someone born and bred in this country reach her early twenties and not know that the Tories were the Conservatives? How had she managed not to notice it? But then she said something that redeemed her a little: “I want to keep what we have, you never know with change, do you?”
In any case, she was not alone in her ignorance. It turned out that the pollsters, with nothing else to do but prognosticate, were completely wrong. They had predicted that Labour and the Conservatives would be neck and neck, but the Conservatives polled 6 percent more votes than Labour and won an unexpectedly outright majority in the House of Commons.
Why were the polls so wrong? One possible explanation is that people are reluctant to admit to third parties that they are going to vote Conservative, as if to do so were to admit a secret vice or to being actuated only by the most selfish motives. In other words, their reluctance is an indication of how far the Left has won the battle for the hearts and minds of at least a large section of the population, who do not believe that there can be any respectable arguments for conservatism. Not, of course, that the British Conservatives are genuinely conservative; they are merely less progressive than their opponents. The very term progressive causes a bias against conservatives, for who can be against progress? That real progress occurs largely by non-political means is not an idea that can be expressed in a slogan, while supposed progress by political means can easily be reduced to slogans. Moreover, since competitive politics is about the righting of wrongs and the addressing of complaint, any suggestion that some things should remain the same is easily portrayed as unfeeling complacency by the privileged.
In fact, the reelection of David Cameron, which in the past would have been a manifestation of stability, solves nothing of the crisis of political legitimacy in Britain (constitutional legitimacy is something else). With voter turnout of 66 percent and the British party system Balkanized, Cameron won reelection with the suffrage of 24.7 percent of the adult population. Even more startling was the fact that a vote for the Scottish Nationalists weighed nearly 150 times more heavily as far as representation in Parliament was concerned as did a vote for UKIP. (It took 25,974 votes to elect an SNP Member of Parliament, but 3,881,129 to elect a UKIP one.) A vote for the SNP weighed about 25 times more than a vote for the Greens. The SNP won 50 percent of the votes in Scotland but 95 percent of the seats. Clearly, we now live in an unrepresentative democracy.
For the SNP, it was a heads-I-win-tails-you-lose election. If Labour had won more seats than the Conservatives, but not an absolute majority (which was always very unlikely), the SNP would have been able to dictate policy or at least influence it strongly; if the Conservatives won, the SNP could claim that the U.K. government had no mandate or legitimacy in Scotland, and use the vote to emphasize the difference between England and Scotland, and perhaps as a further grievance.
Cameron’s problems are just beginning, and his triumph will be short-lived. He has promised a referendum on membership of the European Union, a promise that would be difficult even for Houdini to escape; and if it goes against membership, the Scots, who are Europhile but anti-English, might declare their independence and try to remain in the European Union (though it is by no means a foregone conclusion that the Union would have them). Nor would independence be without potential for creating deep divisions, bitterness, and conflict within Scotland itself, though the leadership of the SNP speaks the language of unanimity. The potential for chaos both north and south of the border is enormous.
One of Britain’s prevailing assets has been its political stability. But that stability has evaporated, probably for good—with potentially disastrous results for its financial sector, upon which it so strongly (though foolishly) depends. Terrible political problems have been conjured out of nothing except the ambition of politicians, and the country’s deeper problems—its low productivity, its abysmal cultural and educational levels—remain not only unanswered, but unremarked.
domingo, 15 de junho de 2014
O fenomeno Piketty como expressao da inveja - Theodore Dalrymple
O sucesso dos outros fomenta o ressentimento, especialmente o sucesso em uma área na qual você gostaria de ser bem-sucedido. Sempre que eu leio um trecho de prosa maravilhosa, eu experimento o prazer dessa leitura, é claro; mas ele, muito antes, mistura-se com a irritação e, por fim, com o ressentimento. Por que o meu semelhante é capaz de escrever algo mais elegante, mais perspicaz, mais poético e mais conciso do que eu? O que ele fez para merecer o seu talento? A sorte dos escritores de língua inglesa é que Charles Dickens, por exemplo, tinha muitos e graves defeitos, pois, caso contrário, a genialidade autoevidente e transcendente de alguns dos seus parágrafos os paralisaria, minando a sua vontade de pegar caneta e papel ou de mexer os dedos no teclado.
Como se costuma dizer nos romances russos, chega de filosofia. Vamos agora descer da atmosfera rarefeita da abstração e nos deslocar para a realidade sórdida de um fenômeno real — neste caso, o fenomenal sucesso de um livro chamado Capital no Século XXI, do francês Thomas Piketty. Ele está vendendo tão rápido que as impressoras não conseguem acompanhar a demanda. Não se encontra a obra nas livrarias, mesmo (nas palavras de Lane, o mordomo do personagem Algernon em The Importance of Being Earnest, de Oscar Wilde) com dinheiro vivo.
Isso é realmente impressionante, uma vez que Thomas Piketty não é Dan Brown, o qual vende tolices abertamente supersticiosas escritas em prosa abominável para os crédulos pós-religião. Não: o livro de Piketty é grande, com centenas de páginas, e está recheado de dados misteriosos, que agora temos de chamar de fatos. Felizmente, eu comprara uma cópia desse livro quando ele apareceu pela primeira vez na França; e, em razão da sua rápida ascensão ao status de ícone internacional, eu tenho a esperança de que a minha edição original seja, no momento oportuno, considerada uma preciosa relíquia sagrada com propriedades curativas.
Obviamente, ter comprado um livro e tê-lo lido não são a mesma coisa. Infelizmente, apesar do seu tamanho e do seu peso, eu o perdi. Mas eu o carregava comigo por um tempo, assim como, há muitos anos, quando era um estudante de medicina, eu carregava comigo um livro de patologia, na esperança de que eu aprenderia o seu conteúdo por meio de um processo de osmose através das capas. No entanto, concluí que tinha de abri-lo e aprender apenas o suficiente para passar nos exames. Desnecessário dizer, eu esqueci tudo desde então.
Eu não costumo escrever sobre livros que não li; e eu suponho que, em minha vida, devo ter analisado pelo menos uns 500 livros. Seria falsa modéstia negar que eu li todos eles, incluindo muitas vezes as notas de rodapé, bem como negar a minha solidariedade e a minha empatia com os autores, até mesmo com os autores de livros tão ruins que eu considerava apenas ético fazê-lo — e isso apesar do fato de que não é preciso comer o pote inteiro de manteiga para saber que ela está estragada.
Todavia, duas ideias da obra de Piketty parecem ter sido discutidas com maior vigor em todas as análises que li sobre o seu livro; assim, eu suponho que elas devem representar o cerne daquilo que ele escreveu.
A primeira ideia é a de que há, em relação ao valor do capital, uma tendência de longo prazo a aumentar mais rapidamente do que o ritmo de crescimento da economia como um todo; e, já que a maioria das pessoas depende, para a sua sobrevivência, do seu trabalho em vez do seu capital, a desigualdade de riqueza só pode aumentar, chegando ao ponto de se tornar social e politicamente insustentável. Isso pode ser colocado em termos malthusianos: o valor do capital aumenta geometricamente, ao passo que o valor do rendimento do trabalho aumenta aritmeticamente. Ou, de novo, em termos marxistas: "Em uma determinada fase de desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em conflito com as relações de produção existentes. (...) Em seguida, começa uma era de revolução social."
Mas Piketty não é um revolucionário; muito sensatamente, ele deseja evitar uma agitação violenta. Os meios através dos quais ele propõe isso é a sua segunda ideia: um imposto global sobre o capital — presumivelmente, para atingir realmente o seu desejado fim de uma maior igualdade, um imposto substancial.
Em primeiro lugar, analisemos a primeira ideia. Eu hesito em expor o meu próprio caso mais uma vez diante do público, mas alego a atenuação de que, pelo menos, trata-se de um assunto sobre o qual sou relativamente especialista. Como me prejudica o fato de que a proporção entre a riqueza de Bill Gates e a minha excede o quociente entre a minha riqueza e a de alguém que se encontra sob os cuidados do assistencialismo estatal? Eu me considero uma pessoa afortunada: eu nunca passei por quaisquer privações e dificuldades, pelo menos por nenhuma que não fosse a consequência do meu próprio comportamento ou das minhas próprias escolhas. Já fui pobre, mas não passei fome. Jamais sofri injustiça flagrante, exceto algumas detenções injustas em países da má fama (foi culpa minha tê-los visitado, embora, é claro, eu os tenha adorado).
A fortuna de Bill Gates só me prejudica se eu deixar o ácido da inveja e do ressentimento corroer a minha mente. Isso não significa dizer que algumas fortunas não possam ter sido adquiridas de maneira imoral e ilícita: por exemplo, as fortunas de muitos oligarcas russos. Há algo de errado com essas riquezas não porque elas são muito maiores do que a minha, mas sim porque elas foram adquiridas de forma imoral e ilícita. Não há dúvida de que existem muitas áreas cinzentas entre a legitimidade completamente branca e a escura negritude da desonestidade absoluta, mas as óbvias incertezas da vida devem ser suficientes para refrear e conter o nosso ressentimento.
Quanto ao imposto sobre o capital, Piketty está certo ao dizer que ele tem de ser global, pois, caso contrário, haveria fugas de capitais ou restrições locais muito severas sobre os movimentos de capitais — e isso não seria economicamente produtivo ou propício à igualdade. Um imposto global sobre o capital, porém, exigiria uma autoridade mundial para estabelecê-lo, arrecadá-lo e impingi-lo — com efeito, uma espécie de União Europeia gigante. Sinto-me feliz porque não estarei vivo para ver isso ocorrer, mas eu duvido que alguém, nascido ou não nascido, chegará a ver isso acontecer, pelo simples motivo de que os chefes supremos desse governo mundial precisariam de um paraíso fiscal no qual colocar o seu próprio dinheiro.
Eu suspeito que o enorme sucesso desse livro de Piketty seja uma homenagem ao nível de ressentimento que impera no mundo — e não o resultado de uma sede por conhecimento, especialmente entre aqueles indivíduos suficientemente ricos para comprá-lo, usando-o, em grande medida, como um reles acessório. A verdade, como Edward Gibbon nos ensina, raramente encontra uma recepção tão favorável no mundo. Eu posso estar errado, pois ainda não li a obra. Entretanto, posso invejar o seu sucesso.
Leia também:
Thomas Piketty e seus dados improváveis
O que houve com os ricaços da década de 1980?
Algumas frases aterradoras contidas no livro de Thomas Piketty
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
O problema da (i)legalidade das drogas - The City Journal
E os que causarem danos à sociedade vão ser multados e podem ir para a cadeia, como os criminosos do trânsito?
Seria preciso debater todas essas questões.
Paulo Roberto de Almeida
Theodore Dalrymple is a contributing editor of City Journal and the Dietrich Weismann Fellow at the Manhattan Institute.