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domingo, 30 de novembro de 2014

Miséria do Capital no Século 21 - Paulo Roberto de Almeida



Miséria do Capital no Século 21
Breve refutação não estatística de novas formas de criação da miséria

Paulo Roberto de Almeida


Economistas são seres simplistas, por definição. Eles costumam basear suas equações sobre a criação de renda e riqueza a partir de três fatores produtivos básicos: trabalho, capital e recursos naturais. Muitos outros economistas já tentaram introduzir nessas equações um outro fator produtivo: o capital humano. Mas, por diversos motivos, este acréscimo ainda não se tornou de uso comum na ciência econômica. Em todo caso, a riqueza das pessoas (Ps) costuma ser medida sob duas formas: em fluxos reais de renda, que é aquela que deriva de seu trabalho (RT), e em estoque da riqueza acumulada do trabalho, que costuma ser chamada de patrimônio (RP), esta podendo ser imobilizada (imóveis, iates, carros, etc.), ou ser utilizada para a criação de novas riquezas, sob a forma de ativos líquidos, e que podem ser chamadas de rendas do capital (RC).
É muito importante distinguir a dinâmica populacional – uma vez que criação de renda e riqueza depende das pessoas – dos níveis de renda (fluxos) e riqueza (estoques), que variam muito de um país a outro. A despeito de que o capital (bastante) e as pessoas (menos) possam viajar pelo mundo, não existe uma autoridade global e uma única fonte de regulação dos fluxos e dos estoques em posse das pessoas, e sim Estados nacionais (ENs) com jurisdições próprias. As filosofias em vigor na história do mundo moderno podem ser divididas, grosso modo, entre o liberalismo econômico, que acha que a criação de renda e riqueza deve ficar sob a competência das próprias pessoas (Ps), com um mínimo de interferência dos ENs, e o marxismo, que acha que ENs devem regular a RT e RP em benefício de todos, transferindo fluxos de renda e estoques de patrimônio entre as Ps, segundo critérios determinados por políticos e burocratas desses ENs.
 Existem neste mundo êmulos de Marx, em todas as partes, para todos os gostos e para todas as finalidades, alguns deles até mais espertos do que a maioria dos crentes, aproveitando-se da adesão de muitos nas teorias do capital (e do capitalismo) para aumentar o seu próprio capital às custas dos muito crentes nas antigas teorias do capital, que diziam que o capital só podia aumentar às custas do trabalho dos que dependiam apenas do seu trabalho individual. Esta separação absoluta dos partidários da teoria do capital – que na verdade é uma teoria do valor trabalho, a única coisa errada aceita por um liberal clássico como Adam Smith – não leva em conta o chamado capital humano, que os próprios economistas penam a integrar em suas equações. Em todo caso, eles sabem medir bem o crescimento da renda e riqueza dos ENs, usando para isso níveis monetários de valor agregado (ou PIB). Esse PIB se distribui entre as Ps, segundo uma dinâmica populacional e econômica, e para isso se mede o PIB per capita. Os êmulos de Marx acham que os ENs deveriam taxar mais RP-RC para distribuir entre os que possuem apenas RT, de maneira a tornar o mundo mais igualitário, ou menos desigual.
O problema todo é que essa recomendação marxista não deriva de nenhuma análise econômica sobre a criação de renda e riqueza, sendo apenas e tão somente uma recomendação política, baseada numa filosofia do igualitarismo, que é a mesma que vê no capital a fonte de todos os problemas humanos, e que considera que a criação de riqueza só se dá pela via do “valor-trabalho”. Essa filosofia orienta os ENs a avançarem sobre RP-RC, ou seja sobre o estoque de riqueza das poucas Ps muito ricas (que por definição são sempre em menor número), para distribuí-la entre as Ps que só dispõem da RT, ou seja dos fluxos de pagamentos derivados de seu trabalho. Ela tem tido sucesso ao redor do mundo, uma vez que pessoas dispondo de RT são sempre em maior número, formando a larga maioria dos cidadãos votantes nas modernas democracias de mercado.
O problema desse tipo de recomendação é que ela se aproxima do modelo de sociedade recomendada pelos marxistas, que é aquela na qual não existiria renda do capital, e nenhuma riqueza acumulada (RP), na qual todas as rendas do trabalho (RT) seriam igualitária e equitativamente divididas pelo EN. Não é preciso aqui grandes digressões, com base em equações econômicas ou em séries estatísticas históricas de renda e de riqueza, para constatar que esse tipo de sociedade não funcionou, e que os únicos exemplos reais na história – o socialismo de tipo soviético e seus êmulos ao redor do mundo – foram notórios fracassos econômicos na criação de renda e riqueza, só conseguindo se manter à custa de enorme repressão política, que produziu grande infelicidade humana (total falta de liberdade, e até mesmo alguns milhões de mortos).
Um modelo mais “ameno” desse tipo de igualitarismo radical – mas falso, uma vez que os que controlam o EN se apropriam de uma parte importante das rendas do “valor-trabalho” – é o socialismo moderado dos regimes de tipo socialdemocrata, em vigor em diversas democracias modernas de mercado, basicamente na Europa, com contrafações disso no resto do mundo (inclusive nos Estados Unidos e em diversos países da América Latina, com alguns poucos exemplos na Ásia). Uma consulta às estatísticas correntes mais frequentes relativas à criação de renda e riqueza nas últimas décadas (dados da OCDE, por exemplo) demonstra que o crescimento de todas as formas de renda e riqueza (RT, RP e RC) foi maior naqueles países onde foi menor a apropriação de fluxos e estoques dessas formas de renda e riqueza pelos próprios ENs. Não se trata aqui de opinião ou filosofia política, mas uma constatação simples, e direta, a partir de uma correlação entre níveis de carga fiscal dos países e suas respectivas taxas de crescimento do PIB (e do PIB per capita, e isso independentemente da distribuição social dessas formas de riqueza). Maior taxação, menor crescimento, simples assim.
Responda sinceramente: você é a favor de um sistema que permita maior e mais rápida criação de renda e riqueza – independentemente de como esses fluxos e estoques são distribuídos – ou prefere um que pretende distribuir renda, riqueza e patrimônio de forma igualitária, por políticos e burocratas que pretendem saber mais do que você qual a melhor forma de distribuição social dessas rendas? Observe que os países mais livres economicamente, que por acaso são mais desiguais, são aqueles que também crescem mais – e que portanto aumentam todas as formas de riqueza – e que os mais estagnados econômica e socialmente foram e são aqueles que mais tenderam ao modelo marxista de organização social. Mais uma vez, não se trata aqui de opinião ou de filosofia política, mas apenas uma constatação direta dos dados da realidade (e a ex-URSS, e as atuais Cuba e Coreia do Norte estão aí para provar isso mesmo). Na vertente mais moderada do modelo marxista, a Europa ocidental nos prova como é possível crescer menos – e portanto distribuir ou acumular menos – com base em políticas de tipo distributiva inspiradas no igualitarismo filosófico da “teoria do valor-trabalho”.
Isso nos traz de volta ao “capital do século 21”, proposto por um economista que acaba de provar que a desigualdade vem aumentando no mundo, baseada nos fluxos e estoques de rendimentos obtidos pelo capital (RP e RC) sobre os simples rendimentos do trabalho (RT). Ele acha que governos devem taxar mais a RP e a RC dos muito ricos, pois o problema, para ele, é a existência de poucas pessoas muito ricas – e que tendem a enriquecer cada vez mais –, não a existência de um imenso contingente de pobres, ou de pessoas moderadamente ricas (no caso da classe média). Ele prefere empobrecer os ricos, em lugar de utilizar sua imensa capacidade analítica para descobrir formas de enriquecer os pobres. Pela experiência visual que já tivemos no século 20 em torno desse tipo de empreendimento, acredito que será mais um desastre econômico e social à espreita, do que propriamente uma forma de criar o verdadeiro capital do século 21.

Hartford, 30 de novembro de  2014.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Um exercício de "despikettyzacao" do mundo: minha contribuicao - Paulo Roberto de Almeida

Recebo, do grupo de estudos liberais com quem me correspondo no cerrado central, a seguinte mensagem:

On Oct 7, 2014, at 16:18, Pedro Magalhães Batista <notification+zj4ot_90fj46@facebookmail.com> wrote:
Pedro Magalhães Batista posted in Grupo de Estudos Lobos da Capital   

4:18pm Oct 7
Lobos, nesta sexta-feira, o professor Thomas Piketty estará na minha universidade para falar um pouco sobre o seu livro "O Capital no Século XXI".
Gostaria de saber se há algo que vocês têm interesse de perguntar para ele? Estou separando alguns questionamento para levar ao seminário e acho que posso incluir mais algumas perguntas
.

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Em resposta, mandei as seguintes perguntas e questões ao homem que pretende tornar o mundo mais igual, e mais pobre:

A primeira grande pergunta é este: por que ele agrupou todas as demais formas de ativos, tangíveis e intangíveis, que não são remuneração do trabalho, sob a bandeira do "capital", o que é uma categoria muito ampla, vaga e genérica para acolher as diferentes formas de riqueza que foram sendo criadas, acumuladas, aumentadas ao longo do tempo?
    Pessoalmente, considero esse tipo de prática inapropriada e muito pouco consistente, uma vez que não existe uma única categoria, o capital, capaz de abarcar, integrar, corporificar, todas as formas de riqueza possíveis. Acho isso metodologicamente questionável e somente aceitável para aqueles, marxistas, marxianos e marcianos, que consideram ser possível transformar esse monstro metafísico que se chama "capital", esse superlativo conceitual - que cai muito bem entre os acadêmicos, mas que não tem maior significado econômico, pelo menos do ponto de vista microeconômico - em uma única entidade, como se fosse a Santíssima Trindade.
    O segundo grande problema que eu vejo com a anályse "pikettyana" é que ele considera esse monstro metafísico do capital algo como um ente planando sobre a superfície das sociedades, como se ele fosse imanente a certas classes abastadas, independentemente de mudanças geracionais, partição, repartição, adjunção de riquezas de fontes diversas e de diversas naturezas, ou seja, ele considera que o capital gruda como cola nos estratos mais altos e que ele sempre estará ali, do contrário não daria para falar em concentração, ou seja, aumento do Gini.
    O terceiro grande problema, mas aqui não tem nada a ver com a análise econômica, e sim totalmente com um projeto político, é que ele acha que é preciso um imposto para taxar as grandes fortunas, com vistas à redistribuição do "excedente" -- o que só poderia ser feito pelo Estado obviamente -- para diminuir o Gini, e portanto tornar a sociedade mais igualitária. Ele acha que a sociedade ficaria melhor com isso, o que eu acho uma grande bobagem socialista, uma mesquinharia à la Robin Hood, que não resolve nenhum problema de produtividade social, e tampouco tornará melhor a situação dos mais pobres (que são infinitamente em maior número do que o 1% de megabilionários). A riqueza se esvairia rapidamente, sem criar novas riquezas para a sociedade.
    Essa vontade de querer reduzir a riqueza dos superricos, em lugar de reduzir modestamente a pobreza dos superpobres é um projeto que só pode diminuir a dinâmica de crescimento e criar um gigantesco movimento de evasão fiscal que tornará ainda mais problemática a cooperação internacional nesse terrenos.
    Esses engenheiros sociais -- sempre com a riqueza dos outros -- acabam produzindo mais problemas novos do que resolvendo os problemas velhos.
    Para mim não existe NENHUM problema em que o mundo tenha meia dúzia de super-mega-hiper-trilionários, isso é muito bom, pois incita centenas de outros a também tentarem chegar lá. O problema é o grande número de pobres.
    Deveria um cérebro como o dele estar empenhado em fazer os pobres criar riquezas, não em redistribuir a riqueza dos ricos.
    Estas são as mensagens que eu teria para ele.
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Paulo Roberto de Almeida

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Guinness da NAO-leitura: o mais importante livro NAO lido do seculo XXI: despikettyzando as leituras...

Gozação, claro, mas não menos real: o livro MAIS IMPORTANTE do século XXI, como se apressaram em caracterizar esse tijolo de 700 páginas os distributivistas afoitos, é também, segundo essa pesquisa totalmente não-científica, o livro MAIS NÃO LIDO do mesmo século.
O que já é alguma coisa, reconheçamos: muita gente comprou o livro, encheu a conta bancária do autor de royalties exagerados, e deixou o livro nas primeiras trinta páginas.
Acho que vão ter de constituir um comitê especial de trituração de invendidos apenas para esse livro...
Como apontado na matéria abaixo, a maior parte das pessoas que falaram sobre o livro não o tinha lido, o que também é o caso deste blogueiro.
Mas eu já conhecia as teses do autor desde pelo menos dois anos atrás, pois acompanho a produção dos intelectuais franceses, e estava dando aulas em Paris em 2012, quando as primeiras matérias a respeito saíram em forma de artigos analíticos (vou procurar no meu computador o que guardei a respeito sobre o autor e suas teses). Não antecipei, como muitos, o "sucesso" do livro quando ocorreu a edição americana. Aí, fui ler numa livraria, como sempre faço antes de eventualmente comprar, o tal livro. Fiquei bem uma hora e meia em cima do diagnóstico (razoável) e das prescrições (todas ruins) do autor. Talvez eu escreva algo a respeito, mas já venho fazendo comentários seguidos neste blog, introduzindo todas as matérias que julgo interessantes a respeito das teses do autor. Como já antecipado aqui, depois das glórias recebidas pelo autor, cabe "despikettyzar" as mentalidades, contaminadas pelo ardor distributivista-estatal do francês.
Acho que já está chegando...
Paulo Roberto de Almeida

Not Many People Got Past Page 26 Of Piketty's Book

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PIKETTY
Thomas Piketty's "Capital in the Twenty-First Century," a 700-page economic tome on the dangers of rising income inequality, is the summer's most unread book, according to a totally non-scientific analysis conducted by a mathematics professor and published by the Wall Street Journal.
Professor Jordan Ellenberg looked at the five most popular book passages in a number of current best-sellers, according to data from Amazon Kindle readers. He determined the average page number readers highlighted and divided that by the total number of pages in the book. A high number, according to Ellenberg, means that readers are reading until the end. Donna Tartt's Pulitzer Prize-winning blockbuster, The Goldfinch, for example, earned a score of 98.5 percent on the index.
Piketty's book scored a dismal 2.4 percent. The latest of the five most popular highlights in Piketty's book is located on page 26, according to the Ellenberg.
When "Capital" was first translated from French into English earlier this year, it shot up to number one on Amazon's best-seller list. The print book briefly sold out on the site.
"Piketty mania" went totally viral. Despite the book's fame, it was pretty clear all along that a lot of the people talking about the book hadn't read it.
The French economist is apparently OK with that.
“The problem with all the publicity is you have people who write about the book who apparently have not opened it,” Piketty said in June on Bloomberg TV’s “Countdown.” “That’s fine with me, the objective was to promote debate.”
That objective has clearly been achieved. In May, the Financial Times published a harsh rebuttal to Piketty's work, saying his data was manipulated and full of mistakes. In response, a bunch of the world's most renowned economists spent Memorial Day weekend churning out takedowns of the FT's takedown of Piketty.
If you, like the author of this post, haven't yet finished Piketty's tome, the short of it is that he analyzed centuries of economic data to illustrate how modern-day capitalism makes the rich richer much faster than wages grow for everybody else and if governments don't step in to intervene, the future looks pretty bleak. There are a bunch of good guides to the book online. You can also watch HuffPost's interview with the author here.

Um pouco mais de "despikettyzacao" das mentalidades: Stephen Kanitz entrevista Roberto Carlos

Mais pelo lado da ironia, mas não menos correto.
Os "distributivistas" estão excitadissimos com o francês socialista, e se suas políticas forem implementadas, o mundo vai tornar-se um lugar mais pobre, pois teremos menos milionários e megabilionários, e menos dinheiro para ser investido, poupado, distribuído voluntariamente para fins beneficientes.
Essa gente adora o Estado, e por isso o mundo é um lugar tão pobre.
Reparem bem: os países que menos taxam os ricos são os mais ricos e mais igualitários.
Os que pretendem taxar os "capitalistas" acabam tornando seus países mais pobres.
Paulo Roberto de Almeida

Neste link: http://blog.kanitz.com.br/piketty-roberto-carlos/

Piketty Entrevista Roberto Carlos

 
 
       
Nós é que tornamos Roberto Carlos rico. Não foi ele que “ficou” rico, como alega Piketty.


   




Piketty acha que os 40 milhões de reais ganhos e poupados por Roberto Carlos ao longo de sua vida são injustos. “São uma ameaça à democracia e meritocracia, página 1 de “O Capital”, por Thomas Piketty.
Por outro lado, Roberto Carlos acha que ele merece esta sua poupança porque veio da compra de 40 milhões de discos feita por brasileiros que adoram as suas músicas. 
Nós é que tornamos Roberto Carlos rico. Não foi ele que “ficou” rico, como alega Piketty. 
E pior, Roberto não gastou tudo que ganhou em mulheres, sexo e rock and roll. Ele sequer gastou este dinheiro, que continua poupado. 
Piketty quer tirar este dinheiro de Roberto Carlos, picadinho ano a ano entre 5% a 10%. Usando da violência do Estado e do poder “democrático” dos 99% que votaram leis que destroem literalmente os 1%. 
Lembre-se caro leitor que, ato contínuo, os 98% vão votar para acabar com os novos 1%. E os 97% farão o mesmo! Assim por diante, se Piketty for continuamente sendo entrevistado. 
Thomas Piketty: Roberto Carlos, eu gostaria de saber se você doaria 5% a 10% de seu patrimônio todo ano voluntariamente para o Estado gastar, via economistas como eu, em políticas públicas de nossa escolha e não sua, nas nossas ideias keynesianas para erradicar a pobreza neste país. 
Roberto Carlos: Honestamente, não. 
Thomas Piketty: Não, por quê? 
Roberto Carlos: Mostre-me estes pobres que vocês vão ajudar. Quero conhecê-los primeiro. Talvez sabendo dos problemas deles eu doe diretamente, sem intermediários. Talvez possa ajudá-los de forma mais eficiente, o que me custaria menos e me daria muito mais prazer, reconhecimento, e talvez agradecimento. 
Thomas Piketty: Isto dá para fazer porque o governo é um caixa único. Seu dinheiro entra no bolo. Você não pode determinar aonde ele irá, se irá para os programas que tenham mais mérito, como aqueles escolhidos pelo Prêmio Bem Eficiente do meu algoz Stephen Kanitz. Apesar de ter dito na primeira página de meu livro que esta renda não deveria estar concentrada, ela pode sim ser concentrada na mão do Estado, que eu e meus colegas economistas pretendemos continuar controlando. 
Roberto Carlos: E se eu recusar a pagar estes 5% a 10% de imposto sobre o patrimônio todo ano? 
Piketty: Você irá preso, por crime fiscal. 
Roberto Carlos: Eu prezo a minha liberdade, e se eu fugir da prisão? 
Piketty: Você corre o risco de ser morto pelos guardas do presídio que têm instrução de impedir fugas e rebeliões. 
Roberto Carlos: Então você pretende tirar este dinheiro de mim usando a violência? 
Piketty: Exatamente, esta é a única prerrogativa de um Estado, o uso da violência.
Agora vejam como eu entrevistaria Roberto Carlos para conseguir a mesma coisa. Mas eu nunca fui entrevistado pela Veja, Estadão e outros que entrevistaram jornalistas e economistas, para disseminar estas ideias. 
Stephen Kanitz: Roberto Carlos, eu sei que você já fez 40 milhões de brasileiros felizes com sua música. Fico feliz com isto, ao contrário de Piketty e os marxistas. 
Fico triste que foram tão poucos os músicos que seguiram seus passos, criando músicas de amor, religião e esperança. 
Fico feliz também que você poupou este dinheiro, ao contrário de tantos outros artistas brasileiros, como alguns que gastaram sua fortuna consumindo drogas caríssimas. 
Você é 10. 
Roberto Carlos, eu só queria que no final da sua vida você tornasse mais feliz uma parcela da população que você nunca alcançou, e que não foram tocados pela sua música. 
Roberto Carlos: Quem eu nunca alcancei com minha música? Que eu saiba minha música foi e é tocada nos quatro cantos do país. 
Stephen Kanitz: Os surdos do Brasil. Eles fazem parte dos 10% das pessoas que precisam da nossa ajuda. 
Como os cegos, os tetraplégicos, os doentes mentais, os órfãos, os portadores de Huntington, as meninas abusadas sexualmente pelos seus pais. 
Como você sabe, o governo brasileiro se interessa pelos sem terra, homens fortes e parrudos que têm mais condições de se virar sozinhos que tetraplégicos e cegos. 
Nossos jornalistas já entrevistaram João Stedile dezenas de vezes, mas não conhecem o nome de uma entidade sequer que cuida dos surdos. 
Roberto Carlos: Caramba é mesmo, nunca li nada disso nos jornais sobre as “políticas públicas” privadas que cuidam desta gente. 
E quanto você quer tirar de mim? Acabo de ser entrevistado pelo economista Thomas Piketty e parece que vocês querem tudo. 
Stephen Kanitz: Quanto você quiser. Você decide. 
Por isto quero te levar a algumas das melhores e mais eficientes entidades que fazem o bem, e que eu pesquisei por 10 anos e escolhia todo ano no Prêmio Bem Eficiente. 
Roberto Carlos: Prêmio Bem Eficiente? Nunca li sobre o assunto. Elas são sérias? 
Stephen Kanitz: O prêmio existiu por 10 anos, e nenhum jornalista jamais presenciou as lindas cerimônias, nem os jornalistas que eu conhecia da Revista Exame e da Veja. 
Posso garantir que estas 50 premiadas por ano eram sérias, muito mais do que o governo. 
Eu me dediquei por 10 anos a identificar as entidades que os ricos podiam doar sem susto. Piketty, ao contrário, dedicou seus últimos 10 anos a pesquisar os ricos que ele pretende matar se não pagarem o imposto patrimonial pelo uso da violência do Estado. 
Roberto Carlos: Mas você ainda não disse exatamente quanto você quer tirar de mim. 
Stephen Kanitz: Sem o uso da violência, outras pessoas como eu trabalhando desde 1919 nos Estados Unidos conseguiram que os ricos como Warren Buffet e Bill Gates doassem 99% da sua poupança. 
Ao contrário de Thomas Piketty que quer 5% a 10% ao ano, absolutamente inviável, que provavelmente será de 2% como na lei do neoliberal Fernando Henrique Cardoso. 
Isto levará 50 anos para conseguir a mesma coisa. 
E eu não pretendo usar a violência sobre você Roberto Carlos, mas simplesmente informação. Você vai descobrir pelo site filantropia.org, que eu também criei e nunca foi noticiado, que doar é um raro prazer. Muito maior que pagar impostos e nunca saber como foram gastos pela nova classe social, os kleptocratas. 
Pelo uso da informação que nossos intelectuais e jornalistas negaram a vocês ricos. Tanto é que o Prêmio Bem Eficiente morreu por falta de aprovação intelectual. 
E pretendo criar um clima que valoriza os 1% que nos encantam com suas músicas, ideias, produtos inovadores, e que poupam 90% do que ganham. Ao invés de considerar você, Roberto Carlos, um parasita social, como faz o economista Thomas Piketty nas 900 páginas do seu livro e a maioria dos intelectuais do Brasil nas suas 90.000 páginas de teses e críticas sociais. 
Algo para se pensar.

domingo, 29 de junho de 2014

As “descobertas” de Piketty estao invertidas - George Reisman

As “descobertas” de Piketty estão invertidas
Instituto Ludwig Von Mises Brasil, sexta-feira, 27 de junho de 2014

 

Turning_Piketty_capitalismo.jpgThomas Piketty, um professor neomarxista francês, escreveu um livro de quase 700 páginas, publicado pela Harvard University Press.  Seu título é Capital no Século XXI, em homenagem a Das Capital, obra de Karl Marx escrita no século XIX.  Foi recebido com aplausos delirantes da esquerda intelectual e já consta nas listas de mais vendidos do The New York Times e da Amazon.
Embora seu livro seja ostensivamente dedicado ao estudo do capital e de sua taxa de retorno,Piketty aborda o assunto sem aparentemente ter lido uma única página de Ludwig von Mises ou de Eugen von Böhm-Bawerk, os dois principais teóricos deste assunto. Não há uma única referência a qualquer um destes indivíduos em seu livro. Existem, no entanto, setenta referências a Karl Marx.
Em seu livro, Piketty argumenta que a poupança e a acumulação de capital feita pelos capitalistas geram apenas a redução dos salários dos trabalhadores.  Segundo Piketty, o capital acumulado não tem nenhuma ligação com o aumento da produção; o capital acumulado em nada contribui para o aumento da produção.  Tudo o que ele faz é, supostamente, aumentar a fatia da renda nacional que vai para os lucros ao mesmo tempo em que reduz, de maneira equivalente, a fatia que vai para os salários dos trabalhadores.  
Logo, dado que o capital acumulado não gera nenhuma produção adicional, o efeito de uma mudança nestas duas fatias é uma correspondente mudança em termos absolutos — ou seja, um aumento nos lucros reais dos capitalistas e uma diminuição nos salários reais dos trabalhadores.
Para evitar esta infindável e destrutiva acumulação de capital, bem como sua consequente "espiral de desigualdade", Piketty defende um imposto de renda progressivo, cuja alíquota pode chegar a 80% "sobre rendas acima de US$500.000 ou US$1 milhão por ano", acompanhado por um imposto progressivo que incide diretamente sobre o próprio capital acumulado, cuja alíquota pode chegar a 10% ao ano.
As alegações de Piketty sobre as fatias da renda nacional que vão para os salários dos trabalhadores e para os lucros dos capitalistas podem ser refutadas simplesmente ao imaginarmos as consequências de um aumento na poupança e nos investimentos dos capitalistas, e então observarmos as consequências disso, tanto nos salários pagos quanto na quantidade de lucro no sistema econômico.  Será possível observar que os salários pagos necessariamente aumentarão e a quantidade de lucro necessariamente diminuirá, resultados diametralmente opostos às alegações de Piketty.
Assim, suponha que, inicialmente, a quantidade total de lucro no sistema econômico seja de 200 unidades de dinheiro.  Suponha também que o capital acumulado no sistema econômico seja de 2.000 unidades de dinheiro.  Consequentemente, a taxa média inicial de lucro é de 10%.
E, finalmente, suponha que os capitalistas, que até agora vêm consumindo seus 200 de lucro, decidam poupar e investir metade deste lucro de 200.  Eles, portanto, passam a fazer agora um gasto adicional com bens capitais e com mão-de-obra no valor de 100.
Muito bem.  Qualquer fatia destes 100 que seja usada para pagamentos de salários irá necessariamenteaumentar o total de salários pagos no sistema econômico.  Ao mesmo tempo, o gasto adicional de 100 com bens capitais e com mão-de-obra representa um acréscimo de 100 aos custos agregados do sistema produtivo, custos esses que, por uma mera questão de contabilidade, terão de ser deduzidos das receitas, desta forma reduzindode maneira equivalente os lucros agregados.
Esse aumento nos custos pode ocorrer imediatamente ou ao longo de muitos anos, dependendo de em quê estes 100 serão gastos.  Em um extremo, se eles forem gastos inteiramente com itens que não representam investimentos — como, por exemplo, despesas administrativas —, eles aparecerão nos balancetes imediatamente como custos adicionais.  
Em outro extremo, se eles forem gastos inteiramente em investimentos em bens de capital — como, por exemplo, a construção de fábricas ou de instalações (ativos) cuja vida depreciável seja de quarenta anos —, eles levarão quarenta anos para ser computados integralmente como custos adicionais equivalentes de produção.
De uma maneira ou de outra, estes 100 aparecerão como custos adicionais equivalentes e, portanto, reduzirãode maneira equivalente a quantidade de lucro no sistema econômico.
Isso é regra contábil pura, algo que aparentemente o professor desconhece.
Assim, as tão reverenciadas "descobertas" de Piketty estão, na realidade, invertidas. A poupança e os investimentos dos capitalistas — que aumentam a proporção entre capital acumulado e renda — aumentam a fatia da renda nacional que vai para os salários dos trabalhadores e diminui a fatia que vai para os lucros.
No que mais, essa maior oferta de bens de capital — resultante de uma maior acumulação de capital, possibilitada por mais poupança e mais investimentos — faz aumentar a produtividade da mão-de-obra eaumentar o total de bens e serviços que podem ser produzidos, incluindo uma oferta ainda maior de bens de capital.
Por outro lado, a tributação desta poupança e deste capital acumulado — que é o que defende Piketty — irá gerar efeitos exatamente opostos: menos investimentos, menos salários, menos produção, mais escassez de bens e serviços, mais carestia.
O programa de Piketty é um programa de total destruição econômica, bem ao gosto de seu mentor do século XIX. O mundo e, acima de tudo, os assalariados do mundo necessitam é da abolição de impostos e de regulamentações que obstruem o acúmulo de capital e o aumento da produção.  
As bases sólidas para um aumento no padrão de vida geral e, mais especificamente, nos salários reais são a acumulação de capital e o aumento da produção, e não o igualitarismo e suas teorias e programas insensatos (quando não homicidas).  Tributação e confisco de renda geram apenas prolongamento da escassez, sendo positivos apenas para os burocratas que comandam esse confisco.
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Leia todos os nossos artigos sobre Piketty
George Reisman é Ph.D e autor de Capitalism: A Treatise on Economics. (Uma réplica em PDF do livro completo pode ser baixada para o disco rígido do leitor se ele simplesmente clicar no título do livro e salvar o arquivo). Ele é professor emérito da economia da Pepperdine University. Seu website: www.capitalism.net. Seu blog georgereismansblog.blogspot.com.