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segunda-feira, 7 de julho de 2014

Guinness da NAO-leitura: o mais importante livro NAO lido do seculo XXI: despikettyzando as leituras...

Gozação, claro, mas não menos real: o livro MAIS IMPORTANTE do século XXI, como se apressaram em caracterizar esse tijolo de 700 páginas os distributivistas afoitos, é também, segundo essa pesquisa totalmente não-científica, o livro MAIS NÃO LIDO do mesmo século.
O que já é alguma coisa, reconheçamos: muita gente comprou o livro, encheu a conta bancária do autor de royalties exagerados, e deixou o livro nas primeiras trinta páginas.
Acho que vão ter de constituir um comitê especial de trituração de invendidos apenas para esse livro...
Como apontado na matéria abaixo, a maior parte das pessoas que falaram sobre o livro não o tinha lido, o que também é o caso deste blogueiro.
Mas eu já conhecia as teses do autor desde pelo menos dois anos atrás, pois acompanho a produção dos intelectuais franceses, e estava dando aulas em Paris em 2012, quando as primeiras matérias a respeito saíram em forma de artigos analíticos (vou procurar no meu computador o que guardei a respeito sobre o autor e suas teses). Não antecipei, como muitos, o "sucesso" do livro quando ocorreu a edição americana. Aí, fui ler numa livraria, como sempre faço antes de eventualmente comprar, o tal livro. Fiquei bem uma hora e meia em cima do diagnóstico (razoável) e das prescrições (todas ruins) do autor. Talvez eu escreva algo a respeito, mas já venho fazendo comentários seguidos neste blog, introduzindo todas as matérias que julgo interessantes a respeito das teses do autor. Como já antecipado aqui, depois das glórias recebidas pelo autor, cabe "despikettyzar" as mentalidades, contaminadas pelo ardor distributivista-estatal do francês.
Acho que já está chegando...
Paulo Roberto de Almeida

Not Many People Got Past Page 26 Of Piketty's Book

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PIKETTY
Thomas Piketty's "Capital in the Twenty-First Century," a 700-page economic tome on the dangers of rising income inequality, is the summer's most unread book, according to a totally non-scientific analysis conducted by a mathematics professor and published by the Wall Street Journal.
Professor Jordan Ellenberg looked at the five most popular book passages in a number of current best-sellers, according to data from Amazon Kindle readers. He determined the average page number readers highlighted and divided that by the total number of pages in the book. A high number, according to Ellenberg, means that readers are reading until the end. Donna Tartt's Pulitzer Prize-winning blockbuster, The Goldfinch, for example, earned a score of 98.5 percent on the index.
Piketty's book scored a dismal 2.4 percent. The latest of the five most popular highlights in Piketty's book is located on page 26, according to the Ellenberg.
When "Capital" was first translated from French into English earlier this year, it shot up to number one on Amazon's best-seller list. The print book briefly sold out on the site.
"Piketty mania" went totally viral. Despite the book's fame, it was pretty clear all along that a lot of the people talking about the book hadn't read it.
The French economist is apparently OK with that.
“The problem with all the publicity is you have people who write about the book who apparently have not opened it,” Piketty said in June on Bloomberg TV’s “Countdown.” “That’s fine with me, the objective was to promote debate.”
That objective has clearly been achieved. In May, the Financial Times published a harsh rebuttal to Piketty's work, saying his data was manipulated and full of mistakes. In response, a bunch of the world's most renowned economists spent Memorial Day weekend churning out takedowns of the FT's takedown of Piketty.
If you, like the author of this post, haven't yet finished Piketty's tome, the short of it is that he analyzed centuries of economic data to illustrate how modern-day capitalism makes the rich richer much faster than wages grow for everybody else and if governments don't step in to intervene, the future looks pretty bleak. There are a bunch of good guides to the book online. You can also watch HuffPost's interview with the author here.

Um pouco mais de "despikettyzacao" das mentalidades: Stephen Kanitz entrevista Roberto Carlos

Mais pelo lado da ironia, mas não menos correto.
Os "distributivistas" estão excitadissimos com o francês socialista, e se suas políticas forem implementadas, o mundo vai tornar-se um lugar mais pobre, pois teremos menos milionários e megabilionários, e menos dinheiro para ser investido, poupado, distribuído voluntariamente para fins beneficientes.
Essa gente adora o Estado, e por isso o mundo é um lugar tão pobre.
Reparem bem: os países que menos taxam os ricos são os mais ricos e mais igualitários.
Os que pretendem taxar os "capitalistas" acabam tornando seus países mais pobres.
Paulo Roberto de Almeida

Neste link: http://blog.kanitz.com.br/piketty-roberto-carlos/

Piketty Entrevista Roberto Carlos

 
 
       
Nós é que tornamos Roberto Carlos rico. Não foi ele que “ficou” rico, como alega Piketty.


   




Piketty acha que os 40 milhões de reais ganhos e poupados por Roberto Carlos ao longo de sua vida são injustos. “São uma ameaça à democracia e meritocracia, página 1 de “O Capital”, por Thomas Piketty.
Por outro lado, Roberto Carlos acha que ele merece esta sua poupança porque veio da compra de 40 milhões de discos feita por brasileiros que adoram as suas músicas. 
Nós é que tornamos Roberto Carlos rico. Não foi ele que “ficou” rico, como alega Piketty. 
E pior, Roberto não gastou tudo que ganhou em mulheres, sexo e rock and roll. Ele sequer gastou este dinheiro, que continua poupado. 
Piketty quer tirar este dinheiro de Roberto Carlos, picadinho ano a ano entre 5% a 10%. Usando da violência do Estado e do poder “democrático” dos 99% que votaram leis que destroem literalmente os 1%. 
Lembre-se caro leitor que, ato contínuo, os 98% vão votar para acabar com os novos 1%. E os 97% farão o mesmo! Assim por diante, se Piketty for continuamente sendo entrevistado. 
Thomas Piketty: Roberto Carlos, eu gostaria de saber se você doaria 5% a 10% de seu patrimônio todo ano voluntariamente para o Estado gastar, via economistas como eu, em políticas públicas de nossa escolha e não sua, nas nossas ideias keynesianas para erradicar a pobreza neste país. 
Roberto Carlos: Honestamente, não. 
Thomas Piketty: Não, por quê? 
Roberto Carlos: Mostre-me estes pobres que vocês vão ajudar. Quero conhecê-los primeiro. Talvez sabendo dos problemas deles eu doe diretamente, sem intermediários. Talvez possa ajudá-los de forma mais eficiente, o que me custaria menos e me daria muito mais prazer, reconhecimento, e talvez agradecimento. 
Thomas Piketty: Isto dá para fazer porque o governo é um caixa único. Seu dinheiro entra no bolo. Você não pode determinar aonde ele irá, se irá para os programas que tenham mais mérito, como aqueles escolhidos pelo Prêmio Bem Eficiente do meu algoz Stephen Kanitz. Apesar de ter dito na primeira página de meu livro que esta renda não deveria estar concentrada, ela pode sim ser concentrada na mão do Estado, que eu e meus colegas economistas pretendemos continuar controlando. 
Roberto Carlos: E se eu recusar a pagar estes 5% a 10% de imposto sobre o patrimônio todo ano? 
Piketty: Você irá preso, por crime fiscal. 
Roberto Carlos: Eu prezo a minha liberdade, e se eu fugir da prisão? 
Piketty: Você corre o risco de ser morto pelos guardas do presídio que têm instrução de impedir fugas e rebeliões. 
Roberto Carlos: Então você pretende tirar este dinheiro de mim usando a violência? 
Piketty: Exatamente, esta é a única prerrogativa de um Estado, o uso da violência.
Agora vejam como eu entrevistaria Roberto Carlos para conseguir a mesma coisa. Mas eu nunca fui entrevistado pela Veja, Estadão e outros que entrevistaram jornalistas e economistas, para disseminar estas ideias. 
Stephen Kanitz: Roberto Carlos, eu sei que você já fez 40 milhões de brasileiros felizes com sua música. Fico feliz com isto, ao contrário de Piketty e os marxistas. 
Fico triste que foram tão poucos os músicos que seguiram seus passos, criando músicas de amor, religião e esperança. 
Fico feliz também que você poupou este dinheiro, ao contrário de tantos outros artistas brasileiros, como alguns que gastaram sua fortuna consumindo drogas caríssimas. 
Você é 10. 
Roberto Carlos, eu só queria que no final da sua vida você tornasse mais feliz uma parcela da população que você nunca alcançou, e que não foram tocados pela sua música. 
Roberto Carlos: Quem eu nunca alcancei com minha música? Que eu saiba minha música foi e é tocada nos quatro cantos do país. 
Stephen Kanitz: Os surdos do Brasil. Eles fazem parte dos 10% das pessoas que precisam da nossa ajuda. 
Como os cegos, os tetraplégicos, os doentes mentais, os órfãos, os portadores de Huntington, as meninas abusadas sexualmente pelos seus pais. 
Como você sabe, o governo brasileiro se interessa pelos sem terra, homens fortes e parrudos que têm mais condições de se virar sozinhos que tetraplégicos e cegos. 
Nossos jornalistas já entrevistaram João Stedile dezenas de vezes, mas não conhecem o nome de uma entidade sequer que cuida dos surdos. 
Roberto Carlos: Caramba é mesmo, nunca li nada disso nos jornais sobre as “políticas públicas” privadas que cuidam desta gente. 
E quanto você quer tirar de mim? Acabo de ser entrevistado pelo economista Thomas Piketty e parece que vocês querem tudo. 
Stephen Kanitz: Quanto você quiser. Você decide. 
Por isto quero te levar a algumas das melhores e mais eficientes entidades que fazem o bem, e que eu pesquisei por 10 anos e escolhia todo ano no Prêmio Bem Eficiente. 
Roberto Carlos: Prêmio Bem Eficiente? Nunca li sobre o assunto. Elas são sérias? 
Stephen Kanitz: O prêmio existiu por 10 anos, e nenhum jornalista jamais presenciou as lindas cerimônias, nem os jornalistas que eu conhecia da Revista Exame e da Veja. 
Posso garantir que estas 50 premiadas por ano eram sérias, muito mais do que o governo. 
Eu me dediquei por 10 anos a identificar as entidades que os ricos podiam doar sem susto. Piketty, ao contrário, dedicou seus últimos 10 anos a pesquisar os ricos que ele pretende matar se não pagarem o imposto patrimonial pelo uso da violência do Estado. 
Roberto Carlos: Mas você ainda não disse exatamente quanto você quer tirar de mim. 
Stephen Kanitz: Sem o uso da violência, outras pessoas como eu trabalhando desde 1919 nos Estados Unidos conseguiram que os ricos como Warren Buffet e Bill Gates doassem 99% da sua poupança. 
Ao contrário de Thomas Piketty que quer 5% a 10% ao ano, absolutamente inviável, que provavelmente será de 2% como na lei do neoliberal Fernando Henrique Cardoso. 
Isto levará 50 anos para conseguir a mesma coisa. 
E eu não pretendo usar a violência sobre você Roberto Carlos, mas simplesmente informação. Você vai descobrir pelo site filantropia.org, que eu também criei e nunca foi noticiado, que doar é um raro prazer. Muito maior que pagar impostos e nunca saber como foram gastos pela nova classe social, os kleptocratas. 
Pelo uso da informação que nossos intelectuais e jornalistas negaram a vocês ricos. Tanto é que o Prêmio Bem Eficiente morreu por falta de aprovação intelectual. 
E pretendo criar um clima que valoriza os 1% que nos encantam com suas músicas, ideias, produtos inovadores, e que poupam 90% do que ganham. Ao invés de considerar você, Roberto Carlos, um parasita social, como faz o economista Thomas Piketty nas 900 páginas do seu livro e a maioria dos intelectuais do Brasil nas suas 90.000 páginas de teses e críticas sociais. 
Algo para se pensar.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Como as esmolas publicas pioram a vida das pessoas em lugar de melhorar - livro de Jason Riley (Fred Siegel)

Quem duvidar da afirmação e do argumento central do livro pode consultar um simples registro estatístico (que vou buscar para colar aqui, assim que conseguir recuperar).
Olhando-se para um gráfico da renda média da população branca nos EUA -- sim, eles tem essa mania de racializar tudo, e todos sabem como os EUA foram terrivelmente segregados no passado, mas a segregração mental e comportamental ainda continua -- e seu crescimento nas últimas décadas, se tem uma inclinação moderada para cima, ou seja, a renda progrediu, mas não espetacularmente: a renda per capita nos EUA deve ter passado de 20 mil a 45 mil dólares nos últimos trinta anos, sendo que a dos brancos deve estar em torno de 55 mil dólares.
A linha evolutiva da renda dos negros -- sim, são os mais pobres, independentemente de serem negros, mas por isso, e principalmente por serem negros e pobres, foram objeto de políticas de ação afirmativa desde o início dos anos 1960, quando terminou oficialmente a segregação, ainda praticada em muitos estados do Sul -- acompanha relativamente bem a dos brancos, mas obviamente vários patamares abaixo, cerca da metade da dos brancos. Melhorou um pouquinho mais, em algumas épocas, mas depende do ciclo econômico, do desemprego, da qualidade das escolas e de determinados programas governamentais, locais, estaduais ou federais.
No cômputo global, ambas linhas estabilizaram, uma relação à outra, as duas crescendo moderadamente.
Agora, se colocarmos a linha da renda dos imigrantes, ele são tanto asiáticos quanto latinos desde os anos 1960, com alguns aportes de outras regiões, veremos que essa linha ascende vigorosamente para cima, e já está cruzando a dos negros, e deve se encontrar com a renda média dos brancos dentro de duas ou três décadas (isso depende de quantos latinos vão continuar entrando, pois a linha exclusiva dos asiáticos anda mais rápido).
Essa é uma prova que os negros, ajudados nos últimos cinquenta anos pelos poderes públicos não conseguiram de verdade romper as barreiras da pobreza. De fato, eles parecem ter estacionado na pobreza, e isso devido basicamente aos programas de ajuda justamente.
Leiam esta apresentação, e não confundam: "Liberals", nos EUA, são social-democratas, ou socialistas de estilo europeu, interessados no distributivismo e nas políticas de corte igualitário.
Não deu certo nos EUA.
Por que daria certo no Brasil?
Paulo Roberto de Almeida

Books and Culture

FRED SIEGEL
The Poverty of Benevolence
Fifty years of the Great Society have made things worse for blacks, not better.
The City Journal, 2 July 2014
Please Stop Helping Us: How Liberals Make it Harder for Blacks to Succeed, by Jason Riley (Encounter Books, 205 pp., $23.99)

A half-century ago, the Great Society promised to complete the civil rights revolution by pulling African-Americans into the middle class. Today, a substantial black middle class exists, but its primary function has been, ironically, to provide custodial care to a black underclass—one ever more deeply mired in the pathologies of subsidized poverty. In Please Stop Helping Us: How Liberals Make it Harder for Blacks to Succeed, Jason Riley, an editorial writer for the Wall Street Journal who grew up in Buffalo, New York, explains how poverty programs have succeeded politically by failing socially. “Today,” writes Riley, “more than 70 percent of black children are born to unwed mothers. Only 16 percent of black households are married couples with children, the lowest of any racial group in the United States.” Riley attributes the breakdown of the black family to the perverse effects of government social programs, which have created what journalist William Tucker calls “state polygamy.” As depicted in an idyllic 2012 Obama campaign cartoon, “The Life of Julia,” a lifelong relationship with the state offers the sustenance usually provided by two parents in most middle-class families.
Riley’s own life experience gives him powerful perspective from which to address these issues. His parents divorced but both remained attentive to him and his two sisters. His sisters, however, were drawn into the sex-and-drug pleasures of inner-city “culture.” By the time he graduated from high school, his older sister was a single mother. By the time he graduated from college, his younger sister had died from a drug overdose. Riley’s nine-year-old niece teased him for “acting white.” “Why you talk white, Uncle Jason?” she wanted to know. She couldn’t understand why he was “trying to sound so smart.” His black public school teacher similarly mocked his standard English in front of the class. “The reality was,” Riley explains, “that if you were a bookish black kid who placed shared sensibilities above skin color, you probably had a lot of white friends.”
The compulsory “benevolence” of the welfare state, borne of the supposed expertise of sociologists and social planners, undermined the opportunities opened up by the end of segregation. The great hopes placed in education as a path to the middle class were waylaid by the virulence of a ghetto culture nurtured by family breakdown. Adjusted for inflation, federal per-pupil school spending grew 375 percent from 1970 to 2005, but the achievement gap between white and black students remained unchanged. Students at historically black colleges and universities, explained opinion columnist Bill Maxwell, “did not know what or whom to respect. For many, the rappers Bow Wow and 50 Cent were as important to black achievement as the late Ralph Bunche, the first black to win a Nobel Peace Prize, and Zora Neale Hurston, the great novelist.”
“Why study hard in school,” asks Riley, “if you will be held to a lower academic standard? Why change antisocial behavior when people are willing to reward it, make excuses for it, or even change the law to accommodate it?”
In the 50 years since the start of the Great Society and the expenditure of more than $20 trillion to alleviate poverty, millions of newcomers have entered America from Asia and from Africa. They generally arrived in poverty and have improved themselves by dint of self-help and hard work—those boring middle-class values that President Obama’s mentor, Reverend Jeremiah Wright, denounced so strenuously. But if, as Riley demonstrates, the Great Society programs have failed in conventional terms, they have been an overwhelming political success. Together, government workers and the recipients of government benefits make up a formidable voting bloc. Yet their very political success may also prove their undoing: President Obama’s share of the African-American vote increased between 2008 and 2012, but during that period, blacks’ share of the national income declined and their unemployment rate increased.
“Everybody has asked the question,” Frederick Douglass said in an 1865 speech, “‘What should we do with the Negro?’ I have had but one answer from the beginning. Do nothing with us! Your doing with us has already played the mischief with us. Do nothing with us! If the apples will not remain on the tree of their own strength, if they are worm-eaten at the core, if they are early ripe and disposed to fall, let them fall. . . . And if the Negro cannot stand on his own legs, let him fall also. All I ask is, give him a chance to stand on his own legs!” A century and a half later, Jason Riley echoes that advice.

terça-feira, 10 de junho de 2014

O Chile de volta 'a America latina: reflexao do dia (repetida)

Um leitor deste blog (talvez recente) me escreve para pedir uma reflexão que eu já fiz:


Raph Nogueira comentou a postagem de seu blog
E o Chile, professor, que está se movimentando em direção ao aumento da carga tributária?

Com efeito, no dia 20 de maio, eu postava esta reflexão, com o mesmo título:

O Chile de volta à América Latina: reflexão do dia

O Chile, até há pouco, era um país normal, ou seja, estava em outra galáxia, ou pelo menos em outro hemisfério, aquele da racionalidade econômica, das políticas econômicas sensatas, do bom senso, enfim...
Mas, isso não podia durar muito.
A lei da gravidade latino-americana é poderosa.

O Chile está voltando ao continente, para se igualar a seus vizinhos esquizofrênicos.
O governo socialista de Michelle Bachelet acaba de decretar que pretende o fim do lucro na educação, que toda a oferta no setor será estatal, e que ninguém mais pagará por nada em matéria de ensino.

Corrijo: ninguém não. Alguém pagará.
Os empresários em primeiro lugar, que vão ter o imposto sobre o faturamento e os lucros aumentados de 25 a 35% dos volumes globais. Depois, toda a população pagará.
Quando todos pagam, não existe mais avaliação de custo-benefício, aferição de preços reais, retornos compatíveis com os investimentos realizados, nada disso.

Enfim, assim é o socialismo, o que é que vocês queriam?

O Chile voltou ao continente latino-americano.
Que pena! Estava tão bem fora dele...

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 20 de maio de 2014

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O que eu poderia acrescentar agora?
Pouca coisa, a não ser que cabe observar se é apenas um surto repentino de distributivismo mal concebido, ou se é realmente uma enfermidade que vai se espalhar pelo corpo do país, até torná-lo bem parecido com o resto da América Latina, como eu argumento acima.
Cabe dar um crédito de confiança (os famosos cem dias de todo novo governo) e ver se essa latino-americanice vai continuar, ou se será apenas para contentar os estudantes que se movimentaram tanto contra o governo anterior, pedindo justamente a escola risonha e franca, boa e barata, se possível de graça, do jardim da infância ao pós-doc.
Esse é o caminho mais rápido para a decadência educacional, como aliás a experiência brasileira deveria demonstrar.
Volto a dizer: o Chile estava tão bem fora do continente.
Pena que voltou...
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 10/06/2014

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Existem pessoas e ONGs que acham que os ricos nao deveriam ser ricos...

Não deveriam, não devem e não podem, segundo alguns...
Em lugar de encontrar maneiras de criar ainda mais riquezas num mundo aberto aos talentos, às inovações e sobretudo às iniciativas individuais e associativas, certas pessoas e grupos acham que a riqueza está "mal distribuída" e a partir daí se empenham ativamente em reparti-la, atuando, portanto, sobre os estoques de riqueza, quando poderiam concentrar esforços em aumentar os fluxos.
Paulo Roberto de Almeida 

Desigualdade

Fortuna dos 85 mais ricos é igual à soma da riqueza de metade da população mundial

Segundo estudo divulgado pela ONG Oxfam nesta segunda-feira, patrimônio dos mais ricos é de 1,7 trilhão de dólares, o equivalente ao dinheiro dos 3,5 bilhões mais pobres

Cerca de metade da riqueza mundial é detida por 1% da população (cerca de 70 milhões de pessoas) afirmou nesta segunda-feira a ONG Oxfam, em estudo elaborado especialmente para o Fórum Econômico Mundial de Davos. Segundo a Oxfam, as desigualdades econômicas se intensificaram após a crise financeira, sobretudo nos países desenvolvidos. A ONG ainda aponta que o valor da riqueza das 85 pessoas mais ricas do mundo (1,7 trilhão de dólares) é o mesmo que a soma do patrimônio das 3,5 bilhões mais pobres. 
De acordo com o estudo, a fortuna dos 1% mais ricos é de 110 trilhões de dólares, ou 65 vezes o valor da soma do patrimônio da metade mais pobre da população mundial. A Oxfam alerta que o valor pode ser ainda maior devido ao fato de que a maior parte da população rica mantém contas escondidas no valor de 18,5 trilhões de dólares em offshores em paraísos fiscais.
No relatório intitulado "Governar para as Elites: Sequestro Democrático e Desigualdade Econômica", a Oxfam conclui que a concentração de 46% da riqueza em mãos de uma minoria supõe um nível de desigualdade "sem precedentes" que ameaça "perpetuar as diferenças entre ricos e pobres até as tornar irreversíveis".
Segundo a Oxfam, o nível de avanço da fortuna dos mais ricos é o termômetro da desigualdade. Os cerca de 1% mais ricos de países como a China e os Estados Unidos mais do que duplicaram os rendimentos nacionais desde 1980. E, mesmo nas nações mais igualitárias, como Suécia e Noruega, a variação da riqueza da população mais abastada foi de 50%.
Segundo os dados da Oxfam, 210 pessoas entraram em 2013 no clube dos bilionários, formado por 1.426 pessoas.
O relatório ainda aponta que as desigualdades são intensificadas pelo poder político, que age de acordo com interesses próprios e perpetua privilégios que são transferidos entre gerações. Aos participantes de Davos, a organização apela para um seja acordado um “compromisso” para não se utilizarem paraísos fiscais, não trocar dinheiro por favores políticos e exigir aos governos para que garantam a saúde básica, a educação e a proteção social dos cidadãos com a arrecadação de receitas fiscais.
O Fórum Econômico Mundial, que se reúne a partir de quarta-feira em Davos, na Suíça, com a presença de mais de 2.500 empresários, políticos e líderes de todas as áreas identificou as desigualdades econômicas como um importante risco para o progresso. Um dos principais pontos da agenda do Fórum é o avanço do capitalismo com menos desigualdade.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A "doutrina" economica da Igreja e seus desajustes com a realidade - Nicolas Cachanosky

Na verdade, não existe uma "doutrina" econômica da Igreja Católica, simplesmente porque a Igreja não tem bons economistas, ou sequer dispõe de simples economistas. A Igreja, de vez em quando, convida para alguma conversa pretendidamente orientadora alguns economistas -- alguns liberais, outros intervencionistas, muitos apenas do mainstream, sem preferências muito marcadas -- e, dependendo do papa e dos cardeais, ou quaisquer outros sacerdotes-burocratas que assessoram o papa nessas questões, acaba saindo desse tipo de exercício um documento mais ou menos distributivista.
Reparem que eu disse distributivista, pois essa é a única coisa de que são capazes os padrecos metidos a "economistas", até mesmo o papa.
A Igreja não tem qualquer qualificação para um estudo econômico sério, inclusive porque ela tem algumas viseiras mentais que atrapalham ou mesmo impedem uma reflexão mais séria e profunda sobre as questões da produção, do consumo, investimento, distribuição de renda, crescimento, desigualdade, etc. Ela reflete algumas poucas frases do velho e do novo testamento e com isso pretende resolver sua profunda ignorância das coisas econômicas fazendo uma profissão de fé pelos mais pobres. Como estes sempre serão a maioria -- e ainda são, pelo menos no planeta, mas não necessariamente nos países mais avançados -- a Igreja fica demagogicamente com essa maioria, e com isso se descarrega mentalmente, ao adotar um padrão econômico absolutamente inviável do ponto de vista da criação de riqueza e de seus efeitos distributivos. Entre o mercado e o Estado, a Igreja prefere entregar os mecanismos distributivos para burocratas do Estado, porque supõe, implicitamente (e equivocadamente) que estes, se bem orientados por sua doutrina social distributiva (mas não econômica), poderão fazer o máximo de bondade para os pobres e desvalidos. Essa é a "doutrina econômica" da Igreja, ou seja, os homens de boa vontade, guiados pela fraternidade cristã, se encarregarão de repartir o "excesso" de riqueza concentrada nas mãos dos mais afortunados. Estes, também muito cristãos, consentirão em entregar uma parte de sua riqueza e assim todos estarão mais felizes, e o mundo seria um lugar melhor do que é.
Todos esses equívocos estão presentes na última mensagem do papa, que aliás retrocede em relação ao que pensavam a respeito o papa Benedito e João Paulo II, bem mais "mercadistas" na minha impressão (o primeiro por conhecer a Alemanha oriental, o segundo por ter vindo da Polônia, países tornados miseráveis pelo socialismo).
Bem, eu sugiro que a Igreja faça mais seminários com economistas, mas que sobretudo ela examine a história econômica e veja quais são os dados da realidade. Mesmo se ela não quiser estudar teoria econômica, e ler dos dados da história, pode ficar com alguns dados mais atuais, como os abaixo relatados por esse economista simples...
Paulo Roberto de Almeida

O papa Francisco, a desigualdade de renda, a pobreza e o capitalismo
Instituto Mises Brasil, sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

 

94571746.jpgAs críticas ao livre mercado feitas pelo papa Francisco em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium ("A Alegria do Evangelho") geraram fortes reações ao redor do mundo.  Uma atenção especial foi dedicada a uma passagem na qual o documento faz uma crítica "às teorias do 'gotejamento'[1], as quais supõem que o crescimento econômico, estimulado por um livre mercado, irá inevitavelmente produzir maior igualdade e inclusão social no mundo. Esta opinião, que nunca foi confirmada pelos fatos, exprime uma confiança vaga e ingênua na bondade daqueles que detêm o poder econômico e nos mecanismos sacralizados do sistema econômico reinante." (cap. 2, parágrafo 54).
Em primeiro lugar, é sim válido admitir a possibilidade de haver nuanças semânticas que podem levar a interpretações errôneas, pois Evangelii Gaudiium  não é um documento econômico.  Ademais, o "sistema econômico reinante" não é exatamente uma cópia heliográfica de um livre mercado.  No entanto, a crítica ao livre mercado é clara e é difícil contestar que o documento não esteja se referindo ao livre mercado, mesmo se considerarmos as nuanças semânticas.  Em segundo lugar, o termo "gotejamento" não é um termo técnico, muito menos uma teoria, mas sim apenas uma palavra depreciativa utilizada pela esquerda e por outros grupos críticos ao livre mercado.  
Este escorregão terminológico (apenas um exemplo dentre vários outros) sugere a necessidade de mais cuidado em relação às fortes alegações feitas pelo documento em relação a questões econômicas.  Declarações categóricas em um documento desta importância deveriam ser mais bem articuladas e fundamentadas.  Imagine um documento econômico crítico à Igreja fazendo um uso claramente superficial da linguagem utilizada pela entidade, acompanhada por adjetivos como "vaga e ingênua".  Utilizar definições imprecisas pode fazer com que vejamos problemas que na realidade não existem. 
Em terceiro lugar, o efeito produzido pela Evangelii Gaudium sobre a opinião pública nos convida a analisar e a comparar alguns indicadores gerais sobre o bem-estar econômico e social daqueles países que são mais inclinados ao livre mercado em relação àqueles que são menos propensos ao livre mercado.  Seria verdade que o livre mercado deixa os mais pobres desamparados e marginalizados?  O que há de verdade e o que há de mito nas frequentes e abundantes críticas ao "capitalismo selvagem"?  O que o papa Francisco expressou foi, na realidade, apenas uma repetição desta generalizada crença que permeia vários setores da sociedade na maioria dos países ao redor do mundo.
Se agruparmos os países do mundo em quatro categorias de acordo com sua liberdade econômica fica mais fácil obter uma perspectiva da situação social e econômica dos países mais livres e dos menos livres.  Isso permite a obtenção de um gradiente de resultados e também nos permite observar as diferenças entre os países mais livres e os menos livres.  É importante deixar claro que foram levados em conta os dados de todos os países, e não apenas os dados de alguns poucos (mais detalhes metodológicos aqui) — afinal, tal trapaça permitiria que tanto um crítico quanto um defensor do livre mercado escolhessem apenas aqueles países que mais lhes fossem convenientes.  É necessário utilizar toda a amostra como referência, e não uma mera seleção ad hoc.
Vamos, então, analisar alguns dados econômicos e sociais dos países ao redor do mundo de acordo com sua liberdade econômica.
Os gráficos a seguir mostram o PIB per capita mensurado de acordo com a paridade do poder de compra da população (ou seja, já ajustado pelo custo de vida) e a taxa de crescimento médio durante um período de 10 anos.  Os países estão separados em quatro grupos de acordo com sua liberdade econômica.  Em azul, o grupo dos países economicamente mais livres do mundo.  Em vermelho, o grupo dos menos livres.  Em verde e em amarelo, os países de liberdade intermediária, sendo os países do grupo verde mais livres que os do grupo amarelo. 
Como os gráficos mostram, os países mais livres não apenas são mais ricos, como também crescem mais rapidamente no longo prazo. (As fontes estão listadas no final do artigo.)
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Gráfico 1: PIB per capita ajustado pelo poder compra.  Em azul, o grupo dos países economicamente mais livres do mundo.  Em vermelho, o grupo dos menos livres.  Em verde e em amarelo, os países de liberdade intermediária, sendo os países do grupo verde mais livres que os do grupo amarelo.

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Gráfico 2: taxa de crescimento médio do PIB per capita entre 1991 e 2011. Em azul, o grupo dos países economicamente mais livres do mundo.  Em vermelho, o grupo dos menos livres.  Em verde e em amarelo, os países de liberdade intermediária, sendo os países do grupo verde mais livres que os do grupo amarelo.

Ao serem confrontados com estes resultados, a principal objeção apresentada pelos intervencionistas é que o PIB per capita (ajustado pela paridade do poder de compra) é apenas um valor médio, o qual nada diz sobre a distribuição de renda.  Ao recorrerem a este argumento, a intenção implícita dos intervencionistas é afirmar que os países mais ricos apresentam uma distribuição de renda mais desigual.  Ou seja, o crescimento gerado pelo livre mercado seria inegável, mas seria um crescimento imoral.
Antes de tudo, é válido observar que a maneira como a renda é distribuída pode ter várias causas.  Um sistema em que haja uma distribuição desigual de renda em decorrência do fato de que o partido político que está no poder beneficia alguns poucos setores empresariais (como ocorre no "capitalismo de estado") à custa dos consumidores é diferente de um sistema em que as diferenças na distribuição de renda ocorrem em decorrência do fato de que alguns empreendedores e indivíduos são mais bem-sucedidos do que outros.  O primeiro caso retrata uma distribuição de renda "ruim" ao passo que o segundo caso representa uma distribuição "boa", pois ela promove o real crescimento econômico. 
Essa diferença conceitual — e o fato de que impor uma igualdade de renda requer a abolição da igualdade perante a lei — parece ser um problema ignorado por aqueles que utilizam a distribuição de renda como principal argumento contra o livre mercado.
Por exemplo, onde estão os Steve Jobs, os Bill Gates e os Jeff Bezos de países como Cuba e Coréia do Norte?  Uma maneira de constatar se a distribuição de renda de um país é tão ruim quanto alegam os intervencionistas é analisar a fatia da renda recebida pelos 10% mais pobres da população.
Os gráficos a seguir mostram a renda per capita dos 10% mais pobres dos quatro grupos de países.  O gráfico 3 mostra que os 10% mais pobres recebem, em média, a mesma porcentagem da renda tanto nos países mais livre quanto nos menos livres, o que significa que a fatia de renda apropriada pelos mais pobres é semelhante independentemente da liberdade econômica do país.
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Gráfico 3: porcentagem da renda total apropriada pelos 10% mais pobres.  Em azul, o grupo dos países economicamente mais livres do mundo.  Em vermelho, o grupo dos menos livres.  Em verde e em amarelo, os países de liberdade intermediária, sendo os países do grupo verde mais livres que os do grupo amarelo.

Como mostrado no gráfico acima, se você faz parte dos 10% mais pobres, não faz muita diferença se você vive em um dos países menos livres do mundo ou em um dos mais livres.  Em termos de percentuais, seu grupo irá receber aproximadamente apenas 2,6% da renda total.
No entanto, há uma diferença crucial: o valor desta renda.  Se você vive em um dos países menos livres do mundo, você terá de se virar com US$932 por ano.  Por outro lado, se você vive em um país livre, você terá uma renda anual de US$10.556.  Este detalhe não é nada insignificante.
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Gráfico 4: renda anual per capita dos 10% mais pobres. Em azul, o grupo dos países economicamente mais livres do mundo.  Em vermelho, o grupo dos menos livres.  Em verde e em amarelo, os países de liberdade intermediária, sendo os países do grupo verde mais livres que os do grupo amarelo.

Novamente, ao serem confrontados com estes resultados, a principal objeção apresentada pelos intervencionistas é que estes dados mostram apenas o quintil da renda mais baixa, e que seria mais apropriado prestar atenção a indicadores como o Coeficiente de Gini, o qual mensura a distribuição de renda de toda a população.  Uma distribuição perfeitamente igualitária resulta em um Coeficiente de Gini de 0, e uma distribuição perfeitamente desigual (no qual apenas um indivíduo concentra toda a riqueza do país) resulta em um valor de 100.
O gráfico abaixo mostra o Coeficiente de Gini para os 25 países mais economicamente livres (em vermelho) e os 25 países menos economicamente livres (em azul).  Atenção que a partir de agora as cores se invertem: os países mais economicamente livres estão em vermelho, e os menos, em azul.
Como pode ser visto, na média, as economias mais livres apresentam uma melhor distribuição de renda de acordo com este indicador.  O argumento de que economias livres apresentam maior desigualdade de renda é um mito gerado pelo simples erro de se observar apenas alguns poucos países e não a totalidade da amostra.  Ao selecionarmos apenas alguns poucos países podemos inconscientemente escolher países que confirmam nossas ideologias e ideias pré-concebidas.  Mas isso não ocorre se analisarmos toda a amostra. 
Logo, a pergunta é: se você sabe que pertencerá à seção dos mais pobres de uma população, em qual tipo de país você preferiria viver: em um dos mais livres do mundo ou em um dos menos livres?  Os mais "pobres" dos EUA, por exemplo, possuem uma renda 60% maior do que a renda da população mundial.
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Gráfico 5: Coeficiente de Gini para os 25 países mais economicamente livres do mundo (vermelho) e para os 25 menos livres do mundo (azul).  Quanto menor o número, menor a desigualdade de renda entre pobres e ricos.

Novamente, ao serem confrontados com estes resultados, a principal objeção apresentada pelos intervencionistas é que os dados representam apenas uma fotografia do momento; ele não captam a evolução dos dados, os quais mostrariam que os ricos estão ficando mais ricos e os pobres, mais pobres. 
O gráfico abaixo mostra a mudança ocorrida na renda média de cada quintil de renda da população.  Como é possível ver, é verdade que os ricos estão ficando mais ricos (exceto justamente no quintil superior), mas o fato é que os quintis de renda mais baixa estão, na média, vivenciando um aumento de renda a uma taxa superior ao aumento observado nos quintis maiores.  O gráfico mostra a diferença de renda entre pais e filhos que pertencem ao mesmo quintil.
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Gráfico 6: evolução da renda da população nos países mais economicamente livres do mundo separadas por quintis.  Em azul, a renda dos pais.  Em vermelho, a renda dos filhos, ou seja, a renda da geração seguinte.

Não apenas é um mito dizer que as economias que apresentam mercados mais livres são mais propensas a apresentar uma pior distribuição de renda, como a realidade é que a pobreza diminuiu ao longo das últimas décadas.
O gráfico abaixo mostra o declínio da população que vive com menos de US$1 por dia entre 1970 e 2000.  Durante estes 30 anos, a população que ganha menos de US$1 por dia caiu para quase um terço do valor inicial.  Dado que as economias mais livres estão crescendo mais rapidamente, e que as economias menos livres estão crescendo mais lentamente, fica claro qual é o grupo de países que está liderando a redução da pobreza e qual é o grupo que está retardando o processo.
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Gráfico 7: distribuição mundial de renda.  No eixo X, o valor da renda per capita.  No eixo Y, o número de pessoas que ganham um valor específico de renda per capita.  Observe o marco do $1/day (um dólar por dia) e como o número de pessoas que ganham esse valor específico caiu ao longo de três décadas.

Vejamos agora alguns indicadores sociais e ambientais que são de interesse geral.  O gráfico 8 mostra o trabalho infantil, o gráfico 9 mostra a poluição ambiental e o gráfico 10 mostra a taxa de desmatamento.  Novamente é possível ver a persistência dos mitos sobre os supostos malefícios do livre mercado.  Os países mais livres do mundo, na média, apresentam menos trabalho infantil e níveis mais baixos de poluição.  Já o gráfico 10 mostra que os países menos livres, na média, apresentam mais desmatamento, ao passo que os mais livres estão reflorestando suas terras.
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Gráfico 8: Porcentagem de crianças entre 5 e 14 anos que trabalham. Em azul, os países menos economicamente livres.  Em vermelho, os países mais economicamente livres.

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Gráfico 9: Nível de poluição.  Em azul, os países menos economicamente livres.  Em vermelho, os países mais economicamente livres.

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Gráfico 10: taxa de desmatamento (negativa) e de reflorestamento (positiva). Em azul, os países menos economicamente livres.  Em vermelho, os países mais economicamente livres

Conclusão
Primeiramente, defensores do livre mercado não afirmam que tal sistema econômico é perfeito.  Mas promover intervenções no mercado utilizando a desculpa de que o mercado não é perfeito é uma medida que não ajuda em nada na criação de riqueza e na redução da pobreza.  De fato, o livre mercado não é perfeito; no entanto, é insensato fazer desta imperfeição a desculpa para se promover arranjos institucionais menos eficientes.
Segundo, todos os resultados acima se mantêm se olharmos as diferenças entre os países mais e menos livres, porém restringindo a amostra somente para países pequenos.  Ou seja, os dados acima não decorrem de uma deturpação estatística gerada por "países grandes", os quais, simplesmente por serem grandes, afetam os resultados gerais.
Terceiro, os mesmos resultados também são observados se pegarmos apenas o grupo dos países menos livres e analisarmos os países mais livres e os menos livres dentro deste grupo.  Isso significa que a teoria da exploração internacional não se sustenta.  Dentro do grupo dos países menos livres, as economias que possuem mais liberdade apresentam indicadores sociais e econômicos melhores do que os das economias menos livres.
Por último, mas não menos importante, os comentários presente neste artigo se propõem a desmascarar críticas comuns feitas ao livre mercado, as quais são opiniões generalizadas que transcendem em muito o documento papal em questão.  Estes comentários não têm a intenção de questionar a autoridade espiritual e religiosa das autoridades máximas da Igreja, mas é sempre bom não confundir autoridade espiritual e religiosa com autoridade econômica.
Fontes utilizadas:



[1] Este termo pejorativo é uma tradução livre da expressão "trickle-down economics", criada durante a Grande Depressão, mas popularizada durante a era Reagan.  A expressão "trickle-down", que literalmente significa "pingar de cima para baixo", é uma referência pejorativa à teoria de que cortes de impostos para os mais ricos irão acabar beneficiando também os mais pobres — daí a expressão "pingar de cima para baixo".
Nicolás Cachanosky é professor assistente de Economia na Metropolitan State University, em Denver.