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quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A "doutrina" economica da Igreja e seus desajustes com a realidade - Nicolas Cachanosky

Na verdade, não existe uma "doutrina" econômica da Igreja Católica, simplesmente porque a Igreja não tem bons economistas, ou sequer dispõe de simples economistas. A Igreja, de vez em quando, convida para alguma conversa pretendidamente orientadora alguns economistas -- alguns liberais, outros intervencionistas, muitos apenas do mainstream, sem preferências muito marcadas -- e, dependendo do papa e dos cardeais, ou quaisquer outros sacerdotes-burocratas que assessoram o papa nessas questões, acaba saindo desse tipo de exercício um documento mais ou menos distributivista.
Reparem que eu disse distributivista, pois essa é a única coisa de que são capazes os padrecos metidos a "economistas", até mesmo o papa.
A Igreja não tem qualquer qualificação para um estudo econômico sério, inclusive porque ela tem algumas viseiras mentais que atrapalham ou mesmo impedem uma reflexão mais séria e profunda sobre as questões da produção, do consumo, investimento, distribuição de renda, crescimento, desigualdade, etc. Ela reflete algumas poucas frases do velho e do novo testamento e com isso pretende resolver sua profunda ignorância das coisas econômicas fazendo uma profissão de fé pelos mais pobres. Como estes sempre serão a maioria -- e ainda são, pelo menos no planeta, mas não necessariamente nos países mais avançados -- a Igreja fica demagogicamente com essa maioria, e com isso se descarrega mentalmente, ao adotar um padrão econômico absolutamente inviável do ponto de vista da criação de riqueza e de seus efeitos distributivos. Entre o mercado e o Estado, a Igreja prefere entregar os mecanismos distributivos para burocratas do Estado, porque supõe, implicitamente (e equivocadamente) que estes, se bem orientados por sua doutrina social distributiva (mas não econômica), poderão fazer o máximo de bondade para os pobres e desvalidos. Essa é a "doutrina econômica" da Igreja, ou seja, os homens de boa vontade, guiados pela fraternidade cristã, se encarregarão de repartir o "excesso" de riqueza concentrada nas mãos dos mais afortunados. Estes, também muito cristãos, consentirão em entregar uma parte de sua riqueza e assim todos estarão mais felizes, e o mundo seria um lugar melhor do que é.
Todos esses equívocos estão presentes na última mensagem do papa, que aliás retrocede em relação ao que pensavam a respeito o papa Benedito e João Paulo II, bem mais "mercadistas" na minha impressão (o primeiro por conhecer a Alemanha oriental, o segundo por ter vindo da Polônia, países tornados miseráveis pelo socialismo).
Bem, eu sugiro que a Igreja faça mais seminários com economistas, mas que sobretudo ela examine a história econômica e veja quais são os dados da realidade. Mesmo se ela não quiser estudar teoria econômica, e ler dos dados da história, pode ficar com alguns dados mais atuais, como os abaixo relatados por esse economista simples...
Paulo Roberto de Almeida

O papa Francisco, a desigualdade de renda, a pobreza e o capitalismo
Instituto Mises Brasil, sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

 

94571746.jpgAs críticas ao livre mercado feitas pelo papa Francisco em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium ("A Alegria do Evangelho") geraram fortes reações ao redor do mundo.  Uma atenção especial foi dedicada a uma passagem na qual o documento faz uma crítica "às teorias do 'gotejamento'[1], as quais supõem que o crescimento econômico, estimulado por um livre mercado, irá inevitavelmente produzir maior igualdade e inclusão social no mundo. Esta opinião, que nunca foi confirmada pelos fatos, exprime uma confiança vaga e ingênua na bondade daqueles que detêm o poder econômico e nos mecanismos sacralizados do sistema econômico reinante." (cap. 2, parágrafo 54).
Em primeiro lugar, é sim válido admitir a possibilidade de haver nuanças semânticas que podem levar a interpretações errôneas, pois Evangelii Gaudiium  não é um documento econômico.  Ademais, o "sistema econômico reinante" não é exatamente uma cópia heliográfica de um livre mercado.  No entanto, a crítica ao livre mercado é clara e é difícil contestar que o documento não esteja se referindo ao livre mercado, mesmo se considerarmos as nuanças semânticas.  Em segundo lugar, o termo "gotejamento" não é um termo técnico, muito menos uma teoria, mas sim apenas uma palavra depreciativa utilizada pela esquerda e por outros grupos críticos ao livre mercado.  
Este escorregão terminológico (apenas um exemplo dentre vários outros) sugere a necessidade de mais cuidado em relação às fortes alegações feitas pelo documento em relação a questões econômicas.  Declarações categóricas em um documento desta importância deveriam ser mais bem articuladas e fundamentadas.  Imagine um documento econômico crítico à Igreja fazendo um uso claramente superficial da linguagem utilizada pela entidade, acompanhada por adjetivos como "vaga e ingênua".  Utilizar definições imprecisas pode fazer com que vejamos problemas que na realidade não existem. 
Em terceiro lugar, o efeito produzido pela Evangelii Gaudium sobre a opinião pública nos convida a analisar e a comparar alguns indicadores gerais sobre o bem-estar econômico e social daqueles países que são mais inclinados ao livre mercado em relação àqueles que são menos propensos ao livre mercado.  Seria verdade que o livre mercado deixa os mais pobres desamparados e marginalizados?  O que há de verdade e o que há de mito nas frequentes e abundantes críticas ao "capitalismo selvagem"?  O que o papa Francisco expressou foi, na realidade, apenas uma repetição desta generalizada crença que permeia vários setores da sociedade na maioria dos países ao redor do mundo.
Se agruparmos os países do mundo em quatro categorias de acordo com sua liberdade econômica fica mais fácil obter uma perspectiva da situação social e econômica dos países mais livres e dos menos livres.  Isso permite a obtenção de um gradiente de resultados e também nos permite observar as diferenças entre os países mais livres e os menos livres.  É importante deixar claro que foram levados em conta os dados de todos os países, e não apenas os dados de alguns poucos (mais detalhes metodológicos aqui) — afinal, tal trapaça permitiria que tanto um crítico quanto um defensor do livre mercado escolhessem apenas aqueles países que mais lhes fossem convenientes.  É necessário utilizar toda a amostra como referência, e não uma mera seleção ad hoc.
Vamos, então, analisar alguns dados econômicos e sociais dos países ao redor do mundo de acordo com sua liberdade econômica.
Os gráficos a seguir mostram o PIB per capita mensurado de acordo com a paridade do poder de compra da população (ou seja, já ajustado pelo custo de vida) e a taxa de crescimento médio durante um período de 10 anos.  Os países estão separados em quatro grupos de acordo com sua liberdade econômica.  Em azul, o grupo dos países economicamente mais livres do mundo.  Em vermelho, o grupo dos menos livres.  Em verde e em amarelo, os países de liberdade intermediária, sendo os países do grupo verde mais livres que os do grupo amarelo. 
Como os gráficos mostram, os países mais livres não apenas são mais ricos, como também crescem mais rapidamente no longo prazo. (As fontes estão listadas no final do artigo.)
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Gráfico 1: PIB per capita ajustado pelo poder compra.  Em azul, o grupo dos países economicamente mais livres do mundo.  Em vermelho, o grupo dos menos livres.  Em verde e em amarelo, os países de liberdade intermediária, sendo os países do grupo verde mais livres que os do grupo amarelo.

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Gráfico 2: taxa de crescimento médio do PIB per capita entre 1991 e 2011. Em azul, o grupo dos países economicamente mais livres do mundo.  Em vermelho, o grupo dos menos livres.  Em verde e em amarelo, os países de liberdade intermediária, sendo os países do grupo verde mais livres que os do grupo amarelo.

Ao serem confrontados com estes resultados, a principal objeção apresentada pelos intervencionistas é que o PIB per capita (ajustado pela paridade do poder de compra) é apenas um valor médio, o qual nada diz sobre a distribuição de renda.  Ao recorrerem a este argumento, a intenção implícita dos intervencionistas é afirmar que os países mais ricos apresentam uma distribuição de renda mais desigual.  Ou seja, o crescimento gerado pelo livre mercado seria inegável, mas seria um crescimento imoral.
Antes de tudo, é válido observar que a maneira como a renda é distribuída pode ter várias causas.  Um sistema em que haja uma distribuição desigual de renda em decorrência do fato de que o partido político que está no poder beneficia alguns poucos setores empresariais (como ocorre no "capitalismo de estado") à custa dos consumidores é diferente de um sistema em que as diferenças na distribuição de renda ocorrem em decorrência do fato de que alguns empreendedores e indivíduos são mais bem-sucedidos do que outros.  O primeiro caso retrata uma distribuição de renda "ruim" ao passo que o segundo caso representa uma distribuição "boa", pois ela promove o real crescimento econômico. 
Essa diferença conceitual — e o fato de que impor uma igualdade de renda requer a abolição da igualdade perante a lei — parece ser um problema ignorado por aqueles que utilizam a distribuição de renda como principal argumento contra o livre mercado.
Por exemplo, onde estão os Steve Jobs, os Bill Gates e os Jeff Bezos de países como Cuba e Coréia do Norte?  Uma maneira de constatar se a distribuição de renda de um país é tão ruim quanto alegam os intervencionistas é analisar a fatia da renda recebida pelos 10% mais pobres da população.
Os gráficos a seguir mostram a renda per capita dos 10% mais pobres dos quatro grupos de países.  O gráfico 3 mostra que os 10% mais pobres recebem, em média, a mesma porcentagem da renda tanto nos países mais livre quanto nos menos livres, o que significa que a fatia de renda apropriada pelos mais pobres é semelhante independentemente da liberdade econômica do país.
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Gráfico 3: porcentagem da renda total apropriada pelos 10% mais pobres.  Em azul, o grupo dos países economicamente mais livres do mundo.  Em vermelho, o grupo dos menos livres.  Em verde e em amarelo, os países de liberdade intermediária, sendo os países do grupo verde mais livres que os do grupo amarelo.

Como mostrado no gráfico acima, se você faz parte dos 10% mais pobres, não faz muita diferença se você vive em um dos países menos livres do mundo ou em um dos mais livres.  Em termos de percentuais, seu grupo irá receber aproximadamente apenas 2,6% da renda total.
No entanto, há uma diferença crucial: o valor desta renda.  Se você vive em um dos países menos livres do mundo, você terá de se virar com US$932 por ano.  Por outro lado, se você vive em um país livre, você terá uma renda anual de US$10.556.  Este detalhe não é nada insignificante.
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Gráfico 4: renda anual per capita dos 10% mais pobres. Em azul, o grupo dos países economicamente mais livres do mundo.  Em vermelho, o grupo dos menos livres.  Em verde e em amarelo, os países de liberdade intermediária, sendo os países do grupo verde mais livres que os do grupo amarelo.

Novamente, ao serem confrontados com estes resultados, a principal objeção apresentada pelos intervencionistas é que estes dados mostram apenas o quintil da renda mais baixa, e que seria mais apropriado prestar atenção a indicadores como o Coeficiente de Gini, o qual mensura a distribuição de renda de toda a população.  Uma distribuição perfeitamente igualitária resulta em um Coeficiente de Gini de 0, e uma distribuição perfeitamente desigual (no qual apenas um indivíduo concentra toda a riqueza do país) resulta em um valor de 100.
O gráfico abaixo mostra o Coeficiente de Gini para os 25 países mais economicamente livres (em vermelho) e os 25 países menos economicamente livres (em azul).  Atenção que a partir de agora as cores se invertem: os países mais economicamente livres estão em vermelho, e os menos, em azul.
Como pode ser visto, na média, as economias mais livres apresentam uma melhor distribuição de renda de acordo com este indicador.  O argumento de que economias livres apresentam maior desigualdade de renda é um mito gerado pelo simples erro de se observar apenas alguns poucos países e não a totalidade da amostra.  Ao selecionarmos apenas alguns poucos países podemos inconscientemente escolher países que confirmam nossas ideologias e ideias pré-concebidas.  Mas isso não ocorre se analisarmos toda a amostra. 
Logo, a pergunta é: se você sabe que pertencerá à seção dos mais pobres de uma população, em qual tipo de país você preferiria viver: em um dos mais livres do mundo ou em um dos menos livres?  Os mais "pobres" dos EUA, por exemplo, possuem uma renda 60% maior do que a renda da população mundial.
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Gráfico 5: Coeficiente de Gini para os 25 países mais economicamente livres do mundo (vermelho) e para os 25 menos livres do mundo (azul).  Quanto menor o número, menor a desigualdade de renda entre pobres e ricos.

Novamente, ao serem confrontados com estes resultados, a principal objeção apresentada pelos intervencionistas é que os dados representam apenas uma fotografia do momento; ele não captam a evolução dos dados, os quais mostrariam que os ricos estão ficando mais ricos e os pobres, mais pobres. 
O gráfico abaixo mostra a mudança ocorrida na renda média de cada quintil de renda da população.  Como é possível ver, é verdade que os ricos estão ficando mais ricos (exceto justamente no quintil superior), mas o fato é que os quintis de renda mais baixa estão, na média, vivenciando um aumento de renda a uma taxa superior ao aumento observado nos quintis maiores.  O gráfico mostra a diferença de renda entre pais e filhos que pertencem ao mesmo quintil.
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Gráfico 6: evolução da renda da população nos países mais economicamente livres do mundo separadas por quintis.  Em azul, a renda dos pais.  Em vermelho, a renda dos filhos, ou seja, a renda da geração seguinte.

Não apenas é um mito dizer que as economias que apresentam mercados mais livres são mais propensas a apresentar uma pior distribuição de renda, como a realidade é que a pobreza diminuiu ao longo das últimas décadas.
O gráfico abaixo mostra o declínio da população que vive com menos de US$1 por dia entre 1970 e 2000.  Durante estes 30 anos, a população que ganha menos de US$1 por dia caiu para quase um terço do valor inicial.  Dado que as economias mais livres estão crescendo mais rapidamente, e que as economias menos livres estão crescendo mais lentamente, fica claro qual é o grupo de países que está liderando a redução da pobreza e qual é o grupo que está retardando o processo.
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Gráfico 7: distribuição mundial de renda.  No eixo X, o valor da renda per capita.  No eixo Y, o número de pessoas que ganham um valor específico de renda per capita.  Observe o marco do $1/day (um dólar por dia) e como o número de pessoas que ganham esse valor específico caiu ao longo de três décadas.

Vejamos agora alguns indicadores sociais e ambientais que são de interesse geral.  O gráfico 8 mostra o trabalho infantil, o gráfico 9 mostra a poluição ambiental e o gráfico 10 mostra a taxa de desmatamento.  Novamente é possível ver a persistência dos mitos sobre os supostos malefícios do livre mercado.  Os países mais livres do mundo, na média, apresentam menos trabalho infantil e níveis mais baixos de poluição.  Já o gráfico 10 mostra que os países menos livres, na média, apresentam mais desmatamento, ao passo que os mais livres estão reflorestando suas terras.
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Gráfico 8: Porcentagem de crianças entre 5 e 14 anos que trabalham. Em azul, os países menos economicamente livres.  Em vermelho, os países mais economicamente livres.

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Gráfico 9: Nível de poluição.  Em azul, os países menos economicamente livres.  Em vermelho, os países mais economicamente livres.

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Gráfico 10: taxa de desmatamento (negativa) e de reflorestamento (positiva). Em azul, os países menos economicamente livres.  Em vermelho, os países mais economicamente livres

Conclusão
Primeiramente, defensores do livre mercado não afirmam que tal sistema econômico é perfeito.  Mas promover intervenções no mercado utilizando a desculpa de que o mercado não é perfeito é uma medida que não ajuda em nada na criação de riqueza e na redução da pobreza.  De fato, o livre mercado não é perfeito; no entanto, é insensato fazer desta imperfeição a desculpa para se promover arranjos institucionais menos eficientes.
Segundo, todos os resultados acima se mantêm se olharmos as diferenças entre os países mais e menos livres, porém restringindo a amostra somente para países pequenos.  Ou seja, os dados acima não decorrem de uma deturpação estatística gerada por "países grandes", os quais, simplesmente por serem grandes, afetam os resultados gerais.
Terceiro, os mesmos resultados também são observados se pegarmos apenas o grupo dos países menos livres e analisarmos os países mais livres e os menos livres dentro deste grupo.  Isso significa que a teoria da exploração internacional não se sustenta.  Dentro do grupo dos países menos livres, as economias que possuem mais liberdade apresentam indicadores sociais e econômicos melhores do que os das economias menos livres.
Por último, mas não menos importante, os comentários presente neste artigo se propõem a desmascarar críticas comuns feitas ao livre mercado, as quais são opiniões generalizadas que transcendem em muito o documento papal em questão.  Estes comentários não têm a intenção de questionar a autoridade espiritual e religiosa das autoridades máximas da Igreja, mas é sempre bom não confundir autoridade espiritual e religiosa com autoridade econômica.
Fontes utilizadas:



[1] Este termo pejorativo é uma tradução livre da expressão "trickle-down economics", criada durante a Grande Depressão, mas popularizada durante a era Reagan.  A expressão "trickle-down", que literalmente significa "pingar de cima para baixo", é uma referência pejorativa à teoria de que cortes de impostos para os mais ricos irão acabar beneficiando também os mais pobres — daí a expressão "pingar de cima para baixo".
Nicolás Cachanosky é professor assistente de Economia na Metropolitan State University, em Denver.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Neoprotecionismo brasileiro atrasa o pais - Edmar Bacha


'Esse neoprotecionismo do governo está errado'
FERNANDO DANTAS / RIO
O Estado de S.Paulo, 02 de dezembro de 2012
Para o economista tucano Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, a política econômica prejudica o investimento e a produtividade, e é um das causas do baixo crescimento recente.

O economista Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, tem duras críticas à atual política econômica, que ele considera responsável pelo pífio crescimento do governo de Dilma Rousseff, que voltou ao foco com o mau resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre. Bacha considera que o Brasil vive um "neoprotecionismo geiseliano" (do ex-presidente Ernesto Geisel), que está empurrando a economia no caminho contrário ao necessário, comprometendo a competição e o aumento da produtividade.
Parte dessas preocupações pode ser encontrada na introdução e nos diversos capítulos do recém-lançado livro Belíndia 2.0/Fábulas e Ensaios sobre o País dos Contrastes. A obra é um grande balanço da economia brasileira e do trabalho intelectual de Bacha desde os anos 70, com artigos clássicos (vários deles em forma de fábula), como o que dá nome ao livro, e tratava da distribuição de renda. Ao longo de Belíndia 2.0, questões brasileiras como inflação, crescimento, juros elevados, desigualdade, política social e desindustrialização são tratados em diversos artigos do economista, vários deles em coautoria com outros especialistas.
Sócio fundador e atual diretor do Instituto de Estudos em Política Econômica da Casa das Garças (Iepe/CdG), no Rio, ligado à PUC-Rio, Bacha é politicamente um tucano sem papas na língua para criticar o governo adversário do PT. Ele ocupou cargos importantes no governo, como a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O que o sr. achou do PIB do terceiro trimestre?
Impressionante, a queda do investimento foi uma coisa assustadora. Aliás, o problema do investimento é um dos temas mais importantes que eu trato no meu livro.
Quais são as conclusões?
Todo mundo fala da poupança baixa e do custo do capital, mas ninguém discute o preço inicial dos bens de capital, que é muito elevado no Brasil. O que eu e o Regis Bonelli (economista do Instituto de Política Econômica Aplicada) levantamos de maneira muito sistemática é que o preço dos bens de capital cresce extraordinariamente no Brasil ao longo do processo de industrialização. E hoje, apesar de ter parado de crescer a partir de 1994, com a abertura, ainda é elevadíssimo, do ponto de vista da nossa história passada e das comparações mundiais. Recente artigo de Vinicius Carrasco e de João Manuel Pinho de Mello (economistas da PUC-Rio) mostra que o vergalhão de aço no Brasil é duas vezes mais caro do que o padrão internacional.
Qual a explicação para isso?
Recentemente, eu e o Regis fizemos uma revisão desse artigo para o livro Desenvolvimento Econômico: Uma Perspectiva Brasileira, organizado pelo (economista) Fabio Giambiagi, que está para ser publicado. Nós exploramos econometricamente algumas razões. Uma delas é que, à medida que a gente substituiu máquina importada por máquina nacional, houve aumento do preço do bem de investimento. E nós estimamos esse fato, que é importante.
E por que isso acontece?
Acredito que parte do problema sejam os oligopólios, que estão por trás dos insumos que entram na construção, como no caso do aço. A construção é um componente muito importante do investimento. Como a produtividade dela cresce menos que o PIB, o preço relativo aumenta, para compensar. Eu presumo, embora não tenha evidência empírica, que a mesma coisa que acontece com o aço ocorra com o cimento, com as máquinas nacionais comparadas às importadas. E, finalmente, tem um estudo da (consultoria) McKinsey, do fim dos anos 90, sobre a produtividade no Brasil e uma das constatações foi sobre como a indústria de construção era atrasada naquela época, com produtividade extraordinariamente inferior ao padrão mundial.
Esse problema do investimento caro é comum em outros países?
Não, é uma anomalia brasileira. No mundo, o preço relativo do bem de investimento tende a ser constante. Só no Brasil é que ele sobe ao longo do tempo e não converge para a média. Ele subiu até 1994, e depois estabilizou lá em cima. Tudo o que a gente fez foi deter o processo, com a estabilização e a abertura. Mas não conseguimos reverter.
E por que não?
Porque somos uma economia fechada. Com todas as reclamações que você ouve dos industriais paulistas sobre importações no Brasil, o Brasil é a economia mais fechada do mundo.
Como o sr. vê a política atual do governo em relação a esse problema?
Escrevo na introdução do meu livro que estou preocupado com a natureza da política econômica, que não está voltada para resolver nossos problemas. Estamos revertendo para um sistema protecionista, cujo resultado é aumentar ainda mais o custo do investimento. Todo esse sistema de exigência de conteúdo nacional que se espalha por aí, pela indústria automobilística, do petróleo, nas ações do BNDES em geral - com isso, você está forçando os investidores a comprarem bens mais caros. Portanto, o financiamento que eles têm gera menos capital físico. E esse é um problema histórico que nós temos. Estávamos tendendo a resolver com a abertura comercial e com a estabilização. E agora tem esse processo de reversão ao protecionismo. Além do conteúdo nacional, tem o aumento das tarifas de bens importados.
Por que, na sua opinião, o governo tem essa estratégia?
É basicamente essa propensão a proteger o mercado interno. O ministro da Fazenda (Guido Mantega) e a presidente da República (Dilma Rousseff) dizem que 'face à crise lá fora, estão todos olhando o nosso mercado interno, e a gente tem de protegê-lo contra a guerra cambial, o tsunami monetário, o dumping chinês' - isso é um absurdo, porque o problema brasileiro é essa baixa produtividade. E não vamos conseguir alta produtividade enquanto tivermos a economia fechada, protegida, monopolizada e dependente do Estado. Temos de promover concorrência, temos de arejar esse sistema, temos de fazer com que a nossa indústria se integre às correntes internacionais de comércio, em vez de querer produzir tudo e qualquer coisa aqui dentro. Que é de novo essa mentalidade 'geiseliana'. Que foi o que gerou os nosso problemas. Ao fazer isso, você vai tornando a economia cada vez menos produtiva.
Mas o Brasil cresceu bem até o final do governo Lula.
Nós tínhamos as commodities subindo de preço, e podíamos absorver mão de obra desempregada ou na informalidade, durante esse período de 2005 a 2011. Mas agora acabou a história. Os estudos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) estão mostrando: a queda do desemprego chegou ao limite, a queda da informalidade também chegou ao limite, e agora nós precisamos de produtividade. Não dá mais para incorporar mão de obra. E de onde vamos tirar essa produtividade? Precisamos investir mais. Sim, mas precisamos investir nas coisas certas, fazer o investimento mais barato, e não o mais caro.
Bem, o investimento estrangeiro no Brasil ainda está em níveis muito altos.
Claro, você protege o mercado, não deixa importação entrar, o mercado é razoável. Eles vêm e compram a Amil. 'Vamos explorar esse pessoal aqui.' Então, é um investimento para explorar o mercado interno protegido. Isso é coisa boa? Não, para mim é uma coisa ruim. Porque a última coisa que esses investidores externos querem do governo brasileiro é que a economia se abra para a importações. Me lembro quando estava no banco BBA, eu ia conversar com os investidores e eles perguntavam 'Você acha que vai voltar a abertura?' Não se investe no Brasil, como se investe hoje no México, por exemplo, ou no Chile, ou no Peru, ou na Colômbia, para integrar a indústria local às correntes de comércio internacional. Nós investimos para evitar a integração. Isso é um absurdo. Se na concessão de infraestrutura à iniciativa privada estamos marchando, ainda que a fórceps, na direção certa, no problema de incentivar o investimento produtivo do setor privado, de demanda final, estamos caminhando na direção contrária à necessária. É um política econômica equivocada.
Como o sr. vê a situação de juros, câmbio e inflação?
O juro real está caindo, pode ser que dê certo. Mas você quer que os juros caiam, e a inflação também caia. Os juros caíram, mas a inflação está lá, ameaçando o topo da meta. O que permite ao Brasil fazer esse experimento, de trazer os juros até o nível bastante baixo de hoje, é a crise internacional. Quanto ao câmbio, eu prefiro que ele seja flutuante. Aliás, o governo está muito frustrado, porque ele fez duas coisas: manteve o câmbio artificialmente desvalorizado, com controle de capital, comprando mais reservas, e abaixou os juros mais ou menos na marra. Do ponto de vista de alguns economistas, dos economistas que estão no governo, isso deveria ter resolvido o problema, porque o problema do Brasil era juro e câmbio. E, de repente, apesar dessa combinação, o Brasil começa a ter 'pibinhos' atrás de 'pibinhos'. E não é um problema que vem lá de fora, porque os nossos vizinhos latino-americanos não estão tendo 'pibinhos'. Estão tendo PIBs muito bons.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Republica Federativa do Atraso (Mental), e do protecionismo, e do mercantilismo, e do...

várias outras coisas mais.
Incrível como certos ingênuos econômicos (para não acusá-los simplemente de ignorantes) insistem em soluções equivocadas para falsos problemas, e continuam a colaborar para o atraso do país.
Este não é tanto material, quanto sobretudo mental. O atraso material pode ser medido em anos. O mental em décadas.
Infelizmente.
Paulo Roberto de Almeida

Comissão aprova proposta que estimula indústria nacional
Boletim da Liderança do PT na CD, 13/11/2012
A Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio aprovou ontem parecer ao projeto de lei (PL 1770/11), do deputado Vicentinho (PT-SP), que dispõe sobre a obrigatoriedade de as montadoras de veículos utilizarem, na fabricação de seus produtos, 70% de peças produzidas no Brasil.
Ao justificar a proposta, Vicentinho ressaltou o estímulo que a globalização econômica tem dado as grandes montadoras de veículos quanto à concepção, fabricação e distribuição de veículos automotores. Ele lembrou, no entanto, que “há um movimento de integração da produção a nível global o que leva, em muitos casos, que um veículo montado em um determinado país tenha peças de distintas origens nacionais”.
Tal processo, segundo o deputado, tem sido responsável pela perda de muitos postos de trabalho, tanto na indústria automobilística como na indústria de autopeças que sempre deu suporte às montadoras instaladas no Brasil. “Além de estabelecer um percentual de 70% de nacionalização de peças, tendo como base o número de componentes, nossa iniciativa delega ao Poder Executivo a regulamentação dos procedimentos de fiscalização, controle e implementação das medidas”, afirmou Vicentinho. Ele acrescentou que caberá também ao Executivo o estabelecimento de penalidades.

sábado, 10 de novembro de 2012

Pre-sal saiu mais salgado que o previsto - Editorial Estadao

O grau de irracionalidade, que normalmente já caracteriza o Parlamento brasileiro, tornou-se ainda maior, e esquizofrênico, com a aprovação da nova lei do pré-sal. Mas a confusão tinha sido iniciada pelo próprio governo, ao pretender modificar o regime anterior, por um que, supostamente, traria maiores vantagens a todo o Brasil (na prática ao próprio governo). 
Hoje se paga o preço pela irresponsabilidade, ganância, equívocos.
Paulo Roberto de Almeida

A deturpação do royalty


Editorial O Estado de S.Paulo, 10/11/2012
Envolvidos na feroz disputa por algo que ainda não existe, nem se sabe se vai existir - o petróleo do pré-sal -, e movidos apenas por seus próprios interesses político-eleitorais, que os tornaram incapazes de avaliar o interesse nacional, 286 deputados impuseram uma derrota política ao governo ao aprovar um projeto sobre a distribuição dos royalties do petróleo que, na essência, acaba com o conceito de royalty, rompe contratos em plena vigência e pune as cidades que têm despesas adicionais por causa da exploração do óleo em seu território ou vizinhança.
"Foi uma demonstração de vitalidade do Parlamento brasileiro", exultou o presidente da Câmara, deputado Marco Maia, após a derrota do governo - que, a propósito, é chefiado pelo partido a que ele pertence. Diante dos desastrosos efeitos que o projeto - que já havia sido aprovado pelo Senado - poderá ter para os municípios e Estados produtores de petróleo, caso a presidente Dilma Rousseff não o vete, cabe indagar para que serve tanta vitalidade parlamentar. Neste episódio, pelo menos, certamente não é para o bem do País.
Por meio de uma hábil manobra em plenário, os deputados decidiram votar o projeto já aprovado no Senado, antes de examinar o substitutivo elaborado pelo relator designado pela Câmara, deputado Carlos Zarattini (PT-SP). Aprovado o texto vindo do Senado, o substitutivo do relator, que continha pontos de interesse do governo, nem chegou a ser examinado. O substitutivo de Zarattini previa, como queria o governo, que todos os recursos originários de royalties deveriam ser aplicados em educação. A exceção caberia à União, que poderia aplicar parte do dinheiro em ciência e tecnologia e em defesa. O texto aprovado permite o uso dos royalties em diversas áreas, como infraestrutura, educação, saúde, segurança, erradicação da miséria e até tratamento de dependentes químicos.
Este, porém, é o ponto menos pernicioso do projeto. Ao mudar radicalmente o critério de distribuição dos royalties entre os Estados e municípios, garantindo fatia substancial desses recursos para regiões que não produzem nenhuma gota de petróleo, o projeto muda também o conceito de royalty.
Royalty é uma compensação financeira, uma indenização, paga àqueles que sofrem pela retirada, de seus territórios, de recursos escassos e não renováveis e têm despesas adicionais decorrentes do uso de sua infraestrutura e da degradação ambiental. O projeto assegura, porém, que também Estados e municípios que não têm esses custos adicionais, e já recebiam uma parcela desse dinheiro, tenham direito a uma fatia muito maior.
De 8,75% do total dos royalties do petróleo que recebem atualmente, Estados e municípios não produtores passarão a recebe 40% até 2020. A contrapartida, obviamente, é a redução da fatia que cabe à União e aos Estados e municípios produtores. A da União será reduzida de 30% para 20% já em 2013, a dos Estados produtores cairá de 26,25% para 20% e a dos municípios produtores, de 26,25% para 15% em 2013 e 4% em 2020. Para os municípios não produtores, mas que são afetados pela produção, por causa do uso de seu território pelas empresas envolvidas no trabalho de exploração, transporte e armazenagem, a fatia será reduzida de 8,75% para 3% a partir de 2013 e para 2% em 2020.
É uma redução brutal, que poderá inviabilizar financeiramente muitas prefeituras que enfrentam gastos adicionais decorrentes da exploração do petróleo em seu território ou em suas proximidades. Cálculos preliminares do secretário do Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro, Júlio Bueno, com base na variação da cotação do barril do petróleo e da produção estimada pela Petrobrás, indicam que o governo estadual e as prefeituras fluminenses perderão R$ 77 bilhões em oito anos. O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, fala em perdas de R$ 11 bilhões até 2020.
Além dessas perdas e distorções que gera, o projeto desrespeita contratos ao estabelecer regras novas para a distribuição de royalties das áreas já licitadas e em plena atividade. Deve ser vetado integralmente. 

domingo, 9 de setembro de 2012

Protecao em alta; competitividade em baixa: fracasso previsivel...

Todos os experimentos protecionistas são ruins: para os consumidores, imediatamente, para as empresas no médio prazo. Só governos míopes não se dão conta.
Na verdade, eles se rendem em primeiro lugar a suas próprias teorias ultrapassadas, ou anacrônicas, depois aos interesses imediatos dos industriais encurralados (pelo próprio Estado).
Paulo Roberto de Almeida 

Protecionismo e mediocridade  



Editorial O Estado de S.Paulo, 9.09.2012
Mais uma vez a mediocridade venceu e o Brasil continuará disputando na retranca o jogo do comércio internacional, como se a sua indústria tivesse voltado à menoridade e fosse irremediavelmente incapaz de enfrentar a concorrência. A decisão de ampliar as barreiras protetoras foi anunciada pelo governo um dia depois de publicados os números da balança comercial. De janeiro a agosto o valor total exportado foi 4,8% menor que o de um ano antes. O importado ficou 0,7% abaixo do registrado em 2011 em igual período. O problema é a crise externa, insistiu o governo, e sua reação, tão simplista quanto o diagnóstico, foi o aumento do protecionismo. A medida foi sacramentada terça-feira em reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex).

Com o novo lance protecionista, as alíquotas de cem produtos, antes na faixa de 12% a 18%, foram elevadas para 25%. Em vários casos a restrição é duplicada, porque a medida vale também para mercadorias já protegidas por medidas antidumping. Até outubro mais uma centena de itens poderá entrar na lista. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, justificou a iniciativa com uma alegação singela: a crise global gerou excesso de oferta, a competição tornou-se mais intensa, os preços caíram e muitos procuram o mercado brasileiro para desencalhar seus produtos. Isso é visto, naturalmente, como grave ameaça às indústrias do Brasil.
É normal a queda de preços num cenário de estagnação. O ministro da Fazenda deve saber disso. Mas nem todo produto exportado para o Brasil chega ao País com preços excepcionalmente baixos. Além disso, a indústria brasileira já era protegida, antes da nova decisão da Camex, por impostos mais altos que os da maior parte dos países concorrentes. O problema é obviamente de outra ordem.
O governo deveria preocupar-se muito mais com os custos e com a produtividade da economia nacional do que com os preços dos concorrentes. Para os casos de concorrência fora das regras internacionais, há os remédios previstos em acordos, como as medidas antidumping, já usadas no País. Para surtos de importação causadores de danos, pode-se recorrer a salvaguardas temporárias, também reguladas internacionalmente.
Fora dos casos de legítima defesa, a adoção de barreiras tem efeitos muito limitados e perigosos para o País. Alíquotas elevadas e outros meios de proteção afetam o jogo no mercado interno, mas são insuficientes para tornar as empresas mais competitivas no exterior. A opção pelo protecionismo é também uma opção pelo passado, quando raras indústrias se aventuravam no mercado internacional.
Quando essa política prevalece, as empresas tendem a se acomodar no ambiente interno, beneficiadas pela reserva de mercado, e abandonam os esforços para se tornar mais produtivas e mais capazes de oferecer produtos de qualidade internacional. O Brasil viveu essa experiência durante muito tempo.
Espetáculo semelhante está em cartaz na Argentina, onde os empresários da indústria há muito tempo decidiram, com o apoio do governo, abandonar os esforços para competir internacionalmente. O Brasil tem suportado boa parte dos custos desse espetáculo, como exportador sujeito a barreiras intermináveis e importador empenhado na política de boa vizinhança.
O governo anunciou também a intenção de retomar, juntamente com o Mercosul, as negociações de um acordo comercial com a União Europeia e de iniciar conversações com o Canadá. As negociações com os europeus emperraram várias vezes. A oposição argentina à redução de barreiras à importação de bens industriais tem sido um dos principais entraves.
Com a recaída protecionista de boa parte da indústria brasileira, fica difícil imaginar como poderão progredir as novas negociações. Curiosamente, os industriais brasileiros conhecem seus principais problemas de competitividade e sabem da responsabilidade do governo por boa parte deles (impostos, logística, burocracia, educação, etc.). Mas preferem acomodar-se atrás das barreiras a pressionar as autoridades para adotar políticas mais sérias a favor da eficiência. As autoridades agradecem.

domingo, 5 de setembro de 2010

Será que estou ficando insensivel? Ou os outros sao ingenuos demais?

Não sei se estou ficando menos tolerante, mas já não consigo mais ler, pacientemente, tudo o que encontro pela frente na internet, sem algum sentimento de desalento, de rejeição, ou até de enfado.
Sou eu que estou ficando mais exigente, ou são as pessoas que escrevem que estão ficando mais ingênuas?
Ou outra coisa que não vou dizer, pois existem muitos censores da minha linguagem neste blog e logo alguém vai escrever para dizer que eu empreguei linguagem inapropriada (existe essa expressão?) para designar os alvos (ou as vítimas) de minha impaciência (estou até contido, como vocês podem reparar).

Pois bem, vou logo transcrever (apenas o sumário) o que suscitou minha "impaciência", para vocês constatatem se eu estou ficando muito exigente, ou se as pessoas que escrevem estão de fato carecendo de um pouco mais de sentido da realidade...

1) No inferno do Atacama
Especialista em catástrofes, [XXXX, vamos deixar o entrevistado em paz] avalia drama de mineiros presos por desabamento em mina de cobre no deserto do Chile. E diz que catástrofes resultam do desrespeito à natureza. Por [XXXX, xxxx; não importa quem, onde...]

Será que esse "especialista em catástrofes" acha mesmo que os homens, que são apenas produtores de bens, com base em recursos naturais, vão parar de recolher minérios, ou qualquer outra coisa da natureza, apenas por "respeito" à dita cuja? Como é que os homens vão se aquecer, comer, se vestir, construir casas, melhorar seu padrão de vida?
Apenas e tão somente agredindo a natureza, desrespeitando-a, quase violando-a (ou o fazendo, literalmente)?
Vamos ser claros: não existe hipótese de se ter qualquer atividade humana, na face da Terra que não constitua uma agressão à natureza. Quem disser o contrário, está se auto-enganando ou se iludindo.
Mas, atenção, essa "agressão" não é feita apenas pelos homens. Com exceção dos minerais (que estão quietinhos na natureza, mas de vez em quando eles entram em erupção), e das plantas (mas algumas são carnívoras, outras venenosas ou tóxicas), TODOS OS ANIMAIS AGRIDEM A NATUREZA.
Claro, alguém sempre vai dizer que eles o fazem para sua sobrevivência, e o homem não, faz de malvado, por esporte, por lazer, por exagero consumista, sabe-se lá o que mais.
Eu vou parar por aqui e mandar quem pensa assim plantar batatinhas... (bem, não fui tão agressivo assim fui?).

2) Recado aos jovens futuros economistas e aos que desejam estudar economia
O mundo da Economia não pode ser reduzido à condição de mercado, nem de mercadoria. Antes, é fundamental ter ciência que existe algo de mais valioso: a vida humana. Por
[Fulaninho e Sicraninho, mas deixemo-los em paz...]

Sinto muito, mas não consigo levar a sério alguém que, antes de qualquer outro argumento inteligente, começa por dizer: "sim, isso é importante, mas mais importante que tudo é a vida humana..."
Saperlipopete! Será que os que dizem isso acham que economistas, engenheiros, médicos, cientistas de laboratório (sim, eu sei, os mais atacados são, obviamente, os donos de laboratórios farmacêuticos, interessados apenas no lucro, ao passo que seus cientistas são até bonzinhos), enfim, quaisquer outras pessoas, esquecem que também são humanos?
Será que os economistas, em especial, são seres desumanos, perversos, interessados apenas na eficiência produtiva, totalmente desinteressados da vida humana?
Eu proponho que Fulaninho e Sicraninho não consumam nenhuma mercadoria, e que por respeito à vida humana elas produzam todos os seus alimentos, plantem fibras ou criem animais e fabriquem todas as suas roupas, elaborem seus próprios medicamentos, e sobretudo, sobretudo, se abstenham de irem aos mercados, tão desumanos...

Estou impaciente com o besteirol, como vocês viram.
Mas, pelo menos hoje não chamei ninguém de idiota...

Paulo Roberto de Almeida
9Shanghai, 5/09/2010)