O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

Mostrando postagens com marcador Capital humano. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Capital humano. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

O sucesso da Ásia Pacífico explicado pela formação adequada de policy makers - JISPA

 Por que a Ásia Pacífico teve tanto sucesso no crescimento econômico e no desenvolvimento social nas últimas três décadas, enquanto a América Latina continuava na mesmice oligárquica e na mediocridade econômica, sem conseguir sair do lugar?

Em grande medida pelo fato de ter formado bons administradores e de ter cuidado dos recursos humanos, o principal capital em qualquer processo de desenvolvimento. Isto se deve a este programa de formação financiado pelo Japão e co-patrocinado pelos órgãos de Bretton Woods.


30 Years On: Empowering Asia's Economic Policymaking

The year 2023 marks the 30th anniversary of the Japan-IMF Scholarship Program for Asia (JISPA), a program for young officials from Asia-Pacific economies to pursue graduate degrees in Japan. With more than 950 scholarship recipients from 24 countries, JISPA has built a strong network of economic policymakers across the region. To commemorate this milestone, JISPA’s administrator, the IMF Regional Office for Asia and the Pacific (OAP), will host a day-long event entitled ‘30 Years On: Empowering Asia’s Economic Policymaking’ to celebrate the program’s achievements and discuss further endeavors to tackle regional challenges.

The public can join the event online by registering here by noon, November 15 (Japan time).

Agenda

Thursday, November 16, 2023

** Time shown below is in Japan Standard Time (UTC/GMT +9)


9:30 AM Registration

Session 1: Celebration on the 30th Anniversary of the Japan-IMF Scholarship Program for Asia (JISPA)

10:00 AM 

Opening Remarks

Antoinette Monsio Sayeh, Deputy Managing Director, International Monetary Fund (IMF)

10:05 AM 

Congratulatory Remarks

Masato Kanda, Vice Minister of Finance for International Affairs, Ministry of Finance, Japan (JMOF)

10:35 AM 

Guest Speeches

Takehiko Nakao, Former President of the Asian Development Bank (ADB) and Former Vice Minister of Finance for International Affairs, JMOF. Chairman of the Institute, Mizuho Research & Technologies Ltd.

Vathana Dalaloy, Deputy Governor, The Bank of the Lao P.D.R, (JISPA Alumna, 1995-96)

10:40 AM Launch of JISPA 30th Anniversary Memorial Video

10:45 AM Coffee Break

Session2: Panel Discussion

11:00 AM 

Redesigning JISPA’s Public Policy Studies to Meet Growing Needs of a Changing World

The panel will discuss how best to redesign public policy education and the scholarship curriculum to equip future policymakers with the knowledge needed to tackle transformative forces in a changing world, such as the digital revolution and climate change.

Moderator

Akihiko Yoshida, Director, Regional Office for Asia and the Pacific, IMF

Panelists

Naoyuki Yoshino, Professor Emeritus of Keio University, Former Dean of Asian Development Bank Institute, Director of the Financial Research Center, Financial Services Agency (FSA), Japan

Kentaro Ogata, Deputy Director-General of the International Bureau, JMOF

Toshitaka Sekine, Professor, Graduate School of Economics and School of International and Public Policy, Hitotsubashi University

Caroline Waqabaca, Acting Deputy Governor and Chief Manager, Financial System Development, Reserve Bank of Fiji, (JISPA Alumna, 2006-07)

12:00 PM Lunch Break

Session 3: Roundtable Discussion

2:00 PM 

New Frontiers in Capacity Development and Lessons from IMF-Japan Cooperation in Capacity Development


The panel will discuss results of the long-standing IMF-Japan partnership on fiscal topics, drawing on lessons learned and new approaches to enhance coordination, efficiency and effectiveness of capacity development activities.


Moderator

Dominique Desruelle, Director, Institute for Capacity Development (ICD), IMF

Discussants

Antoinette Monsio Sayeh, Deputy Managing Director, IMF

Juan Toro, Deputy Director, Fiscal Affairs Department (FAD), IMF

Daisaku Kihara, Director, International Organization Division, International Bureau, JMOF

Official from a member country (TBD)

Masao Yahara, Senior Vice President, Japan International Cooperation Agency (JICA) 


3:30 PM End of Sessions

Alumni Get Together with JISPA Professors and Current Scholars 

4:00 PM  

Speakers

Batsaikhan Namkhai, Economic Advisor to the Governor, Bank of Mongolia, (JISPA Alumnus, 2004-06)

Behzod Saylixonovich Hamraev, Deputy Chairman, Central Bank of Uzbekistan, (JISPA Alumnus, 2014-16)

  End of Alumni Event

Cocktail Reception

6:00 PM  Welcome Speech

Antoinette Monsio Sayeh, Deputy Managing Director, IMF

Guest Speeches

H.E. Sok Sopheak, Secretary of State, Ministry of Commerce, Cambodia (JISPA Alumnus, 1998-2000)

Kentaro Ogata, Deputy Director-General of the International Bureau, JMOF


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Eugenio Gudin: um profeta da racionalidade derrotado pela realidade brasileira

Um artigo de 1977 que continua atual: a deficiência brasileira em capital humano continua a ser nosso principal problema "econômico".
Apenas destaco uma frase, que resume todo o sentido da discussão:
"Precisamos reformar a fundo nossa mentalidade, substituindo o culto do “diploma” pelo culto da “experiência”."
Paulo Roberto de Almeida

Capital Humano
*Eugênio Gudin Filho
28/03/1977

Na edição de Janeiro da revista Commentary, Norman Gall, referindo-se ao Brasil, mencionou “a tradicional incapacidade dos brasileiros para investir naquilo que se poderia chamar de capital humano”.

Se Norman Gall lesse os jornais brasileiros, teria podido citar, em apoio à sua opinião sobre a nossa escassez de capital humano, três tópicos tão característicos quanto impressionantes.

1) Estado de são Paulo, em editorial de 17 de corrente, relata o que tem sido o fracasso do Lloyd Brasileiro, no serviço de passageiro, com os navios tipo “princesa” lindo e moderno navios, importados há 15 anos atrás. O último deles, o Anna Nery, chegou ao Rio de Janeiro no dia 16, rebocado, depois de malograda viagem de turismo pelo norte do Brasil. Não foi a primeira vez (longe disso) que o navio teve de parar em meio de viagem, por acidentes nas máquinas. O Princesa Izabel foi vendido a preço de sucata e reformado pelo comprador, fazendo viagens de longo curso, sob o nome de Marco Pólo. O Princesa Leopoldina foi também vendido a preço de sucata a uma empresa inglesa, por apenas um milhão e setecentos mil dólares; hoje faz cruzeiros no Extremo Oriente, sob o nome de Coral Princess. Agora tudo indica ter chegado a vez do Anna Nery, porque os reparos de que necessita não são exeqüíveis no Brasil, malgrado nossos grandes estaleiros de construção naval. Vai ser substituído por um navio de registro panamenho, chamado Romanza, com 33 anos de idade, fretado a um custo de 5 a 6.000 dólares por dia.

2) Outro fato impressionante é o do terceiro forno da siderúrgica Nacional em Volta Redonda, o maior (naturalmente o mais dispendioso) da América Latina, inaugurado há poucos meses pelo Presidente Geisel. Depois de outras peripécias, teve agora seu funcionamento suspenso “por tempo indeterminado” devido às precárias condições do sistema de alimentação.

3) As comportas da eclusa da Lagoa Mirim há poucos dias inaugurada pelo Presidente da República, na funcionaram no dia da inauguração!

4) No gênero, poder-se-ia mencionar, a título de recordação, o caso do trem Teresina-Fortaleza, inaugurado pelo Ministro Andreazza, com bombástico discurso na estação da partida. “Enguiçou” poucas horas depois da partida; e afinal desmantelou-se em descarrilamento nas linhas do Ceará....

A culpa de tudo isso não é das máquinas, devidamente projetadas, importadas e fiscalizadas, e sim da falta de gente competente para manobrá-las e conserva-las.

É o caso que tão sabidamente assinala Sr. Roy Harrol, autor da famosa fórmula Harrod-Domar: “Nos países em desenvolvimento, este depende principalmente da taxa a que os quadros humanos de empreendedores, engenheiros de produção, gerentes, inspetores, projetores, desenhistas, contadores, et hoc genus omne se desenvolvem.

As taxas de crescimento e expansão desses quadros humanos impõem, na minha opinião, uma limitação muito mais importante ao desenvolvimento econômico dos países do que escassez do capital, conquanto este também tenha o seu lugar“.

Mas como se explica, malgrado a multiplicação de universidades e faculdades verificada nos últimos decênios, que persista tanta penúria de gente competente para os misteres ordinários de engenharia industrial e mecânica?

A meu ver, a resposta está na grave deficiência do ensino nesse setor. Porque a mecânica aplicada aos vários setores da indústria (inclusive estradas de ferro e navegação) não se aprende apenas nos livros, como no caso do direito, da economia, ou da matemática. O ensino da física aplicada, da química, da mecânica industrial exige laboratórios e oficinas, inexistentes em ossos cursos. E se o ensino da medicina sofre menos que os demais é porque nesse curso a oficina e o ensino prático se encontram no hospital, que os estudantes são obrigados a freqüentar. 

Persiste, de outro lado, entre nós, a velha prevenção, oriunda da civilização grega, contra o trabalho manual, em contraste com o apreço pela cultura livresca.

Somos países onde se cultua o “diploma” (canudo) e se despreza a “experiência”.

Em 1936, em conferência pronunciada, a convite do Ministro Capanema, sobre o tema “Educação e Riqueza” aproveitei a ocasião para demonstrar a necessidade de criarmos escolas técnicas com oficinas de mecânica, de eletricidade, de siderurgia, etc, do tipo que os franceses chamam de arts et métiers, onde se preparam, em três anos, engenheiros com boa base matemática corrente, desenho de projetos e trabalhos de oficina, inclusive o manual. Propus que se criasse uma primeira escola em São Paulo, montada com bom aparelhamento e professores contratados no exterior, quando necessário. Ao fim de dez anos, aproveitando a experiência e os recursos da primeira, far-se-ia uma segunda escola em Recife. 

Fizeram-se “escolas técnicas”, uma em cada Estado (!!), mas sem aparelhamento nem professores competentes. É como se não existissem.

Precisamos reformar a fundo nossa mentalidade, substituindo o culto do “diploma” pelo culto da “experiência”.

E não podemos perder tempo. Porque, como se vê pelos supracitados e muitos outros, o atraso do elemento humano nesse setor é considerável.

Constrói-se uma máquina, mesmo um grande equipamento, em um ou dois anos. Mas a formação de gente competente e experiente exige uma ou mais dezenas de anos.

A não ser que encontrássemos outros espécimes de homens como o Governador Faria Lima; que fez em dois anos mais do que todos os seus antecessores em cem! Mas é que é muito difícil outro exemplar de tão milagrosa capacidade.

 =============
*Eugênio Gudin Filho (Rio de Janeiro, 12 de julho de 1886 - Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1986) foi um economista brasileiro, ministro da Fazenda entre setembro de 1954 e abril de 1955, durante o governo de Café Filho.

Formado em Engenharia Civil em 1905 pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, passou a interessar-se por Economia na década de 1920. Entre 1924 e 1926, publicou seus primeiros artigos sobre Economia em O Jornal, do Rio de Janeiro.

Em 1944, o então ministro da Educação, Gustavo Capanema, designou Gudin para redigir o Projeto de Lei que institucionalizou o curso de Economia no Brasil. Nesse mesmo ano, foi escolhido delegado brasileiro na Conferência Monetária Internacional, em Bretton Woods, nos Estados Unidos, que decidiu pela criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) .

Durante os sete meses em que foi ministro da Fazenda (1954-1955), promoveu uma política de estabilização econômica baseada no corte das despesas públicas e na contenção da expansão monetária e do crédito, o que provocou a crise de setores da indústria. Sua passagem pela pasta foi marcada, ainda, pelo decreto da Instrução 113, da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), que facilitava os investimentos estrangeiros no país, e que seria largamente utilizada no governo de Juscelino Kubitschek. Foi por determinação sua também que o imposto de renda sobre os salários passou a ser descontado na fonte.

Ricardo Bergamini
www.ricardobergamini.com.br

domingo, 30 de novembro de 2014

Miséria do Capital no Século 21 - Paulo Roberto de Almeida



Miséria do Capital no Século 21
Breve refutação não estatística de novas formas de criação da miséria

Paulo Roberto de Almeida


Economistas são seres simplistas, por definição. Eles costumam basear suas equações sobre a criação de renda e riqueza a partir de três fatores produtivos básicos: trabalho, capital e recursos naturais. Muitos outros economistas já tentaram introduzir nessas equações um outro fator produtivo: o capital humano. Mas, por diversos motivos, este acréscimo ainda não se tornou de uso comum na ciência econômica. Em todo caso, a riqueza das pessoas (Ps) costuma ser medida sob duas formas: em fluxos reais de renda, que é aquela que deriva de seu trabalho (RT), e em estoque da riqueza acumulada do trabalho, que costuma ser chamada de patrimônio (RP), esta podendo ser imobilizada (imóveis, iates, carros, etc.), ou ser utilizada para a criação de novas riquezas, sob a forma de ativos líquidos, e que podem ser chamadas de rendas do capital (RC).
É muito importante distinguir a dinâmica populacional – uma vez que criação de renda e riqueza depende das pessoas – dos níveis de renda (fluxos) e riqueza (estoques), que variam muito de um país a outro. A despeito de que o capital (bastante) e as pessoas (menos) possam viajar pelo mundo, não existe uma autoridade global e uma única fonte de regulação dos fluxos e dos estoques em posse das pessoas, e sim Estados nacionais (ENs) com jurisdições próprias. As filosofias em vigor na história do mundo moderno podem ser divididas, grosso modo, entre o liberalismo econômico, que acha que a criação de renda e riqueza deve ficar sob a competência das próprias pessoas (Ps), com um mínimo de interferência dos ENs, e o marxismo, que acha que ENs devem regular a RT e RP em benefício de todos, transferindo fluxos de renda e estoques de patrimônio entre as Ps, segundo critérios determinados por políticos e burocratas desses ENs.
 Existem neste mundo êmulos de Marx, em todas as partes, para todos os gostos e para todas as finalidades, alguns deles até mais espertos do que a maioria dos crentes, aproveitando-se da adesão de muitos nas teorias do capital (e do capitalismo) para aumentar o seu próprio capital às custas dos muito crentes nas antigas teorias do capital, que diziam que o capital só podia aumentar às custas do trabalho dos que dependiam apenas do seu trabalho individual. Esta separação absoluta dos partidários da teoria do capital – que na verdade é uma teoria do valor trabalho, a única coisa errada aceita por um liberal clássico como Adam Smith – não leva em conta o chamado capital humano, que os próprios economistas penam a integrar em suas equações. Em todo caso, eles sabem medir bem o crescimento da renda e riqueza dos ENs, usando para isso níveis monetários de valor agregado (ou PIB). Esse PIB se distribui entre as Ps, segundo uma dinâmica populacional e econômica, e para isso se mede o PIB per capita. Os êmulos de Marx acham que os ENs deveriam taxar mais RP-RC para distribuir entre os que possuem apenas RT, de maneira a tornar o mundo mais igualitário, ou menos desigual.
O problema todo é que essa recomendação marxista não deriva de nenhuma análise econômica sobre a criação de renda e riqueza, sendo apenas e tão somente uma recomendação política, baseada numa filosofia do igualitarismo, que é a mesma que vê no capital a fonte de todos os problemas humanos, e que considera que a criação de riqueza só se dá pela via do “valor-trabalho”. Essa filosofia orienta os ENs a avançarem sobre RP-RC, ou seja sobre o estoque de riqueza das poucas Ps muito ricas (que por definição são sempre em menor número), para distribuí-la entre as Ps que só dispõem da RT, ou seja dos fluxos de pagamentos derivados de seu trabalho. Ela tem tido sucesso ao redor do mundo, uma vez que pessoas dispondo de RT são sempre em maior número, formando a larga maioria dos cidadãos votantes nas modernas democracias de mercado.
O problema desse tipo de recomendação é que ela se aproxima do modelo de sociedade recomendada pelos marxistas, que é aquela na qual não existiria renda do capital, e nenhuma riqueza acumulada (RP), na qual todas as rendas do trabalho (RT) seriam igualitária e equitativamente divididas pelo EN. Não é preciso aqui grandes digressões, com base em equações econômicas ou em séries estatísticas históricas de renda e de riqueza, para constatar que esse tipo de sociedade não funcionou, e que os únicos exemplos reais na história – o socialismo de tipo soviético e seus êmulos ao redor do mundo – foram notórios fracassos econômicos na criação de renda e riqueza, só conseguindo se manter à custa de enorme repressão política, que produziu grande infelicidade humana (total falta de liberdade, e até mesmo alguns milhões de mortos).
Um modelo mais “ameno” desse tipo de igualitarismo radical – mas falso, uma vez que os que controlam o EN se apropriam de uma parte importante das rendas do “valor-trabalho” – é o socialismo moderado dos regimes de tipo socialdemocrata, em vigor em diversas democracias modernas de mercado, basicamente na Europa, com contrafações disso no resto do mundo (inclusive nos Estados Unidos e em diversos países da América Latina, com alguns poucos exemplos na Ásia). Uma consulta às estatísticas correntes mais frequentes relativas à criação de renda e riqueza nas últimas décadas (dados da OCDE, por exemplo) demonstra que o crescimento de todas as formas de renda e riqueza (RT, RP e RC) foi maior naqueles países onde foi menor a apropriação de fluxos e estoques dessas formas de renda e riqueza pelos próprios ENs. Não se trata aqui de opinião ou filosofia política, mas uma constatação simples, e direta, a partir de uma correlação entre níveis de carga fiscal dos países e suas respectivas taxas de crescimento do PIB (e do PIB per capita, e isso independentemente da distribuição social dessas formas de riqueza). Maior taxação, menor crescimento, simples assim.
Responda sinceramente: você é a favor de um sistema que permita maior e mais rápida criação de renda e riqueza – independentemente de como esses fluxos e estoques são distribuídos – ou prefere um que pretende distribuir renda, riqueza e patrimônio de forma igualitária, por políticos e burocratas que pretendem saber mais do que você qual a melhor forma de distribuição social dessas rendas? Observe que os países mais livres economicamente, que por acaso são mais desiguais, são aqueles que também crescem mais – e que portanto aumentam todas as formas de riqueza – e que os mais estagnados econômica e socialmente foram e são aqueles que mais tenderam ao modelo marxista de organização social. Mais uma vez, não se trata aqui de opinião ou de filosofia política, mas apenas uma constatação direta dos dados da realidade (e a ex-URSS, e as atuais Cuba e Coreia do Norte estão aí para provar isso mesmo). Na vertente mais moderada do modelo marxista, a Europa ocidental nos prova como é possível crescer menos – e portanto distribuir ou acumular menos – com base em políticas de tipo distributiva inspiradas no igualitarismo filosófico da “teoria do valor-trabalho”.
Isso nos traz de volta ao “capital do século 21”, proposto por um economista que acaba de provar que a desigualdade vem aumentando no mundo, baseada nos fluxos e estoques de rendimentos obtidos pelo capital (RP e RC) sobre os simples rendimentos do trabalho (RT). Ele acha que governos devem taxar mais a RP e a RC dos muito ricos, pois o problema, para ele, é a existência de poucas pessoas muito ricas – e que tendem a enriquecer cada vez mais –, não a existência de um imenso contingente de pobres, ou de pessoas moderadamente ricas (no caso da classe média). Ele prefere empobrecer os ricos, em lugar de utilizar sua imensa capacidade analítica para descobrir formas de enriquecer os pobres. Pela experiência visual que já tivemos no século 20 em torno desse tipo de empreendimento, acredito que será mais um desastre econômico e social à espreita, do que propriamente uma forma de criar o verdadeiro capital do século 21.

Hartford, 30 de novembro de  2014.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Capital humano: Brasil precisa avancar (WEF)

Brasil fica em 57º no ranking de capital humano do Fórum Econômico Mundial

Estudo avalia condições para o desenvolvimento pessoal e profissional em 122 países
Ronaldo D’Ercole
 Valor Econômico, 1/10/13

SÃO PAULO - O Brasil aparece na 57ª posição no ranking global de capital humano divulgado nesta terça-feira pelo Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum). O ranking faz parte do Relatório sobre Capital Humano (Human Capital Report), um estudo inédito que avalia as condições para o desenvolvimento pessoal e profissional em 122 países, e a importância do desenvolvimento dessas habilidades no desempenho de suas economias. Os Estados Unidos ficaram em 16º lugar e o Canadá, em 10º.

O estudo apresenta o Índice de Capital Humano (ICH), medida do grau de desenvolvimento nesta área usada para a classificação dos países no ranking. O ICH baseia-se em quatro pilares: três deles considerados fundamentais (educação, saúde e bem estar e emprego/força de trabalho), e um quarto, denominado ambiente de oportunidade, que leva em conta fatores como o arcabouço legal, a disponibilidade de infraestrutura entre outros fatores que propiciam retorno sobre o capital humano.

“A medida (dotação) do capital humano de um país - que consiste das habilidades e capacidades de sua população aplicado na produção - pode ser o fator mais importante para o seu sucesso econômico, mais do que qualquer outro recurso, no longo prazo. E esses recursos precisam ser desenvolvidos de forma eficiente, a fim de gerar retorno, tanto para os indivíduos como para a economia como um todo”, diz Klaus Schwab, presidente executivo do Fórum Econômico Mundial, na apresentação do relatório.

Entre os dez países que ocupam o topo do ranking de capital humano do WEF, oito são europeus. A Suíça lidera a lista, com elevado desempenho em todos os quatro pilares. A Finlândia (2ª), a Holanda (4ª), Suécia (5ª), Alemanha (6ª), Noruega (7ª), Reino Unido (8ª) e a Dinamarca (9ª) vêm em seguida. Singapura, terceiro lugar no ranking, destaca-se entre os asiáticos, que têm o Japão na 15ª posição e a China na 43ª.

Entre os países do Brics (grupo das maiores economias emergentes, formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul), a Rússia aparece pouco à frente do Brasil, na 51ª posição, enquanto a Índia (78ª) e a África do Sul (86ª) ficam atrás.

O Chile, 36º da lista, é o país latino americano mais bem colocado no ranking. O Uruguai, em 48º lugar, também supera o Brasil. O México é o 58º.

Considerando os quatro pilares usados na avaliação, o Brasil fica em 88º lugar em educação, em 49º em saúde e bem estar da população, em 45º quanto à força de trabalho e emprego, e em 52º no ambiente econômico e social.

Segundo Schwab, com o relatório o WEF pretende oferecer uma plataforma para o diálogo essencial entre os muitos setores e grupos econômicos sobre a melhor forma de investir em capital humano, tanto no curto como no longo prazo.

- Particularmente, esperamos mobilizar os principais integrantes de governos e empresas a prover as lacunas de capital humano por meio da cooperação publico-privada - diz.

“Pensar sobre capital humano a longo prazo muitas vezes não se encaixa no cliclo político ou nos horizontes de investimentos de um país. Mas a falta de um planejamento de longo prazo pode perpetuar uma perda contínua do potencial da população de um país, comprometendo seu crescimento e competitividade. Por isso, o ICH pretende despertar a consciência sobre a grande necessidade de planejamento nessa área”, ressalta o WEF.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Produtividade, uma aula - Marcos Mendes (01/10)


O que é produtividade e como conseguir seu incremento?

(O presente texto constitui adaptação de capítulo do livro “Infraestrutura: os caminhos para sair do buraco” de autoria de Raul Velloso, César Mattos, Marcos Mendes e Paulo Springer de Freitas).
A teoria econômica mensura a produtividade de uma economia por meio do conceito de “Produtividade Total dos Fatores” (PTF). Parte-se da ideia de que o produto anual de uma economia (PIB) é criado pela interação entre os estoques de capital físico e de capital humano existentes. O capital físico é constituído por máquinas, equipamentos, edifícios e demais instrumentos utilizados na produção. O capital humano é dado pela capacidade produtiva da força de trabalho e normalmente é representado pela quantidade de pessoas em idade laboral ponderada pelo nível de escolaridade médio dessa força de trabalho (na suposição de que trabalhadores que passaram mais tempo na escola são mais produtivos).
Suponha duas economias hipotéticas que tenham igual dotação de capital físico e de capital humano. Se uma dessas economias tem um PIB maior que o da outra, conclui-se que ela foi mais eficiente no uso de seu estoque de capital. Logo, ela tem maior produtividade. Ser mais produtivo, portanto, significa fazer mais produtos a partir de uma dada disponibilidade de capital humano e físico disponível na economia.aixo]
(...) [ver ab

Download:
  • veja este artigo também em versão pdf (clique aqui).
  • Marcos Mendes
    Doutor em economia – USP. Editor do site "Brasil, economia e governo".