Um artigo assustador para os que acompanham o panorama da educação brasileira e da formação de capital humano.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sexta-feira, 20 de maio de 2022
quarta-feira, 3 de julho de 2019
Desigualdade no Brasil: um problema histórico, macroestrutural e político - Pedro H. G. Ferreira de Souza
Não concordo, porém, em que os governos devam focar na desigualdade, e passar a redistribuir o estoque existente de riqueza – grande parte dela nas mãos, nos cofres, bolsos, patrimônio e contas externas dos muito ricos, disso estou consciente – pois isto não me parece sustentável e pode até diminuir o crescimento medíocre que já temos desde os anos 1980.
Acredito que o governo, qualquer governo, em qualquer época e regime político, deve se fixar nos ganhos de produtividade, que é o que faz a diferença no longo prazo, e é a única coisa sustentável, desde que atuando nos focos corretos da produtividade: formação de capital humano, infraestrutura e ambiente de negócios, num ambiente de máxima liberdade econômica.
Políticas distributivas "vingativas" não são sustentáveis e como mostra o exemplo da China, a desigualdade pode até aumentar desde que a taxa de crescimento mantenha um aumento constante da renda absoluta – não a relativa – dos mais pobres, trazendo-os para patamares maiores e melhores de bem-estar. Com esse crescimento, que é absolutamente necessário, os mais pobres deixarão de ser mais pobres, e sua progressão na escala de renda permitirá, e até impulsionará o aumento da produtividade, base da melhoria na distribuição de renda.
O livro pode registrar um retrato dramático, e realista, de nossa desigualdade, e até pode concordar com os dados de Piketty, mas não acredito que as prescrições desse economista francês, estritamente distributivas, sejam a melhor fórmula para corrigir estruturalmente o problema.
Resumindo: a despeito de toda a comoção nacional – basicamente política – em torno da questão, certamente dramática, da desigualdade no Brasil, mantenho minha convicção que antes da solução do problema social da desigualdade está o problema macroestrutural das bases efetivas de um processo de crescimento sustentado da economia, com transformação tecnológica e distribuição social dos seus resultados via mercados, não via Estado, que é no Brasil um dos principais fatores de desigualdade distributiva. Isso significa focar numa agenda da produtividade (sobretudo capital humano, infraestrutura e ambiente de negócios), antes do que numa agenda distributiva.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 3 de julho de 2019
LIVRO SOBRE DESIGUALDADE É O MELHOR EM ANOS, DIZ CELSO ROCHA DE BARROS! (Celso Rocha de Barros - Ilustríssima - Folha de S.Paulo, 30/06/2019) “Uma História de Desigualdade” é o melhor trabalho produzido pelas ciências sociais no país nos últimos anos. Caso seja sinal de uma tendência de conciliar rigor quantitativo com discussões teóricas historicamente relevantes, talvez estejamos prestes a assistir a uma grande era na reflexão sobre a sociedade brasileira. O livro é fruto de tese de doutorado em sociologia defendida na Universidade de Brasília. O autor, Pedro H. G. Ferreira de Souza, pesquisador do Ipea, venceu com essa pesquisa prêmios conferidos pela Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais (Anpocs) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Por isso o livro é, fundamentalmente, uma tese. Tem gráfico, tem tabela —e grande parte de seu atrativo vem disso. Para quem estuda sociedade brasileira, trata-se de uma leitura obrigatória, embora a discussão sobre dados possa afastar alguns leitores. O Brasil é um caso de grande interesse para os estudos sobre desigualdade. Já fomos o país mais desigual do mundo e continuamos no pelotão da frente em todas as medidas nesse quesito. Ao nosso lado nessa nada honrosa lista estão outros países da América Latina e países africanos extremamente pobres e/ou afetados por guerras civis. Quando a desigualdade russa disparou nos anos 1990, lembro-me de pessoas dizendo: “se continuar assim, vai ficar igual ao Brasil”. Quando um pesquisador estrangeiro fala de “brasilianização”, o mais provável é que esteja se referindo a algum cenário de desigualdade crescente. Nada disso é novidade, mas é raro o assunto ser tratado com dados novos e procedimentos estatísticos rigorosos. O trabalho de Souza e de seu orientador Marcelo Medeiros (também pesquisador do Ipea) ganhou notoriedade, inicialmente, como contestação da reivindicação petista de que a desigualdade havia despencado na era Lula. A tese mostra uma notável estabilidade na fração da renda controlada pelo 1% da população mais rica. Sem a utilização dos dados obtidos por Souza, o quadro anterior indicava grande queda da desigualdade, causada pela redução (aí sim, bem grande) da distância entre os pobres e a classe média, ou entre os pobres e os não tão pobres. Na verdade, é possível resumir o lulismo em um gráfico com os dois resultados. Os pobres conseguiram se aproximar do meio da distribuição da renda, mas os governos petistas não encostaram na renda dos mais ricos. É a redistribuição sem conflito, bem descrita nos trabalhos de André Singer. Se Souza e Medeiros tivessem só ajudado a compor metade desse quadro, já seria uma bela contribuição. Mas o livro é bem mais que isso. Sob um certo aspecto, é a história de uma proporção: a parte da renda nacional que está nas mãos dos ricos. Souza foi atrás de dados de tabelas do Imposto de Renda que refletem melhor a renda dos ricos que as pesquisas domiciliares por amostragem, base dos estudos anteriores. Os ricos —e, em especial, os muito ricos— aparecem pouco nessas pesquisas, que, portanto, tendem a subestimar a desigualdade total. De posse dos dados e após reconstruir a história da taxação da renda no Brasil, Souza reconta a evolução da proporção da renda dos brasileiros controlada pelos ricos, com atenção especial ao 1% mais rico, de 1926 a 2013. A despeito dessa façanha, o livro é bem mais do que um bom trabalho de sistematização de dados. O que os números revelam é interessantíssimo. Não há espaço aqui para discutir todos os resultados, nem mesmo os mais interessantes, mas vale a pena citar ao menos um, com seus desdobramentos. A desigualdade brasileira caiu nos períodos democráticos (tanto no período de 1945 a 1964 quanto na fase atual) e subiu durante as ditaduras (tanto no Estado Novo quanto no regime militar). Souza é o primeiro a dizer que não se deve interpretar esse fato apressadamente. É possível que a democracia tenha reduzido a desigualdade, dando voz aos pobres que exigiram redistribuição; também é possível que as ditaduras tenham levado a um crescimento da desigualdade, pois reprimiram movimentos sociais pró-redistribuição, como os sindicatos. Mas em cada uma das conjunturas-chave (as transições para a democracia e para regimes autoritários), vários outros fatos também podem ter sido decisivos. Enquanto lia, ocorreu-me uma hipótese bem mais pessimista: talvez a democracia brasileira só tenha sido capaz de se sustentar enquanto foi possível redistribuir renda. Espero que as descobertas de Souza inaugurem um bom debate sobre o tema. O livro oferece ainda apoio parcial às teses do economista Jeffrey Williamson, que mostrou que a desigualdade na América Latina não era tão mais alta do que a europeia, no final do século 19. Nossa excepcionalidade está no fato de que perdemos a “grande equalização” que ocorreu nos países ricos durante o século 20. As comparações internacionais, a propósito, são um dos pontos fortes do livro. Os resultados de Souza nos fazem pensar sobre o quanto a falta de democracia nos fez perder a grande equalização. Está claro, porém, que não se trata apenas disso. Afinal, a Europa passou por grandes calamidades no século 20 que acabaram por reduzir a desigualdade. As guerras mundiais, as crises econômicas e a inflação destruíram uma quantidade imensa de riqueza. Souza chama de “Jencks-Piketty” a hipótese de que a desigualdade só cai bruscamente pela ação de grandes reviravoltas históricas (em geral, desastres). O nome é uma homenagem aos pesquisadores Christopher Jencks e Thomas Piketty. Souza, por sinal, parece inclinado a interpretar seus resultados à luz de Jencks e Piketty, relacionando os grandes movimentos da desigualdade às grandes crises brasileiras que causaram sucessivas mudanças de regime político. Faz sentido e é consistente com os dados, mas ainda acho que se deva dar mais uma chance à hipótese de que a democracia foi crucial para derrubar a desigualdade, tanto aqui quanto nos países ricos. O século 20 foi uma era de calamidades, mas também dos espetaculares ganhos sociais obtidos pela social-democracia e suas variantes onde ela teve chance de se desenvolver. As duas coisas aconteceram ao mesmo tempo. É difícil isolar os efeitos da democracia e os das calamidades, mas vale a pena continuar tentando. De qualquer forma, parece claro que precisaremos levar a sério a ideia de Mangabeira Unger de que “a imaginação antecipa o trabalho da crise” e começar a pensar em soluções para o problema da desigualdade que sejam compatíveis com alguma estabilidade institucional. Supondo, é claro, que ainda estejamos, enquanto país, interessados em reduzir nossas desigualdades. Isso já foi mais certo. |
segunda-feira, 6 de maio de 2019
O chantecler confundiu alhos com bugalhos - Mailson da Nobrega
PRODUTIVIDADE OU MEDIOCRIDADE
sexta-feira, 28 de setembro de 2018
Pobreza, desigualdade e política externa: o que uma coisa tem a ver com a outra? - Paulo Roberto de Almeida
sábado, 19 de agosto de 2017
Produtividade nao e' tudo, mas e' quase tudo: o caso da GB - Robert Colvile (CapX)
Como diz o artigo, "foreign ownership makes each UK firm 50 per cent more productive. Such firms employ only 15 per cent of the UK workforce, but account for 30 per cent of the country's productivity growth - and 50 per cent of R&D spending, which is a staggering five times higher under foreign ownership."
Certas coisas são tão eloquentes, tão evidentes, que não existem contra-argumentos econômicos.
Não só a Grã-Bretanha -- que estava doente antes de Margaret Thatcher -- está doente novamente.
O Brasil também padece da mesma doença.
Quando é que vamos nos curar?
Paulo Roberto de Almeida
Can we cure the British disease?
When Theresa May became Prime Minister, one of her first promises was (as the Daily Mail put it) to protect our “City icons” from “foreign vultures”.
It’s a widely shared complaint. From our rail companies to our energy companies, from London property to Cadbury’s chocolate, we’ve let asset-stripping foreigners make off with the family silver. And with the plunge in the pound due to Brexit, the problem is only going to get worse.
But there’s another way of looking at it - which is that the simplest way to make this country more prosperous would be to gift-wrap those City icons and flog the lot.
That is the implication of a new blog from two Bank of England economists. It points out that, controlling for everything else, foreign ownership makes each UK firm 50 per cent more productive. Such firms employ only 15 per cent of the UK workforce, but account for 30 per cent of the country's productivity growth - and 50 per cent of R&D spending, which is a staggering five times higher under foreign ownership.
Productivity isn’t everything. But as Paul Krugman says, in the long run, it’s almost everything. It is higher productivity that drives improvements in wages, living standards and prosperity. Andrew Haldane, also of the Bank of England, points out that if productivity had remained flat since 1850, we would be only twice as rich as the Victorians. Instead, we are 20 times better off.
And this is the single biggest problem with Britain’s economy. Since the financial crisis, the UK has created jobs at an enviable rate. But the flipside is that productivity has flatlined. Between 1950 and 2008, it grew at an average of 1.7 per cent a year. Since then, it has fallen by 0.36 per cent a year. The latest figures, released this week, only confirm the trend.
These are statistics that should set not alarm bells ringing, but whacking great air raid klaxons. Because the global economy is polarising, as Haldane points out, between the productive and the unproductive – between “frontier” firms and countries, which make full use of the latest technological and managerial innovations, and laggards.
As Britain slips towards the back of the productivity pack, it becomes a place that relies not on the dynamism of its workers, but the fact they are dirt cheap - which is not a comfortable or sustainable position to be in.
So how do we fix this - apart from inviting in those foreign “vultures” to teach us how to be proper capitalists?
One solution suggested by Sir Charlie Mayfield’s official Productivity Review is to make firms aware of the problem. Just as each of us thinks we are an above-average driver, every firm tends to think of itself as well run. Confront executives with the figures, and they will sharpen up their act.
We also need to expose firms to the global market. Companies that export tend to be more productive than those who don’t. That's why some Brexiteers saw a Leave vote as a form of shock therapy - a way to force complacent British firms to shape up.
But this is a policy challenge that stretches beyond company management. We need better education and training. We need greater investment in IT. And above all, we need workers to be in the right places.
One of the most interesting laws of population is that productivity, like many other things, scales up with community size. Huddersfield will never be as productive as London, simply because it is smaller.
So one reason Britain's housing crisis has inflicted such devastating economic harm is that low housebuilding and high house prices have pushed workers away from the most productive parts of the country, trapping them in towns and jobs where they cannot reach their economic potential.
A new Resolution Foundation study confirms that the young are decreasingly likely to move for work - which means the British economy is getting even worse at marrying people to the most productive jobs, and giving them the highest possible salaries.
Britain was once known as the sick man of Europe. Today, we are still sick. And low productivity is our crippling disease.
Robert Colvile
Editor, CapX
quinta-feira, 14 de maio de 2015
Fiasco da Pátria Educadora - Celso Ming
segunda-feira, 2 de junho de 2014
Produtividade: enxugando gelo - Glauco Arbix e Joao De Negri
Produtividade: como aumentar a do Brasil (BBC)
domingo, 11 de maio de 2014
Empresarios pragmaticos, nao querem enfrentar o governo; so ajustes, ou mudancas mais profundas
Ou são acomodados, ou não conhecem a sua força.
Podem também ser oportunistas, e preferir uma acomodação, com facilidades setoriais, em lugar de se unirem para construir um país decente...
Paulo Roberto de Almeida
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