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sexta-feira, 8 de março de 2019

Cadê a política externa? - Paulo Roberto de Almeida (revista Veja)

Cadê a política externa?

Em combate genérico ao ‘globalismo’ e ao ‘marxismo cultural’, o Itamaraty da era Ernesto Araújo não disse qual será a estratégia internacional para o Brasil



O ALIADO - Donald Trump: aliança com o presidente americano não pode ser sinônimo de diplomacia brasileira (Joshua Roberts/Reuters)
             Nas horas e dias seguintes à minha exoneração, por ordem do chanceler Ernesto Araújo, do cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri), as pessoas quiseram saber, além dos motivos da demissão, minha opinião sobre a atual política externa do Itamaraty. Tive de perguntar a elas: “Vocês conhecem alguma? Digam-me qual é, para eu poder avaliá-la”.
Sinceramente não tenho uma resposta, pois nunca nos foi oferecida uma apresentação abrangente, sistemática e completa de qual seria a estratégia internacional do Brasil, quais suas prioridades regionais e multilaterais, como pretendemos organizar a abertura econômica e a liberalização comercial, o que fazer com o Mercosul, como resolver os desafios da inserção global do país nos grandes circuitos da economia mundial, as relações com os vizinhos e todo o resto. Recapitulando o discurso de inauguração do presidente temos poucas diretivas, entre elas uma política externa sem ideologia e um comércio exterior idem. O discurso de posse do chanceler, por sua vez, foi do grego ao latim - e até ao tupi-guarani - para dizer que tínhamos sido muito subservientes com o marxismo cultural e que cabia “libertar o Itamaraty” da influência nefasta dos petistas (já o avisaram que os companheiros se foram em 2016?). 
Desde então, aguardamos uma manifestação mais concreta sobre como será essa política externa, desconhecida de meus colegas diplomatas e dos brasileiros. O que tivemos, até aqui, foram eflúvios bizarros contra o “globalismo”, sustentados em teorias conspiratórias de um famoso guru ideológico, o sofista da Virgínia, um grande eleitor do atual governo. Todo o resto foram recuos e tergiversações.
Base militar americana no Brasil? De forma nenhuma, alertaram os militares! Mudança da embaixada em Israel para Jerusalém? Alto lá, gritaram os agricultores e exportadores de carne halal para países islâmicos! Denúncia do Acordo de Paris? Mas os ecologistas e os próprios empresários já disseram que ele é positivo para o Brasil, e não implica em renúncia de soberania. E onde está a China “maoísta” que representaria, supostamente, uma ameaça? Essa China já não existe há mais de 40 anos: os chineses só querem importar matérias-primas, exportar manufaturados, garantir sua segurança alimentar e energética, coisas que o Brasil pode fazer muito bem (com mais investimentos...chineses). Alinhar-se a Trump para “salvar o Ocidente”? Qual é o maluco que acredita numa coisa dessas?
  O tema que está na ordem do dia, a terrível crise na Venezuela, recebeu num primeiro momento tratamento pouco diplomático: primeiro a recusa de qualquer diálogo com o governo ditatorial; depois a “instrução” dada a nossos diplomatas em Caracas de que deveriam reportar-se unicamente a Guaidó, não a Maduro, quando ele não tem qualquer controle sobre os mais modestos mecanismos administrativos do país; em seguida, a ruptura de relações militares com os bolivarianos, o que irritou nossa tropa e levantou os alarmes no núcleo mais racional do governo.
   As inconsistências nessa área foram tantas que logo instalou-se um “cordão sanitário” em torno do chanceler para impedi-lo de fazer aquilo que está expressamente proibido pela Constituição: imiscuir-se nos assuntos internos de outros países. Foi preciso que o vice-presidente Hamilton Mourão se tornasse o chefe da delegação brasileira na reunião do Grupo de Lima, em Bogotá, para impedir mais um gesto de insanidade do chanceler: apoiar uma aventura militar contra o nefando regime chavista-madurista. A Venezuela é um grande teste para o governo, mas parece que os militares assumiram o papel dos diplomatas e estão cuidando do assunto.
  Volto a perguntar: onde está a política externa do Brasil? Nos destemperos olavistas contra o globalismo? Na luta contra o marxismo cultural? Numa aliança com todos os regimes direitistas e xenófobos da Europa e com Trump? Na denúncia do Pacto Global das Migrações, quando o Brasil possui pelo menos dez vezes mais emigrantes do que imigrantes e esse acordo não afeta em nada nossa soberania? Um desses tresloucados chegou até a dizer nos EUA que os brasileiros apoiam a construção do muro que Trump pretende erigir na fronteira com o México!
  O que pretende, exatamente, o chanceler? Ele começou subvertendo a hierarquia do Itamaraty, colocando “coronéis” dando ordens a “generais” – ou seja, ministros de segunda classe comandando embaixadores mais experientes. Depois impôs uma reforma autoritária, feita no bunker do governo de transição, inclusive por amadores externos, e alterou significativamente estruturas mais racionais, ainda que muito extensas da administração anterior. Os EUA constituem um departamento exclusivo, mas a Europa encontra-se relegada à vala comum da África e do Oriente Médio, já que ela seria um “vazio cultural”, segundo um artigo surrealista publicado nos Cadernos de Política Exterior do IPRI, que eu dirigia até ser defenestrado. E como fica a recomendação de ler menos o New York Times? 
  O Brasil é hoje o país mais introvertido do G20, o grupo de nações economicamente mais importantes do mundo. Todas exibem coeficiente de abertura externa e participação em cadeias de valor bem superiores aos nossos. Está mais do que na hora de substituir uma mal definida “diplomacia do desenvolvimento com preservação da autonomia nacional” por uma vigorosa política de “integração à economia mundial”, assim como eliminar o determinismo geográfico de um fantasmagórico “Sul Global” e voltar ao universalismo tradicional da política externa e da diplomacia brasileira. Sobre minha exoneração, permito-me registrar que o ministro está me negando a mesma liberdade de opinião que ele teve para alimentar seu blog com vituperações antipetistas – quando nada tinha feito nos treze anos do PT no poder. Agora, o chanceler quer cercear-me o direito de alimentar um blog com materiais, aliás, veiculados nos próprios clippings  de notícias da Casa. Estou fora do IPRI, mas continuo sendo um funcionário do Estado e deixo um recado aos que pretendem me calar: a despeito das punições que recebi no Itamaraty por publicar artigos adequados a meu papel de diplomata, me atribuí, assim como James Bond com sua permissão especial para matar, uma permissão especial para dissentir. 

* Paulo Roberto de Almeida é diplomata de carreira, autor de Nunca Antes na Diplomacia (2014) e Contra a Corrente: ensaios contrarianistas sobre as relações internacionais do Brasil, 2014-2018 (2019).

(PRA: versão editada pela revista Veja; a versão original é um pouco maior).

Meu artigo na Veja: Onde se esconde a politica externa? - Paulo Roberto de Almeida

Cadê a política externa?

Em combate genérico ao ‘globalismo’ e ao ‘marxismo cultural’, o Itamaraty da era Ernesto Araújo não disse qual será a estratégia internacional para o Brasil

O ALIADO - Donald Trump: aliança com o presidente americano não pode ser sinônimo de diplomacia brasileira (Joshua Roberts/Reuters)
Nas horas e dias seguintes à minha exoneração, por ordem do chanceler Ernesto Araújo, do cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri), as pessoas quiseram saber, além dos motivos da demissão, minha opinião sobre a atual política externa do Itamaraty. Tive de perguntar a elas: “Vocês conhecem alguma? Digam-me qual é, para eu poder avaliá-la”.

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Vou postar íntegra do artigo, tal como eu o fiz, e depois a versão editada da Veja
Paulo Roberto de Almeida

sábado, 2 de março de 2019

Política externa brasileira em debate: livro do IPEA (2018)

Uma das publicações disponibilizadas por mim, em minha página de Research Gate, não é exatamente minha, aliás, não é nada minha, mas sim um uma coletânea de textos editada por meu amigo, o embaixador Sérgio Florêncio, quando Diretor de Assuntos Internacionais do IPEA, e por outros colegas do IPEA, que trouxe textos de outros diplomatas e outros acadêmicos, que não apenas os contemplados numa primeira versão da obra, que tinha sido preparada ainda na gestão lulopetista daquele órgão de pesquisa econômica aplicada.
Por isso mesmo, a estrutura original da obra, cujo primeiro índice eu transcrevo abaixo, difere (pelos acréscimos) do sumário da obra efetivamente publicada, que pode ser livremente acessada no link abaixo.
Eis o livro, tal como finalmente co-editado pelo IPEA e pela Funag: 


  • November 2018
  • Publisher: IPEA-Funag
  • ISBN: 978-85-7811-334-6
Disponível neste link: 
https://www.researchgate.net/publication/329391619_Politica_externa_brasileira_em_debate_dimensoes_e_estrategias_de_insercao_internacional_no_pos-crise_de_2008


As estatísticas de consulta à obra me foram enviadas por Research Gate:

Reads: 50
Reads by RG members: 35
  • Full-text reads: 6
  • Other reads: 29
Reads by non-members: 15
  • Full-text reads: 6
  • Other reads: 9

Addendum em 3/03/2018:
Desde que coloquei esta postagem, os acessos dobraram:
55 new: 102

A minha colaboração oferecida a essa obra é a seguinte: 

“Diplomacia regional brasileira: visão histórica das últimas décadas”, in: Walter Antonio Desiderá Neto et alii (orgs.), Política externa brasileira em debate: dimensões e estratégias de inserção internacional no pós-crise de 2008 (Brasília: Ipea-Funag, 2018, 626 p.; ISBN: 978-85-7811-334-6; prefácio de Rubens Barbosa), pp. 211-233
Disponibilizado em Academia.edu (20/03/2018; link: https://www.academia.edu/s/e843ccb1ba/diplomacia-regional-brasileira-visao-historica-das-ultimas-decadas). Relação de Originais n. 3209.

Livro disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/37887863/Politica_externa_brasileira_em_debate_Ipea-Funag_2018_). 

O sumário da obra original segue abaixo: 


A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NO PÓS-CRISE INTERNACIONAL:
Temas, Espaços e Perspectivas
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO – Ivan Tiago Machado Oliveira
PREFÁCIO – Rubens Barbosa
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO – Organizadores

PARTE I
PANORAMA DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NO PÓS-CRISE

CAPÍTULO 2 - A AGENDA DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA: UMA VISÃO CRÍTICA - Sérgio Abreu e Lima Florêncio e Edison Benedito da Silva Filho

CAPÍTULO 3 - A AGENDA DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA (2008-2015): UMA ANÁLISE PRELIMINAR - Maria Regina Soares de Lima

PARTE II
O BRASIL DIANTE DE NOVOS AGRUPAMENTOS E INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS NO PÓS-CRISE

CAPÍTULO 4 – O LEGISLATIVO E A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA DE 2008 A 2015 – Pedro Feliú Ribeiro

CAPÍTULO 5 – A ECONOMIA POLÍTICA DA POLÍTICA COMERCIAL BRASILEIRA – Pedro Motta Veiga e Sandra Polónia Rios

CAPÍTULO 6 – O BRASIL E A OMC (2008-2015) - Rogério de Souza Farias

CAPÍTULO 7 – O BRASIL E O G-20 (2008-2015) - José Gilberto Scandiucci Filho

CAPÍTULO 8 – O BRICS: DESAFIOS PARA O BRASIL - Renato Baumann

CAPÍTULO 9 – A OCDE: PONTO DE INFLEXÃO NA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA – Anamélia Soccal Seyffarth e Sérgio Abreu e Lima Florêncio

PARTE III
REGIONALISMO E PARCEIROS GLOBAIS DO BRASIL NO PÓS-CRISE

CAPÍTULO 10 – DIPLOMACIA REGIONAL BRASILEIRA: VISÃO HISTÓRICA DAS ÚLTIMAS DÉCADAS - Paulo Roberto Almeida

CAPÍTULO 11 – AS RELAÇÕES COM A AMÉRICA DO SUL (2008-2015) - Haroldo Ramanzini Júnior e Marcelo Passini Mariano

CAPÍTULO 12 – AS RELAÇÕES COM A UNIÃO EUROPEIA (2008-2015) – Miriam Gomes Saraiva

CAPÍTULO 13 – AS RELAÇÕES COM OS ESTADOS UNIDOS (2008-2015) - Cristina Soreanu Pecequilo
CAPÍTULO 14 – AS RELAÇÕES SUL-SUL (2008-2015) - Walter Antonio Desiderá Neto e Diana Tussie
CAPÍTULO 15 – AS RELAÇÕES COM A CHINA NO NOVO CONTEXTO GEOPOLÍTICO MUNDIAL – Luis Augusto Castro Neves

CAPÍTULO 16 - A NOVA ESTRATÉGIA DE PROJEÇÃO GEOECONÔMICA CHINESA E A ECONOMIA BRASILEIRA - André Luís Forti Scherer
CAPÍTULO 17 – AS RELAÇÕES COM A ÁFRICA (2008-2015) - Gladys Lechini


PARTE IV
O BRASIL E A AGENDA MULTILATERAL NO PÓS-CRISE


CAPÍTULO 18 – MEIO AMBIENTE E MUDANÇAS CLIMÁTICAS (2008-2015) - Helena Margarido Moreira

CAPÍTULO 19 – DIREITOS HUMANOS (2008-2015) - Par Engstrom e Guilherme France

CAPÍTULO 20 – SEGURANÇA INTERNACIONAL (2008-2015) - Alcides Costa Vaz

CAPÍTULO 21 - PARCERIAS ESTRATÉGICAS NA AGENDA TECNOLÓGICA DE DEFESA: O CASO BRASIL-SUÉCIA - Israel Oliveira de Andrade e Raphael Camargo Lima

CAPÍTULO 22 – AS NAÇÕES UNIDAS, O CONSELHO DE SEGURANÇA, A ORDEM MUNDIAL E O BRASIL – Ronaldo Sardenberg

CAPÍTULO 23 - AS OPERAÇÕES DE PAZ DA ONU COMO INSTRUMENTOS DE POLÍTICA EXTERNA DO BRASIL - Israel de Oliveira Andrade e Luiz Gustavo Aversa Franco

CAPÍTULO 24 – A COOPERAÇÃO BRASILEIRA PARA O DESENVOLVIMENTO INTERNACIONAL – João Brígido Bezerra Lima e José Romero Pereira Júnior

CAPÍTULO 25 – CONSIDERAÇÕES SOBRE OS IMPACTOS DOS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DA ONU NO BRASIL E NO MUNDO - Luis Fernando Lara Resende