Pronto, passou, todo mundo (ou quase) se divertiu, alguns se embebedaram demais, fizeram loucuras, provocariam alguns desastres, outros aproveitaram para descansar, viajar, ler, mas de todo modo, na TV, nas rádios, nos jornais, não tivemos escolha, nem chance: foi aquela inflação de carnaval para todos os lados, com aquelas entrevistas debiloides, com artistas idem, e jornalistas ainda mais debiloides, todos eles com a obrigação de se divertir, de se esbaldar, enfim, de entrar no clima do Carnaval.
Que coisa mais chata.
Como eu passei a terça-feira de Carnaval dando uma palestra para uma unidade de assuntos estratégicos de um ministério francês, e depois a quarta-feira de cinzas dando aulas, o Carnaval não me afetou, mas imagino que se estivesse no Brasil, teria me aborrecido um bocado, pois o noticiário seria todo sobre essas escolas financiadas com o meu dinheiro (e de bandidos notórios), com seus enredos debilóides, letrinhas de música prá lá de chatas e bobas, enfim, a vulgaridade elevada a esporte nacional.
Ufa! Acabou (mas acho que ainda tem mais no Brasil, desfile de campeões, essas coisas insuportáveis...
Hora, portanto, de postar algo CONTRA o Carnaval, esse redutor da produtividade brasileiro e estimulador dos mais baixos instintos do povo, uma janela de oportunidade fenomenal para a ignorância, a vulgaridade, uma chatice monumental...
Paulo Roberto de Almeida
As Verdades das Fantasias do Carnaval
Rachel Sheherazade, quarta-feira, 2 de março de 2011.
Ontem foi quarta-feira de fogo, e eu não vejo a hora de chegar a quarta-feira de cinzas.
Não, não é que eu seja inimiga do carnaval. Até já brinquei muito: em clubes, nos blocos, nas prévias... fui até a Olinda em plena terça-feira de carnaval... Portanto, vou falar com conhecimento de causa.
E revelar algumas verdades que encontrei por trás da fantasia do carnaval.
A primeira delas: o carnaval é uma festa genuinamente brasileira.
Não, não é. O carnaval, tal como nós o conhecemos, ele surgiu na Europa, durante a era vitoriana, e se espalhou pelo mundo afora, adaptando-se a outras culturas.
Segunda falsa verdade: é uma festa popular.
Balela! O carnaval virou negócio – e dos ricos. Que o digam os camarotes VIP, as festas privadas e os abadás caríssimos, chamados "passaportes da alegria".
E quem não tem dinheiro para comprar aquela roupinha colorida não tem, também, o direito de ser feliz??? Tem não!
E aqui, na Paraíba, onde se comemoram as prévias não é muito diferente. A maioria dos blocos vive às custas do poder público e nenhuma atração sobe em um trio elétrico para divertir o povo só por ser, o carnaval, uma festa democrática.
Milhões de reais são pagos a artistas da terra e fora dela para garantir o circo a uma população miserável que não tem sequer o pão na mesa.
Muitas coisas, hoje, me revoltam no carnaval.
Uma delas é ouvir a boa música ser calada à força por "hits" do momento como o "Melô da Mulher Maravilha", e similares que eu não ouso nem citar.
Eu fico indignada quando vejo a quantidade de ambulâncias disponibilizadas num desfile de carnaval para atender aos bêbados de plantão e valentões que se metem em brigas e quebra-quebra.
Onde estão essas mesmas ambulâncias quando uma mãe que precisa socorrer um filho doente? Quando um trabalhador está enfartando? Quando um idoso no interior precisa se deslocar de cidade para se submeter a um exame?
Eu me revolto em ver que os policiais estão em peso nas festas para garantir a ordem durante o carnaval, e, no dia a dia, falta segurança para o cidadão de bem exercitar o simples direito de ir e vir.
Mas o carnaval é uma festa maravilhosa! Dizem até que faz girar a economia. Que os pequenos comerciantes conseguem vender suas latinhas, seu churrasquinho....
Ora se esses pais de família dependessem do carnaval para vender e viver passariam o resto do ano à míngua.
Carnaval só dá lucro para donos de cervejaria, para proprietários de trio elétrico e para uns poucos artistas baianos. No mais, é só prejuízo.
Alguém já parou para calcular o quanto o estado gasta para socorrer vítimas de acidentes causados por foliões embriagados? Quantos milhões são pagos em indenizações por morte ou invalidez decorrentes desses acidentes?
Quanto o poder público desembolsa com os procedimentos de curetagem que muitas jovens se submetem depois de um carnaval sem proteção que gerou uma gravidez indesejada?
Isso sem falar na quantidade de DST’s que são transmitidas durante a festa em que tudo é permitido!
Eu até acho que o carnaval já foi bom... Mas, isso foi nos tempos de outrora.