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sábado, 25 de dezembro de 2021

Uma grande plataforma de difusão de clássicos nas ciências sociais: Tramedoro – Grandi classici in 10 pagine

Uma grande plataforma de difusão de clássicos nas ciências sociais:


Tramedoro – Grandi classici in 10 pagine
Tramedoro contribuisce a diffondere la cultura, in questo caso nel settore delle scienze sociali, perché lo fa nel libero mercato delle idee e degli scambi.
Os grandes livros das ciências sociais em "pílulas":
Economia, Filosofia, Politica, Psicologia, Sociologia, Storia, Libri fondamentali, Prossime uscite, Audio
Leggi subito: Leggi subito
Tutto il catalogo: Tutto il catalogo

LEGGI UN CLASSICO IN DIECI PAGINE
Nel corso dei secoli sono stati scritti tantissimi libri geniali, importanti, affascinanti, alcuni dei quali molto complessi e voluminosi. Nessuno può riuscire a leggerli tutti. Per questa ragione Trame d’oro mette a disposizione degli interessati il loro contenuto in pillole.

IMPARA L’ESSENZIALE IN QUINDICI MINUTI DI LETTURA
Le sintesi di Trame d’oro sono scritte da esperti e cultori della materia. Per questo sono estremamente accurate nella grafica e nei contenuti, ideali per facilitare la memorizzazione dei concetti più importanti dell’opera.

ESPLORA NUOVE IDEE
Le sintesi di Trame d’oro riguardano libri di ogni orientamento politico o filosofico. Leggerle rappresenta una buona occasione per scoprire nuovi punti di vista sulla realtà.

RISCOPRI IL LIBRO CARTACEO
La lettura della sintesi può suscitare il desiderio di leggere il libro per intero. Mediamente, il 5-10 per cento di chi ha letto la trama decide di ordinare il libro cartaceo. Per questi titoli Trame d’oro svolge anche il servizio di libreria tradizionale.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Uma nova etapa da grande cooperação científica Brasil-França - Paulo Roberto de Almeida

Um trabalho publicado em livro que eu ainda não havia divulgado publicamente: 

1321. “Uma nova etapa da grande cooperação científica Brasil-França”, in: Journées Jeunes chercheurs en sciences humaines et Sociales: regards croisés France Brésil = Jornadas Jovens pesquisadores em ciências humanas e sociais. Olhares Cruzados França Brasil. Brasília: Embaixada da França no Brasil, Serviço de Cooperação e Ação Cultural (SCAC), Universidade de Brasília (UnB), Fundação Alexandre de Gusmão, 2019, 520 p.; ISBN: 978-85-5054-000-5; pp. 13-16. Relação de Originais n. 3367.


Uma nova etapa da grande cooperação científica Brasil-França

Paulo Roberto de Almeida
in: Journées Jeunes chercheurs en sciences humaines et Sociales: regards croisés France Brésil = Jornadas Jovens pesquisadores em ciências humanas e sociais. Olhares Cruzados França Brasil. Brasília: Embaixada da França no Brasil, Serviço de Cooperação e Ação Cultural (SCAC), Universidade de Brasília (UnB), Fundação Alexandre de Gusmão, 2019, 520 p.; ISBN: 978-85-5054-000-5; pp. 13-16. Relação de Originais n. 3367.

Este livro representa o feliz resultado de mais um empreendimento exitoso entre o Brasil e a França no campo das ciências humanas, mais especificamente entre a embaixada da França em Brasília, a Universidade de Brasília e a Fundação Alexandre de Gusmão, autarquia vinculada ao Ministério das Relações Exteriores, na qual se enquadra o Instituto de Pesquisa de Relações Exteriores, atualmente sob minha direção. A ideia surgiu de uma conversa com a Dra. Mathilde Chatin, encarregada de missão junto ao Conselheiro de Cooperação e de Ação Cultural da embaixada, logo secundada por meio de contatos diretos com o Conselheiro Cultural, Alain Bourdon, a quem sou muito grato por todos os demais esforços de cooperação que temos mantido ao longo dos últimos anos em empreendimentos de caráter cultural e acadêmico, envolvendo ainda outros interlocutores de diferentes setores da vida cultural de nossos dois países.
A ideia inicial era a de oferecer uma oportunidade a que jovens pesquisadores nas diferentes vertentes das ciências humanas oferecessem seus trabalhos em curso ou já terminados – projetos de pesquisa, teses e dissertações já apresentadas, artigos e papers preparados no contexto acadêmico – a um comitê de seleção para posterior apresentação num seminário em Brasília, congregando os responsáveis pelas três áreas engajadas no exercício – a seção cultural da embaixada da França em Brasília, o IPRI-Funag e a assessoria internacional da Universidade de Brasília –, os professores e colaboradores selecionados para a avaliação desses trabalhos e os próprios jovens pesquisadores trabalhando sobre uma ampla gama de temas de interesse dos dois países no âmbito das ciências humanas. Tal como me foi apresentado pela Dra. Mathilde Chatin – autora de uma magnífica tese defendida no King’s College da Universidade de Londres sobre a política externa do Brasil, selecionada para publicação pela Funag –, o projeto me fez imediatamente relembrar um exercício precedente, mas quase esquecido nas dobras da história, sobre um precedente levantamento da cooperação Brasil-França no vasto terreno da ciência e tecnologia. Com efeito, uma parte significativa da rica cooperação Brasil-França ao longo das décadas precedentes tinha sido objeto de um encontro para balanço e avaliação, na parte de ciência e tecnologia, tal como publicada no livro coordenador por um francês, Guy Martinière, e um brasileiro Luiz Claudio Cardoso: France-Brésil: Vingt Ans de Coopération (Science et Technologie) (Grenoble: Presses Universitaires de Grenoble, 1989, 352p.; Collection “Travaux et Mémoires” de l’Institut de Hautes Études de l’Amérique Latine, n° 44, Série Essai nº 4).
O novo exercício me parecia retomar o mesmo espírito de cooperação e de avaliação acadêmica das iniciativas bilaterais ou de projetos individuais que fizessem a ponte entre os dois países, com a peculiaridade de, nesse novo exercício proposto, limitar o campo aos trabalhos em ciências humanas e dirigir-se a jovens pesquisadores, ou seja, uma geração que vai continuar a trabalhar nos próximos anos em temas que continuarão a unir os dois países no grande espírito de osmose entre pesquisadores dos dois países que já tinha reunido os participantes daquele primeiro esforço de avaliação conduzido no final dos anos 1980. A variedade temática e a diversidade metodológica dos trabalhos selecionados para serem apresentados em Brasília testemunham da grande interface de interesses e da abertura epistemológica já consagrados nos múltiplos vínculos que existem entre dezenas de universidades e centros de pesquisa dos dois países, assim como da absoluta liberdade de produção que unem profissionais de terreno ou jovens acadêmicos em início de carreira em cada lado do Atlântico.
O número de propostas apresentadas representou um enorme desafio ao comitê de seleção, o que nada mais revela do que a interpenetração já existente naturalmente no terreno das humanidades nos dois países, o que parece confirmar a percepção existente. Com efeito, o Brasil ocupa, legitimamente, um lugar privilegiado na América Latina, junto com o México, no esforço francês de cooperação externa, seja na área científica e tecnológica, seja no grande terreno das humanidades, e são incontáveis os projetos conjuntos e as iniciativas individuais que, desde muito tempo, estão construindo pontes entre as comunidades respectivas de pesquisadores. A partir dos primeiros visitantes – André Thevet é incontornável na história – até os cientistas contemporâneos, passando por ilustres exemplos nas humanidades e nas artes – desde Auguste de Saint-Hilaire, Debret, Taunay, até Fernand Braudel e Claude Lévi-Strauss –, a França tem estado presente na própria construção das ciências humanas no Brasil, e certamente seus pesquisadores constituem uma parte importante de um processo quase equivalente ao ocorrido no terreno da capacitação industrial, e que poderíamos chamar de “substituição de importações” na teoria social brasileira, tal como conduzida na academia brasileira nas últimas três ou quatro décadas. Com a particularidade que essa “substituição” nunca terminou, de fato, mas continua a ser continuamente alimentada pelo fecundo intercâmbio de pesquisadores, jovens e maduros, que confirmam o grande interesse dessa interação exemplar a mais de um título.
Sendo eu mesmo um membro da comunidade “francófona” da academia brasileira – tendo feito todos os meus estudos universitários em francês, ainda que exibindo três diplomas, de graduação, de mestrado e doutoramento, de universidades da Bélgica –, só posso me congratular com o sucesso deste novo empreendimento cultural ao qual emprestei, desde o início, o entusiástico apoio do IPRI e da Funag. Os materiais coletados neste volume, em francês e em português, oferecem um rico panorama das novas direções de pesquisa que estão sendo diligentemente perseguidas por jovens acadêmicos dos dois países. Estou certo de que esses trabalhos frutificarão em projetos mais ambiciosos nos anos à frente e sinto-me orgulhoso pelo fato de que, ao juntar minha qualidade de acadêmico brasileiro “francófono” e de diplomata encarregado de um centro de pesquisa a serviço da diplomacia brasileira, pude agregar meu pequeno grão de colaboração pessoal ao grande caudal da cooperação bilateral Brasil-França numa área que está no centro de meus próprios estudos e pesquisas acadêmicas.
Desde as iniciativas pioneiras, no imediato pós-Segunda Guerra – mas tomando impulso nos intensos intercâmbios anteriores, até mesmo antes da consolidação de um Estado independente no Brasil – até os projetos contemporâneos unindo os dois países nas mais diferentes vertentes das atividades governamentais, empresariais e acadêmicas, as afinidades eletivas entre o Brasil e a França se reforçam continuamente, graças a projetos como o aqui apresentado. Em nome do Itamaraty e da Fundação Alexandre de Gusmão, meus renovados agradecimentos à cooperação cultural da embaixada da França em Brasília por esta magnífica iniciativa que agrega mais um tijolo na construção de pontes e vias de interação entre os dois países, e meus votos de renovada confiança na continuidade desse tipo de intercâmbio e mútuo enriquecimento nos anos à frente.

Paulo Roberto de Almeida
Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI)
Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), Ministério das Relações Exteriores
Brasília, 1 de dezembro de 2018

 [Objetivo: servir como introdução ao volume; finalidade: Brasil-França: “Jornadas Jovens Pesquisadores em Ciências Humanas”] 

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Ah, esses capitalistas bonzinhos: os Rockefellers e o progresso das ciencias sociais (book review)

A Fundação Rockefeller começou bem cedo a ajudar o Brasil. Não estou falando do apoio às ciências sociais a partir dos anos 1960, o que foi essencial para garantir a boa "substituição de importações" também na construção da pós-graduação no Brasil (até derivar para o politicamente correto do afro-brasileirismo e outros besteirois de gênero e sociais), mas do financiamento e expertise técnica no campo da saúde e da profilaxia desde os anos 1920. Já existe tese sobre os programas de saúde sustentados pelos Rockefellers logo depois da primeira guerra mundial: nossas faculdades de medicina, especialmente em SP, foram consolidadas graças ao dinheiro desses capitalistas malvados...
Paulo Roberto de Almeida

David L. Seim, Rockefeller Philanthropy and Modern Social Science. London: Pickering and Chatto, 2013.  ix + 265 pp. $120 (cloth), ISBN: 978-1-84893-391-0.

Reviewed for EH.Net by Donald T. Critchlow, Department of History, Arizona State University.

In this age of excessive wealth, the Rockefellers, John D. and his son John D. Jr., in the early twentieth century provide an example of how great wealth can be used to better the world.  Through the establishment of the Rockefeller Foundation, huge sums of money were given to philanthropic causes.  The Rockefeller Foundation’s greatest contribution arguable lay in the advancement of medicine, but its efforts in education and the social sciences were notable.

Historian David Seim focuses his short book on the Rockefeller philanthropy in the social sciences from 1900 through 1920.  Seim eschews deep analysis for a straight-forward narrative of Rockefeller involvement in a wide-range of projects to support individual social scientists, advance social science research and education, and institutionalize the social sciences within universities and inter-disciplinary research institutions.  His book reads like a lengthy institutional report on a dizzying array of projects, but the wealth of information contained in his study is rewarding for any scholar interested in the history of the social sciences, university education, race relations, and public policy in the twentieth-century.

The period from the late nineteenth century up to the Great Depression starting in 1929 can be described as the “Golden Age” of the American social sciences. The emergence of the modern social sciences in this period, so ably described by historians such as Thomas Haskell, Barry Karl, Lawrence Cremin, Mary Furner, and others, projected an optimism that empirical social science research could better the world. The accumulation of empirically derived knowledge about human behavior and nature, these early social scientists maintained, was critical to reforming society, ensuring progress, and overcoming what they believed was a lag between scientific and technological advancement and traditional culture and customs. The confidence of early social scientists in their role in advancing society manifested hubris, but in the process American higher education was transformed and the social sciences became institutionalized. John D. Rockefeller, his son, and a brilliant staff played a critical role in this transformation.

Having earned a fortune in oil, John D. Rockefeller, a devout Baptist, believed that his wealth should be put to use in bettering the world.  At first he directed his charity toward mostly missionary organizations, educational institutions, and projects. From the outset he gave significant funds to African-American and Native American causes, including black seminaries and Indian schools. Overwhelmed by requests for support — sometimes reaching hundreds of letters each day — Rockefeller hired Dr. Frederick T. Gates, a Minneapolis minister, to organize his philanthropic activities. After retiring in 1896 from business, John D. Rockefeller joined with his son, John D. Junior, to direct his philanthropy. In 1901, they decided to establish the Rockefeller Institute for Medical Research. This was followed by the establishment of the General Education Board, which directed much of its money toward the South and black education. In 1913, they established the Rockefeller Foundation. With the specific goal of serving “The Well Being of Mankind throughout the World” (Seim, pp. 58-59). The Rockefeller Foundation collaborated with the Carnegie Institution and the Russell Sage Foundation in promoting the social sciences.

The first efforts of the Rockefeller Foundation were small, providing financial support to the Bureau of Social Hygiene, a Division of Industrial Relations, and an Institute of Economics (1922), which later developed into the Brookings Institution.  The Bureau of Social Hygiene provided support for research into the “prostitution problem,” eugenics, and the establishment of Margaret Sanger’s American Birth Control League.

The turning point in Rockefeller’s involvement in the social sciences came with the establishment of the Laura Spelman Rockefeller Memorial Fund in 1918, named after Rockefeller’s late wife. With an original endowment of $13 million, later extended to $74 million, an extensive program developed providing funds to assist the well-being of women and children and providing major resources to an effort to promote the broad advancement of knowledge, methods and application in the social sciences. The first years of the Spelman Memorial Fund focused on women and children, including support for the East Harlem Health Center, the Maternity Center Association of Manhattan, the YMCA and YWCA, the Boy Scouts and Girl Scouts, the Salvation Army, and the American Child Health Association. Headed by Beardsley Ruml, a University of Chicago trained Ph.D., who had studied with James R. Angell, the Memorial Fund turned its attention to the advancement of the social sciences in 1923. Key advisers such as Abraham Flexner, Raymond Fosdick, and Henry Embree played important roles in shaping the Memorial Fund program.

Seim details the multiple activities of the Spelman Memorial Fund through specific grants to educational institutions, individual research projects, the creation of research centers, and areas of research.  Seim ably outlines the full extent of these projects, showing how Ruml and his associates carefully developed and directed a program to fund the social sciences in America.  The major focus of this program was to redress what was seen as a cultural lag in American society, and to develop knowledge useful to maintaining what was described at the time as “social control” in human behavior. By social control, as Seim observes, Rockefeller people meant social advancement. This was a reform agenda that sought to distinguish between narrow business and class interests and empirical research by non-partisan expertise.

As these research programs developed, Ruml and his advisers expressed particular concern that funds be targeted toward institutional advancement within the universities and interdisciplinary organizations. Ruml did not limit funding to only American universities. In 1923, the London School of Economics began a long-term relationship with the Rockefeller Foundation.

In America, Ruml targeted funding major institutions, including the University of Chicago, which was founded largely with John D. Rockefeller money in 1892. Spelman Memorial funds provided vital in developing what became known as the Chicago School in Sociology. Much of the Chicago school of sociology focused on studies of ethnic and race relations. This focus on race relations was evident as well in funding to the University of North Carolina, where major research was conducted on the state and the means of bettering race relations in the South. At Columbia University in New York, Rockefeller funded major research on black southern migration to the North. Major Spelman Memorial grants went to Harvard University, especially to support the pioneering work of G. Elton Mayo.  Other funding — also on race relations — went to Western Reserve University in Cleveland, and Charles S. Johnson at Fisk University. A graduate student of Robert E. Park at University of Chicago, Johnson published in 1930 The Negro in American Civilization.

Spelman Memorial funds were directed to China, the Soviet Union, Sweden, and Western Europe, often toward research in what now would be called economic development. Seim notes that one of the black marks on Spelman Memorial funding during this period was support of eugenics research in the United States, as well as in Australia and Germany, where funds were used to support the Kaiser Wilhelm Institute for Psychiatry and the Kaiser Wilhelm Institute for Anthropology, Eugenics and Human Heredity. At the same time, Ruml supported research in international relations with a particular goal of aiding the League of Nations. Major funding helped launch the Social Science Research Council, under the direction of University of Chicago political scientist Charles Merriam. Less attention was given to the humanities, although the fund directed some funding toward historians, especially in France.

Seim ends his study with the merging of the Spelman Fund into the Rockefeller Foundation in 1929.  In accomplishing his intent to explain “the creation of the ideal of neutral, public-oriented social scientists (p. 239), Seim does not evaluate more fundamental questions raised by the rise of specialized, empirical social science research. The mindset of Ruml and the Rockefeller Foundation assumed that empirical social science research would improve the world. In many ways, it did and continues to do so today. Yet the mindset of early Rockefeller Foundation officers often precluded larger fundamental questions that had been explored by earlier philosophers and political thinkers: The ancient Greeks, Plato and Aristotle, asked basic questions as to the meaning of truth, justice, and a good society?  Adam Smith and David Hume examined what makes for a well-ordered society?  Alexis de Tocqueville, less than a century before the founding of the Rockefeller Foundation, asked about the relationship of equality and liberty in a democratic society, while warning of a “soft-despotism” that comes with a breakdown in civil society and the rise of a bureaucratic state. Already in the 1920s, political thinkers such as Ludwig von Mises and F.A. Hayek were challenging the hubris of economic planners and regulators. Earlier thinkers may have reached wrong conclusions, but debate over these fundamental issues rests generally outside the realm of narrow empirical social science research, as envisioned by the “new” social science in the early twentieth century.

The new social scientists in this golden age rejected the deductive reasoning of the past –the ancient Greeks and Christian theologians. The new social scientists found such debate maddening and ultimately irresolvable.  Yet, without dismissing the importance of the contributions that empirical modern social science can impart to our understanding of the world — often funded then and today by philanthropic foundations — the question that should have confronted the promoters of the new social sciences was simply: Are we too narrow, too exclusive, and too confident as to the ultimate contribution which we can make to what makes for a just, well-ordered, liberal society in our often facile dismissal of previous thinkers?

Donald T. Critchlow is Director of the Arizona State University Center for Political Thought and Leadership. His most books include The Brookings Institution: Expertise and the Public Interest in a Democratic Society; When Hollywood Was Right: How Movie Moguls, Film Stars, and Big Business Remade American Politics; and A Very Short Introduction to American Political History (forthcoming).

Copyright (c) 2014 by EH.Net. All rights reserved. This work may be copied for non-profit educational uses if proper credit is given to the author and the list. For other permission, please contact the EH.Net Administrator (administrator@eh.net). Published by EH.Net (December 2014). All EH.Net reviews are archived at http://eh.net/book-reviews/

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Avaliacao das ciencias sociais: um debate (indireto) com um representante da categoria

Uma avaliação da avaliação acadêmica em ciências sociais: notas a texto de Renato Dagnino
Paulo Roberto de Almeida

Recebi, pela internet, que é o canal universal de comunicações em nossa era, um texto do cientista social Renato Dagnino, intitulado “Os cientistas sociais e a avaliação da sua produção acadêmica”, elaborado em novembro de 2010, a partir de apresentação feita pelo autor no 34º Encontro Anual da ANPOCS, onde o autor participou de simpósio sobre “Política Científica e Pós-Graduação nas Ciências Sociais”. Como me sinto parte da comunidade e portanto interessado no tema, e em suas conexões com o trabalho acadêmico do qual sou parte interessada (ainda que apenas parcialmente), vou me permitir comentar topicamente esse texto, simplesmente pelo método da transcrição (com os trechos marcados assim: RD: ) e acréscimo de notas pessoais, marcadas em itálico e iniciadas por minhas próprias iniciais (PRA: ).
O texto de Dagnino tem a seguinte estrutura: “1. Introdução; 2. Fatos estilizados consensuais; 3. Fatos estilizados menos consensualmente percebidos; 4. Fatos estilizados ainda menos consensualmente percebidos; 5. Particularidades do contexto nacional; 6. Indícios de mudança; 7. Para não concluir”. Procedo de modo linear e não sistemático, apenas retendo trechos e questões que chamaram minha atenção por alguma peculiaridade de redação, problemas detectados no plano formal ou lacunas no texto, do ponto de vista lógico ou substantivo.
Vamos ao exercício:
RN: Os critérios de avaliação da produção acadêmica são formulados de maneira a medir “qualidade” do trabalho dos professores e pesquisadores das ciências "duras" e, por isto não são adequados para as ciências sociais.
PRA: Não creio que as ciências sociais devam se subtrair a avaliação de sua “produtividade”, ainda que se possa conceber alguma peculiaridade pelo fato de não poderem ser conduzidas experiências da mesma forma como nas hard sciences.

RN: Nos países capitalistas, as ciências "duras" sempre foram imprescindíveis para o processo de acumulação de capital; o que legitima ainda mais o seu apoio diferenciado a ponto de naturalizá-lo como uma hegemonia.
PRA: Por que essa “intromissão” de uma característica socioeconômica numa discussão sobre os procedimentos científicos? Por que as ciências “duras” seriam menos imprescindíveis se o sistema fosse, não capitalista, e sim “socialista”, ou feudal? O que tem a ver o capitalismo com a imprescindibilidade das ciências duras? Ciência é algo que transcende os sistemas socioeconômicos e serve a qualquer sociedade, em qualquer época e lugar, sem discriminação de qualquer espécie. Ela funciona e funcionou da mesma forma na Grécia antiga, no socialismo soviético e no capitalismo liberal. Essa constatação simplesmente não faz sentido.

RN: Os mitos da neutralidade, universalidade e linearidade da ciência difundidos pelos cientistas "duros" (aceitos pela sociedade e não contestados pelos cientistas sociais) levaram a que o caráter enviesado no sentido do capital não fosse percebido sequer pelos de extração marxista;
PRA: Se existe algum mito aqui é o de acreditar que o caráter “enviesado” do capital possa ter algo a ver com peculiaridades do trabalho científico, e que pelo fato de algum cientista trabalhar numa sociedade capitalista ele não pode ser neutro, universal ou “linear”; por que marxistas seriam tão obtusos a ponto de não o perceber essa perversidade do capital?

RN: A dinâmica tecnocientífica mundial, há décadas fortemente influenciada por objetivos militares, está também, cada vez mais, presidida pelo objetivo de lucro das grandes empresas multinacionais, que são hoje responsáveis por metade do gasto mundial de pesquisa;
PRA: “Cada vez mais”? Por que só agora? Sempre foi assim: empresas capitalistas, há vários séculos, atuam com base no lucro, assim como já faziam ou fizeram mercadores fenícios, artesãos medievais, manufatureiros renascentistas e toda e qualquer categoria de atividade produtiva: homens ativos são sempre motivados por algum desejo de retorno, de ganho, de riqueza; da mesma forma, o desejo de segurança, a motivação da conquista, a cobiça por riqueza alheia ou a necessidade de defender a sua própria sempre influenciaram as tecnologias militares e guerreiras, e nisso existe espaço para todos os modos de produção possíveis; RN deveria ser mais universal e neutro, e algo linear; seria melhor assim.

RN: A escassa percepção dessa dinâmica e uma reação automática pouco refletida se materializam no discurso de alguns cientistas sociais que, impregnado de universalismo e neutralidade, defende que devemos melhorar a qualidade do seu trabalho abordando temas de interesse internacional e usando referencias internacionais, para publicar em inglês em periódicos internacionais;
PRA: Antigamente se escrevia em grego, ou latim, ou francês, que foram as línguas mais utilizadas em cada época para produzir e divulgar ciência, literatura, ou qualquer outra coisa, como contabilidade capitalista ou pré-capitalista. Não se percebe porque o preconceito contra o inglês! Não existe nenhuma razão para isso, apenas desejo de não ser universal, apenas tacanhamente latino-americano.

RN: O afastamento da perspectiva latino-americanista fundacional das ciências sociais brasileiras é justificada, neste caso, em função da perda de importância da região no contexto globalizado internacional, da conveniência de que o Brasil se insira no mundo científico dos países líderes e da heterogeneidade existente ao interior da América Latina.
PRA: Nunca houve nada de especificamente latino-americano na construção das ciências sociais brasileiras, que foram muito mais formadas com base em aportes europeus e norte-americanos, do que da própria região. O Brasil não se insere nas correntes mais relevantes da ciência mundial apenas porque a América Latina é perdedora e não produz ciência de qualidade, mas porque é isso que deve ser feito e isso é que beneficia o Brasil, independente de qualquer perspectiva regionalista. A ciência, como deveria saber RN, é universal e universalista.

RN: A expressão Ciências Sociais é um “invento” latino-americano, fruto de sua orientação “militante” decorrente do contexto em que se iniciou sua implantação, caracterizado pela condição periférica e suas características de concentração de poder econômico e político no nível interno e dependência cultural e econômica no externo.
PRA: Nunca antes neste país se escreveu absurdo tão grande com respeito às ciências sociais. Não existe qualquer fundamento histórico, material para uma afirmação desse tipo, que é simplesmente incompreensível para quem conhece a evolução do pensamento social ao longo dos séculos, desde os filósofos gregos, os tomistas medievais, os historiadores renascentistas, os ideólogos do iluminismo, os racionalistas do século 19 e os funcionalistas do século 20. “Invento latino-americano”?; “orientação militante”? Acho que Marx contestaria imediatamente essa interpretação grotesca.

RN: Em que pese a projeção no circuito internacional alcançada pelo “alto clero” das ciências "duras", a contribuição das ciências sociais brasileira (Paulo Freire, Fernando Henrique Cardoso, Celso Furtado, etc.), mesmo quando avaliada segundo os critérios usuais de citação é seguramente maior;
PRA: Nacionalismo e chauvinismo acadêmico certamente não fazem bem a qualquer texto que pretenda fazer uma avaliação das ciências sociais brasileiras. “Seguramente maior”? Com base em que? Uma afirmação que vale tanto quanto o seu exato contrário, ou seja, de uma contribuição pobre, sem significado universal (que é o que distingue a ciência), pelo menos no que concerne Paulo Freire, dono de uma contribuição politicamente motivada, sectária, estreitamente ideológica.

RN: O segmento dos integrantes das ciências duras que podem “enquadrados” na categoria de “progressistas” é menor, no Brasil, do que o das ciências sociais;
PRA: Progressistas? Isso não faz o menor sentido para as ciências duras, e deveria não fazer, tampouco, para as ciências sociais. Não se pede que uma ou outra seja progressista ou reacionária, apenas que sejam boas ciências, a primeiras fundadas nos velhos princípios baconianos bem conhecidos, as segundas tentando construir a objetividade de que falava Weber. Esse “progressismo” do autor do texto só pode conduzir a uma má ciência, dura ou mole...

RN: Aqueles cientistas "duros" vêem seus colegas das ciências sociais como mais capazes de “fazer acontecer” as mudanças sociais que almejam;
PRA: Inacreditável! Como é que o autor foi descobrir as mudanças sociais almejadas pelos cientistas “duros”? Fez uma enquete, uma pesquisa, um questionário? Tabulou os resultados, publicou isso em algum lugar? Não se pode fiar numa afirmação desse tipo, destituída de qualquer validade empírica ou conceitual. Isso é simplesmente subjetivismo da pior espécie, indigno de qualquer ciência que se preze.

RN: Não é percebido que os cientistas "duros" progressistas tendem a pensar que seus colegas das ciências sociais seriam responsáveis, mais que eles, pela alteração do quadro social precário do País.
PRA: Isso tampouco é ciência, e sim profetismo, ou artes divinatórias. O que a ciiencia, dura, mole, técnica ou literária tem a ver com a percepção do “quadro social precário” no Brasil? O autor faz confusão entre o trabalho científico e a elaboração de propostas de políticas públicas que visam, sim, redimir a situação social, mas que dependem de escolhas políticas e valores sociais, não da natureza da investigação científica, ou seu caráter mais ou menos progressista. Isto é instrumentalização dos procedimentos científicos da pior espécie que possa existir, sinal de uma mentalidade autoritária que pretende dizer o que é progressista e o que não é.

RN: Criar consciência de que a mudança dos critérios supõe, mais do que um projeto de consolidação da área, uma discussão franca com esses cientistas "duros" de esquerda acerca do papel da comunidade de pesquisa no processo de democratização política e econômica do País.
PRA: Existem cientistas “duros” de esquerda? Certamente. Existem os de direita? Possivelmente. O que isso tem a ver com a qualidade de seu trabalho científico. Absolutamente nada. Existem cientistas “moles” das duas categorias? Provavelmente mais da primeira espécie do que da segunda. Mas podem também existir os de “centro” ou também aqueles que pretendem fazer apenas ciência, dura ou mole, não proselitismo e evangelização política como as propostas neste texto simplório e canhestro.

Em face dessas demandas de alteração dos critérios que devem prevalecer na avaliação das ciências sociais brasileiras, e em vista do que se leu nesse trabalho, uma única conclusão é possível: devem ser reforçados os controles e aumentados as garantias de que as verbas e recursos de todo o tipo que vão para essas ciências, de maneira a evitar que bobagens desse tamanha sejam escritas sob coberta de proposta “científica”.
Talvez seja melhor continuar a conversa numa “mesa de bar”...


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 30.12.2010